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LFB – 08/03/2023 1 FPM VII – CARDIO ARRITMIAS RESUMO DE FISIOLOGIA Há uma diversidade muito grande de células com capacidade de despolarização e, por isso, existe uma hierarquia de automatismo do tecido cardíaco. O nó sinoatrial (NSA) é o tecido de maior automatismo. Ele apresenta a maior frequência de despolarizações por intervalo de tempo e é conhecido como o marca-passo natural do coração – gera um potencial de ação que se transmite ao longo do sistema de condução e ativa todo o miocárdio de maneira uniforme. A ativação atrial ocorre pelas vias intra-atriais. Primeiro estimula-se o AD e, consequentemente, o AE, da parte superior do átrio para a parte inferior. A despolarização atrial representa-se no ECG como a onda P. Após a ativação atrial, o impulso chega ao nó atrioventricular (NAV) e há um atraso na condução do estímulo (para que a contração não seja simultânea). Assim, o impulso atinge a porção proximal do feixe de His e gera um potencial rápido de ação. Após isso, atinge a porção distal do feixe de His e é conduzido pelos ramos direito e esquerdo até as fibras de Purkinje, causando a despolarização das células miocárdicas. Por fim, depois da completa despolarização ventricular, as células recuperam seu potencial de repouso, aguardando um novo estímulo. BRADIARRITMIAS São alterações da FC ou do ritmo cardíaco, mas sempre cursam com baixa frequência. Em alguns casos elas podem ser fisiológicas, como em atletas bem treinados, com baixa FC em repouso e em pacientes que apresentam BAV tipo I durante o sono. BRADICARDIA SINUSAL A bradicardia sinusal te origem no nó sinusal e cursa com frequência menor de 50bpm. A onda P apresenta-se com orientação habitual e precedendo o complexo QRS. Figura 1. Para a SBC, abaixo de 50. Pode ter como causas um tônus vagal excessivo (vômitos, por exemplo), um tônus vagal deprimido, medicações como amiodarona, DNSA, condições sistêmicas adversas (como meningite, hipotermia, hipotireoidismo), além de IAM (neste caso, transitório e mais associado aos IAM de parede inferior). O quadro clínico geralmente é benigno e pode, inclusive, favorecer a hemodinâmica (maior tempo diastólico = enchimento ventricular) e, eventualmente, associa-se à síncope vasovagal. O tratamento geralmente não é necessário. No entanto, se bradicardia associada a débito cardíaco inadequado, administra-se atropina, e em bradicardias sinusais persistentes pode-se colocar um marca-passo. ARRITMIA SINUSAL A arritmia sinusal pode ter causas fisiológicas, como a respiratória, melhor evidenciada em crianças (onda P a onda P diminui com a inspiração), e causas patológicas, como a doença do nó sinusal, além de alterações causadas por medicamentos como opioides. O quadro clínico raramente provoca sintomas e o tratamento não é necessário, pois o aumento da FC suprime a arritmia. PAUSA SINUSAL A pausa sinusal é marcada por longos períodos sem a onda P no ECG – nenhuma onda P bloqueada. Quando longas, são interrompidas por batimentos de escape. A pausa geralmente é assintomática quando há escape ventricular que previne a assistolia e quando a pausa não precipita uma taquiarritmia. Seu tratamento consiste no tratamento da doença do nó sinoatrial, com a instalação de um marca-passo se há sintomas e pausas longas maiores que três segundos durante a vigília. BLOQUEIOS ATRIOVENTRICULARES São caracterizados por aumento do intervalo PR acima do valor máximo definido para aquela FC e idade, podendo ocorrer ondas P sem o complexo QRS correspondente. Eles podem ocorrer em qualquer nível da condução AV, isso é, pode ser no átrio, no nó AV, no feixe de His ou nos ramos do feixe de His. Os BAV podem ser parciais, sendo os de primeiro e segundo grau, ou totais, que é o de terceiro grau. BAV DE 1° GRAU No BAV de primeiro grau, o tempo de condução AV está aumentado, mas a condução AV está sempre presente, isso é, há aumento do intervalo PR, que se torna maior que 0,2s ou 5 quadradinhos (aumento da LFB – 08/03/2023 2 FPM VII – CARDIO onda P, sem bloqueio de QRS) e onda P sempre precedendo um QRS. O BAV de primeiro grau nunca é sintomático. Tem como possíveis causas a miocardite e a doença do nó sinusal. BAV DE 2° GRAU É definido como o bloqueio de impulsos atriais para os ventrículos decorrentes de uma disfunção patológica. No BAV de segundo grau, a condução AV é intermitente. Tipo I (Mobitz 1): O intervalo PR vai ficando mais longo até que uma onda P não é conduzida/P bloqueada (fenômeno de Wenckback). O intervalo PR subsequente é mais curto e vai aumentando progressivamente até surgir nova onda P não conduzida – PR antes tem que ser maior que o PR depois da onda P bloqueada. No Mobitz 1 raramente há sintomas e pode ser normal em atletas. Raramente necessita de implante de marca passo e pode surgir na fase aguda do IAM de parede inferior. Tipo 2 (Mobitz 2): Alguns estímulos atriais são conduzidos e outros não. O intervalo PR não varia (fixo até a P bloqueada) – PR antes e depois da P bloqueada é igual. O Mobitz 2 pode ocorrer devido a doença estrutural do sistema de condução ou devido a medicamentos como betabloqueadores. Além disso, pode evoluir para BAV total (BAV de terceiro grau) e exige implante de marca passo. BAV 3° GRAU O BAV de terceiro grau é também conhecido como BAV total ou completo, isso é, não tem condução AV. O que ocorre é uma independência entre a despolarização atrial e a despolarização ventricular, logo, o intervalo entre as ondas P segue uma frequência e o intervalo entre os complexos QRS segue outra frequência diferente. A frequência atrial sempre se encontra mais rápida e, consequentemente, poderá haver uma despolarização atrial que preceda a despolarização ventricular, que esteja dentro do complexo QRS ou até mesmo após ele. São comuns achados como eventuais QRS ou ondas T maiores em decorrência da junção da despolarização atrial com a despolarização ventricular ou a repolarização ventricular, respectivamente. O paciente geralmente apresenta síncopes e/ou sintomas de baixo débito. Pode acontecer devido a uma doença estrutural do sistema de condução ou devido a medicamentos. Além disso, a maioria dos pacientes necessita da implantação de um marca passo definitivo. BLOQUEIOS INTERVENTRICULARES Para identificar se há bloqueio de ramos, deve-se olhar nas precordiais V1 e V2 e contar os quadradinhos do QRS. O normal é sempre até três quadradinhos. Se o QRS estiver alargado, é indicativo para bloqueio de ramo. BLOQUEIO DE RAMO ESQUERDO (BRE) Ocorre quando há bloqueio do tronco do ramo esquerdo antes da sua bifurcação em fascículos anterossuperior e póstero-inferior ou o bloqueio dos dois fascículos ao mesmo tempo. A presença de BRE assintomático levanta o alerta de doenças relacionadas com este diagnóstico, como hipertensão e síndromes coronarianas. Por isso, na presença deste bloqueio é necessário investigar estas doenças e outras como miocardite, valvulopatias e cardiomiopatias. O BRE apresenta como características: LFB – 08/03/2023 3 FPM VII – CARDIO • QRS alargado (maior ou igual 120ms ou 0,12s ou três quadradinhos); • Onda R alargada em V5 e V6, formando a conhecida “onda em torre” ou “R-R’”. Em DI e aVL também pode ocorrer essa onda, pois são derivações que também estão direcionadas ao ventrículo esquerdo; • Ausência de Q em V5, V6 e DI; • Desnível de ST no sentido oposto ao da principal deflexão do QRS; • Onda T também oposta ao QRS (positiva em V1); • Eixo elétrico entre -30° e +60°. O BRE pode ser classificado em leve, moderado ou avançado. BLOQUEIO DE RAMO DIREITO (BRD) O BRE é o bloqueio completo ou incompleto da condução do estímulo pelo ramo direito do feixe de His. A epidemiologia do BRD completo aumentacom a idade, mas diferente de BRE, não se associa tanto com fatores de risco ou doenças cardíacas agudas, como IAM, e isso pressupõe que o BRD esteja mais envolvido com doenças cardíacas degenerativas. Já no incompleto, há menor associação com a progressão da idade. O BRD apresenta como características: • QRS alargado (maior ou igual 120ms ou 0,12s ou três quadradinhos); • Presença de complexos rsr’, rsR’ ou rSR’ em V1 ou V2, sendo a onda R’ habitualmente maior que r; • Onda S alargada em V6 e D1, com duração maior que a onda R ou maior que 40ms em adultos. O BRD pode ser classificado em leve, moderado ou avançado. COMO DIFERENCIAR BRD E BRE: Para saber se é um bloqueio de ramo direito ou esquerdo, basta utilizar o raciocínio da seta de carro. Quando se posiciona a alavanca para baixo, a setinha aponta para a esquerda e quando é colocada pra cima, a setinha aponta para a direita. Dessa maneira, olhando o QRS na derivação V1, quando a parte final dele estiver positiva, trata-se de BRD e quando estiver negativa, de BRE – cabe lembrar que QRS em um ECG normal é negativo. LFB – 08/03/2023 4 FPM VII – CARDIO TAQUIARRITMIAIS As taquiarritmias são distúrbios de frequência, formação e/ou condução do impulso elétrico cardíaco que se caracterizam por uma FC acima de 100bpm e podem apresentar alteração da regularidade e morfologia dos complexos. São responsáveis por inúmeras admissões hospitalares com real impacto na morbimortalidade. Deve-se realizar uma abordagem adequada, com clínica e avaliação de mecanismos arritmogênicos, além da elaboração de diagnósticos diferenciais. Como manifestações clínicas podem apresentar palpitações, dispneia, diaforese e dor precordial. De forma prática, pode-se avaliar o tipo da taquiarritmia segundos dois elementos: • Intervalo QRS: se estreito (<120ms), supraventriculares, ou largo (> ou = 120ms), geralmente ventriculares – atenção pois algumas TA supraventriculares podem apresentar QRS largo quando associadas a distúrbios de condução; • Intervalo RR: se regular ou irregular. A classificação das TA é segundo o local de origem, isso é, átrios ou ventrículos. Assim, se partem dos átrios são supraventriculares (lembrando: QRS estreito) e, se partem dos ventrículos, ventriculares (lembrando: QRS largo). TAQUICARDIAS SUPRAVENTRICULARES TAQUICARDIA SINUSAL A taquicardia sinusal é causada por uma exacerbação do tônus simpático. Ela pode ocorrer em resposta a um estímulo fisiológico (exercício, estresse emocional) e como consequência de um estímulo excessivo (hipertireoidismo, uso de medicações adrenérgicas). Os critérios eletrocardiográficos são: • FC > 100bpm; • Ritmo sinusal, com presença de ondas P positivas em DI, DII e aVF, e negativa em aVR, sempre precedendo QRS; • QRS estreito (<120ms); • Intervalo RR regular. TAQUICARDIAS ATRIAIS Frequentemente benignas, com a possível exceção das formas incessantes que podem levar à taquicardiomiopatia. A onda P pode possuir uma morfologia distinta da sinusal, com frequência atrial de 100 a 250 bpm. Durante a arritmia, uma linha isoelétrica está usualmente presente entre as ondas P, podendo distinguir a taquicardia atrial do flutter atrial. Apresentam frequência atrial >100bpm e QRS estreito (<120ms). Unifocal: apresenta onda P com ritmo regular, diferente da sinusal. Multifocal: onda P com pelo menos 3 morfologias distintas. Além disso, apresenta PR com variações mínimas. O ritmo é sempre irregular. LFB – 08/03/2023 5 FPM VII – CARDIO FIBRILAÇÃO ATRIAL (FA) A FA se trata da desorganização da atividade elétrica atrial, impedindo que haja uma contração eficiente dos átrios. É causada pelo mecanismo de micro reentrada. A prevalência na população geral é 0,4%, sendo maior com a progressão da idade, chegando a 6% na população acima de 80 anos. Além disso, o risco de um acidente vascular cerebral (AVC) em um paciente com fibrilação atrial (FA) é de cerca de 5% ao ano, o que é 2 a 7 vezes maior que na população sem esta arritmia. Pode estar relacionada a condições temporárias como ingesta alcoólica, cirurgia torácica ou cardíaca, choque elétrico, infarto do miocárdio, pericardite, miocardite, embolia pulmonar ou outras patologias pulmonares, hipertireoidismo e distúrbios metabólicos. Pode ser sintomática ou assintomática, dependendo do estado funcional do paciente, da resposta ventricular, da duração da arritmia e da percepção individual. Os critérios eletrocardiográficos são: • Ausência de onda P – não contrai, não tem atividade mecânica, não há fase de ejeção rápida do átrio para o ventrículo; • Ritmo atrial não organizado – presença de atividade atrial rápida e irregular, de baixa amplitude (ondas “f” caracterizando um tremor de linha de base); • Apresenta intervalo RR irregular (exceto se houver dissociação AV, em que o intervalo é regular). Se o sangue não é ejetado, parte dele pode entrar na aurícula esquerda e formar coágulo, podendo, por isso, evoluir para um AVC isquêmico, ou trombose para os membros, ou isquemia mesentérica. O tratamento consiste em três objetivos: controle da resposta ventricular, restauração da sístole atrial e prevenção de episódios tromboembólicos. FLUTTER ATRIAL O flutter atrial ocorre, em geral, de maneira paroxística e transitória e raramente como arritmia crônica. No ECG: • Ritmo atrial organizado; • Frequência atrial entre 250 e 350 bpm; • Ausência de ondas P; • Presença de ondas F, formando um traçado serrilhado (ondas em faca de serra) – mais visível nas derivações inferiores (D2, D3 e AVF) e em V1; • Movimentos menos descompassados, podem ser regular ou irregular. EXTRASSÍSTOLES As extrassístoles são batimentos precoces originados de focos ectópicos (fora do marca passo sinusal) que geram um impulso elétrico com consequente despolarização ventricular. Após a extrassístole, é esperado um período sem atividade elétrica, chamado de pausa pós-extrassistólica. O quadro clínico pode ser assintomático ou com palpitação e sensação de “soco no peito”. SUPRAVENTRICULARES VENTRICULARES Batimento precoce que se origina nos ventrículos. Comum em pessoas normais e não tem mau prognóstico. A presença de cardiopatia aumenta o risco de MS. LFB – 08/03/2023 6 FPM VII – CARDIO Podem, ainda, ser divididas de acordo com sua distribuição em bigeminal (extrassístole intercalada com batimento sinusal), trigeminal (extrassístole intercalada com dois batimentos sinusais), quadrigeminal (extrassístole intercalada com três batimentos sinusais), pareadas (duas consecutivas) e taquicardia (3 ou + extrassístoles consecutivas). TAQUICARDIAS VENTRICULARES Dentre as taquicardias, sem dúvida estas são as de maior morbimortalidade, pois evoluem muito rapidamente para FV e assistolia. Podem ser classificadas em sustentadas, se durarem mais de 30 segundos, e não sustentadas se durarem menos de 30 segundos. Além disso, apresentam QRS largo, pois são ventriculares. O quadro clínico consiste em palpitações, dor torácica (85% têm anatomia cardíaca anormal) e a sintomatologia nas taquicardias ventriculares é variada, mas geralmente está presente e associada a risco de morte, especialmente nos pacientes com cardiopatia estrutural. Pré-síncope e síncope, baixo débito, congestão pulmonar e mesmo parada cardiorrespiratória são outras manifestações clínicas possíveis. TAQUICARDIA VENTRICULAR NÃO SUSTENTADA – TVNS Apresenta ritmo ventricular repetitivo, com 3 ou mais batimentos consecutivos, autolimitado, com duração inferior a 30s e FC superior a 100 bpm, TV SUSTENTADA MONOMÓRFICA O ritmo ventricular tem morfologia uniforme, frequência superior a 100 bpm e duração maior de 30s. TV SUSTENTADA POLIMÓRFICA Apresenta ritmo ventricularcom QRS de morfologia variável, frequência superior a 100 bpm e duração superior a 30s. TORSADES DE POINTES É uma taquicardia com QRS largo, polimórfica, autolimitada, com QRS “girando” em torno da linha de base. Geralmente, é precedida por ciclos, o longo-curto (extra-sístole batimento sinusal- extra-sístole) e o QT longo, que pode ser congênito ou secundário a fármacos. O diagnóstico diferencial pode ser FV, mas a torsades ainda tem pulso. FIBRILAÇÃO VENTRICULAR Eletrocardiograficamente, caracteriza-se por ondas bizarras, caóticas, de amplitude e frequência variáveis. Este ritmo pode ser precedido de taquicardia ventricular ou torsades de pointes, que degeneraram em fibrilação ventricular. ASSISTOLIA Ausência de qualquer atividade ventricular contrátil e elétrica em pelo menos 2 derivações eletrocardiográficas.
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