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Medicina interna Infectologia Camila Cassamo 1 | 6 Febre de origem desconhecida 1 INTRODUÇÃO De acordo com estudos recentes: Indivíduos sadios de 18 a 40 anos tem temperatura oral média de 36,8º C ± 4º; com níveis mais baixos às 6h e mais altos às 16h e 18h. A temperatura oral máxima é de 37,2º C às 6h e 37,7ºC às 16h. 2 DEFINIÇÃO FEBRE DE ORIGEM OBSCURA É uma expressão usada, as vezes com o mesmo sentido de febre de origem desconhecida ou febre prolongada, quando o paciente apresenta temperatura corporal acima de 37,9º C em varias ocasiões, por um período de pelo menos, 3 semanas, sem definição diagnostica apos 3 dias de investigação hospitalar ou 3 consultas ambulatórias. Temperaturas acima de 37,2º C pela manhã, ou, 37,7º C pela tarde, definiriam febre. A variação diária normal da temperatura costuma ser de 0,5º C. Febre é uma elevação de temperatura corporal que ultrapassa a variação diária normal e ocorre associada ao aumento do ponto de ajuste hipotalâmico. 3 CRONOLOGIA DOS EVENTOS NECESSÁRIOS A INDUÇÃO DA FEBRE Medicina interna Infectologia Camila Cassamo 2 | 4 DEFINIÇÕES DE FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA E CATEGORIAS Peters e Beeson 1961 o Febre de origem desconhecida clássica Durack e Streel 1991 o Febre de origem desconhecida clássica o Febre de origem desconhecida nosocomial o Febre de origem desconhecida na infeção por HIV o Febre de origem desconhecida em neutro pénicos o Febre de origem desconhecida episódica recorrente 4.1 FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA CLÁSSICA Peters e Beeson o Temperatura maior ou igual a 38,3º C em diversas ocasiões. o Duração maior ou igual a 3 semanas. o Ausência de ∆ depois de 1 semana de estudo hospitalar ou 1 semana de estudo intensivo inteligente na consulta externa. Durack e Street o Temperatura maior ou igual a 38,3º C em diversas ocasiões. o Duração maior ou igual a 3 semanas. o Ausência de ∆ depois apesar de um estudo adequado em pelo menos 3 consultas externas; 3 dias de hospitalização; ou uma semana de estudo inteligente e invasivo no ambulatório. 4.1.1 ETIOLOGIA DA FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA CLÁSSICA EM ADULTOS Infeções; Neoplasias; Doenças inflamatórias não infeciosas Outras causas; Causas não diagnosticadas; Doenças inflamatórias; Febre medicamentosa; 4.1.2 TRATAMENTO DA FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA CLÁSSICA A enfase nos pacientes com febre de origem desconhecida clássica e na observação e nos exames repetidos, evitar terapia empírica. Deve-se evitar o tratamento empírico para endocardite infeciosa, a menos que hajam razões especificas para alem da febre. O inicio da terapia empírica não significa o fim da investigação do diagnostico, ao contrario, compromete o medico com o reexame e avaliação contemplativa. Todo paciente com FOD deve ser submetido a um teste exaustivo de TB o Se o Mantoux+ ou se a Hepatite granulomatosaou outra doença granulomatosaestiver presente com anergia( e a Sarcoidseparece impossível ) → prova terapêutica com HR 6 semanas. se a febre não resolver →→ Outro diagnóstico Febre reumática boa resposta a AAS, AINE Arterite Temporal e Hepatite granulomatosa - respondem a glicocorticoides. Deve se evitar o máximo Glicocorticoides e AINE mascaram a febre em quanto permitem a disseminação da infecção. O inicio da terapia empírica não significa o fim da investigação do diagnóstico, ao contrario, compromete o Médico com o reexame e avaliação contemplativa 4.2 FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA NOSOCOMIAL Temperatura maior ou igual a 38,3º C em diversas ocasiões num paciente hospitalizado e submetido a cuidados agudos. Ausência de infeção ou incubação ou incubação no momento da admissão. Ausência de ∆ depois de 3 dias de estudo adequado, incluindo neles 2 dias de incubação de culturas. 4.2.1 ETIOLOGIA DA FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA NOSOCOMIAL Tromboflebite séptica; Sinusite; Colite por clostridium difficile; Febre medicamentosa. 4.3 FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA NA INFEÇÃO POR HIV Infeção confirmada pelo HIV. Temperatura maior ou igual 38,3º C em diversas ocasiões. Duração maior ou igual 3 dias no paciente hospitalizado e maior ou igual a 4 semanas no paciente externo. Ausência de ∆ depois de 3 dias de estudo adequado, incluindo neles 2 dias de incubação de culturas. Medicina interna Infectologia Camila Cassamo 3 | 4.3.1 ETIOLOGIA DA FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA ASSOCIADA AO HIV MAI; Tuberculose; Linfoma não Hodgkin; Febre medicamentosa; CMV; P. carini; Salmonelose; Criptococose; Histoplasmose; Febre medicamentosa; Acima de 80% são de causa infeciosa; Infeções micobacterianas: hemoculturas, biopsia da medula óssea e linfonodos. Vários testes serológicos; Tratamento depende da causa; 4.4 FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA NEUTROPÉNICA Mais de 500 neutrófilos por microlitro no sangue periférico ou se espera que caia para esse nível em 1 a 2 dias. Temperatura maior ou igual a 38,3º C em diversas ocasiões. Ausência de ∆ depois de 3 dias de estudo adequado, incluindo neles 2 dias de incubação de culturas. 4.4.1 ETIOLOGIA DA FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA NEUTROPÉNICA Infeção perianal; Aspergilose; Candidemia; 4.4.2 TRATAMENTO DA FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA NEUTROPÉNICA Os neutropénicos são suscetíveis a infeções focais bacterianas e fúngicas, bacteremias, envolvendo cateteres: o Cândida; o Aspergilos; o Herpes; o CMV; No tratamento empírico da sepsis bacteriana; o Vancomicina; Ceftzidina; 4.5 FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA EPISÓDICA RECORRENTE Critérios de definição de febre de origem desconhecida de Petersdorf e Beeson. Padrão fluente de febre, com intervalos de apirexia de pelo menos 2 semanas. 4.6 FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA HOSPITALAR Acima de 50% estão infectados; Acessos vasculares; Flebites sépticas; Próteses; Procurar infeções ocultas: o Seios nasais – entubados; o Abcessos prostáticos – algalia; o Colite pelo clostridium difficile – febre e leucocitose antes da diarreia. 25% dos casos – febre não infeciosa o Colecistite acalculosa; o Tromboflebite venosa profunda; o Embolia pulmonar; Fazer múltiplas culturas das feridas e secreções; 20% não tem diagnostico; Considerar ainda: o Febre medicamentosa; o Reações transfusionais; o Abstinência ao álcool e drogas; o Insuficiência da supra-renal; o Tiroidite; o Pancreatite; o Gota; Medicina interna Infectologia Camila Cassamo 4 | Manobras terapêuticas devem ser rápidas e decisivas: o Trocar os acessos venosos e enviar para a cultura; o A administração de medicamentos deve ser interrompida por 72h e a terapia empírica iniciada se a bacteriemia for uma ameaça; Antibioticoterapia: o Vancomicina (Staphiloccocus aureus resistente a meticilina e cobertura de gram-negativos negativos com Piperacilina ou tozobactan, ticarcilina – clavunato, imipenem ou merepenem) 5 ETIOLOGIA DA FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA O espectro de doenças que causam febre de origem desconhecida é determinada por: Definição usada; Factores geográficos; Alterações ao longo do tempo (novos procedimentos diagnósticos, novas entidades clinicas) Infeciosas; Inflamatórias não infeciosas; Neoplásicas; Medicamentosas; Sem diagnostico; 5.1 CAUSAS DA FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA EM ADULTOS 5.1.1.1 Infeções piogénicas localizadas: Abcesso hepático; Abcesso dentário; Abcesso pancreático; Abcesso prostático; Abcesso subfrênico; Abcesso tubo-ovariano; Apendicite; Colangite; Tromboflebite supurativa; Diverticulite; 5.1.1.2 Infeções por micoplasma: Infeções por clamídias: o linfo granuloma venéreo; Psitacose; 5.1.1.3 Infeções virais: Coriomeningite linfocítica; Dengue; Febrecausada pelo carrapato; Febre Chikungunya; Hepatites A, B, C, D, E; Infeção por Herpes Vírus Humano 6; Infeção pelo parvo vírus B19; Infeção pelo picornavírus; Infeção pelo vírus da imunodeficiência humana; Infeção pelo vírus de Epstein-Barr; Infeção por citomeglovírus; Infeção pelo vírus coxsackie do grupo B; 5.1.1.4 Infeções fúngicas: Aspergilose; Blastomicose; Candidíase; Coccidioidomicose; Criptococose; Esporotricose; Histoplasmose; Infeção por pneumocystis; Mucormicose; Paracoccidiodomicose; 5.1.1.5 Parasitoses: Amebíase; Babesiose; Doença de Chagas; Estrongiloidíase; Leishmaniose; Malária; Toxocaríase; Toxoplasmose; Triquinelose; 5.1.1.6 Infeções presumidas, agentes indeterminados: Doença de Kawasaki (síndrome do linfonodo mucocutâneo); Linfadenite necrosante de Kikuchi; 5.1.1.7 Infeções intravasculares: Aortite bacteriana; Endocardite bacteriana; Infeção de cateter vascular; 5.1.1.8 Infeções bacterianas sistémicas: Bartonelose; Brucelose; Doença de arranhadura de gato/ angiomatose; Bacilar; Doença de Lyme; Doença dos legionários; Febre recorrente; Febre tifoide; Gonococcemia; Infeção por campylobacter; Infeção por yersinia; Leptospirose; Listeriose; Melioidose; Meningococemia; Salmonelose; Sífilis; Tularemia; 5.1.1.9 Infeções por micobactérias: Infeções por M. avium; Infeções por outras micobactérias atípicas; Tuberculose; Medicina interna Infectologia Camila Cassamo 5 | 5.1.1.10 Outras infeções bacterianas: Actinomicose; Angiomatose bacilar; Doença de Whipple; Nocardiose; 5.1.1.11 Riquetsioses: Anaplasmose; Erliquiose; Febre maculosa das montanhas; Febre Q; Riquietsiose variceliforme; Tifo murino; Tifo causado pelo contacto com arbustos; 5.1.1.12 Neoplásicas Malignas: Câncer do colo*; Câncer pancreático; Carcinoma da vesicula biliar; Granulomatose linfomatoide; Hepatoma*; Histiocitose maligna; Leucemia (incluindo as fases pré-leucémicas e aleucémicas); Linfoma não Hodgkin*; Linfoma de Hodgkin*; Linfoma imunoblásico de células T; Sarcoma; Benignas: Angiomiolipoma renal; Doença de Castleman; Mixoma atrial; 5.1.1.13 Doenças vasculares do colagénio ou de hipersensibilidade Aortite de Takayasu; Arterite de células gigantes; Artrite reumatoide; Doença de Behcet; Eritema nodoso; Febre reumática; Granulomatose com poliangite; Lupus eritematoso sistémico; Pneumonite por hipersensibilidade; Policondrite recidivante; Síndrome de Schnitzler; Vasculite por hipersensibilidade; 5.1.1.14 Doenças granulomatosas: Doença de Crohn; Granuloma de linha mediana; Hepatite granulomatosa; Sarcoidose; 5.1.1.15 Distúrbios diversos: Cirrose de Lannec; Dissecção da aorta; Embolia pulmonar; Febre medicamentosa; Gota; Hematomas; Hemoglobinopatias; Infarto/ necrose tecidual; Síndrome PFPA: febre periódica, adenite, faringite e aftas; Síndrome pos-infarte do miocárdio; Teriodite subaguda; 5.1.1.16 Doenças hereditárias: Doença de Fabry; Febre familiar do mediterrâneo; Insuficiência suprarrenal; Urticaria familiar pelo frio; 5.1.1.17 Distúrbios de termorregulação: Centrais: acidente vascular encefálico; Disfunção Hipotalâmica; Encefalite; Tumor cerebral; Periféricos: Feocromocitoma; Hipertiroidismo; Febres fatídicas; Febre de origem desconhecida afebril (abaixo de 38,3º C) 6 EXAMES COMPLEMENTARES Não existe um jogo de explorações complementares para se aplicar em um paciente com FOD. O trabalho diagnóstico deve basear-se. 1. Na repetição da anamnese, exame físico e exames complementares elementares; 2. Seguimento das chaves diagnósticas que vão aparecendo; 3. O despiste das causas mais frequentes; 7 A AVALIAÇÃO DA FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA EM CONTEXTOS CLÍNICOS COM POUCOS RECURSOS A avaliação da febre de origem desconhecida em contextos clínicos com poucos recursos requer anamnese e exame clinico mais confiáveis. Pode ser necessário entrevistar o paciente, membros da família do mesmo e seus contactos profissionais próximos. Se não puderem ser realizados exames laboratoriais e de imagem especializados é possível chegar ao diagnóstico com maior facilidade maximizando a qualidade e a exatidão das abordagens disponíveis no local (por exemplo: cultura de material analisado, hemoculturas centrifugadas e microscopia feita por um técnico experiente). Medicina interna Infectologia Camila Cassamo 6 | 8 DADOS QUE NÃO DEVEM FALTAR NA HISTORIA CLINICA DE UM PACIENTE COM FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA Anamnese: o Profissão; o Alergias; o Antecedentes de viagens recentes; o Hábitos sexuais; o Contactos com animais; o Contacto com pessoas que padecem de doenças infeciosas; o Ingestão de produtos lácteos e águas sem controle sanitário; o Manipulações dentarias procedimentos endoscópicos e urológicos recentes; o História de transfusões; Exame físico: o Pele e mucosas (picadas, exantemas, ulceras, lesões ungueais, aftas, tromboflebites); o Focos sépticos dentais; o Palpação da artéria temporal em > 50 Anos o Exame da mama o Presença de adenopatias e bócio o Existência de sopros o Hepatoesplenomegalias o Exploração testicular 9 EXAMES COMPLEMENTARES NA FEBRE DE ORIGEM DESCONHECIDA Exames a realizar em todos os pacientes: Hemograma e velocidade e sedimentação; Perfil hepático completo com amílase; T4 e TSH; TTPA, TP, fibrinogénio, INR; Proteinograma, quantificação de imunoglobulinas, C3 e C4; ANA, anti-DNA, FR; Urina II; Hemocultura; Urocultura; Cultura e parasitas nas fezes sem diarreia; Mantoux; Serologia de brucelose; Rx tórax; ECG; Ecografia abdominal; Medicina interna Infectologia Camila Cassamo 7 | 10 EXAMES A REALIZAR NUM PACIENTE SEM DADOS CHAVES POTENCIAIS DIAGNÓSTICOS OU COM DADOS POTENCIAIS DIAGNÓSTICOS EQUÍVOCOS Medida de pulso e temperatura por um observador; Fundoscopia por um oftalmologista; Rx dos seios perinasais; Exploração ORL; LCR; Imunoeletroforese no sangue e na urina; Crioglobulinas; Serologia – HIV, CMV, VEB, toxoplasma, micoplasma, borrelia, coxiela. Serologia – treponema, yersenia, psitacosis, leishmânia, VHB, VHC. Hemoculturas de longa incubação; 4 semanas; Baciloscopia e cultura de BK no suco gástrico e urina; TAC torácica e abdominal; Aspirado de medula óssea em maiores de 55 anos com cultura; Biopsia da artéria temporal em maiores de 55 anos com velocidade de sedimentação maior que 40; Ecocardiografia; Ecografia pélvica (ginecológica ou prostática);
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