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FEBRE SEM SINAIS LOCALIZATÓRIOS EPIDEMIOLOGIA DA FEBRE: · Febre é uma das causas mais comuns de consulta na pediatria. · 25% de todas as consultas são de emergência devido a febre. · Na maioria dos casos, após a avaliação inicial, é possível identificar a causa. · Nas crianças menores de 36 meses, em 20% dos casos, essa identificação não é possível. · Maior risco de mortalidade até 6 meses. No entanto, até 3 anos pode ter crianças com febre sem sinais localizatórios. DEFINIÇÃO: · Febre com menos de uma semana de duração, que após história clínica e exame físico cuidadoso não tem a sua causa estabelecida. · Criança com febre há 3 dias sem outros sintomas associados. · A grande maioria das crianças com FSSL tem uma doença aguda, autolimitada ou está em uma fase prodrômica de uma doença benigna. · Resumindo, ou essa criança está evoluindo ou pode ser um antecedente (fase prodrômica) de uma doença benigna (infecção viral p. ex.). · Poucas têm infecção bacteriana grave (IBG) que trazem risco de morbidade ou mortalidade. · A FSSL pode ser um preditivo de uma infecção bacteriana grave. · As IBG são: · Bacteremia · Pneumonia → existem pneumonias ocultas. · Infecção de urina → 80% dos casos de FSSL são decorrentes de infecção urinária. · Meningite · Artrite séptica · Osteomielite · Celulite A primeira conduta a ser realizada antes de iniciar o exame físico é a retirada da roupa - não tirou vai errar o diagnóstico. 80% dos casos são virais - autolimitado/ 20% dos casos são bactérias - antibiótico. DESAFIO NA FSSL: · O grande desafio diante de uma criança com FSSL é diferenciar as crianças com doença benigna autolimitada daquelas que podem ter uma infecção bacteriana grave (IBG). BACTEREMIA OCULTA - BO: · Hemocultura positiva em uma criança que está com FSSL, clinicamente bem e sem infecção localizada. · A prevalência da BO depende da vacinação para Hib e pneumococo: · A população não vacinada é em média de 5% (mais comum Pneumocócica e Hib) → Precisa verificar a carteira de vacinação da criança. · Em população vacinada cai para menos de 1% (mais comuns E. coli e S. aureus) EVOLUÇÃO DA BACTEREMIA OCULTA: · Na avaliação após 24-48 horas: · Febre persistente 76% · Bacteremia persistente 21% · Internação 50% · Evolução para meningite 9% Prática: Criança de 3 meses chega no PS com: REG febre alta e persistente há 3 dias sem outros sintomas associados e aleitamento materno exclusivo. HD: infecção bacteriana, pois dificilmente as infecções virais têm comprometimento do estado geral. Se tem comprometimento do estado geral tem que pensar em bactéria. · Quando fala que a criança tem aleitamento materno exclusivo já cai a possibilidade de ser uma infecção viral. · Nesses casos não podem usar a frase clássica do PS: Mãe, vou passar um analgésico e antitérmico para a criança e ver se ela melhora. Essa conduta em caso de FSSL pode levar a criança a óbito ou choque séptico. · Nesses casos antes de dispensar esse bebê com REG e com aleitamento materno exclusivo é preciso pedir Raio-x de tórax - pode ter uma pneumonia oculta. · Se o bebê for uma menina tem chance alta de ser infecção urinária. · Raio-x de tórax normal + exame de urina normal + hemograma com 18.000 leucócitos com desvio à esquerda → Tem que fazer punção liquórica para descartar meningite. Esse é o protocolo e seguimento para crianças com FSSL. · Criança BEG, ativa, mamando e febre alta persistente → hemograma → mostra predomínio de linfócitos → infecção viral → conduta: analgésico e antitérmico → se aparecer algum sintoma ou piora do estado geral tem que procurar o atendimento. RISCO DE MENINGITE: · Bacteremia oculta por pneumococo 4%. · Bacteremia oculta por meningococo 56% · Mais grave! INFECÇÃO URINÁRIA OCULTA: · É a infecção bacteriana mais comum como causa de febre sem sinais localizatórios. · A frequência nas crianças com FSSL é a seguinte: · 3-4% dos meninos < 12 meses de idade. · 8-9% das meninas < 24 meses de idade. · Nos lactentes < 3 meses, a frequência é de: · 7,5% das meninas. · 2,4% dos meninos circuncidados. · 20% dos meninos não circuncidados. Lactentes, principalmente meninas ou meninos não circuncidados, com quadro de febre sem sinais localizatórios – a primeira hipótese diagnóstica a ser descartada é a infecção urinária. Tem manifestação clínica que possa ser sugestiva de ITU? Não, a não ser febre... então temos que no pronto atendimento descartar, pois mata! Principalmente no período neonatal e no primeiro semestre de vida (que é o período mais prevalente). Assim, até que se prove o contrário, deve-se descartar essa hipótese, por isso a necessidade de um exame de urina (às vezes é necessário até uma sondagem ou uma punção). No PS não podemos esquecer da técnica correta de coleta. Assepsia correta da região genital antes de colocar o saco coletor - melhor qualidade de coleta. PNEUMONIA OCULTA: · A pneumonia ocorre em 3% das crianças com febre em ausência de taquipnéia e/ou qualquer outro sintoma respiratório. · 26% das crianças com FSSL, não vacinadas para pneumocócica e Hib (ou incompleta), com temperatura > 39 graus e leucócitos totais acima de 20.000/mm3 têm pneumonia. · Colher uma Urina I, hemograma, Raio-X de tórax. MENINGITE OCULTA: · A bacteremia oculta por meningococo é bem mais rara do que por pneumococo. · A faixa etária abaixo de 24 meses (2 anos) é a mais acometida pela doença meningocócica. · 25-50% dos pacientes com doença meningocócica haviam sido liberados após avaliação inicial. · 82% dos pacientes liberados tinham menos de 36 meses de idade. · A grande maioria das crianças vai a óbito. AVALIAÇÃO CLÁSSICA DAS CRIANÇAS COM FSSL: · Avaliação clínica: · Estado geral → BEG (pensar em viral)/ REG (pensar em bactéria) → não é regra! · Temperatura → persistente e alta? · Idade · Avaliação laboratorial: · Leucograma/hemograma · Exame de Urina · Raio X de tórax · No exame físico, a presença de toxemia ou comprometimento do estado geral está associada com risco aumentado de IBG. É preciso sempre associar anamnese + exame físico + exame complementar. · A avaliação clínica isolada não consegue identificar todas as crianças com IBG. · Avaliação da temperatura: · Em crianças não vacinadas para Hib e pneumococo, o risco de BO aumenta proporcionalmente com a temperatura: Mãe relata criança com tremedeiras, porém aferiu a temperatura e não estava com febre → altamente sugestivo de hipotermia por bacteremia – sinal de alerta · Idade: · É um grande marcador. · O risco de infecção bacteriana grave é maior abaixo de 3 meses, principalmente no RN. · Entre 3-36 meses o risco é semelhante. · Acima de 36 meses o risco é bem menor. FSSL – 0-3 MESES: · Faixa etária de risco. · As manifestações clínicas são inespecíficas, mas a febre é um sinal de alarme. · A avaliação clínica é muito difícil. · É importante o reconhecimento precoce das infecções bacteriana.s · 2/3 das crianças desta faixa etária com FSSL. AVALIAÇÃO LABORATORIAL NA FSSL: · Contagem total de leucócitos. · Há uma correlação entre n. total de leucócitos e bacteremia · < 10.000/mm³ taxa de bacteremia de 0,3% · > 20.000/mm³ taxa de bacteremia de 8,2% · Muitos consideram o valor de 15.000 leucócitos /mm³ para separar as crianças em alto risco e baixo risco para o IBG. · No lactente < 3 meses de idade n. total de leucócitos < 5.000 /mm³ é considerado fator de risco. · As leucopenias são mais preocupantes nesta faixa etária - presença de gram negativos. · Diferencial de leucócitos · Total de neutrófilos < 5.000/mm3 → a taxa de bacteremia é de 0,2% · Total de neutrófilos > 10.000/mm3 → a taxa de bacteremia é de 5,8% · Formas jovens >1.500/mm3 → a taxa de bacteremia é de 5,2% · Provas de fase aguda: · Proteína C reativa não se eleva antes de 12 horas de evolução. Se colher antes de 12 horas vai estar normal - diagnóstico errado. · Procalcitonina eleva-se mais rápido, mas épouco disponível (alto custo) → PADRÃO OURO para detectar infecção bacteriana precoce. · A PCR marca processo infeccioso, não específico, mas que pode subsidiar o diagnóstico de uma bacteremia. Hoje, a moda é a Procalcitonina, mas é um serviço caro, não realizado nas práticas clínicas. PROTEÍNA C REATIVA E PROCALCITONINA: · Provas de fase aguda: Uma metanálise concluiu que a acurácia diagnóstica de procalcitonina e PCR são similares. · Os valores ótimos são: · Para identificação de IBG: PCR ≥ 80 mg/L ou procalcitonina ≥ 2 ng/mL (sensibilidade de 50% e especificidade de 90%) · Para exclusão de IBG: PCR < 20 mg/L ou procalcitonina < 0,5 ng/mL (sensibilidade de 80% e especificidade de 70%). AVALIAÇÃO LABORATORIAL NA FSSL: AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA NA FSSL: · Raio X de tórax → lembrar das pneumonias ocultas. · Não é necessário em todas as crianças com FSSL. · Está indicado se houver aumento de FR ou SatO2 < 95% · Se houver leucocitose acima de 20.000/mm3 há risco aumentado de pneumonia oculta ESCALAS PARA IDENTIFICAÇÃO DO LACTENTE JOVEM COM FSSL DE RISCO PARA: · Existem 3 escalas: Rochester, Filadélfia e Boston. · A escala mais utilizada é a de Rochester: · Recém-nascido de termo. · Sem intercorrências no período neonatal. · Sem uso de antibiótico. · Sem alteração no exame clínico. · Leucocitos entre 5.000/mm3 e 15.000/mm3. · Sedimento urinário < 10 leucócitos/campo. · O valor preditivo negativo desta escala é de 99,1% CONCLUSÕES: · Nas crianças de 3 a 36 meses (3 anos) com FSSL e bom estado geral, a indicação de antibioticoterapia empírica deve levar em conta a situação vacinal para Hib e Pneumococo. · Se tem bacteremia tem comprometimento do estado geral · Não dispensar o paciente sem exame de urina, hemograma e raio-x de tórax. · Criança com processo infeccioso importante - hemograma e raio x e urina sem alteração → solicitar exame neurológico para punção liquórica (possível meningite). · A pesquisa de vírus respiratório pode reduzir o uso de antibiótico empírico. · A infecção urinária continua sendo a causa mais comum de IBG nas crianças com FSSL.
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