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U I Apostila - OS ATRAVESSAMENTOS FILOSÓFICOS NA PSICOLOGIA

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Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS 
Unidade I - OS ATRAVESSAMENTOS FILOSÓFICOS NA PSICOLOGIA 
Profa. Alessandra Schiarantolla 
 
 
1 
 
2024.1 
TEORIAS E SISTEMA 
UNIDADE I - OS ATRAVESSAMENTOS FILOSÓFICOS NA PSICOLOGIA 
Itala Daniela da Silva 
OLÁ! Você está na unidade “Os atravessamentos Filosóficos na Psicologia”. Conheça aqui a história 
dos principais filósofos que influenciaram a psicologia. Aprenda sobre os conceitos de inato e 
adquirido, identificando a influência da filosofia nas concepções dicotômicas entre mente e corpo. Por 
fim, entenda a natureza e os limites da ciência psicológica. Bons estudos! 
1 Raízes Filosóficas da Psicologia 
Você sabia que, para compreendermos do que é composto o solo da psicologia, precisaremos 
dar alguns passos para trás em busca da história da construção científica? Esse percurso iniciará muito 
antes do que chamamos de ciência propriamente dita, como concebida pela academia (campos de 
formação de ensino superior e pós-graduações) na atualidade. 
Essa história é extensa, e por ser longa, precisaremos realizar alguns recortes. Infelizmente, 
não é possível apresentar todos os aspectos, autores, filósofos, pensamentos e ideias que ajudaram a 
compor a narrativa histórica da psicologia. As escolhas dos pensamentos que apresentaremos sempre 
está circunscrita a partir do olhar daquele que conta a história. Basta você pensar que, ao contar uma 
história, você sempre escolherá o que enfatizará. 
Dito isso, fica assinalado que toda e qualquer construção escrita sobre alguma área da ciência 
será sempre limitada, porque haverá recortes. Portanto, todos/as aqueles que se dedicam ao estudo 
de alguma área do conhecimento, como você, estudante de psicologia, necessitarão ler, ouvir e 
estudar diversos autores contando a “mesma história”. Apesar de ser a “mesma história”, serão dadas 
ênfases distintas, a depender do horizonte científico daquele que escreve. 
Comentadas as considerações iniciais sobre o limite da escrita, agora chegou a hora de você 
aprender sobre as bases filosóficas da psicologia. Você conhecerá alguns dos pré-socráticos, Sócrates, 
Platão e Aristóteles. Apresentarei também um pouco da história da idade média e depois entraremos 
na história da idade moderna, o nascimento da ciência e o modo como a filosofia influencia as nossas 
concepções sobre corpo e mente, bem como inato e adquirido. Após essa história inicial, pensaremos 
juntos sobre a natureza e os limites da psicologia. 
É importante ressaltar que os filósofos não estavam pensando na constituição da psicologia, 
eles estavam filosofando. Mas hoje percebemos o quanto as ideias filosóficas, de algum modo, 
atravessam a psicologia que nascerá, enquanto ciência, no século XIX. 
1.1 Pré-Socráticos e Sócrates 
Os primeiros filósofos da nossa cultura ocidental, que iniciaram o processo de sistematização 
do conhecimento, surgiram por volta dos séculos VII-VI a.C. Esses filósofos, chamados de pré-
socráticos (porque vieram antes de Sócrates), buscavam compreender a origem do cosmo: 
constituição, princípios e leis. Esse período ficou conhecido como cosmológico. Cada pré-socrático, a 
partir dos seus estudos e observações, indicava a essência, o princípio, a origem cosmológica da 
natureza. Ou seja, eles buscavam explicar a arché (essência, origem) da physis (natureza) 
(CASERTANO, 2011). 
Curso de Psicologia - TEORIAS E SISTEMAS 
Unidade I - OS ATRAVESSAMENTOS FILOSÓFICOS NA PSICOLOGIA 
Profa. Alessandra Schiarantolla 
 
 
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Algumas ideias dos pré-socráticos... 
 Tales de Mileto - De acordo com Casertano (2011), para Tales de Mileto (641-546 a.C.), “a 
observação e o estudo da regularidade dos fenômenos naturais permitem que se extraia uma lei 
geral” (CASERTANO, 2011, p. 40) que permite a explicação das coisas. Para ele, observador dos 
fenômenos naturais, a água seria o fundamento e a origem do cosmo. Ou seja, ela seria a arché. 
Isso porque a água “é o alimento das coisas e as sementes de todas as coisas são úmidas” 
(CASERTANO, 2011, p. 43). 
 Parmênides - Parmênides (520-440 a.C.), ao contrário dos filósofos daquela época, não 
acreditava que a arché fosse algum elemento da natureza. Para ele, os elementos naturais são 
mutáveis, e a essência não poderia ser mutável. Logo, ele assegura que o Ser seria o princípio, a 
essência. O Ser aqui não é visível na aparência. Porque tudo que aparece é passível de mudanças. 
O Ser faz parte de um universo que não pressupõe mutabilidade (CASERTANO, 2011). 
 Heráclito - Em contraposição a esse pensamento de imutabilidade, Heráclito (530/20 -470/60 
a.C.) acreditava e defendia a mutabilidade da realidade. Para ele, tanto o ser quanto as coisas são 
dinâmicas e passíveis de transformação. Sua frase mais famosa é que “tudo flui, como as águas 
de um rio que nunca são as mesmas” (CASERTANO, 2011, p. 100). Por esse motivo, ele indicava 
que o fogo seria a arché (princípio) da physis (natureza/cosmo), pois a chama viva e eterna regeria 
as mudanças do ser (CASERTANO, 2011). 
Houve muitos outros pré-socráticos, vinte são mencionados por Osborne (2012). Contudo, 
optamos por apresentar três do mais mencionados. Apresentamo-los para que fosse possível você 
compreender como as perguntas filosóficas sobre a natureza e o ser já estavam postas 600 anos antes 
da era cristã. 
Por falar em questões do Ser, Sócrates foi aquele que abandou as questões sobre a natureza 
e se concentrou eminentemente nos problemas do ser humano. Suas questões centrais eram: o que 
é o bem, a virtude e a justiça. Sócrates, filho de mãe parteira, desenvolveu um método que ficou 
conhecido como maiêutico (arte de trazer à luz, partejar). Esse método foi utilizado por Sócrates nos 
encontros que ele realizava nas praças públicas. Os diálogos críticos realizados por ele poderiam ser 
divididos em dois momentos: refutação e ironia (etapa em que o filósofo enfatizava as contradições 
na resposta dada pelos interlocutores às suas perguntas); a maiêutica era a etapa em que Sócrates 
construía questões para que os interlocutores pudessem reconstruir as ideias anteriormente 
refutadas (COTRIM; FERNANDES, 2016). 
1.2 Platão e Aristóteles 
Enquanto os pré-socráticos conflitavam entre si sobre a mutabilidade ou imutabilidade da 
essência da natureza, Platão indicou uma solução que comporta as duas dimensões. Para Platão, há 
algo que não muda, que permanece. Esse algo estaria no mundo inteligível, ou seja, plano das ideias. 
As ideias seriam fixas, imutáveis e, portanto, a essência de tudo o que existe. Portanto, a verdade, por 
ser imutável e fixa, só poderia estar no mundo inteligível, na transcendência. Partindo desse 
pressuposto, a verdade não se manifesta na dimensão visível, aparente (COTRIM; FERNANDES, 2016). 
O mundo sensível, por sua vez, seria mutável. É uma cópia imperfeita do que existe no mundo 
inteligível e foi criado pelo demiurgo (espécie de deus “artesão”). O mundo sensível é cheio de 
impressões e essa reprodução não comporta a essência da verdade, apenas espelha uma parte do ser 
e não o que ele é de verdade (COTRIM; FERNANDES, 2016). 
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Profa. Alessandra Schiarantolla 
 
 
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A imagem mostra um esquema contendo características do mundo inteligível e do mundo sensível. 
Mas, então, como nós humanos, vivendo no mundo sensível, conheceríamos as verdades 
eternas e imutáveis? Para Platão, para se chegar ao conhecimento da verdade, é necessário realizar o 
exercício da razão. Nesse sentido, só se atinge um conhecimento verdadeiro quando se submete as 
impressões ao raciocínio. Apenas os seres humanos têm a capacidade de realizar o exercício da razão, 
pois, para esse filósofo, apesar de homens e animais possuírem impressões sobre o mundo sensível, 
só o homem poderá formar conhecimento racional, transcendendo as impressões (COTRIM; 
FERNANDES, 2016).Além desse pensamento dual sobre o mundo, Platão também compreende o ser humano 
numa dualidade, pois é composto por alma e corpo. A alma/mente é o bem mais precioso do ser 
humano, enquanto o corpo é inferior. Essa dualidade atravessará muito fortemente as compreensões 
da medicina que delineará os modos de lidar com o corpo e com a mente, como veremos mais adiante 
(COTRIM; FERNANDES, 2016). 
Enquanto Platão acreditava que as impressões do mundo sensível geravam distorções e não 
eram verdadeiras, Aristóteles defendia que o conhecimento advém da observação da realidade. Esse 
conhecimento que nasce da observação do real, do sensível, daquilo que é mutável, ficou conhecido 
como método indutivo. Segundo Cotrim e Fernandes (2016, p. 228), para Aristóteles: 
“A finalidade da ciência deve ser a compreensão do universal, visando estabelecer 
definições essenciais que possam ser utilizadas de modo generalizado. Desse modo, 
a indução (operação mental que vai do particular ao geral) representa, para 
Aristóteles, o processo intelectual básico de aquisição de conhecimento. É por meio 
do método indutivo que o ser humano pode atingir conclusões científicas, 
conceituais, de âmbito universal.” 
Partindo desse pressuposto, Aristóteles, contrapondo-se a Platão, defende também que o 
mundo inteligível e sensível andariam juntos e constituiriam a realidade, pois as coisas são o que são. 
Sendo o que são, para conhecê-las, seria necessário partir do dado empírico, perceptível aos sentidos 
(COTRIM; FERNANDES, 2016). 
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Esse filósofo, além de superar a cisão entre mundo sensível e inteligível, ultrapassou também 
o dualismo entre corpo e mente. Aristóteles defende que corpo e mente são indivisíveis. O filósofo 
também foi o primeiro a discutir questões muito peculiares para a psicologia, como: “mente, sentidos, 
sensação, memória, sono e insônia, geriatria, brevidade da vida, juventude e velhice, vida, morte e 
respiração” (FREIRE, 2008, p. 38). 
1.3 Idade Média 
Talvez você esteja se perguntando o motivo de dedicarmos um espaço para falar sobre a idade 
média. Muitas vezes escutamos alguns estudiosos descartando a história desse tempo, pois ele está 
muito atrelado a Igreja Católica como instituição social. O período é tido como séculos escuros, das 
trevas, visto que o pensamento cristão exercia uma grande influência que norteava as concepções 
dessa época. A idade média teve início com a ascensão do cristianismo no ocidente. O Deus cristão 
(teocentrismo) passou a ocupar o centro em todas as esferas: arte, literatura, filosofia, educação, 
arquitetura e outros (COTRIM; FERNANDES, 2016). 
Nesse período, defendia-se que: 
“Toda investigação filosófica ou científica não poderia, de algum modo, contrariar 
as verdades estabelecidas pela fé católica. Em outras palavras, os filósofos não 
precisavam mais se dedicar à busca da verdade, pois ela já teria sido revelada por 
Deus aos seres humanos. Restava-lhes, apenas, demostrar racionalmente as 
verdades da fé (COTRIM; FERNANDES, 2016, p. 241).” 
A filosofia medieval pode ser dividida em: padres apostólicos, apologistas, patrística e 
escolástica. A patrística tem como principal representante Santo Agostinho, que foi influenciado por 
algumas ideias da filosofia platônica. A escolástica é representada por São Tomas de Aquino, que foi 
influenciado por Aristóteles (COTRIM; FERNANDES, 2016). 
As construções filosóficas desse período tinham como finalidade defender e estruturar as 
verdades da fé católica. Não houve contributos para o pensamento psicológico. Contudo, só 
conhecendo esse período conseguimos compreender o renascimento, o iluminismo e o fervor que 
construiu a idade moderna e constituiu a nova ciência e o racionalismo (COTRIM; FERNANDES, 2016). 
1.4 Idade Moderna: renascimento e advento da nova ciência 
Após dez séculos de influência do pensamento cristão em todas as esferas humanas, algumas 
alterações começaram a acontecer nesses âmbitos: nos setores sociais, econômico, político, artístico. 
O movimento que contribuiu para as alterações foi chamado de renascimento. Essa etapa propiciou 
o desenvolvimento da mentalidade racionalista e o retorno do antropocentrismo, onde o homem 
volta a ser o centro e não Deus (teocentrismo), como era na Idade média. 
Contudo, a Igreja não iria abrir mão tão facilmente de sua influência e algumas obras de arte 
e cultura ainda reproduziam resquícios religiosos. Além disso, nesse período a inquisição da Instituição 
Católica perseguiu aqueles que se contrapunham ao pensamento defendido por ela. Uma das 
mudanças essenciais foi o heliocentrismo que, diferente do catolicismo, defendia que o sol e não a 
terra era o centro do universo. Cotrim e Fernandes (2016, p. 256) indicam que: 
“Ao propiciar a expansão de uma mentalidade racionalista, o renascimento criou as 
bases conceituais e de valores que favoreceriam o desenvolvimento da ciência no 
século XVII. revelando maior disposição para investigar os problemas do mundo, o 
indivíduo moderno aguçou seu espírito de observação sobre a natureza, dedicou 
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mais tempo à pesquisa e às experimentações, abriu a mente ao livre exame do 
mundo.” 
Foram as bases conceituais, fundadas nessa virada histórica, que começaram a oferecer 
fundamentos para a criação e fundamentação das ciências que aconteceriam posteriormente. Nessa 
época, a psicologia era essencialmente filosófica, mas essas fundamentações também iriam oferecer 
as bases necessárias para que a psicologia fosse alçada ao status de ciência nos séculos posteriores 
(FREIRE, 2008). 
1.5 Constituição da ciência moderna 
As rupturas vividas entre a idade média e moderna geraram uma certa desorientação. Fazia-
se necessário criar bases sólidas para o conhecimento e novos conceitos de verdade, visto que as 
bases fundadas no pensamento cristão tinham sido postas em xeque. Segundo Cotrim e Fernandes 
(2016, p. 259), 
“A ruptura com toda a autoridade preestabelecida de conhecimento fez com que os 
pensadores modernos buscassem uma base segura, algo que garantisse a verdade 
de um raciocínio. Assim, um dos principais problemas da filosofia nesse período 
relacionou-se com o processo de entendimento humano e, mais especificamente, 
com a seguinte questão: Que garantia posso ter de que um pensamento é 
verdadeiro? Procurava-se, portanto, um método.” 
Iniciou-se uma busca frenética pelo método para se chegar à verdade. Na busca pelo método 
do conhecimento, novas concepções de homem e de mundo foram sendo construídas pelos 
pensadores da época. A filosofia, debruçada no compromisso do conhecimento, adota novas 
linguagens em que o humano passa a ser valorizado como um ser racional. O racionalismo teve o seu 
triunfo, e a base científica passou a ser: observação, experimentação e formulação de hipótese. É 
importante destacar que cada filósofo construiu distintamente os seus métodos e concepções e deu 
ênfases distintas também. 
Francis Bacon foi um empirista que, contrário ao racionalismo da época, enfatizou o papel das 
experiências sensíveis no processo de conhecimento. Para ele, a razão só teria sentido se aplicada à 
experiência, e não o contrário. Na sua obra Novum Organum, mostrou a importância de um método 
de experimentação que reduzisse os equívocos tanto do intelecto quanto da pura experiência, aliando 
o melhor de ambos para a aquisição dos conhecimentos científicos. Bacon acreditava que o avanço 
dos conhecimentos e das técnicas, as mudanças sociais e políticas e o desenvolvimento das ciências e 
da filosofia propiciariam uma grande reforma do conhecimento humano (COTRIM; FERNANDES, 2016; 
FREIRE, 2008). 
No que concerne à ciência, ele indicouque esta deveria valorizar a pesquisa experimental, e 
defendeu o método indutivo. No seu método, Bacon indica que são necessárias as seguintes etapas: 
1 
Organizar e controlar os dados recebidos da experiência sensível graças a 
experimentos adequados de observação e experimentação. 
2 Organizar e controlar os resultados observacionais e experimentais para chegar 
a conhecimentos novos ou à formulação de teorias verdadeiras. 
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3 Desenvolver procedimentos adequados para a aplicação prática de resultados 
teóricos (COTRIM; FERNANDES, 2016). 
 
Em contraposição ao método experimental de Bacon, René Descartes construiu um método 
em que desconfia das percepções e sensações, sendo radicalmente racionalista. A rigorosidade do seu 
método indica que é necessário duvidar de tudo, até reconhecer como indubitável a própria 
existência. Para o filósofo, a única verdade livre de qualquer dúvida seria o fato da existência. Sua 
famosa frase “Penso, logo existo” assegura que, pensando, ele constatou que sua existência é 
verdadeira (COTRIM; FERNANDES, 2016). 
O modo de pensar de Descartes também estabeleceu e reforçou a perspectiva dualista 
iniciada em Platão. Após aplicar o seu método, da dúvida metódica, René Descartes concluiu que 
existem duas substâncias distintas: a substância pensante (res cogitans) e a substância extensa (res 
extensa). A substância pensante corresponde à esfera da consciência, e a substância extensa, ao 
mundo corpóreo e material (COTRIM; FERNANDES, 2016). 
 
Sobre o método de Descartes, ele consiste em estabelecer uma dúvida metódica. Nesse método, 
o questionamento rigoroso é o fundamento do pensamento filosófico. Ele se constitui por quatro 
passos. 
1. Regra da evidência: Só aceitar algo verdadeiro se for claro e evidente. 
2. Regra da análise: Decompor o problema em elementos mais simples ou últimos. 
3. Regra da síntese: Orienta ir dos objetos mais simples aos mais complexos. 
4. Regra da enumeração: Verificar para obter absoluta segurança de que nenhum aspecto do 
problema foi omitido (COTRIM; FERNANDES, 2016). 
No século XVIII, a fundação do positivismo fortaleceu a ciência que se baseia nos fatos e nas 
experiências. Um dos principais representantes dessa perspectiva é o filósofo Augusto Comte. O 
entusiasmo positivista foi um reflexo do espírito da época e do entusiasmo da burguesia, capitalismo 
e do desenvolvimento técnico-industrial. Sobre o objetivo e as características do positivismo, Cotrim 
e Fernandes (2016) resumem: 
“De acordo com Comte, o método positivo de investigação tem por objetivo a 
pesquisa das leis gerais que regem os fenômenos naturais. Assim, o positivismo 
diferencia-se do empirismo puro porque não reduz o conhecimento científico 
apenas aos fatos observados. É na elaboração de leis gerais que reside o grande 
ideal das ciências. com base nessas leis, o ser humano seria capaz de prever os 
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fenômenos naturais, podendo agir sobre a realidade (COTRIM; FERNANDES, 2016, 
p. 291).” 
Controle, previsibilidade e generalização são as marcas do pensamento positivista, que 
posteriormente influenciará, direta ou indiretamente, na constituição das ciências. O espírito 
científico buscará consolidar métodos científicos que assegurem esse tripé. 
Após apresentar o pensamento de alguns filósofos, importa destacar que muitos outros 
pensadores atravessaram a história da filosofia e da construção da ciência. Todavia, fica inviável 
apresentar todos aqui e/ou se delongar nas ideias dos que foram apresentados. Optamos por 
apresentar alguns que julgamos importantes, na certeza de que existem outros e que você, estudante 
da área psicológica, mergulhará em outros textos que enfatizarão outros pensadores. 
Nos tópicos seguintes, retomaremos alguns desses filósofos e acrescentaremos outros, com vias 
a discutir sobre a influência da filosofia na constituição da ciência psicológica. 
FIQUE DE OLHO!!! Vimos que os pré-socráticos tinham como problema a ser investigado o princípio 
fundamental, a arché do cosmos. Já na idade moderna, o maior objetivo dos filósofos era definir o 
método de chegar ao conhecimento. A centralidade da idade moderna é a busca pelo método 
científico. É importante saber as distinções e objetivos de cada período. 
2 Dicotomia Mente e Corpo: influências filosóficas e ressonâncias na psicologia 
O mundo ficou dual desde que Platão o separou. Essa perspectiva dualista foi retomada em 
alguns momentos na história da filosofia, sobretudo com René Descartes no século XVI. Para 
Descartes, a substância pensante corresponde à mente, à consciência, enquanto a substância 
extensa corresponde à matéria corporal (COTRIM; FERNANDES, 2016). 
Essa cisão entre mente e corpo estabeleceu um longo debate nos tratados filosóficos. O 
dualismo, defendido por alguns, era negado por outros. Caso partisse da premissa de que haveria 
essas duas realidades, distintas, uma questão se colocava: como mente e corpo poderiam interagir? 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). 
Antes de Descarte, acreditava-se que a interação entre essas duas substâncias se dava de 
forma unilateral. Ou seja, a mente que comandava o corpo. Todavia, Descartes, apesar de considerar 
substâncias distintas, defendia a mútua interação entre elas, e não a unilateralidade (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 2009). Conforme retomam Schultz e Schultz (2009, p. 36): “Descartes afirma que a mente e 
o corpo, embora distintos, são capazes de interagir dentro do organismo humano. A mente é capaz 
de exercer influência sobre o corpo do mesmo modo que esse pode influenciar a mente”. 
Sobre a natureza do corpo, 
“Na visão de Descartes, o corpo é composto de matéria física, portanto tem 
características comuns a qualquer matéria, ou seja, possui tamanho capacidade 
motora. Sendo uma matéria, as leis da física e da mecânica que regem o movimento 
e a ação do universo físico aplicam-se também a ele. Logo, o corpo é semelhante a 
uma máquina cuja operação pode ser explicada pelas leis da mecânica que governa 
o movimento dos objetos no espaço. Seguindo esse raciocínio, Descartes prosseguiu 
com a explicação do funcionamento fisiológico do corpo com base na física. 
Descartes foi claramente influenciado pelo espírito mecanicista da época, refletido 
nos relógios mecânicos e nos robôs (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009, p. 36).” 
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Fazendo referências ao mecanismo dos robôs, Descartes defende que há reações do corpo 
que são reflexos dos movimentos externos e não necessariamente uma vontade da mente. Por essa 
constatação, por vezes o pensador é “definido como o autor da teoria do ato de reflexo. Essa teoria é 
a precursora da moderna psicologia behaviorista de estímulo-resposta” (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009, p. 
36). Ainda nesse sentido, “o comportamento reflexo não envolve pensamento nem processo 
cognitivo: parece ser completamente mecânico ou automático” (SCHULTZ; SCHULTZ, p.36). 
Enquanto o corpo é visto como uma máquina, a mente “não apresenta nenhuma das 
propriedades da matéria, no entanto possui a capacidade de pensamento, característica que a separa 
do mundo material ou físico” (SCHULTZ; SCHULTZ, p. 38). Na interação entre corpo-mente, segundo o 
filósofo, o ponto central das funções da mente é o cérebro, mais especificamente a glândula pineal ou 
conarium. Os movimentos físicos e mentais influenciam um e o outro mutualmente a partir desse 
ponto central. 
Essas discussões sobre mente e corpo irão, posteriormente, no século XIX, influenciar a 
medicina, inclusive a psicologia. A visão dualista reverberou no modo de secompreender saúde e 
doença, bem como suas possíveis associações com a mente e o corpo. 
Travou-se uma discussão na medicina sobre o caráter de adoecimento do corpo, se este tinha 
como causa fatores endógenos ou exógenos. Desde o século XV, os médicos Galeno e Paracelsus 
tinham visões distintas. Para o primeiro, a doença tinha causas endógenas, “estaria dentro do próprio 
homem, em sua constituição física ou em hábitos de vida que levassem ao desequilíbrio” (CASTRO; 
ANDRADE; MULLER, 2006, p. 40). Já para o médico Paracelsus: 
“As doenças eram provocadas por agentes externos ao organismo. Ele propôs a cura 
pelos semelhantes , baseada no princípio de que, se os processos que ocorrem no 
corpo são químicos, os melhores remédios para expulsar a doença seriam também 
químicos, e passou então a administrar aos doentes pequenas doses de minerais e 
metais (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2006, p. 40).” 
Nos séculos seguintes, essas discussões chegaram a outras áreas da medicina, inclusive da 
psicanálise e psicologia. Na psicanálise freudiana, o determinismo psíquico reforçou “a importância 
dos aspectos internos do homem” (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40). Essa ideia foi reforçada 
pelo psicanalista Groddeck com a sua obra “Determinação psíquica e tratamento psicanalítico das 
afecções orgânicas” (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40). A supremacia da mente sobre o corpo 
foi reforçada pela psicanálise, enquanto no campo médico havia uma supremacia de cuidado com o 
corpo. 
Apesar desse dualismo reverberar nas práticas psicológicas e médicas contemporâneas, 
estudos atuais indicam a perspectiva holística como uma saída para a cisão entre corpo e mente. Na 
postura holística, corpo e mente são inseparáveis e interdependentes em aspectos psíquicos e 
biológicos (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40). 
Segundo Castro, Andrade e Muller (2006, p. 41): “Com o desenvolvimento das neurociências 
o conceito dualístico tornou-se mais difícil de ser aceito. Por exemplo, o sistema nervoso autônomo 
não é tão autônomo assim e se encontra regulado pelas estruturas límbicas junto com o controle 
emocional. O sistema imune influencia e é influenciado pelo cérebro (URSIN, 2000). O campo de 
estudo da psiconeuroimunologia tem suas origens no pensamento psicossomático e tem evoluído no 
sentido da realização de investigações de complexas interações entre a psique e os sistemas nervoso, 
imune e endócrino.” 
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Mais ampla do que as discussões das neurociências e da postura holística, a concepção 
de doença sociossomática amplia a inter-relação entre corpo, mente, ambiente e meio social. Nesse 
sentido, a medicina e a atuação psicológica, influenciada pela postura psicossomática, sociossomática 
e holística, atuam de forma a considerar a multicausalidade dos aspectos da saúde e da doença. 
 
VÍDEO 1 
FIQUE DE OLHO!!! A Organização Mundial da Saúde, desde o ano de 1947 define que a saúde é um 
estado que articula o bem-estar físico, mental e social. Hoje, muitos pesquisadores acrescentam as 
dimensões espirituais e culturais, sendo saúde, então, um bem estar biopsicossocial-espiritual e 
cultural, e não apenas ausência de enfermidades biológicas. 
3 Discussões sobre inato e adquirido no ser humano 
Assim como as discussões de corpo e mente perduraram e perduram até hoje na filosofia e na 
ciência, as questões concernentes ao que é inato e o que é adquirido pelo ser humano ao longo da 
existência também se estendem pelos séculos. 
Descartes, expoente do racionalismo moderno, tratou as ideias como inatas. Ou seja, as ideias 
nasceram com o sujeito pensante. Em contraponto ao pensamento de Descartes, Jonh Lock, segundo 
Cotrim e Fernandes (2016), defendeu que não existem ideias inatas; ao contrário, quando o ser 
humano nasce, nossa mente é como uma tábula rasa. No nascimento, nossa mente é como um papel 
em branco e, a partir das experiências vividas no mundo, inscrevem-se nossos conhecimentos. Para 
adquirir conhecimento, Lock indica as ideias de sensação e de reflexão (COTRIM; FERNANDES, 2016). 
Veja suas definições clicando abaixo. 
 As ideias de sensação são as que chegam à mente através das experiências adquiridas pelos 
sentidos. 
 Já as ideias de reflexão são aquelas que se articulam da sensação e reflexão. A reflexão seria 
“nosso sentido interno que se desenvolve quando a mente se debruça sobre si mesma, 
analisando as próprias operações” (COTRIM; FERNANDES, 2016, p. 275). 
O pensamento de Jonh Lock se associa ao pensamento de mente vazia indicada séculos atrás por 
Aristóteles (FREIRE, 2008). Freire (2008, p. 61), sobre o pensamento de Lock, resume: 
“As sensações, imagens e ideias formam o conteúdo da mente. São adquiridas 
através das impressões sensoriais, tanto do mundo externo como no interno e são 
obtidas através da percepção, que já é um processo psicológico. A percepção 
sensorial consciente constitui, portanto, a base do conhecimento e recebe, quase 
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que passivamente, a influência de estímulos externos. Na escala da aquisição do 
conhecimento, distinguem se dois elementos básicos: a sensação e a percepção. As 
ideias que resultam desse processo podem ser simples quando se originam de um 
ou mais sentidos ou da combinação deles com a reflexão (a ideia de comprimento). 
a ideia de substância composta porque não se origina de nenhum sentido, mas da 
combinação de várias ideias simples.” 
As ideias do filósofo Lock, empirista, são claramente distintas das ideias inatas de Platão e 
Descartes. Por esse motivo, podemos considerá-lo como “o precursor do estruturalismo psicológico 
do século XX” (FREIRE, 2008, p. 62). 
Além das discussões filosóficas sobre o modo que o conhecimento é dado à mente humana 
(se inatos ou adquiridos), existe uma outra linha a ser estudada e investigada, que diz respeito a 
condições comportamentais, se essas são genéticas ou apreendidas na relação com o ambiente. 
Clique abaixo e acompanhe duas tendências alinhadas com esse pensamento. 
Ambientalismo-
empirismo 
Para o ambientalismo-empirismo, o ambiente é o responsável pelas 
características dos comportamentos do ser humano. Essas concepções, 
defendidas por Jonh Lock, têm um adepto fundamental no cenário da psicologia, 
o psicólogo Jonh Watson. Watson, fundador do behaviorismo, explicou o 
comportamento humano a partir da interação com a cultura e o meio ambiente 
(PINHEIRO, 1995). 
Nativismo 
O nativismo, perspectiva filosófica baseada nas concepções inatas de Platão e 
Descartes, considera o oposto do ambientalismo. Nessa linha, a inteligência, 
personalidade e comportamentos são traços genéticos herdados pelos genes 
dos respectivos genitores. Aquela famosa frase dita no senso comum, “filho de 
peixe, peixinho é” é atravessada por essa lógica nativista (PINHEIRO, 1995). Mas 
será que essa perspectiva é válida para o comportamento humano? Sobretudo 
partindo do campo psicológico que, ao acolher os comportamentos humanos, 
busca construir com os outros novas formas de existir? 
 
Discutir sobre essas perspectivas é de extrema importância para a psicologia, a fim de 
compreender as perspectivas psicológicas que têm mais inclinação para a linha ambientalista e/ou 
nativista. Essas noções básicas fundamentarão práticas e intervenções frente ao comportamento 
humano. 
Primeiramente, vamos definir o que é senso comum. Ele é o conhecimento cotidiano 
construído pelas pessoas num cenário de realidade. Não passa pelo crivo da ciência e não é submetido 
a um método filosófico ou de pesquisa. O conhecimento advindo do senso comum é passado de 
tradição para tradição, e é assimilado por cada homem e mulher na lida com a vida cotidiana. Segundo 
Bock,Furtado e Teixeira (2008, p. 18): 
“Esse conhecimento do senso comum, além de sua produção característica, acaba 
por se apropriar, de uma maneira muito singular, de conhecimentos produzidos 
pelos outros setores do saber humano. O senso comum mistura e recicla esses 
outros saberes, muito mais especializados, e os reduz a um tipo de teoria 
simplificada, produzindo uma determinada visão-de-mundo. O que estamos 
querendo mostrar a você é que o senso comum integra, de um modo precário (mas 
esse é o seu modo), o conhecimento humano. É claro que isso não ocorre muito 
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rapidamente. Leva certo tempo para o conhecimento mais sofisticado e 
especializado seja absorvido pelo senso comum, e nunca o é totalmente. Quando 
utilizamos termos como “rapaz complexado”, “menina histérica”, “ficar neurótico”, 
estamos usando termos definidos pela Psicologia científica. Não nos preocupamos 
em definir as palavras usadas e nem por isso deixamos de ser entendidos pelo outro. 
Podemos até estar muito próximo do conceito científico, mas, na maioria das vezes, 
nem sabemos. Esses são exemplos da apropriação que o senso comum faz da 
ciência.” 
Contudo, apesar dessas palavras e frases serem assimiladas no senso comum e no cotidiano 
das pessoas, isso não faz delas psicólogos/as. Isso porque a Psicologia é uma ciência. Mas então, o que 
é ciência? Essa não é uma pergunta fácil de responder, pois como vimos na história da filosofia e da 
ciência as compreensões sempre são plurais e não únicas. Existem vários caminhos distintos para 
definir os problemas da ciência, como fazer ciência e consequentemente o que é ciência. 
Mas, numa perspectiva mais tradicional, ciência são os conhecimentos submetidos a 
metodologias reconhecidas por filósofos e cientistas. Os métodos científicos, que também são vários, 
indicam os caminhos de se obter conhecimentos validados pela academia (centros de pesquisas). Não 
se faz ciência com achismos, faz-se ciência com métodos específicos, com pesquisas, com crivo 
científico. Poderíamos dizer, como comumente é assinalado, que científicos são os conhecimentos 
construídos de maneira programada, controlada e sistematizada (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). 
No entanto, há métodos científicos que não pressupõem controle e previsibilidade, como são as 
pesquisas de cunho social, fenomenológicas e cartográficas (DANIELA, 2016). 
Outro aspecto comumente indicado é que todos os campos científicos têm um objeto de 
estudo. A Sociologia tem como objeto de estudo os fenômenos ligados à sociedade; a Economia, os 
componentes econômicos; a Astrologia, os astros. Mas, e a psicologia? Qual o seu objeto de estudo? 
(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). 
Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), desde os primórdios da Psicologia enquanto ciência 
foi difícil definir um único objeto de seu estudo, dado que cada perspectiva que surge enfatiza 
aspectos distintos do humano. No início da Psicologia Científica, o foco esteve no comportamento 
com os behavioristas. Os/as psicólogos/as de base analítica (psicanálise) dirão que é o inconsciente; 
aqueles de perspectiva fenomenológica, os fenômenos; os socioconstrutivistas, as interações sociais. 
Enfim, passaríamos anos e anos indicando os diferentes objetos da Psicologia, visto que ela é uma 
ciência multifacetada. Um resumo coerente poderia ser o indicado por Bock, Furtado e Teixeira (2008, 
p. 22): 
“Nossa matéria-prima, portanto, é o ser humano em todas as suas expressões, as 
visíveis (o comportamento) e as invisíveis (os sentimentos), as singulares (porque 
somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) - é o ser humano-
corpo, ser humano-pensamento, ser humano-afeto, ser humano-ação e tudo isso 
está sintetizado no termo subjetividade.” 
A Psicologia é uma ciência multifacetada, em que cada linha teórica, cada abordagem e cada 
perspectiva definirá suas concepções de homem, de mundo e os seus métodos de ação. É diferente 
da medicina, em que as evidências científicas indicarão a melhor ação para aquele paciente; na 
psicologia, os profissionais lidam com a multiplicidade de teorias que indicam modos distintos de lidar 
com o mesmo fenômeno. Mas como indica Figueiredo (2009), essas perspectivas, embora distintas, 
não são arquipélagos avulsos e desconectados. 
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O campo da Psicologia enquanto ciência e profissão por vezes deixa os profissionais e 
estudantes de psicologia atordoados na busca de uma unicidade. Ou seja, na busca de uma prescrição 
única. O professor Luís Cláudio Figueiredo, ao falar do campo psicológico como campo de dispersão, 
nos lembra que: 
“Os alunos, ao ingressarem no curso e entrando em contato com o currículo, podem 
ficar, de início, com a expectativa de que várias disciplinas irão se organizar 
harmonicamente, convergindo para uma meta comum, segundo uma concepção 
compartilhada por todos os professores do que seja pensar e fazer psicologia 
(FIGUEIREDO, 2009, p. 17).” 
Nesse sentido, ressaltamos que mesmo uma ciência, a psicologia, não se organiza com um 
objeto único, mas com objetos, campos, nuances de estudo e investigação. Cada professor/a, a partir 
de suas perspectivas teóricas, indicará possíveis modos de lidar com os fenômenos advindos dos 
diversos campos de atuação psicológica. 
Indicar essa abertura e essa multiplicidade inerente ao campo psicológico não autoriza os 
profissionais a resvalarem nos achismos do senso comum, no dogmatismo ou no ecletismo. É 
necessário que as práticas profissionais estejam subsidiadas pela abordagem (perspectiva de prática) 
escolhida. 
Alguns profissionais e estudantes, perdidos na dispersão teórica e metodológica, se 
encaminham para a prisão do senso comum “porque ela é a mais próxima e envolvente” (FIGUEIREDO, 
2009, p. 19). Outros, os dogmáticos, se agarram em uma perspectiva teórica e fecham-se a ela como 
se essa fosse a única e grande verdade. “Ensurdecem para tudo que possa contestá-la” (FIGUEIREDO, 
2009, p. 18) e não ampliam os seus horizontes. Já os ecléticos: 
“[...] adotam indiscriminadamente todas as crenças, métodos, técnicas e 
instrumentos disponíveis de acordo com a sua compreensão do que lhe parece 
necessário para enfrentar unificadamente os desafios da prática (FIGUEIREDO, 
2009, p. 18).” 
Nenhuma dessas alternativas é indicada, isso porque todas cerceiam a possibilidade da 
construção psicológica ética e coerente. A alternativa é a busca contínua pela elaboração de 
conhecimentos novos e a articulação das teorias com a prática profissional. Trata-se de fundamentá-
los em perspectivas de prática (abordagens), articulá-los com a experiência cotidiana e sempre viva 
do profissional e daqueles que buscam a psicologia. Não dá para juntar todas as teorias psicológicas 
como se elas falassem a mesma coisa, mas também não é possível fechar-se em uma teoria como se 
ela comportasse a única e mais exímia verdade sobre o comportamento humano. Importa sim definir 
qual será a sua abordagem e onde está circunscrita a sua visão de mundo. Mas a partir desse eixo, é 
necessário estabelecer diálogos, abrir questões, interrogar as indicações teóricas e metodológicas. 
Faz-se importante, inclusive, abrir novas questões nas abordagens e visões de mundo 
majoritárias na psicologia. As perspectivas cognitivo-comportamental, psicanalíticas, humanistas 
(Abordagem Centrada na Pessoa, Gestalt Terapia) e fenomenológicas (Daseinsanalyse) nasceram em 
realidades distintas da realidade brasileira, com teóricos Europeus e Estadunidenses e em séculos 
diferentes do que estamos vivendo. Não se trata de abandonar esses teóricos, trata-se de assumir 
essas concepções de ser humano e de mundo, colocando novas e coerentes questõespara os nossos 
séculos e para o nosso povo brasileiro (SILVA; DANIELA, 2019). 
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Essa concepção de que a ciência psicológica necessita dialogar com os cenários sociais, 
políticos e econômicos do seu povo, no nosso caso, o povo brasileiro, também é sustentada pelo 
Código de Ética do Psicólogo/a, que em seus “Princípios fundamentais” indica: “III. O psicólogo atuará 
com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, 
social e cultural” (CFP, 2005). 
 
VÍDEO 3 
É ISSO AÍ! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: 
 conhecer os pré-socráticos e o problema da “origem”; 
 estudar o dualismo que nasce com Platão; 
 aprender sobre o desenvolvimento dos primeiros métodos de conhecimento; 
 entender as ressonâncias da filosofia nas discussões sobre corpo-mente e saúde-doença; 
 compreender que a Ciência Psicológica é um Campo de Dispersão. 
REFERÊNCIAS 
BOCK, A. M. B. A evolução da Psicologia. In: BOCK, A. M. B. Psicologias: uma introdução ao estudo de 
psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008. 
CASERTANO, G. Os pré-socráticos. São Paulo: Loyola, 2011. 
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CASTRO, M. G.; ANDRADE, T. M. R.; MULLER, M. C. Conceito mente e corpo através da 
história. Psicologia em Estudo [online], 2006, v. 11, n. 1, p.39-43. 
COTRIM, G.; FERNANDES, M. Fundamentos da filosofia e manual do professor. São Paulo: Saraiva, 
2016. 
DANIELA, I. O velar como des-vela-dor da vida: a possibilidade da natalidade (re)velada no plantão 
psicológico. 2016. Dissertação [Mestrado em Psicologia Clínica]. Universidade Católica de 
Pernambuco (UNICAP). Recife: UNICAP, 2016. 
FIGUEIREDO, L. C. Revisitando as psicologias: da epistemologia à ética das práticas e discursos 
psicológicos. Petrópolis: Vozes, 2009. 
FREIRE, I. R. Raízes da Psicologia. Petrópolis: Vozes, 2008. 
PINHEIRO, M. Comportamento Humano – interação entre genes e ambiente. Educar, n. 10, p. 53-57, 
Curitiba, UFPR, 1995. 
SCHULTZ, S. E.; SCHULTZ, D. P. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cengage Learning, 2009. 
SILVA, F. E.; DANIELA, I. Graduações com viés mercadológico: implicações para a prática psicológica 
no Brasil. 2019. In: Anais do II Seminário Internacional da união Latino Americano de Entidades de 
Psicologia. Disponível 
em: http://www2.pol.org.br/inscricoesonline/ulapsi/2019/anais/detalhe.cfm?id=9025. Acesso em: 
03 fev. 2020. 
http://www2.pol.org.br/inscricoesonline/ulapsi/2019/anais/detalhe.cfm?id=9025

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