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SUMÁRIO 
 
HISTÓRIA ................................................................................................................................. 6 
DIFERENÇAS ENTRE PSICOLOGIA, PSICANÁLISE E PSICOTERAPIA ...................... 10 
PRINCIPAIS LINHAS DE ABORDAGEM PSICOTERÁPICA ........................................... 14 
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA ..................................................... 14 
PSICOTERAPIA ANALÍTICA ............................................................................................... 15 
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL .................................................................. 20 
Indicações ................................................................................................................................. 21 
Tipos de Terapia ....................................................................................................................... 22 
PERFIL DO PSICOTERAPEUTA .......................................................................................... 22 
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA ..................................................... 24 
DIFERENÇAS ENTRE PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO 
PSICANALÍTICA E PSICANÁLISE ..................................................................................... 24 
A ENTREVISTA PSICANALÍTICA ...................................................................................... 26 
ENQUADRE TERAPÊUTICO ................................................................................................ 28 
ALIANÇA TERAPÊUTICA .................................................................................................... 30 
PRINCIPAIS TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS ..................................................................... 31 
PSICOTERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL ...................................................... 43 
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E CONCEITOS BÁSICOS ................................................... 43 
TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL ......................................................................... 52 
FOBIAS ESPECÍFICAS .......................................................................................................... 53 
TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA ......................................................... 54 
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO ..................................................................... 55 
TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO......................................................... 55 
TRANSTORNOS AFETIVOS ................................................................................................. 56 
 
 
TRANSTORNOS ALIMENTARES ........................................................................................ 56 
TRANSTORNO DE PERSONALIDADE LIMÍTROFE OU BORDERLINE......................... 58 
ADICÇÃO AO JOGO .............................................................................................................. 59 
TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE E 
IMPULSIVIDADE ................................................................................................................... 60 
DISFUNÇÕES SEXUAIS ........................................................................................................ 60 
TRANSTORNOS DO SONO .................................................................................................. 61 
PRINCIPAIS TÉCNICAS COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS ....................................... 62 
TÉCNICAS DE RELAXAMENTO ......................................................................................... 63 
DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA............................................................................... 64 
TREINO DE ASSERTIVIDADE ............................................................................................. 64 
PARADA DO PENSAMENTO ............................................................................................... 64 
AUTOINSTRUÇÃO ................................................................................................................ 64 
INOCULAÇÃO DO ESTRESSE ............................................................................................. 65 
TREINO EM HABILIDADES SOCIAIS ................................................................................ 65 
SOLUÇÃO DE PROBLEMA .................................................................................................. 65 
EXPOSIÇÃO ............................................................................................................................ 66 
EXPOSIÇÃO E PREVENÇÃO DE RESPOSTAS .................................................................. 66 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 67 
PSICOTERAPIA DE GRUPO ................................................................................................. 67 
FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS............................................................................. 69 
CONCEITO DE GRUPO E DE CAMPO GRUPAL ............................................................... 71 
GRUPOS OPERATIVOS......................................................................................................... 74 
A FORMAÇÃO DE UM GRUPO ........................................................................................... 79 
PERFIL DO GRUPOTERAPEUTA ........................................................................................ 88 
PSICOTERAPIA BREVE ........................................................................................................ 89 
HISTÓRICO ............................................................................................................................. 89 
 
 
CONCEITO .............................................................................................................................. 90 
FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS............................................................................. 91 
TÉCNICA ................................................................................................................................. 97 
O FATOR TEMPO ................................................................................................................... 97 
A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA E O CONTRATO TERAPÊUTICO ................................ 99 
O TRATAMENTO PROPRIAMENTE DITO....................................................................... 102 
O TÉRMINO DO TRATAMENTO ....................................................................................... 104 
AS CONSIDERAÇÕES DE FIORINI E A TÉCNICA EM HOSPITAIS ............................. 106 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 107 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 109 
 
 
 
5 
 
INTRODUÇÃO 
 
No decorrer da vida, passamos por fases em que estamos bem. Parece que 
encontramos o estado de felicidade. Mas em outras, encontramos dificuldades para 
seguir nossa vida adiante. Nestas fases nos damos conta de que, sozinhos não 
conseguimos caminhar. Reconhecemos que precisamos da ajuda de outro. Mas não 
pode ser outro qualquer, é preciso que este outro esteja disposto a nos assumir do modo 
como somos, sem julgar, e que nos dê a atenção devida. Pressupõe-se que este outro 
tenha algo mais que o diferencie que é o conhecimento da psique. Para cuidar dos 
sentimentos e emoções, temos o profissional especialista em teorias psicológicas: o 
psicólogo. 
As pessoas procuram psicoterapia por várias razões. Geralmente há um motivo 
subjacente: o sentimentode que nem tudo vai bem com a própria vida, faltando sentido 
e propósito mais profundo. 
Freud já dizia que o desejo de se tratar deve ser primeiro do paciente, na medida 
em que existe um sofrimento mental que justifique a necessidade. Quando o paciente 
procura um tratamento por si só revela o desejo de amenizar seu sofrimento. 
A palavra “terapia” vem de “theraplia” e quer dizer “cuidado, apoio”. Se 
juntarmos à palavra “terapia” o prefixo “psico”, temos então “psicoterapia”, que 
significa o “cuidado da psique, da alma, da mente”. 
Para tanto, o psicólogo pode utilizar-se da abordagem teórica que lhe faça 
sentido (psicanalítica, comportamental, humanista, etc.). A escolha da abordagem 
depende da forma que este profissional entende o homem e o mundo, da sua filosofia de 
vida. 
A Psicoterapia é uma técnica psicológica, fundamentada e embasada 
cientificamente para auxiliar as pessoas que buscam conforto para seu sofrimento 
emocional. Seu objetivo não é o de prometer ao paciente um impossível estado de 
felicidade eterna, mas sim ajudá-lo a adquirir firmeza e paciência filosófica diante do 
sofrimento, auxiliando-o a lidar com seus conflitos. Nesse sentido, a vida acontece em 
um equilíbrio entre a alegria e a dor. 
A Psicoterapia pode ser realizada em indivíduos de todas as faixas etárias, desde 
a infância, passando pela adolescência, fase adulta e até a velhice. Pode ser realizada 
individualmente, em grupo, em casal ou família, no âmbito público ou privado. 
O terapeuta é um grande fator curativo da psicoterapia. Ele é afetado pelas 
 
6 
 
emoções do paciente, portanto ele deve aceitá-las e servir de espelho para elas (as 
emoções). Dessa forma, o terapeuta deve sentar-se à frente do paciente de modo que 
possa também expressar suas emoções. O contágio das emoções acentua-se quando os 
conteúdos projetados pelo paciente são idênticos aos conteúdos inconscientes do 
terapeuta. Mas para que isso ocorra, ele também precisa fazer terapia (JUNG, 1985). 
Segundo Hall.; Nordby (2000), para ser eficaz, a psicoterapia deve provocar o 
crescimento do paciente. Uma compreensão do que significa crescer, da natureza dos 
processos de crescimento e da maneira de ativar esse crescimento, constitui um 
conhecimento essencial para o psicoterapeuta. 
Isso inclui conhecer, dentre outros, o desenvolvimento da personalidade, os 
estágios da vida (infância, juventude, maturidade, meia-vida e velhice) e as influências 
do meio externo. Isso porque estes processos de crescimento são influenciados tanto 
positivamente quanto negativamente por vários fatores, como a hereditariedade, as 
experiências da criança com os pais, a educação, a cultura, a sociedade e a idade. 
 
HISTÓRIA 
Historicamente, a psicoterapia é muito mais antiga do que imaginamos, claro, de 
forma não sistematizada. Suas raízes estão desde a Antiguidade, das mais diversas 
formas culturais, por meio do curandeiro, danças xamanísticas, poções, Buda, etc. 
(STONE, 2005). 
A igreja, conforme relata Stone (2005), também exerceu grande influência na 
cura do sofrimento mental, muitas vezes, com características sobrenaturais, 
primeiramente com a Igreja Católica que tinha como pressuposto a luta entre o bem e o 
mal (Deus e o diabo). Mais tarde o protestantismo de Martinho Lutero conquistou 
milhares de fiéis, desafiando a autoridade da igreja, influenciando no rumo da história. 
Assim, a possibilidade da crítica e do diálogo propiciou a separação entre a Igreja e o 
estado, contribuindo com a ciência. 
Segundo Stone (2005), já nos séculos XVI e XVII começou a surgir os hospitais 
psiquiátricos, que nada mais eram que “depósito” de doentes mentais. Mas foi um 
século mais tarde, com o movimento do Iluminismo que a psicoterapia começou a ser 
modelada conforme hoje a conhecemos. Filósofos importantes (como Voltaire e 
Rousseau) contribuíram com a antropologia e o progresso do esclarecimento humano, 
inclusive no esclarecimento psicoterapêutico. 
 
7 
 
Na área da Psiquiatria, o médico Pinel, influenciado por Rousseau deu início ao 
movimento antimanicomial, passando a compreender e a tratar os doentes mentais de 
forma humanizada. Iniciam-se também escritos sobre estudos de caso e relatos da 
história de vida de pacientes (STONE, 2005). 
É na psiquiatria francesa, no final do século XVII e início do séc. XIX, com 
Pinel e Esquirol, que a terapia psicanalítica teve sua origem, como aponta Stone (2005). 
O método de cura do sofrimento mental era, dentre outros, o da sugestão, que 50 anos 
mais tarde foi chamado de hipnose. Além desses médicos, o neurologista Charcot foi 
um grande nome, especialmente porque teve forte influência nas teorias da psicanálise 
de Sigmund Freud. Foi ele quem orientou Freud nos estudos sobre histeria. 
De acordo com Stone (2005), o francês d’Hervery Saint-Denis, que registrava 
seus sonhos em um livro, acreditava que os sonhos eram mensagens obscuras de dentro 
de cada pessoa, passíveis de tradução. Assim, ele trabalhava com o simbolismo dos seus 
pacientes, por meio de frequentes e prolongadas sessões. Essa concepção fez com que 
Freud, em seus estudos sobre histeria, mudasse da hipnose para um tratamento no qual o 
paciente está em alerta, associando livremente. 
Assim, Freud foi se destacando e criando uma teoria acerca do inconsciente, 
sólida e muito difundida que foi se configurando como a psicanálise clássica que hoje 
conhecemos, juntamente com seus colaboradores Karl Abraham, Sander Ferenczi e 
Ernest Jones, que, juntos, compunham o Círculo Secreto. Encontravam-se nas noites de 
quarta-feira na casa de Freud para discutir sobre aspectos teóricos e técnicos da 
psicanálise (STONE, 2005). 
No século XX, no período da Primeira Guerra Mundial, a psicanálise estava se 
tornando cada vez mais estruturada e enraizada, tanto na Europa quanto na América. 
Surgiram grandes centros e institutos psicanalíticos. Foram realizados muitos encontros, 
congressos e publicações na área. O primeiro congresso psicanalítico ocorreu em 1908, 
em Salzburg, dirigido por Freud (STONE, 2005). 
Ocorre que, conforme relata Stone (2005), esses centros e institutos 
diferenciavam-se entre si, uma vez que os autores divergiam de opiniões teóricas e 
técnicas. Quanto mais a psicanálise ia se expandindo mais as escolas de terapia iam se 
diferenciando, com teorias e métodos próprios. 
Segundo Stone (2005) havia os seguidores de Freud e de sua tradição 
“ortodoxa”, assim como Carl Gustav Jung que rompeu com Freud e criou sua 
“psicologia analítica”, a qual considerava a natureza místico-religiosa dos fenômenos 
 
8 
 
psíquicos. Além disso, foram delineando também os tipos de pacientes atendidos na 
psicanálise e em outras técnicas de psicoterapia. 
Assim, cada autor foi se destacando em algum tipo de patologia e paciente. 
Melanie Klein, Anna Freud e Margareth Mahler estudaram pacientes psicóticos. Otto 
Kernberg se destacou no estudo de borderlines. Já John Bowlby seguiu seu trabalho 
sobre o apego, ansiedade de separação e perda, dentre muitos outros (STONE, 2005). 
Da mesma forma, acrescenta Stone (2005), vários tipos de psicoterapias foram 
surgindo. Como exemplo, temos: Carl Rogers, que desenvolveu a teoria humanista, 
Wilhelm Reich e sua teoria do “caráter” e Jacob Moreno introduziu o psicodrama. Já 
Aaron Beck se distanciou da psicanálise de Freud, criando a teoria cognitivo-
comportamental. 
Então, Freud foi um dos inauguradores da psicoterapia. Mas depois dele vieram 
outros tantos; alguns o seguiram, outros acrescentaram e outros ainda se distanciaram 
radicalmente. A psicanálise, a psicoterapia de orientação analítica, a psicoterapia de 
apoio, a psicoterapia de grupo, a psicoterapia humanista, a existencial, a cognitivo-
comportamental, além de outras, são exemplos descritos por Stone (2005). 
O mais importante é que todas têm o seu valor, suas indicações e 
contraindicações.Uma não é melhor que a outra. Como afirma Stone (2005) em 
qualquer uma das psicoterapias é importante que o terapeuta tenha empatia, simpatia e 
inteligência, minimamente. 
 
CONCEITO/DEFINIÇÃO 
 
FIGURA– CONCEITO/DEFINIÇÃO 
 
 
9 
 
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Segundo Knobel (2002), a psicoterapia é um procedimento técnico de um 
vínculo humano, baseado num referencial teórico da estrutura da personalidade e dos 
comportamentos das relações interpessoais, mediante o qual uma pessoa tenta ajudar a 
outra que necessita de algum tipo de assistência para aliviar ou melhorar suas condições 
atuais de vida, e assim, atingir um melhor nível de desenvolvimento enquanto ser 
humano. 
Laplanche e Pontalis (2008, p. 393) definem psicoterapia como “qualquer 
método de tratamento dos distúrbios psíquicos ou corporais que utilize meios 
psicológicos e, mais precisamente, a relação entre o terapeuta e o doente”. Para estes 
autores a hipnose, a sugestão, a psicanálise são exemplos de psicoterapia. 
Nesse sentido, a Psicoterapia é uma prática que está dentro da Psicologia 
Clínica. 
Envolve conhecimento da Psicopatologia, da Psicologia do Desenvolvimento. 
Segundo Dolto, in Mannoni (1983), a relação psicoterápica permitirá que as 
“forças emocionais encobertas, em jogo conflitivo”, encontre uma saída, ou seja, a 
descoberta de processos inconscientes contribui para que o paciente perceba o que está 
limitando sua liberdade. Entendendo que esta liberdade significa o indivíduo conseguir 
ser criativo, e não apenas submisso às exigências, livre da dependência do desejo de 
outrem, conseguindo comunicar os seus sentimentos, amar e ser amado, enfrentar 
frustrações e as dificuldades cotidianas. Assim, estamos entendendo saúde mental, não 
enquanto um processo de adaptação, mas enquanto possibilidade criadora, na qual o 
paciente consiga transitar na relação dialética princípio da realidade versus princípio do 
prazer, com certa maleabilidade. 
Antes do início do processo psicoterápico, faz necessário um bom 
psicodiagnóstico, isto é, a avaliação psicológica. 
Nessa fase, como aponta Ocampo (1974), o objetivo principal é o de conseguir 
uma compreensão o mais profunda possível do psiquismo do paciente. Abrange 
aspectos passados e presentes (diagnóstico), assim como também os aspectos futuros 
(prognóstico). Investiga aspectos sadios e doentes do paciente e possibilita dar 
encaminhamentos terapêuticos (psicoterapia individual, de grupo, casal, se será 
realizado trabalho multiprofissional com psiquiatra, neurologista,...). 
O psicodiagnóstico já é em si terapêutico, na medida em que o psicólogo vai 
http://marciocandiani.site.med.br/fmfiles/index.asp/::XPRWTT::/ps1.jpg
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10 
 
fazendo devoluções parciais. Além disso, o paciente tem a possibilidade de falar 
sinceramente de si mesmo, sem atitude de julgamento, mas de compreensão. Contribui 
também para o levantamento de hipóteses diagnósticas acerca do caso, para o processo 
psicoterápico (OCAMPO, 1974). 
Nesta etapa o psicólogo pode-se utilizar de diversos instrumentos, tais como: 
entrevistas, testes e técnicas projetivas, desenhos e a hora do jogo diagnóstica (nesta 
última técnica, quando se tratar de criança). 
Encerra-se com a entrevista devolutiva, que “é a oportunidade que se dá ao 
paciente para que integre o que apareceu dissociado entre o conteúdo manifesto e o 
latente” (OCAMPO, 1974, p. 32). Inclui também a devolução dos aspectos saudáveis, 
adaptativos, bem como dos patológicos. É o momento no qual são ditos os 
encaminhamentos e, quando necessário, a indicação de psicoterapia. 
Didaticamente falando, após encerrar o psicodiagnóstico inicia-se o processo 
psicoterápico propriamente dito. Muitas vezes, é difícil delimitar uma fronteira entre 
esses dois processos, uma vez que as ansiedades da dupla estão em jogo. 
O primeiro passo na psicoterapia é realizar novo contrato terapêutico, ou seja, o 
esclarecimento dos papéis (paciente e terapeuta), local e horário da sessão, além dos 
honorários quando se tratar de consultório particular. A seguir inicia-se o processo 
psicoterápico propriamente dito. 
 
DIFERENÇAS ENTRE PSICOLOGIA, PSICANÁLISE E 
PSICOTERAPIA 
 
Inicialmente a Psicologia designava o “estudo da alma”. Com o passar do tempo, 
foi mudando para o estudo do comportamento humano. 
A Psicologia é uma ciência que investiga o comportamento humano, os aspectos 
emocionais e sua inter-relação com a sociedade. Apresenta uma diversidade de áreas de 
atuação: Psicologia clínica, organizacional, escolar; Psicologia da saúde, hospitalar, 
jurídica, do esporte. O psicólogo atua também em programas da área da assistência 
social (Centro de Referência da Assistência Social; Centro de Referência Especializado 
da Assistência Social, etc.). 
De acordo com Serra (2004) a maior parte dos psicólogos brasileiros (cerca de 
80%) encontra-se atuando na área clínica, exercendo a prática da psicoterapia. 
 
11 
 
A palavra “análise”, de “psicanálise”, vem do grego “ana” (partes) e “lysis” 
(decomposição, dissolução). Então, juntando “psi” com “análise” temos a decomposição 
das partes psicológicas. 
Conforme Laplanche e Pontalis (2008, p. 384), a Psicanálise é “um método de 
investigação que consiste essencialmente em evidenciar o significado inconsciente das 
palavras, das ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios)”. 
Na “era Freud”, a primeira era denominada por Wallerstein (2005), permeou a 
concepção de que apenas a psicanálise era a psicoterapia verdadeira de cura e científica. 
As demais eram consideradas como o “cobre da sugestão”, enquanto a psicanálise era 
vista como o “ouro puro”, conforme Freud e outros afirmavam. 
Freud, no texto de 1905, “Sobre a Psicoterapia” (1976), faz uma analogia, 
relacionando o trabalho das Artes e a análise, utilizando-se da expressão de Leonardo da 
Vinci, per via di levare, que se refere ao trabalho de esculpir, no qual se retira da pedra 
o que encobre a superfície da escultura nela contida. A arte da interpretação tem como 
objetivo abrir uma via de acesso para o conhecimento do inconsciente. Ao considerar as 
questões inconscientes que permeiam as relações, o psicanalista apresenta uma 
especificidade ao escutar o paciente, pois não considera somente o fenômeno 
manifestado, mas também os conteúdos latentes que estão presentes. Esta prática 
acompanhada de uma contextualização histórica e econômica investiga qual o sentido 
que determinados acontecimentos têm para o indivíduo, trabalhando não com uma 
verdade absoluta, mas com uma verdade individual, construída e reconstruída nas 
relações. 
Acontece que, como narra Wallerstein (2005), nem todos os tipos de pacientes 
podiam se beneficiar da psicanálise na época. Logo, a psicoterapia de orientação 
psicanalítica começou a entrar em cena. Emprestava os conceitos da psicanálise e os 
aplicava nos pacientes que não podiam ser tratados por esta última. 
Segundo Wallerstein (20005) no final da década de 1930 até início de 1950 
ocorreu o que chamou de segunda era, ou seja, a “era do consenso”, quando houve um 
crescimento da psicanálise norte-americana, com psicanalistas europeus refugiados de 
Hitler e com o aumento das clínicas psiquiátricas no país. Pacientes com transtornos 
mentais não podiam ser tratados pela psicanálise, havendo a necessidade de se 
adaptarem a outras psicoterapias, especialmente à psicoterapia de base analítica, que 
teve como pioneiro Robert Knight. 
Este pioneiro, conforme Wallerstein (2005) ocupou-se primeiramente em 
 
12 
 
delinear o que ele chamou de “ciência básica da psicologia dinâmica”. Para tanto, fez a 
primeira distinção dentro do referencial psicanalítico: ele definiu as psicoterapias em 
dois grandes grupos. São as psicoterapiasde apoio, que visa à supressão dos sintomas e 
as psicoterapias expressivas. 
Para Knight a psicanálise tem como objetivo a modificação da estrutura da 
personalidade. Já a psicoterapia de apoio propõe ao paciente a reconstrução dos 
mecanismos de defesa utilizados antes da descompensação. E por fim, a psicoterapia 
expressiva, de caráter exploratório, visa tratar as descompensações recentes 
(WALLERSTEIN, 2005). 
Após a década de 1950, como aponta Wallerstein (2005), outros pontos de vista 
começaram a surgir. Alguns psicanalistas propuseram a unificação da psicanálise com a 
psiquiatria. Dessa forma, passou-se a entender que havia uma grande proximidade entre 
a psicanálise e a psicoterapia de base analítica. 
Outro grupo de psicanalistas compartilhava de outro ponto de vista, segundo 
Wallerstein (2005). Sugeriu modificações na técnica psicanalítica, uma revisão da teoria 
clássica, modernizando-a. 
Esses pontos de vista tiveram uma repercussão pouco significativa. Entretanto, 
como salienta Wallerstein (2005), a preocupação maior era a de selecionar, dentre a 
variedade de métodos terapêuticos, o mais adequado para a estrutura psicológica de 
cada paciente. 
Então, continua Wallerstein (2005), para selecionar o método mais adequado, 
faz-se necessário delinear as diferenças dentre as psicoterapias de orientação analítica. 
Com este intuito, vários autores deram sua contribuição. Dentre eles podemos citar Gill, 
Rangell e Stone, além de Anna Freud. 
Entretanto, segundo Wallerstein (2005), foi a partir de 1979, com o simpósio em 
Atlanta, patrocinado pelas sociedades psicanalistas regionais que houve significativos 
avanços sobre as diferenças e semelhanças entre a psicanálise e a psicoterapia. Neste 
simpósio, protagonizado por Gill, Rangel e Stone, ficou definida a posição de manter 
marcadas as diferenças entre elas, cada qual com sua aplicação e indicação específica. 
Essa é a terceira era, denominada por Wallerstein (2005) de “era do consenso 
fragmentado”, pois cada um dos três protagonistas possuía divergências em suas 
concepções sobre psicanálise e psicoterapia. 
Atualmente, Wallerstein (2005) chama de era de “um mundo sem consenso”, 
pois se torna cada vez mais difícil definir tais diferenças. Difícil, mas não inexistentes. 
 
13 
 
Schestatsky et al. (2005) salienta a importância de se considerar as diferenças 
entre psicanálise e psicoterapia, porém uma não é “menor” que a outra. Conforme as 
pesquisas de Wallerstein, em 1986, o mesmo concluiu que a psicoterapia de orientação 
psicanalítica e a psicanálise estão muito próximas. 
Tanto a psicanálise quanto a psicoterapia de orientação psicanalítica são 
métodos de tratamento psicológico do inconsciente. Enquanto a primeira visa à 
mudança da estrutura psíquica, trabalhando o conteúdo latente, a psicoterapia tem por 
objetivo o alívio dos sintomas, incluindo também o conteúdo manifesto. 
Nesse sentido, o que diferencia essencialmente psicanálise e psicoterapia é a 
técnica utilizada, uma vez que a escuta analítica está presente em ambas. Na 
psicoterapia há uma escuta do latente, e a tradução para o manifesto no momento da 
interpretação junto ao paciente. 
Na Psicanálise a transferência é um dos conceitos-chave, utilizado com grande 
frequência, enquanto que na psicoterapia acontece com menor frequência. A técnica 
principal na psicanálise é a interpretação, na psicoterapia além da interpretação 
transferencial há também a extratransferencial, confrontação, pontuação, sugestão 
(SCHESTATSKY et.al., 2005). 
Para Laplanche e Pontalis (2008) a “psicoterapia analítica” empresta princípios 
teóricos e técnicos da psicanálise, sem realizar as condições de um tratamento 
psicanalítico rigoroso. 
Segundo Schestatsky et al. (2005) a psicoterapia de orientação psicanalítica é 
uma “aventura a dois” em que um deles está em sofrimento psíquico (paciente) e o 
outro domina uma certa técnica científica (terapeuta). 
Eis os objetivos essenciais da psicoterapia de orientação psicanalítica, segundo 
Schestatsky et al.(2005, p. 18): [...] Questões sobre o lugar mais ou menos privilegiado 
de conceitos como crescimento psíquico, expansão da mente, integração de aspectos 
dissociados, tolerância à dor mental, alterações de formações de compromisso, 
oportunidade da experiência com um novo objeto, reparação de danos do ego, 
ressignificações de danos de narrativas ou reconstrução de mitos pessoais [...]. 
Sendo assim, enquanto um especialista que domina a técnica científica de 
tratamento, o terapeuta deve realizar um amplo treinamento em termos diagnósticos e 
terapêuticos, compondo o clássico “tripé”: estudo, supervisão com um profissional 
experiente e análise pessoal. Tudo isso baseado sempre no amor à verdade 
(SCHESTATSKY et.al., 2005). 
 
14 
 
 
PRINCIPAIS LINHAS DE ABORDAGEM PSICOTERÁPICA 
 
 É difícil definir qual a melhor abordagem teórica a ser usada para cada tipo de 
paciente ou de patologia. Mesmo porque todas elas têm um objetivo em comum, que é o 
de ajudar a minimizar o sofrimento do paciente, favorecendo seu crescimento pessoal. A 
diferença está na técnica, isto é, no modo como se alcançarão os objetivos. Desde que o 
profissional conheça bem sua abordagem, todas elas serão valiosas. 
Às vezes, o fator decisivo é a instituição na qual o psicólogo trabalha. Em se 
tratando de postos de saúde ou outras instituições públicas, algumas técnicas são 
sugeridas como mais adequadas. Por exemplo, em hospitais a psicoterapia de apoio e 
psicoterapia breve são as mais indicadas. Em postos de saúde também, além de ser uma 
tendência a psicoterapia de grupo, em razão da grande demanda e do pouco tempo 
disponível. 
A escolha da abordagem psicoterápica dependerá do estilo pessoal do terapeuta, 
assim como sua visão de homem e de mundo, suas crenças e valores. Cada um irá 
identificar-se com aquela que lhe fará mais sentido. O importante é que todas elas têm o 
seu valor. O estudo teórico, a supervisão e a análise pessoal devem ser feitas seguindo 
sempre a mesma linha teórica. Não conseguiremos atender cada paciente com uma 
abordagem diferente. Quando entendemos que não é o caso, devemos encaminhá-lo 
para outro profissional. 
Atualmente, há uma variedade de abordagens psicoterápicas. Dentre elas, as 
mais conhecidas são: psicanálise, psicoterapia de orientação psicanalítica, psicoterapia 
analítica; terapia cognitiva, terapia comportamental, psicoterapia cognitivo-
comportamental. Há também o psicodrama, a gestalt-terapia; a psicoterapia humanista e 
a humanista-existencial. A abordagem existencialista, fenomenológica, etc. A seguir, 
foram descritas algumas delas: 
 
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA 
 
A Psicoterapia de Orientação Psicanalítica é uma abordagem que tem como 
pressupostos teóricos a Psicanálise, mas que se diferencia desta basicamente pela 
técnica utilizada. Enquanto na Psicanálise o objetivo principal é a mudança da estrutura 
 
15 
 
da personalidade, na psicoterapia o objetivo é mais modesto: visa o alívio do sintoma. 
Historicamente foi criada para tornar a Psicanálise, método este desenvolvido por 
Sigmund Freud, acessível a mais pessoas e em menor tempo. Enquanto representantes, 
além do próprio Freud, temos Bion, Klein, Winnicott, dentre outros. 
Alguns conceitos são fundamentais em Psicoterapia de Orientação Psicanalítica, 
conceitos estes emprestados da Psicanálise. Primeiramente temos o conceito de 
inconsciente, isto é, o material de trabalho são os processos inconscientes. 
Ao falar sobre si, por meio da associação livre, o paciente expressará seus 
conteúdos inconscientes. Por meio da transferência e da contratransferência o terapeuta 
poderá interpretar tais sentimentos e dar um novo sentido para o sintoma do paciente. A 
mudança ocorre quando é possível dar um novo sentido para o seu sofrimento, quando 
seu sintoma pôde ser elaborado.PSICOTERAPIA ANALÍTICA 
 
Carl Gustav Jung foi um autor que concordou, pelo menos na fase inicial de seu 
trabalho, em muitos pontos da teoria de Sigmund Freud, mas teve seus próprios 
pensamentos e ideias, tornando a sua psicologia conhecida como “Psicologia Analítica” 
(em 1913, no 4º Congresso Internacional de Psicanálise, em Munique, Jung chama sua 
psicologia de Psicologia Analítica). 
É inegável a contribuição que Jung deu à arte da psicoterapia. Suas ideias e 
pensamentos se tornaram conhecidos e reconhecidos por muitas pessoas, da área da 
Psicologia ou não. Entretanto, como ele próprio dizia, seus escritos são de difícil 
compreensão, e talvez por este motivo sua obra não é tão lida quanto a de Freud, por 
exemplo (STORR, 1993). 
Antes de falarmos especificamente de psicoterapia, faz-se necessário uma breve 
caracterização da psique, da forma como Jung a entende. 
Para Jung, a psique ou personalidade total envolve aspectos conscientes e 
aspectos inconscientes. É um sistema dinâmico, em constante movimento, e ao mesmo 
tempo, autorregulado. Está dividida em três níveis: 1) consciente, 2) inconsciente 
pessoal e 3) inconsciente coletivo. É importante considerar que, ao contrário do que 
pensava Freud, para Jung a consciência surge do inconsciente, reconhecendo que o 
inconsciente não é um mero depósito de desejos reprimidos, mas é uma parte tão vital 
de um indivíduo quanto o é a consciência. 
 
16 
 
O indivíduo é um todo e não uma reunião de partes. A vida consiste em 
desenvolver esse todo até chegar ao mais alto grau possível de diferenciação e 
harmonia, de modo que sua personalidade não se dissocie. Nesse sentido, o trabalho da 
psicoterapia analítica tem como meta ajudar o paciente a recuperar a unidade perdida, 
fortalecendo a psique. 
Como pontua Jacobi (in CLARET, s/ano, p.45), a psicologia de Jung ajuda “o 
indivíduo a descer conscientemente às profundezas da própria alma, a reconhecer os 
conteúdos dela e integrá-los na consciência”. 
Jung possuía um penetrante sentido histórico. Ele achava que a natureza do 
homem não tinha mudado grande coisa no decurso de muitos séculos. Estudou 
mitologia, antropologia, religião e alquimia. Por isso, desenvolveu o conceito de 
inconsciente coletivo. 
Uma das mais importantes contribuições de Jung é o conceito de inconsciente 
coletivo. Este é o “responsável pela produção espontânea de mitos, visões, ideias 
religiosas e certas variedades de sonhos que são comuns a diversas culturas e períodos 
da história” (STORR, 1993, p. 39). É o nível da psique que inclui experiências comuns 
a todas as pessoas em uma maior ou menor intensidade, e que tem suas origens na 
evolução da história. 
As pessoas passam pelas mesmas etapas do desenvolvimento: infância, 
adolescência, vida adulta e velhice. Isso ocorre devido à herança da humanidade, algo 
que lhe é coletivo. Se não existisse a herança da espécie, as pessoas não passariam pelas 
mesmas etapas do desenvolvimento, seriam, portanto, diferentes. 
Quando se transporta uma doença pessoal a um nível mais alto e geral, há um 
efeito curativo. Às vezes, o consolo espiritual ou a influência psíquica podem ajudar ou 
até curar uma doença. Assim, o fato do paciente perceber que o sofrimento não é só seu, 
mas sim geral, já lhe causa um alívio, um consolo (JUNG, 1985). 
Jung foi o primeiro a insistir em que o próprio analista seja também analisado. 
Entre 1914-1918 ele fez sua autoanálise, o que influenciou muito em sua teoria. Ele 
parte da solução de seus próprios problemas para a solução dos problemas dos outros. 
Desse modo, o paciente vai se desenvolver até o nível em que seu terapeuta tiver se 
desenvolvido. 
Na psicoterapia junguiana, os conceitos principais são: projeção, transferência, 
sonhos e imaginação ativa. 
O indivíduo procura psicoterapia porque necessita de ajuda para curar o seu 
 
17 
 
sofrimento. O paciente espera que alguém vá ouvi-lo, vai poder ajudá-lo, vai poder 
curá-lo. É o Complexo do Salvador, ou seja, a esperança de que o terapeuta o cure, o 
salve de seu sofrimento. O paciente “projeta o complexo de salvador no analista, bem 
como as expectativas religiosas e a esperança de que talvez o analista, munido de 
conhecimentos secretos, possuísse a chave perdida pela Igreja, podendo revelar-lhe a 
verdade redentora” (JUNG, 1985, p. 143). Os elementos projetados no analista também 
são de natureza impessoal, arquetípica. Portanto, o complexo do salvador é uma ideia 
universal, uma esperança de todo mundo, em qualquer época da história. 
O causador de seu sofrimento é sempre o outro: problemas de relacionamento 
com o pai, a mãe, com o marido, filhos, escola, trabalho, etc. Nesse sentido, ele projeta 
no outro o seu sofrimento. Logo, o primeiro ponto a ser trabalhado em psicoterapia é a 
projeção. Paralelamente, temos a transferência, que é um conceito semelhante ao da 
projeção. 
Segundo Jung (1985) a projeção é um mecanismo psicológico inconsciente 
geral, que carrega conteúdos subjetivos sobre o objeto. O termo transferência significa 
“carregar alguma coisa de um lugar para o outro” (p. 127). 
O conceito de projeção é mais generalizado, é um mecanismo que ocorre entre o 
sujeito humano e o objeto físico. A transferência de um mecanismo específico da 
projeção, uma vez que se refere ao processo que se dá entre duas pessoas (terapeuta e 
paciente). 
Na transferência o paciente projeta no terapeuta imagens derivadas de sua 
experiência de figuras significativas do passado (geralmente figuras parentais). Quanto 
mais o terapeuta for uma figura desconhecida, mais provável é que as imagens do 
mundo interior do paciente se liguem àquele. 
Freud também concorda com esse conceito, mas Jung vai além, e acrescenta a 
observação de que não são apenas as imagens pessoais da infância do paciente que se 
projetavam, mas também as figuras arquetípicas. 
Para Freud a transferência é o que move o tratamento, se ela não existir, não há 
cura. Mas para Jung ela não é necessária, chegando até ser indesejável. “Uma 
transferência é sempre um estorvo, jamais uma vantagem. Cura-se apesar da 
transferência e não por causa dela” (JUNG, 1985, p.141). Para Jung não é preciso que o 
paciente ame ou odeie o terapeuta, porque o problema central do paciente é que ele 
aprenda a viver a sua própria vida, sem que o terapeuta se intrometa nela. 
Em psicoterapia, o fato de o paciente ter emoções, por si só, exerce efeito no 
 
18 
 
analista. Assim, o terapeuta serve de função especular, isto é, aceita as emoções do 
paciente sendo um espelho para elas. Nesse sentido Jung não aceita a ideia do uso do 
divã. Para cumprir a função especular, o terapeuta deve estar de frente ao paciente, de 
modo que este primeiro tenha liberdade para reagir às emoções do segundo. 
Temos também o conceito de contratransferência, que se refere aos sentimentos 
do analista em relação ao seu paciente (o processo inverso da transferência). Os 
conteúdos projetados pelo paciente são idênticos aos elementos do inconsciente do 
próprio terapeuta. Entretanto, se o terapeuta não conhecer seu inconsciente, pode ser 
que o paciente caia no inconsciente de seu terapeuta, e então o processo terapêutico 
pode travar. Assim, fica mais uma vez confirmada à importância do terapeuta em fazer 
análise. (JUNG, 1985). 
Como já foi pontuado, a transferência e a projeção são os pontos iniciais a serem 
trabalhados na psicoterapia. O analista não pode forçar uma transferência, devendo ela 
ser tratada como qualquer projeção. No caso dela aparecer, o que é muito comum, Jung 
distingue quatro estágios para que ela seja tratada em psicoterapia. 
De acordo com Jung (1985), no início de um tratamento, as projeções são 
experiências pessoais do paciente. Neste primeiro estágio devem-se trabalhar todos os 
níveis de relacionamento que o paciente já teve, conscientizando-o de que ele ainda olha 
o mundocomo se fosse criança: tudo projeta e espera das figuras autoritárias de sua 
experiência pessoal. Para estabelecer uma imagem madura o paciente deverá enxergar o 
lado subjetivo das imagens que criem empecilhos para sua vida. 
O segundo estágio da terapia da transferência consiste na discriminação entre 
conteúdos pessoais dos impessoais. As projeções pessoais podem ser dissolvidas por 
meio de realização consciente, já as impessoais não podem ser destruídas por 
pertencerem aos elementos estruturais da psique. O que pode ser dissolvido é o ato da 
projeção, e não seu conteúdo (JUNG, 1985). 
Temos, conforme Jung (1985), o terceiro estágio, que consiste em diferenciar o 
relacionamento pessoal com o analista dos fatores impessoais. É comum que o paciente 
goste do terapeuta, e quando o trabalho foi bom, que o terapeuta também goste de seu 
paciente. Logo, reações emocionais são aceitáveis. E isso não quer dizer que se trata, 
ainda, de transferência. 
Finalmente, o quarto estágio da terapia da transferência é denominado de 
objetivação das imagens pessoais. É uma parte fundamental do processo de 
individuação. Seu objetivo é desprender a consciência do objeto para que o indivíduo 
 
19 
 
não coloque a garantia de sua felicidade em fatores externos - em outras coisas ou 
pessoas (JUNG, 1985). 
Jung enfatiza a vida interior e acredita na existência do inconsciente. Assim, a 
linguagem do inconsciente são os símbolos e o material de trabalho são: 
1) a associação de palavras, 
2) a análise dos sonhos e 
3) a imaginação ativa. 
Quanto ao teste da associação de palavras, Jung (1985) afirma que está um 
tanto ultrapassado, por isso não o utiliza mais em seus pacientes. Este teste consiste em 
uma lista de mais ou menos cem palavras. Explica-se à pessoa que se submete ao teste 
que, após a apresentação da palavra estímulo, o mais rápido possível ela tem que dizer 
qual a palavra que surge na cabeça. Marca-se o tempo de cada resposta e depois se tira a 
média deste tempo. Após, parte-se para uma segunda etapa: repetem-se as palavras 
estímulos e o indivíduo tem que repetir suas respostas. Em alguns momentos a memória 
falha, e tais erros é que são significativos. 
Os sonhos, segundo Storr (1993), são a “estrada real” para o inconsciente. A 
linguagem dos sonhos é uma linguagem natural, simbólica, que talvez seja difícil de 
compreender, mas não constitui uma tentativa de esconder coisa alguma. Podem-se ler 
os sonhos como se aborda uma língua estrangeira. Muitos sonhos originam-se no 
inconsciente pessoal, isto é, dizem respeito aos problemas emocionais cotidianos, às 
relações interpessoais e aos resíduos da infância. 
Jung estava mais interessado nos sonhos que se originavam no inconsciente 
coletivo. Nesses casos ele não hesitava em fornecer suas próprias associações, filtradas 
do seu próprio e extenso conhecimento de mitologia, religião e alquimia. Essa técnica é 
chamada de amplificação, isto é, a prática de fornecer ao paciente analogias e 
comparações. 
Durante a sua autoanálise, Jung desenhava e pintava suas próprias visões e 
sonhos. Ele encorajou seus pacientes a fazerem o mesmo, ou, escrever poemas, fazer 
modelagens ou esculturas, ou mesmo dançar suas próprias fantasias. Embora um 
paciente possa tratar um sonho dessa forma e fosse estimulado a fazê-lo, Jung estava 
mais interessado na espécie de fantasia que acode à mente das pessoas quando elas não 
estão despertas nem adormecidas, mas num estado de divagação em que o raciocínio 
está suspenso, mas não se perdeu a consciência (STORR, 1993). 
A descrição acima se refere à técnica da imaginação ativa, que se destina a 
 
20 
 
mobilizar a criatividade do paciente. É uma forma de desenvolver as possibilidades 
criadoras latentes no próprio paciente. 
Jung fundamentou sua teoria na psicanálise freudiana, nos seus conhecimentos 
de mitologia, alquimia e religião. Mas, especialmente, em sua experiência clínica, 
experiência pessoal e em viagens que fez pelo México, China, África, dentre outros 
países. Apesar de dar muita atenção à teoria propriamente dita, ele estava mais 
interessado em ajudar o seu paciente. Jung deixava as pessoas livres a lidarem com os 
fatos a sua maneira, e encorajava aos analistas que encontrassem seus próprios 
caminhos. 
 
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL 
 
 Segundo Bahls; Navolar (2004), essa abordagem utiliza pressupostos do modelo 
behaviorista ou comportamental e do modelo cognitivista. Uma teoria não é contrária à 
outra, mas complementam-se. 
No behaviorismo o foco é a análise do comportamento e suas contingências. O 
ambiente interfere diretamente no comportamento, e o tema central é a aprendizagem. 
Seus principais representantes são Pavlov, Skinner e Thorndike. 
Nesse sentido, para Bahls; Navolar (2004) existem dois tipos de comportamento: 
o comportamento respondente (que tem um caráter involuntário) e o comportamento 
operante (com caráter voluntário). O primeiro é aquele capaz de modificar o ambiente, e 
sofre influências sobre o próprio ambiente. Já o comportamento clássico ou respondente 
está associado ao conceito de estímulo-resposta. 
No modelo cognitivo dá-se mais relevância para as situações subjetivas, como a 
memória, percepção, atenção, etc. Utiliza-se mais das “crenças” do que do 
“conhecimento”, uma vez que o cliente atua de acordo com o que ele acredita ou 
percebe, mesmo que elas estejam distorcidas. 
Aaron Beck, um dos principais representantes do cognitivismo, construiu sua 
teoria estudando pacientes deprimidos. Ele observou que essas pessoas tinham em 
comum, crenças negativas em relação a si mesmas. Assim, na terapia cognitiva as 
crenças que cada pessoa tem irão influenciar seu comportamento, podendo surgir 
alguma patologia. 
Como salienta Bahls.; Navolar (2004), a terapia cognitivo-comportamental tem 
indicação de tratamento para vários problemas emocionais, como a ansiedade, 
 
21 
 
depressão, distúrbios alimentares, transtorno obsessivo-compulsivo e conflitos sexuais. 
O objetivo da psicoterapia cognitivo-comportamental, de acordo com Bahls; 
Navolar (2004, p. 09), é auxiliar o cliente a “aprender novas estratégias para atuar no 
ambiente de forma a promover mudanças necessárias; (...) é corrigir as distorções 
cognitivas que estão gerando problemas ao indivíduo e fazer com que este desenvolva 
meios eficazes para enfrentá-los”. 
 
Indicações 
 
 A psicoterapia é um processo orientado para o crescimento, independência e 
maturidade do paciente (RIBEIRO, 1988). Nesse sentido é indicada para diversos tipos 
de problemas ou situações, que estão classificados da seguinte forma: 
 1. Tratamento de transtornos mentais (conforme CID-10). 
• Doença de Alzheimer, demência vascular, doença de Parkinson. 
• Dependência química: uso de álcool, cigarro e outras drogas. 
• Transtornos psicóticos, esquizofrenias. 
• Transtornos do humor: maníaco, bipolar, depressivo. 
• Transtornos neuróticos: fobias, ansiedade, síndrome do pânico, 
transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático, somatização, 
hipocondria e histeria. 
• Transtornos alimentares: anorexia, bulimia, obesidade. 
• Transtornos do sono: insônia, pesadelos, sonambulismo. 
• Transtorno sexual: ejaculação precoce, vaginismo, falta de desejo sexual. 
 
• Transtornos de hábitos e impulsos: jogo patológico, cleptomania. 
• Retardo mental. 
• Dificuldade de aprendizagem. 
• Distúrbio de conduta. 
• Déficit de atenção e hiperatividade. 
 
2. Problemas existenciais. Busca de crescimento pessoal, 
autoconhecimento. 
Sensação de que falta sentido de vida, vazio existencial. 
 
22 
 
3. Conflitos de relacionamento interpessoal. Casos de conflito conjugal, 
familiar ou profissional, nos quais a convivência torna-se difícil. 
4. Elaboração de momentos específicos ou fases do desenvolvimento. 
Situações como luto,doença ou hospitalização, adolescência, menopausa, velhice. 
 
Tipos de Terapia 
 
Quanto ao tipo, a psicoterapia pode ser classificada da seguinte forma: 
• Individual; 
• Grupal; 
• Casal; 
• Familiar. 
 
PERFIL DO PSICOTERAPEUTA 
 
 A psicoterapia é um processo que envolve a relação humana, em que estão 
presentes sentimentos, crenças e valores de duas pessoas. A neutralidade (um dos 
critérios de exigência científica) não pode ser absoluta. Entretanto, cabe ao psicólogo 
saber manejar tais sentimentos inconscientes que possam interferir no bom andamento 
da psicoterapia, até para evitar uma possível interrupção. 
Nossa personalidade só se expressa na relação. Eu me reconheço a partir do 
outro. A construção da identidade só é feita na relação com o outro. Portanto, é na 
relação que a pessoa se trata. 
Atualmente, o foco na psicoterapia está voltado para a dupla terapêutica 
(paciente-terapeuta) e não apenas para as características somente do paciente. Estão em 
jogo as ansiedades, expectativas e o inconsciente da dupla. 
Na psicoterapia, Santiago (1995) aponta que a relação da dupla terapêutica é 
assimétrica. Isso significa que cada um da dupla tem funções diferentes. Neste momento 
o terapeuta sabe mais que o paciente. É ele quem delimita os honorários, horários, assim 
como é ele quem pode compreender o sofrimento do paciente. 
Quando o paciente toma a iniciativa de procurar ajuda por si só, esse já é um 
bom prognóstico. Supõe que a pessoa percebe que está sofrendo, não concorda com 
seus sintomas e tem o desejo de mudança. Este tipo de paciente é chamado de 
 
23 
 
egodistônico. 
Em contrapartida, aquela pessoa que vem ao consultório, encaminhada por 
outros profissionais ou pelos pais, supõe-se que se trata de um paciente do tipo 
egosintônico. Isto é, ele não sente que está sofrendo, as queixa é o do outro. Nesse 
sentido o prognóstico já não é bom, pois não está disposto à mudança. 
É importar, enquanto terapeutas, nos atentarmos para os desejos, as necessidades 
e as expectativas nossas e as do paciente. Nem sempre elas coincidem. O desejo interno 
do tratamento não ocorre só por parte do paciente, mas também por parte do psicólogo. 
O terapeuta deve identificar as expectativas do paciente em relação à 
psicoterapia, à disponibilidade interna para se tratar, às fantasias e ansiedades durante o 
tratamento. Esses sentimentos são constantes o tempo todo. 
Quanto ao paciente, este também tem suas expectativas, uma vez que buscou 
ajuda porque está sofrendo. Algumas expectativas estão relacionadas a algumas 
questões: será que o paciente vem buscar a solução mágica para seus problemas? Será 
que está disposto a ter uma postura ativa no tratamento, ou espera mais do psicólogo? 
No terapeuta, segundo Santiago (1995) as suas atitudes podem oscilar entre a 
onipotência e a impotência. O psicólogo, especialmente quando é iniciante, sente-se 
muitas vezes inseguro para atender determinado caso. 
Na prática da Psicoterapia espera-se do profissional o clássico tripé: 
embasamento teórico, análise pessoal e supervisão. 
O primeiro requisito trata-se da formação profissional. Serra (2004) sugere que o 
psicoterapeuta tenha um amplo conhecimento acerca de sua abordagem teórica, 
psicopatologia, desenvolvimento humano, além de conhecer áreas afins, como a 
psicofarmacologia, psiquiatria, dentre outras. Além disso, faz-se necessário também 
compreender como funciona a cultura e os hábitos de vida dos seus pacientes. 
O instrumento de trabalho do psicoterapeuta é seu inconsciente, sua própria 
personalidade. Portanto, sua mente precisa estar tratada. No processo de análise pessoal 
– que é o segundo requisito – ele passará pelas etapas psicossexuais do desenvolvimento 
descritas por Freud: fase oral, anal, fálica, genital, complexo de édipo. Conforme afirma 
Jung (1985), no processo de análise, o paciente irá se desenvolver até onde a mente do 
terapeuta estiver desenvolvida. 
Os conteúdos inconscientes do paciente e do terapeuta estão em jogo, claro que 
cada qual com sua função. Com isso, torna-se cada vez mais importante a análise 
pessoal do terapeuta, de modo que seus “pontos cegos” passem a se tornar claros. Vale 
 
24 
 
o alerta de Keidann (2000): nem todos os terapeutas estão em condições de tratar todos 
os tipos de pacientes. O terapeuta precisa ter claro quais são suas limitações, pontos-
cegos, enfim, suas dificuldades internas. Do contrário, poderá ocorrer a interrupção do 
tratamento. 
Finalizando o tripé, é de fundamental importância que o profissional realize 
supervisão dos seus casos clínicos com um profissional mais experiente, que lhe 
possibilitará um novo olhar para seu trabalho. 
Segundo Ribeiro (1988) a empatia também é considerada uma ferramenta 
importante. Trata-se da capacidade de colocar-se no lugar do outro, sendo sensível ao 
sofrimento, sem, entretanto, misturar-se com esse outro. É a flexibilidade de estar junto 
do outro, mantendo uma distância ótima, suficiente para ajudar e não sofrer como a 
pessoa. 
Outros requisitos valiosos constam no Código de Ética Profissional do Psicólogo 
(2005). São eles: a ética, o sigilo, a responsabilidade e o respeito ao ser humano. 
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA 
 
DIFERENÇAS ENTRE PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO 
 PSICANALÍTICA E PSICANÁLISE 
 
 A primeira diferença reside na formação profissional. Para tornar-se um 
psicoterapeuta a formação inicial é a graduação em Psicologia. Esse é o requisito 
mínimo, mas há também o desejável, que é uma pós-graduação específica, de 
Psicoterapia de Orientação Psicanalítica, que inclui a análise pessoal e as supervisões na 
mesma abordagem teórica. 
O psicanalista não precisa ter, necessariamente, a graduação em Psicologia. 
Geralmente interessa-se por esta área, além dos próprios psicólogos, psiquiatras 
ou áreas afins. Entretanto, a formação obrigatória tem duração de seis anos. No primeiro 
ano inicia a análise do profissional por um psicanalista didata, membro da Sociedade 
Internacional de Psicanálise. Os anos subsequentes consistem, além da continuidade da 
análise, os seminários clínicos (estudo teórico) e as supervisões. A participação em 
congressos e outros eventos da área e/ou publicações de trabalhos científicos fazem 
parte da formação. 
A Psicanálise é, enquanto teoria da personalidade, uma técnica de investigação 
 
25 
 
científica que procura entender o homem como um todo, considerando essencialmente o 
inconsciente. 
 FIGURA - SIGMUND FREUD 
 
 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/12/Sigmund_Freud_LIFE.jpg
/200pxSigmund_Freud_LIFE.jpg 
 
Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, deixou um grande legado à sociedade 
quando nos mostrou que é possível mudar a estrutura psíquica por meio da análise, 
técnica esta que vem se adaptando ao longo dos anos às mudanças da sociedade. Isso 
ocorreu de acordo com a necessidade de tratamentos mais rápidos, surgindo então às 
psicoterapias. 
Enquanto a Psicanálise busca a mudança da estrutura psíquica, trabalhando o 
conteúdo latente, a psicoterapia tem por objetivo o alívio do sintoma, incluindo também 
o conteúdo manifesto. 
Nesse sentido, o que diferencia essencialmente a psicanálise da psicoterapia de 
orientação psicanalítica é a técnica utilizada, uma vez que a escuta analítica está 
presente em ambas. Na psicoterapia há a escuta do latente, e a tradução para o manifesto 
no momento da interpretação junto ao paciente. 
Por latente entende-se um conjunto de conteúdos inconscientes que se referem às 
defesas psíquicas, sentimentos transferenciais e contratransferenciais, características das 
fases psicossexuais (fase oral, fálica, genital, complexo de Édipo, latência). Já os 
conteúdos manifestos são aqueles que são expressos claramente pelo paciente. 
A psicoterapia de orientação psicanalítica se baseia nosconceitos da Psicanálise, 
diferenciando-se desta última basicamente pela técnica utilizada, ou seja, é mais breve e 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/12/Sigmund_Freud_LIFE.jpg/200px-Sigmund_Freud_LIFE.jpg
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/12/Sigmund_Freud_LIFE.jpg/200px-Sigmund_Freud_LIFE.jpg
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26 
 
com objetivos delimitados. 
Para Laplanche e Pontalis (2008, p. 393) a psicoterapia analítica é “uma forma 
de psicoterapia que se apoia nos princípios teóricos e técnicos da psicanálise, sem, 
todavia realizar as condições de um tratamento psicanalítico rigoroso”. 
Freud, na sua obra “Sobre a Psicoterapia”, discorre sobre as indicações e 
contraindicações de seu método psicanalítico. Segundo ele não é recomendado tratar de 
pessoas que não vêm com espontaneidade ao consultório, ou seja, que não desejam se 
tratar, pois “a força motivadora primária na terapia é o sofrimento do paciente e o desejo 
de ser curado que deste se origina” (FREUD, p. 186). 
O analista não pode fazer nada ao paciente, se este último não demonstrar um 
mínimo de interesse pela sua cura (isto é, vir até o consultório). Nesse sentido não é 
recomendado que o analista vá até a casa do paciente. 
Outra contraindicação, segundo Freud, refere-se aos pacientes idosos e pessoas 
mais próximas. O tratamento psicanalítico é longo e custoso, portanto, a idade seria um 
fator que prolongaria ainda mais o processo terapêutico. Nessa perspectiva, os casos 
urgentes, como a anorexia, por exemplo, também não deveriam recorrer à psicanálise 
em função do tempo. Não é recomendado também aceitar pacientes com quadros 
graves, como os psicóticos, pois a capacidade simbólica está prejudicada. 
Para Freud, estão indicadas para o tratamento psicanalítico as pessoas mais 
desenvolvidas, os casos de histeria, estados obsessivos e as abulias (falta de motivação 
ou vontade). 
Essas indicações e contraindicações mencionadas acima se referem à 
Psicanálise. No caso da psicoterapia de base psicanalítica, o fator tempo é significante, 
uma vez que neste caso, o tratamento é em menor duração. 
Outra diferença reside no atendimento aos quadros psicóticos, que podem ser 
tratados pela psicoterapia de orientação psicanalítica, bem como os mais urgentes, desde 
que o trabalho seja em conjunto com outros profissionais, como psiquiatra, 
neurologista, nutricionista (no caso de transtornos alimentares), etc. 
 
A ENTREVISTA PSICANALÍTICA 
 
 A entrevista é um dos instrumentos do psicodiagnóstico, sendo o principal na 
psicoterapia de orientação psicanalítica, e tem como objetivo principal conhecer a 
 
27 
 
personalidade do paciente. 
De acordo com Cunha (1993), na entrevista psicanalítica é importante avaliar: 
• A motivação inconsciente, isto é, o desejo do paciente em se tratar, sua 
disponibilidade interna e expectativas. 
• O funcionamento psíquico: medos inconscientes, modo de perceber a 
realidade externa, os vínculos afetivos, etc. 
• A organização da personalidade, identificando os quadros neuróticos, 
psicóticos ou borderlines. 
Recomenda-se realizar duas ou três entrevistas. Na primeira é interessante 
agendar um horário mais flexível, pois pode durar entre uma e uma hora e meia, sem 
que comprometa o horário do próximo paciente. 
Para Freud, o assunto para iniciar a entrevista geralmente é de escolha do 
paciente. Mas a história de vida, história da doença e as recordações da infância são 
informações indispensáveis para o terapeuta nortear a hipótese diagnóstica e o plano 
terapêutico. 
Sobre isso Keidann; Dal Zot (2005, p. 194) apontam que é importante favorecer 
a expressão dos conteúdos inconscientes, e, portanto, “devemos deixá-lo tanto quanto 
possível à vontade para mostrar seu modo de ser e de interagir conosco”. 
Para que isso aconteça, a escuta atenta é condição imprescindível. Entretanto, 
Keidann; Dal Zot (2005, p. 194) alerta para o fato que a escuta não implica no silêncio 
absoluto do terapeuta. Ao contrário, ele “deve agir com cordialidade, discrição e 
sensibilidade”. Pode iniciar a entrevista identificando-se e solicitando ao paciente que 
fale sobre sua queixa. 
Além disso, outros pontos são fontes ricas para compreender o psiquismo do 
paciente. Dentre eles, destacam-se: 
• Análise de como o paciente relaciona-se com os objetos significamente 
afetivos, como os pais, irmãos, cônjuges, filhos. 
• Observação das contradições, fantasias e mecanismos de defesa. 
• Análise do ego e superego. Trata-se de um ego estruturado ou 
desestruturado. Um superego rígido ou frouxo. 
• Exame das funções mentais, como humor, vontade, atenção, percepção, 
sono, etc. 
 
É importante ainda avaliar nas entrevistas: 
 
28 
 
• Tendências suicidas; 
• Uso de dependências químicas; 
• Compulsões (alimento, jogo, sexo, etc.); 
• Sintomas somáticos; 
• Fobias; 
• Uso de medicação, especialmente as de uso psiquiátrico, como os 
ansiolíticos, antidepressivos e anticonvulsivantes. 
 
Considerando que o processo terapêutico, de alívio do sintoma, diz respeito à 
dupla (terapeuta – paciente), na entrevista está em jogo o inconsciente de ambos. É 
preciso levar em conta os pontos favoráveis e desfavoráveis do par. Pode ser que um 
terapeuta não consiga atender determinado tipo de patologia, ou determinada faixa 
etária, em função de seus pontos cegos, isto é, de seus próprios conteúdos internos que 
não estão trabalhados. Para atender criança, por exemplo, é necessário que os conteúdos 
infantis do terapeuta estejam trabalhados. Para atender quadros de dependência química 
é importante trabalhar os sentimentos relacionados à impotência. 
 
ENQUADRE TERAPÊUTICO 
 O contrato é uma das primeiras etapas do processo terapêutico, vindo após o 
psicodiagnóstico. É considerado o ponto mais concreto da relação terapêutica. É 
realizado verbalmente, devendo ser claro, objetivo para ambos, pois é o que orienta a 
dupla. O enquadre ou contrato inclui os seguintes pontos: 
• Esclarecimento dos papéis; 
• Lugar; 
• Horários; 
• Honorários. 
 
No que concerne ao esclarecimento dos papéis, é importante delimitar a função 
de cada um da dupla (terapeuta – paciente). A tarefa do paciente é a de falar – falar o 
que quiser. A do terapeuta é a escuta. Não se trata de uma escuta qualquer, mas uma 
escuta do material latente. No caso de atendimento à criança, é importante delimitar 
algumas situações de organização, como por exemplo, não rabiscar ou sujar as paredes, 
não sair da sala de atendimento, dentre outras. 
 
29 
 
Freud diz no texto em que faz recomendações aos psicanalistas que os aspectos 
importantes no início do tratamento são os acordos quanto a tempo e dinheiro, ou seja, o 
contrato. Está incluído ainda o diagnóstico e indicação terapêutica realizados pelo 
terapeuta. 
Quanto ao tempo, Freud] alerta que “a cada paciente é atribuída uma hora 
específica de meu dia de trabalho disponível, pertence a ele que é responsável por ela, 
mesmo que não faça uso da mesma” (p. 168). 
Nesse sentido, a recomendação é a de que, no momento do contrato, a dupla 
tenha acordado a respeito das faltas. Cada terapeuta tem seu estilo pessoal, a maneira 
com a qual consegue trabalhar mais confortavelmente. 
Há controvérsias entre os autores. Mas é comum alertar ao paciente que as faltas 
previamente avisadas poderão ser compensadas, remanejando a agenda do terapeuta, 
quando possível, atendendo em outro dia ou horário. Em contrapartida, as faltas não 
avisadas costumam ser cobradas. Isso quando se tratar de clínica privada. 
Quandose tratar de instituição pública, em função da grande demanda, pode-se 
negociar um máximo de faltas que o paciente pode ter sem perder sua vaga. Por 
exemplo, duas faltas seguidas ou três intercaladas, sem avisar. 
Em relação ao número de sessões, Freud atendia os seus pacientes seis vezes na 
semana, que seriam todos os dias, à exceção dos domingos e feriados. Atualmente esta 
frequência não é apropriada nem para a psicanálise ortodoxa. 
Em psicoterapia de base analítica indicam-se duas sessões semanais e, em 
algumas situações, uma, no caso de motivos financeiros, residência em outra cidade, 
desemprego. Mas não é uma regra, vai depender de cada caso. Situações mais graves 
(como por exemplo, depressão severa) requerem um acompanhamento mais próximo. 
Pode-se atender três vezes na semana inicialmente, e à medida que a estrutura egoica do 
paciente vai se fortalecendo, diminui o número de sessões. As sessões podem durar 
quarenta e cinco minutos. De preferência, o tempo precisa ser rígido. Além disso, não é 
aconselhado mudar muitas vezes os dias e horários, tampouco a sala de atendimento. É 
importante que o setting terapêutico seja preservado. 
Ainda quanto ao tempo, o paciente geralmente tem curiosidade de saber quanto 
tempo vai durar o tratamento. Freud faz uma comparação com o tempo de construção de 
uma casa: “na verdade, a pergunta relativa à duração provável de um tratamento é quase 
irrespondível” (...) e acrescenta: “mesmo pessoas inteligentes esquecem que uma 
proporção necessária tem de ser observada entre tempo, trabalho e sucesso” (p. 170). 
 
30 
 
Freud orienta para a importância de não dar prazos para o fim do tratamento. 
Além disso, pode ser conveniente, em algumas situações, informar ao paciente sobre a 
interrupção do tratamento. Este autor compara a interrupção de uma análise com a 
interrupção de uma cirurgia, sendo, portanto, insatisfatório. 
Outro fator a ser discutido no contrato refere-se aos honorários do terapeuta, 
quando se tratar de clínica privada. Freud faz uma associação entre dinheiro e fatores 
sexuais. Sugere que os honorários sejam tratados de forma espontânea e sincera, sem 
vergonha. 
Os honorários correspondem à parte prática da terapia. O psicólogo tem gastos 
com aluguel, água, luz, telefone, impostos, livros para seu estudo e preparação 
profissional. É recomendado que o paciente pague mensalmente, e o valor deve ser 
reajustado anualmente. 
Há que se identificar o simbolismo que o dinheiro tem para cada paciente. 
Assim, o terapeuta deve ser responsável por receber os honorários, de modo que possa 
realizar as interpretações quando necessário. Portanto, é ideal que não seja função da 
secretária. 
Atualmente, nos deparamos com os planos de saúde, que determinam 
previamente e de forma padrão o número de sessões e o valor a ser cobrado, além de ser 
pago indiretamente ao terapeuta. Nesses casos, convém informar ao paciente sobre as 
dificuldades que se tem para trabalhar com prazos predefinidos. Algumas vezes é 
possível combinar com o paciente sobre a continuidade do tratamento, quando 
necessário, de modo que ele fique responsável pelos honorários. 
Quanto ao tratamento, Freud conclui: “nada na vida é tão caro quanto a doença e 
a estupidez” (p. 176). 
 
ALIANÇA TERAPÊUTICA 
 
A aliança terapêutica, também chamada de vínculo, diz respeito a uma relação 
dual: paciente e terapeuta. Segundo Keidann; Dal Zot (2005) refere-se à capacidade de 
estabelecer uma relação de trabalho entre a dupla. Ocorre após o contrato e é à base do 
processo psicoterápico. 
Ocorre após a dissociação do ego do paciente. Ou seja, parte do paciente deseja 
falar do problema e a outra não quer, porque lhe causa sofrimento. Ao realizar a 
 
31 
 
dissociação, o paciente irá se identificar com o terapeuta. Trata-se de um processo 
importante na psicoterapia: o paciente irá se identificar com a parte do ego saudável do 
terapeuta (já que a mente desse está mais saudável, após ter realizado sua análise). 
Então, a melhora se dá quando está incorporado o ego saudável do terapeuta no paciente 
(DEWALD, 1981). 
É considerada como a base do tratamento porque, a partir da postura de 
acolhimento e escuta atenta do terapeuta, favorecendo um clima de confiança e respeito. 
Sentir-se compreendido é condição essencial para que o paciente continue seu 
tratamento. 
 
PRINCIPAIS TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS 
 
De acordo com Freud o aparelho psíquico está dividido em: consciente, pré-
consciente e inconsciente. 
Uma das principais características da psicanálise e da psicoterapia de base 
analítica é o inconsciente. Este é regido, segundo Freud, pelo princípio do prazer e é 
composto de ideias desorganizadas (ideias reprimidas, por exemplo). O inconsciente é 
atemporal e, portanto, sempre atual. Apesar de não termos consciência dos conteúdos 
inconscientes, poderemos vir a ter por intermédio da psicoterapia. Isso pode ocorrer por 
meio da associação livre e dos sonhos. 
No processo da psicoterapia a comunicação se dá de inconsciente do terapeuta 
para inconsciente do paciente. Portanto, estão envolvidos os sentimentos da dupla. 
Nesse sentido, dizemos que, em psicoterapia de orientação psicanalítica, assim 
como na psicanálise, o inconsciente é o objeto principal a ser trabalhado. 
De acordo com Luz (2005) a psicoterapia passa por três fases, sendo elas: início, 
fase intermediária e término. 
Quanto ao início do tratamento, Luz (2005) salienta que compreende desde o 
primeiro contato com o paciente até o estabelecimento da aliança terapêutica, que pode 
variar de sessões a meses, conforme cada caso. 
Sendo assim, nesse momento o principal objetivo é o de estabelecer e fortalecer 
a aliança terapêutica, por meio de um contrato claro e objetivo, identificando os motivos 
inconscientes do sofrimento do paciente. A intervenção, portanto, precisa ser de 
acolhimento e focada na interpretação das ansiedades paranoides, isto é, na dicotomia 
 
32 
 
confiança-desconfiança (LUZ, 2005). 
“É importante que o terapeuta ‘ensine’ o paciente a se tratar, auxiliando-o a 
despertar seu interesse pelos conflitos e pelas formas de funcionamento de sua 
personalidade” (LUZ, p. 257). Nesse sentido, a postura do terapeuta não deve ser de 
silêncio exagerado e nem tão amistosa. 
O maior risco nessa fase, como aponta Luz (2005), é a interrupção precoce do 
tratamento. Para tanto, um recurso útil diz respeito aos conteúdos contratransferênciais, 
ou seja, os sentimentos que o paciente desperta no terapeuta. 
As fantasias iniciais, por parte da dupla, são inúmeras. Quanto às fantasias do 
paciente, este pode ter medo de entrar em contato com seus conflitos mais infantis 
porque foram desastrosos, pode ter medo de ficar dependente do terapeuta. Pode ainda 
ter medo de perder o controle de suas emoções ou de aflorar fantasias eróticas. De 
qualquer forma, cabe ao terapeuta interpretar tais fantasias, para que deixem de ser um 
obstáculo ao tratamento, ou seja, deixem de ser resistências (LUZ, 2005). 
Já a fase intermediária da psicoterapia é definida por Luz (2005, p. 258) como a 
fase mais longa, que compreende desde o estabelecimento da aliança terapêutica até o 
momento da alta. O objetivo desse momento é o de “examinar, analisar, explorar e 
resolver os sintomas e as dificuldades emocionais do paciente”. Quanto à técnica, a 
interpretação das resistências iniciais e dos conflitos inconscientes do paciente é a 
principal delas. 
Ao comparar o processo de psicoterapia com um jogo de xadrez, Freud diz que 
existem, basicamente, técnicas para o início e para o fim do tratamento. O decorrer do 
mesmo é sempre um desafio. Trata-se da etapa mais árdua, uma vez que é nela que 
ocorrem as principais mudanças. 
Em relação à temática abordada nesta fase, o foco são os assuntos trazidos pelo 
próprio paciente durante as sessões. Geralmente são temas referentesàs situações 
vividas no dia a dia, como conflitos de relacionamento familiar, no trabalho; ambições, 
planos e decepções. Enfim, sofrimentos cotidianos (LUZ, 2005). 
Quanto à postura do terapeuta, Luz (2005) recomenda que seja atenta e 
respeitosa, de modo que o paciente possa sentir-se à vontade para falar. Dessa forma, à 
medida que vai surgindo o momento oportuno, o terapeuta poderá intervir, seja 
pontuando, assinalando ou interpretando. 
Ocorre que, como aponta Luz (2005), na fase intermediária nem sempre o 
processo evolui tão bem. Às vezes pode ocorrer uma estagnação temporária, em função 
 
33 
 
das resistências, impasses, acting out, perturbação da aliança terapêutica, etc. 
Em relação à alta, ou ao término da psicoterapia, este não ocorre em uma única 
sessão. A fase final perdura por várias sessões, nas quais são trabalhadas as ansiedades 
de separação. De acordo com Luz (2005) esta fase inicia com a primeira comunicação 
da alta e culmina com a última sessão em que a dupla terapeuta-paciente se encontra. 
O objetivo principal é o de trabalhar os sentimentos de luto vivenciados pelo 
término do tratamento, bem como avaliar os ganhos e benefícios conquistados durante o 
mesmo (LUZ, 2005). 
A alta é uma questão de comum acordo entre a dupla. Para o terapeuta, alguns 
indicadores subsidiam seu trabalho, segundo Luz (2005). São eles: 
• A melhora ou supressão do sintoma trazido inicialmente pelo paciente. 
• Alguma mudança nos vínculos afetivos, com os familiares. 
• Alguma alteração nos processos de trabalho, de modo que possa almejar 
novos projetos. 
• Ampliação dos contatos sociais. 
• Maior satisfação na vida sexual. 
• Mudança no contato com a realidade, de modo que o paciente a suporte 
melhor. 
 
Ocorre que nem sempre o processo psicoterápico tem êxito. Então se depara com 
o fenômeno do abandono do tratamento, que é sempre indesejável. 
Percorrendo a literatura, encontramos algumas explicações acerca do abandono 
do tratamento psicoterápico. 
Segundo Etchegoyen (2004), na fase do contrato do processo psicoterápico está 
incluída a ideia de que o tratamento deve finalizar por acordo de ambas as partes e, por 
isso, se apenas um lado decide, não se fala em término da análise, mas sim em 
interrupção. O analisado tem liberdade para rescindir o contrato a qualquer momento, 
assim como o analista. 
Em alguns casos, salienta Etchegoyen (2004), pode ser que os motivos que 
levaram à interrupção de tratamento sejam de ordem externas, porém não é o mais 
comum. Os motivos internos são mais frequentes, e quando isso acontece, chamamos de 
resistências, que pode vir do analisando, ou até mesmo do analista, que não conseguiu 
manejá-la. 
De acordo com Laplanche e Pontalis (2008, p. 458) “chama-se resistência a tudo 
 
34 
 
o que nos atos e palavras do analisando, durante o tratamento psicanalítico, se opõe ao 
acesso deste ao seu inconsciente”. 
Um segundo fenômeno relacionado ao abandono do tratamento é o chamado 
acting out. Chamado por Freud de “agieren” e apresenta o sentido de “atuar”. 
Termo usado em Psicanálise para designar as ações que apresentam, quase 
sempre, um caráter impulsivo, relativamente isolável no decurso das suas atividades, e 
que torna muitas vezes uma forma auto ou hetero-agressiva. Para o psicanalista, o 
aparecimento do acting out é a marca da emergência do recalcado. Quando aparece no 
decorrer de uma análise (durante a sessão ou fora dela, o acting out tem de ser 
compreendida na sua conexão com a transferência, e frequentemente como uma 
tentativa para ignorá-la radicalmente. (LAPLANCHE e PONTALIS, 2008, p. 6) 
Segundo Francisco (1995) o acting out pode estar a serviço ao que Freud 
chamou de “lembranças encobridoras”. Ao invés de lembrar, o indivíduo atua, uma vez 
que se trata de experiências infantis bastante remotas e que não foram compreendidas na 
ocasião. Pode se referir a várias situações que se opõem ao processo analítico, como o 
silêncio, esquecimento de sessões, decisão súbita de deixar a análise, dentre outros. 
Laplanche e Pontalis (2008, p. 264) definem lembrança encobridora: 
Lembrança infantil que se caracteriza ao mesmo tempo pela sua especial nitidez e pela 
aparente insignificância do seu conteúdo. A sua análise conduz a experiências infantis 
marcantes e a fantasias inconscientes. Como o sintoma, a lembrança encobridora é uma 
formação de compromisso entre elementos recalcados e a defesa. 
 De acordo com Gus (2005) atuações e encenações (enactments) refere-se a 
sensações e sentimentos pré-verbais, portanto anterior a palavra, denotando expressões 
primitivas. 
Em um estágio primitivo do desenvolvimento psíquico, narra Gus (2005), 
quando a linguagem ainda não existia (pré-verbal), não era possível expressar os 
sentimentos por meio da palavra. Sendo assim, o ato é a única forma de expressão de 
vivências emocionais primitivas e afetos perigosos da dupla terapêutica. Trata-se de 
uma obstrução ao processo de crescimento e desenvolvimento psicoterápico, uma vez 
que, ao invés de atingir o insight, o indivíduo realiza um ato. 
Entretanto, como aponta Gus (2005), o fenômeno do acting out pode ser útil ao 
tratamento, desde que compreendidos e bem encaminhados àqueles pacientes de difícil 
acesso, em que predominam o pré-verbal, a desorganização psíquica, o caos e o vazio 
mental. 
 
35 
 
A realidade psíquica é resultante das percepções que o indivíduo tem do mundo 
externo, somado às fantasias do mundo interno. Portanto, é uma experiência subjetiva, 
individual e nem sempre traduz a realidade externa (GUS, 2005). 
Sendo assim, afirma Gus (2005) que, no acting out e enactment a realidade 
psíquica ganha expressão, por meio do ato, de vivências primitivas dolorosas (como 
ansiedades persecutórias, etc.), as quais o indivíduo não se lembra e que podem ser 
percebidas por meio da transferência e da contratransferência. Portanto, trata-se de 
revivências de conflitos primitivos da dupla terapêutica. 
Nesse sentido, Gus (2005) entende que as vivências primitivas são da dupla 
terapeuta-paciente. As experiências de fantasias inconscientes destrutivas, arcaicas, de 
ansiedade persecutória e situações traumáticas são reeditadas por ambos. Então, o 
psicoterapeuta também possui papel fundamental: há que se compreender e manejar 
adequadamente o fenômeno do acting out e enactment. 
Atualmente há um consenso entre os psicanalistas de que o processo 
psicoterápico não está focado apenas no paciente, mas sim na dinâmica do campo 
analítico. Assim, são levadas em conta as condições emocionais do terapeuta e do 
paciente, bem como o inconsciente de ambos (ZIMERMAN, 2004). 
Quando o terapeuta, segundo Gus (2005), consegue compreender a realidade 
psíquica do setting, conter e interpretar acting e enactment é possível dar novo 
significado às fantasias primitivas. 
Ao contrário, acrescenta Gus (2005), quando não se compreende a realidade 
psíquica do par terapêutico no setting, chega-se ao “ponto cego” ou conluios 
inconscientes, de natureza narcísica. Podem ocorrer ainda, piora do quadro clínico, 
impasses e interrupção do tratamento. 
Longos silêncios, faltas e atrasos podem se configurar como acting out, que, 
caso ocorram de forma intensa no início do tratamento, podem levar à interrupção do 
tratamento (GUS, 2005). 
Há também o fenômeno do impasse que, segundo Pires (2005) pode estar 
relacionado à interrupção no tratamento psicoterápico. Trata-se de uma estagnação do 
desenvolvimento da terapia, que implica num cessamento da elaboração, perceptíveis no 
processo transferocontratranferencial, caracterizada por intensas repetições de conflitos 
não resolvidos envolvendo a dupla terapêutica. 
Quando o impasse não é superado, pode ocorrer a interrupção do tratamento. 
Torna-se então inevitável reavaliar o próprio trabalho do terapeuta. De alguma forma, 
 
36 
 
acrescenta

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