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Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 1 Pediatria Neonatal SP 1.2 – NASCEU, E AGORA? 1. CARACTERIZAR O RN QUANTO AS ASPECTO DE PESO (PIG, GIG, AIG E SUAS CAUSAS), COMPRIMENTO E IDADE GESTACIONAL (À TERMO). O cuidado com o recém-nascido começa na sala de parto, com a realização de vários procedimentos que visam a assegurar a sua integridade física e a prevenção de complicações nesses primeiros momentos de vida extrauterina. Esse processo inclui a análise de duas importantes variáveis, que são a idade gestacional (IG) e o peso, que possibilitam a avaliação e a classificação do recém- nascido. Idade gestacional (IG) é o tempo transcorrido desde a concepção (último dia de menstruação – ciclos de 28 dias) até o momento do parto (RUGOLO, 2000). A DUM materna e a ultrassonografia precoce continuam a ser o padrão-ouro para a determinação da IG. ➜ No nascimento, o recém-nascido pode ser classificado de acordo com a IG, em: Recém-Nascido Idade Gestacional RN pré-termo Inferior a 37 semanas RN maturo ou termo (RNT) 37 a 41 semanas e 6 dias RN pós-maturo ou pós-termo Acima de 42 semanas ➜ Se considerarmos o peso ao nascer, o recém-nascido é classificado em: Recém-Nascido Peso Baixo peso Igual ou inferior a 2.500g Muito baixo peso ao nascimento (MBPN) Abaixo de 1.500g Extremo baixo peso ao nascimento (EBPN) Abaixo de 1.000g ➜ Ao associarmos o peso à idade gestacional, o recém- nascido pode ser classificado segundo o seu crescimento intrauterino, em: Recém-Nascido Peso Grande para a idade gestacional (GIG) Peso acima do percentil 90 Adequado para a idade gestacional (AIG) Peso entre o percentil 10 e 90 Pequeno para a idade gestacional (PIG) Peso abaixo do percentil 10 ➜ Para classificar o recém-nascido de acordo com o peso ao nascer e a idade gestacional, pode-se utilizar o gráfico com as curvas de crescimento fetal. GIG: Exceto para tamanho determinado geneticamente, o diabetes mellitus materno é a principal causa de recém- nascidos grandes para a idade gestacional (GIG). A macrossomia resulta dos efeitos anabólicos dos níveis altos de insulina fetal produzidos em resposta à hiperglicemia materna durante a gestação e, às vezes, maior ingestão calórica pela mãe para compensar a perda urinária de glicose. Quanto menos controlado o diabetes da mãe durante a gestação, mais grave é a macrossomia fetal. Causas raras de macrossomia são a síndrome de Beckwith- Wiedemann (caracterizada por macrossomia, onfalocele, macroglossia e hipoglicemia) e as síndromes de Sotos, de Marshall e de Weaver. Por causa do grande tamanho do lactente, o parto vaginal pode ser difícil e às vezes provocar lesão ao nascimento, incluindo particularmente: ➡ Distocia de ombro ➡ Fratura da clavícula ou de membros ➡ Asfixia perinatal ➡ Maior necessidade de parto cesáreo; ➡ Prematuridade iatrogênica devida à superestimativa da IG baseadas no tamanho in útero. Outras complicações ocorrem quando o peso é > 4.000 g. Há um aumento proporcional na taxa de morbidade e mortalidade devido ao seguinte: ➡ Desconforto respiratório (e necessidade de assistência ventilatória) ➡ Aspiração de mecônio ➡ Hipoglicemia ➡ Policitemia Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 2 PIG: Os RNs PIG são definidos como tendo peso mais de dois desvios padrão abaixo da média, ou inferior ao percentil 10 de um gráfico específico de peso ao nascimento versus idade gestacional. Definições mais amplas incluem índices antropométricos menores que os normais, como o comprimento e a circunferência cefálica, e diferenças acentuadas entre os parâmetros de crescimento, mesmo quando estão dentro da faixa normal. Por exemplo, pode-se considerar um RN “relativamente” PIG quando seu peso está no percentil 25, mas seu comprimento e sua circunferência cefálica estão no percentil 75. Neste caso, a razão comprimento/peso (ou índice ponderal [peso (g)]/[comprimento (cm)]3) é inferior ao normal, demonstrando que as taxas de crescimento dos órgãos internos, tecido adiposo e musculoesquelético, os principais determinantes do peso, foram menores que o normal. Os RNs PIG podem advir de taxas de crescimento fetal normais, porém inferiores às taxas médias, como os RNs constitucionalmente pequenos. Assim, o tamanho pequeno ao nascimento pode ser um desfecho normal ou decorrer de fatores intrínsecos ou extrínsecos que limitam o potencial de crescimento fetal. Essa distinção é importante porque diagnósticos por meio de achados pré-natais de RCIU, como velocimetria Doppler e anormalidades da frequência cardíaca fetal, são mais preditivos da necessidade de hospitalização e da mortalidade do que a classificação de PIG ou AIG de acordo com as curvas de crescimento neonatal padrão. As causas podem ser divididas naquelas em que a restrição do crescimento é: ➡ Simétrica: altura, peso e perímetro cefálico são igualmente afetados. Pode ser causada por infecções congênitas ou fatores genéticos. ➡ Assimétrica: o peso é o mais afetado, poupando relativamente o crescimento do cérebro, crânio e ossos longos. Pode ser causada por má-nutrição materna, insuficiência placentária etc. *Um lactente também pode ter restrição do crescimento assimétrica e ser pequeno para a idade gestacional (PIG) se a mãe fizer uso intenso de opioides, cocaína, álcool e/ou tabaco durante a gestação. Apesar do tamanho, os recém-nascidos PIG apresentam características físicas (p. ex., aspecto da pele, cartilagem da orelha, pregas plantares) e comportamento (p. ex., atenção, atividade espontânea, gosto pelo alimento) semelhantes aos dos recém-nascidos de tamanho normal de mesma idade gestacional. Entretanto, eles podem aparecer magros, com diminuição da massa muscular e tecido adiposo subcutâneo. A face pode ter uma aparência afundada, lembrando a de uma pessoa idosa ("face enrugada"). O cordão umbilical pode ter uma aparência fina e pequena. Os PIG de termo não apresentam as complicações relativas a imaturidade sistêmica dos órgãos que os prematuros de tamanho semelhante. Eles, porém, têm risco de: ➡ Asfixia perinatal ➡ Aspiração de mecônio ➡ Hipoglicemia ➡ Policitemia ➡ Hipotermia 2. ESTUDAR SOBRE O APGAR (O QUE É, CRITÉRIOS, INTERPRETAÇÃO). O escore de Apgar, também chamado de índice de Apgar ou escala de Apgar, é um dos métodos mais utilizados para a avaliação imediata do recém-nascido (RN), principalmente, no primeiro e no quinto minutos de vida. O teste foi desenvolvido em 1952 pela Dra. Virginia Apgar, médica norte-americana, responsável pela criação do que viria a ser a neonatologia, para avaliar 5 sinais objetivos do recém-nascido, atribuindo a cada sinal uma pontuação de 0 a 2. Os sinais avaliados são: coloração da pele, pulso, irritabilidade reflexa, esforço respiratório, tônus muscular, conforme mostra a tabela abaixo. O somatório da pontuação (no mínimo 0 e no máximo 10) resultará no Escore de Apgar. Índice 0 Índice 1 Índice 2 Acrônimo Cor da pele Cianose (coloração azulada) ou palidez Cianose nas extremidades ou acrocianose (coloração arroxeada) Sem cianose. Corpo e extremidades rosados Aparência Pulsação arterial Não detectável <100 batimentos por minuto >100 batimentos por minuto Pulso Irritabilidade Reflexa (caretas) Sem resposta a estímulo Careta ou estimulação agressiva Choro vigoroso, tosse ou espirro Gesticulação Atividade (tônus muscular) Flacidez (nenhuma ou pouca atividade) Alguns movimentos das extremidades (braços e pernas) Muita atividade: braços e pernas flexionados, que resistem à extensão Atividade Esforço respiratório Ausente Fraco/lento, irregular Forte, choro vigoroso Respiração Interpretação dos resultados: ➡ de 0 a 3 – Asfixia grave ➡ de 4 a 6 – Asfixia moderada ➡ de 7 a 10 – Boa vitalidade,boa adaptação O resultado do primeiro minuto geralmente está relacionado com o pH do cordão umbilical e traduz asfixia intraparto. Já o Apgar do quinto minuto se relaciona com eventuais sequelas neurológicas. Além disso, escore menor que 7 é indicativo de asfixia perinatal. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 3 O escore deixou de ser usado com o objetivo de determinar a reanimação neonatal e passou a ser usado para avaliar a resposta do RN às manobras realizadas. 3. IDENTIFICAR AS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DO RN À TERMO NO SISTEMAS CARDIOPULMONAR. No período embrionário, aos 26 dias, o pulmão aparece primeiro como uma protrusão do intestino anterior. O broto pulmonar se ramifica e os futuros brônquios principais penetram no mesênquima. A ramificação dicotômica subsequente origina as vias aéreas condutoras. A vasculatura pulmonar se ramifica do 6o arco aórtico para formar o plexo vascular no mesênquima do broto pulmonar. No estágio pseudoglandular, entre a 7ª e a 8ª semana, ocorrem 15 a 20 gerações de ramificações, ficando a ramificação completa. As vias aéreas em desenvolvimento são revestidas por células cuboides simples, que contêm grande quantidade de glicogênio. No estágio canalicular, entre 16 e 25 semanas de gestação, ocorre a transformação do pulmão que ainda não é viável em pulmões potencialmente viáveis que podem fazer troca gasosa. Os 3 eventos principais durante este estágio são: o surgimento dos ácinos, a diferenciação epitelial com o desenvolvimento da barreira hematoaérea potencial e o começo da síntese de surfactante nas células do tipo II reconhecíveis. Após cerca de 20 semanas, as células cuboides ricas em glicogênio começam a ter corpúsculos lamelares em seu citoplasma (diferenciação para as células do tipo II). O glicogênio nas células do tipo II fornece substrato à síntese de surfactante. O estágio sacular compreende o período do desenvolvimento pulmonar durante as fases potencialmente viáveis da prematuridade, entre aproximadamente 24 semanas e o termo. O saco terminal ou sáculo é alongado, ramificado e estendido, antes do início da alveolização, aproximadamente na 32ª semana no pulmão fetal humano. A alveolização é iniciada destes sáculos terminais. O número de alvéolos cresce rapidamente da 32ª semana de gestação ao termo. O volume gasoso potencial do pulmão e a área de superfície aumentam a partir, aproximadamente, da 25ª semana de gestação até o termo. Este aumento no volume pulmonar, e o aumento na área dos sáculos estabelecem o potencial anatômico para a troca gasosa, e, portanto, a viabilidade fetal. O pulmão fetal é preenchido com fluido e é responsável pela função respiratória até o nascimento. Esse fluido alonga o pulmão e promove seu crescimento e desenvolvimento. Quantidades normais do fluido são essenciais ao desenvolvimento pulmonar normal, bem como é necessária sua depuração para a adaptação da respiração neonatal normal. Na preparação para a respiração aérea, o surfactante é expresso no pulmão a partir da 20ª semana de gestação pelas células do tipo II. O surfactante reduz a tensão da superfície alveolar, o que diminui a pressão necessária para manter o alvéolo inflado, facilitando sua expansão e mantendo sua estabilidade. O tempo de produção do surfactante em quantidades suficientes depende de um aumento nos níveis de cortisol do feto, o que acontece entre 32 e 34 semanas de gestação. Ao redor das 34 a 36 semanas há material de superfície ativo e suficiente secretado no lúmen alveolar e excretado no fluido amniótico. Na 26ª semana, os sacos terminais são revestidos principalmente por células epiteliais pavimentosas de origem endodérmica, os pneumócitos tipo I, através dos quais a troca gasosa ocorre. A rede de capilares se prolifera rapidamente no mesênquima ao redor dos alvéolos em desenvolvimento, contudo, não é concomitante ao desenvolvimento ativo dos capilares linfáticos. Dispersas entre as células epiteliais pavimentosas, estão células epiteliais secretoras arredondadas, os pneumócitos tipo II, que secretam o surfactante pulmonar, uma mistura complexa de fosfolipídios e proteínas. O surfactante se forma como uma película monomolecular na parede interna dos sacos alveolares e neutraliza as forças de tensão superficial na interface ar-alvéolo. Este facilita a expansão dos sacos terminais por prevenirem a atelectasia (colapso dos sacos durante a expiração). A maturação dos pneumócitos tipo II e a produção do surfactante variam amplamente entre os fetos de diferentes idades gestacionais. A produção do surfactante aumenta durante os estágios terminais da gestação, particularmente durante as últimas 2 semanas. A produção de surfactante começa entre a 20a e a 22a semana, mas o surfactante está presente apenas em pequenas quantidades em bebês prematuros, não estando presente em níveis adequados até o final do período fetal. Por volta da 26a à 28a semana, o feto frequentemente pesa cerca de 1.000 g e estão presentes sacos alveolares e surfactante suficientes para permitir a sobrevivência de bebês nascidos prematuramente. Antes disso, os pulmões são, geralmente, incapazes de prover trocas gasosas adequadas, em parte, porque a área de superfície alveolar é insuficiente e a vascularização é pouco desenvolvida. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 4 No útero, o feto depende da troca gasosa da placenta. A entrega adequada de oxigênio é acompanhada de um adaptado processo envolvendo a estrutura arquitetônica do sistema circulatório, as características da hemoglobina fetal e a taxa de perfusão dos órgãos fetais. No feto, a placenta tem a menor resistência vascular e recebe 40% do débito cardíaco fetal, o que resulta em uma baixa pressão sistêmica. Em contraste, os pulmões fetais estão cheios de líquido, resultando em uma alta resistência vascular e menos de 10% do débito cardíaco indo para os pulmões. Dois shunts direita-esquerda ocorrem no feto devido à alta resistência vascular pulmonar e baixa pressão sistêmica: ➡ Forame oval: sangue desviado do átrio direito para o esquerdo ➡ Ducto arterioso: sangue desviado da artéria pulmonar para a aorta. Da placenta, o sangue oxigenado flui pela veia umbilical e se divide ao entrar no abdômen do feto. A maioria flui através do ducto venoso para a veia cava inferior e depois para o átrio direito; o sangue restante perfunde o fígado. O sangue que se origina do ducto venoso entra no átrio direito e, devido a um efeito de correnteza, é largamente desviado através do forame oval para o lado esquerdo do coração e da aorta. Em contraste, o sangue menos oxigenado da veia cava superior e da veia cava inferior distal ao ducto venoso flui do átrio direito para o ventrículo direito, com mistura mínima com o sangue oxigenado proveniente do ducto venoso. Quase toda a saída do ventrículo direito (90%) contorna o pulmão e é desviado através do ducto arterioso patente para a aorta descendente, distal à origem das artérias carótidas. Esse sangue desoxigenado é transportado através da aorta e das artérias umbilicais para a placenta, onde libera dióxido de carbono e resíduos e coleta oxigênio e nutrientes. A pressão intrauterina de oxigênio é baixa comparada com a observada na vida extrauterina. O sangue fetal com maior oxigenação é encontrado na veia umbilical com PO2 tão alta quanto 55 ± 7 mmHg. A saturação de oxigênio diminui quando misturada ao retorno venoso, de modo que o sangue que retorna à placenta terá uma PO2 de 15 a 25 mmHg. Apesar da baixa tensão de oxigênio no feto, há oxigenação adequada dos tecidos devido aos seguintes fatores: ➡ Hemoglobina fetal: aumenta a afinidade do oxigênio em comparação com a hemoglobina do adulto, o que facilita o transporte de oxigênio pela placenta. ➡ Diminuiçãodo consumo de oxigênio fetal: o feto requer menos oxigênio, pois seu metabolismo e o consumo de oxigênio estão diminuídos (o feto não precisa manter a termorregulação, as funções fisiológicas são reduzidas, como respiração, digestão, absorção e reabsorção tubular renal). ➡ Fluxo sanguíneo diferencial: o fluxo sanguíneo é estruturado de modo que os órgãos vitais (ex: fígado, coração e cérebro) recebam sangue com um grau relativamente alto de saturação de oxigênio. A baixa tensão fetal de O2 mantém a arquitetura da circulação fetal, causando constrição vascular pulmonar, que mantém a resistência vascular pulmonar em um nível elevado, promovendo o desvio direita-esquerda através do forame oval e do canal arterial. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 5 A transição bem-sucedida da vida intrauterina para a extrauterina depende de mudanças fisiológicas significativas que ocorrem no nascimento. Em quase todas as crianças, essas mudanças são completadas com sucesso no momento do parto sem necessidade de qualquer assistência especial. No entanto, cerca de 10% dos bebês precisarão de alguma intervenção, e menos de 1% exigirá medidas extensivas de ressuscitação ao nascimento. Para conseguir fazer a transição da vida intrauterina para a extrauterina, quando o cordão umbilical é pinçado no nascimento, o neonato deve rapidamente fazer alterações fisiológicas na função cardiopulmonar. Uma transição bem- sucedida é caracterizada pelos seguintes recursos: depuração do fluido alveolar, expansão pulmonar e alterações circulatórias, que incluem aumento da perfusão pulmonar e da pressão sistêmica e fechamento dos shunts direita-esquerda da circulação fetal. ➡ Depuração do fluido alveolar: • Trabalho de parto: o fluido rico em cloreto predomina durante a gestação. No final da gestação, em resposta ao aumento das concentrações de catecolaminas e outros hormônios, o epitélio pulmonar muda da secreção ativa de cloreto e líquido para os espaços aéreos para reabsorção ativa de sódio e líquido. O aumento da tensão de oxigênio ao nascer aumenta a capacidade do epitélio de transportar sódio e aumenta a expressão gênica do canal de sódio epitelial, promovendo ainda mais a reabsorção do líquido alveolar. • Respirações iniciais: geram altas pressões transpulmonares. A pressão hidrostática negativa inicial conduz o fluido alveolar dos espaços aéreos para o interstício e, subsequentemente, para a vasculatura pulmonar. • Compressão torácica: a pressão sobre a parede torácica do recém-nascido durante o parto provavelmente é um pequeno contribuinte. ➡ Expansão pulmonar: na 1ª respiração efetiva, o movimento do ar começa quando a pressão intratorácica cai. O aumento da pressão inspiratória expande os espaços aéreos alveolares e estabelece a capacidade residual funcional (CRF). A expansão pulmonar também estimula a liberação de surfactante, o que reduz a tensão superficial alveolar, aumenta a complacência e estabiliza a CRF. ➡ Alterações circulatórias: com o clampeamento do cordão umbilical, a placenta com baixa resistência vascular é removida da circulação neonatal, resultando em aumento da pressão arterial sistêmica neonatal. Ao mesmo tempo, a expansão pulmonar reduz a resistência vascular pulmonar e a pressão da artéria pulmonar. Essas 2 alterações diminuem o shunt fetal direita-esquerda no ducto arterioso, resultando em um aumento do shunt da esquerda para a direita neste ducto. Essas 2 alterações também resultam em um aumento do fluxo sanguíneo pelas artérias pulmonares e pulmões. Essa mudança para o desvio da esquerda para a direita após o parto resulta em um aumento no volume sistólico ventricular, que está associado a um aumento na saturação de oxigênio cerebral. Com aumento da perfusão e expansão pulmonar, aumenta a saturação da oxigenação neonatal, que estimula o fechamento do canal arterial. Além disso, o aumento do fluxo sanguíneo arterial pulmonar aumenta o retorno venoso pulmonar ao átrio esquerdo e a pressão atrial esquerda. À medida que a pressão do átrio esquerdo aumenta e a pressão atrial direita cai, o desvio da direita para a esquerda através do forame oval diminui. O fechamento do forame oval ocorre quando a pressão atrial esquerda excede a pressão atrial direita. 4. ELUCIDAR AS CAUSAS, DIAGNÓSTICOS E TRATAMENTOS DA ICTERÍCIA NEONATAL. Definição de icterícia neonatal: Acúmulo de pigmento bilirrubínico não-conjugado. Pigmento lipossolúvel, devido essa característica pode impregnar no SNC levando à encefolapatia bilirrubínica. Na icterícia neonatal temos hiperbilirrubinemia de bilirrubina indireta (ou não conjugada) que leva à coloração amarelada da pele e mucosas. Se manifesta quando temos Bilirrubina > 5 mg/dL. Raramente na icterícia neonatal temos aumento da bilirrubina direta (ou conjugada), que caracteriza outras patologias como Colestase neonatal, TORCHS (infecções congênitas) e Sepse. Epidemiologia: 60% dos RN a termo têm icterícia neonatal; 80% RN prematuros tardios; 100% RN prematuros IG < 35 semanas; Icterícia persistente (que duram de 1 a 2 semanas de vida) em 10% dos RN em aleitamento exclusivo. Fisiopatologia: Anteriormente ao nascimento feto produzia bilirrubina em forma indireta e excretada dessa maneira pela placenta. Ao nascimento ocorre a adaptação do metabolismo da bilirrubina, que passa a ser excretada pelo Neonato na forma de Bilirrubina direta (pigmento hidrossolúvel) pelo Sistema Biliar e pelo trato gastrointestinal. Metabolismo da bilirrubina: As hemácias são degradadas em heme que sofrem ação da Heme oxigenasse gerando a Biliverdina. Essa biliverdina sofre ação da biliverdina redutase gerando a Bilirrubina Indireta. A Bilirrubina Indireta circula em geral acoplada à albumina. Ao chegar no hepatócito a bilirrubina se separa da albumina e por meio da ação da enzima UGT1A1 ocorre a conjugação BI com ácido glucorônico, gerando a Bilirrubina Direta, que pode ser excretada pela via biliar e Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 6 posteriormente pelo trato gastrointestinal. No trato gastrointestinal a Bilirrubina Direta pode sofrer ação das enzimas Glucoronidases, voltando ao formato de Bilirrubina Indireta. Ainda no trato gastrointestinal a BI pode sofrer ação de bactérias que a transformam em urobilinogênio, que pode virar urobilina e ser excretada pela urina ou pode virar estercobilinogênio, depois estercobilina e ser excretada pelas fezes. A bilirrubina resulta do catabolismo das proteínas do heme. Cerca de 75% da produção diária da bilirrubina provém da destruição de hemácias no sistema reticuloendotelial. Os outros 25% são consequentes à eritropoiese ineficaz e à destruição de eritrócitos imaturos. No primeiro passo da degradação, heme é convertido em biliverdina na presença da enzima hemeoxigenase, produzindo monóxido de carbono (CO) e Fe2+. Uma molécula de CO é produzida para cada molécula de heme catabolizada em bilirrubina. Assim, quanto maior a hemólise, maior a produção de CO, marcador que pode ser utilizado para diagnóstico. O RN é mais suscetível à Icterícia por possuir falhas nesse metabolismo da Bilirrubina. Além de possuir maior carga de bilirrubina indireta para hepatócito devido ao maior volume eritrocitário, menor meia vida de hemácias e o risco de doenças hemolíticas. O RN ainda possui uma redução quanto ao clearence hepático e entérico de bilirrubina. Devido a menor capacidade de captação e conjugação hepáticas, e ao aumento da cicurlação entero-hepática (movimento das moléculas de sais biliares do fígado para o intestino e de volta ao fígado). O RN possui uma menor flora intestinal e uma maior quantidade de Betaglucoronidase (que agem sobre a BD transformando-as em BI) provenientes do leite materno. Etiologia: Icterícia fisiológica; Icteríciapelo aleitamento materno; Síndrome da icterícia do leite materno. (Causas da Icterícia Neonatal tardia >24h) As causas da hiperbillirubinemia indireta patológica podem levar à Icterícia Neonatal precoce < 24h. ➡ Icterícia Fisiológica do RN a termo: Início após 24h de vida; Pico do 3º ao 4º dia; Máx de 12 mg/dL; Em geral se normaliza em até 7 dias. ➡ Icterícia Fisiológica no RN pré-termo: Início após 24h de vida; Pico do 4º ao 7º dia; Máx de 15 mg/dL; Em geral leva de 10 a 30 dias para normalizar. Fatores de risco para hiperbilirrubinemia indireta: ➡ Idade materna; ➡ Asiáticos; ➡ Diabetes materno; ➡ Prematuridade; Extravasamento de sangue; ➡ Perda de peso; Retardo para evacuar. ➡ Icterícia pelo aleitamento materno: Pode começar após as 24h de vida até a primeira semana de vida do RN; É decorrente de um déficit de ingestão (causado por dificuldade de sucção ou por pouca oferta láctea); Ocorre perda de peso acima de 7% e pode ser acompanhada de desidratação. O aumento da circulação entero-hepática leva a sobrecarga de bilirrubina no hepatócito (ainda imaturo) ocasionando a Hiperbilirrubinemia indireta. ➡ Síndrome da icterícia do leite materno: Existe uma predisposição genética a icterícia; As substâncias presentes no leite materno atuam ativando fenótipos associados a uma menor capacidade de conjugação hepática (menor atividade da UGTA); O leite materno é um modificador ambiental para expressão de fenótipos; Essa icterícia também começa após as primeiras 24h de vida e até a 1ª semana de vida; Em geral persiste por 2 ou 3 semanas; Podendo chegar numa bilirrubina máxima de 10 a 30 mg/dL. A diferença entre os 3 tipos de icterícia apresentados são a persistência do quadro (A icterícia fisiológica com menor duração) e o bom estado geral e bom ganho pondero- estatural do RN (Que ocorre na Síndrome do leite materno). Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 7 Quadro clínico: Icterícia (coloração amarelada de mucosas e pele); Progressão cefalocaudal e deve ser avaliada pela zona de Kramer. Os níveis séricos de bilirrubinas em recém-nascidos (RN) são crescentes logo após o nascimento. Aproximadamente 60% dos RN a termo e 80% dos pré-termos apresentam hiperbilirrubinemia clinicamente visível na primeira semana de vida. Na maioria das situações, o quadro de icterícia pode ser considerado benigno. No entanto, o aumento além dos níveis considerados normais da bilirrubinemia pode ocasionar a encefalopatia bilirrubínica aguda (EBA). A rápida identificação da hiperbilirrubinemia grave nos RN ≥ 35 semanas de idade gestacional (IG), definida como bilirrubina total (BT) maior que 20 mg/dL, é importante para prevenção de quadros potencialmente graves. Encefalopatia Bilirrubínica: Lesão cerebral pela bilirrubina indireta (principalmente aos Gânglios da base). Pode ser dividida em fase Aguda (sintomas são letargia, hipotonia que evolui para choro estridente, então hipertonia com hipertermia) A encefalopatia bilirrubínica aguda ocorre em todos os continentes, principalmente em países de média e baixa rendas, configurando problema grave de saúde pública global. Os RNs tratados com EBA podem voltar à normalidade ou evoluir para a forma crônica da Encefalopatia bilirrubínica. A forma crônica da encefalopatia bilirrubínica (conhecida como kernicterus) é caracterizada por Paralisia cerebral atetoide grave, Neuropatia auditiva, Paresia vertical do olhar e Displasia dentária. Nessa forma crônica pode-se ou não ter retardo mental. Diagnóstico laboratorial da icterícia: ➡ Dosagem de bilirrubina total e frações; ➡ Hemoglobina e hematócrito (pesquisa de anemia associada); ➡Reticulócitos (pesquisa sobre resposta da medula a destruição de hemácias exageradas ou não); ➡ Tipagem sanguínea da mãe e do recém-nascido (já que a incompatibilidade sanguínea gera doenças hemolíticas que podem levar à icterícia neonatal). O RN tem icterícia, e agora? Como saber se é fisiológica ou se é necessário tratar? Será que pode levar a kernicterus? É preciso conhecer os fatores de risco para hiperbilirrubinemia significativa e os fatores de risco para neurotoxicidade pela bilirrubina. Fatores de risco para Hiperbilirrubinemia clinicamente significante (BT ≥ 17 mg/dL): ➡ Asiáticos; ➡ Irmão anterior com icterícia; ➡ Aleitamento materno exclusivo; Idade Gestacional ≤ 36 semanas; ➡ Icterícia nas primeiras 24h de vida; ➡ Doença hemolítica; Cefalohematoma ou equimoses; ➡ Dosagem de BT elevada, em zona de risco (Nomograma de Bhutani); Fatores de risco para Neurotoxicidade pela hiperbilirrubinemia: ➡ Idade Gestacional menor ou igual que 36 semanas; ➡ Doença hemolítica; ➡ Deficiência de G6PD (causa de doença hemolítica); ➡Asfixia; ➡ Sepse; ➡ Acidose; ➡ Albumina < 3 g/dL. Avaliação da Icterícia neonatal: ➡ Ter conhecimento sobre os fatores de risco; Examinar o RN a cada 8-12h; ➡ Em caso de icterícia precoce (que começa nas primeiras 24h) deve-se colher exames e solicitar Fototerapia; ➡ Em caso de Icterícia tarde em Zona menor que 2 deve-se apenas à observação clínica, caso seja maior ou igual à zona 2 deve-se colher exames (Dosagem de bilirrubina) para avaliação pelo Nomograma de Bhutani (se >p75 deve-se realizar Fototerapia). A alta dos RN acometidos pela Icterícia deve ocorrer quando esta estiver em zona de risco intermediário baixo ou baixo, ou após 48h sem icterícia ou icterícia zona 1. Em todos os casos deve-se agendado um retorno ambulatorial em 48-72h para avaliação do RN) Fototerapia: Depende de ➡ Dosagem de bilirrubina total; ➡ Idade Gestacional/Peso de nascimento; ➡ Idade pós-natal; ➡ Presença de fatores de risco para lesão bilirrubínica natal. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 8 Quando tratar? Em RN mais ou igual a 35 semanas *Diminuir em 2 mg/dL o nível se fatores de risco para neurotoxicidade. Em RN menor que 35 semanas *Considerar valor inferior se fatores de risco para neurotoxicidade. Como funciona a fototerapia? A bilirrubina indireta na pele sofre fotoisomerização pela luz azul (faixa de 420-470 nanômetros) aplicada na fototerapia, passando a ser Bilirrubina-4Z, 15E (isômero da bilirrubina indireta de característica mais solúvel, sendo excretado mais facilmente pela Bile). Além disso a fototerapia também leva à produção de um isômero geométrico, a Lumirrubina, que é excretada pela urina. A eficácia da Fototerapia depende do comprimento de onda de luz utilizado, da irradiância espectral (potência da luz que deve ser maior ou igual a 30), da distância entre as luzes e o recém-nascido, e da superfície de pele exposta. Cuidados com a fototerapia: A temperatura do RN, a oferta hídrica (pois ocorre aumento de perdas insensíveis desse RN) e proteção ocular radiopaca. A síndrome do bebê bronzeado (pele castanha acinzentada e urina escura devido à Bilirrubina direta na pele) é uma complicação que pode ocorrer devido ao uso da fototerapia. Em caso de icterícia por hiperbilirrubinemia direta a fototerapia não é indicada. O RN em fototerapia deve ser reavaliado (bilirrubina total e frações) a cada 4-8h. A fototerapia deve ser suspensa quando BT < 8-10 mb/dL. Icterícia Neonatal precoce (antes de 24h de vida): Leva à suspeita de Doenças hemolíticas. Quando BT > 12 mg/dL (pico atingido pela icterícia fisiológica do RN a termo no 3º a 4º dia) deve-se investigar a etiologia/Hiperbilirrubinemia indireta patológica e devemos tratar seja com Fototerapia, Imunoglobulina ou Exsanguineotransfusão. Etiologia da Hiperbilirrubinemia Indireta Patológica: Sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito: ➡ Doenças hemolíticas que podem ser classificadas em Hereditárias (Imunes, Enzimáticas, Membrana eritrocitária, Hemoglobinopatias) e em Adquiridas (Infecções virais ou bacterianas);➡ Coleções sanguíneas extravasculares (cefalohematoma, equimose); ➡ Policitemia (RN PIG, RN mãe diabética, Tranfusão feto- fetal/materno-fetal, clampeamento cordão após 60 seg ou ordenha de cordão umbilical); ➡Circulação entero-hepática aumentada (anomalias gastro- intestinais, jejum oral ou baixa oferta oral). Deficiência ou inibição conjugação da bilirrubina: ➡ Hipotireoidismo congênito; ➡ Síndrome de Gilbert (não hemolítica); ➡ Síndrome de Crigler-Najjar tipos 1 e 2 Investigação diagnóstica da Hiperbilirrubinemia Indireta Patológica: Bilirrubina total e frações; Hemoglobina; Esfregaço sanguíneo periférico; Reticulócitos; Tipagem sanguínea mãe e recém-nascido; Coombs direto e indireto e Eluato (testes imunológicos); Dosagem de G6PD/Piruvato quinase. Icterícia precoce ➡ Colher exames ➡ TRATAMENTO Tratamento: ➡ Fototerapia; ➡ Imunoglobulina (mais utilizada em casos de Doença hemolítica, deve ser combinada com fototerapia); ➡Exsanguineotransfusão (indicada em caso de doença hemolítica grave por incompatibilidade Rh). 5. APRESENTAR A FIOSIOLOGIA DA PERDA DE PES O NO RN À TERMO. O peso de um recém-nascido inicialmente pode diminuir 10% do peso ao nascer durante a primeira semana, como resultado da eliminação do excesso de fluido extravascular e da ingestão nutricional limitada. A nutrição melhora à proporção que o colostro é substituído por um maior teor de gordura do leite materno, na medida em que as crianças aprendem sobre como se acoplar à mama e a sugar de maneira mais eficiente, e as mães tornam-se mais à vontade com as técnicas de amamentação. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 9 Os lactentes recuperam ou excedem o peso ao nascer por volta da segunda semana de vida e devem crescer cerca de 30 g/dia durante o primeiro mês. A quase totalidade dos recém-nascidos (RN) apresenta perda ponderal nos primeiros dias de vida. Dada essa grande frequência, os autores a denominam de perda fisiológica de peso. A maioria dos estudos sugere que a perda corresponde, principalmente, à redução de fluidos, mas também é consequência do uso, pelo RN, de tecido adiposo como fonte de energia. Nos primeiros 2-3 dias de vida, RN amamentados exclusivamente perdem, em média, entre 5%-7% do peso do nascimento. Os limites fisiológicos máximos de perda de peso para RN amamentados exclusivamente ao seio são controversos. Assim, pode ser considerado normal ou aceitável a perda ponderal de até 10%, embora também haja referências a valores de 7%. A evolução do peso do recém-nascido, nos primeiros dias de vida, é usada como um indicador da adequação da amamentação. Dessa forma, o percentual de redução do peso em relação ao nascimento pode ser um dos parâmetros usados para a introdução de fórmula láctea. 6. ENTENDER COMO FUNCIONA A REGULAÇÃO DA TEMPERATURA DO RN. (PRÓPRIA E AJUDA EXTERNA) . A termorregulação em adultos é alcançada por meio de atividades metabólica e muscular (p. ex., tremores). Durante a gravidez, os mecanismos maternos mantêm a temperatura intrauterina. Após o nascimento, os recém-nascidos precisam adaptar-se ao seu ambiente relativamente frio pela produção metabólica de calor, pois não conseguem causar uma resposta de tremor adequada. Os recém-nascidos perdem calor e temperatura ao sair do útero da mãe, podendo haver queda de 2ºC a 4ºC, tendo maior perda entre 10 a 20 minutos de vida. Essa perda de calor é decorrente da evaporação do líquido amniótico do seu corpo e continuará a perder mais calor nos minutos seguintes, pelo contato com superfícies frias ou exposição a ambientes frios, caso não seja recepcionado adequadamente na sala de parto. O centro termorregulador ainda não está maduro e seu corpo se resfria devido à temperatura do ambiente. O recém-nascido é incapaz de manter ou elevar a temperatura corporal pelo mecanismo de calafrios ou tremores. O recém- nascido de risco deve ser colocado em um ambiente térmico controlado e com monitorização da frequência cardíaca, frequência respiratória e temperatura. A temperatura neutra adequada é aquela que propicia ao recém-nascido o menor consumo de calorias e oxigênio, portanto menor taxa metabólica, para manter a temperatura estável. Os neonatos a termo têm uma fonte de termogênese na gordura marrom, que é altamente vascularizada e inervada por neurônios simpáticos. Quando enfrentam estresse do frio, os níveis de norepinefrina aumentam e atuam no tecido adiposo marrom estimulando a lipólise. A maioria dos ácidos graxos livres (AGL) é reesterificada ou oxidada; ambas as reações produzem calor. A hipoxia ou o bloqueio beta- adrenérgico reduz essa resposta. Mecanismos de perda de calor: ➡ Radiação. O calor dissipa-se do neonato para um objeto mais frio no ambiente. ➡ Convecção. O calor é perdido da pele para o ar em movimento. A perda depende da velocidade e da temperatura do ar. ➡ Evaporação. O grau de perda depende principalmente da velocidade e da umidade relativa do ar. Recém-nascidos molhados na sala de parto são especialmente suscetíveis à perda de calor evaporativa. ➡ Condução. Este é um mecanismo leve de perda de calor que ocorre do neonato para a superfície sobre a qual ele repousa. Ambientes térmicos neutros minoram a perda de calor. Condições termoneutras existem quando a produção de calor (medida pelo consumo de oxigênio) é mínima e a temperatura central está dentro da faixa normal Para evitar a perda de calor: ➡ As diretrizes de cuidado térmico padrão incluem: (I) manutenção da temperatura da sala de parto em 25°C (OMS); (II) secar imediatamente o recém-nascido (sobretudo a cabeça); (III) retirar mantas molhadas e (IV) enrolar o recém-nascido em mantas préaquecidas. Também é importante pré-aquecer superfícies e minimizar correntes de ar. Um gorro é útil para evitar perda significativa de calor pelo couro cabeludo, embora as evidências sugiram que apenas gorros de lã são efetivos. O exame físico na sala de parto deve ser realizado com o neonato sob aquecedor radiante. Durante exames prolongados, deve-se utilizar uma sonda cutânea servocontrolada para manter a temperatura cutânea em 36,5°C. Os neonatos prematuros apresentam exacerbação dos mecanismos de perda de calor combinada com redução da capacidade de produção de calor. Esses problemas especiais na manutenção da temperatura os deixam em desvantagem em comparação com neonatos a termo; neonatos prematuros apresentam: Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 10 ➡ Razão área de superfície cutânea/peso mais alta Pele extremamente permeável, o que acarreta maior perda transepidérmica de água ➡ Redução da gordura subcutânea, com menos capacidade isolante Reservas menos desenvolvidas de gordura marrom ➡ Redução da reserva de glicogênio Incapacidade de receber calorias suficientes para prover nutrientes para a termogênese e o crescimento ➡ Limitação do consumo de oxigênio quando há problemas pulmonares. 7. DISCORRER SOBRE OS EXAMES REALIZADOS NA TRIAGEM NEONATAL. Deve-se garantir a realização das triagens neonatais universais durante o período de internação hospitalar: teste do reflexo vermelho, oximetria de pulso, triagem auditiva e triagem biológica (esta pode ser realizada após a alta). O teste do reflexo vermelho (TRV), ou “teste do olhinho”, é um exame rápido, indolor, realizado pelo pediatra, usando um oftalmoscópio simples, para triagem precoce de problemas oftalmológicos congênitos que comprometem a transparência dos meios oculares e que podem impedir o desenvolvimento visual cortical. A cor vermelha do reflexo decorre da vasculatura da retina e coroide e do epitélio pigmentário, em resposta à luz. A luz normalmente refletida pela retina varia de vermelho até amarelo ou amarelo- alaranjado. As principais causas de TRV alteradosão catarata congênita, glaucoma congênito, retinoblastoma, inflamações intraoculares da retina e vítreo, na presença de quaisquer opacidades dos meios oculares. Recomenda-se ainda que o teste seja repetido durante as visitas pediátricas regulares. Em caso de alteração, o RN deverá ser encaminhado para o oftalmologista. O teste da oximetria (teste do coraçãozinho) deve ser feito a partir de 24 horas de vida e tem como objetivo afastar cardiopatias críticas.18 Pode ser realizado no alojamento conjunto, colocando-se o sensor do oxímetro na mão direita e no membro inferior esquerdo ou direito. Qualquer medida da saturação de oxigênio menor que 95% ou diferença igual ou maior que 3% entre as medidas do membro superior direito e membro inferior obriga a uma nova aferição após 1 hora. Se persistir alterado, o ecocardiograma deverá ser realizado, dentro das próximas 24 horas. A triagem auditiva neonatal universal (TANU), conhecida também como teste da orelhinha, deve ser realizada em todos os RN antes da alta hospitalar, no máximo no seu primeiro mês de vida. Na maternidade, recomenda-se a realização dos procedimentos de emissões otoacústicas evocadas (EOA) em crianças sem indicadores de risco para a deficiência auditiva (IRDA) e do potencial evocado auditivo de tronco encefálico automático (PEATE-A) em crianças com indicadores de risco, em especial naquelas que permaneceram na UTI neonatal por mais de 5 dias. Caso ocorra falha na TANU antes da alta hospitalar, recomenda- se que seja realizado um reteste após 15 dias da alta hospitalar. Caso esta falha permaneça, deve-se realizar o encaminhamento para diagnóstico médico e audiológico, com o objetivo de confirmar a existência ou não da perda auditiva. O teste de triagem neonatal biológica (“teste do pezinho”) é realizado em sangue armazenado em papel filtro, deve preferencialmente ser colhido entre o 3º e 5º dia de vida e repetido em situações especiais em RN internados em UTI neonatal. O teste básico disponibilizado pelo SUS é capaz de detectar até seis tipos de doenças (fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, fibrose cística, anemia falciforme, hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase), com incorporação de outros testes dependendo do Estado da Federação. Foi aprovada em maio de 2021 a ampliação do teste do pezinho em todo o território brasileiro pelo SUS, com o qual será possível detectar até 50 doenças raras. A implantação está prevista para maio de 2022, incluindo além da triagem das doenças anteriores citadas, galactosemia, deficiência de G-6-PD, aminoacidopatias, doenças lisossômicas, imunodeficiências primárias, atrofia muscular espinhal, toxoplasmose congênita, sífilis congênita, HIV, rubéola congênita, herpes congênito, doença do citomegalovírus congênito e doença de Chagas, implementada em etapas. Existe disponibilidade desses exames em laboratórios privados, parcialmente cobertos pela saúde suplementar. 8. ABORDAR A IMPORTANCIA DO VÍNCULO MÃE E FILHO. Do ponto de vista do desenvolvimento global da criança, as relações afetivas entre mãe e bebê, possuem grande destaque nas pesquisas realizadas por vários autores que se dedicam ao estudo do binômio mãe-bebê. O afeto é essencial na infância. Sua importância é maior nessa idade que nos períodos posteriores. A atitude emocional da mãe e seu afeto orientam o bebê, conferindo qualidade de vida à sua experiência, já que o seu aparelho perceptivo e discriminação sensorial não estão maduros (Spitz, 1996). A ligação afetiva é o vínculo que uma pessoa ou animal forma com outro indivíduo específico, sendo a formação das primeiras relações entre mãe e bebê os protótipos de todas as relações sociais futuras (Biaggio, 1996). A teoria da ligação afetiva é designada segundo Bowlby (1997) como: Segundo o autor (Bowlby, 1977), o apego é conceituado como um vínculo do bebê para com sua mãe. Porém, o termo pode ser empregado de uma forma mais ampla, constituindo um vínculo nas duas direções, bebê-mãe e mãe-bebê (Klaus & Kennell, 1993). o apego dos pais para com seu novo bebê não é instantâneo e automático com o nascimento. Ele não é instintivo, como Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 11 é difundido popularmente; o vínculo deve ser visto como um processo contínuo para que exista a conscientização de suas complexidades e possíveis armadilhas, como por exemplo: o nascimento de um bebê prematuro e/ou com patologias que possam levar a quebra desse processo, acarretando dificuldades no relacionamento pais e filhos (Brazelton, 1988). O primeiro ponto a ser ressaltado é que o parto prematuro, em geral, ocorre de forma urgente, privando a mãe da preparação psicológica do final da gravidez, causando um sentimento de ferida, de incapacidade, podendo levar a uma perturbação no seu fundamento narcisista de personalidade e identidade, ou seja, ela vive em um contexto de prematuridade psicológica (Ajuriaguerra & Marcelli, 1991). Destarte, a mulher tende a se sentir prematura como mãe, pois foi pega de surpresa, não se sentindo pronta para receber o bebê no mundo. Além disso, o bebê pré-termo é menor e mais frágil, intensificando na mãe os temores comuns de não ser capaz de cuidar satisfatoriamente do filho. Quando o bebê corre risco de morte,os pais sentem medo de fazer ligação afetiva forte com o filho, porque ele pode não sobreviver (Maldonado, Dicktein, & Nahoum, 1996). Esse momento é marcado pela coexistência de sentimentos ambíguos, especialmente quando o bebê é muito pequenino. A esperança de que ele viva é mesclada com desejos de morte que levam os pais a se sentirem culpados. O retorno para casa, quando ocorre, é vivido de forma dolorosa e traumatizante (Mazet & Storeru, 1990). Além das dificuldades de ficarem separados dos filhos, os pais na UTI neonatal enfrentam a angústia, tensão e apreensão em relação à situação do bebê. De acordo com a observação do comportamento realizado com as mães verificou-se que o acesso livre dos pais foi muito importante para o relacionamento pais-bebê. O ver, tocar e ajudar a cuidar do filho alivia em parte a angústia e a insegurança. O que foi constatado através da menor solicitação de ajuda às auxiliares de enfermagem, o manuseio mais seguro dos bebês e a própria expressão no olhar dos pais. A criança também é beneficiada nesse contato, pois o bebê pré-termo possui as mesmas necessidades emocionais dos nascidos a termo (Maldonado, 1994). As relações afetivas estabelecidas entre a mãe e o seu bebê são fundamentais para assegurar a construção do psiquismo da criança, possibilitando um desenvolvimento saudável da personalidade e dos comportamentos sociais. É através do relacionamento seguro, contínuo e afetivo que a criança desenvolve a formação da sua autoestima e toma conhecimento do mundo exterior. Desta forma, a privação desse vínculo pode levar a uma série de distúrbios, que irão variar conforme o grau de privação. Mãe que pode compreender as necessidades tanto fisiológicas como emocionais do seu bebê, permite o desenvolvimento de uma comunicação criativa. As distorções e as dificuldades dessa relação mãe-bebê podem originar muitas das doenças psicossomáticas e emocionais posteriores. Há um consenso entre a maioria dos autores quanto à importância da interação mãe-bebê para o desenvolvimento global da criança. Além da importância, foi possível averiguar que a qualidade dessa interação poderá trazer benefícios ou prejuízos no curso do desenvolvimento. 9. DISCUTIR PROGRAMAS DE APOIO DIRECIONADOS À ATENÇÃO PRIMÁRIA NO PÓS PARTO. A atenção à mulher e ao recém-nascido (RN) no pós-parto imediato e nas primeiras semanas após o parto é fundamental para a saúde materna e neonatal. Recomenda- se uma visita domiciliar na primeira semana após a alta do bebê. Caso o RN tenha sido classificadocomo de risco, essa visita deverá acontecer nos primeiros 3 dias após a alta. O retorno da mulher e do recém-nascido ao serviço de saúde, de 7 a 10 dias após o parto, deve ser incentivado desde o pré-natal, na maternidade e pelos agentes comunitários de saúde na visita domiciliar. Objetivos: ➡ Avaliar o estado de saúde da mulher e do recém-nascido; ➡ Orientar e apoiar a família para a amamentação; ➡ Orientar os cuidados básicos com o recém-nascido; ➡ Avaliar interação da mãe/família com o recém-nascido; ➡ Identificar situações de risco ou intercorrências e conduzi-las; ➡ Orientar o planejamento familiar. Uma vez que boa parte das situações de morbidade e mortalidade materna e neonatal acontecem na primeira semana após o parto, o retorno da mulher e do recém- nascido ao serviço de saúde deve acontecer logo nesse período. Os profissionais e os serviços devem estar atentos e preparados para aproveitar a oportunidade de contato com a mulher e o recém-nascido na primeira semana após o parto para instituir todo o cuidado previsto para a “Primeira Semana de Saúde Integral”. (2006) Consulta Puerperal: Caso a mulher e o recém-nascido já tenham comparecido para as ações da primeira semana de saúde integral, realizar avaliação das condições de saúde da mulher e do recém-nascido; registro das alterações; investigação e registro da amamentação; retorno da menstruação e atividade sexual; realização das ações educativas e condução das possíveis intercorrências. *Caso a mulher não tenha comparecido para consulta na primeira semana após o parto, realizar as ações previstas para a “Primeira Semana de Saúde Integral”. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 12 Rede Cegonha (2011): É uma estratégia do Ministério da Saúde que visa implementar uma rede de cuidados para assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como assegurar às crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis. Esta estratégia tem a finalidade de estruturar e organizar a atenção à saúde materno-infantil no País e será implantada, gradativamente, em todo o território nacional, iniciando sua implantação respeitando o critério epidemiológico, taxa de mortalidade infantil e razão mortalidade materna e densidade populacional. São quatro os componentes da Rede Cegonha: I - Pré-natal; II - Parto e nascimento; III - Puerpério e atenção integral à saúde da criança; e IV - Sistema logístico (transporte sanitário e regulação). Benefício Variável à Gestante – BVG: R$ 41,00 (Bolsa Família) ➡ Pago às famílias do Bolsa Família com renda mensal de até R$ 178,00 por pessoa, que tenham grávidas em sua composição; ➡ Pagamento de nove parcelas mensais. Esse benefício só é pago se a gravidez for identificada pela área de saúde de seu município, sendo a informação inserida no Sistema Bolsa Família na Saúde. ➡ Caso a gestante identificada tenha a gestação interrompida, ela receberá o benefício da mesma forma. Benefício Variável Nutriz – BVN: R$ 41,00 (Bolsa Família) ➡ Pago às famílias com renda mensal de até R$ 178,00 por pessoa, que tenham crianças com idade entre 0 e 6 meses, para reforçar a alimentação do bebê, mesmo nos casos em que o bebê não more com a mãe. ➡ Pagamento de seis parcelas mensais. Para que o benefício seja concedido, a criança precisa ter seus dados incluídos no Cadastro Único até o sexto mês de vida. ➡ Caso o bebê registrado no Cadastro faleça nos primeiros meses de vida, o benefício será recebido da mesma forma. O “Mães Unidas” tem como objetivo proporcionar apoio relacional às gestantes e às mães de crianças com até 2 (dois) anos de idade, por meio da formação de uma rede de voluntárias. O projeto visa promover o fortalecimento de vínculos familiares, a saúde, a cidadania e o acesso à justiça de mulheres e crianças assistidas. (Projeto Piloto em Goiás 2020) O “Mães Unidas” contempla: ➡ Cursos de capacitação para voluntárias; ➡ Formação de rede de mães voluntárias; ➡ Atendimento individual humanizado; ➡ Realização de rodas de conversas envolvendo mães, especialistas e voluntárias; ➡ Oferta da “Caixa do Bebê” - trata-se de uma caixa em formato de mini berço com enxoval, materiais de higiene, fraldas e roupas. Todo o material foi pensando para as primeiras semanas de vida da criança; e E-book com informações básicas para gestantes e mães. Beneficiária direta - O "Mães Unidas" atenderá gestantes e mães de crianças com até 2 (dois) anos de idade e priorizará respectivamente: I. gestantes e mães adolescentes de até 19 (dezenove) anos; II. gestantes e mães beneficiárias do Programa Bolsa Família; III. gestantes e mães de crianças com deficiências.
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