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Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 1 2024.1 TEORIAS E SISTEMA UNIDADE II/III- CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Itala Daniela da Silva OLÁ! Você está na unidade Construção do espaço psicológico: teorias e escolas. Conheça aqui as primeiras teorias e escolas da ciência psicológica, compreendendo as influências da ciência, filosofia e de outras áreas do conhecimento na constituição da psicologia. Aprenda sobre abordagens nomotéticas e idiográficas. Conheça a constituição da psicologia enquanto ciência e as principais escolas e matrizes do pensamento psicológico. Compreenda também esse campo do saber como espaço de dispersão e os pontos de intersecção entre as teorias. Bons estudos! 1 Abordagens nomotéticas e idiográficas A história da filosofia exerceu influências na constituição do projeto científico. A partir do século XVI, iniciou-se uma necessária cisão entre esses dois campos dos saberes. Com isso, não estamos dizendo que eles ainda não continuam se influenciando reciprocamente. No entanto, ambos têm objetivos distintos: enquanto a filosofia busca discutir e conhecer a verdade por meio de discussões ontológicas (o ramo da filosofia que estuda a natureza do ser, da existência e da própria realidade) e ônticas (existência física, real e factual), a ciência busca construir métodos específicos para se chegar ao conhecimento verdadeiro (GIL, 2012). Essa cisão entre filosofia e ciência foi ocorrendo gradativamente e o seu apogeu foi estabelecido no século XIX (RESENDE-JUNIOR, 2015). Após a idade média, buscaram-se, a todo custo, formas de se conhecer a verdade. A procura pelo método foi a principal questão que permeou as discussões da época, e constituiu o solo para a construção dos projetos científicos (COTRIM; FERNANDES, 2016). Francis Bacon, René Descartes e Augusto Comte são nomes importantes na fundamentação de métodos. Cada qual ao seu modo e a partir das suas perspectivas, esses pensadores indicaram como se constituíam as verdades e o modo com que se atingiria o conhecimento verdadeiro. É importante destacar que a revolução científica do século XVI foi pautada nas ciências naturais. Os métodos construídos nesse período objetivavam, sobretudo, encontrar verdades rígidas, eternas e imutáveis. A busca por verdades absolutas norteava as investigações metodológicas. Para Descartes, o homem era considerado como uma máquina pensante que buscava encontrar verdades absolutas (LAWN, 2006). Comte, com o seu positivismo, defendia que: “o conhecimento científico, tanto da natureza quanto da sociedade, é objetivo, não podendo ser influenciado de forma alguma pelo pesquisador” (GIL, 2012). A ciência nasceu atrelada a essa promessa de neutralidade, objetividade, mensuração, controle, previsibilidade, estabelecida a partir de relações causais (causa-efeito). Essa fixação por encontrar o método baseando-se nesses critérios fez com que o projeto científico se fechasse para buscar formas alternativas de abordar a verdade (LAWN, 2006). Lawn (2006, p. 52), ao falar sobre o projeto científico da modernidade, indica que “a modernidade confiou, sem crítica alguma, no poder do método para estabelecer verdades autocertificadas”. Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 2 2024.1 No entanto, esse projeto científico deparou-se, posteriormente, com estudiosos que colocaram em xeque esse modelo cientificista. Um dos expoentes foi Wilhelm Dilthey. Para Dilthey, o conhecimento era composto por duas áreas distintas: ciências naturais e ciências humanas. Essa distinção é importante para que se compreenda o objetivo de cada área, bem como para que se construam metodologias específicas (LAWN, 2006). __________________________________________________________________________________ FIQUE DE OLHO!! Dilthey, além de ser filósofo, era psicólogo, historiador e sociólogo. Suas discussões sobre ciências naturais e humanas nasceram atreladas à filosofia e se ampliaram para as outras áreas do conhecimento. Isso foi importante para que as ciências humanas pudessem pensar metodologias distintas das metodologias de cunho naturalista. __________________________________________________________________________________ Enquanto no positivismo, Comte (GIL, 2012) defendia que os fatores humanos se assemelhavam aos da natureza e, portanto, poderiam ser generalizáveis e construídos de forma neutra. Dilthey (LAWN, 2006, p. 75) foi categórico ao defender que “o problema com qualquer estudo da vida humana é que sempre somos parte daquilo que estamos procurando entender”. Nesse sentido, além de não ser possível estabelecer axiomas neutros, o conhecimento sempre será circunscrito em um horizonte histórico e, portanto, não é generalizável. Estudar o humano sempre será uma tentativa de entender as experiências históricas vividas por ele (LAWN, 2006, p. 76). Conforme Gil (2012, p. 5): Os fatos sociais dificilmente podem ser tratados como coisas, pois são produzidos por seres que sentem, pensam agem e reagem, sendo capazes, portanto, de orientar a situação de diferentes maneiras. Da mesma forma o pesquisador, pois ele é também um ator que sente, age e exerce sua influência sobre o que pesquisa. Nesse sentido, as ciências humanas e sociais, além de considerarem a relação do pesquisador com o objeto investigado, entendem a construção do conhecimento como um constructo sempre aberto, mutável e que comporta indeterminações e evita as generalizações (GIL, 2012; LAWN, 2006). VÍDEO 1 Considerar essas mudanças paradigmáticas é necessário para que se possa entender como essas novas lógicas influenciam a construção de perspectivas metodológica para pesquisas e para práticas profissionais, já que as lógicas de funcionamento e as concepções de homem e de mundo se Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 3 2024.1 retroalimentam. Ou seja, as teorias sobre ciência tanto influenciarão os modos de construção de conhecimento como os formatos das práticas profissionais. É exatamente essa retroalimentação que vemos quando falamos sobre as abordagens nomotéticas (formula ou trata de leis gerais para o entendimento de um determinado evento, circunstância ou objeto) e idiográficas (considera os fatos individualmente, analisando as características particulares e individuais). Foram conceitos que nasceram atrelados a metodologias científicas, mas que ressoam na construção das práticas psicológicas. Gordon Allport, pai da teoria da personalidade, trouxe para o âmbito da psicologia a discussão sobre essas duas metodologias. Em suas análises, ele ressalta que ambos os horizontes metodológicos podem ser adotados pelos profissionais. Apesar de compreender a disponibilidade dos dois métodos, o psicólogo teceu contundentes críticas à psicologia norteamericana, que preferiu, esmagadoramente, as abordagens de cunho nomotético (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2008). Para Allport, “só conhecendo a pessoa como pessoa é que poderemos predizer o que ela fará em qualquer situação dada” (apud HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2008, p. 239) Importa destacar que essas nomenclaturas foram substituídas por Allport e que ele preferia o uso dos termos morfogênico ao invés de idiográfico, e dimensional ao invés de nomotético. Para Allport, conforme resumem Hall, Lindzey e Campbell (2008, p. 239) Essa ênfase na abordagem morfogênica é uma consequência lógica de vários aspectos da disposição teórica de Allport. Em primeiro lugar, sua ênfase na singularidade de cada pessoa obriga os investigadores a selecionar métodos de estudo que não escondam nem embacem sua individualidade.Em segundo lugar, e estreitamente relacionada, está a ênfase da importância das disposições pessoais (traços individuais) como os determinantes primários do comportamento. se essas disposições são as unidades “reais” da personalidade, e se são características apenas de uma única pessoa, então certamente a abordagem mais efetiva ao estudo do comportamento será um método que estude o indivíduo. Mas como se configuram as abordagens nomotéticas e idiográficas enquanto horizontes teóricos? Vejamos. 1.1 Abordagens nomotéticas Antes de iniciar os delineamentos sobre as abordagens nomotéticas, vamos compreender qual a perspectiva científica que subjaz essa metodologia para posteriormente discutirmos como ela reverbera nas perspectivas psicológicas. Iniciemos pela definição do termo. O dicionário da língua portuguesa Houaiss (2009, p. 1361) define que nomotético é “relativo à elaboração de leis; legislativo. Diz-se de método ou disciplina que formula ou trata de leis gerais para o entendimento de um determinado evento, circunstância ou objeto. ” Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 4 2024.1 Figura 1 - As engrenagens do cérebro Fonte: Andrey_Kuzmin, Shutterstock, 2020 A imagem mostra um fundo amadeirado com imagem de uma cabeça humana com engrenagens de máquina no interior. Com essa definição conceitual, já temos um direcionamento sobre o horizonte geral da abordagem e da metodologia: ela busca estabelecer princípios e leis gerais. Apesar da perspectiva nomotética fazer parte do rol das ciências sociais, ela está mais entrelaçada com os princípios das ciências naturais. Está vinculada àquelas metodologias que buscavam estabelecer as verdades fixas e imutáveis aos processos de conhecimento. Segundo Nascimento et al. (2017, p. 25): A abordagem Nomotética, busca a aquisição do conhecimento de forma muito próxima do modelo das Ciências Naturais, isto é, amostragem cuidadosa, medidas precisas, bom design e análise de hipóteses apoiadas em teorias, pautada nas técnicas quantitativas para o estabelecimento de conexões causais e utilizando como instrumento para coleta de dados, entre outros exemplos, bases de dados e questionários padronizados. Essa perspectiva teórica ressoa no campo psicológico ao convocar os profissionais da área a lidarem com o esse campo do saber como uma ciência natural (FIGUEIREDO, 2014). Suas indicações são de que o pesquisador ou psicólogo/a busque a ordem natural dos fenômenos psíquicos. Assim, a psique e os comportamentos são classificados numa perspectiva preditiva (NASCIMENTO et al., 2014). Nesse modelo cientificista, existem três etapas fundamentais: construção das hipóteses, dedução exata das hipóteses e a mensuração que corresponde ao teste da hipótese (NASCIMENTO et al., 2014). Conforme resume Luís Cláudio Figueiredo (2014, p. 43): A emergência da “metodologia científica” corresponde exatamente a um estágio em que a autorreflexão das práticas produtivas já permite que a estrutura do trabalho seja posta a serviço da produção e validação de conhecimento. As ideias de caráter preditivo chamar-se-ão hipóteses, e suas origens serão atribuídas a processos denominados indução, abdução ou invenção; as práticas produtivas serão os procedimentos de observação controlada e, em especial, os procedimentos experimentais de teste; o resultado obtido será confrontado com o resultado esperado - que, na avenida do possível, deve ser rigorosamente deduzido das hipóteses iniciais; a finalidade deste processo é a de, com base nesse confronto, aceitar ou refutar as hipóteses. Esse alinhamento da psicologia com as noções cientificistas e as predições nomotéticas se deu devido ao aguçado desejo de, no século XIX, fazer da psicologia uma ciência autônoma. No entanto, Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 5 2024.1 um dos maiores desafios da psicologia foi justamente estabelecer um objeto mensurável e passível de quantificação e controle. Só a definição desse objeto de caráter matemático poderia oferecer as condições para que o objeto da ciência psicológica pudesse ser submetido ao caráter experimental. Na história da constituição da psicologia, podemos identificar que, desde o século XVIII, ou seja, no século anterior ao do nascimento da psicologia científica, já havia projetos psicométricos. Com a psicometria, Christian Wolff buscou mensurar “os graus de satisfação (prazer e desprazer), perfeição e imperfeição, certeza e incerteza” (FIGUEIREDO, 2014 p. 48-49). VÍDEO 2 No século XIX, foi a vez da psicofísica de Weber, Fechner e Helmholtz mensurar as sensações. Conforme Gauer (2007, p. 2): A psicofísica foi o ramo de pesquisa que, embora não tenha durado até o século 20, produziu alguns achados e métodos que ainda hoje são válidos, sobretudo ao campo da senso-percepção. Porém, o mais importante é que a psicofísica encaminhou desenvolvimento de uma abordagem experimental que proferiu a psicologia ao status de ciência autônoma, pronta para ocupar Laboratórios e Departamentos Universitários. Essas investigações que correlacionavam a física com a psicologia se estenderam e foram aderidas por outros estudiosos. Ainda no século XIX, o fisiólogo e psicólogo Wilhelm Wundt fundou o laboratório experimental na Universidade de Leipzing na Alemanha (GAUER, 2007). O professor, além de estabelecer a aproximação entre a pesquisa e a psicologia experimental, teve suas discussões centradas na duração dos fenômenos psíquicos. Um dos seus experimentos estudou o fenômeno da atenção, buscando compreender o tempo entre o estímulo visual e auditivo (FIGUEIREDO, 2014). Outros psicólogos fundamentaram suas práticas experimentais na perspectiva nomotética. H. Ebbinghaus buscou quantificar a memória associativa. Thorndike, fundador do associacionismo que construiu gráficos cartesianos do processo de aprendizagem e outros (FIGUEIREDO, 2014). Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 6 2024.1 Além da psicologia experimental, a abordagem nomotética influenciou o desenvolvimento da psicometria, iniciada por Wolff mas retomada nos séculos XIX e XX. Segundo Figueiredo (2014, p. 55): Ao lado da psicologia experimental desenvolveu-se no final do século XIX um poderoso movimento de psicometria dedicada ao estudo das diferenças individuais, como: função da progenitura, da raça, do sexo e das variáveis ambientais. Neste movimento avultam as figuras do inglês Francis Galton (1822 – 1911), do americano J. McKeen Cattel e do francês A. Binet (1857 – 1911). Com frequência esta psicologia das diferenças individuais - ou psicologia diferencial - estava claramente empenhada em tarefas práticas no âmbito da escola, da indústria e da burocracia civil e militar, classificando em situando os sujeitos instalas numéricas de acordo com medidas de inteligência geral , capacidades cognitivas específicas, velocidade de aprendizagem e desempenho de diferentes tipos de tarefa. Esta ordenação dos indivíduos era a base da seleção de pessoal, da formação das classes escolares, da assignação dos sujeitos para a tarefa que mais lhe convinha etc. Essas práticas tinham como objetivo mensurar quantitativamente e, portanto, matematicamente os traços psicológicos e o comportamento. A análise fatorial da personalidade é um dos produtos dessa perspectiva que criou técnicas matemáticas para quantificar a psicologia e os objetos que ela estuda. 1.2 Abordagens idiográficas Enquanto as abordagens nomotéticas têm uma característica quantificadora e buscam estabelecer leis gerais e princípios, a idiográfica trata os fatos considerando-os de formas individuaise compreensivas. Esta, além de ser a definição teórica e metodológica é, também, o significado apresentado pelo dicionário da língua portuguesa Houaiss. A imagem mostra um fundo laranja com dois contornos de cabeças humanas na cor branca. As cabeças se conectam por um novelo que está bagunçado na cabeça da esquerda e se organizando na da direita. A divisão entre abordagens idiográficas e nomotéticas dentro das ciências sociais foi proposta por Windelband, conforme indica Nascimento et al. (2017). Sobre abordagens idiográficas, Nascimento et al. (2017, p. 25) diz: A abordagem Ideográfica baseia-se no pressuposto de que a compreensão do mundo social ocorre através da investigação em primeira mão, ou seja, é necessário estabelecer uma relação próxima e pessoal com o sujeito, com forte ênfase na vivência e na análise subjetiva, dada à necessidade de conhecer profundamente o Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 7 2024.1 fenômeno de estudo. Nesse aspecto, é necessário envolver-se no fluxo da vida cotidiana para a realização da análise detalhada dos insights obtidos em tais encontros com o sujeito ou fenômeno em análise. A abordagem Ideográfica está interessada no conhecimento do particular, como condição necessária à práxis, ou seja, a forma de agir adequadamente em uma variedade de situações particulares. O exercício de observação dos objetos externos dota o pesquisador pautado na abordagem Ideográfica de uma atitude espiritual completamente distinta da empregada na abordagem Nomotética. Na abordagem Ideográfica, o emprego das matemáticas deve ter uma função subordinada na compreensão profunda da sociedade, sendo seu principal objetivo descrever e realizar análises comparativas, que na perspectiva Nomotética, dá lugar à indução, ao experimento e a matematização. Esse horizonte de compreensão histórica foi influenciado pelo pensamento do filósofo Dilthey quando propôs a cisão entre as ciências naturais e humanas. O interesse pelo particular, pela compreensão individual, ressoou nas práticas psicológicas. Se algumas áreas da psicologia se dedicam às leis gerais do comportamento, outras se voltam para o singular, o histórico, o horizonte existencial. A clínica é uma das áreas em que o movimento idiográfico fica mais evidente – mas não podemos restringir esse modo de compreensão apenas a uma área da psicologia. Na verdade, uma escuta idiográfica parte mais do modo de escuta do profissional do que necessariamente do arcabouço explicativo do instrumento utilizado por ele. Há psicólogos e psicólogas que fazem uso das noções idiográficas, inclusive no âmbito da psicometria. Apesar da psicometria e dos testes psicológicos terem um caráter generalizante, pois a normatização deles parte desse pressuposto, o olhar singular é importante na prática profissional. Conforme Tavares (2003), muitos testes psicológicos também podem ser compreendidos de forma idiográfica e não apenas nomotética. Vejamos: Alguns instrumentos são facilmente aplicados em uma abordagem nomotética, como o MMPI. Por outro lado, este pode ser avaliado idiograficamente quando comparamos as respostas do sujeito a itens críticos com outras informações, por exemplo, avaliando suas respostas a itens cujo conteúdo sugere risco de suicídio com a prancha 3 (a crise) do TAT. O Rorschach facilmente permite a utilização simultânea das abordagens nomotéticas e idiográficas. O WAIS permite os dois tratamentos. Este é tradicionalmente conhecido como instrumento de avaliação nomotética da inteligência. Contudo, ele pode ser entendido como muito mais do que isso (TAVARES, 2003, p. 131). Assim, podemos compreender que o olhar para os fenômenos psíquicos e para o comportamento dependerá da postura epistemológica do profissional. É claro que muitas práticas estão eminentemente vinculadas a noções mais naturalistas ou mais humanas, mas isso não impede que o profissional articule suas análises de modo não generalizante. Essa postura também foi exortada pelo psicólogo Gordon Allport, como apontam Hall, Lindzey e Campbell (2008, p. 240): Podemos dizer que Allport, consistentemente com sua posição teórica, exortou os psicólogos a dedicar mais tempo e energia do que costumavam ao estudo do caso individual. Allport enfatizou que a maior obrigação de um pesquisador psicológico é levar seus insigts independente de como foram derivados, “de volta ao individual”. Essa ênfase foi tão bem aceita pelos psicólogos contemporâneos que aquela que fora outrora uma posição desviante é hoje amplamente aceita. Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 8 2024.1 Essa exortação de Allport pode ser considerada atual, na medida em que a psicologia é convidada a compreender o geral e o específico. Esse diálogo entre as perspectivas nomotéticas e idiográficas dá percepções ampliadas sobre o comportamento humano e, portanto, favorece a construção de práticas psicológicas holísticas. 2 Escolas da psicologia A psicologia foi se constituindo como espaço científico e as perspectivas teóricas e os vieses metodológicos foram sendo construídos influenciados tanto pelo espírito cientificista da época quanto a partir das demandas socioeconômicas. Para Figueiredo e Santi (2007), as noções de subjetividade foram se consolidando; o sistema de mercantilização, a ideologia liberal, iluminista, os regimes disciplinares, ofereceram o bojo para que as teorias fossem se consolidado e encontrando abertura e ressonância nas instituições sociais. Conforme indica Figueiredo (2014, p. 58): O surgimento da psicologia como ciência natural não está associado apenas à expansão da economia mercantil e ao aprofundamento dos seus reflexos na vida social. Está associado também às crises desta economia que exigiram novas técnicas de controle social, uma intervenção mais ativa do estado e legitima ações para essas formas renovadas de exercício de poder. Com essas indicações, assinalamos que as escolas psicológicas nasceram vinculadas tanto a noções científicas e filosóficas quanto respondendo a demandas das instituições sociais que exerciam, de algum modo, poder. A seguir, serão apresentadas algumas escolas da psicologia, como funcionalismo, estruturalismo e associacionismo. 2.1 Constituição da psicologia enquanto ciência Como vimos, as noções sobre psique e comportamento humano nasceram pulverizados na filosofia e foram retomados na constituição da ciência moderna. Todavia, os estudiosos queriam consolidar esse campo de saber de forma independente. O nascimento da Psicologia independente esteve mais atrelado às abordagens nomotéticas. Encontrar um objeto de estudo passível de mensuração e quantificação foi um grande desafio. Apesar de filósofos, como Kant, por exemplo, defenderem que a psicologia não poderia ter os mesmos parâmetros das ciências da natureza, os primeiros psicólogos produziram suas discussões quantificando o comportamento, os prazeres e a aprendizagem (FIGUEIREDO, 2014). No entanto, a consolidação da psicologia científica se deu atrelada à história da psicologia experimental. No século XIX, com a Reforma da Universitária promulgada pelo Ministro da Educação da Prússia, o Ensino Superior passou a ser considerado na associação direta com a pesquisa. Nesse sentido, os departamentos de ensino e os laboratórios passaram a estabelecer relação de complementariedade. Essas novas indicações favoreceram que Wilhelm Wundt estabelecesse o primeiro laboratório de Psicologia Experimental na Universidade de Leipzing no ano de 1879. Por esse motivo, o filósofo, psicólogo e professor que realizava experimentos sistemáticos em Psicologia é ainda hoje considerado o “Pai da Psicologia” (GAUER, 2007). Conforme Figueiredoe Santi (2007, p. 58): Para Wundt a psicologia é uma ciência intermediária entre as ciências da natureza e as ciências da Cultura. Sua obra se estende da psicologia experimental fisiológica à psicologia social. Ou seja, Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 9 2024.1 desde seu início o lugar a psicologia entre as ciências é um tanto incerto, em um dos méritos de Wundt foi o de conceber a psicologia nessa posição intermediária. O laboratório, os escritos e estudos sistematizados deram espaço para a que a ciência psicológica pudesse consolidar o seu campo de saber e iniciar sua história de forma “independente”. 2.2 Primeiras escolas psicológicas Apesar do primeiro laboratório ter sido fundado na Alemanha, foi nos Estados Unidos que a Psicologia pôde ver a instituição de suas primeiras escolas nascerem. O rápido crescimento da Psicologia em cenário estadunidense dar-se-á pelo fato dos grandes avanços vividos e pela consolidação do capitalismo nesse país (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). O estruturalismo, o funcionalismo e o associacionismo foram as primeiras escolas que “deram origem às inúmeras teorias que existem atualmente” na psicologia (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 41). __________________________________________________________________________________ Muitas escolas contemporâneas da psicologia sofrem algumas ressonâncias das primeiras escolas. É importante destacar que, neste momento, você está estudando apenas as primeiras escolas. Em outra unidade, serão apresentadas as escolas contemporâneas presentes até hoje na psicologia. __________________________________________________________________________________ Acompanhe definições sobre as primeiras escolas psicológicas. Estruturalismo Seguidor e aluno de Wundt, Titchener foi um dos responsáveis por expandir os cenários geopolíticos da psicologia. Retirou-a dos recônditos alemães e a estendeu para o solo estadunidense. Seu objetivo era estudar o conteúdo da mente e a estrutura da consciência. Para ele, a psicologia deveria estar submetida às metodologias da ciência da natureza, visto que ambas a observação e a experimentação seriam também o método psicológico (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). No entanto, a experimentação e observação propostas por Titchener para investigar a estrutura da consciência seriam voltadas para uma autoconsciência, e não para uma observação externa do mundo. Como indica Figueiredo (2007, p. 62): "A única diferença seria a de que na psicologia observação se daria sob a forma de auto-observação ou introspecção, bem em que os sujeitos experimentais seriam treinados para observar atentamente e descrever com total objetividade suas experiências subjetivas em situações controladas de laboratório." Sendo a base metodológica da psicologia a mesma das ciências naturais, o que caracterizaria a independência e a importância da Psicologia? A reposta dada pelo psicólogo é apresentada por Schultz e Schultz (2009, p. 111), vejamos: "De acordo com Titchener, o objeto de estudo da psicologia é experiência consciente como dependente do indivíduo que a vivencia. Esse tipo de experiência difere da estudada por cientistas de outras áreas. Por exemplo, tanto a física como a psicologia podem estudar a luz e o som. Enquanto os físicos examinam os fenômenos do ponto de vista dos processos físicos envolvidos, os psicólogos analisam a luz e o som com base na experiência e na observação humanas desses fenômenos." Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 10 2024.1 Nesse sentido, a peculiaridade, importância e distinção da psicologia, segundo o autor, advém da experiência pessoal, coisa de que as outras ciências não dependem e nem avaliam. A partir da auto- observação dos sujeitos experimentais, poder-se-á oferecer à psicologia a singularidade no olhar e na análise dos elementos da consciência, já que a as constatações estarão eminentemente vinculadas à experiência do sujeito experimental. Funcionalismo Contrapondo-se ao estruturalismo, o funcionalismo não nasceu com o objetivo de ser necessariamente uma escola da psicologia, mas apenas para apresentar um horizonte distinto sobre a consciência (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Todavia, com o passar do tempo, percebeu-se que a consolidação dessa escola se deu exatamente devido ao contraponto que fazia com o estruturalismo. William James é tido como o precursor do pensamento funcionalista. Contudo, sua figura também é tida como controvérsia no cenário da psicologia. Há quem defenda que ele foi uma das figuras mais importantes da psicologia do seu tempo. Entretanto, há quem o acuse de não contribuir com a psicologia experimental, já que ele tinha notório interesse por outras áreas do conhecimento contrapostas à ciência da psique, tais como: telepatia, espiritismo, misticismos e outros (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Para Schultz e Schultz (2009, p. 156): "James não fundou a psicologia funcional, mas apresentou de forma clara e eficaz as suas ideias dentro da atmosfera funcionalista impregnada na psicologia americana. Dessa forma, influenciou o movimento funcionalista, inspirando as gerações posteriores de psicólogos." A geração de funcionalistas construiu diversas questões sobre a consciência e, apesar de alguns pontos serem distintos entre eles, todos corroboravam com uma investigação da consciência que deveria ser em torno da função dela e da sua relação com o meio. O modo de adaptação do ser humano ao meio foi influenciado pelo Darwinismo (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Os funcionalistas se interessavam em saber responder “o quê” e “por quê” os homens fazem determinadas coisas (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Com o passar dos anos, o estudo das funções da consciência foi ganhando espaço nos Estados Unidos e se consolidando, visto que essa perspectiva possibilitava uma aplicação direta a questões práticas do cotidiano e da adaptação do homem ao meio ambiente. Metodologicamente, os funcionalistas não excluem a auto-observação defendida pelo estruturalismo, mas sugerem cautela pois, para eles, não há garantia de que a auto-observação tenha sido bem feita. Quanto à introspecção de Wundt, eles se opõem radicalmente. Associacionismo Associar! Essa é a primeira ideia que vem à cabeça quando lemos ou ouvimos a palavra associacionismo. E é a isso que essa perspectiva está vinculada: ao estudo de como a associação de ideias constitui a aprendizagem. Thorndike é o principal representante dessa escola, isso porque foi o estudioso que cunhou a primeira teoria da aprendizagem. Essa teoria consiste na concepção de que as pessoas aprendem associando das ideias mais simples até chegar as mais complexas (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Ainda estudando sobre aprendizagem, primeiramente com animais e depois com humanos, Thorndike constatou que as respostas que ocorrem após uma ação podem ser facilitadoras do Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 11 2024.1 processo. Esse processo de resposta após uma ação, o psicólogo chamou de lei do efeito (FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015). Sobre a lei do efeito, ele assegurou: "A lei do efeito tinha duas partes. A primeira afirmava que as respostas a estímulos que são seguidas imediatamente por um gratificador tendem a ser fortalecidas; a segunda defendia que as respostas a estímulos que são seguidas imediatamente por um aversivo tendem a ser suprimidas. Thorndike, depois, retificou a lei do efeito, minimizando a importância dos aversivos. Enquanto as recompensas (gratificadores) fortalecem a associação entre um estímulo e uma resposta, as punições (aversivos) não costumam enfraquecer tal associação.Isto é, punir um comportamento apenas inibe aquele comportamento, não o suprime (FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015, p. 308)." As ideias associacionistas têm uma grande influência na construção do behaviorismo científico, tanto no metodológico que teve como principal representante Watson, quanto no behaviorismo radical com Skinner. São esses três expoentes que fundamentam as abordagens comportamentalistas. 3 Matrizes do pensamento psicológico Como temos visto, a Psicologia foi se constituindo a partir de horizontes distintos. Conforme Figueiredo (2009), esse campo do saber tem a dispersão como característica própria. No entanto, essa dispersão não se configura como “um caos absoluto, pois possui uma organização subterrânea” (FIGUEIREDO, 2009, p. 24). Essa organização se dá através do que Figueiredo (2009) nomeia de matrizes do pensamento. Ou seja, as perspectivas distintas teórico e metodologicamente encontram pontos de intersecção que as colocam dentro de matrizes. Há duas obras de Figueiredo que falam sobre as matrizes do pensamento psicológico. A obra mais completa é “Matrizes do Pensamento Psicológico”, escrita no ano de 1991 (FIGUEIREDO, 2014). Nessa obra, o autor discute de forma mais abrangente as diversas matrizes, tais como as enumeradas abaixo. Nomotética. Atomicista e mecanicista. Funcionalista e organicista americana. Funcionalista e organicista europeia. Ambientalista e nativista. Vitalista e naturalista. Matrizes compreensivas. Fenomenológicas e existencialistas. No entanto, ele também subdivide as matrizes anteriormente mencionadas em matrizes cientificistas, românticas e pós-românticas. Dentro que cada matriz, encontram-se as submatrizes. 3.1 Matrizes cientificistas Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 12 2024.1 A grande matriz chamada de cientificista é composta por todas as matrizes que buscam fazer ou atrelar a psicologia à ciência natural. Segundo Figueiredo (2009, p. 24-25): Denominam matrizes cientificistas a todas as matrizes a partir das quais a psicologia vem ser concebida em praticada como ciência natural (de acordo, naturalmente, com os modelos de ciência natural disponíveis no século XIX); todas pressupõem a crença numa ordem natural e diferem apenas na forma de considerarem nesta ordem; as psicologias geradas por essas matrizes seriam construídas como anexos ou segundo os modelos de outras ciências da natureza, como, por exemplo, a biologia. Como as demais ciências naturais, as psicologias estariam destinadas a fornecer um conhecimento útil para previsão e controle dos eventos psíquicos e comportamentais. Nesse rol, encontramos as matrizes: nomotética e quantitificadora; atomicista e mecanicista; funcionalista e organicista. Cada qual ao seu modo, subsidiam práticas psicológicas com aquelas metodologias de controle, previsibilidade e imutabilidade. Conheça detalhes. Nomotética e quantificadora A matriz de caráter nomotético e quantificador indica que o comportamento precisa ser classificado em leis gerais. Nesse sentido, o profissional precisará construir hipóteses, tecer a dedução e testar (mensurar) a hipótese levantada. Atomicista e mecanicista Para a matriz atomicista e mecanicista, o profissional necessita estabelecer as relações de causa e efeito. É um olhar unidirecional que busca encontrar os fios determinantes entre os acontecimentos e propor análises probabilísticas. Funcionalista e organicista Já a matriz funcionalista e organicista, apesar de também buscar compreender as relações causais, entende a ressonâncias de uma coisa na outra dentro de um horizonte de interdependência. Além disso, está eminentemente vinculada à noção de adequação do homem no mundo. 3.2 Matrizes românticas e pós-românticas As matrizes românticas e pós-românticas se opõem diretamente à supremacia da matematização enquanto metodologia de conhecimento. A psicologia, sendo a ciência do comportamento humano, não deveria, portanto, se atrelar às metodologias das ciências naturais, visto que comportamentos são formas de expressão, produtos de uma subjetividade singular que se mostra nas ações (FIGUEIREDO, 2009). Sobre as matrizes românticas, assinala o autor: Enquanto as psicologias engendradas por matrizes cientificistas propunham se como conhecimento apto a previsões e controles e, nesta medida, se obrigavam a explicar os eventos psíquicos e comportamentais inserindo-os numa ordem natural, as psicologias engendradas a partir de matrizes românticas tem como meta compreender, ou seja, gerar conhecimentos aptos à apreensão das formas expressivas. A meta deste conhecimento seria de ampliar a capacidade de comunicação entre os homens e de cada um consigo mesmo. As matrizes que compõem esse grande grupo das matrizes românticas são: a vitalista e naturalista; e a compreensiva. Para a primeira, é possível fazer uso da classificação, mas esse não é o princípio fundamental da psicologia. O fundamental estaria na lida com a vida. Segundo Figueiredo (2014), a bioenergética, criada por Wilhelm Reich, e que trabalha as emoções do indivíduo em relação com o corpo, têm marcas do vitalismo e naturalismo. Outra abordagem que poderia ser situada nesse Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 13 2024.1 diálogo é a Terapia Gestalt, que busca a experiência holística do sujeito situada no aqui e agora (FIGUEIREDO, 2014). Atreladas a matrizes românticas, estariam as matrizes compreensivas. Dentro dessas há: o historicismo idiográfico, o estruturalismo e a fenomenologia. No entanto, Figueiredo (2014) analisa que as perspectivas presentes nessa matriz são contraditórias, visto que apenas a perspectiva idiográfica é essencialmente compreensiva. O estruturalismo tende a um cientificismo, enquanto a fenomenologia é epistemologicamente antirromântica. Essa matriz é um tanto contraditória, pois apenas o idiográfico é propriamente compreensivo, o estruturalismo tende ao cientificismo e a fenomenologia é antirromântica. Mas o que faz com que essas perspectivas distintas ainda assim estejam juntas? Para Figueiredo (2014, p. 33): No entanto, uma coisa as unifica: O que as unifica é visar - mediante os mais diversos procedimentos - a experiência humana inserida no universo cultural, estruturada e definida por ele, manifesta simbolicamente. Diante dos fenômenos vitais de natureza expressiva coloca-se a exigência de compreensão, que se converte em interpretação quando a compreensão imediata bloqueada. Mas do que se trata cada uma, para além do que as unifica? Quais as distinções? Veja as definições clicando abaixo. Historicismo idiográfico Para o historicismo idiográfico, o objetivo da psicologia é buscar compreender, hermeneuticamente, a vivência de um sujeito. Estruturalismo O estruturalismo defende que, para compreender o comportamento, é necessário investigar a estrutura da consciência. Fenomenologia A fenomenologia assegura que não há uma estrutura prévia que conduza ações, pois para a epistemologia fenomenológica, a consciência é intencional, ou seja, é sempre consciência de algo e, portanto, é estabelecida em uma relação. VÍDEO 3 No entanto, para Figueiredo (2009), há uma distinção entre as matrizes românticas e pós- românticas. Para ele, nas matrizes pós-românticas, Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 14 2024.1 [...] o que observamos é o resgate da grande questão colocada pelas matrizes românticas, a questão da compreensão, aliado à renúncia à esperança de uma apreensão fácil e imediata do sentido. Para essas matrizes o sentido dos atos, dos produtos e dasobras não coincide com as vivências que lhes correspondem, supõe- se que por trás dos sentidos haja outros sentidos e por trás destes haja processos em mecanismos geradores de sentido e que nada disso se dê espontaneamente a nossa consciência. Seria preciso, portanto, elaborar métodos e técnicas e critérios interpretativos que nos permitam ir além de uma compreensão ingênua e autocentrada dos outros e de nós mesmos (FIGUEIREDO, 2009, p. 25). Conhecer os pontos de intersecção e distanciamentos das matrizes do pensamento psicológico favorece um olhar amplo para as epistemologias/teorias que subjazem cada perspectiva de prática. Esse conhecimento é importante para que se perceba que, apesar da psicologia ser um campo de dispersão e multifacetado, não dá para estabelecer um ecletismo, ou seja, adotar indiscriminadamente vários horizontes teóricos que em alguns pontos se contradizem, mas também não dá para se fechar no dogmatismo de conceber apenas uma linha teórica como verdadeira, visto que, ao seu modo, cada uma contribui para a ciência, para a profissão e sobretudo para as pessoas e os setores que necessitam dos serviços dos profissionais da área (FIGUEIREDO, 2009). A atuação dar-se-á eticamente a partir da situação profissional que, reconhecendo a sua morada, ou seja, a sua teoria, os limites e as possibilidades de atuação e intervenção, se abrirá à alteridade da prática, desalojando-se constantemente e revisitando continuamente seus arcabouços técnicos, teóricos e suas experiências profissionais e existenciais. É ISSO AÍ! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: estudar sobre as abordagens nomotéticas; conhecer a influência metodologia idiográfica nas abordagens mais compreensivas; reconhecer as ressonâncias da filosofia na psicologia; aprender sobre as primeiras escolas da psicologia; compreender os pontos de interseção entre as abordagens, a partir da matriz de cada uma. REFERÊNCIAS BOCK, A. M. B. A evolução da Psicologia. In: BOCK, A. M. B. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008. COTRIM, G.; FERNANDES, M. Fundamentos da filosofia e manual do professor. São Paulo: Saraiva, 2016. FIEST, J.; FIEST, G. J.; ROBERTS, T. Teorias da Personalidade. Porto Alegre: AMGH, 2015. FIGUEIREDO, L. C. M.; SANTI, P. L. R. Psicologia: uma (nova) introdução. São Paulo: Educ, 2006. FIGUEIREDO, L. C. M. Revisitando as psicologias: da epistemologia à ética das práticas e discursos psicológicos. Petrópolis: Vozes, 2009. FIGUEIREDO, L. C. M. Matrizes do pensamento psicológico. Petrópolis: Vozes, 2014. GAUER, G. Desenvolvimento da Psicologia Experimental. 2007. Disponível em: http://www.fafich.ufmg.br/cogvila/dischistoria/gauer2.pdf. Acesso em: 10 fev. 2018. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2012. http://www.fafich.ufmg.br/cogvila/dischistoria/gauer2.pdf Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS Unidade II/III - CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO: TEORIAS E ESCOLAS Profa. Alessandra Schiarantolla 15 2024.1 HALL, C. S.; LINDZEY, G.; CAMPBELL J. B. Teorias da personalidade. São Paulo: Artmed, 2008. HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva: 2009. LAWN, C. Compreender Gadamer. Petrópolis: Vozes, 2006. NASCIMENTO, J. C. H. B. et al. Perspectivas da pesquisa em contabilidade no Brasil: um ensaio teórico sobre as abordagens ideográficas e nomotéticas. CAP Accounting and Management, 2017, v. 2018, n. 11, ISSN impressa 1809-2489, on-line 2238-4901. RESENDE-JUNIOR, J. 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