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OS BENEFÍCIOS DA HIDROTERAPIA EM PRÉ-TERMOS ESTÁVEIS INTERNADOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL Lorena Barreto Q. Rocha* RESUMO O recém-nascido (RN) pré-termo é o feto cujo desenvolvimento intra-uterino foi interrompido e seus órgãos, ainda imaturos, terão de assumir funções para as quais não estão preparados. Bebês nascidos prematuros apresentam órgãos ou sistemas corporais imaturos, mas graças ao avanço da medicina, tem cada vez mais chance de sobrevivência quando internados em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). A hidroterapia tem sido utilizada como uma modalidade terapêutica tradicional por profissionais de saúde em uma ampla variedade de condições médicas. A Hidroterapia Neonatal (HN) ainda é pouco difundida no ambiente de uma UTI, mas pode ser uma atividade saudável e de prevenção. Esta modalidade terapêutica pode ser utilizada com eficiência como tratamento coadjuvante na terapia de sono, para melhorar o estímulo à alimentação, como método de redução da dor e estresse e na prevenção de anormalidades posturais. A HN em cuidados intensivos tem se mostrado benéfica em neonatos estáveis clinicamente quando feita com técnica elaborada por profissionais competentes e com o apoio da equipe médica. Palavras-chave: Prematuridade. Hidroterapia, Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. __________________________________ *Bacharel em Fisioterapia, Pós-graduanda em Fisioterapia Pediátrica e Neonatal Universidade Castelo Branco/Atualiza Pós-Graduação E-mail: leninhabarreto@hotmail.com 2 1 INTRODUÇÃO O recém-nascido (RN) pré-termo é o feto cujo desenvolvimento intra- uterino foi interrompido e seus órgãos, ainda imaturos, terão de assumir funções para as quais não estão preparados (REZENDE, 2002). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2011) é considerada prematura a criança nascida com menos de 37 semanas de gestação contadas a partir da data da última menstruação da gestante. Além disso, mesmo que o bebê tenha todos os seus órgãos perfeitamente formados, as funções orgânicas ainda são imaturas, do que provêm riscos para sua sobrevivência e desenvolvimento normal (DALMOLIN, 2009; ARRUDA et al, 2002). A prematuridade é dividida em prematuridade moderada (32 semanas a 36 semanas de idade gestacional), prematuridade acentuada (28 semanas a 31 semanas de idade gestacional) e prematuridade extrema (abaixo de 28 semanas de idade gestacional). Os RNs ainda podem ser classificados com base no peso de nascimento segundo a OMS, em: baixo peso (com peso de nascimento igual ou inferior a 2500g), muito baixo peso (peso inferior a 1500g) e extremo baixo peso (com peso de nascimento inferior a 1000g) (SOUSA et al, 2008). Bebês prematuros nascem com órgãos ou sistemas corporais que teve menos tempo para amadurecer dentro de um ambiente adequado e protegido que é o útero, mas graças ao progresso da medicina na área de neonatologia, tem cada vez mais chance de sobrevivência quando internados em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). A hidroterapia tem sido utilizada como uma modalidade terapêutica tradicional por profissionais de saúde em uma ampla variedade de condições médicas. Historicamente, a água vem sendo altamente eficaz nos programas de reabilitação por fisioterapeutas como de exercícios em tanques específicos de hidroterapia ou em piscinas aquecidas (MABEY, 1992). 3 A hidroterapia Neonatal (HN) ainda é pouco difundida no ambiente de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, mas pesquisas recentes afirmam ser uma atividade saudável e de prevenção que pode ser praticada no período neonatal em pacientes estáveis sob orientação cientifica e com o uso de padronização, procedimentos técnicos de proteção e protocolos médicos (ZHAO et al, 2005). Existe ainda a falta de conhecimento e medo da parte dos profissionais que trabalham nesse tipo de unidade principalmente por se tratar de bebês prematuros com baixo peso, frágeis e instáveis na sua maioria. Daí então surgiu o interesse de realizar essa pesquisa que propõe divulgar essa terapia e expor os resultados positivos já existentes na literatura. Desta forma, esta pesquisa teve por objetivos avaliar, por meio de uma revisão sistemática da literatura, os benefícios gerados pela hidroterapia realizada em bebês pré-termos estáveis internados em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, analisar a hidroterapia como recurso terapêutico para minimizar as diversas alterações fisiológicas e motoras em bebês pré-termos, expor os pré- requisitos básicos para a Hidroterapia neonatal em cuidados intensivos, reconhecer o histórico do desenvolvimento da terapia aquática neonatal e ressaltar a importância dessa conduta para a melhora do atendimento e consequente evolução positiva do paciente. Para o presente trabalho foi realizado uma revisão sistemática da literatura mediante a consulta em livros e artigos científicos, em revistas, periódicos nacionais e internacionais em bibliotecas universitárias e nas bases de dados virtuais Pubmed, Lilacs, Scielo, Medline e Google Acadêmico. Foram incluídos todos aqueles artigos que abordassem o tema proposto, publicados no período entre 1990 e 2011, nos idiomas inglês e português. Os artigos excluídos foram os que não se enquadravam no tema e os publicados anteriormente a 1999. Vale ressaltar que artigos do período dos anos 70 e um artigo de 1983, especificamente, foram incluídos, desrespeitando o critério de exclusão, devido à sua alta relevância para o estudo, pois se tratam de estudos pioneiros sobre os efeitos da hidroterapia em UTI neonatal. 4 Durante a busca das referências bibliográficas utilizando as combinações de termos neonatal e hidroterapia, UTI e hidroterapia, água e efeitos e prematuros, prematuridade e UTI e seus correlatos na língua inglesa, foram encontrados no total 93 artigos que faziam referência a pelo menos um dos unitermos. Desses, 52 em língua inglesa e 41 na língua portuguesa. Após a leitura criteriosa de todos os resumos, os artigos que se enquadravam nos critérios de inclusão foram selecionados 16 artigos em inglês e 20 em português, totalizando 36 artigos utilizados na elaboração desta revisão de literatura. 5 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 Prematuridade O que se espera de uma gestação é o nascimento de um RN saudável com o menor efeito traumático para a mãe. Às vezes, isso não é possível por causa de problemas na gravidez, no parto ou com o bebê. “Essas intercorrências no processo do ciclo gravídico puerperal geram riscos à integridade da saúde tanto da mãe quanto do concepto e podem evoluir para a morte”. (CUNHA et al, 2004, pag 298). A etiologia do parto prematuro é apontada como desconhecida em aproximadamente 50% dos casos. No restante, freqüentemente ocorrem associações de possíveis fatores de risco. De maneira geral, esses fatores podem ser classificados em seis categorias: epidemiológicas, obstétricas, ginecológicas, clínico-cirúrgicas iatrogênicas e desconhecidas, sendo a idade materna um fator de risco importante para o baixo peso e mortalidade infantil, particularmente entre as adolescentes com menos de 20 anos e entre as mães com mais de 35 anos (REZENDE, 2002; CASTRO et al, 2007). As causas que levam ao nascimento de um bebê prematuro são diversas, em especial aquelas que estão relacionadas ao aparelho genital feminino, alterações da placenta (descolamento prematuro ou placenta prévia) e excesso de líquido amniótico. Além dessas, outras causas são comuns como a idade da mãe (a incidência de prematuridade é mais comum em mulheres mais jovens), infecções maternas e primiparidade. Contudo, na maioria das vezes, a causa permanece desconhecida (RAMOS; CUMAN, 2009). Aprematuridade e o baixo peso, por si só são elementos que constituem fatores de risco para o desenvolvimento e desabilidades globais de longa duração, como as paralisias cerebrais, os retardos mentais, as deficiências auditivas e visuais, até alterações específicas de linguagem. A prematuridade vem sendo descrita também como a patologia neonatal com maior associação a 6 seqüelas neurológicas, principalmente pela possibilidade destas crianças apresentam hemorragia Peri - intraventricular (LÓPEZ, et al. 2003). Além disso, no que diz respeito a anormalidades posturais, é característica da prematuridade a combinação de maior tônus extensor, com hipotonia muscular global, o que permite que os recém-nascidos estabilizem seu corpo, fixando-se à superfície. (GARDER, 2006) Essa fixação postural leva ao uso excessivo de certos grupos musculares, enquanto bloqueia a atividade de outros. Desse modo as crianças não possuem contrapeso do tônus flexor para compensar a progressão normal da musculatura extensora acarretando desequilíbrio muscular e consequentemente alterações na postura e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. (LIDDLE; YORK, 2007) Os estudos relacionados ao parto prematuro e sua prevenção são bastante difundidas atualmente com diversos trabalhos publicados a respeito, porém a taxa de prematuridade continua elevada em alguns locais. A incidência de nascimentos prematuros relacionados aos países desenvolvidos é de 5 a 8%, sendo que no Brasil é de 9% (TAVARES; BRITO, 2009). De acordo com Ramos; Cuman (2009), a “prematuridade é um evento adverso que pode ocorrer de forma imprevisível, em qualquer classe social e em todos os lugares”. É uma situação que exige capacidade profissional e equipamentos das estruturas assistenciais que nem sempre estão à disposição. 2.2 Ambiente de Cuidados Intensivos Neonatais O ambiente de uma unidade intensiva neonatal é um local em que técnicas e procedimentos avançados são utilizados, podendo proporcionar aos neonatos condições para reverter alguns distúrbios que colocam em risco a vida dos recém- nascidos prematuros (MOREIRA, BRAGA, 2003). Apesar da importância da UTIN para os neonatos doentes, contraditoriamente, essa unidade que deveria zelar pelo bem-estar da criança em todos os seus aspectos, é por excelência um ambiente nervoso, impessoal e até temeroso para aqueles que não estão adaptados às suas rotinas. Tal ambiente é repleto de luzes fortes e 7 constantes, barulho, mudanças de temperatura, interrupção do ciclo do sono, visto que são necessárias repetidas avaliações e procedimentos, acarretando, muitas vezes, desconforto e dor. (REICHERT et al, 2007, pag 201). A hospitalização numa UTIN proporciona ao recém-nascido uma experiência bastante diferente daquela do ambiente uterino, uma vez que o útero é o local ideal para o crescimento e desenvolvimento fetal, pois possui características distintas, como temperatura agradável e constante, maciez, aconchego, e sem os sons extra- uterinos que são filtrados e diminuídos (REICHERT et al, 2007). Ao ser expulso desse ambiente apropriado antes do tempo, os bebês pré- termos têm que enfrentar desafios constantes, pois além de apresentar características próprias da prematuridade como alteração de tônus muscular, sensibilidade ao toque, reflexos diminuídos, problemas respiratórios devido ao pulmão imaturo e alterações patológicas muitas vezes, eles ainda devem conviver com todas as adversidades providas pela UTIN (SWEENEY et al, 2010). A UTIN é, normalmente, um ambiente repleto de equipamentos e rico em tecnologia. Os RN’s que ali permanecem, convivem com terapias agressivas, dolorosas e estressantes que os avanços tecnológicos provindos dessa assistência proporcionam. Essas técnicas produzem desorganizações comportamentais e fisiológicas que refletem de forma negativa nos cuidados aos neonatos (MOREIRA, BRAGA, 2003) O ambiente da UTIN envolve suporte respiratório, equipamento de monitorização fisiológica, contenção postural ausente fornecido pelo útero e o líquido amniótico, estímulos aversivos e dolorosos devido aos procedimentos necessários, a separação dos pais, os padrões irregulares de movimentação de cuidadores múltiplos, ruídos dos aparelhos, variações térmicas e luzes fortes. Todos esses fatores podem gerar estresse ao bebê pré-termo (LAMEGO et al, 2005). Investigações evidenciaram que neonatos prematuros apresentavam limiar de dor mais baixo quando comparados a neonatos a termo devido à falta de proteção das vias inibitórias espinhais e supra-espinhais. A percepção da dor nestes bebês 8 parece ser diferente devido à mielinização das suas fibras sensitivas e à imaturidade na cortical dos processos sensoriais, o que torna o estímulo doloroso mais duradouro (ANAND et al, 2006). As conseqüências futuras dos efeitos da estimulação dolorosa e estresse sucessivo em bebês tornaram-se um novo foco de estudos nos últimos anos. Um deles confirmou a hipótese de que a exposição repetitiva à dor no período neonatal pode causar alterações permanentes ou de longa duração no sistema nervoso central, devido ao seu desenvolvimento imaturo e à maior plasticidade cerebral, o que aumenta sua vulnerabilidade ao estresse e à dor (BUSKILA et al, 2003). Alterações persistentes no processamento da dor, da função neuroendócrina e desenvolvimento neurológico e psicomotor podem acompanhar a dor e estresse repetitivo precoce, com isso torna-se importante o reconhecimento e a tomada de medidas pelos profissionais de saúde da área para sua prevenção e resolução. (LIDDLE; YORK, 2007) 2.3 Hidroterapia Neonatal A hidroterapia é um recurso que faz a união dos exercícios aquáticos com a terapia física. A palavra hidroterapia deriva das palavras gregas hydor, água e therapeia, cura (BATES; HANSON, 1998). Sua origem pode ser atribuída a Hipócrates que prescreveu os banhos de contraste quente e frio na conduta de uma variedade de processos patológicos e também aos romanos que popularizaram banhos recreativos e curativos com a imersão total do corpo (BIASOLI, 2006). A água é um meio adequado para os exercícios e oferece oportunidades estimulantes para os movimentos. Forças diferentes agem na água. Os efeitos de flutuabilidade, metacentro e das rotações fornecem campo para as técnicas especializadas. A turbulência da água pode ser apreciada de uma forma que não é possível no ar, e o peso da água significa que ela pode ser empurrada e utilizada como resistência com que cada indivíduo pode trabalhar (CAMPION, 2000). 9 Os primeiros estudos com abordagem da terapia aquática com bebês ocorreram nos anos 70. Embora nenhum deles tenha abordado o uso da imersão em água em ambientes de cuidados intensivos para tratamento de tônus, ou mudança de estado comportamental, um deles relatou uma redução do choro e estresse comportamental com o aumento da interação cuidador-bebê com o uso de técnicas de “banhos aconchegados”, técnica esta sem imersão que envolve o bebê em uma toalha molhada e quente e em seguida é lavado no berço segmentadamente da cabeça aos pés mantendo o contato visual com o cuidador (ILES; MCCRARY, 1997; HARRIS, 1978). Posteriormente nos anos 80 pesquisa preconizou a Hidroterapia Neonatal como uma modalidade complementar em programa de intervenção individualizada de desenvolvimento para neonatos de alto risco em cuidados intensivos e semi- intensivos. Ressaltou ainda que esses bebês devam ter autorização médica para a realização dessa terapia com monitorização constante dos sinais vitais, com limites máximos pré-estabelecidos e mudança de coloração. Como resultados obtiveram melhoria do tônus muscular anormal, aumento de respostas de orientação visual e auditiva, melhoria do comportamento alimentar, prevenção de contraturas e aumento da participação dos pais (SWEENEY,1983). Estudos mais recentes nos últimos anos confirmam esses resultados positivos. 2.4 EFEITOS DA HIDROTERAPIA NEONATAL Os efeitos fisiológicos da hidroterapia variam de acordo com a pressão hidrostática, a temperatura da água e da duração da imersão. Sabe-se que as reações fisiológicas podem ser modificadas diante da patologia do paciente. Existem diversos efeitos terapêuticos benéficos da imersão em águas aquecidas, tais como a analgesia, a termorregulação e o relaxamento (BIASOLI, 2006). No sistema termorregulador os efeitos da hidroterapia são a diminuição da sensibilidade da fibra nervosa rápida (tato) e a diminuição da dor por meio da sensibilidade da fibra nervosa lenta. No sistema cardiorrespiratório, tem-se a melhora das trocas gasosas, auxílio do retorno venoso e estabilidade da pressão arterial (BATES, 1998). No sistema nervoso, há a diminuição da sensibilidade dos 10 terminais sensitivos e relaxamento muscular pela diminuição do tônus. No sistema músculo-esquelético, as reações são a manutenção das amplitudes de movimento, a diminuição dos espasmos musculares e das dores e o auxílio no alongamento muscular (DEGANI, 1998). Além disso, a hidroterapia, por ser uma forma clássica de tratamento fisioterapêutico, pode ser utilizada em uma grande quantidade de disfunções. Em neonatologia, os exercícios dentro d’água fornecem ao bebê uma facilitação dos movimentos. O ambiente líquido oferece um pré-estímulo motor, o que possibilitará maior facilidade ao desenvolvimento posterior no solo (MANFROI; MOREIRA, 2008). É considerado pré-requisito básico para a hidroterapia neonatal em bebês sob cuidados intensivos a estabilidade médica sem risco de comprometimento neurológico. Lactentes foram rotulados clinicamente estáveis quando os equipamentos de ventilação e linhas intravenosas foram interrompidos e resolução de instabilidade da temperatura e episódios de bradicardia, taquicardia e apnéia foram demonstrados. Como contra-indicação pode-se citar feridas abertas (SWEENEY 1983). É conhecido que os ciclos de sono e vigília, os ciclos REM e não REM são essenciais para o desenvolvimento, o aprendizado, a memória e a preservação da plasticidade cerebral para a vida do ser humano. A facilitação e a proteção do sono e dos ciclos do sono são essenciais para o aprendizado em longo prazo e para o desenvolvimento cerebral continuo por meio da preservação da plasticidade cerebral (NEDIVE, 1999). Um ensaio clínico não-controlado avaliou os efeitos da fisioterapia aquática na melhora da qualidade de sono e na redução da dor em bebês prematuros estáveis hospitalizados em UTIN. Foram selecionados neonatos clinicamente estáveis que apresentavam anormalidades comportamentais como intolerância ao toque, choro excessivo, sinais de dor de acordo com a escala NFCS e dificuldade de sair da fase de choro e agitação para o sono profundo. Os resultados indicaram que a melhora dos parâmetros fisiológicos dos sinais de dor e da qualidade de sono após a intervenção sugerem que a técnica pode ser benéfica a esses RN’s, contribuindo 11 para a redução dos seus efeitos nocivos sem privá-los da estimulação tátil e cinestésica necessária ao seu neurodesenvolvimento (VIGNOCHI et al, 2010). A HN programada imediatamente antes da alimentação é uma intervenção eficaz capaz de melhorar o desempenho alimentar em prematuros. Estudo retrospectivo registrou aumento de volume de alimentação e diminuição no tempo de ingestão com conseqüente aumento significativo do peso nos bebês pré-termos, o que em curto prazo contribuiu para alta precoce. Aponta ainda que a hidroterapia possa ser considerada como uma preparação para a amamentação (SWEENEY 2003). Durante as primeiras 48 horas de vida, o RN deve eliminar através das fezes uma substância escura de tom esverdeado e viscoso chamado mecônio. Essa eliminação é creditada ao estímulo provocado pela ingestão do colostro (leite materno inicial) em razão do seu alto índice colesterol, ao qual se atribui propriedades laxantes. A retenção do mecônio acarreta uma reabsorção, aumentando o nível de bilirrubina no sangue e causando icterícia neonatal (SILVA; SOUZA;LUCENA, 2002). A terapia aquática foi utilizada numa pesquisa como meio para estimular uma rápida eliminação de mecônio em neonatos a termos. Os resultados detectaram a defecação significantemente mais cedo com eliminação do mecônio, sendo assim concluíram que a HN promove o desenvolvimento do sistema digestivo, pois reforça o peristaltismo, facilitando a evacuação e prevenindo a icterícia (ZHAO et al, 2005). Após longos períodos de internação, bebês pré-termos tendem a apresentar anormalidades posturais como retração escapular devido ao tempo prolongado em prono e supino na incubadora e a hiperextenção cervical como consequência do uso da ventilação assistida (SWEENEY; SWANSON, 1994; MONTEROSSO et al, 2002; VAIVRE-DOURET, 2004). Estudo realizado visando a hidroterapia como recurso terapêutico para minimizar a retração em cintura escapular em recém-nascidos prematuros internados concluiu que os benefícios de prevenção foram evidentes. Destacou ainda a hidroterapia como um recurso útil no tratamento de RN pré-termos mostrando-se prático e de baixo custo (SWEENEY et al, 2010). 12 3 CONCLUSÃO Recém-nascidos pré-termos enfrentam desafios constantes após seu nascimento e graças a Unidades de Terapia Intensivas Neonatais, as chances de sobrevivência e recuperação rápida aumentaram consideravelmente. A hidroterapia tem sido utilizada como uma modalidade terapêutica tradicional por fisioterapeutas especializados em uma ampla variedade de condições médicas. No presente estudo foi constatado que a Hidroterapia Neonatal em cuidados intensivos tem se mostrado benéfica em neonatos prematuros estáveis clinicamente quando feita com técnica elaborada por profissionais competentes e com a autorização e apoio da equipe médica. Como um método abrangente, sem drogas, tratamentos adicionais e de baixo custo, a hidroterapia neonatal é uma da mais natural das atividades para acelerar o crescimento e desenvolvimento dos sistemas digestivo, respiratório, circulatório, esquelético e nervoso em recém-nascidos, contribuindo na diminuição da dor, estresse e irritabilidade, melhora do sono, alimentação, alterações musculares e articulares. Faz-se necessário o desenvolvimento de novas pesquisas para ratificar esses benefícios e propagar essa terapia. 13 THE BENEFITS OF HYDROTHERAPY IN STABLE PRETERM INFANTS HOSPITALIZED IN NEONATAL INTENSIVE CARE UNIT ABSTRACT The newborn (NB) is the pre-term fetus whose intrauterine development was stopped and its organs, immature, will assume duties for which they are unprepared. Babies born prematurely have immature organs or bodily system, but thanks to advances in medicine, is becoming a better chance of survival when admitted to the Neonatal Intensive Care Units (NICU). Hydrotherapy has been used as a therapeutic modality for traditional health care professionals in a wide variety of medical conditions. The Neonatal hydrotherapy (HN) is still relatively new environment in a Neonatal Intensive Care Unit (NICU), but can be a healthy activity and prevention. This type of therapy can be used effectively as a treatment adjunct in therapy of sleep, to improve the stimulus to food and also as a method of reducing pain. Hydrotherapy Neonatal intensive care has proven beneficial in clinically stable neonates with elaborate technique when done by competent professionals and with the approval of the medical team. Keywords: Prematurity, hydrotherapy, neonatal intensive care unit. 14 REFERÊNCIAS ANAND, K.J.S, BHUTTA, A.T, HALL, R.W. Long-term effects of repetitivepain in the neonatal period: neuronal vulnerability, imprinting, and plasticity. In: HODGSON, D; COE, C. Perinatal programming: Early Life Determinants of Adult Health and Disease. 1. ed. London: Taylor & Francis Medical Books, 2006. p. 197- 207. ARRUDA, A. D. et al. Intervenção fisioterapêutica precoce em bebês de risco: o setor de fisioterapia infantil da UFPB à serviço da comunidade. CONGRESSO BRASILEIRO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, n. 1, 2002. Universidade Federal da Paraíba. 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