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Falência e recuperação de empresas
Módulo 1
O decreto 76661/45 era adequada a seu tempo, com influência franco-italiana, punido o devedor desonesto. Após reformas legislativas, a Lei 11101 traz a quebra de paradigma, com influência estadunidense, regida pelo princípio da preservação da empresa. Outras reformas ocorreram até a aprovação da Lei 14112/2020, trazendo questões que já estavam sendo discutidas como a insolvência transnacional. 
Princípios informativos do sistema:
1) Princípio da preservação da empresa: visa manter a empresa viável. O juiz irá fazer um controle de legalidade para deferir ou não a petição inicial. A partir desse momento, o interesse dos credores passa a ser preponderante, pois através da Assembleia, os credores irão aceitar ou rejeitar o plano. 
Uma questão discutida, durante a pandemia, era se a Empresa para pedir Recuperação Judicial precisaria estar aberta, em funcionamento. A Lei trouxe essa flexibilidade, pois houve paralisação das atividades durante a pandemia.
2) Princípio da proteção aos trabalhadores: há dispositivos dando tratamento diferenciado a esse credor, seja na Recuperação Judicial, como na Extrajudicial e na Falência. Por isso, são créditos prioritários.
Existem regras especiais de voto nas assembleias de credores; há necessidade de participação do sindicato nas negociações da Recuperação extrajudicial; é um crédito com privilégio na falência até 150 salários mínimos; há prioridade de pagamento para salários atrasados, até 5 salários mínimos, sendo crédito extraconcursal; e parcelamento não superior a 1 ano, podendo ser estendido por mais 2 anos, mediante garantia e pagamento integral.
Na recuperação judicial, o credor vai receber conforme o plano do devedor. O único credor que o devedor precisa atentar para alguma regra, é o credor trabalhista, todos os demais, o devedor sugere como quer pagar. 
O art. 83 que trata da gradação de créditos refere-se à falência. Na recuperação judicial, essa organização de pagamento é de escolha do devedor, e os credores irão ou não aprovar o plano para pagamento no formato escolhido. 
3) Princípio da maximização dos ativos: destacam-se algumas regras, como a continuidade provisória na sentença de quebra; apresentação do plano de venda dos bens em até 60 dias da quebra; e, a alienação imediata dos bens após a arrecadação, em até 180 dias da quebra.
Na recuperação e na falência, conforme já consolidado pelo STF, a alienação dos bens ocorre sem sucessão obrigacional.
Contagem dos prazos processuais:
O STF acabou consolidando que a contagem era em dias corridos, aplicando a regra do Código de Processo Civil, sendo, posteriormente, fixado em lei. 
Falência: sempre judicial, atrai todos os credores para esse procedimento e quem passa a administrar a massa falida é o Administrador Judicial (A.J.).
Nas demais recuperações judiciais, a regra é que não haja afastamento do administrador nomeado pelos sócios. Mas na recuperação judicial isso é possível. 
A recuperação judicial abrange todos os credores, exceto o tributário e alguns credores de propriedade resolúvel. Na recuperação extrajudicial há regra similar, mas o trabalhista exige uma negociação coletiva. 
Atividades totalmente excluídas do direito falimentar: pessoas jurídicas de direito público; associações, partidos políticos, entidades religiosas e fundações; sociedade de economia mista e empresa pública (há discussão no STF); operadora de previdência complementar fechada e câmaras ou prestadores de serviços de compensação e liquidação financeira; profissionais intelectuais, sociedades simples, sociedades de advogados, cooperativas (salvo a de crédito) e ruralistas não registrados na Junta Comercial.
No ordenamento jurídico brasileiro, o devedor estará nos efeitos da Lei 11101 se ele for empresário. Não sendo empresário e tendo atividade de natureza privada, sofrerá insolvência civil. 
Atividades parcialmente excluídas do direito falimentar: operadoras de plano de saúde, que sofrem liquidação extrajudicial promovida pela ANS; seguradoras e equiparadas, que sofrem intervenção ou liquidação extrajudicial promovida pela SUSEP; instituições financeiras e equiparadas, que sofrem intervenção ou liquidação extrajudicial promovida pelo BACEN, que também pode optar pelo Regime de Administração Especial Temporária. 
Essas atividades precisam de autorização da agência reguladora respectiva para que possam ser exercidas. 
Legitimidade passiva: microempreendedor individual (MEI); sociedade empresária (inclusive a irregular); empresário individual; sociedade limitada unipessoal e produtor rural. 
a) Legitimidade do ruralista para recuperação judicial:
Há previsão expressa no art. 48, §§2º a 5º introduzido pela Lei 14112/20. Sujeitam-se os créditos que decorram exclusivamente da atividade rural e estejam discriminados na documentação fiscal apontada na legislação.
Não estão sujeitos à recuperação fiscal os financiamentos rurais bancários da Lei n 4829/65, que não forem renegociados e as dívidas contraídas nos últimos três anos anteriores ao pedido de recuperação judicial para aquisição de propriedade rural, bem como respectivas garantias.
b) Legitimidade da cooperativa de plano de saúde: 
Os entendimentos vinham se consolidando pela não legitimidade. Entretanto, com a pandemia, houve processamentos e deferimentos de recuperação judicial de cooperativas de plano de saúde. 
Duas questões precisam ser abordadas: a cooperativa possui natureza civil, natureza de sociedade simples, ficando fora do regime empresarial. A segunda questão é que se trata de atividade regulada e quando esse procedimento vai para o judiciário, tira a competência da ANS de tentativa de insolvência dessa atividade. 
Com a Lei 14112, criou-se um imbróglio, o art. 6 trata de regras processuais e o §6º é expresso no sentido de que os contratos e obrigações decorrentes dos atos cooperativos praticados pelas sociedades cooperativas com seus cooperados, estão fora da recuperação. A pergunta que se faz é se essa pessoa jurídica passou a ter direito a recuperação judicial? Não há consolidação do tema ainda. 
c) Legitimidade da associação: 
Sociedade sem fins lucrativos. Há o caso emblemático da Faculdade Cândido Mendes que solicitou recuperação judicial e foi deferimento. E o entendimento jurisprudencial tem caminhado no sentido de que é possível, desde que exista alguma lucratividade, assim, por esse critério, a Igreja não estaria contemplada, mas uma escola sim. 
Competência
Prevê a Lei 11101 que a competência para homologação do plano de recuperação extrajudicial, deferimento da recuperação judicial ou decretação da falência é do juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial da empresa, que tenha sede fora do Brasil.
A posição do STJ é no sentido de que é o local onde há o maior volume de negócios, independentemente da sede; ou no local onde está a direção administrativa.
Regra: falência e recuperação judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça Estadual. Havendo exceções no que tange à insolvência transnacional (art. 167-A). 
Insolvência Transnacional
A Lei 14112/20 incluiu o art. 167-A, que disciplina o tema. Possui como objetivo proporcionar mecanismos efetivos para cooperação entre juízes, aumento da segurança jurídica, administração justa e eficiente de insolvência transnacional, etc. 
Princípios da insolvência transnacional:
a) Maximização dos ativos;
b) Segurança jurídica da empresa e do investimento;
c) Cooperação entre juízes e outras autoridades competentes;
d) Proteção de investimentos e preservação de empregos da recuperanda;
e) Administração justa e eficiente em favor de todos os credores e interessados;
f) Venda dos ativos da empresa, priorizando a preservação e otimização da unidade produtiva.
Como a ordem é cumprida no Brasil? Requerimento de reconhecimento ao juízo que teria competência para o procedimento no Brasil. Este, instaura um procedimento aqui para validar a decisão e cumpri-la em território nacional. 
Pode ocorrer de ter duas recuperações judiciais em paísesdiferentes, havendo cooperação e comunicação entre esses juízos. 
Principais peculiaridades
a) Representante estrangeiro: pessoa ou órgão autorizado no processo estrangeiro para administrar bens ou atividades do devedor, atuando como seu representante.
b) A distribuição do pedido de reconhecimento do processo estrangeiro previne a jurisdição para qualquer pedido de recuperação ou de falência. O inverso também é válido. 
Órgãos da Lei 11101/05: Juiz, Ministério Público, Administrador Judicial, Comitê de credores, Assembleia-geral de credores, Gestor Judicial (apenas na Recuperação Judicial) e Falido (apenas na falência).
A Assembleia poderá ser realizada por meio virtual ou outro mecanismo seguro, podendo ser substituída por termo, desde que observado o quórum. Nas modalidades alternativas de deliberação, o Administrador Judicial emitirá parecer prévio. Há previsão da possibilidade de declaração de nulidade do voto abusivo, se manifestamente exercido para obter vantagem ilícita para si ou para outrem. Há a obrigatoriedade do credor de comunicar cessão ou promessa de cessão do crédito habilitado na Recuperação Judicial. 
Uma regra basilar na Lei 11101 é que o procedimento de apresentação do crédito sujeita a recuperanda ou a falida. E, do edital de deferimento ou de quebra, a depender se recuperação ou falência, começa a contar prazo de 15 dias corridos para que o credor faça habilitação de crédito ou divergências, que será direcionada ao Administrador Judicial. A partir de então, abre-se o prazo de 45 dias para análise. Cria-se uma segunda lista e até aqui é irrecorrível, pois está no âmbito extrajudicial. 
Caso entenda que foi listado errado, abre-se o prazo de 10 dias para impugnações, que podem ser apresentadas pelo devedor, credor, Ministério Público, Comitê, falido ou seus sócios. Será direcionada ao juiz, tendo natureza cognitiva, com dilação probatória. Será produzida sentença, da qual caberá agravo. 
A habilitação de crédito pode ser retardatária, trazendo a lei consequências para a perda do prazo. Seguirá o rito da impugnação.
Com o julgamento de todos os incidentes, junta-se tudo e volta para o processo principal, criando-se um quadro geral de credores, a qual é uma lista definitiva, que gera uma decisão interlocutória. Aqui, o credor que perdeu todos os prazos, precisará fazer ação de conhecimento por dependência para solicitar alteração do quadro. A lei também traz uma rescisória falimentar, havendo inserção fraudulenta de algum crédito, será proposta tal ação. 
A partir disso, tratando-se de falência, começa o pagamento dos credores. Sendo recuperação judicial, pagamento de credores ocorrerá de acordo com o plano aprovado.
Regras para o credor a partir da Lei 14112/2020:
- Prazo decadencial de três anos para reserva ou habilitação do crédito na falência;
- habilitação de ofício para as fazendas públicas na falência;
- cabimento de impugnações retardatárias (art. 10, §7º);
- cabimento de rateio antes da homologação do quadro geral de credores, desde que observado o artigo. 16;
- ações incidentais de habilitação e impugnação retardatárias serão distribuídas ao juízo da recuperação judicial como ações autônomas e observado o rito comum, se a recuperação judicial for encerrada sem o quadro geral de credores.

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