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AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Bianca Duarte Beck Avaliação clínica: anamnese nutricional Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os pressupostos da anamnese clínico nutricional. � Avaliar os componentes da anamnese clínico nutricional. � Reconhecer a forma de condução da anamnese clínico nutricional. Introdução Na avaliação clínica de indivíduos, diversos aspectos devem ser conside- rados a fim de se definir terapias e diagnósticos adequados. A entrevista clínica cria oportunidades para se obter uma boa anamnese, favorecendo o reconhecimento do outro, suas necessidades, medos e ansiedades. Assim, esta ferramenta representa a base para o exercício do profissional no contexto da avaliação nutricional. Neste capítulo, você irá conhecer os objetivos que justificam a apli- cação de uma anamnese clínico nutricional, avaliar os componentes que estão envolvidos e reconhecer como ela deve ser conduzida na prática clínica. A importância da anamnese Ao iniciar a abordagem dos pressupostos envolvidos na utilização da anamnese clínico nutricional, deve ser esclarecido que o conceito de anamnese clínica é utilizado em diversas áreas da saúde. A palavra anamnese é de origem grega, seu prefixo ana possui o significado de trazer de novo e o sufixo mnesis quer dizer memória, dando a palavra o significado literal de trazer de novo da memória. Este conceito é muito significativo, pois a anamnese realizada pelos profissionais de saúde, nada mais é do que uma entrevista do profissional de saúde com seu paciente, tendo o objetivo de buscar informações que auxiliem no diagnóstico ou esclarecimento da situação clínica encontrada. De uma forma resumida, é uma entrevista em que o profissional de saúde irá auxiliar o paciente a relembrar aspectos relacionados à sua condição clínica. Por se tratar de uma conduta profissional, a anamnese possui metodologia específica, utilizando técnicas que devem ser seguidas com o objetivo de apro- veitar, ao máximo, o tempo disponível para o atendimento, oportunizando um diagnóstico seguro e um tratamento adequado. Na prática clínica, acredita-se que uma anamnese bem aplicada seja responsável por 85% do diagnóstico, sendo os outros 15% distribuídos em exame clínico (10%) e exames laboratoriais (5%). Logo, este dado se torna extremamente importante, porque potencializa o conhecimento do profissional em apurar as informações clínicas disponíveis para o fechamento de diagnósticos. Sendo assim, conceitua-se a anamnese como o processo de registro dos fatos relacionados ao princípio e à evolução de uma doença. Resultado de uma conversação com um objetivo explícito, conduzido pelo profissional da saúde e em que o conteúdo foi elaborado criticamente por ele próprio (SCLIAR, 2000). A prática da anamnese é reconhecidamente importante dentro do cenário clínico. Para William Osler, médico canadense (1849 ‒ 1919), tão importante quanto conhecer a doença que o homem tem, é conhecer o homem que tem a doença, o que reforça a relevância da entrevista entre o profissional de saúde e o paciente. É relevante salientar que a entrevista não é simplesmente para obter uma história, muito menos é um exame cruzado do paciente que tenta atender às exigências de uma revisão de sistemas. É, basicamente, uma aliança de trabalho entre o paciente e o profissional de saúde, com o objetivo de trocar ordenada- mente quaisquer e todas as informações clinicamente relevantes entre eles. O paciente está buscando ajuda, e o profissional possui conhecimento e habilidades para ser útil. A perspectiva mais válida para dimensionar a entre- vista clínica, é como um importante meio de engajar o paciente no controle ativo do seu próprio tratamento (BEHRMAN; KLIEGMAN; JENSON, 1997). Processo de avaliação nutricional A avalição nutricional é parte integrante do processo de atendimento ou as- sistência nutricional aos pacientes ou grupos populacionais. Todo o processo de cuidado nutricional é iniciado pela avaliação do nutricionista, desta forma, a partir da avaliação nutricional, é dado todo o direcionamento. Em relação à nutrição, a alimentação e o consumo alimentar determinam a sequência de eventos que culmina nas respostas à saúde. Avaliação clínica: anamnese nutricional2 No processo de atendimento e assistência nutricional há três etapas principais: � etapa de avaliação: trata-se da definição de quem é o indivíduo, grupo ou população, qual a razão para o estudo ou atendimento, quais são os problemas nutricionais possíveis de serem identificados, além das va- riáveis identificáveis que podem permear esses problemas nutricionais; � etapa de diagnóstico: após a etapa de avaliação e por intermédio das informações obtidas, então, é traçado o perfil nutricional do indivíduo, com a definição de seu diagnóstico nutricional; � etapa de intervenção: pela definição de diagnóstico, é possível indicar condutas relacionadas à elaboração de planos alimentares, planos edu- cativos ou prescrições de suplementos e/ou complementos nutricionais. Anamnese clínica nutricional Na prática clínica, os sinais, sintomas das enfermidades e condições clíni- cas diversas são os indicadores que, muitas vezes, auxiliam no diagnóstico clínico final. É na aplicação da anamnese clínica nutricional que alguns dos principais parâmetros avaliados irão poder contribuir com a determinação do diagnóstico nutricional. Sabe-se que as características clínicas associadas aos sinais e sintomas apresentados pelo paciente, deverão ser avaliadas de acordo com a percepção do profissional de nutrição. Neste sentido, a experiência profissional está diretamente ligada à habilidade de execução de uma boa avaliação, pois os profissionais bem treinados podem obter valorosos conhecimentos para o diagnóstico com base na avaliação dos sinais subjetivos do paciente (VITOLO, 2008). Existem diferentes protocolos validados e estruturados que podem ser utilizados como complementos da investigação dos sinais clínicos. Estes pro- tocolos nada mais são do que metodologias que têm como objetivo específico a determinação de um grupo ou situação de risco. Assim, a anamnese clínica nutricional tem o objetivo de detectar a queixa principal do indivíduo, sua história clínica pregressa, seus hábitos alimentares e consumo alimentar habitual. A anamnese ou história clínica é de grande relevância para se reconhecer e entender as três dimensões do diagnóstico: o paciente, a moléstia e as circunstâncias associadas. Além disso, ela é indispen- sável para o alcance de uma relação satisfatória entre paciente e profissional. A importância deste tipo de relacionamento é evidente, já que dele dependerá 3Avaliação clínica: anamnese nutricional o grau de confiança que o paciente depositará no profissional, a qualidade das informações que serão transmitidas ou, ainda, a colaboração que o paciente oferecerá na adesão à conduta terapêutica. Na nutrição, o sucesso da conduta depende de mudanças nos hábitos alimentares, estes que, em sua maioria, representam um desafio, sendo imprescindível uma relação harmônica do binômio paciente‒nutricionista. Na avaliação nutricional, a anamnese é direcionada para a identificação da situação nutricional e, também, os fatores associados a ela. O paciente deve, então, ser interrogado sobre fatores que interferem direta ou indiretamente no estado nutricional: perda ou ganho ponderal recente; sinais de doenças gastrointestinais, como náuseas, vômitos, diarreia; uso de medicamentos que interferem na absorção e na utilização dos nutrientes; presença de fatores limitantes na ingestão adequada, como anorexia, lesões bucais, dificuldades de mastigação; presença de doenças crônicas ou intervenções cirúrgicas; etilismo; tabagismo; além de fatores psíquicos que possam interferir na in- gestão alimentar. Apesar de importante, a história clínica nutricional não deve ser usada isoladamente, uma vez que a capacidadedeste método depende de variáveis, como a condição clínica e o tipo de informante (em geral, o paciente ou acompanhante) e de entrevistador (no caso, o nutricionista) — situações estas que, quando não se apresentam de maneira positiva, podem comprometer a eficácia da anamnese. Na maioria das vezes, as dificuldades existentes estão na deficiência de comunicação entre o paciente e o profissional de saúde. Sendo assim, este último deve estar preparado e saber como irá atuar nas diversas situações, tais como: � deficiência na fonação ou audição; � diferenças de linguagem; � depressão do estado de consciência; � distúrbios mentais; � em crianças, falta de objetividade, incoerência; � deficiência de memória e observação; � concepções errôneas sobre a moléstia; � falta de confiança na nutrição; � inibição e/ou distração causadas pela presença de outras pessoas. Avaliação clínica: anamnese nutricional4 Anamnese O conhecimento sobre o indivíduo ou grupo que receberá o atendimento nutricional é fundamental dentro da prática clínica do nutricionista. Este conhecimento deve ser fundamentado na identificação da alimentação e do maior número de fatores que estão associados a ela. Pode-se enumerar alguns aspectos relevantes que precisam constar na anamnese: � dados demográficos: sexo, idade, dados de moradia e contatos; � informações sobre saúde: doenças existentes ou preexistentes, doenças familiares, uso de medicamentos e/ou suplementos, hábitos de vida (tabagismo, álcool, exercícios físicos, entre outros); � informações sobre o comportamento alimentar: conhecimento sobre nutrição e alimentação, aspectos cognitivos sobre o comportamento ali- mentar, relações afetivas e situacionais com os alimentos (preferências, aversões, restrições, condições financeiras e físicas para aquisição/ pre- paro dos alimentos, aspectos demográficos e geográficos relacionados à facilidade ou dificuldade no consumo do alimento; � uso de medicamentos ou suplementos nutricionais: esta informação é muito importante para o planejamento de estratégias que minimizem as interações entre medicamento e nutriente. Componentes da anamnese Elementos da anamnese Dentro do campo da saúde, historicamente, a anamnese foi desenvolvida com a intenção de direcionar o olhar do médico para a doença, sem considerar a pessoa doente. Uma vez que a anamnese é uma entrevista, são necessárias a comunicação não verbal, a verbal e a escrita. É papel do profissional de saúde avaliar o que o paciente vai formulando no seu discurso para focar nas informações desejadas. A valorização do contato com o paciente qualifica uma boa anamnese, embora a disponibilidade tecnológica tenha levado muitos a considerá-la secundária. É reforçado que nada substitui o contato direto com o paciente, o que, principalmente, proporciona uma boa anamnese. Para realizar esta prática, entretanto, é preciso dedicação e tempo adequado (VOTRE et al., 2009). No contexto geral de avaliação do paciente, alguns aspectos devem ser investigados e evoluídos em prontuário, sendo eles: 5Avaliação clínica: anamnese nutricional � identificação: é o início do relacionamento com o paciente. Adquire-se o nome, idade, sexo, cor (raça), estado civil, profissão atual, profissão anterior, local de trabalho, naturalidade, nacionalidade, residência atual e residência anterior; � queixa principal (QP): em poucas palavras, o profissional registra a queixa principal, o motivo que levou o paciente a procurar ajuda do profissional; � história da doença atual (HDA): é registrado tudo o que se relaciona à doença atual, sintomatologia, época de início, história da evolução da doença, entre outros. Em caso de dor, deve-se caracterizá-la por completo; � história médica pregressa (HMP): adquire-se informações sobre toda a história médica do paciente, mesmo das condições que não estejam relacionadas à doença atual; � histórico familiar (HF): é perguntado ao paciente sobre sua família e suas condições de trabalho e vida. Procura-se alguma relação de hereditariedade das doenças; � história pessoal e social: busca-se a informação sobre a ocupação do paciente, onde trabalha, reside, se é tabagista, alcoolista ou faz uso de outras drogas. Se viajou recentemente, se possui animais de estimação (para determinar a exposição a agentes patogênicos ambientais), suas atividades recreativas, se faz uso de algum tipo de medicamento (in- clusive, os da medicina alternativa), pois estas informações são muito valiosas para o médico levantar hipóteses de diagnóstico. Componentes da anamnese nutricional A anamnese clínica na avaliação nutricional é direcionada para a investigação e determinação de uma alimentação insuficiente ou inadequada. Algumas questões podem ser respondidas pelo paciente ou acompanhante, e outras podem ser colhidas diretamente do prontuário, sem a necessidade de sobre- carregar o paciente com perguntas já respondidas a outros profissionais. Sob o aspecto nutricional, os pontos mais relevantes a serem considerados durante a anamnese clínica são (ACUÑA; CRUZ, 2004): � história de perda ou ganho de peso recente: é uma das variáveis mais avaliadas. Qualquer perda de peso, não intencional, maior que 10% é considerada significativa. Investiga-se, também, como ocorreu a perda ou ganho, se de forma contínua ou com recuperações, associada Avaliação clínica: anamnese nutricional6 a sintomas gastrointestinais ou ao uso de medicamentos, bem como a situação mais recente do processo (as duas últimas semanas anteriores à internação); � presença de sintomas gastrointestinais: anorexia (ausência de apetite), hiporexia (redução do apetite), hiperexia (aumento do apetite), disgeusia (alterações do paladar), disfagia (dificuldade de deglutir), odinofagia (dor ao deglutir), pirose, dor retroesternal associada à pirose, dispepsia (má digestão), náusea, vômitos, diarreia, constipação, flatulência (excesso de gases no trato gastrointestinal), eructação (eliminação de gases pelo trato gastrointestinal alto) e meteorismo (eliminação de gases pelo trato gastrointestinal baixo). Além desses aspectos, convém avaliar a situação da cavidade oral e suas estruturas, uma vez que fazem parte do aparelho digestivo os dentes, a língua, os palatos e a mucosa oral; � alterações do padrão alimentar: investiga-se a duração da mudança e o tipo de mudança alimentar (quantidade, qualidade dos alimentos ou em ambas). Por exemplo, o paciente pode relatar que, nos últimos dias antes da internação, não fazia mais refeições sólidas, tolerando melhor, apenas, refeições pastosas e apresentando aversão à carne bovina; � uso de medicamentos que podem afetar o estado nutricional: medica- mentos que interfiram na absorção e utilização dos nutrientes, como furosemida, hidroclorotiazida, digitálicos (reduzem o apetite), ácido acetilsalicílico, anfetaminas (alteram ou diminuem o paladar), anti- -histamínicos, corticosteroides, psicotrópicos (aumentam o apetite), anticoncepcionais orais, suplementos de ferro e vitamina C (alteram a absorção de outros nutrientes); � antecedentes médicos pessoais e familiares: presença de doenças crôni- cas, internações e/ou cirurgias prévias, motivo e investigação do caráter hereditário e genético da(s) patologia(s). Com relação aos antecedentes familiares, sugere-se indagar apenas as condições de saúde de parentes de primeiro grau (pais, irmãos e avós); � aspectos da história social, econômica e cultural: alguns dados sobre estes questionamentos podem interferir na adesão ao tratamento, como ocupação, escolaridade, estado civil, religião, condições de moradia, renda familiar e/ou individual, presença de etilismo, tabagismo e/ou uso de substâncias ilícitas. É importante ressaltar que durante a anamnese, o roteiro de perguntas não deve seguir uma rotina sequencial rígida, podendo o nutricionista concluir a entrevista em outros momentos ao longo do acompanhamento, pois, algumas 7Avaliação clínica:anamnese nutricional vezes, não é possível colher todas as informações necessárias no primeiro atendimento, por vários motivos, como: recusa do paciente por cansaço, sono- lência, procedimentos de urgência a serem executados imediatamente, horário para realização de exames etc. O artigo traz informações sobre a abordagem nutricional por meio do coaching nutricio- nal. Esta nova dinâmica de atendimento está em crescimento, se mostrando eficaz na prática de condutas e do vínculo estabelecido com o paciente. Confira no link a seguir: https://goo.gl/5Pqf6z Condução da anamnese Anamnese: encontro terapêutico De uma forma geral, a prática da anamnese se inicia no primeiro contato do indivíduo com o nutricionista. É aconselhado que já no princípio da abordagem sejam realizadas perguntas abertas e colaborativas, como por exemplo: “Como posso ajudá-lo?” ou, então, “O que te trouxe aqui?”. Também, é sugerido que o procedimento não seja finalizado no primeiro encontro, uma vez que a escuta aberta e empática possibilita trocas constantes entre nutricionista e paciente. Este processo de escuta é considerado uma tecnologia potente, porque, a partir dela, é criada uma relação colaborativa e de vínculo terapêutico. Sendo assim, não é recomendada a prática de anamnese com perguntas fechadas, é preciso estimular o paciente a contar sua história, apresentando as suas questões únicas e particulares. Logo, a escuta terapêutica pode ser definida com um método de responder aos outros de forma a incentivar uma melhor comunicação e compreensão das preocupações pessoais. É um método ativo e dinâmico, que exige esforço da parte ouvinte para identificar os aspectos verbais e não verbais da comunicação. Também, fica evidenciado que o ambiente onde se realiza o procedimento deve ser o mais confortável, privado e discreto possível, mesmo que a anam- nese seja realizada em uma enfermaria. É necessário assegurar ao indivíduo condições éticas de sigilo. Vale ressaltar que, muitas vezes, o paciente pode Avaliação clínica: anamnese nutricional8 ter medo e preconceitos com relação ao nutricionista, em função da represen- tação de um profissional autoritário que limitará as escolhas alimentares e apresentará recomendações que funcionam apenas no mundo ideal e, não no real. Quebrar esse paradigma não significa apenas romper com uma imagem, mas também, com uma prática. Trata-se de uma postura existencial de abertura para o outro e para o novo. Abaixo, você irá conhecer algumas atitudes que podem facilitar a prática da anamnese em um encontro terapêutico: � usar o nome do paciente entrevistado; � mostrar animação, profissionalismo e calor humano; � ter cuidado com gestos, palavras, contato visual e tom de voz; � não expressar julgamentos; � não apresentar atitudes de preconceito e discriminação; � compreender reações, inclusive, de choro e/ou silêncio com acolhimento; � evitar perguntas fechadas; � fazer apenas uma pergunta por vez; � apresentar primeiro as questões menos profundas; � dar tempo para que o indivíduo discorra satisfatoriamente sobre o assunto; � fazer perguntas apenas, quando crer que o indivíduo está pronto para dar a informação desejada; � perguntar com cuidado ou obter a informação em outro momento; � não induzir respostas; � não tornar a entrevista monótona e mecânica; � registrar as informações, mas não ficar totalmente direcionado para o computador ou papel; � respeitar e compreender diferenças individuais e culturais; � ter uma postura de suporte em vez de uma postura de confronto. Anamnese: instrumento de investigação Além do encontro terapêutico, a anamnese, também, visa a investigar aspectos objetivos e subjetivos que irão fundamentar o cuidado nutricional. A primeira questão que deve ser analisada é a definição do foco da anamnese, elegendo o indivíduo, a doença ou os incômodos, caso eles ocorram. Além disso, é preciso estar atento ao cenário que envolve o caso clínico do paciente, por exemplo, pacientes críticos deverão receber uma anamnese que comporte os aspectos associados ao seu contexto clínico. 9Avaliação clínica: anamnese nutricional Em situações não extremas, é indicado que o foco seja no indivíduo, sendo o primeiro passo, a busca pela compreensão sobre o indivíduo que se pretende atender, para depois, elucidar os motivos do atendimento e, finalmente, investi- gar todas as características de alimentação, nutrição, saúde e condições de vida. A obtenção de informações importantes deve ser realizada pelo uso de uma linguagem clara, cuidadosa e sem uso de termos técnicos. É preciso considerar a idade do indivíduo, a fim de utilizar a linguagem mais acessível. Em relação à forma de condução de uma anamnese clínico nutricional, existem alguns aspectos relevantes que são observados: � forma de registro; � ambiente; � postura do entrevistador; � condução do relato; � idade do entrevistado; � tempo de anamnese. Forma de registro Cabe ao nutricionista avaliar a forma mais adequada para registrar a anamnese aplicada ao paciente. Existem algumas diferenças referentes à metodologia utilizada. Atualmente, com o avanço tecnológico, a informação pode ser registrada de forma sistemática durante o seguimento da avaliação nutricional. Algumas observações importantes precisam ser ressaltadas, principalmente, no que diz respeito à singularidade do paciente avaliado. Por exemplo, a idade, já que pacientes idosos poderão exigir uma forma de registro mais detalhada. Em relação ao formulário especificamente, o nutricionista poderá utilizar formulários com questões predefinidas ou seguir uma linha livre, mas sempre utilizando um roteiro que facilite o registro de todas as informações relevantes à investigação. As anotações dos dados obtidos durante a anamnese devem ser feitas de maneira a não desviar a atenção do paciente. Esta observação é relevante, especialmente, quando o nutricionista utiliza o computador para realizar o registro. É importante que o nutricionista tenha cuidado para não digitar os dados enquanto o paciente estiver falando, justamente para preservar o vínculo com entre os dois. Outra questão relevante acontece pela utilização do uso de gravadores, que devem ser desestimulados. Sabe-se que gravar a conversa inibe o paciente, fazendo com que algumas informações importantes se percam durante a anamnese. De forma geral, o procedimento deve estabelecer o contato visual Avaliação clínica: anamnese nutricional10 entre o entrevistador e o entrevistado, garantindo que o paciente se sinta prestigiado com a atenção do profissional. Ambiente Em relação ao ambiente, sabe-se que ele deve ser o mais particular e confor- tável possível. A privacidade do paciente propicia uma maior aquisição de informações, além disso, é preciso garantir que as perguntas não sejam feitas diante de pessoas que possam intimidar o entrevistador. Ainda, no cenário ideal, o conforto deve ser garantido por meio de uma temperatura, iluminação, silêncio, comodidade e fluxo de pessoas adequados. Outra questão relevante é o distanciamento entre entrevistado e entrevistador, devendo manter uma distância de 1 a 1,5 m, proporcionando, assim, uma conversa tranquila. Postura do entrevistador O entrevistador tem papel fundamental na anamnese clínico nutricional, por isso, ele deve manter uma postura que inicia desde o primeiro momento de contato com o paciente. O nutricionista deve chamar o paciente pelo nome, se apresentando e esclarecendo sobre sua função. A postura do entrevista- dor, também, é considerada uma forma de comunicação, pois são mandadas mensagens para o paciente durante a entrevista. Logo, o profissional deve transparecer calma e tranquilidade, já que sinais de pressa ou reprovação podem comprometer a comunicação e a obtenção dos dados. Atitudes de cordialidade, como sorrisos e gestos gentis ajudam a estabelecer o vínculo entre o paciente e o profissional. Posições que indiquem desigualdade devem ser evitadas,além disso nenhuma informação relatada pelo entrevistado deve sofrer críticas, nem opiniões pessoais devem ser emitidas. Condução do relato O nutricionista precisa convidar o paciente para contar a sua história. Ques- tionamentos que iniciem com “O que o trouxe aqui?” ou “Como posso ajudá- -lo?” são maneiras positivas de iniciar o diálogo. O profissional deve ouvir atentamente o relato, confirmando o entendimento das informações referidas. Expressões como “Entendo”, “Continue” ou “Estou ouvindo” são adequadas e confirmam o envolvimento do profissional com o paciente. Entretanto, necessário tomar cuidado para não interromper ou complementar a história enquanto ela está sendo relatada. 11Avaliação clínica: anamnese nutricional Em situações de fuga do assunto, o que é comum no cenário clínico, cabe ao nutricionista reconduzir a anamnese, buscando resgatar o assunto. Nestes casos, o nutricionista pode, de forma sutil, dizer “Entendo, mas voltando ao assunto que estávamos falando”. Durante a condução da anamnese, não se deve induzir respostas espe- cíficas. Esta observação é relevante, pois em se tratando de alimentação, o paciente tende a responder, de forma positiva, às questões que podem agregar credibilidade aos seus hábitos alimentares. Assim, o nutricionista deve evitar questionamentos que induzam o paciente a respostas, tais como: “Você gosta de frutas, não é?”. Para evitar isso, o nutricionista deve preferir o uso de perguntas objetivas cujas respostas serão sim ou não. No encerramento da anamnese, o profissional deve valorizar a colaboração do paciente, reforçando que as informações serão fundamentais no desenvolvimento do planejamento nutricional. Idade do entrevistado No que se refere à idade dos entrevistados, algumas observações necessitam ser ressaltadas. A anamnese aplicada em lactentes deve ser direcionada à mãe, ao pai ou responsável. Em crianças com idade pré-escolar e escolar, já existe a possibilidade de comunicação entre o entrevistador e o entrevistado. Sendo assim, a criança deve se sentir parte integrante do processo, mesmo que ocorra a presença dos pais ou responsáveis. Neste contexto, o nutricionista faz perguntas direcionadas à criança, utilizando uma comunicação criativa e lúdica. O uso de brincadeiras é uma forma positiva de aproximação com as crianças. Já, para a aplicação de anamnese em adolescentes, a condução da entrevista deve ocorrer de forma informal e descontraída. Geralmente, adolescentes respondem de forma positiva, quando o entrevistador demonstra interesse por eles. Tempo da anamnese É conhecido que a primeira anamnese será sempre mais demorada, o nutricio- nista deve avisar o paciente do tempo necessário para coletar as informações. Ainda, cabe ao nutricionista ficar atento aos sinais de cansaço do paciente. Caso isso aconteça, é possível priorizar algumas informações, adiando o restante para futuras consultas. Avaliação clínica: anamnese nutricional12 Condução da anamnese em situações especiais: � Pacientes ansiosos: proporcionar tranquilidade e deixar claro que as informações co- letadas serão utilizadas na prescrição dietética. Como identificar pacientes ansiosos: ■ Respostas rápidas: ■ remexer-se na cadeira; ■ balançar as pernas; ■ apertar as mãos, além de outros sinais. � Pacientes hostis: deve-se evitar o confronto, deixar o paciente desabafar e, se o motivo da hostilidade for o serviço prestado, desculpar-se do suposto erro. A anamnese só deverá ser reiniciada quando o paciente estiver tranquilo. � Pacientes emotivos: é necessário dar abertura para o paciente expressar suas emo- ções. Mantenha-se em silêncio, ofereça uma caixa de lenço e conserve o semblante de aceitação e tranquilidade. Aguarde o paciente se recompor e, só então, tente reiniciar a anamnese perguntando: “Podemos continuar?” � Pacientes com problemas cognitivos (incapazes de fornecer informações claras e confiáveis): procurar a colaboração de parentes, amigos, cuidadores e outros. ACUÑA, K.; CRUZ, T. Avaliação do estado nutricional de adultos e idosos e situação nutricional da população brasileira. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, v. 48, n. 3, p. 345-361, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/abem/v48n3/ a04v48n3.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2018. BEHRMAN, R. E.; KLIEGMAN, R.; JENSON, H. B. Nelson: tratado de pediatria. 15. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997. SCLIAR, M. Literatura e medicina: o território partilhado. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 245-248, 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/ v16n1/1584.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2018. VITOLO, M. R. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. Rio de Janeiro: Rubio, 2008. VOTRE, S. J. et al. Pergunte de mais de uma maneira: alternativas para aumentar a eficácia da anamnese. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 33, n. 4, p. 648-657, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbem/v33n4/v33n4a16.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2018. 13Avaliação clínica: anamnese nutricional Leituras recomendadas BARROS, A. L. B. L. de. Anamnese e exame físico: avaliação diagnóstica de Enfermagem no Adulto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. BORRELL CARRIÓ, F. Avaliar nosso perfil de entrevistadores. In: BORRELL CARRIÓ, F. Entrevista clínica: habilidades de comunicação para os profissionais de saúde. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 37-56. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução CNF n°. 380, de 28 de dezembro de 2005. Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, estabelece parâmetros numéricos de referência, por área de atuação, e dá outras providências. Revogada. Brasília, DF, 2005. Disponível em: <http://www.cfn.org.br/wp-content/ uploads/resolucoes/Res_380_2005.htm>. Acesso em: 15 dez. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução CNF n°. 600, de 25 de fevereiro de 2018. Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, indica parâ- metros numéricos mínimos de referência, por área de atuação, para a efetividade dos serviços prestados à sociedade e dá outras providências. Brasília, DF, 2018. Disponível em: <http://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/resolucoes/Res_600_2018.htm>. Acesso em: 15 dez. 2018. SANTOS, J. B. Ouvir o paciente: a anamnese no diagnóstico clínico. Revista Brasília Médica, v. 36, n. 3, p. 90-95, 1999. Avaliação clínica: anamnese nutricional14 Conteúdo:
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