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LEGISLAÇÃO-E-DIREITOS-DO-CONSUMIDOR-EM-SAÚDE

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SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 
1 DIREITOS SOCIAIS ....................................................................................... 4 
2 ESTRUTURA DA SEGURIDADE SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL 4 
2.1 Saúde ............................................................................................................. 7 
2.1.1 A execução dos serviços de saúde. O SUS. ................................................ 11 
2.1.2 A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ...................................... 12 
2.1.3 Objetivos e atribuições do SUS .................................................................... 15 
2.1.4 Sobre a vigilância sanitária e epidemiológica ............................................... 15 
2.1.5 Sobre a saúde do trabalhador e assistência terapêutica integral, inclusive 
farmacêutica ................................................................................................. 16 
2.1.6 Descentralização da gestão do SUS ............................................................ 18 
3 O DIREITO DO CONSUMIDOR ................................................................... 18 
4 DEFINIÇÃO DE RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO .............................. 19 
5 RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO — CASO ESPECIAL ...................... 20 
5.1 Relação entre cooperativa de assistência à saúde e filiados e a crítica 
doutrinária sobre a exclusão dos planos de saúde geridos pelo sistema de 
autogestão .................................................................................................... 20 
6 FUNCIONAMENTO, REGULAÇÃO E CONTRATUALIZAÇÃO DOS 
PLANOS DE SAÚDE ................................................................................... 27 
6.1 A Contratualização no Mercado de Planos de Saúde ................................... 29 
 
7 A EFICÁCIA DO DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE NOS CONTRATOS 
DE PLANO DE SAÚDE ................................................................................ 33 
8 A INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR AOS 
CONTRATOS DE PLANOS DE SAÚDE ...................................................... 36 
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 38 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno, 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
4 
 
1 DIREITOS SOCIAIS 
Os direitos sociais possuem uma posição de prestígio nas Constituições. 
A Constituição social mexicana de 1917 consolidou seu reconhecimento e, 
posteriormente, a Constituição alemã de Weimar, de 1919, foram erigidos ao status 
de direitos fundamentais de 2.ª dimensão. 
Os direitos sociais impõem uma prestação positiva (obrigação de fazer) dos 
Poderes Públicos, por esse motivo, esses direitos são também conhecidos como 
direitos prestacionais ou direitos de promoção. 
Devido isso, é certo que, juntamente com o título dos direitos fundamentais, a 
ordem social forma o núcleo substancial do regime democrático instituído. 
No entanto, o título da ordem social misturou assuntos que não se afinam com 
essa natureza”, como ciência e tecnologia e meio ambiente. 
O art. 193 insere o conteúdo, afirmando que a ordem social tem como base o 
primado do trabalho e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. (PADILHA, 2020). 
2 ESTRUTURA DA SEGURIDADE SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
Sobre a estruturação da seguridade social AGOSTINHO (2020) explica que “a 
Seguridade Social teve seu sistema introduzido no ordenamento jurídico brasileiro 
pela Constituição Federal de 1988, esse sistema é composto pela Saúde; Previdência 
Social; Assistência Social, conforme previsto na redação constitucional do art. 194, a 
seguridade social contempla em um conjunto integrado de ações sobre a iniciativa 
dos Poderes Públicos e da sociedade, com o objetivo de assegurar os direitos relativos 
à saúde, à previdência e à assistência social. “ A seguridade social é ampla, 
abrangindo o direito à saúde, previdência social e assistência social, SANTOS (2020) 
com relação a seguridade social aduz que “o art. 6º da CF elenca os direitos sociais, 
disciplinados pela Ordem Social, tem por objetivo promover a redução das 
desigualdades sociais. Em meio aos direitos sociais está a seguridade social que por 
sua vez encontra-se positivada e nosso ordenamento jurídico no art. 194 da CF/88, a 
seguridade social é composta pelo direito à saúde, pela assistência social e pela 
previdência social. A solidariedade é o fundamento da seguridade social. ” SANTOS 
ainda complementa: 
 
5 
 
 
(...). Todos, ricos ou pobres, segurados da previdência ou não, têm o mesmo 
direito à saúde (art. 196). Portanto, todos os que vivem no território nacional, 
de alguma forma, estão ao abrigo do “grande guarda-chuva da seguridade 
social”, pois a seguridade social é direito social, cujo atributo principal é a 
universalidade, impondo que todos tenham direito a alguma forma de 
proteção, independentemente de sua condição socioeconômica. A 
seguridade social garante os mínimos necessários à sobrevivência. É 
instrumento de bem-estar e de justiça social, e redutor das desigualdades 
sociais, que se manifestam quando, por alguma razão, faltam ingressos 
financeiros no orçamento do indivíduo e de sua família. O direito subjetivo às 
prestações de seguridade social depende do preenchimento de requisitos 
específicos. Para ter direito subjetivo à proteção da previdência social, é 
necessário ser segurado, isto é, contribuir para o custeio do sistema porque, 
nessa parte, a seguridade social é semelhante ao antigo seguro social. O 
direito subjetivo à saúde é de todos, e independe de contribuição para o 
custeio. O direito subjetivo às prestações de assistência social, dado a quem 
dela necessitar, na forma da lei, também independe de contribuição para o 
custeio. Prestações de seguridade social é o gênero do qual benefícios e 
serviços são espécies. Os benefícios são as prestações pagas em dinheiro. 
(SANTOS, 2020. P. 44-45) 
Ainda sobre a Constituição de 1988 e seguridade social CASTRO E LAZZARI 
(2020) comentam que a Constituição Federal de 1988 determina ao Estado atuar nas 
áreas da saúde, assistência social e previdência social, com base nessa atribuição, 
as contribuições sociais passaram a custear as ações do Estado nas três áreas, não 
cabendo mais somente o custeio no campo da Previdência Social. Anteriormente já 
havia dispositivo legal que determinava a transferência de recursos da Previdência 
Social para o então Sistema Único Descentralizado de Saúde – SUDS, hoje Sistema 
Único de Saúde – SUS. O Regime Geral de Previdência Social – RGPS, A redação 
do artigo 201 na atual Constituição, não abriga a totalidade da população 
economicamente ativa, mas somente aqueles que, mediante contribuição e nos 
termos da lei, fizerem jus aos benefícios, não sendo abrangidos por outros regimes 
específicos de seguro social. 
Do Regime Geral de Previdência excluem-se:
os servidores públicos civis, 
regidos por sistema próprio de previdência; os militares; os membros do Poder 
Judiciário e do Ministério Público; e os membros do Tribunal de Contas da União, 
todos esses possuem regime previdenciário próprio; e aos que não contribuem para 
nenhum regime, por não exercerem qualquer atividade é garantido o benefício 
substitutivo do salário ou rendimento do trabalho e ele não será inferior ao valor do 
salário mínimo conforme redação do art. 201, § 2º. 
 
6 
 
Deverão haver reajustes periódicos sobre os benefícios com o objetivo de se 
preservar seu valor real, em caráter permanente, conforme critérios definidos na lei. 
Pelas ações na área de saúde, destinadas a oferecer uma política social com a 
finalidade de reduzir riscos de doenças e outros agravos, é responsável o SUS (art. 
198 da Constituição), de caráter descentralizado. 
Deve-se compreender o direito à saúde como direito à assistência e tratamento 
gratuitos no campo da Medicina, sendo garantido a toda a população, 
independentemente de contribuição social, para que se preste o devido atendimento, 
tendo atribuições no âmbito da repressão e prevenção de doenças, produção de 
medicamentos e outros insumos básicos, bem como ordenar a formação de recursos 
humanos na área de saúde, participar da política e execução das ações de 
saneamento básico, incrementar o desenvolvimento científico e tecnológico, exercer 
a vigilância sanitária e as políticas de saúde pública, além de auxiliar na proteção do 
meio ambiente (art. 200 da CF). 
Em termos de regramentos legais, ressalte-se a edição da Lei n. 8.689/1993, 
que extinguiu o INAMPS – autarquia federal, absorvida sua competência funcional 
pelo SUS (sem personalidade jurídica própria), este gerido pelo Conselho Nacional de 
Saúde, na órbita federal, e pelos colegiados criados junto às Secretarias Estaduais e 
Municipais de Saúde, nas instâncias correspondentes. Cumpre ressaltar, ainda, que 
a Constituição prevê a prestação de serviços de saúde pela iniciativa privada, sem 
restrições (art. 199), podendo participar do SUS, de forma complementar, mediante 
contrato de direito público ou convênio (§ 1º), vedada a destinação de recursos 
públicos para auxílio ou subvenção de instituições privadas com fins lucrativos (§ 2º). 
No âmbito da Assistência Social, são assegurados, independentemente de 
contribuição à Seguridade Social, a proteção à família, à maternidade, à infância, à 
adolescência e à velhice; o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; a 
promoção da integração ao mercado de trabalho; a habilitação e reabilitação 
profissional das pessoas portadoras de deficiência; e a renda mensal vitalícia – de um 
salário mínimo – à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não 
possuir meios de subsistência, por si ou por sua família (art. 203). 
É prestada por entidades e organizações sem fins lucrativos, no atendimento e 
assessoramento aos beneficiários da Seguridade Social, bem como pelos que atuam 
 
7 
 
na defesa e garantia de seus direitos, segundo as normas fixadas pelo Conselho 
Nacional de Assistência Social – CNAS. 
No âmbito federal, foram extintas a LBA e a CBIA (antiga FUNABEM), em 1995 
(Medida Provisória n. 813, de 1995, convertida na Lei n. 9.649/1998), ficando 
responsável pela política de Assistência Social o CNAS. A execução das ações na 
área da Assistência Social fica a encargo dos poderes públicos estaduais e 
municipais, entidades beneficentes e de assistência social (CF, art. 204, I). 
A habilitação e a reabilitação profissionais decorrentes da atividade laborativa 
são encargos da Previdência, ficando a cargo das entidades de assistência social a 
habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência congênita, ou não 
decorrente do trabalho (ex.: APAE, ABBR). 
Neste ponto, é de se frisar que a Assembleia Nacional Constituinte, ao dispor 
sobre a matéria em 1988, assegurou direitos até então não previstos, como por 
exemplo, a equiparação dos Direitos Sociais dos trabalhadores rurais com os dos 
trabalhadores urbanos, nivelando-os pelos últimos; a ampliação do período de licença-
maternidade para 120 dias, com consequente acréscimo de despesas no pagamento 
dos salários-maternidade, e a adoção do regime jurídico único para os servidores 
públicos da Administração Direta, autarquias e fundações públicas das esferas 
federal, estadual e municipal, unificando também, por conseguinte, todos os 
servidores em termos de direito à aposentadoria, com proventos integrais, 
diferenciada do restante dos trabalhadores (vinculados ao Regime Geral), que tinham 
sua aposentadoria calculada pela média dos últimos 36 meses de remuneração. 
(CASTRO; LAZZARI. 2020). 
Observada a amplitude da seguridade social a qual engloba, o direito à saúde, 
previdência social e assistência social, seguimos com o estudo da saúde: 
2.1 Saúde 
A saúde antes da CF/88 era associada ao Instituto de Assistência Médica da 
Previdência Social – INAMPS. A doutrina ainda explica brevemente que os serviços 
prestados eram disponibilizados apenas a quem contribuísse: “Os serviços prestados 
pelo INAMPS somente eram assegurados a quem contribuísse ativamente, ou seja, 
não era um direito universal, acessível a todo cidadão brasileiro. ” (AGOSTINHO, 
 
8 
 
2020. P. 29). Com o advento da Constituição Federal de 1988 ficou atribuído ao 
Estado a obrigação de dispor a saúde, garantindo o direito a saúde como um direito 
universal e por isso independendo de contribuição efetiva. AGOSTINHO comenta “ser 
um direito social materializado por todos os entes da federação através de políticas 
sociais e econômicas que objetivam reduzir o risco de doença, assegurando o acesso 
universal e igualitário a todo cidadão brasileiro, conforme prevê a redação do art. 196 
da CF: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas 
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e 
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e 
recuperação. ” Após a promulgação da Constituição Federal de 1988 foi instituído o 
SUS - Sistema Único de Saúde: 
 
A Constituição Federal de 1988 também instituiu o Sistema Único de Saúde 
– SUS, órgão financiado com recursos do orçamento da Seguridade Social, 
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. De acordo com 
o art. 198 da CF, o Sistema Único de Saúde possui as seguintes diretrizes: I 
– descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II – 
atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem 
prejuízo dos serviços assistenciais; III – participação da comunidade. 
Ademais, as instituições privadas, preferencialmente as entidades 
filantrópicas e as sem fins lucrativos, poderão participar de forma 
complementar do Sistema Único de Saúde, através de contrato de direito 
público ou de convênios (art. 199 da CF). (AGOSTINHO, 2020. P. 30) 
 
Façamos também a leitura do art. 199 da CF/88: 
 
Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. 
§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do 
sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de 
direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as 
sem fins lucrativos. 
§ 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções 
às instituições privadas com fins lucrativos. 
§ 3º É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais 
estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em 
lei. 
 
9 
 
§ 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção 
de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa 
e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e 
seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização. (BRASIL, 1988) 
 
AGOSTINHO também
ressalta acerca das entidades de iniciativa privada na 
área da saúde: 
Para as entidades da iniciativa privada é possível a atuação livre na área da 
saúde; no entanto, a Constituição Federal proíbe a destinação de recursos 
públicos para auxílios e subvenções às instituições privadas com fins 
lucrativos, permitindo apenas a participação de empresas ou capitais 
estrangeiros na assistência à saúde no Brasil nos casos previstos em lei. 
(AGOSTINHO, 2020. P. 30) 
Se tratando da saúde a Agostinho (2020. p. 102) trata de forma sintética: “A 
saúde pública não exige contribuição prévia; suas prestações estendem-se a toda a 
população e não estão condicionadas ao cumprimento de obrigações precedentes. ”. 
Seguimos com a doutrina de SANTOS (2020) referindo-se ao art. 196 da CF, ela 
explica que o dispositivo atende ao princípio da universalidade, seja da cobertura, seja 
do atendimento. 
Da cobertura, porque se dirige a todas as etapas: promoção, proteção e 
recuperação. Do atendimento, porque garante a todos o direito e o acesso igualitário 
às ações e serviços de saúde. 
Trata-se de direito subjetivo de todos quantos vivem no território nacional, que 
tem o Estado (Poder Público) como sujeito passivo, eis que contempla todos os que 
tiverem a sua saúde afetada, independentemente de filiação e de contribuição para o 
financiamento da seguridade social. 
Mas não é só do Estado o dever de garantir o direito à saúde, uma vez que 
essa responsabilidade também é das pessoas, da família, das empresas e da 
sociedade (Lei n. 8.080/90, art. 2º). 
O direito à saúde é amplo, a CF não fez distinções, daí se poder afirmar que 
abrange a saúde física e mental, tanto que o art. 3º, parágrafo único, da Lei n. 8.080/90 
dispõe que dizem respeito também à saúde as ações que se destinam a garantir às 
pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social. 
Tão importante é o direito à saúde que o art. 3º da Lei n. 8.080/90, na redação 
dada pela Lei n. 12.864/2013, dispõe que: “Os níveis de saúde expressam a 
 
10 
 
organização social e econômica do País”, indicando claramente que a ausência do 
Estado na efetivação desse direito apenas comprova o atraso no desenvolvimento 
econômico e social. 
A Lei n. 8.080, de 19.09.1990, dispõe sobre as condições para a promoção, 
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços 
correspondentes e dá outras providências. 
Regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde, executados 
isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais 
ou jurídicas de direito público ou privado (art. 1º). 
Atendendo uma vez mais ao princípio da universalidade, a Lei n. 9.836, de 
23.09.1999, instituiu o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. 
O art. 197 da CF deu relevância pública às ações e aos serviços de saúde. 
Cabe ao Estado, por meio de políticas econômicas e sociais, efetivar o direito à saúde 
de todos quantos se encontram no território nacional. 
O agir do Estado deve ser dirigido a reduzir o risco “doença” e outros agravos 
e garantir acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde, sempre com 
vista à sua promoção, proteção e recuperação (art. 196). 
A atuação estatal deve se voltar para todas as etapas da cobertura. Na etapa 
da promoção do direito à saúde, estão as ações de prevenção do risco doença e 
outros agravos, de que são exemplos as campanhas para prevenção da 
contaminação pelo vírus HIV, de prevenção de doenças endêmicas, de vacinação etc. 
Na etapa da proteção, propriamente dita, estão o atendimento e o tratamento 
necessários. E na etapa da recuperação deve ser facilitado o acesso a próteses, 
órteses e demais equipamentos necessários ao retorno para a vida em comunidade. 
As políticas econômicas e sociais de proteção à saúde não se situam apenas no 
campo da medicina. O art. 3º da Lei n. 8.080/90 dispõe que são fatores condicionantes 
e determinantes da saúde a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio 
ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o 
acesso aos bens e serviços essenciais, entre outros. 
A Lei n. 12.864, de 24.09.2013, alterou o art. 3º, passando a dispor que “Os 
níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País”, e acrescentou 
a atividade física como fator determinante e condicionante da saúde. O serviço de 
assistência à saúde é serviço público, quer seja prestado diretamente pelo Estado ou 
 
11 
 
pela iniciativa privada. A falta ou deficiência do serviço, caso acarrete dano para o 
usuário, poderá dar origem à responsabilidade objetiva do Estado e, 
consequentemente, ao dever de indenizar. A relação jurídica entre o titular do direito 
e o Estado garante apenas prestação de serviços, uma vez que não há até o momento 
previsão legal de pagamento de benefícios. (SANTOS, 2020). 
2.1.1 A execução dos serviços de saúde. O SUS. 
O art. 198 da CF dispõe que as ações e serviços de saúde integram uma rede 
regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único. 
O art. 4º da Lei n. 8.080/90 define o SUS como o conjunto de ações e serviços 
de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e 
municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder 
Público. 
O § 1º inclui no SUS as instituições públicas federais, estaduais e municipais 
de controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamentos, inclusive 
de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para saúde. A proteção à saúde é 
dada por meio da prestação de serviços públicos. Tais serviços podem ser executados 
diretamente pelo Poder Público, por intermédio de terceiros e por pessoas físicas ou 
jurídicas de direito privado. 
O art. 199 da CF autoriza que a iniciativa privada atue no setor de saúde. 
Entretanto, o legislador constituinte enfatizou que a atuação da iniciativa privada só 
pode ocorrer de forma complementar, impondo que o Poder Público continue a prestar 
diretamente o serviço. 
A disposição é repetida pelo § 2º do art. 4º da Lei n. 8.080/90. 
Os princípios e diretrizes constitucionais, explicitados na Lei n. 8.080/90, se 
aplicam não somente às instituições públicas que prestem serviços de saúde, mas 
também aos serviços privados contratados ou conveniados que integrem o SUS. 
O financiamento do SUS é feito com recursos do orçamento da seguridade 
social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras 
fontes (art. 198, § 1º, da CF). (SANTOS, 2020). 
 
12 
 
Conforme tratado a atuação na saúde feita através de iniciativa privada 
ocorrerá de forma complementar não excluindo a atuação do poder público, a doutrina 
nos explica de forma mais detalhada: 
Sempre que a atuação do Poder Público se mostrar insuficiente para garantir 
cobertura assistencial à população de uma determinada área, os serviços 
privados de saúde podem participar do SUS, em caráter complementar. Essa 
participação será viabilizada por contrato ou convênio, que devem ser 
precedidos de licitação, na forma do art. 24 e parágrafo único da Lei n. 
8.080/90. A exigência do procedimento licitatório para a participação da 
iniciativa privada tem sido confirmada pelo STF, que afirmou, inclusive, ter o 
Ministério Público Federal legitimidade ativa para ajuizar ação civil pública 
nessa hipótese. A s entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos deverão 
ter preferência no processo licitatório para a participação complementar de 
particulares (art. 25). Tratando-se de contrato administrativo, deve ser 
preservado o equilíbrio econômico e financeiro, garantindo a efetiva 
qualidade da execução dos serviços. Para tanto, cabe ao Conselho Nacional 
de Saúde (CNS) aprovar os critérios e valores para a remuneração dos 
serviços e os parâmetros de cobertura assistencial fixados pela direção 
nacional do SUS (art. 26), fundamentando-se em demonstrativo econômico-
financeiro. O objetivo de dar confiabilidade ao sistema faz com que o art. 26, 
§ 4º, da Lei n. 8.080/90 proíba os proprietários, administradores e dirigentes 
de entidades privadas que celebrarem contrato ou convênio de exercerem 
cargos de chefia ou função de confiança dentro do SUS. Trata-se de serviço 
público e a participação da iniciativa privada tem natureza de serviço público 
por delegação, razão pela qual as empresas e seus dirigentes estão sujeitos 
à Lei n. 8.429/92 (improbidade administrativa), que dispõe sobre as sanções 
aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no 
exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública 
direta, indireta ou fundacional. Também para fins penais, os médicos e 
administradores de hospitais particulares participantes do SUS são 
considerados funcionários públicos por equiparação. Esse entendimento tem 
sido reiteradamente adotado pelo Superior Tribunal de Justiça. (SANTOS, 
2020. P. 121-122) 
2.1.2 A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) 
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) é uma autarquia especial 
que está vinculada ao Ministério da saúde, surgiu através da Lei n. 9.961, de 
28.01.2000, em seu artigo 1º atribui a ela as funções de: 
 Regular 
 Normatizar 
 Fiscalizar a atuação, em caráter suplementar, da iniciativa privada no setor de 
saúde. 
A ANS deve “promover a defesa do interesse público na assistência 
suplementar à saúde, regulando as operadoras setoriais, inclusive quanto às suas 
 
13 
 
relações com prestadores e consumidores, contribuindo para o desenvolvimento das 
ações de saúde no país” (art. 3º), submetendo-se às disposições da Lei n. 13.848, de 
25.06.2019. 
Logo no art. 4º da Lei n. 9.961/2000 estão definidas as atribuições da ANS, das 
quais se destacam: 
 Propor políticas e diretrizes gerais ao Conselho Nacional de Saúde Suplementar 
para a regulação do setor de saúde suplementar; 
 Fixar critérios para os procedimentos de credenciamento e descredenciamento de 
prestadores de serviço às operadoras; 
 Estabelecer normas para ressarcimento ao SUS; 
 Estabelecer normas relativas à adoção e utilização, pelas operadoras de planos de 
assistência à saúde, de mecanismos de regulação do uso dos serviços de saúde; 
 Normatizar os conceitos de doença e lesão preexistentes; 
 Estabelecer critérios, responsabilidades, obrigações e normas de procedimento 
para garantia dos direitos assegurados nos arts. 30 e 31 da Lei n. 9.656/98; 
 Estabelecer critérios gerais para o exercício de cargos diretivos das operadoras de 
planos privados de assistência à saúde; 
 Estabelecer critérios de aferição e controle da qualidade dos serviços oferecidos 
pelas operadoras de planos privados de assistência à saúde, sejam eles próprios, 
referenciados, contratados ou conveniados; 
 Estabelecer normas, rotinas e procedimentos para concessão, manutenção e 
cancelamento de registro dos produtos das operadoras de planos privados de 
assistência à saúde; 
 Autorizar reajustes e revisões das contraprestações pecuniárias dos planos 
privados de assistência à saúde, ouvido o Ministério da Fazenda; 
 Autorizar o registro dos planos privados de assistência à saúde; 
 Monitorar a evolução dos preços de planos de assistência à saúde, seus 
prestadores de serviços e respectivos componentes e insumos; 
 Fiscalizar as atividades das operadoras de planos privados de assistência à saúde 
e zelar pelo cumprimento das normas atinentes ao seu funcionamento; 
 
14 
 
 Exercer o controle e a avaliação dos aspectos concernentes à garantia de acesso, 
manutenção e qualidade dos serviços prestados, direta ou indiretamente, pelas 
operadoras de planos privados de assistência à saúde; 
 Aplicar as penalidades pelo descumprimento da Lei n. 9.656/98 e de sua 
regulamentação; 
 Proceder à liquidação extrajudicial e autorizar o liquidante a requerer a falência ou 
insolvência civil das operadoras de planos privados de assistência à saúde; 
 Articular-se com os órgãos de defesa do consumidor visando a eficácia da proteção 
e defesa do consumidor de serviços privados de assistência à saúde, observado o 
disposto na Lei n. 8.078/90, e zelar pela qualidade dos serviços de assistência à 
saúde no âmbito da assistência à saúde suplementar. 
No exercício de sua atividade administrativa fiscalizatória do setor, a ANS, 
agência reguladora, deve respeitar os princípios da legalidade e do contraditório. 
O art. 18 da Lei n. 9.961/2000 instituiu a Taxa de Saúde Suplementar (TSS). 
A taxa é devida a partir de 1º.01.2000, e tem como fato gerador o exercício, 
pela ANS, do poder de polícia que lhe é legalmente atribuído. 
Conforme o artigo 19 são sujeitos passivos da exação: 
 As pessoas jurídicas, 
 Condomínios ou consórcios constituídos sob a modalidade de sociedade civil ou 
comercial, 
 Cooperativa ou entidade de autogestão, que operem produto, serviço ou contrato 
com a finalidade de garantir a assistência à saúde visando a assistência médica, 
hospitalar ou odontológica. 
A TSS é recolhida em conta vinculada à ANS (art. 23). Em caso de 
inadimplemento, é apurada administrativamente e inscrita na dívida ativa da própria 
ANS, com o posterior ajuizamento de execução fiscal (art. 24) por sua Procuradoria 
(art. 25). (SANTOS, 2020). 
 
15 
 
2.1.3 Objetivos e atribuições do SUS 
Ao SUS caberá a identificação de causas determinantes da saúde para que 
garanta o acesso universal e igualitário aos serviços de saúde. 
Cabe ao SUS identificar e divulgar os fatores condicionantes e determinantes 
da saúde (art. 5º, I, Lei n. 8.080/90) para que, com vista ao acesso universal 
e igualitário às ações e aos serviços de saúde, possa formular a política de 
saúde, destinada a promover, nos campos econômico e social, a inclusão das 
pessoas, da família, das empresas e da sociedade nas atividades de 
prestação desses serviços (art. 5º, II). Há exemplos importantes de política 
nacional de saúde, dos quais destacamos a Lei n. 9.434, de 04.02.1997, que 
dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para 
fins de transplante e tratamento e dá outras providências, dando 
cumprimento, no particular, ao disposto no § 4º do art. 199 da CF. O art. 2º 
da referida lei dispõe que “a realização de transplante ou enxertos de tecidos, 
órgãos ou partes do corpo humano só poderá ser realizada por 
estabelecimento de saúde, público ou privado, e por equipes médico-
cirúrgicas de remoção e transplante previamente autorizados pelo órgão de 
gestão nacional do Sistema Único de Saúde”, impondo o controle 
governamental, exercido sempre com vista à redução do risco doença e 
outros agravos. Já no século XXI, doenças emocionais e psíquicas, como 
depressão, síndrome do pânico etc., acabaram por causar a elevação do 
número de suicídios em todo o planeta, impondo a adoção de políticas 
públicas de saúde. Foi, então, editada a Lei n. 13.819, de 26.04.2019, que 
institui a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, a 
ser implementada pela União, em cooperação com os Estados, o Distrito 
Federal e os Municípios, impondo, ainda, às operadoras de planos de saúde, 
a inclusão de cobertura de atendimento à violência autoprovocada e às 
tentativas de suicídio. (SANTOS, 2020. P. 123) 
Sobre suas atribuições SANTOS (2020) destaca “que os incisos I a XI do art. 
6º da Lei n. 8.080/90 arrolam as atribuições do SUS das quais é importante evidenciar: 
execução de ações de vigilância sanitária, de vigilância epidemiológica, de saúde do 
trabalhador e de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica, formulação 
da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros insumos que 
possuem relevância para a saúde e a participação na produção, formulação e 
execução da política de sangue e seus derivados.” 
2.1.4 Sobre a vigilância sanitária e epidemiológica 
Seguimos então com a definição e função das vigilâncias iniciando
pela 
sanitária abordada por SANTOS (2020): “Vigilância sanitária possui sua previsão legal 
no § 1º do art. 6º da Lei n. 8.080/90 e é definida como “um conjunto de ações capaz 
de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários 
 
16 
 
decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de 
serviços de interesse da saúde”. Abrange “o controle de bens de consumo que, direta 
ou indiretamente, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e 
processos, da produção a consumo” (§ 1º, I), e “o controle da prestação de serviços 
que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde” (§ 1º, II). ” Sobre a vigilância 
epidemiológica o § 2º do art. 6º diz que a vigilância epidemiológica é “um conjunto de 
ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer 
mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, 
com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das 
doenças ou agravos”. (SANTOS, 2020. P. 124) 
2.1.5 Sobre a saúde do trabalhador e assistência terapêutica integral, inclusive 
farmacêutica 
A norma nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 que dispõe sobre as condições 
para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento 
dos serviços correspondentes e dá outras providências. Aborda sobre a saúde do 
trabalhador em seu art. 6º, § 3º: 
§ 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de 
atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e 
vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, 
assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores 
submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, 
abrangendo: 
I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de 
doença profissional e do trabalho; 
II - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde 
(SUS), em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos 
potenciais à saúde existentes no processo de trabalho; 
III - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde 
(SUS), da normatização, fiscalização e controle das condições de produção, 
extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de 
substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentam 
riscos à saúde do trabalhador; 
IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde; 
 
17 
 
V - informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às 
empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença profissional e do 
trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e 
exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os 
preceitos da ética profissional; 
VI - participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de 
saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas; 
VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo 
de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das entidades sindicais; 
e 
VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão 
competente a interdição de máquina, de setor de serviço ou de todo ambiente 
de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida ou saúde 
dos trabalhadores. (BRASIL, 1990). 
O SUS deve executar ações de assistência terapêutica integral, inclusive 
farmacêutica (art. 6º, I, d). 
A dificuldade de delimitação, pela via da interpretação, do alcance da 
expressão “assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica” tem levado 
questionamentos ao Poder Judiciário, principalmente em relação ao fornecimento 
gratuito de medicamentos e ao tratamento médico no exterior. 
Essa situação desembocou na edição da Lei n. 12.401, de 28.04.2011, que 
alterou a Lei n. 8.080/90, acrescentando alguns artigos ao seu texto original. 
O art. 19-M, acrescentado, definiu a assistência terapêutica integral como (I) a 
dispensação de medicamentos e produtos de interesse para a saúde, cuja prescrição 
esteja em conformidade com as diretrizes terapêuticas definidas em protocolo clínico 
para a doença ou o agravo à saúde a ser tratado ou, na falta do protocolo, em 
conformidade com o disposto no art. 19-P; (II) a oferta de procedimentos terapêuticos, 
em regime domiciliar, ambulatorial e hospitalar, constantes de tabelas elaboradas pelo 
gestor federal do SUS, realizados no território nacional por serviço próprio, conveniado 
ou contratado. 
No art. 19-N, I, está o conceito de produtos de interesse para a saúde: órteses, 
próteses, bolsas coletoras e equipamentos médicos. Protocolo clínico e diretriz 
terapêutica também estão definidos no novo art. 19-N: documento que estabelece 
critérios para o diagnóstico da doença ou do agravo à saúde; o tratamento prescrito, 
com os medicamentos e demais produtos apropriados, quando couber; as posologias 
recomendadas; os mecanismos de controle clínico; e o acompanhamento e a 
 
18 
 
verificação dos resultados terapêuticos, a serem seguidos pelos gestores do SUS 
(inciso II). (SANTOS, 2020). 
2.1.6 Descentralização da gestão do SUS 
É evidente a descentralização da administração no que diz respeito a 
seguridade social, o SUS como parte da seguridade social também possui essa 
característica, SANTOS leciona como se dá essa descentralização: 
Os serviços executados pelo SUS, diretamente ou com a participação 
complementar da iniciativa privada, serão organizados de forma 
regionalizada e hierarquizada em níveis de complexidade crescente (art. 8º 
da Lei n. 8.080/90). Há uma direção única do SUS dentro de cada uma das 
esferas de governo, na forma do disposto no art. 198 da CF e no art. 9º da 
Lei n. 8.080/90. No plano federal, o SUS é dirigido pelo Ministério da Saúde 
(art. 9º, I, da Lei n. 8.080/90). Nos Estados e no Distrito Federal, a direção 
compete à respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente (art. 9º, II). 
E, nos Municípios, a direção é feita pela Secretaria Municipal de Saúde ou 
órgão equivalente (art. 9º, III). Os Municípios podem desenvolver em conjunto 
suas respectivas ações e serviços de saúde. Para tanto, podem formar 
consórcios administrativos intermunicipais (art. 10). Os atos constitutivos do 
consórcio, nesse caso, devem disciplinar a forma como se desenvolverá a 
direção única (art. 10, § 1º). Cada esfera de governo tem duas instâncias 
colegiadas, que propiciam a participação da comunidade na gestão do SUS 
(Lei n. 8.142, de 28.12.1990): são a Conferência de Saúde e o Conselho de 
Saúde (art. 1º, I e II). A Conferência de Saúde, que se reúne a cada 4 anos, 
tem a representação de vários segmentos sociais. Reúne-se para avaliar a 
situação de saúde e propor diretrizes de políticas públicas (art. 1º, § 1º). O 
Conselho de Saúde tem caráter permanente e deliberativo. É órgão 
colegiado, composto por representantes do governo, prestadores de serviço, 
profissionais de saúde e usuários. Sua atuação é voltada para a formulação 
de estratégias e para o controle da execução da política de saúde na instância 
correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas 
decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em 
cada esfera de governo (art. 1º, § 2º). (SANTOS, 2020. P. 132-133). 
3 O DIREITO DO CONSUMIDOR 
Bolzan (2019) aduz que o Código de Defesa do Consumidor é considerado uma 
lei principiológica, pois ele é constituído de um conjunto de princípios que possuem 
como objetivo maior conferir direitos aos consumidores, que são os vulneráveis da 
relação, e impor deveres aos fornecedores. Os princípios estão disciplinados no CDC 
da seguinte forma: 
 Princípios gerais do CDC — previstos em seu art. 4º; 
 
19 
 
 Direitos básicos do consumidor — estipulados no art. 6º da Lei n. 8.078/90; 
 Princípios específicos do CDC — em especial aqueles referentes
à publicidade e 
aos contratos de consumo; e 
 Princípios complementares do CDC — com destaque para os princípios 
constitucionais afetos às relações de consumo. 
4 DEFINIÇÃO DE RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO 
Bolzan (2019) define a relação jurídica de consumo como a relação que se 
firma entre consumidor e fornecedor, a qual possui como objeto a aquisição de um 
produto ou a contratação de um serviço. 
(BOLZAN, 2019, p. 56) 
Insta salientar que o legislador pátrio seguiu no sentido de não definir relação 
jurídica de consumo no Código de Defesa do Consumidor, mas de conceituar os 
elementos dessa relação, mediante isso, ele apenas trouxe as definições de 
consumidor e de fornecedor (sujeitos da relação), assim como de produto e de serviço 
(objetos da relação). 
É necessário ressaltar que no sentido de que consumidor e fornecedor, além 
de produto ou serviço, são “conceitos relacionais e dependentes”, ou seja, “só existirá 
um consumidor se também existir um fornecedor, bem como um produto ou serviço”. 
 
20 
 
De fato, os conceitos em apreço não se sustentam por si mesmos, nem podem 
ser considerados isoladamente. As definições estão atreladas umas nas outras, 
necessitando da presença de ambas para ensejar a aplicação do Diploma 
Consumerista. Nesse sentido, destacar-se-á, na sequência, a relevância dos 
elementos subjetivos e objetivos para a definição da relação jurídica em comento. 
(BOLZAN, 2019). 
5 RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO — CASO ESPECIAL 
A evolução histórica da vigência da Lei n. 8.078/90 apresentou a existência de 
relações que geraram dúvidas sobre a incidência ou não do Código de Defesa do 
Consumidor. Por isso existem casos especiais em que a jurisprudência do Superior 
Tribunal de Justiça reconheceu a existência da relação jurídica de consumo e, em 
outras situações, em que tal relação não restou configurada. (BOLZAN, 2019) 
Dentre essas a que nos chama atenção devido ao conteúdo tratado é sobre a 
relação entre cooperativa de assistência à saúde, vejamos a seguir. 
5.1 Relação entre cooperativa de assistência à saúde e filiados e a crítica 
doutrinária sobre a exclusão dos planos de saúde geridos pelo sistema de 
autogestão 
Esse é um tema cercado de polêmica que envolve saber se o fato de o 
prestador de serviço à saúde estar constituído em cooperativa seria suficiente para a 
exclusão da incidência do Código de Defesa do Consumidor. 
O fundamento principal da referida tentativa de imunidade em relação ao CDC 
consistiria na inexistência de vínculo empregatício entre a cooperativa e o médico 
associado. Sobre o tema, entende o STJ desde 2002 que: “A inexistência de vínculo 
empregatício entre a cooperativa de trabalho médico e o profissional a ela associado 
não é fator impeditivo do reconhecimento da sua responsabilidade civil, com base nas 
disposições da lei substantiva e do Código de Defesa do Consumidor, em relação aos 
atos praticados em decorrência de serviços prestados em plano de saúde”. 
De acordo com o enunciado da Súmula 99, o Tribunal de Justiça de São Paulo 
reconhece a solidariedade entre todas as entidades do mesmo grupo econômico, 
 
21 
 
vejamos o conteúdo sumulado: “Não havendo, na área do contrato de plano de saúde, 
atendimento especializado que o caso requer, e existindo urgência, há 
responsabilidade solidária no atendimento ao conveniado entre as cooperativas de 
trabalho médico da mesma operadora, ainda que situadas em bases geográficas 
distintas”. 
É seguida a mesma linha de pensamento quando se tratar de cooperativa 
habitacional. O STJ sumulou o tema no enunciado 602 ao entender: “O Código de 
Defesa do Consumidor é aplicável aos empreendimentos habitacionais promovidos 
pelas sociedades cooperativas” (2ª Seção, j. 22-2-2018, DJe 26-2-2018). 
Cuidado se o conflito envolver contrato de plano de saúde administrado por 
entidade de autogestão. Neste caso, o STJ entende pela não incidência do CDC, nos 
mesmos moldes do acima estudado sobre as entidades de previdência privada 
fechadas. Vejamos: 
RECURSO ESPECIAL. ASSISTÊNCIA PRIVADA À SAÚDE. PLANOS DE 
SAÚDE DE AUTOGESTÃO. FORMA PECULIAR DE CONSTITUIÇÃO E 
ADMINISTRAÇÃO. PRODUTO NÃO OFERECIDO AO MERCADO DE 
CONSUMO. INEXISTÊNCIA DE FINALIDADE LUCRATIVA. RELAÇÃO DE 
CONSUMO NÃO CONFIGURADA. NÃO INCIDÊNCIA DO CDC. 1. A 
operadora de planos privados de assistência à saúde, na modalidade de 
autogestão, é pessoa jurídica de direito privado sem finalidades lucrativas 
que, vinculada ou não à entidade pública ou privada, opera plano de 
assistência à saúde com exclusividade para um público determinado de 
beneficiários. 2. A constituição dos planos sob a modalidade de autogestão 
diferencia, sensivelmente, essas pessoas jurídicas quanto à administração, 
forma de associação, obtenção e repartição de receitas, diverso dos contratos 
firmados com empresas que exploram essa atividade no mercado e visam ao 
lucro. 3. Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor ao contrato de 
plano de saúde administrado por entidade de autogestão, por inexistência de 
relação de consumo. 4. Recurso especial não provido (REsp 1.285.483/PB, 
Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, 2ª Seção, DJe 16-8- 2016, apud BOLZAN, 
2019, p. 122). 
No ano de 2018 surgiu a Súmula 608 do STJ sobre o assunto: “Aplica-se o 
Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os 
administrados por entidades de autogestão”. 
Porém, sobre o assunto persistem algumas incontroversas e algumas reflexões 
críticas são abordadas pela doutrina, para que a citada súmula não seja aplicada de 
forma absorta e indistinta para toda e qualquer relação envolvendo plano de saúde 
gerido pelo sistema de autogestão. 
A crítica se inicia com referência ao momento histórico em que se iniciou no 
mundo a necessidade de leis específicas para a defesa dos consumidores, pelo 
 
22 
 
desequilíbrio entre os sujeitos de uma nova sociedade de consumo no período 
moderno. 
Iniciada na Inglaterra entre os séculos XVIII e XIX a Revolução Industrial do 
aço e do carvão, ocasionou grande migração da população residente na área rural 
para os centros urbanos. Essa nova população, no decorrer do tempo, começou a 
manifestar uma intensa vontade pelo consumo de novos produtos e serviços capazes 
de satisfazer suas necessidades materiais. 
Devido ao modelo de sociedade que se formava nesse período, os fabricantes 
e produtores, além dos prestadores de serviços, começaram a se preocupar mais com 
o atendimento da demanda, que houvera aumentado em seu aspecto quantitativo, 
mas deixaram para um segundo plano o caráter qualitativo. 
A nova sociedade de consumo substituiu a característica da bilateralidade de 
produção — em que as partes contratantes discutiam cláusulas contratuais e eventual 
matéria-prima que seria utilizada na confecção de determinado produto — pela 
unilateralidade da produção — na qual uma das partes, o fornecedor, seria o 
responsável exclusivo por ditar os caminhos da relação de consumo, sem a 
participação efetiva, e, em regra, do consumidor. (BOLZAN, 2019). 
Assim, à parte mais fraca da relação apresentada, o consumidor vulnerável, 
caberia apenas: 
 Aderir ao contrato previamente elaborado pelo fornecedor — contrato de adesão; 
ou 
 Adquirir produto confeccionado com material de origem e qualidade 
desconhecidas, na maioria das vezes. 
Devido a nova filosofia de mercado, os problemas começaram a surgir. 
Notoriamente, quando o fornecedor passa a prezar pela quantidade em detrimento da 
qualidade, o consumidor depara-se com produtos e serviços viciados ou portadores 
de defeitos que lhe causarão prejuízos de ordem econômica ou física, 
respectivamente. Infelizmente, o Direito vigente nessa época não estava preparado 
para solucionar os conflitos oriundos de tais problemas. 
Com efeito, o modelo de sociedade de consumo ora apresentado ganhou força 
com a Revolução Tecnológica decorrente do período Pós-Segunda Guerra Mundial.
Realmente, os avanços na tecnologia couberam na medida ao novo panorama de 
 
23 
 
modelo produtivo que se consolidava na história. Tendo por objetivo principal o 
atendimento da enorme demanda no aspecto quantitativo, o moderno maquinário 
industrial facilitou a produção em escala e atendeu a este tipo de expectativa. 
(BOLZAN, 2019). 
No novo modelo de sociedade, devido aos vícios e defeitos se tornarem 
recorrentes, a falta de aptidão do direito desse período em proteger a parte mais fraca 
da relação jurídica de consumo, por exemplo, no Brasil a legislação aplicável na 
ocasião era o Código Civil de 1916, que foi elaborado para disciplinar relações 
individualizadas, e não para tutelar aquelas oriundas da demanda coletiva, como 
ocorre nas relações consumeristas. 
Assim, o direito privado de então não tardaria a sucumbir no tocante à tutela da 
nova sociedade de consumo que se formava, pois estava marcadamente influenciado 
por princípios e dogmas romanistas, tais como: 
 Pacta sunt servanda; 
 Autonomia da vontade; e 
 Responsabilidade fundada na culpa. 
Com efeito, a obrigatoriedade dos termos pactuados, ao ser analisada como 
um postulado aproximadamente absoluto, é manifestamente incompatível com as 
relações de consumo, pois há no conteúdo do Direito do Consumidor normas de 
ordem pública e de interesse social que por sua vez trazem como uma de suas 
principais repercussões, a impossibilidade de as partes derrogarem os direitos dos 
vulneráveis. 
Nesse sentido, não há que se falar em autonomia de vontade se o contrato de 
consumo possuir cláusulas abusivas, por serem estas nulas de pleno direito, podendo, 
inclusive, ser assim reconhecidas de ofício pelo Juiz de Direito, numa das 
manifestações da intervenção estatal. 
No que diz respeito à responsabilidade, é necessário destacar outra diferença 
existente no que se refere ao Direito Civil clássico. Enquanto neste modelo prevalecia 
a responsabilidade subjetiva — pautada na comprovação de dolo ou culpa —, no 
Código de Defesa do Consumidor a responsabilidade é, em regra, quase absoluta, 
objetiva — que independe da comprovação dos aspectos subjetivos de dolo ou culpa. 
 
24 
 
Como já foi evidenciado, o Direito naquele período não era suficiente para 
disciplinar as relações jurídicas de consumo, por isso, foi necessária a ação do Estado, 
com vistas a elaboração e implementação de legislações específicas, políticas 
públicas e jurisdição especializada de defesa do consumidor em todo o mundo. 
A intervenção estatal se revelou fundamental para minimizar a desigualdade da 
relação existente entre o poderoso fornecedor e o vulnerável o consumidor. 
É necessário frisar que no Brasil, o Direito do Consumidor tem fundamento na 
Constituição Federal de 1988, que, aliás, trouxe dois mandamentos expressos em sua 
íntegra e um no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, vejamos as 
respectivas redações: 
Constituição Federal (1988): “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem 
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXII — o Estado promoverá, 
na forma da lei, a defesa do consumidor”. 
Constituição Federal (1988): “Art. 170. A ordem econômica, fundada na 
valorização do trabalho humano e na livre-iniciativa, tem por fim assegurar a todos 
existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes 
princípios: (...) V — defesa do consumidor”. 
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (1988): “Art. 48. O Congresso 
Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará 
código de defesa do consumidor”. 
De acordo com o que já foi tratado, pode-se concluir que a relação jurídica de 
consumo nasce desigual. Sendo assim, o consumidor parte vulnerável, de um lado, e 
o fornecedor detentor do monopólio dos meios de produção, do outro, por isso o 
Direito do Consumidor deve ser elevado ao patamar de Direito Fundamental. 
A constitucionalização ou publicização do direito privado tem consequências 
importantes na proteção do consumidor, ademais, é necessário ressaltar que estão 
certos, aqueles que consideram a Constituição Federal de 1988 como o centro 
irradiador e o marco de reconstrução de um direito privado brasileiro mais social e 
preocupado com os vulneráveis de nossa sociedade, um direito privado solidário. A 
Constituição é a garantia (de existência e de proibição de retrocesso) e o limite (limite-
 
25 
 
guia e limite-função) de um direito privado construído sob seu sistema de valores e 
incluindo a defesa do consumidor como princípio geral. 
Da ideia de força normativa (Konrad Hesse), pode-se afirmar que a norma 
constitucional tem status de norma jurídica, sendo dotada de imperatividade, com as 
consequências de seu descumprimento (assim como acontece com as normas 
jurídicas), permitindo o seu cumprimento forçado. (BOLZAN, 2019). 
Logo, o amparo constitucional que possui o Direito do Consumidor traz uma 
conotação imperativa no mandamento de ser do Estado a responsabilidade de 
promover a defesa do vulnerável da relação jurídica de consumo. 
Ademais, ao longo do tempo muito se falou em eficácia vertical dos Direitos 
Fundamentais — respeito pela Administração dos Direitos Fundamentais de seus 
administrados. Nas relações entre Administração e administrado é evidente a 
supremacia daquela em razão da natureza do interesse tutelado, qual seja: o interesse 
público. 
Como o advento do Direito do Consumidor foi alçado ao patamar constitucional, 
é possível tratar na atualidade da eficácia horizontal dos direitos ora em estudo, ou 
seja, mesmo sem a existência de hierarquia entre as partes envolvidas na relação, 
como ocorre entre fornecedor e consumidor, o respeito aos Direitos Fundamentais 
também se faz necessário. 
Em última análise, os benefícios da elevação do Direito do Consumidor ao 
status constitucional são evidentes e de suma importância na busca do reequilíbrio 
entre as partes na relação jurídica de consumo. 
Diante de todo contexto histórico apresentado para fundamentar a necessidade 
do surgimento de lei específica de defesa do consumidor, bem como para demonstrar 
a inaplicabilidade da Súmula 608 do STJ para todo e qualquer caso, cumpre 
apresentar alguns elementos fáticos. 
Existe plano de saúde gerido pelo sistema de autogestão em que o universo de 
beneficiários gira ao entorno da marca de 700 mil participantes, e a “Receita de 
contraprestações” supera o montante de um bilhão de reais 
Nesse contexto fático, importante registrar dois pontos: (i) o número de 
aproximadamente 700 mil participantes é mais do que considerável e o 8º lugar dentre 
as maiores operadoras de planos de saúde do país, num universo de 753 empresas; 
 
26 
 
(ii) a sua receita de contraprestações (faturamento) de mais de um bilhão de reais 
afasta a ideia de que a entidade de autogestão atua no mercado sem fins lucrativos. 
Somando o contexto histórico trazido sobre a necessidade do surgimento de 
leis específicas em todo o mundo para defender o consumidor, aos elementos fáticos 
apresentados, de se destacar a inaplicabilidade da Súmula 608 do STJ a todo e 
qualquer plano de saúde de autogestão. 
Não cabe ao intérprete definir qual o número mínimo de pessoas para 
caracterizar um plano de saúde regido pelo sistema de autogestão, porém o fato de 
conter aproximadamente 700 mil beneficiários extrapola todos os limites do razoável 
para enquadramento do enunciado citado do Superior Tribunal de Justiça, que 
determina a exclusão da incidência do CDC para o fornecedor com a característica da 
autogestão 
Se não for esse o entendimento a prevalecer, logo mais todas as operadoras 
realizarão alterações contratuais para se tornarem de autogestão e fugirem da 
sistemática protetiva
do Código de Defesa do Consumidor. Contexto fático que não 
está longe de acontecer, tendo em vista a exiguidade de oferta de planos de saúde 
individuais e familiares no mercado de consumo atual, cuja maioria esmagadora é 
composta de planos empresariais e coletivos. 
Nesse sentido, basta às operadoras se transformarem em entidades de 
autogestão para gerenciar o serviço de plano de saúde de cada empresa contratante 
ou de grupo coletivo, com o intuito ardiloso de afastar as regras do Código de Defesa 
do Consumidor. 
E mais, o afastamento do Diploma Consumerista em casos como o 
apresentado estará na contramão de todos os apontamentos históricos 
resumidamente apresentados neste item, pois a essência do CDC é proteger o 
vulnerável de relações jurídicas como essas, marcadas por um serviço prestado em 
escala, de forma massificada, para aproximadamente 700 mil consumidores 
fragilizados e sujeitos a práticas abusivas. 
Em outras palavras, o surgimento de uma lei específica de defesa do 
consumidor teve por objetivo principal conferir direitos à parte mais fraca e impor 
deveres à parte mais forte com o intuito de reequilibrar relações desiguais como as 
situações ora apontadas, quais sejam: (i) um consumidor vulnerável perante um 
fornecedor que presta serviços de plano de saúde para aproximadamente 700 mil 
 
27 
 
beneficiários; e (ii) um consumidor assalariado perante um faturamento anual de mais 
de um bilhão de reais. 
Por todo o exposto, importante os juízes de primeiro grau avaliarem caso a 
caso o afastamento da incidência da Súmula 608 do STJ, pois existem casos diversos 
do teor do respectivo enunciado, sob pena de colocar por água abaixo toda a essência 
principiológica presente no Código de Defesa do Consumidor. (BOLZAN, 2019). 
6 FUNCIONAMENTO, REGULAÇÃO E CONTRATUALIZAÇÃO DOS PLANOS 
DE SAÚDE 
O mercado de planos de saúde possui uma estrutura própria, definida por 
decisões da Agência Reguladora responsável pelo seu funcionamento e ainda, por 
leis espaças pelo ordenamento jurídico (BARBUGIANI, 2015. p. 24). 
O surgimento dos contratos de assistência à saúde aconteceu repentinamente, 
mas gradativamente, com a integração de ideologias protetivas e diferentes sistemas 
jurídicos baseados nos princípios da solidariedade, assim como aconteceu com o 
desenvolvimento da proteção trabalhista ao final da Revolução Industrial 
(BARBUGIANI, 2015. p. 19). 
A necessidade de contratação de um plano de saúde surgiu da presença de 
vários tipos de obstáculos e da ocorrência de doenças e acidentes imprevisíveis. A 
possibilidade de não haver o devido atendimento na forma e momento corretos, pelos 
mais variados motivos, fez com que os contratos de planos de saúde ganhassem 
grande espaço no mercado de consumo. 
A função dos planos e seguros-saúde é a proteção da saúde, que pode estar 
sujeita aos mais diversos tipos de riscos, em troca dos serviços prestados pelo 
contratante. Os planos e seguros-saúde são “poupanças coletivas” e a principal 
diferença entre os dois é que o primeiro fornece uma lista de serviços médicos e 
hospitalares que o titular da apólice ou seus dependentes procurem caso necessitem. 
Já o segundo, geralmente reembolsa o valor gasto, ou parte dele, pelo beneficiário nos 
tratamentos ou atendimentos, de acordo com os termos do contrato. 
Os dois contratos de saúde abordados são cada vez mais semelhantes, pois, 
além de serem contratos de adesão, que envolvem requisitos escolhidos apenas por 
uma das partes, adotam medidas que reduzem as diferenças. Alguns planos de saúde 
 
28 
 
preveem o ressarcimento de valores em atendimentos ambulatoriais ou médicos, 
quando os locais e pessoal para os atendimentos são de livre escolha para o 
beneficiário, e alguns seguros-saúde oferecem relação de clínicas, hospitais e 
laboratórios credenciados que, quando escolhidos para o atendimento, não 
ocasionam ressarcimentos. 
O grande marco para regulamentar as atividades das operadoras de planos e 
seguros-saúde foi a criação da lei 9.656/98. Antes do advento da lei, existiam apenas 
regulamentações para os seguros-saúde, onde os contratantes dos planos buscavam 
tutela de seus direitos violados, além do Código de Defesa do Consumidor (lei 
8.078/1990). No entanto, rege as relações com os consumidores em geral, e não com 
os planos de saúde em particular. (GREGORI, 2010, p. 38). 
A ausência de regulamentação específica acabou por contribuir para a 
predominância dos interesses das grandes operadoras sobre os dos consumidores, 
parte vulnerável nessa relação. 
A lei 9.656/98 foi criada para suprir as lacunas existentes até então, o Código 
do Consumidor não regulava suficientemente a relação entre o beneficiário e o plano 
de saúde. Em seu primeiro artigo, conceitua o seu objeto, qual seja, os planos de 
assistência privada à saúde e os seguros-saúde, as operadoras dos planos e as 
carteiras. 
Uma importante determinação da referida lei é o plano-referência, presente em 
seu artigo 10, que trata da cobertura contratual mínima obrigatória para cada 
segmento do plano de saúde presentes no artigo 12. 
O § 2º do artigo 10 estabelece a obrigatoriedade de plano referência, já 
mencionada. Entretanto, excetuam-se dessa obrigatoriedade as autogestões, um 
seguimento onde a própria instituição é responsável pela gestão do plano, cujos 
serviços são oferecidos aos funcionários da mesma, e as operadoras de planos 
exclusivamente odontológicos são excluídas dessa obrigatoriedade, assim como a 
cobertura obstétrica pode ou não também ser excluída. 
A contratação de planos de saúde exigiu que houvesse uma intervenção 
estatal, uma vez que a relação entre o plano de saúde e seu contratante é 
consumerista. O consumidor, sendo vulnerável e hipossuficiente, necessita de 
proteção, portanto, como já mencionado, esta relação, além de estar sujeito ao Código 
 
29 
 
de Defesa do Consumidor e à lei 9.656/98, é submetida à fiscalização da Agência 
Nacional de Saúde Suplementar- ANS. 
A ANS, autarquia de regime especial vinculada ao Ministério da Saúde, tem 
como objetivo padronizar, regulamentar, controlar fiscalizar as atividades das e 
operadoras de planos e seguros-saúde de forma a garantir a qualidade dos serviços 
médico-hospitalares e odontológicos oferecidos, defendendo assim o interesse 
público (GREGORI, 2010, p. 64). A agência também é executora de políticas públicas 
desenvolvidas pelo CONSU, órgão do governo responsável pela fiscalização do 
funcionamento geral do sistema de saúde suplementar. 
O surgimento da ANS ocorreu quando o mercado dos planos de saúde já 
operava em um setor muito importante, o da saúde. A superveniência da agência 
reguladora fez com que os processos de controle, normatização, e fiscalização fossem 
gradativos até chegarem ao patamar de hoje, com normatização, programas de 
fiscalização e punições para descumprimentos. 
A competência da Agência é definida pelo art. 4º da lei 9.961/2000, que além 
de proporcionar atividades adequadas à sua função, também prevê determinados 
instrumentos para a efetivação do controle dos contratos de planos de saúde e de 
todo o mercado, como a possibilidade de multas em casos de descumprimento de 
determinações da Agência, o que viabiliza seu acesso a documentações necessárias 
ao exercício de suas atividades. 
Além disso, a ANS é responsável por todo o funcionamento do mercado de 
planos e seguros-saúde, determinando coberturas obrigatórias, por exemplo, padrões 
de qualidade do serviço, estabelecendo regras de ressarcimento. Enfim, ela é a 
responsável pelas obrigações referentes ao serviço prestado pelas operadoras dos 
planos e até pelo seu registro, onde tudo começa. 
6.1 A Contratualização no Mercado de Planos de Saúde 
A relação entre as operadoras de planos de saúde e seus parceiros contratuais 
são voltadas para o consumidor, uma vez que nos centros há um fornecedor de 
serviços, qual seja, assistência
à saúde, e um consumidor, que, por meio de 
prestações, almeja usufruir dos serviços oferecidos. 
A assistência à saúde é estabelecida por meio de um contrato de adesão, onde 
a operadora se compromete a prestar serviços de saúde quando necessário e o 
 
30 
 
consumidor a pagar parcelas periódicas para que possa utilizar esses serviços. O 
contrato entre as partes, por ser de adesão, é padronizado e tem suas cláusulas 
preestabelecidas pelo prestador do serviço. 
Dito isso, os contratos de saúde são de trato sucessivo, conquanto, possui 
longa vigência. Segundo Cláudia Lima Marques (2004, p. 79-80), os contratos de 
planos de saúde, bem como os contratos de previdência privada e de cartão de 
crédito, são classificados como contratos cativos de longo prazo. Esta é uma série de 
novos contratos ou relações contratuais que usam métodos de negociação em massa 
(por meio de contratos de adesão ou condições gerais de contrato), para o 
fornecimento de serviços que são especiais dentro do mercado, possibilitando a 
criação de relações jurídicas mais complexas de longa duração, envolvendo uma 
cadeia de fornecedores organizados entre si e com uma característica determinante: a 
posição de ‘catividade’ ou ‘dependência’ dos clientes”. 
Os planos e seguros-saúde devem prestar seus serviços por meio de contrato 
escrito, conforme determinado pela lei 9.656/98, que expressa a obrigação de 
entregar o contrato ao consumidor dos serviços prestados, conforme segue: 
Art. 16. Parágrafo único. A todo consumidor titular de plano individual ou 
familiar será obrigatoriamente entregue, quando de sua inscrição, cópia do 
contrato, do regulamento ou das condições gerais dos produtos de que tratam 
o inciso I e o § 1o do art. 1o, além de material explicativo que descreva, em 
linguagem simples e precisa, todas as suas características, direitos e 
obrigações. (BRASIL, 1998) 
Além de escritos, os contratos devem conter diversas outras determinações 
especificadas nos incisos I a XII do mesmo artigo, como prazo de carência, início da 
vigência, eventos cobertos e não cobertos, circunstâncias de perda da qualidade de 
segurado, o tipo de regime, se familiar ou coletivo, dentre outras. Os contratos devem 
ser redigidos de forma clara e legível para um melhor entendimento do contratante. 
Os contratos de planos de saúde, no que diz respeito ao regime, podem ser 
individuais ou coletivos. O contrato com regime individual é aquele em que a pessoa 
física, opta por aderir ao contrato oferecido pelo plano ou seguro-saúde. Este tipo de 
contrato só pode dizer respeito ao beneficiário ou, além dele, aos membros da sua 
família, a seus dependentes. 
 Os planos coletivos, dividem-se em coletivos empresariais e coletivos por 
adesão. Ambos se caracterizam por uma figura, pessoa jurídica, que é quem contrata 
e que tem vínculo direto com o plano ou seguro-saúde. Os beneficiários do plano 
 
31 
 
coletivo contratado pela pessoa jurídica pertencem a um pequeno grupo de pessoas 
que tenham vínculo empregatício ou estatutário com a contratante. 
 O plano coletivo empresarial é definido como: “aquele que oferece suporte 
para a assistência prestada à população demarcada e vinculada à pessoa jurídica por 
relação empregatícia ou estatutária”. 
Os planos coletivos por adesão possuem as mesmas características dos 
empresariais, mas destinam-se a grupos vinculados a pessoas jurídicas de caráter 
classista, setorial ou profissional descritas nos incisos de I a VI do artigo 9º da RN nº 
195/2009 da ANS. Ressalte-se que as pessoas jurídicas descritas neste artigo só 
podem aderir ao plano coletivo por meio de adesão se estiverem constituídas há pelo 
menos um ano, salvo os “conselhos profissionais e entidades de classe, nos quais 
seja necessário o registro para o exercício da profissão, e os sindicatos, centrais 
sindicais e respectivas federações e confederações”. 
Tanto os planos quanto os seguros coletivos possuem a opção de adesão do 
círculo familiar dos beneficiários até o terceiro grau, no caso de parentes 
consanguíneos, até o segundo se for por afinidade, além de cônjuge ou companheiro, 
a depender do que determina o contrato. 
É interessante notar que a adesão aos contratos coletivos não se limita aos 
colaboradores da pessoa jurídica contratante, mas pode ser estendida a sócios, 
representantes políticos, estagiários, entre outros. As pessoas que podem ser 
beneficiárias devem estar descritas no contrato. 
Este regime contratual de planos, vinculado a um conjunto limitado, o que 
facilita a delimitação dos riscos, tem valores mais favoráveis do que os individuais. A 
adesão de todos os membros do grupo é facultativa nos contratos coletivos por 
adesão, ou seja, nem todos os integrantes do grupo vinculado à pessoa jurídica 
precisam aderir, assim sendo é automática nos contratos coletivos empresariais, 
bastando-se constatar a filiação à entidade ou admissão no emprego. 
Os contratos de planos e seguros-saúde também incluem os segmentos 
(clínica, hospital com ou sem obstetrícia e odontologia), cujas coberturas mínimas são 
regidas pelo artigo 12 da lei 9.656/98. 
A segmentação do plano de saúde ambulatorial é a mais simples das variantes 
e sua cobertura cobre apenas procedimentos simples, como consultas em clínicas 
básicas e especializadas, exames, tratamentos e procedimentos pedidos pelo 
 
32 
 
profissional da saúde, atendimento de urgência e emergência, com duração máxima 
de 12h, remoção por falta de recursos ou necessidade de internação, dentre outros 
(CORRÊA FILHO, 2004. p. 32). 
O plano de internação hospitalar está disponível em duas versões: com e sem 
cobertura obstétrica, a mais simples, ou seja, sem cobertura obstétrica, destina-se a 
internações em geral, em UTI’s ou similares, sem limite de diárias. Deve apresentar 
cobertura de exames e procedimentos especiais durante o período de internação. 
A cobertura também se estende a cirurgias, custos de quarto, materiais 
necessários para cirurgia, medicamentos, anestésicos, viagens e tratamentos 
necessários, como quimioterapia e radioterapia, e despesas para cuidadores de 
menores e idosos, de acordo com o estatuto do idoso. 
A segunda versão do plano hospitalar é aquela que oferece cobertura obstétrica 
que cobre, além de todos os serviços citados acima, o acompanhamento pré-natal, 
“assistência ao parto e ao recém-nascido natural ou adotivo nos primeiros 30 dias 
contados do nascimento ou da adoção”. Além disso, esta cobertura permite o 
cadastramento do recém-nascido (natural ou adotado), no prazo máximo de trinta dias 
a partir do nascimento ou adoção, aos cadastros de dependentes do plano, sem 
qualquer cobrança de período de carência, segundo o artigo 12, III, Lei 9.656/98. 
O último segmento a ser tratado é o odontológico, que deve abranger todos os 
procedimentos odontológicos realizados em consultório, bem como os exames 
(radiologia, exames clínicos em geral). Também há cobertura para cirurgias de 
urgência e emergência, porém, procedimentos buco-maxilares que requerem 
internação hospitalar, não são cobertos. É importante ressaltar que as coberturas de 
cada segmento serão determinadas pelos contratos, podendo haver pequenas 
diferenças. 
A adoção de um plano de saúde requer uma análise aprofundada de cada tipo 
de plano e suas características. Cada beneficiário tem necessidades particulares que 
devem ser consideradas na hora da escolha da modalidade do plano. 
 
33 
 
7 A EFICÁCIA DO DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE NOS CONTRATOS DE 
PLANO DE SAÚDE 
O direito à saúde é qualificado como direito fundamental social, cujo significado 
formal é sublinhado pela inclusão do direito à saúde no rol dos direitos fundamentais 
sociais da Constituição Federal. O problema, é que aqui ocupa um lugar 
preponderante e diz respeito essencialmente à fundamentalidade material, uma vez 
que a doutrina, em termos gerais e obviamente
simplificada, se divide entre os que 
reconhecem a todas as normas de direitos fundamentais a proteção formalmente 
assegurada pela Constituição e os que sustentam que apenas parte dos direitos 
sociais possuem esta proteção. 
Isso faz parte de uma concepção redutiva de conter o direito à saúde nas 
normas programáticas, conferindo eficácia limitada aos dispositivos constitucionais 
que o abrangem. Isso, pela forma como esses direitos têm sido afirmados na 
Constituição, visto que, segundo o entendimento de uma parte da doutrina, esses 
direitos dependem da implementação legislativa para sua aplicação, conforme 
menciona Ingo Sarlet, verbis: 
Neste sentido, enquanto a maior parte dos direitos de defesa (direitos 
negativos) não costuma ter sua plena eficácia e aplicabilidade questionadas, 
já que sua efetivação depende de operação de cunho eminentemente 
jurídico, os direitos sociais prestacionais , por sua vez, habitualmente 
necessitam – assim sustenta boa parte da doutrina – de uma concretização 
legislativa, dependendo, além disso, das circunstâncias de natureza social e 
econômica, razão pela qual tendem a ser positivados de forma vaga e aberta, 
deixando para o legislador indispensável liberdade de conformação na sua 
atividade concretizadora. É por esta razão que os direitos sociais a 
prestações costumam ser considerados como sendo de cunho 
eminentemente programático. (SARLET, 2001) 
Considerando que a saúde é um direito social que possui aspectos 
fundamentais, resta questionar sua efetividade nas relações privadas, optando-se, 
para tanto, pelos contratos de assistência à saúde privada. 
Claudia Lima Marques (2010, p.183), destaca que: “viver dignamente é viver 
com saúde e qualidade, daí a importância e relevância das pessoas poderem 
acessar um plano de saúde privada, que respeite os ditames constitucionais”. 
 Como bem acentua Teresa Negreiros (2006, p. 467), o fato é que, em 
decorrência da impossibilidade do Estado de prestar serviços úteis ou essenciais à 
 
34 
 
comunidade, aumenta a responsabilidade dos sujeitos privados para os quais acaba 
sendo transferida a operação desses serviços. 
No entanto, não podemos esquecer que o direito social à saúde, no âmbito das 
relações privadas, assenta numa racionalidade contratual e, consequentemente, deve 
ser diferenciada a sua incidência da efetivação deste direito social nas relações entre 
o cidadão e o Estado, ensejando a necessária ponderação entre a autonomia privada 
e os direitos fundamentais envolvidos. 
É interessante notar que a responsabilidade dos particulares pelo bem-estar 
social deve ser ponderada, diferentemente da responsabilidade do Estado, para que 
não desempenhe um papel na aniquilação total da autonomia privada, que também é 
um componente importante para a concretização da dignidade da pessoa humana. 
A necessidade de conciliar autonomia privada e direitos fundamentais, 
enfatizando que o princípio da dignidade humana possui uma importante função de 
delimitação devendo servir de parâmetro para avaliar qual o padrão mínimo dos 
direitos sociais a ser reconhecido, como destaca Daniel Sarmento: 
O Estado tem não apenas o dever de se abster de praticar atos que atentem 
contra a dignidade humana, como também o de promover esta dignidade 
através de condutas ativas, garantindo o mínimo existencial para cada ser 
humano em seu território. O homem tem a sua dignidade aviltada não apenas 
quando se vê privado de alguma das suas liberdades fundamentais, como 
também quando não tem acesso à alimentação, educação básica, saúde, 
moradia etc. (SARMENTO, 2010, p. 71) 
Nesses termos, a contratação de um plano de saúde, por envolver 
imediatamente o direito fundamental à saúde, não pode ser equiparado à negociação 
de outros tipos de serviços não essenciais. Porquanto, como aponta Teresa Negreiros 
(2006, p. 31), os contratos de plano de saúde têm por função satisfazer uma 
necessidade existencial do contratante e devem se sujeitar a um regime de caráter 
tutelar diferenciado. 
Dessa feita, os bens existenciais protegidos nos contratos de planos de saúde 
estão intimamente ligados à preservação da vida de seus usuários, para que, na 
prestação do cuidado, também seja realizado o direito à dignidade da pessoa humana. 
Nesse sentido, nos contratos de planos de saúde, é relevante definir em um 
caso específico qual atitude infringe o direito à saúde e, portanto, impede a existência 
de uma vida digna para definir os novos contornos deste contrato, em face das 
 
35 
 
necessidades existenciais do bem contratado, para o fim de garantir o mínimo 
existencial ao usuário de plano de saúde. 
Nesse raciocínio, o mínimo existencial, amparado na cláusula geral da 
dignidade humana, constitui um parâmetro para o alcance do equilíbrio entre a 
liberdade contratual das operadoras de plano de saúde e as necessidades existenciais 
dos seus usuários. Pois, a essencialidade do bem "saúde" no contrato de plano de 
saúde determina um tratamento jurídico diferente em relação aos contratos com objeto 
puramente patrimonial, e a consequente eficácia do direito fundamental à saúde, 
conforme descrito por Daniel Sarmento: 
De outro giro, um fator adicional que deve ser considerado na ponderação é o 
que concerne à relevância da prestação social em discussão, para a proteção 
da dignidade da pessoa humana de quem reclama. Parece claro que, quando 
a prestação correlacionar-se ao mínimo existencial, haverá um forte 
argumento para o argumento para o reconhecimento da eficácia horizontal 
direta, que estará ausente sempre que se tratar de controvérsia envolvendo 
aspectos menos relevantes do direito social em causa, que não atenda a uma 
necessidade humana tão essencial. Tal ideia, aliás, pode ser inferida da 
vinculação direta e imediata dos particulares ao princípio da dignidade da 
pessoa humana – que é reconhecida até mesmo por alguns adeptos da teoria 
indireta. (SARMENTO, 2010, p. 304) 
Consequentemente, a aplicabilidade direta do direito à saúde nas relações do 
regime privado de saúde, em detrimento da livre iniciativa e da autonomia privada, 
justifica-se em virtude da essencialidade do bem contratado para proteção ao mínimo 
existencial dos usuários consumidores dos serviços de saúde. 
Verifica-se, portanto, que o contrato de plano de saúde não pode ser 
equiparado a negócios jurídicos com efeitos estritamente patrimoniais, pois naquele 
está em jogo o bem maior qual seja, a vida. Nessa perspectiva, é possível notar que 
dada a essencialidade do bem, o direito fundamental social à saúde encontra efeito 
direto nas relações privadas. Voltando-se para o STF e para o STJ, em matéria de 
contratos de plano de saúde questiona-se se a essencialidade do bem é invocada 
para distingui-los daqueles que surtem efeitos tão somente patrimoniais. 
 
36 
 
8 A INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR AOS 
CONTRATOS DE PLANOS DE SAÚDE 
O contrato surge da experiência social de um povo, com base no 
comportamento da comunidade e no nível econômico da época, e a sua relevância 
está bem representada por este instrumento que permite e regula a transmissão de 
valores na sociedade (MARQUES, 2011). 
Nesse cenário, ao analisar o contrato de assistência privada à saúde como um 
contrato inserido no mercado consumidor, verifica-se que se trata de um negócio 
jurídico que almeja a garantia a saúde. Assim, os consumidores que o aderem visam 
a certeza de que caso necessitem, serão contratualmente amparados pelo sistema 
privado. 
Nesse cenário, ao analisar o contrato de assistência privada à saúde como um 
contrato inserido no mercado consumidor, verifica-se que se trata de um negócio 
jurídico que almeja a garantia a saúde. Assim, os consumidores que aderem visam 
garantir, caso necessitem, serão contratualmente amparados pelo sistema privado. 
Portanto, mesmo com a divisão entre os contratos, o artigo 35-G da Lei dos 
Planos de Saúde (Lei nº 9.656/98) expõe

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