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QUESTÃO SOBRE DOSIMETRIA DA PENA - DIREITO PENAL Descrição: BATISTA, 19 anos, bombeiro militar, integrante de milícia privada que atua na Zona Norte do Rio de Janeiro, realizou incursão no Complexo da Maré, juntamente com seu comparsa SANTOS, policial militar. Na ocasião, ambos foram cobrar dívida do comerciante Sr. JOSÉ, 70 anos. A fim de dar uma lição em face da inadimplência do pagamento do valor mensal de R$150,00 cobrado pelo grupo paramilitar, através de emboscada, capturaram e trancaram a vítima em sua padaria e atearam fogo, com o intuito de matá-lo. No local, encontrava-se ainda MIGUEL, funcionário da padaria, que havia se escondido no banheiro, sem o conhecimento dos algozes. Portanto, com uma só conduta atingiram duas vítimas. As chamas foram intensas, gerando queimaduras graves em JOSÉ e MIGUEL. Todavia, ambos sobreviveram após internação hospitalar por 2 meses, sendo certo que JOSÉ perdeu a visão como consequência do delito. Vale destacar que BATISTA já fora condenado em definitivo há 1 ano pelo crime de abuso de autoridade. SENDO VOCÊ O MAGISTRADO, NO CASO EM TELA, DETERMINE A DOSIMETRIA PENAL REFERENTE A BATISTA, FUNDAMENTANDO A SUA RESPOSTA. Resposta: Primeiramente, analiso as elementares do tipo, que descrevem o núcleo essencial da conduta delituosa. Tem-se, portanto, o art. 121 c/c art 14, II, configurando o crime de homicídio tentado. No caso em tela, incidem as qualificadoras previstas nos incisos III e IV do §2° do art. 121, quedando o intervalo de pena entre 12 a 30 anos. De acordo com a Súmula n° 27 do TJDFT: “Presentes duas ou mais qualificadoras no delito, uma deve ser utilizada para fins de tipificação do crime qualificado e as demais na dosimetria da pena, seja na pena-base, seja como circunstância agravante, se prevista legalmente como tal, vedado o bis in idem”. Nesse sentido, impõe-se o reconhecimento do crime de homicídio qualificado em razão da emboscada (art. 121, §2°, IV). A qualificadora prevista no inciso III do mesmo diploma será valorada na segunda fase de aplicação da pena. Adentrando o sistema trifásico de aplicação da pena, sempre respeitando o que preconiza o art. 68 do CP, passo à dosimetria da pena: Primeira Fase: Considerando as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal, que serão utilizadas para determinar a pena-base, verifico que o réu agiu com culpabilidade que não excede a normalidade do tipo; Não há elementos nos autos para se aferir a conduta social e personalidade do réu; A reincidência, os motivos do crime e suas circunstâncias serão valorados na segunda fase de aplicação da pena, de modo a não macular o princípio do ne bis in idem; As consequências do delito não extrapolam o tipo penal; O comportamento da vítima não pode ser havido como desfavorável ao réu. Assim, fixo a pena base no mínimo legal, em 12 (doze) anos de reclusão. Segunda Fase: Na pena-provisória, observando as circunstâncias agravantes (arts. 61 e 62 CP) e as circunstâncias atenuantes (art. 65 e 66 CP), depreendo que o agente era menor de 21 anos na data do fato (art. 65, I CP). Em contrapartida, observo que praticou o crime mediante emprego de fogo (art. 61, II, “d”) e que o crime fora praticado por motivo torpe, qual seja, a inadimplência da vítima quanto ao pagamento do valor mensal de R$ 150 cobrado pelo grupo paramilitar (art. 61, II, “a”). Ademais, o réu é reincidente, eis que possui sentença penal condenatória transitada em julgado, anterior ao crime em análise. Conforme os ditames jurisprudenciais e o disposto no art. 67 do CP, a atenuante referente à idade (menor de 21 anos na data do fato) e a agravante da reincidência são preponderantes e, portanto, se anulam. Subsistem as agravantes previstas nas alíneas “a” e “d”, do inciso II, do art. 61, pelas quais agravo a pena em 2/6 (dois sextos). Assim, fixo a pena intermediária em 16 anos. Terceira Fase: Existente a causa de diminuição de pena prevista no art. 14, II do Código Penal, por se tratar de crime tentado. Presentes as causas de aumento previstas no §6° do art. 121, por ter sido praticado por milícia privada, e no art. 70, uma vez que foi configurado o concurso formal de crimes ao atingirem a vítima MIGUEL. Havendo concurso de causas de aumento e de diminuição, devem ser aplicadas, umas sobre as outras, partindo-se da pena fixada na segunda fase da dosimetria. Assim, em um primeiro momento, aplico a majoração da pena até a metade em detrimento das duas causas de aumento presentes, atingindo-se o patamar provisório de 24 anos. Em sequência, diminuo a pena em ⅓ (um terço), em razão da tentativa. Desse modo, fixo a pena definitiva em 16 (dezesseis) anos de reclusão. Isto posto, CONDENO BATISTA a pena final de 16 (dezesseis) anos de reclusão, pela prática da conduta descrita no art. art. 121, §2°, inciso IV c/c art. 14, II, ambos do Código Penal. O regime inicial para o cumprimento da pena é o FECHADO, por força do art. 33, parágrafo 2º, “a”, do Código Penal. O Art. 44 do Código Penal elenca os requisitos para que haja a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, quais sejam: a) condenado por crime doloso cuja pena privativa de liberdade aplicada não seja superior a 4 anos; b) crime praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa; c) não reincidente em crime doloso e d) suficiência da substituição (quando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do condenado e os motivos e as circunstâncias indicarem que a substituição seja suficiente). Deixo de substituir a pena privativa de liberdade por restritivas de direitos por não estarem preenchidos os requisitos do art. 44, I e II do Código Penal, primordialmente pela prática da violência, pelo quantum da pena e pela reincidência, bem como não aplicável à hipótese o disposto no art. 77 do CP.
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