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MEGACÓLON CHAGÁSICO Megacólon é definido como uma dilatação do cólon que não é causada por uma obstrução mecânica A doença de Chagas apresenta uma fase aguda que dura cerca de 30 a 60 dias e é seguida por uma longa fase crônica que pode determinar grave comprometimento do coração e/ou de órgãos do tubo digestivo, principalmente do esôfago e do cólon, como disfagia, megaesôfago, constipação intestinal e megacólon chagásico. EPIDEMIOLOGIA: Ao longo do século XX, foram identificados milhares de casos de megaesôfago e megacólon, particularmente nas zonas rurais das regiões centrais do Brasil (embora em todo o território nacional tenha sido encontrado registros da doença). Nas últimas décadas, vem se analisando uma mudança no perfil etário dos chagásicos com predominância em etapas tardias da vida Atualmente vem se observando também que pacientes na fase crônica da doença de Chagas que venham apresentar imunodepressão por infecção (aids) ou pela ação de drogas imunossupressoras (em doenças hematológicas, transplante de órgãos), podem desenvolver uma reativação da infecção pelo T. cruzi, que pode ser grave causando meningoencefalite e/ou miocardite agudas CONTAMINAÇÃO A principal forma de transmissão se dá através do intermédio do inseto hematófago popularmente conhecido como “barbeiro”. O Trypanosoma cruzi, protozoário responsável pela doença, encontra-se nas fezes do inseto transmissor, as quais são eliminadas sobre a pele do hospedeiro no ato da hematofagia. Encontrando solução de continuidade na pele ou através da conjuntiva, o parasito invade o organismo. Além da forma de transmissão vetorial da doença, são conhecidas as contaminações acidentais em laboratório, por transfusão de sangue e derivados, pelo leite materno, por transplantes de órgãos e através da placenta. Recentemente, registrou-se a ocorrência de microepidemias da forma aguda da doença devidas à ingestão oral de sucos frescos de frutas (açaí, bacaba) ou de caldo de cana contendo fezes recentes do inseto transmissor ou ele próprio triturado. Desde meados do século XX foram desenvolvidos efetivos programas de erradicação do inseto transmissor por meio de inseticidas, o que, ao lado de melhoria nas condições da vida rural em muitas áreas do país, da migração de populações rurais para as cidades e do controle dos doadores nos bancos de sangue conseguiu-se reduzir efetivamente a ocorrência da doença → em 2006, a OPAS certificou a eliminação da transmissão da doença pelo Triatoma infestans (barbeiro) no Brasil. Reconhece-se, entretanto, que novos casos da doença não deixaram de existir no país, e, por isso, naquelas áreas onde a doença era endêmica, as atenções agora dirigem-se ao ressurgimento de transmissores vetoriais e ao tratamento dos portadores crônicos Em 2005, a transmissão vertical passa a ser o principal mecanismo de transmissão do T. cruzi no Brasil, ou seja, a transmissão congênita. PATOGÊNESE E QUADRO CLINICO Os eventos que levam à formação dos “megas” digestivos chagásicos são: Embora todo o intestino grosso sofra o processo de desnervação de maneira mais ou menos homogênea, a dilatação acontece, na grande maioria dos casos, no reto e no sigmoide. Pode ocorrer que, além de dilatados, tanto o esôfago quanto os cólons se alonguem, constituindo o dolicome - gaesôfago e o dolicomegacólon, respectivamente. O megacólon pode ser definido quando o retossigmoide mostra diâmetro maior do que 6 cm em radiografia padrão anteroposterior, mas comumente é a simples avaliação da imagem do órgão feita por radiologista experiente que dá o diagnóstico. O sintoma principal é a constipação intestinal crônica. Estabelecida lentamente, ela pode chegar a um ponto em que o número de dias em que o paciente fica sem evacuar permanece mais ou menos estacionário. Entretanto, em outros casos, a constipação intestinal, ao longo dos anos, vai se tornando progressivamente mais persistente e mais rebelde às medidas evacuatórias. A constipação pode vir acompanhada de meteorismo (acumulo de gases no intestino). Além disso, no exame físico pode observar, abdome assimétrico em consequência de abaulamento provocado pelo cólon dilatado e desenhado em alto relevo na parede abdominal, muitas vezes com lento movimento visível. A comprovação radiográfica da ectasia de alças cólicas, mais frequentemente do sigmoide e/ou do reto, e a positividade de exames sorológicos para a doença de Chagas concluem o diagnóstico → O diagnostico etiológico dessa doença pode ser feita pela demonstração do parasito no sangue ou em outros tecidos orgânicos, ou por meio de um dos seguintes testes sorológicos: a. Imunofluorescência indireta b. Hemglutinação indireta c. Imunoenzimático – ELISA DIAGNOSTICO DIFERENCIAL 1. Hipotireoidismo 2. Diabete melito 3. Hiperparatireoidismo 4. Doença de Parkinson 5. Esclerose múltipla 6. Lesões de medula espinal. TRATAMENTO CLÍNICO Está indicado enquanto o paciente responde favoravelmente às medidas adotadas, além de pacientes com alto risco para procedimentos cirúrgicos ou anestésicos e também deve ser dado aos pacientes já operados → A orientação é para que, inicialmente, seja feito o tratamento clinico, devendo-se seguir o paciente periodicamente, por tempo indeterminado. O objetivo do tratamento clinico é manter frequente a emissão de fezes para evitar a formação de bolo fecal endurecido no intestino terminal → laxantes ou lavagens intestinais + medidas higienodietéticas e comportamentais 1. Laxantes Antes de prescrever o laxante devera se der em mente de que o intestino de um paciente com megacólon chagásico está com uma acentuada desnervação, que seu uso será prolongado ou repetitivo e que frequentemente a concomitância de doença esofágica Laxativos formadores de bolo fecal (fibras): retém água e, pelo aumento do volume do conteúdo dos cólons, estimulam a peristalse e a evacuação e, se não forem acompanhados pelo aumento da ingestão hídrica, esses laxativos podem causar fecaloma. Portanto, não há indicação para o uso no megacólon chagásico Laxativos estimulantes: basicamente agem aumentando a secreção de água e eletrólitos pela mucosa e estimulando a motilidade intestinal com a interveniência do SNE. Além das suspeitas de que seu uso crônico cause lesões neuronais, a dependência da via nervosa para sua ação completa, fazem com que esses laxativos não tenham indicação para o megacólon chagásico Laxantes osmóticos: agem produzindo acúmulo de água no intestino delgado por efeito osmótico, determinando a chegada de quantidades aumentadas de líquido no intestino grosso. Incluem-se nessa categoria: a. Salinos → sulfato ou hidróxido de magnésio e fosfato de sódio. São de uso eventual ou de curta duração, uma vez que podem provocar, respectivamente, hipermagnesemia e hiperfosfatemia em pacientes com insuficiência renal b. Açucares não absorvíveis → lactulose (é fermentada no intestino grosso formando gases em doses grandes) c. Polietilenoglicol (PEG) Lactulose na dose correta e o PEG são opções interessantes na constipação do megacólon chagásico Agentes lubrificantes ou emolientes: atuam diretamente no bolo fecal, promovendo seu amolecimento. O lubrificante mais utilizado é uma colher de sopa de óleo mineral, VO, o qual altera as características das fezes pela sua emulsificação no interior da massa fecal. Além disso, forma uma camada oleosa na mucosa do reto, provendo lubrificação para a passagem do bolo fecal. Essa dose poderá ser aumentada Ao prescrever óleo mineral ao paciente com disfagia, deve-se atentar para o fato de que a aspiração do medicamento pode causar pneumonia lipoídica; ele deverá ser instruído a ingerir o remédio em pequenos goles e a não tomar o medicamento antes de se deitar, a fim de evitara longa permanência do óleo mineral no interior do megaesôfago, reduzindo a probabilidade de regurgitação clinostática e aspiração. O melhor a fazer é ingerir a dose recomendada durante o período em que o paciente se mantém em pé, distante pelo menos duas horas da ingestão de alimentos e da hora de dormir. O tratamento prolongado pode acarretar prejuízos à absorção intestinal de lipídios e vitaminas lipossolúveis, razão pela qual deve ser utilizado na menor dose e no menor número possível de dias por semana. Óleo mineral, em forma de enema de retenção (glicerina 100 mL + água fervida 900 mL) ou de supositórios (supositórios de glicerina) pode ser um recurso adicional para o tratamento da constipação produzida pelo megacólon chagásico, principalmente o primeiro, aplicado de forma eventual ou com certa frequência 2. Medidas higienodietéticas e comportamentais Abundante hidratação + fazer idas regulares e diárias ao vaso sanitário, onde fará concentração mental e esforço necessário para a tentativa de evacuação. É importante que o paciente seja instruído a não utilizar qualquer tipo de instrumento para promover o esvaziamento do reto. Alguns alimentos que têm efeito obstipante são desaconselhados, como goiaba, jabuticaba, banana e maçã, além de outros que o paciente possa ter percebido por experiência própria. Algumas drogas têm a constipação como efeito colateral e, por isso, devem ser evitadas, tanto quanto possível, no paciente com a colopatia chagásica. Dentre elas, mencionam-se: opioides, diuréticos, antidepressivos, anti-histamínicos, antiespasmódicos, anticonvulsivantes e antiácidos à base de alumínio. TRATAMENTO CIRURGICO As indicações cirúrgicas para o tratamento de megacólon chagásico são controversas, sendo impositivo a cirúrgica em casos de: 1. Obstrução e perfuração 2. Paciente absolutamente refratário ao tratamento conservador 3. Reincidência de volvos Até hoje, não se encontrou uma técnica ideal, isenta de complicações e que impeça a recidiva do sintoma para solucionar a constipação intestinal do paciente chagásico As complicações do tratamento cirúrgico são: deiscência das anastomoses, necrose do cólon abaixado, infecção pélvica e estenose da anastomose, sendo a primeira delas a mais temida. COMPLICAÇÕES 1. Fecaloma É caracterizado pela constipação crônica, com evidências clínicas de obstrução. Pode ser detectada massa abdominal palpável com o sinal de Gersuny. A massa fecal compactada pode ou não ser perceptível pelo toque retal, dependendo da altura em que se forma. A radiografia simples do abdome pode mostrar aspecto mosqueado característico Tratamento: Quando o fecaloma é acessível ao toque retal, pode-se tentar seu desmanche por meio de repetidas lavagens intestinais com água fervida e glicerina (na proporção de 9:1), com o cuidado de não infundir grandes volumes (máximo de 3 L/dia), a fim de evitar intoxicação hídrica. Outra opção é o gotejamento lento e contínuo de água fervida morna ou soro fisiológico através de sonda retal posicionada junto ao fecaloma. Quando este é muito duro, o que acontece na maioria dos casos, o tratamento é o esvaziamento digital, com bloqueio anestésico peridural ou raquianestesia. Se o fecaloma não é acessível ao toque retal, indica-se gotejamento (30 a 40 gotas/min) com água fervida morna ou solução fisiológica (máximo de 3 L/dia), através de sonda localizada o mais próximo possível do fecaloma. Após cada evacuação, a sonda deve ser reinstalada, e o procedimento, continuado por vários dias. 2. Volvo do sigmoide Definição: Se refere a torção da alça sigmoide. Quadro clínico: quadro de obstrução intestinal, parada de eliminação de gases, dor em cólica, distensão abdominal localizada e o aspecto típico de alça sigmoide distendida e fechada em suas extremidades, em forma de chouriço, observada em chapas radiográficas. Tratamento: emprego de um retossigmoidoscópio que auxiliara na introdução de uma sonda do tipo Levine ou de Nelaton na alça torcida afim de descomprimi-la. O paciente deverá permanecer com a sonda na luz da alça durante 12 a 24 horas, pois, por vezes, embora se consiga seu esvaziamento, não há reversão da torção. Segue-se a preparação para o procedimento cirúrgico. Se o objetivo não for alcançado, o paciente deverá ser submetido à laparotomia de urgência para a distorção da alça volvida Se houver necrose, a dor em cólica transforma-se em contínua, surgem sinais de peritonismo, a distensão passa a ser simétrica e deteriora-se o estado geral do paciente. Nesses casos, indica- se laparotomia. 3. Colite isquêmica Manifesta-se por evacuações diarreicas, habitualmente sanguinolentas, dor abdominal, queda do estado geral e hipoproteinemia. Tratamento: Se as manifestações forem de pouca intensidade, indica-se o tratamento clínico → repouso alimentar, hidratação parenteral, antibióticos e acompanhamento atento. Para os pacientes com grau mais significativo de isquemia ou com o comprometimento de um longo segmento cólico, indicam-se, na fase aguda, derivação do trânsito intestinal e, posteriormente, ressecção do segmento afetado 4. Perfuração A perfuração ocorre em úlcera de estase fecal ou por ruptura de alça torcida. O quadro é de peritonite fecal generalizada e toxemia grave. Trata-se de uma situação de extrema gravidade, que exige intervenção cirúrgica imediata, lavagem exaustiva da cavidade peritoneal, colostomia, eventualmente com a operação de Hartmann, e potente antibioticoterapia
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