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TEORIA
DA IMAGEM
Rafaela Queiroz 
Ferreira Cordeiro
Imagem, comunicação 
e cultura
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Introduzir a noção de cultura para os estudos da semiótica.
 � Apontar a natureza social do processo comunicativo.
 � Identificar o papel do contexto na interpretação da imagem.
Introdução
A noção de cultura é comumente empregada para designar toda forma de 
expressão humana. Para os estudos da Semiótica da Cultura (SC), também 
chamada de Escola de Tartu-Moscou (ETM), a cultura é caracterizada como 
um sistema de sistemas, isto é, como um sistema constituído por vá-
rios sistemas de signos. A esse respeito, é importante você compreender 
que, na visão de Lotman, um dos representantes mais famosos desse campo 
de estudo, os sistemas de signos devem ser investigados no tempo e 
no espaço em que surgiram, e não de maneira abstrata. Desse modo, o 
conceito de contexto é relevante para se perceber a dinâmica dos sistemas 
culturais, os quais elaboram mundos de cultura próprios.
Neste texto, você vai aprender sobre a noção de cultura, refletida pelos 
estudos da semiótica da cultura. Além disso, vai identificar a comunicação 
como um processo fundamentalmente social e compreender o papel 
do contexto na interpretação da imagem.
A noção de cultura para a semiótica
Comumente, se define a cultura como toda forma de expressão humana. Nas 
diversas trajetórias históricas, as quais marcaram e continuam a caracterizar 
a construção das identidades sociais, qualquer coisa pode adquirir sentido, 
isto é, de maneira geral, tudo pode ser um signo. Uma caricatura política, uma 
gravura romântica numa árvore do parque, um videoclipe de uma cantora pop, 
um seriado televisivo de caráter documental, uma reportagem jornalística 
intimista, um romance best-seller: são todos signos que apontam para as pro-
duções culturais humanas atuais ou, pelo menos, de uma época mais recente. 
Uma leitura analítica da significação de cada signo pode levá-lo a perguntar 
o que cada um ativa em você. Dito de outro modo, retomando as palavras de 
Joly (2007), “[...] o que cada imagem ativa em nós de convenções, de história 
e de cultura mais ou menos interiorizadas [...]”? Explorar criticamente o que 
os textos constroem, em especial no âmbito de estudo desenvolvido aqui, e 
refletir sobre o que a imagem constrói de significação são aprendizados 
primordiais para aqueles que desejam se aprofundar no estudo das formas de 
comunicação contemporâneas. Além de o uso de textos visuais se caracterizar 
como uma das formas dominantes de os indivíduos se “expressarem”, você 
pode considerar também que a natureza desses textos é profundamente cultural.
Escola de Tartu ou Escola de Tartu-Moscou
A interpretação que os indivíduos fazem dos signos, sejam estes visuais, 
plásticos, verbais, etc., é profundamente marcada pelo contexto cultural e 
coletivo de cada sociedade. Dentro do campo de estudo da cultura associado 
à perspectiva da semiótica, há uma corrente que se destaca, que é chamada de 
semiótica da cultura. Esse campo foi formado por um grupo de estudiosos 
russos, entre eles Yuri Mikhailovich Lotman. Tal grupo, que ficou conhecido 
ainda pela denominação Escola de Tartu ou Escola de Tartu-Moscou, não 
desenvolveu uma teoria unificada, uma vez que aborda uma variedade de 
temas sob fundamentos teóricos os mais diversos (NÖTH, 2000, p. 97 apud 
KIRCHOF, 2010, p. 64). Apesar dessa variedade, há em Kirchof (2010) a 
enumeração de algumas características que marcaram a investigação realizada 
por essa escola: a interdisciplinaridade, a proximidade entre as ciências exatas 
e as humanas, o interesse pela história russa, pelas formas de comunicação 
humana e pelas culturas, além de muitas outras. Pode-se dizer ainda que a 
mais importante característica dessa escola é o tratamento dado às formas de 
comunicação que são tomadas como sistemas de signos.
Imagem, comunicação e cultura2
Yuri Mikhailovitch Lotman (1922–1993) foi um dos nomes de destaque dos estudos 
semióticos que abarcaram a área da cultura. Após se tornar doutor em filologia, tornou-
-se professor da Universidade de Tartu, na Estônia. A partir de 1964, o russo passa a ser 
o editor da revista Estudos de sistemas do signo, publicada pela mesma universidade. 
Em 1969, foi eleito um dos quatro vice-presidentes da Associação Internacional de 
Estudos Semióticos em Paris (KIRCHOF, 2010).
Diante do contexto do regime stalinista, que dificultou o andamento dos estudos 
semióticos russos, além da influência de Lotman na Universidade de Tartu, a semiótica 
russa passou a ser transferida para a Estônia. Isso possibilitou a formação de um grupo 
de estudiosos da semiótica, a partir do ano 1960, sob o nome de Escola de Tartu. Essa 
escola se tornou conhecida por muitos como o grupo representante da semiótica da 
cultura, em virtude de os seus integrantes priorizarem o estudo da cultura por meio 
da semiótica (KIRCHOF, 2010). 
Ainda é importante você saber que o estudo da linguagem naquela época estava 
mais circunscrito aos campos da linguística e da literatura. Assim, aqueles intelectuais 
russos – tais como Vyacheslav Ivanov, B. F. Egorov, T. J. Elizarenkova e V. N. Todorov 
(SEBEOK, 1988 apud KIRCHOF, 2010), entre muitos outros – se reuniam em torno do 
interesse de investigar o papel da linguagem nas suas diversas manifestações culturais 
(VELHO, 2009). 
Segundo Kirchof (2010), os semioticistas de Tartu não estudavam o signo 
isoladamente, mas a linguagem como um sistema semiótico – o que os apro-
ximaria, para Lotman, da escola do linguista suíço Saussure. A propósito, o 
interesse e a produção teórica de Lotman podem ser divididos em algumas 
fases: na primeira, de 1950 a 1964, o russo se preocupa principalmente com 
a história literária russa; na segunda, de 1964 a 1974, com as investigações 
semióticas propriamente ditas; na terceira, a partir dos anos 1980, as reflexões 
de Lotman são direcionadas para as noções de biosfera e semiosfera. A respeito 
dessa divisão, elaborada por Sanchez (1996, p. 253 apud KIRCHOF, 2010), se 
verifica ainda uma subdivisão no segundo momento mencionado: de 1964 a 
1970, se destacam as pesquisas em torno de analogias entre a língua natural 
e os outros sistemas de signo (mitos, por exemplo). A partir de 1970, surge 
uma maior preocupação com a tipologia da cultura, que era caracterizada 
como sistema de sistemas.
A semiosfera foi uma noção criada por Lotman para tratar da cultura 
como um sistema de sistemas (KIRCHOF, 2010). Caracterizada como o oposto 
da biosfera, aquela diz respeito ao mundo semiótico, da semiose, no qual 
as pessoas usam os sistemas de signos (semióticos) para se comunicar. Já a 
3Imagem, comunicação e cultura
biosfera constitui o mundo natural, da natureza, que ainda não está organizado 
por meio de sistemas semióticos. Na visão de Lotman, a cultura é o lugar da 
semiosfera. Esta se divide ainda em várias linguagens e, por isso, existem as 
subsemiosferas. No entanto, é fundamental você perceber que, na concepção 
desse teórico russo, os sistemas e subsistemas devem ser estudados no tempo 
e espaço em que surgem, e não de maneira abstrata. Tendo em vista que os 
sistemas são dinâmicos, concretos e variam contextualmente – de contexto 
para contexto –, os sistemas culturais elaboram mundos culturais próprios 
(SANCHEZ, 1989, p. 260 apud KIRCHOF, 2010, p. 64).
De acordo com Velho (2009), a tradição teórica dos pesquisadores do grupo 
da já extinta União Soviética – oficialmente chamada de União das Repúblicas 
Socialistas Soviéticas (URSS), o estado socialista que existiu de 1922 até 1991 
– cobre um amplo conjunto de debates sobre os aspectos sociais, filosóficos, 
tecnológicos, etc. que influenciam a produção dos sentidos dos signos, além dos 
processos comunicativos, em uma dada cultura. Esta, tomada como linguagem, 
abrange todas as dimensões da vida humana. Desse modo, os pesquisadores 
dessa escola buscaram compreenderqualquer forma de expressão, qualquer 
linguagem, além daquelas que fazem parte da esfera social. Dito de outro modo, 
eles questionavam sobre como os sentidos são produzidos no dia a dia: quais 
regras regem as linguagens?, quais as suas ações no sistema da cultura?, como 
se constroem as várias linguagens, isto é, as várias formas de expressão? Os 
semioticistas russos propõem uma metodologia que descreve as representações 
culturais que vão muito além das formas estruturais da língua. Na visão deles, 
as formas de expressão constituem vários tipos de signos ou, melhor, um amplo 
conjunto sígnico. Isso significa dizer que o sistema da cultura se organiza e 
se desenvolve em diversos sistemas de signos, tais como: o gestual, o visual, 
o sonoro, o arquitetônico, o gráfico, o verbal, etc. 
Assim, a cultura é compreendida como uma memória que não é genética. 
Memória, porque constitui um conjunto de informações que os grupos sociais 
acumularam e continuam a acumular e a transmitir entre seus integrantes. 
Afinal, as pessoas são seres históricos que produzem continuamente novos 
elementos e valores culturais. Essa transmissão de informações – dos signos 
da cultura – se dá por meio de diversas manifestações que fazem parte do 
cotidiano, como as artísticas, as religiosas, as educativas, as morais, etc. Tais 
formas de expressão formam um continuum semiótico, isto é, um tecido 
sígnico que estrutura a base das relações diárias. Essa “inteligência coletiva”, 
como também é caracterizada a cultura, considera muito além dos aspectos 
sociais: todos os fenômenos que constituem o cotidiano fazem parte da cultura. 
É importante você notar que a cultura é um mecanismo, um processo, uma 
Imagem, comunicação e cultura4
dinâmica de organização, conservação e transmissão de informação, e não 
um depósito (VELHO, 2009).
Confira, no link ou no código a seguir, os artigos pu-
blicados na revista Eikon – Semiótica e Cultura (2017-). 
Você encontrará publicações de caráter multidiscipli-
nar em diversas línguas. Essas publicações versam 
sobre temas relativos ao campo da semiótica e aos 
estudos da área da cultura. Esse periódico é on-line, 
tem acesso aberto e é realizado com a curadoria 
do LabCom.IFP, que é uma unidade de pesquisa na 
área de comunicação, filosofia e humanidades da 
Faculdade de Letras e Artes da Universidade da Beira 
Interior (UBI), em Portugal.
https://goo.gl/vq2P49
A comunicação e a sua natureza social
As várias maneiras de você se comunicar e se representar – e, por conseguinte, 
de construir os objetos e o mundo – estão relacionadas às mudanças opera-
das pelo homem ao longo da história. Essas transformações, é importante 
que você perceba, também acompanham as necessidades humanas. Esse foi 
provavelmente um dos fios condutores que levou os estudiosos da semiótica 
da cultura a entender os processos de significação e de comunicação de um 
grupo, processos esses que constituem as representações culturais nos dife-
rentes contextos sociais e históricos (VELHO, 2009). Dentro desse panorama 
investigativo sobre as várias instâncias de comunicação na sociedade, a qual 
se realiza a partir das diversas linguagens, há uma noção fundamental trazida 
pelo filósofo, crítico literário e pensador russo Mikhail Mikhailovich Bakhtin 
(1895–1975). Essa noção é chamada de dialogismo, a qual permite compreender 
a construção dos sentidos para além das estruturas da língua. Dito de outo 
modo, é por meio dos valores (axiologias) sociais, culturais e históricos que 
fazem parte de um já-dito, os quais são retomados no processo enunciativo, 
que as pessoas elaboram o seu discurso. A comunicação é, por natureza, social. 
Ela se realiza – seja esse processo uma fala interior e/ou direcionada a um 
5Imagem, comunicação e cultura
https://goo.gl/vq2P49
outro fisicamente presente no espaço – por meio dos sentidos, que constituem 
a memória dos já-ditos compartilhada pelos indivíduos numa sociedade. 
Do diálogo ao dialogismo bakhtiniano
Conforme as discussões trazidas por Bakhtin (2003) e seus pares – tais como 
Volochínov e Medviédev –, o diálogo é a forma mais natural da linguagem. 
Mesmo quando você está diante do espelho contemplando os várias pensa-
mentos que tece a seu respeito, esses pensamentos são sociais. A linguagem é 
eminentemente social, já dizia Volochínov (2013). Qualquer palavra ou imagem, 
somente pensada, é dirigida a outrem, a um outro, mesmo que este não seja 
real, físico e concreto, mas que esteja somente idealizado na sua consciência. A 
linguagem, como produto da atividade humana, tem uma relação íntima com 
a vida e a sua organização social. Desse modo, foi somente pela existência de 
um outro que a linguagem se originou. É esse outro que nos constitui como 
humanos e, acima de tudo, como sujeitos de linguagem e de comunicação. 
Além dessa noção, há outra fundamental para os estudos da comunicação 
e da cultura: o dialogismo. A noção do dialogismo bakhtiniano é fundamental 
para os estudos promovidos por Lotman na Escola de Tartu-Moscou, uma 
vez que este se apropria dessa conceituação na reflexão que promove sobre 
o mecanismo da cultura (VELHO, 2009). Segundo Cunha (2002), o termo 
dialogismo é um aspecto novo introduzido pela teoria de Bakhtin. Essa noção 
não está vinculada a uma simples troca de réplicas ou falas em uma conver-
sação. De caráter mais amplo, trata da relação do enunciado – a unidade e 
elo comunicativo (cf. tópico a seguir) – com outros anteriores e outros que 
ainda estão por vir, já que a fala se insere em uma corrente ininterrupta de 
comunicação verbal. Dessa maneira, todo enunciado é uma resposta a um 
já-dito e antecipa outros que ainda estão por vir.
Imagem, comunicação e cultura6
Figura 1. Na reflexão sobre a cultura feita pelos estudos da SC, Lotman se apropria do 
conceito de dialogismo do pensador russo Bakhtin.
Fonte: BesticonPark/Shutterstock.com. 
Enunciado: a unidade mínima da comunicação
O enunciado, que é elaborado na comunicação, é a unidade que a compõe. 
Cada um corresponde a um tipo específico de comunicação social – há os 
enunciados dos gêneros poéticos, jornalísticos, etc.
De maneira geral, você pode considerar como características do enunciado as listadas 
a seguir (BAKHTIN; VOLOCHÍNOV, 2006; VOLOCHÍNOV, 2013):
 � é uma unidade da comunicação verbal;
 � apresenta uma alternância entre os sujeitos falantes;
 � não comporta um início e um fim “absolutos”, uma vez que antes e depois dele há 
muitos outros enunciados e ainda outros em porvir;
 � tem um acabamento interior específico e um propósito comunicativo;
 � tem uma organização estilística;
 � é sempre dirigido a alguém.
7Imagem, comunicação e cultura
Os enunciados em conjunto constituem os gêneros discursivos, os quais se 
caracterizam para Bakhtin (2003) como as diversas atividades correspondentes 
às esferas humanas. Como toda produção da linguagem está relacionada a uma 
atividade humana, há tantas formas de gêneros quanto atividades. Assim, as 
pessoas aprendem a falar por gêneros. Além disso, esses gêneros são relati-
vamente estáveis, pois são reconhecidos nas mais diversas situações. Apesar 
disso, estão abertos a possibilidades de modificações ao longo do tempo e do 
espaço, conforme as mudanças ocorridas nas necessidades sociais.
Assim, a partir das reflexões sobre a noção de cultura da SC e do dialo-
gismo de Bakhtin, você pode compreender a natureza da comunicação como 
um processo de experimentação e encontro entre o um e o outro. Ora, um 
sentido pede outro sentido para que aquele seja compreendido. Um signo 
necessita de outro signo para existir, um enunciado de outro enunciado, e é 
assim que os seres humanos se constituem.
O papel do contexto na interpretação da 
imagem
Da mesma forma que os signos verbais não devem ser interpretados de forma 
isolada, os signos visuais devem ser avaliados por meio de um contexto mais 
amplo. Assim como uma palavra pode ter significados distintos conforme 
os numerosos contextos em que é empregada, uma imagempode apresentar 
sentidos variáveis entre países, sociedades, comunidades e até entre grupos 
menores de pessoas. Há vários exemplos que podem ajudar você a pensar 
sobre a relação entre produção, veiculação e significação de imagens com o 
seu contexto cultural: (1) a imagem da vaca na Índia é alvo de adoração, pois 
esta é considerada um animal sagrado pelos indianos; (2) o gesto visual de 
Ok feito com os dedos da mão por boa parte dos norte-americanos pode ser 
considerado ofensivo em alguns países, tal como no Brasil, além de na Turquia 
e na Rússia (POLITO, 2008); e (3), de maneira geral, é possível afirmar ainda 
que a publicidade comercial brasileira abusa de imagens femininas a partir de 
uma dimensão sexualizada, enquanto isso não se dá com tanta frequência em 
outros países – na publicidade comercial do Canadá, por exemplo, é comum 
o uso de animais nas propagandas. 
Para você compreender a noção de contexto, tão cara aos estudos da lin-
guagem vista na perspectiva da produção do sentido e do discurso, pode 
recorrer às reflexões que Bakhtin e Volochínov (2006) e Volochínov (2013) 
elaboram sobre o enunciado. Essa, aliás, é a unidade mínima da comunicação. 
Imagem, comunicação e cultura8
Quando se fala em enunciado, é importante você compreender que este pode 
ser verbal ou não verbal. Ou seja, pode ser um gesto, uma expressão verbal, 
uma imagem, uma manchete, um conto, uma escultura, uma arquitetura, etc. 
Cada enunciação, isto é, cada processo enunciativo do qual o enunciado faz 
parte e a partir do qual é “enunciado”, deve ser observada a partir dos eixos 
alteritário e social. Assim, um simples gesto visual de Ok feito com os dedos 
da mão não pode ser visto de forma isolada. O caráter social acentuado pelas 
reflexões bakhtinianas – além de pelos seus pares – amplia a compreensão 
da semiótica da cultura sobre temas como linguagem, sentido, comunicação, 
cultura, etc. Desse modo, essa referência teórica é mais do que fundamental 
para o seu estudo.
Conforme Bakhtin e Volochínov (2006) e Volochínov (2013), o contexto 
é entendido como a situação que engloba as condições reais que permitem o 
surgimento dos enunciados. Essa concepção é importante para você refletir 
sobre o funcionamento da linguagem – tratada pela SC como “sistemas de 
signos”. Ela também é fundamental para você pensar sobre a produção do 
sentido, sempre valorativa (axiológica), que constitui as diversas culturas. Além 
disso, é útil para que você analise a comunicação, a qual inclui a presença 
física ou virtual de pessoas que participam de uma situação específica. Essa 
presença, chamada de auditório, determina a construção do enunciado em 
uma determinada relação comunicativa. Ora, quando você enuncia um simples 
hum, por exemplo, muitas vezes em forma de murmúrio, está respondendo a 
alguma coisa: a uma mudança climática, a uma chuva repentina, a um auxílio 
solicitado por um amigo, a um pensamento que surge da indagação dada por 
um professor, etc. Para essa interpretação, ainda é preciso considerar o papel 
da entonação, a qual pode ser dada ao conteúdo escrito ou falado. Sem ela, 
um simples hum é apenas um hum, o qual comunica o mesmo e não produz 
outro sentido a mais.
Bakhtin foi o pensador russo que concebeu a linguagem como interação. Nessa 
perspectiva, introduziu noções basilares para se pensar sobre a natureza e o funcio-
namento da linguagem. Entre essas noções, você pode considerar as de enunciado, 
gênero, dialogismo, entonação, voz, entre muitas outras. Seus estudos se voltaram 
tanto para questões literárias – como a do discurso no romance – quanto para 
questões relativas à constituição e à ação do homem comum, na vida – como a do 
discurso cotidiano. 
9Imagem, comunicação e cultura
A imagem como o contexto da imagem
Segundo Santaella e Nöth (1998, p. 57), uma imagem individual pode ser 
interpretada também a partir de outras imagens, as quais podem funcionar 
como contextos. É o caso, por exemplo, das fotografias usadas na imprensa 
jornalística e na propaganda publicitária – essas fotografias estariam em uma 
relação de contiguidade –, além das que aparecem nos filmes – em relação 
sequencial. No campo do cinema, o efeito Kuleshov na montagem de um filme 
mostra, conforme discutem os autores citados a partir de Levaco (1971), que 
o sentido que o público aponta para uma imagem específica X se modifica 
fundamentalmente caso essa imagem seja mostrada em contiguidade com 
uma imagem específica Y ou Z. Há ainda outro estudo interessante a esse 
respeito, elaborado por Thibault-Laulan (1971) no campo da fotografia. Esse 
autor aponta que imagens organizadas em disposição, uma ao lado da outra, 
se ligam semanticamente por uma lógica de atribuição, enquanto outras em 
ordem cronológica se relacionam por uma lógica de implicação, uma vez 
que as noções de ordem e cronologia constroem uma relação causal. Esses 
estudos apontam para a noção fundamental do contexto imagístico, ou seja, 
para a existência de um contexto para além do verbalizado. Tal afirmativa, 
no entanto, já é de certo modo comum aos estudos semióticos, em virtude de 
que cada signo é observado a partir de seu contexto. Dito de outro modo, não 
há signo sem contexto.
Imagem, comunicação e cultura10
Uma das campanhas publicitárias da marca Dove (c2017) tem como alvo a busca pela 
real beleza. Um anúncio que integra a campanha mostra a evolução da imagem de 
uma modelo e é um exemplo que permite compreender o sentido da imagem a partir 
do contexto de outras imagens. A “evolução” da imagem da modelo é apresentada 
desde o início da produção da artista – com a aplicação da maquiagem e a arrumação 
do cabelo – até os ajustes finais feitos por um programa de edição de imagens – os 
quais incluem mudanças consideráveis na pele, no pescoço, no cabelo, etc. da per-
sonalidade. Como resultado final, se obtém um rosto completamente diferente do 
daquela modelo real. 
O que a marca busca alcançar com a campanha? Embora existam interesses financei-
ros e de promoção da marca junto ao público, um dos objetivos da peça publicitária 
é colocar em questão a concepção de beleza produzida e veiculada pela mídia. No 
entanto, é importante você perceber que a compreensão dessa mensagem pelo 
espectador só é possível a partir da leitura das sequências das imagens distribuídas 
no vídeo, e não por meio da visualização de uma imagem isoladamente, a saber, a 
última. Uma vez que o acesso que o público tem sobre as imagens publicitárias de 
maneira geral é restrito – a não ser quando se trata do produto final a ser lançado –, 
a construção do vídeo permite a análise da última imagem – que é uma propaganda 
em outdoor – dentro do contexto de sua elaboração.
Fonte: Hilmir (2006).
Considerações finais
Diante do que você viu até aqui, é fundamental que possa observar e projetar 
o seu olhar interpretativo sobre as imagens de forma cuidadosa, atentando, se 
possível, para não minorizar o significado atribuído a elas pelo outro. Assim, 
você poderá aprender a desenvolver um pouco mais de consciência sobre as 
diferentes leituras culturais e as suas implicações no processo de significação 
da imagem. Esta precisa, portanto, ser lida, compreendida e analisada dentro 
de um contexto mais amplo – histórico, social, político e cultural. Esse con-
texto, por sua vez, pode incluir tanto, quando for o caso de serem usados, os 
signos verbais como as palavras e os enunciados circunstanciais que podem 
participar do processo de construção da imagem. Além disso, pode haver 
outros elementos sígnicos empregados.
Ademais, nas discussões elaboradas por Bakhtin (2003) e Bakhtin e Vo-
lochínov (2006), se reafirma a necessidade de estudar o todo do enunciado, 
reconhecendo-o não só como uma unidade mínima da comunicação, mas 
11Imagem, comunicação e cultura
acima de tudo como um elo da cadeia comunicativa: os enunciados estão 
em relação dialógica, movimento impossível para as unidades da língua. 
Logo, não é possível compreender os gêneros do discurso,isto é, as esferas 
da comunicação, se baseando só no conteúdo, sem considerar o social e o lado 
subjetivo do indivíduo como instâncias importantes para a comunicação. Nessa 
dinâmica social, o dialogismo é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes 
eixos norteadores para situar a relação entre linguagem – verbal e não verbal 
–, comunicação e cultura.
Por fim, é importante você ter mente que a cultura, tomada como um sis-
tema de sistemas pela Escola de Tartu-Moscou, não é um depósito de signos. 
Ela é um mecanismo dinâmico que permite a conservação e a transmissão de 
determinadas informações, assim como a elaboração de outras. Nesse pano-
rama, o signo só passa a adquirir um significado coletivo quando compartilhado 
entre os indivíduos de um mesmo grupo social. Nesse processo, a constituição 
da memória é assegurada e necessária para a organização e a manutenção das 
várias linguagens e/ou formas de expressão entre os indivíduos.
Imagem, comunicação e cultura12
1. Qual das definições a seguir 
conceitua corretamente a noção de 
cultura para a semiótica da cultura?
a) A cultura é o lugar da biosfera.
b) A cultura é uma 
memória genética.
c) A cultura é um depósito 
de informação.
d) A cultura é um sistema 
estático de signos.
e) A cultura é um sistema de 
sistemas semióticos.
2. O que foi a semiótica da cultura?
a) Foi um campo formado por 
estudiosos russos que elaborou 
uma teoria unificada sobre o 
sistema cultural por meio do 
estudo sobre o signo verbal.
b) Foi um campo formado por 
estudiosos norte-americanos que 
elaborou uma teoria não unificada 
sobre a cultura e a semiótica.
c) Foi um campo formado por 
estudiosos norte-americanos que 
elaborou uma teoria unificada 
sobre a cultura e a semiótica.
d) Foi um campo formado por 
estudiosos russos que elaborou 
uma teoria unificada sobre a 
cultura a partir da reflexão sobre 
o sistema de signo visual.
e) Foi um campo formado por 
estudiosos russos que elaborou 
uma teoria não unificada sobre 
a cultura a partir da reflexão 
sobre os sistemas de signos.
3. A respeito da noção de 
comunicação, marque a 
alternativa correta a seguir.
a) A comunicação é individual e se 
relaciona às mudanças operadas 
pelo homem na história.
b) A comunicação interior faz parte 
de um processo enunciativo 
que é meramente individual.
c) A comunicação é social e se 
relaciona às mudanças operadas 
pelo homem na história.
d) A comunicação é social e 
considera os enunciados 
ditos pelas pessoas 
fisicamente presentes.
e) A comunicação é individual 
e interior à elaboração do 
pensamento antes da enunciação.
4. Qual noção elaborada pelas 
reflexões bakhtinianas é retomada 
pela Escola de Tartu-Moscou 
em virtude da importância que 
trouxe para a compreensão do 
processo comunicativo como 
fundamentalmente social? 
a) Cultura
b) Dialogismo
c) Gênero
d) Informação
e) Sistema
5. Durante o processo de interpretação 
da imagem, o contexto é o ponto 
de partida indispensável para 
uma leitura crítica dela. Qual das 
terminologias a seguir caracteriza 
mais adequadamente o contexto?
a) Informação verbal
b) Informação extraverbal
c) Auditório
d) Entoação
e) Situação social
13Imagem, comunicação e cultura
BAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso [1952-1953] In: BAKHTIN, M. M. Estética da 
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Leitura recomendada
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Imagem, comunicação e cultura14
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