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SUMÁRIO ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 1. Taquiarritmias .............................................................. 3 2. Taquiarritmias supraventriculares (TSV) ........... 6 3. Taquicardia atrial (TA) .............................................. 7 4. Flutter Atrial (FLA) e Fibrilação Atrial (FA) ........ 9 5. Taquicardia paroxística supraventricular (TPSV) ...............................................................................13 6. Taquicardia com QRS alargado ..........................16 7. Taquiarritmias ventriculares (TV) .......................19 8. Fibrilação ventricular ...............................................26 ALTERAÇÕES ISQUÊMICAS E INFARTO 1. Introdução ...................................................................29 2. Isquemia ......................................................................32 3. Injúria/lesão ................................................................34 4. Zona eletricamente inativa ...................................40 Referências Bibliográficas ........................................44 3ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 1. TAQUIARRITMIAS CONCEITO! O ritmo sinusal normal (RSN) é considerado quando frequên- cia cardíaca (FC) estiver entre 60 a 100 batimentos, for regular e houver onda P com vetor normal. O ritmo regular de 60 a 100 batimen- tos que se origina da despolarização do nó SA corresponde ao ritmo sinusal normal. Qualquer distúrbio na frequ- ência, na regularidade, no local de origem ou na condução do impulso elétrico cardíaco é chamado de arrit- mia, ou mais acuradamente disritmia. É importante o conhecimento que as arritmias podem ser classificadas se- gundo alguns critérios, quanto a(o): • Frequência cardíaca: taquicardia (>100bm) e bradicardia (< 60bpm); • Território de origem: supraventri- cular (sinusal, atrial ou juncional) e ventricular • Forma de instalação: paroxística (de instalação súbita) e não paro- xística (início gradual) • Duração: sustentada (>30s, que depende de intervenção para re- verter ou provocam colapso he- modinâmico) e não sustentada (autolimitadas e de curta duração) • Duração do QRS: de QRS largo (> 120ms) e QRS estreito (≤120ms) • Periodicidade: intermitente (apa- recem e desparecem espontane- amente) e permanente (definitivo) • Mecanismo: várias são as pos- sibilidades do mecanismo de instalação: ◊ Distúrbios de automatismo, com aumento ou diminuição; ◊ Distúrbios de condução (dro- motropismo), com aceleração das vias (pré-excitação) ou re- tardo/interrupção (bloqueio); ◊ Reentrada (reexcitação pelo mesmo estímulo entre várias células) ◊ Atividade deflagrada (reexci- tação pelo mesmo estímulo numa única célula) • Número de batimentos envolvidos: ◊ Isolados/pareados: extrassís- toles (antecipados) ou de es- cape (tardios) ◊ Sucessão de três ou mais ba- timentos: taquicardia (ritmo acelerado) ou ritmo de escape (ritmo lento) Nas taquiarritmias, quando falamos em relação aos mecanismos arrit- mogênicos, ocorrem principalmente dois: distúrbios de automatismo e reentrada. No estudo etiológico das taquiarritmias, nem sempre é possí- vel distinguir qual mecanismo efe- tivamente ocorre em cada arritmia, porém observa-se qual pode explicar 4ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 melhor a eletrofisiologia da doen- ça. As taquiarritmias que se iniciam e terminam progressivamente são mais sugestivas de possuírem um mecanismo de automatismo ectópi- co, enquanto as com início e término súbitos podem ser mais sugestivos de circuitos de reentrada. Entretanto, pode acontecer também de arritmias se iniciarem por meio de automatis- mo e serem sustentadas por meio de reentrada. Vale ressaltar que os me- canismos de reentrada podem ser por reentrada anatômica, quando há um circuito anatomicamente definido e, portanto, com um comportamento mais previsível; e reentrada funcional, quando não há um problema anatô- mico, mas uma variação na condução elétrica entre as regiões adjacentes, sendo mais imprevisível e associado a mais ritmos fibrilatórios. Figura 1. A reentrada pode ser macrorreentrada (1, 3 e 4) ou microrreentrada (2). Fonte: ECG: manual prático de ele- trocardiograma, Ed. Atheneu, São Paulo, 2013 Nem toda arritmia é patológica ou perigosa. Entretanto, muitas arritmias podem ser perigosas, necessitando de intervenção para prevenir morte súbita. São inúmeros os fatores dire- tamente relacionados à fisiopatologia das arritmias, como doenças arteriais coronárias, miocardiopatias, valvopa- tias, alterações eletrolíticas, miocar- dites, doenças infiltrativas, pós-cirur- gia cardíaca ou mesmo por causas congênitas. Além disso, as arritmias também podem surgir por fatores ex- ternos, como cafeína, bebidas alco- ólicas, energéticos, cigarro, drogas e estresse. As taquiarritmias podem ser reco- nhecidas ou suspeitadas ao exame clínico pelos sintomas relatados pelo paciente e pelos sinais, com pulso radial, pulso venoso e achados da ausculta. As manifestações clínicas das taquiarritmias correspondem a 5ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 palpitações, fadiga, desconforto to- rácico e, em casos mais graves, a síndrome de hipoperfusão cerebral (SHC) devido ao baixo débito cardía- co. Esses sintomas associados a SHC geralmente ocorrem em FC> 15 bpm e são referidos com tontura e síncope. Quando a arritmia possui início súbito pode desencadear insuficiência car- díaca congestiva em pacientes com doença cardíaca subjacente. O ECG é indicado para pacientes que apresentam manifestações clínicas de arritmias a fim de identificar con- dições que predispõem arritmias ma- lignas e morte súbita, sendo mais co- mum anormalidades de repolarização que prolongam o intervalo QT. A região supraventricular contém as estruturas cardíacas excitáveis acima da bifurcação do feixe de His, ou seja, nó sinusal, paredes atriais, nó atrio- ventricular e feixe de His. Figura 2. Ilustração da divisão em territórios supra- ventricular e ventricular. DISPONIVEL EM: Reis, H.J., Guimarães, H.P., Zazula, A.D. et. al. ECG: Manual Prático de Eletrocardiograma. São Paulo, 2013 TAQUICARDIAS SUPRAVENTRICULARES Taquicardia sinusal Taquicardia por reentrada nodal Taquicardia atrial uni/multifocal Fibrilação atrial Flutter atrial NÓ SINUSAL JUNÇÃO DO NÓ AV QRS LARGO ÁTRIO TAQUICARDIAS VENTRICULARES Extrassístoles ventriculares Taquicardia ventricular monomórfica Taquicardia ventricular polimórfica Fibrilação ventricular VENTRÍCULO MAPA MENTAL - TAQUICARDIAS 6ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 2. TAQUIARRITMIAS SUPRAVENTRICULARES (TSV) As taquicardias supraventriculares são aquelas que o tecido atrial é ne- cessário para a origem ou para a per- petuação da taquicardia, portanto ocorrendo do feixe de His para cima. Geralmente nesses tipos de taquiarrit- mias, a FC> 100 bpm está associada a um QRS estreito, visto que reflete a ativação rápida dos ventrículos pelo sistema His-Purkinje normal. Há al- gumas condições em que esse QRS pode estar alargado, que ocorre quan- do, além da alteração supraventricular, está associado um bloqueio de ramo preexistente ou feixe anômalo, dife- rentemente do que ocorre nas taqui- cardias ventriculares, em que o QRS geralmente está alargado por um em- pecilho na condução ventricular ou por uma condução ectópica ventricular. As taquiarritmias supraventriculares são subdivididas em (1) taquicardia si- nusal, (2) taquicardia atrial (unifocal e multifocal), (3) fibrilação atrial, (4) flut- ter atrial, (5) taquicardia por reentrada nodal e (6) taquicardia de QRS largo. Para esclarecer os mecanismos das taquicardias supraventriculares é ne- cessária a análise detalhada do traça- do eletrocardiográfico, que deve levar em consideração os seguintes passos: • Identificar a atividade atrial. • Definir a relação entre o número de ondas P e de complexo QRS. • Avaliar os intervalos RP e PR. • Analisar a morfologia da onda P nas doze derivações. Figura 1. O RP é definido como o intervalo entre a ondaR e a onda P subsequente, enquanto o PR é o in- tervalo entre a onda P e a próxima onda R. No exemplo o RP é maior que o PR. Fonte: ECG: manual prático de eletrocardiograma, Ed. Atheneu, São Paulo, 2013 Taquicardia sinusal A taquicardia sinusal é decorrente de impulsos acelerados do nó sinoa- trial acima de 100 batimentos por mi- nuto, com um ritmo regular. O diag- nóstico é feito com: • Onda P precedendo cada comple- xo QRS • Onda P positiva em DI, DII e aVF • Onda P com eixo normal Esse tipo de taquicardia pode ocorrer fisiologicamente no corpo como uma resposta esperada a esforços físicos e a condições em que há liberação de catecolaminas, como febre e deple- ção de volume, hipotensão e choque, sepse, anemia, embolia pulmonar, 7ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 IAM, ansiedade, hipertireoidismo. Pode ocorrer também uma taqui- cardia sinusal inapropriada, quando não há associação com nenhuma dessas condições e sem doença car- díaca aparente, sendo considerado um diagnóstico de exclusão. Figura 2. ECG mostrando taquicardia sinusal a uma FC de 150 bpm. É possível observar a di- ficuldade de separar as ondas P das ondas T nas derivações padrão. As ondas P são mais evi- dentes na derivação V1 (seta). DISPONÍVEL EM: https://www.uptodate.com/contents/ima- ge?imageKey=CARD%2F78938&topicKey=CARD%2F1074&search=taquicardia%20 sinus&rank=1~150&source=see_link SAIBA MAIS! Há ainda uma condição chamada de Síndrome da taquicardia ortostática postural que acontece, principalmente, com mulheres jovens, na qual desenvolvem palpitações, fadiga e tontura ao adquirir a posição em pé. Os critérios são aumento da FC ≥ 30bpm, com ausência de hipotensão postural (queda ≥ 20 mmHg). A taquicardia é apenas um dos sinais de um distúrbio de regulação autonômica. TAQUICARDIA SINUSAL FC > 100bpm Onda P precedendo QRS Onda P positiva em DI, DII e aVF MAPA MENTAL – TAQUICARDIA SINUSAL 3. TAQUICARDIA ATRIAL (TA) É a arritmia mais comum em pacien- tes com DPOC, principalmente quan- do descompensados. É uma condição que pode ocorrer também na vigên- cia de distúrbios eletrolíticos (hipo- calemia/hipomagnesemia), liberação alcóolica, uso de cardioestimulante, 8ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 locais ou circuitos maiores. As TAs focais são geralmente paroxísticas e autolimitadas. Uma TA focal inces- sante (quando presente em pelo me- nos 90% do tempo em que o paciente é monitorado) pode estar associada a disfunção ventricular esquerda. Em geral, os achados eletrocardiográficos frequentemente demonstram uma al- teração que pode ser leve na morfo- logia da onda P em V1 e DII, com uma FC entre 110 e 250 bpm. O intervalo PR é normal com um QRS também normal/estreito, sendo difícil distinguir do ritmo sinusal. Figura 3. Traçado eletrocardiográfico mostrando ta- quicardia atrial unifocal. Em DII extenso, FC> 100 bpm, QRS estreito e morfologia da onda P negativa (diferente de uma onda P sinusal). DISPONÍVEL EM: Sanarflix, Curso ECG: Taquiarritmias- Taquicardia sinusal e atrial, fibrilação e flutter atrial. SE LIGA! A distinção de uma taquicar- dia atrial focal de uma taquicardia sinu- sal pode ser muito sutil, necessitando de muitos minutos e vários ECGs. Um início ou término abrupto favorece um TA fo- cal. A taquicardia sinusal requer de 30 segundos a vários minutos para acelerar ou diminuir sua velocidade. pacientes em uso de digitálicos. Normalmente: • Frequência atriais até 300 bpm • Onda P precedendo o QRS com morfologia diferente da onda P sinusal • Intervalo RP > PR • Admite BAV Pelo fato de induzir um BAV transi- tório, a manobra vagal pode facilitar a visualização da onda P durante a taquicardia. Onda P’ positiva em aVL sugere originar-se no átrio direito, en- quanto positiva em V1 sugere origi- nar-se no átrio esquerdo. Taquicardia atrial focal (TAF) Esse tipo de taquicardia se origina fora do nó sinusal, em um único sítio ectópico atrial direito ou esquerdo, portanto, apresenta ondas P não si- nusais. Como esta taquicardia é indu- zida por um único foco atrial durante todo tempo, a morfologia da onda P geralmente anormal, porém podendo ser normal caso o foco seja próximo ao nó sinusal. Além disso, um único foco diferencia a taquicardia focal de outras arritmias, como flutter atrial, fibrilação atrial, que envolve vários 9ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 SAIBA MAIS! Sempre que nos depararmos com uma TA associada a um BAV, devemos pensar na hipótese de intoxicação digital. Figura 4. Taquicardia atrial multifocal pela presença de três ondas P de morfologias distintas (P1, P2 e P3), com intervalos PR também diferentes. DISPONÍ- VEL EM: http://www.cardios.com.br/noticias_detalhes. asp?idnoticia=153&idsecao=9&idtiponoticia=7 TAQUICARDIA ATRIAL FOCAL TAQUICARDIA ATRIAL MULTIFOCAL FC entre 110 e 250 (atriais até 300bpm) FC entre 100 e 130 (atriais até 300bpm) Onda P não sinusal Onda P não sinusal RP > PR Intervalo PR irregular Onda P com morfologia única Ondas P com 3 morfologias diferentes Admite BAV MAPA MENTAL – TAQUICARDIA ATRIAL FOCA MAPA MENTAL – TAQUICARDIA ATRIAL MUL- TIFOCAL Taquicardia atrial multifocal (TAMF) É uma arritmia, portanto ritmo irregu- lar, caracterizada por FC > 100 bpm, com mais de um foco de origem de atividade elétrica que não no nó sinu- sal, o que acaba causando uma ativi- dade irregular no ritmo. O diagnóstico é feito com: • Onda P com 3 morfologias dis- tintas (devido aos múltiplos focos) • Intervalo P-R irregular • FC entre 100 a 130 bpm 4. FLUTTER ATRIAL (FLA) E FIBRILAÇÃO ATRIAL (FA) Em muitas vezes, o FLA e a FA ocor- rem no mesmo paciente. Metade dos pacientes com FLA evoluem para FA em cinco anos. 10ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 Flutter Atrial Pode ser um ritmo estável ou uma arritmia, porém muito mais organiza- da que a FA e utiliza a circunferência dos átrios como circuito de reentrada. Frequentemente é uma TSV regu- lar, com intervalos RR semelhantes e QRS estreito. FIgura 5. Flutter atrial: circuito de macroentra- da atrial, com atividade atrial mais organiza- da. ADAPTADO DE: https://www.google.com/ url?sa=i&source=imgres&cd=&ved=2ahUKEw- ju2JuUg8npAhX1FLkGHaCTC7UQjhx6BAgBE- AI&url=https%3A%2F%2Fwww.passeidireto.com%- 2Farquivo%2F61974480%2F81-ca-62441-f-24-e- -6304-c-33082-ae-3715-b-5-e&psig=AOvVaw1Di- JIM-KEmZnzU3h0alfUv&ust=1590289965175621 Caracteriza-se por: • Frequência atrial muito alta, entre 250 a 330 bpm • FC em torno de 150 bpm • Ondas P substituídas por ondas F • Complexos QRS estreitos (salvo em bloqueios de ramo ou condu- ção aberrante) A frequência cardíaca geral não é tão elevada quanto a frequência atrial, pois o nó atrioventricular não tem ca- pacidade de conduzir impulsos com uma frequência tão alta. Na forma mais frequente, o circuito de macror- reentrada é no sentido anti-horário, levando ao aparecimento de ondas atriais negativas em DII, DIII e aVF, e ondas positivas em V1. Essas ondas atriais, possuem uma característica específica, os dentes de serra, sendo chamadas de ondas F. Outra carac- terística é que essas ondas F podem gerar ondulações nos segmentos iso- elétricos. Pode acontecer também de o circuito ser no sentido horário, as- sim a apresentação das ondas F será de forma invertida (Flutter Atrial típico reverso). 11ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 Figura 6. ECG de flutter atrial típico no sentido anti-horário, mostrando ondas F negativas nas de- rivações DII, DIII e aVF e positivas em V1. DISPONÍVEL EM: https://www.uptodate.com/con- tents/image?imageKey=CARD%2F89571&topicKey=CARD%2F1048&search=taquycardias%20 supraventriculares&source=see_link SAIBA MAIS! A diferenciação de Flutter Atrial típico e atípico vai possuir implicações úteis na definição do tratamento. Quanto às manifestações clínicas são semelhantes, assim como também da fi- brilação atrial. FLUTTER ATRIAL FC em torno de 150 bpm FA entre 250 a 330 bpm QRS estreitos (exceto em bloqueio de ramo ou condução aberrante) Ondas P substituídas por Ondas F AdmiteBAV MAPA MENTAL – FLUTTER ATRIAL Fibrilação Atrial É uma arritmia mais comum em ho- mens e com o aumento da idade, associada a etiologias cardíacas e extracardíacas. Dentre as cardíacas se destacam cardiopatia hipertensi- va, insuficiência cardíaca e valvopa- tias. Das extracardíacas, obesidade, síndrome metabólica e doença renal crônica. A fisiopatologia da FA é mul- tifatorial, sendo os principais respon- sáveis alterações atriais anatômicas (dilatação e fibrose) secundárias às 12ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 cardiopatias e remodelamento ele- troanatômico secundário à própria FA. Tais alterações geram múltiplos microcircuitos de reentrada, o que re- sulta na estimulação atrial caótica por inúmeros focos ectópicos. Dessa for- ma, a FA pode ter consequências ad- versas relacionadas à redução do dé- bito cardíaco e a formação de trombo atrial. Figura 7. Fibrilação atrial: múltiplos focos, com ativi- dade atrial irregular e caótica. ADAPTADO DE: https:// www.google.com/urlsa=i&source=imgres&cd=&ve- d=2ahUKEwju2JuUg8npAhX1FLkGHaCTC7UQjhx6BA- gBEAI&url=https%3A%2F%2Fwww.passeidireto. com%2Farquivo%2F61974480%2F81-ca-62441-f- -24-e-6304-c-33082-ae-3715-b-5-e&psig=AOvVaw- 1DiJIM-KEmZnzU3h0alfUv&ust=1590289965175621 O diagnóstico requer: • Frequência atrial > 300 bpm • FC entre 90 e 170 bpm • Ausência de ondas P discretas (po- dendo ser vista atividade elétrica sugestiva em algumas derivações) • Ondas F variando em morfologia, amplitude e intervalos • Intervalos R-R “irregularmente irregulares” • Complexo QRS estreito Figura 8. Fibrilação atrial em derivação DIII: ritmo irregularmente irregular, ativação atrial rápida, sem ondas P distintas, ondas fibrilatórias rápidas, irregula- res, variáveis e de baixa amplitude entre os complexos QRS. DISPONÍVEL EM: https://www.uptodate.com/ contents/image?imageKey=CARD%2F62698&topi- cKey=CARD%2F1014&search=taquycardias%20 supraventriculares&source=see_link 13ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 Figura 9. ECG mostrando fibrilação atrial com achados característicos: (1) presença de on- das fibrilares atriais rápida (ondas F) e resposta ventricular irregularmente irregular, com interva- lo RR imprevisível. A diferença para um Flutter Atrial é que no FLA a altura e a duração variáveis das on- das F são idênticas e ocorrem a uma taxa de 250 a 350 bpm. DISPONÍVEL EM: https://www.uptodate. com/contents/image?imageKey=CARD%2F73958&topicKey=CARD%2F1014&search=taquycardias%20 supraventriculares&source=see_link SAIBA MAIS! A transformação da FA em FLA é um achado não raro em pacientes que se submetem ao Holter de 24 horas. Essa observação pode ser indicativa de efeito benéfico de um fármaco antiarrítmico sobre o circuito arritmogênico. Neste caso, o prolongamento do período refratá- rio atrial pode reduzir os circuitos reentrantes responsáveis pela FA, tornando-os mais organi- zados, próximos, portanto, de se extinguirem. Aliás é comum a observação da transformação segundos antes do paciente retornar ao ritmo sinusal. 5. TAQUICARDIA PAROXÍSTICA SUPRAVENTRICULAR (TPSV) São as taquicardias de origem não ventricular que se iniciam e se re- solvem abruptamente (caráter paro- xístico). Dessa forma, o mecanismo que causa esse tipo de arritmia é a reentrada. Há dois tipos de taqui- cardia por reentrada: (1) nodal e (2) atrioventricular. Taquicardia por reentrada nodal (TRN) Se caracteriza por um ritmo absoluta- mente regular e é o tipo mais comum de TPSV (cerca de 70% dos casos). FIBRILAÇÃO ATRIAL FC entre 100 e 170 bpm FA > 300 bpm Intervalos RR irregulares Ausência de ondas P discretas Admite BAV MAPA MENTAL – FIBRILAÇÃO ATRIAL 14ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 Nesse tipo de taquicardia, o circuito de reentrada se faz no nó AV, a partir de uma dupla via nodal, ou seja, o nó AV apresenta duas vias de condução (α e α) eletrofisiologicamente distin- tas. Nem todo indivíduo com taqui- cardia por reentrada nodal apresenta sintomas de taquiarritmia. No ECG se apresenta por: • FC entre 120 a 220 bpm • QRS estreito • RR regular, com RP < PR • Sem visualização da onda P A via α apresenta uma condução mais lenta, com um período refratário curto; já a via α é exatamente o oposto, com uma condução mais rápida e um pe- ríodo refratário maior. Os ventrículos são despolarizados pelo sistema His- -Purkinje, inscrevendo um QRS es- treito (exceto se houver bloqueio de ramo associado). Normalmente, o es- tímulo desce para os ventrículos pela via lenta e sobe pela via rápida, carac- terizando a forma típica. Nesse mo- mento, o estímulo sobe rapidamente pela via α, despolarizando os átrios de forma retrógrada. Essa ativação atrial invertida é representada no ECG por uma onda P retrógrada (P), que será negativa nas derivações DII, DIII e aVF e positiva em V1. Na maio- ria das vezes a despolarização atrial coincide com a despolarização ventri- cular, não sendo possível visualizar a onda P devido ao QRS se sobrepor. Entretanto, eventualmente, a despo- larização ventricular pode preceder a atrial com maior nitidez identificando a onda P ao final do complexo QRS, simulando uma onda s em DII, DIII e aVF ou uma onda r’ (simulando um BRD de 1º grau). Na maioria dos ca- sos a frequência cardíaca é regular fi- cando em torno de 130 a 250 bpm. De qualquer forma, quando a onda P for representada, ela estará muito próxima do complexo QRS anterior do que do próximo: diz-se que o in- tervalo RP é menor do que o PR. Figura 10. Taquicardia supraventricular por re- entrada nodal documentada ao Holter de 24 h. É possível observar taquicardia de QRS es- treito com onda P retrógrada. DISPONÍVEL EM: http://www.cardios.com.br/noticias_detalhes. asp?idnoticia=153&idsecao=9&idtiponoticia=7 15ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 Taquicardia por reentrada atrioventricular (TRAV) Corresponde a 30% das taquicardias paroxísticas supraventriculares. Utili- za o feixe anômalo (conexão muscu- lar anormal entre átrio e ventrículo) como via de condução, podendo ser uni ou bidirecional, sendo a condução AV (átrio-ventrículo) anterógrada e VA (ventrículo-átrio) retrógrada. Esta taquicardia é ainda subdividida em ortodrômica e antidrômica, sendo a ortodrômica a de QRS estreito. • Ortodrômica: forma mais comum, ocorre quando desce pelo sistema de condução normal, gerando um QRS estreito e sobe pela via aces- sória no sentido retrógrado. • Antidrômica: quando desce pela via acessória no sentindo anteró- grado, gerando um QRS largo e sobe pelo sistema de condução retrógrado. É o que ocorre na sín- drome de Wolff-Parkinson-White. SE LIGA! Como visto, a taquicardia por reentrada AV antidrômica utiliza uma via acessória no sentido anterógrado e o sistema de condução no sentido retró- grado. Assim, o diagnóstico diferencial com TV pode ser feito pela observação da presença de uma via acessória, com uma despolarização atrial retrógrada 1:1. Já na TV, ocorre presença de disso- ciação AV. TAQUICARDIA POR REENTRADA NODAL TAQUICARDIA POR REENTRADA AV FC entre 120 e 220 bpm FC entre 120 e 220 bpm Ausência de onda P ou onda P retrógrada Onda P retrógrada RP < PR Não admite BAV Intervalo RR regular RP < PR MAPA MENTAL – TAQUICADIA POR REENTRADA NODAL MAPA MENTAL – TAQUICARDIA POR REENTRADA AV 16ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 e (3) TSV com aberrância. O diag- nóstico de TSV com QRS largo é difí- cil, podendo necessitar de um estudo eletrofisiológico. CONCEITO! Aberrância de condução: estímulo supraventricular que encontra dificuldade de propagação regional no sistema de condução, gerando um QRS com morfologia de bloqueio de ramo. 6. TAQUICARDIA COM QRS ALARGADO Cerca de 80% das taquicardias com QRS largo vão ser taquicardias ventriculares. Porém, 20% podem ser taquicardias supraventriculares, como uma TSV com aberrância de condução, TSV com bloqueio de ramo prévio, ou por reentrada AV MAPA MENTAL GERAL – TAQUICARDIAS COM QRS ESTREITO TAQUICARDIAS COM QRS ESTREITO NÃO NÃO NÃO NÃO SIM SIM SIM SIM Onda Pvisível? RP > PR Frequência atrial > Frequência ventricular Taquicardia regular? Fibrilação atrial Flutter atrial TAMF Flutter atrial TAF TRN TAF TRN atípica TAF TRN típica TRAV ortodrômica 17ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 Para diferenciação de uma taquicar- dia supra com QRS largo de uma ta- quicardia ventricular, utiliza-se, além de dados da história e do exame físi- co, alguns achados isolados do ECG e algorítimos. Dados do ECG que su- gerem TV: Morfologia e duração Uma morfologia de QRS alargado deve ser diferenciado pela duração se é devido a um BRE ou BRD, por meio da análise de V1. Em caso de BRD com QRS com duração > 0,14s ou BRE com QRS > 0,16s são indica- tivos de TV. Eixo elétrico Sugere TV quando BRD com des- vio de eixo > -30°. Em BRE, desvio de eixo > +90°. Além disso, um des- vio extremo (à noroeste) ou um des- vio > 40º em relação ao ECG basal, também falam a favor de uma origem ventricular. Concordância Uma concordância em relação à po- sitividade ou negatividade do QRS nas derivações precordiais sugere uma taquicardia ventricular. Ou seja, o QRS sendo positivo em todas deri- vações precordiais em BRD ou nega- tivo em todas derivações precordiais em BRE. Batimentos de fusão Quando um estímulo que vêm do nó sinusal coincide com um estímulo ventricular, ocorre o que chamamos de batimento de fusão, no qual esses dois estímulos vão se fundir promo- vendo uma despolarização ventricu- lar e gerando um QRS de morfologia intermediária, como representado pela seta na figura abaixo: Batimentos de escape ventricular Condição quando ocorre uma taquiar- ritmia ventricular e aparece um QRS normal por estímulo sinusal entre eles. Por isso é importante ter acesso ao ECG basal do paciente, para que essa comparação seja mais efetiva. 18ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 Dissociação atrioventricular Na dissociação ventricular há um descompasso na despolarização atrial e ventricular. Há dois marca- passos distintos e independentes, um comandando os átrios (geralmen- te sinusal), e o outro, os ventrículos ( juncional ou ventricular). Essa disso- ciação também é uma condição que indica uma TV. Figura 11. Taquicardia ventricular com dissociação atrioventricular (AV). Observam-se taquicardia com QRS largo e ondas P sinusais dissociadas, bem evidentes em D2. A frequência ventricular é de 200 bpm e a frequência atrial é de 105 bpm. Reversão ao ritmo sinusal após a metade do traçado; o QRS continua alargado, mas a morfologia de D2 é completamente diferente na linha contínua (D2 longo). DISPONÍVEL EM: http://files.bvs.br/upload/S/1413-9979/2014/ v19n2/a4146.pdf SE LIGA! Importante comparar com ECG prévio, pois por exemplo o QRS de base do indivíduo pode já ser alar- gado, falando a favor de uma arritmia supraventricular 19ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 SAIBA MAIS! Caso com a aplicação dos critérios anteriores não seja possível a determinação do território da taquiarritmia de QRS longo, é possível ainda aplicar alguns algoritmos, dentre eles os cri- térios de Brugada. Esse algoritmo é diagnóstico para taquicardia ventricular. Critérios de Brugada: • Ausência de RS em precordiais? SIM? TV/ NÃO? próxima pergunta • RS > 0,1s? SIM? TV/ NÃO? próxima pergunta • Há dissociação AV? SIM? TV/ NÃO? próxima pergunta • Critérios morfológicos de V1 e V6 sugestivos de TV ou TSV, pela relação R/S INDICATIVOS DE TAQUICARDIAS VENTRICULARES BRD BRE DURAÇÃO > 0,14 s > 0,16 s EIXO < -30° > +90° CONCORDÂNCIA Positiva Negativa Batimentos de fusão Batimentos de escape Dissociação AV Tabela1. Indicativos de taquicardias ventrculares ( BRD x BRE) CRITÉRIOS DE BRUGADA Ausência de RS nas precordiais? RS > 0,1 s nas precordiais? Dissociação AV? Critérios morfológicos de V1 a V6 sugestivos de TV? NÃO SIM SIM SIM SIM NÃO NÃO NÃO TVTSV 7. TAQUIARRITMIAS VENTRICULARES (TV) São subdivididas em (1) ex- trassístoles ventriculares, (2) taquicardias ventriculares e (3) fibrilação ventricular Extrassístoles ventriculares (EV) Também denominadas de complexos ventriculares pre- maturos, correspondendo a um batimento precoce em 20ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 relação ao ciclo cardíaco normal. Pode ser causado por fibrose, aneurisma, bloqueio de ramo, distúrbios eletro- líticos, intoxicação medicamentosa, síndrome do QT longo, catecolaminas e isquemia. As extrassístoles ventri- culares são batimentos aberrantes com morfologia, duração e eixo dife- rente dos batimentos sinusais. Pode apresentar: • QRS e onda T com polaridades opostas • Pausa pós-extrassistólica Ocorrem devido aos três mecanismos deflagradores das arritmias citados anteriormente: reentrada, atividade deflagrada ou automatismo. A reen- trada é o mecanismo mais frequente, geralmente relacionada a fibrose, ci- catriz, aneurisma, bloqueio de ramo etc. A atividade deflagrada está co- mumente relacionada a distúrbios eletrolíticos, intoxicação medicamen- tosa e síndrome do QT longo. O au- tomatismo é favorecido pelas cate- colaminas ou por isquemia, sendo mecanismo frequente das extrassís- toles do coração normal. Figura 12. Extrassístole isolada (seta) com intervalo compensatório prolongado antes do próximo batimento. DISPO- NÍVEL EM: https://pt.my-ekg.com/arritmias-cardiacas/extrassistoles-ventriculares.html Quanto a morfologia irá depender do local de origem do foco, do grau de participação do sistema de condução e da presença de batimentos de fusão. Caso monomórficas, vão apresentar a mesma morfologia. Já em multifo- cais, a morfologia será diferente. Caso não haja alteração do intervalo RR é chamada como extrassístole ventri- cular interpolada. É comum uma ex- trassístole ser seguida por uma pausa compensatória prolongada antes do aparecimento do próximo batimento. Quando se alternam com ritmo si- nusal normal em padrão regulares é chamado de bigeminismo. Quando a 21ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 proporção é dois batimentos sinusais e uma extrassístole num padrão re- gular, é chamado de trigeminismo. CLASSIFICAÇÃO DAS EXTRASSÍSTOLES VENTRICULARES. 1. Foco de origem a) Monofocais e monomórficas Mesma morfologia e mesmo intervalo de acoplamento, originadas do mesmo foco. b) Multifocais ou polifocais e polimórficas Morfologia e intervalos de acoplamentos diferentes, originadas de focos distintos. 2. Precocidade: conforme ocorram no início, no meio ou no final da diástole (intervalo T-R) a) Protodiastólicas Ocorrem no início da diástole. b) Menodiastólicas Ocorrem no meio da diástole. c) Telediastólicas Ocorrem no fim da diástole. Obs.: As extrassístoles protodiastólicas coincidem em maior grau com o final da onda T ocasionando o fenô- meno R/T (R sobre T). Por ir ao encontro do período vulnerável do ventrículo são capazes de induzir taquiarrit- mias de alto risco como a taquicardia e a fibrilação ventriculares. 3. Quantidade: tem relação com o prognóstico a) Bigeminismo Existe uma extrassístole após cada batimento sinusal. b) Trigeminismo Para cada dois batimentos sinusais segue-se uma extrassístole. c) Quadrigeminismo Cada três batimentos sinusais são seguidos de uma extrassístole. d) Acopladas Duas extrassístoles ventriculares em sequência. e) Taquicardia Ventricular Três ou mais extrassístoles ventriculares em sequência. 4. Captura atrial: pode estar presente ou ausente 5. Complexidade a) Simples Raras e < 20/min, monomórficas, mesodiastólicas ou telediastólicas, não com- prometem a onda T. b) Complexas > 20/min, polimórficas ou protodiastólicas comprometendo a onda T, bigeminis- mo ou repetitivas com duas ou mais consecutivas. Tabela 2. Adaptado de: ECG: manual prático de eletrocardiograma, Ed. Atheneu, São Paulo, 2013 SAIBA MAIS! Extrassístoles isoladas são comuns em corações normais e raramente requerem tratamento. Quando isoladas diante de um infarto agudo do miocárdio são mais perigosas, porque podem desencadear uma taquicardia ventricular (TV) ou fibrilação ventricular (FV), que são, ambas, arritmias potencialmentefatais. 22ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 Taquicardia ventricular (TV) É caracterizada pela sucessão de três ou mais batimentos ventriculares com frequência acima de 100 bpm. Ao contrário da TPSV pode ser dis- cretamente irregular. São divididas de acordo com morfologia, duração, re- gularidade e forma de início. EXTRASSÍSTOLES VENTRICULARES QRS e onda T com polaridades opostas Pausa pós-extrassistólica Sem alteração do intervalo RR = EV interpolada MAPA MENTAL – EXTRASSÍSTOLES VENTRICULARES SAIBA MAIS! A TV sustentada é uma emergência necessitando de uma intervenção imediata Taquicardias monomórficas: Corresponde a 80% das taquicar- dias de QRS largo, com mecanismo de reentrada nos ventrículos. É uma condição mais visualizada em infar- tos cicatrizados, podendo ser classifi- cada de acordo com sua duração em sustentada e não sustentada. Nesse tipo de taquicardia é necessária uma cardioversão sincronizada. É caracte- rizada por: • Ritmo regular • FC >100 bpm, geralmente entre 120 e 200 bpm • QRS > 0,12s com morfologia uniforme • Desvio de eixo elétrico Figura 13. Eonte: ECG Wave-Maven – Harvard. 2001 O flutter ventricular é uma TV mo- nomórfica que ocorre a uma taxa muito rápida, geralmente em torno de 300 batimentos por minuto. Fre- quentemente, nenhuma onda T dis- tintiva é discernível. Não há intervalo 23ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 isoelétrico entre complexos QRS. As ondas P ou evidência de atividade atrial estão ausentes, pois a frequên- cia ventricular é rápida. É caracteriza- do por: • FC > 220 bpm, geralmente em tor- no de 300 bpm • Onda sinuosa sem evidência clara de onda R ou T • QRS > 0,12s com morfologia uniforme Figura 14. Uma taquicardia ventricular rápida, com taxas geralmente acima de 240 batimen- tos por minuto, é característica do flutter ventricular, com complexos QRS predominantemente mono- mórficos e ausência de atividade atrial (ondas P). DISPONÍVEL EM: https://www.uptodate.com/con- tents/image?imageKey=CARD%2F65800&topicKey=CARD%2F2119&search=torsade%20de%20 pointes&source=outline_link&selectedTitle=6~150 TV MONOMÓRFICA FC > 100bpm QRS > 0,12s Desvio de eixo elétrico QRS com morfologia uniforme Flutter ventricular = ausência de onda T, P e intervalos isoelétricos entre os QRS MAPA MENTAL – TAQUICARDIA VENTRICULAR MONOMÓRFICA Taquicardias polimórficas Está mais associada a isquemia coro- nariana aguda, infarto, distúrbios ele- trolíticos profundos e condições que prolongam o intervalo QT. Necessita de uma cardioversão não sincroniza- da de alta energia (carga de desfibri- lação). Caracterizada por: • Surtos de alta frequência • QRS > 0,12 com morfologia variada 24ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 A torsade de pointes, que significa “torção de pontos”, é uma única for- ma de taquicardia ventricular vista em pacientes com intervalo QT lon- go, podendo ser esse prolongamento congênito ou secundário a fármacos. Geralmente é precedida por ciclos Figura 15. Fonte: ECG Wave-Maven – Harvard. 2001 longo-curto (extrassístole- batimen- to sinusal- extrassístole) em que se apresenta pelo: QRS com inversão progressiva da polaridade Pré-iniciação do ciclo Torsades de pointesIniciação do ciclo Figura 16. A faixa do ritmo eletrocardiográfico mostra torsades de pointes, uma taquicar- dia ventricular polimórfica associada ao prolongamento do intervalo QT. Há um interva- lo RR curto e pré-iniciador devido a um dístico ventricular, que é seguido por um longo ciclo inicial resultante da pausa compensatória após o dístico. Fonte: https://www.uptodate.com/contents/image?ima- geKey=CARD%2F53891~CARD%2F73827&topicKey=CARD%2F1036&search=torsade%20de%20 pointes&source=see_link SAIBA MAIS! A taquicardia bidirecional trata-se de uma taquicardia que ao conduzir para o ventrículo se encontra com BRD (raramente BRE) e alternadamente, bloqueio das divisões anterossupe- rior e posteroinferior, gerando um batimento com QRS positivo, seguido por QRS negativo e assim sucessivamente (aspecto bidirecional). Esta arritmia ocorre em quadros de intoxicação digital, doença miocárdica grave e taquicardia catecolaminérgica familiar. 25ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 CLASSIFICAÇÃO DAS TAQUICARDIAS VENTRICULARES Sustentada Apresentam duração maior que 30 s ou requerem intervenção terapêutica imediata para evi- tar colapso hemodinâmico. Não sustentada Apresentam duração menor que 30 s. Incessante Início espontâneo de forma repetitiva após alguns batimentos sinusais, geralmente não é deflagrada por extrassístoles. Monomórficas Apresentam complexos QRS com a mesma morfologia. Polimórficas Apresentam complexos QRS com morfologia variada em uma mesma derivação. Bidirecional Apresenta complexos QRS com polaridades opostas numa mesma derivação de forma alter- nada. Arritmia característica em portadores de síndrome do QT longo, taquicardia ventricular adrenérgico-dependente ou nas intoxicações digitálicas. Regulares Apresentam intervalo R-R constante. Irregulares Apresentam intervalo R-R variados. Paroxística Início e término súbitos. Não paroxística Início e término gradativos. Idiopática Sem etiologia definida (taquicardia do coração normal). Fascicular Originada nos fascículos do sistema His-Purkinje apresentando QRS mais estreito que o da taquicardia parietal. Tabela 3. Adaptado de: ECG: manual prático de eletrocardiograma, Ed. Atheneu, São Paulo, 2013. TV POLIMÓRFICA Surtos de alta frequência QRS > 0,12s Torsades de pointes = QRS com inversão progressiva de polaridade QRS com morfologia variada MAPA MENTAL – TAQUICARDIA VENTRICULAR POLIMÓRFICA 26ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 8. FIBRILAÇÃO VENTRICULAR Arritmia caracterizada por atividade elétrica ventricular excessivamente rá- pida e desorganizada resultando em ausência de contração eficaz. Os preci- pitantes comuns de fibrilação ventricu- lar incluem isquemia/infarto do miocár- dio, insuficiência cardíaca, hipoxemia, hipotensão ou choque, distúrbios ele- trolíticos e estimulantes, como café, ál- cool e drogas. No ECG, ondas bizarras caóticas, de amplitude e frequência va- riáveis, se caracterizando por: • FC geralmente superior a 300 bpm • Ausência de ondas R ou T • Ausência de ondas P óbvias Não há ativação uniforme do mio- cárdio ventricular e os complexos QRS têm morfologia, eixo e amplitu- de marcadamente diferentes. A taxa é irregular e geralmente superior a 300 batimentos por minuto. Quan- do a fibrilação é recente, a amplitude geralmente é alta, mas com o passar do tempo, as ondas fibrilatórias se tornam mais finas e podem se asse- melhar a assistolia. A fibrilação ven- tricular leva imediatamente à parada cardíaca. Figura 17. Fibrilação ventricular em 12 derivações de ECG. DISPONÍVEL EM: https://www.uptodate.com/ contents/image?imageKey=CARD%2F118944&topicKey=CARD%2F2119&search=torsade%20de%20 pointes&rank=6~150&source=see_link 27ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 SAIBA MAIS! A Cardioversão Elétrica (CVE) e a Desfibrilação são intervenções diferentes. Os dois são feitos por meio do desfibrilador, porém são aplicados em situações diferentes. A desfibrilação consiste em um choque não sincronizado em carga máxima, administrada em pacientes com ritmo elétrico desorganizado na ausência de pulso, como em TV e FV. A cardioversão elétrica consiste na administração de um choque de forma sincronizada ou dessincronizada, com carga elétrica variável em pacientes instáveis (ou seja, com pulso) ou estáveis refratários as medidas farmacológicas. As taquicardias instáveis devem ser re- vertidas da forma mais rápida possível com a CVE! Em situações onde a taquiarritmia não leva aos sinais de instabilidade hemodinâmica descritos anteriormente, dizemos que estamos diante de uma taquiarritmia com estabilidade. Neste caso, haverá tempo para avaliar o ritmo e decidir opções de tratamento direcionadas para cada tipo de arritmia. FIBRILAÇÃO VENTRICULAR FC > 300 bpm Ausência de ondas R ou T Ausência de ondas P óbvias MAPA MENTAL – FIBRILAÇÃO VENTRICULAR 28ELETROCARDIOGRAMA– 3.0 TAQUIARRITMIAS TAQUICARDIA SINUSAL TAQUICARDIAS SUPRAVENTRICULARES TAQUICARDIAS SUPRAVENTRICULARES FC > 100 bpm Onda P precedendo QRS Onda P positiva em D1, D2 e aVF TAQUICARDIA ATRIAL FOCAL FC entre 110 e 250 bpm F. Atriais até 300 bpm Onda P não sinusal Onda P com morfologia única RP > PR Admite BAV TAQUICARDIA ATRIAL MULTIFOCAL FC entre 100 e 130 bpm F. Atriais até 300 bpm Onda P não sinusal Intervalo PR irregular Onda P com 3 morfologias diferentes FLUTTER ATRIAL FC em torno de 150 bpm F. Atriais entre 250 e 330 bpm Presença de onda F Admite BAV QRS estreito (exceto em bloqueios de ramo ou condução aberrante) FIBRILAÇÃO ATRIAL FC entre 100 e 170 bpm F. Atriais > 300 bpm Ausência de onda P direta Admite BAV Intervalos RR irregulares TAQUICARDIA POR REENTRADA NODAL FC entre 120 e 220 bpm F. Atriais > 300 bpm Ausência de onda P retrógrada RP < PR Intervalos RR regulares TAQUICARDIA POR REENTRADA AV FC entre 120 e 220 bpm F. Atriais > 300 bpm Onda P retrógrada RP < PR Não admite BAV EXTRASSÍSTOLES VENTRICULARES QRS e onda T com polaridades opostas Pausa pós- extrassistólica Intervalo RR regular TV MONOMÓRFICA FC > 100 bpm QRS > 0,12 s QRS com morfologia uniforme Desvio de eixo elétrico Flutter ventricular (ausência de onda T e P) TV POLIMÓRFICA Surtos de alta frequência QRS > 0,12 s QRS com morfologia variada Torsade de pointes (QRS com inversão progressiva de polaridade) FIBRILAÇÃO VENTRICULAR FC > 300 bpm Ausência de onda R ou T Ausência de ondas P óbvias 29ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 ALTERAÇÕES ISQUÊMICAS E INFARTO 1. INTRODUÇÃO O infarto do miocárdio é uma condi- ção em que uma região do musculo cardíaco que perde seu suprimento sanguíneo e é privada de oxigênio e nutrientes. A patogênese associada é o estreitamento progressivo das ar- térias coronárias por aterosclerose ou subitamente por trombose sobrepos- ta ou por espasmo. Para um diagnóstico de infarto do miocárdio (IM) três componentes são muito importantes: (1) História e exame físico, (2) determinação das enzimas cardíacas e (3) ECG. As- sim, um paciente pode se apresentar com quadro típico, com uma dor to- rácica retroesternal em aperto, peso ou queimação, com duração > 20 mi- nutos, podendo irradiar para membro superiores e ombro, principalmente esquerdos, pescoço, mandíbula, dor- so e epigástrio. Essa dor pode ainda ser precipitada por estresse físico/ emocional e pode ser aliviada por re- pouso e nitrato. SAIBA MAIS! Com frequência, os idosos, diabéticos e mulheres se apresentam com quadro atípico, po- dendo se apresentar, por exemplo, somente com um quadro de dispneia ou com um infarto “silencioso”, sem nenhuma manifestação evidente. As enzimas cardíacas resultam da li- beração do conteúdo interno das cé- lulas cardíacas que estão sofrendo lesão, dentre eles a creatinoquinase (CK), principalmente a MB. Outra en- zima muito importante, se não a mais, é a troponina, que é muito sensível e específica para o IM. A troponina se eleva dentro de 2 a 3 horas, perma- necendo por vários dias. Já as CK-MB geralmente se elevam depois de 6h após o infarto e retornam ao normal dentro de 48h. O ECG para análise de alterações is- quêmicas deve ser sempre solicitado em qualquer pessoa com tal suspei- ta, mesmo que remota, devendo ser solicitado em até 10 minutos da ad- missão do paciente. O infarto no ECG vai evoluir segundo três estágios, (1) isquemia, ou seja, a falta de sangue e, consequente, oxigênio; (2) lesão, que representa a morte celular em ativi- dade; e (3) necrose, que corresponde a zona eletricamente inativa. A evi- dência de isquemia no ECG se apre- senta com anomalias reversíveis, que 30ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 não estão mais presentes quando o quadro de isquemia cessa. Já em evi- dência de necrose, as alterações são permanentes. Basicamente, os está- gios evolutivos do infarto no ECG se apresentam: • Isquemia: Onda T apiculada ou invertida • Lesão: Desnivelamento do seg- mento ST • Zona eletricamente inativa: On- das Q patológicas ou presença de complexo Qs. Zona de necrose Zona de injúria Zona de isquemia Imagem em espelho Figura 18. Ilustração dos três estágios possíveis no infarto do miocárdio com a representação eletrocardio- gráfica mais comuns de cada estágio e ainda a imagem em espelho que pode ocorrer, como vamos explicar mais a frente. Fonte: http://www3.telus.net/emergency/ mi/zones.htm SE LIGA! Embora o infarto possua es- ses três estágios de evolução, uma des- sas alterações pode estar presente sem qualquer uma das outras. Antes de abordarmos as alterações is- quêmicas em si no ECG, é preciso en- tender que o aparecimento de altera- ções em cada derivação vai representar alterações em determinadas paredes. Parede inferior Representada pelas derivações D2, D3 e aVF D3 aVF D2 Parede lateral alta esquerda Representada pelas derivações D1 e aVL D1 aVL 31ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 Parede septal Representada pelas derivações V1 e V2 V2V1 Parede anterior Representada pelas derivações V3 e V4 V4 V3 Parede lateral ou lateral baixa Representada pelas derivações V5 e V6 V6V5 Parede posterior Representada pelas derivações V7 e V8 V8 V7 Parede ântero-septal Representada pelas derivações V2 e V3. Como V2 e V3 são componen- tes que são adjacentes e pertencen- tes à parede septal e anterior, res- pectivamente, são obrigatórias para compor a parede ântero-septal. É possível ainda acometer V1 e/ou V4, devendo estar descrito no achado eletrocardiográfico. 32ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 V2V1 V3 V4 Parede ântero-lateral Representada pelas derivações V4 e V5. Como V4 e V5 são componentes que são adjacentes e pertencentes à parede anterior e lateral, respectiva- mente, são obrigatórias para compor a parede ântero-lateral. É possível ainda se estender de V3 a V6. Caso acometa de V1 a V6, é chamada de parede anterior extensa. V4 V3 V5 V6 PAREDE VENTRICULAR CORRELAÇÃO NO ECG CORRELAÇÃO ANATÔMICA INFERIOR D2, D3 e aVF Coronária direita ou circunflexa ANTERIOR V3 e V4 Descendente anterior SEPTAL V1 e V2 Ramos septais da A. descendente anterior LATERAL ALTA D1 e aVL Ramo diagonal da descendente anterior LATERAL V5 e V6 Ramo intermédio ou circunflexa POSTERIOR V7 e V8 Coronária direita ou circunflexa ANTERO-SEPTAL V2 e V3 Descendente anterior ANTERO-LATERAL V4 e V5 Descendente anterior proximal ou circunflexa ANTERIOR EXTENSA V1 a V6 Descendente anterior 2. ISQUEMIA CONCEITO! A inversão das ondas T, por si, é indicativa apenas de isquemia e não diagnóstica de infarto do miocárdio Com a instalação do processo de in- farto, as ondas T se tornam altas e es- treitas, sendo chamadas de ondas T apiculadas. Após algumas horas, as ondas T apiculadas tendem a se in- verter, tornando-se negativas. Caso o fluxo sanguíneo seja restaurado, as 33ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 Figura 27. Isquemia subendocárdica com presença de onda T apiculada. DISPONÍVEIS EM: ECG essencial, eletrocardiograma na prática médica, 7ª Edição. Porto Alegre, 2013. ondas T irão voltar ao padrão normal. Caso não, o miocárdio entrará em pro- cesso de lesão e necrose, permane- cendo com as ondas T invertidas por meses ou anos. As alterações isquê- micas que podem ocorrer são lesões subepicárdicas e subendocárdicas. Nas alterações subendocárdicas, ou seja, que acometem a camada su- bendocárdica do coração as ondas T aparecem apiculadas, ao acometer a camada subepicárdica, as ondas T já aparecem invertidas. Atualmente, atribui-se à isquemia subepicárdica um padrão de reperfusão alterado e não mais correspondendo a uma is- quemia real da região subepicárdica. Figura 28. Isquemia subepicárdica com onda T negati- va. DISPONÍVEIS EM: ECG essencial, eletrocardiograma na prática médica, 7ª Edição. Porto Alegre, 2013. SE LIGA! Outras condições podem le- var a uma onda T negativa, que deve ser diferenciada de uma isquemia, são elas bloqueio de ramo e sobrecargaventricu- lar com anormalidades de repolarização (Padrão Strain). A diferença entre essas alterações de onda T que não repre- sentam um processo de isquemia é que essa inversão responde a um padrão assimétrico, com uma inclinação suave para baixo e ascensão rápida. O padrão da isquemia é uma onda T invertida simétrica. 34ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 SAIBA MAIS! Pacientes que já apresentam uma onda T invertida, anteriormente ao processo isquêmico, pode levá-las a retornar ao padrão positivo normal, um fenômeno chamado de pseudonor- malização. Apenas um ECG anterior, em comparação ao atual, pode ser capaz de diagnosti- car esse padrão. 3. INJÚRIA/LESÃO A alteração do segmento ST sig- nifica uma lesão miocárdica, refletin- do um grau de dano celular, além da simples isquemia. É uma alteração potencialmente reversível, em que, dependendo do caso, o segmento ST pode retornar ao normal rapidamen- te. A alteração do segmento ST é um sinal confiável de que um infarto hi- peragudo está acontecendo e que o quadro eletrocardiográfico comple- to de um infarto irá evoluir, a menos que haja uma intervenção agressiva e imediata. Existem dois tipos de lesões com al- teração do segmento ST, o infarto com supradesnivelamento de ST e com infradesnivelamento de ST. Em lesões da camada subendocár- dica, ocorre o infradesnivelamento do segmento e em lesão subepicárdica, ocorre o supradesnivelamento. SE LIGA! Supradesnivelamento de ST em parede inferior (D2, D3 e aVF) obri- ga a complementação do ECG com as derivações de ventrículo direito (V3R e V4R) e de parede posterior (V7 e V8), uma vez que tais paredes, geralmente, são irrigadas pela mesma artéria que nutre a parede inferior e, desse modo, podem estar igualmente acometidas. ISQUEMIA SUBENDOCÁRDICA ISQUEMIA SUBEPICÁRDICA Onda T positiva Onda T negativa Apiculada Apiculada Simétrica Simétrica MAPA MENTAL - ISQUEMIA 35ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 Figura 29. IAM com supradesnivelamento do segmento ST de parede ântero-lateral (V1 a V5). DISPONÍVEL EM: https://pebmed.com.br/sindrome-coronariana-com-supra-st-como-avaliar-o-eletrocardiograma/ Figura 30. Infradesnivelamento do segmento ST de paredes ântero-septal (V2 a V4), lateral (V5 e V6) e lateral alta (DI e aVL). DISPONÍVEL EM: http://ecg.med.br/caca-eletro.asp 36ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 SE LIGA! É comum ainda que em uma condição de infarto agudo com supra de ST ocorra imagens recíprocas ou “em espelho” com infrades- nivelamento em outras derivações. Isso ocorre devido a uma “fuga” da corrente em direção à lesão, dando a impressão de um infra em derivação oposta. Assim, são as derivações com supradesnivelamento que vão de- terminar o local e a extensão do infarto. Devendo os infradesnivelamen- tos serem laudados sobre a nomenclatura de imagem em espelho e a sua respectiva derivação. Figura 31. Supra de ST em parede inferior (DII, DIII e aVF) e parede lateral (V5 e V6) com imagem em espelho em aVL e V1 a V3. DISPONÍVEL EM: https://cardiopapers. com.br/infarto-com-supra-de-st-o-que-e-a-imagem-em-espelho/ O diagnóstico diferencial de um supra de ST deve ser feito com condições de repolarização precoce, pericardite, quadros abdominais agudos, hiper- potassemia, síndromes colinérgicas e IAM antigo com área discinética e su- pradesnivelamento persistente. Uma forma de diferenciar é que, geralmen- te, na elevação do ST em infarto, o segmento ST é arqueado para cima e tende a se mesclar de forma im- perceptível na onda T. Já em outras condições, a onda T mantém seu for- mato. Uma boa dica para essa dife- renciação é por meio da projeção do segmento, como na imagem abaixo, em que a carinha triste sugere uma causa mais grave, o infarto. 37ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 Figura 32. ADAPTADO DE: https://cardiopapers.com. br/dica-rapida-como-diferenciar-o-supra-de-st-de- -causa-benigna-do-supra-do-infarto/ CARACTERÍSTICAS DO SUPRADESNIVELAMENTO DO SEGMENTO ST E DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS CONDIÇÃO CLÍNICA APRESENTAÇÃO CLÍNICA CARACTERÍSTICAS ECG Pericardite Dor aguda ventilatório-dependente. Febre, queda do estado geral. Dura- ção variável. Ao exame físico podem estar presentes atrito pericárdico à ausculta cardíaca. Elevação do ST em todas as derivações, sem correlacionar parede. Pode haver ainda depres- são do segmento PR e presença de ondas T aumentadas e até mesmo simétricas. Miocardite Dor torácica pós-quadro viral. Fe- bre, malestar, toxemia e sintomas de insuficiência cardíaca aguda podem ocorrer. Taquicardia sinusal, presença de supra ou infra de ST, ondas T apiculadas ou negativas, po- dendo ser ou não simétricas. Arritmias podem ocorrer. Dissecção de aorta Dor torácica súbita, lancinante, que pode se irradiar para o dorso. Taquicardia sinusal. Pode haver supradesnivela- mento de ST por dissecção de coronárias. IAM antigo com supra ST persistente Histórico de IAM prévio, com aneuris- ma de VE em formação. Supradesnivelamento de ST mantido após IAM, na topografia do vaso acometido. Repolarização precoce Comum em jovens e atletas. Supra de ST > 1 mm de padrão côncavo, mais comum de V1 a V3, e derivações inferiores. Espasmo coronariano Dor retroesternal relacionada e es- tresse emocional. Supra de ST a depender do território acometido. Melhora completa com nitrato. Hiperpotassemia Fraqueza muscular, mialgias e mal-es- tar geral. Onda T de grande amplitude, simétrica e de base estreita, QRS alargado, redução da ampli- tude da onda P e do intervalo QTc. Hipopotassemia Fraqueza, mal- estar, câimbras. Even- tos relacionados: vômitos intensos e diarreia. Depressão do segmento ST e da onda T. Au- mento do intervalo QT e da onda U. Tabela 5. Adaptado de: ECG: Manual Prático de Eletrocardiograma. São Paulo, 2013 38ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 SAIBA MAIS! Nem toda elevação do ST é patológica, como ocorre na elevação do ponto J. Esse tipo de elevação pode ocorrer em indivíduos normais, sendo que esse ponto pode retornar à norma- lidade durante exercícios físicos. * O ponto J é o ponto que termina o complexo QRS e dá-se início ao segmento ST. de ramo, Wolff-Parkinson-White) e por esforço físico. Quando o infra- desnivelamento se apresenta com característica descendente, a cor- relação com evento isquêmico é maior do que quando característica ascendente. O diagnóstico diferencial de infarto com infra de ST deve ser feito com intoxicação digitálica, hipocalemia, hipertrofia ventricular esquerda, pro- lapso mitral, durante ou após taqui- cardia paroxística, secundária a alte- rações na repolarização (bloqueios Figura 33. Infradesnivelamento descendente dos segmentos ST de V4 a V6, D1, D2, D3 e aVF. DISPONÍVEL EM: ECG: Manual Prático de Eletrocardiograma. São Paulo, 2013 39ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 Associação de infarto com bloqueios de ramo Habitualmente, a presença de blo- queio de ramo direito (BRD) não im- pede o reconhecimento de infarto do miocárdio associado. Já o BRE, quando novo, sugere fortemente a presença de IAM, porém sua identi- ficação exigirá aplicação de critérios LESÃO SUBEPICÁRDICA LESÃO SUBENDOCÁRDICA Supra de ST ≥ 1mm (periféricas) Infra de ST ≥ 1 mm Supra de ST ≥ 2 mm (precordiais) Em 2 ou mais derivações Em 2 ou mais derivações MAPA MENTAL - LESÃO específicos, os critérios de Sgarbossa. Esses critérios estão descritos abaixo. • Elevação do segmento ST ≥ 1 mm em concordância com o QRS/T em qualquer derivação • Elevação do segmento ST ≥ 5 mm em discordância com o QRS/T em qualquer derivação • Depressão do segmento ST ≥ 1mm em V1, V2 e V3 Figura 34. Critérios de Sgarbossa para identificação de IAM em BRE. ADAPTADO DE: https://pebmed.com.br/ iam-bre-o-que-mudou-nos-ultimos-anos/ 40ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 o seu aparecimento sinalizando que houve perda das forças elétricas no tecido necrótico, formando o comple- xo Qs ou QR, que reflete a ausên- cia de tecido viável sobre essa área. A presença de complexo Qs / QR ou formação de ondas Q patológicas permitemo diagnóstico de ZEI. 4. ZONA ELETRICAMENTE INATIVA É na zona eletricamente inativa (ZEI), com morte celular, sendo, portanto, irreversível. O diagnóstico é feito por meio da análise do complexo QRS, principalmente onda Q. Na evolução do infarto, a onda Q patológica inicia Figura 35. Presença de zona eletricamente inativa em paredes anterosseptal (V2 e V3) e lateral alta (D1 e aVL). DIS- PONÍVEL EM: https://cardiopapers.com.br/curso-basico-de-eletrocardiograma-parte-12-areas-inativas/ 41ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 As ondas Q patológicas decorrentes do infarto tendem a ser mais largas e mais profundas. Essas são significati- vas segundo alguns critérios: • Onda Q com duração > 40 ms • Onda Q com profundidade > 1 mm • Onda Q com amplitude de, pelo menos, 1/3 da altura do complexo SE LIGA! Para o diagnóstico deve-se ter a presença do critério de duração mais um dos dois citados. Figura 36. Complexo QR com onda Q patológica pelos critérios. DISPONÍVEL EM: https://cardiopapers.com.br/ curso-basico-de-eletrocardiograma-parte-12-areas-i- nativas/ SE LIGA! Esses critérios não se aplicam quando analisamos a derivação aVR, visto que a onda Q, nessa derivação, já é normalmente profunda. SAIBA MAIS! Em corações normais, pequenas ondas Q podem ser visualizadas nas derivações laterais es- querdas (D1, aVL, V5 e V6) e, ocasionalmente, nas derivações inferiores (especialmente D2 e D3) decorrente de uma despolarização precoce do septo interventricular (da esquerda-direita). 42ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 Figura 37. Zona inativa em parede inferior (D2, D3 e aVF). DISPONÍVEL EM: https://cardiopapers.com.br/ curso-basico-de-eletrocardiograma-parte-12-areas-inativas/ SE LIGA! O diagnóstico diferencial de zona inativa decorrente de infarto pré- vio em relação a outras causas deve ser feito com, por exemplo, as doenças de depósito, como amiloidose e hemocro- matose. Nessa última, a deposição de substâncias eletricamente inertes no local que antes era miocárdio saudável gera a presença de área elétrica inativa. Não é possível a diferenciação por meio do ECG. ZONA ELETRICAMENTE INATIVA Complexo Qs ou QR Ondas Q patológicas: • Duração: Q > 1mm • Profundidade: Q >1 mm • Amplitude: Q com, pelo menos, 1/3 de QRS MAPA MENTA – ZONA ELETRICAMENTE INATIVA 43ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 ALTERAÇÕES ISQUÊMICAS E INFARTO ISQUEMIA SUBEPICÁRDICA Onda T negativa, apiculada e simétrica SUBENDOCÁRDICA Onda T positiva, apiculada e simétrica INJÚRIA ZONA ELETRICAMENTE INATIVA SUBEPICÁRDICA Supra de ST ≥ 1 mm (periféricas) e ≥ 2 (precordiais) SUBENDOCÁRDICA Infra de ST ≥ 1 mm Imagem em espelho? Complexo Qs ou Qr Ondas Q patológicas Q com duração ≥ 1 mm Q com profundidade ≥ 1 mm Q com amplitude de pelo menos 1/3 do QRS + ou 44ELETROCARDIOGRAMA – 3.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS III Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Análise e Emissão de Laudos Ele- trocardiográfica. Volume 106, Nº 4, Supl. 1, Abril, 2016 Reis, H.J., Guimarães, H.P., Zazula, A.D. et. al. ECG: Manual Prático de Eletrocardiograma. São Paulo, 2013 Thaler, M.S. ECG essencial, eletrocardiograma na prática médica, 7ª Edição. Porto Alegre, 2013. Homoud, M.K. Sinus tachycardia: Evaluation and management. Uptodate, 2020. Viana MA, Quinteiro TL. 101 Desafios em Eletrocardiograma. 1. ed. Salvador: Sanar, 2019. Kistler, P. Focal atrial tachycardia. Uptodate, 2020. Phang, R., Prutkin, J.M., Ganz, L.I. Overview of atrial flutter. Uptodate, 2019. Atualizado em: Mar 2020 Kumar, K. Overview of atrial fibrillation. Uptodate, 2020. Olshansky, B. The electrocardiogram in atrial fibrillation. Uptodate, 2019. Atualizado em: Mar 2020 Prutkin, J.M., ECG tutorial: Ventricular arrhythmias. Uptade, 2019. Atualizado em: Mar 2020. Trindade, P.D. Infarto Agudo do Miocardio. Maio, 2019 45ELETROCARDIOGRAMA – 3.0
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