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Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 1 Proliferação celular II SP 1.2 – EU HEIN.. . NEM PENSAR! 1. CONHECER OS FATORES DE RISCO DE CÂNCER DE PRÓSTATA E EPIDEMIOLOGIA (HERANÇA GENÉTICA); O estudo do câncer de próstata (CaP) reveste-se de grande relevância clínica, em função da sua elevada incidência e das altas taxas de cura desses pacientes quando a doença é detectada em fases iniciais. Por motivos não muito claros, o CaP ocorria, ou era detectado, de forma infrequente até há dois ou três séculos, o que fez com que o papel da próstata fosse quase ignorado nessa época. Atualmente, grande atenção e apreciável soma de recursos materiais têm sido destinadas ao estudo dessa glândula, não apenas porque ela é sede de crescimento benigno, que atinge e produz incômodos urinários em quase todos os indivíduos maduros, mas, também, por originar a neoplasia mais comum dos homens. De todos os tumores malignos detectados em clínicas, 25% originam-se na próstata, numa proporção muito maior que os cânceres de pulmão (15%) e de cólon (10%). De acordo com estimativa da American Cancer Society, 241.280 norte-americanos desenvolveriam câncer da próstata em 2012 e cerca de 28.170 deles foram a chegariam a óbito pela doença. Ainda segundo a mesma instituição, 17,1% dos homens norte- americanos, que atualmente têm mais de 50 anos, desenvolverão câncer de próstata se forem acompanhados até o fim da vida. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) vem realizando esforços desmedidos para definir a incidência local do CaP. De acordo com essa instituição, em 2012 estimou-se 60.180 casos, sendo a frequência da doença duas a três vezes maior nas regiões sul e sudeste, comparado com as regiões norte e nordeste. Esses números são cerca de 3,6 vezes menores do que os observados no hemisfério norte e, embora uma diferença real de incidência geográfica da doença possa existir, é provável que as estimativas brasileiras estejam subdimensionando a incidência de CaP em nosso país. A frequência do câncer da próstata varia geograficamente, com áreas de maior ou menor prevalência. O Canadá, a Jamaica e os países escandinavos apresentam a maior incidência mundial da doença, ao passo que em países do Extremo Oriente o problema é 6 a 25 vezes menor. Curiosamente, dentro de um mesmo país existem variações marcantes na incidência dessa neoplasia. Na cidade de Detroit, nos Estados Unidos, o câncer da próstata é 5 vezes mais comum do que na cidade de Los Angeles, não existindo explicação clara para esse fenômeno. O câncer apresenta duas características bem peculiares. A sua ocorrência aumenta com a idade, atingindo quase 50% dos indivíduos com 80 anos; esse tumor, provavelmente, não poupará nenhum homem que viver até 100 anos. Além disso, o câncer da próstata é encontrado em um número elevado de indivíduos, sem lhes causar qualquer mal. Por exemplo, o estudo da próstata em necropsias de homens com idade entre 61 e 70 anos que faleceram sem doença prostática aparente, revela focos neoplásicos em 24% deles. Contudo, apenas 11% dos indivíduos dessa faixa etária apresentam, em vida, manifestações clínicas relacionadas com a doença. Em outras palavras, 13% dos indivíduos nesse grupo etário têm um tumor com caráter indolente, são assintomáticos e morrem por outros motivos, com o câncer, mas não pelo câncer. FATORES DE RISCO → Raça: A incidência do CaP é cerca de 70% maior em negros e 70% menor em índios, quando comparada com a frequência em brancos. Ademais, a mortalidade pela doença é cerca de três vezes maior em negros, contribuindo para isso, não apenas fatores genéticos, mas também menor acesso aos cuidados de saúde. No Brasil, índios da tribo Parkategê, do Pará, apresentaram aumento expressivo da incidência do CaP depois de colonizados pelos brancos, com dados sugerindo que a aquisição de hábitos alimentares ocidentais possa ter sido responsável pelo fenômeno. → Dieta: A incidência do câncer da próstata é muito alta em países escandinavos e baixa em países do Extremo Oriente. De forma interessante, a doença é 11 vezes mais comum em norte-americanos do que em japoneses que residem no Japão. Essa frequência, contudo, iguala-se quando os japoneses passam a residir nos Estados Unidos, indicando que são fatores ambientais ou dietéticos, e não a hereditariedade, os responsáveis pelo fenômeno. Diferenças no consumo de gordura animal talvez expliquem essas variações geográficas, já que a ingestão de alimentos com alto teor de gordura é elevada na Escandinávia e baixa no Extremo Oriente. Para confirmar tal suspeita, o grupo do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, de Nova Iorque, realizou um experimento com camundongos portadores de câncer da próstata. Decorrido algum tempo, o volume do tumor foi 3 vezes maior nos animais que receberam dieta com 40% de gordura do que naqueles cujo teor de gordura era de 2,3%. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 2 → História familiar: Indivíduos com antecedentes familiares de CaP têm maior chance de desenvolverem a doença. Os riscos aumentam de 2,2 vezes quando um parente de 1º grau (pai ou irmão) é acometido pelo problema, de 4,9 vezes quando dois parentes de 1º grau são portadores do tumor e de 10,9 vezes quando três parentes de 1º grau têm a doença. Nos casos hereditários, o câncer manifesta-se mais precocemente, frequentemente antes dos 50 anos. 2. DISCUTIR A FISIOPATOLOGIA E RELACIONAR AO QUADRO CLÍNICO; ETIOLOGIA → Papel da testosterona: A regressão da neoplasia após a supressão dos níveis séricos de andrógenos e a observação experimental de que ratos tratados cronicamente com testosterona desenvolvem adenocarcinoma da próstata fizeram com que se postulasse uma associação entre câncer da próstata e esses hormônios. Estudos subsequentes não conseguiram demonstrar alterações hormonais (testosterona, dihidrotestosterona, FSH, LH, estradiol) em pacientes portadores da neoplasia e, ao que parece, os andrógenos não constituem agentes carcinogenéticos em relação à próstata. Esses hormônios apenas aceleram o crescimento da neoplasia se ela já existir, da mesma forma que estimulam e mantêm as condições tróficas do tecido prostático normal. → Instabilidade genética: Todo homem nasce com potencial para ter câncer da próstata, pois todos carregam em seu código genético proto-oncogenes, que podem instruir uma célula normal a se transformar em outra maligna. Isso só não ocorre indiscriminadamente porque a função dos proto- oncogenes é neutralizada por outro grupo de genes protetores, chamados de supressores, dos quais os mais conhecidos são o p53, o Rb e o p21. Esses genes promovem a apoptose das células toda vez que elas sofrem um processo de degeneração maligna. O câncer da próstata surge porque as múltiplas divisões celulares que vão ocorrendo com o passar dos anos acompanham-se de discreta fragmentação dos cromossomos, com perdas de genes supressores e de ativação de oncogenes, relacionados com inflamação ou com proliferação celular. PATOLOGIA As neoplasias da próstata são representadas pelos adenocarcinomas em cerca de 98% das vezes e o restante compreende casos de sarcomas, carcinoma epidermoide e carcinoma de células transicionais. Os adenocarcinomas se localizam na zona periférica da glândula em cerca de 75% dos casos, na zona transicional em aproximadamente 25% dos pacientes e na zona central em menos de 5% dos casos. Nos pacientes com adenocarcinoma da próstata, a diferenciação glandular constitui um importante fator prognóstico, relacionando-se com o comportamento biológico do tumor e a sobrevida do paciente. Como os tumores da próstata são bastante heterogêneos sob o ponto de vista histológico, com áreas de maior e menor diferenciação,a classificação histológica da neoplasia é feita considerando-se as áreas de maior anaplasia. HISTÓRIA NATURAL A evolução dos pacientes com câncer da próstata é relativamente imprevisível, com casos de rápida disseminação da neoplasia, antes mesmo de surgirem sintomas locais, e casos de evolução lenta e indolente, com lesões que permanecem estacionárias. De uma maneira geral, tende a prevalecer esta forma de comportamento, que é corroborada por estudo de Stamey e Kabalin, demonstrando que o tempo médio de duplicação tumoral em câncer da próstata é de cerca de 2 a 3 anos, um dos mais baixos entre tumores sólidos humanos. Sob o ponto de vista clínico, esses dados são confirmados por trabalhos nos quais se analisou a evolução de portadores de câncer de próstata localizado e não submetidos a tratamento. Embora a progressão local da neoplasia tenha sido observada em 42 a 83% desses pacientes, após um segmento médio de cerca de seis anos, apenas 0 a 16% deles faleceram em decorrência da doença. CLÍNICA Até a década de 1980, a maioria dos pacientes com CaP apresentava-se com neoplasia disseminada, mas em decorrência dos programas de detecção precoce e orientação preventiva, esse fenômeno se modificou e, atualmente, a maior parte desses casos é identificada com doença localizada. De acordo com o último levantamento da American Cancer Society, nos Estados Unidos da América, 88 a 92% dos novos casos evidencia neoplasia confinada à glândula e apenas 4 e 6% dos pacientes apresenta inicialmente tumor metastático. Nos pacientes com tumor circunscrito à próstata, a doença é assintomática. Por causa da localização periférica, é menos provável que o câncer de próstata cause obstrução uretral, do que a HPB, nos estágios iniciais. Os cânceres avançados localmente se infiltram na vesícula seminal e nas zonas periuretrais da próstata e podem invadir os tecidos moles adjacentes, a parede da bexiga urinária ou (menos comumente) o reto. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 3 Mais de 90% dos pacientes com CaP localmente avançado apresenta-se com manifestações de obstrução infravesical e evidência hematúria macroscópica, em geral relacionada com infiltração do trígono vesical pelo tumor. O aparecimento súbito de obstrução infravesical em um paciente com padrão miccional recente satisfatório é manifestação comum em câncer de próstata. Em casos de hiperplasia benigna, os sintomas obstrutivos tendem a evoluir de forma mais lenta. De forma incomum, pacientes com câncer de próstata podem apresentar dores ósseas, uremia, anemia, perda de peso, adenopatia cervical ou inguinal, linfedema, trombose venosa de membros inferiores ou hemospermia, como primeira manifestação da doença. 3. ENTENDER A FORMAÇÃO DA METÁSTASE E COMO OCORRE NO CA DE PRÓSTATA (PRINCIPAIS SÍTIOS METASTÁTICOS); Metástase. A questão de importância central na oncologia é por que apenas alguns tumores metastatizam? É preocupante perceber que faltam respostas satisfatórias. Algumas variações na metástase se relacionam claramente com as diferenças inerentes ao comportamento de determinados tumores; por exemplo, o carcinoma de células pequenas do pulmão quase sempre metastatiza para locais distantes, enquanto em outros tumores, como o carcinoma basocelular, a metástase é a exceção e não a regra. Em geral, os grandes tumores são mais propensos a metástase do que tumores pequenos, presumivelmente porque (todas as outras características sendo iguais) tumores grandes estão presentes no paciente por longos períodos de tempo, proporcionando chances adicionais de ocorrência de metástases. No entanto, o tamanho e o tipo do tumor não podem explicar adequadamente o comportamento de um determinado câncer e ainda é questionável se a metástase é meramente probabilística (uma questão de chance multiplicada pelo número e tempo de células tumorais) ou reflete diferenças inerentes ao potencial metastático de um tumor para outro (um modelo determinista). O modelo determinista propõe que a metástase seja inevitável em certos tumores porque o tumor apresenta células com um fenótipo metastático específico. Conforme discutido anteriormente, à medida que as células tumorais crescem, acumulam-se mutações aleatoriamente, criando subclones com combinações distintas de mutações. Uma possibilidade é que apenas raras células tumorais acumulem todas as mutações necessárias para a metástase, e isso explica a ineficiência do processo. No entanto, a identificação de mutações metástase-específicas e padrões de expressão gênica metástase-específicas é difícil. Uma ideia alternativa é que alguns tumores adquirem todas as mutações necessárias para a metástase no início do desenvolvimento, e que estes são os tumores que estão destinados a serem “agressivos”. A metástase, de acordo com essa visão, não depende da geração estocástica de subclones metastáticos durante a progressão do tumor, mas é uma propriedade intrínseca do tumor que se desenvolve no início da carcinogênese. Esses mecanismos não são mutuamente exclusivos e pode ser que os tumores agressivos adquiram um padrão de expressão de genes permissivos à metástase no início da tumorigênese, mas também exijam algumas mutações aleatórias adicionais para completar o fenótipo metastático. Nem toda a culpa pode ser colocada nas células tumorais: como mencionado anteriormente, há evidências de que a composição do estroma, a presença de células do sistema imune infiltradas e o grau e qualidade da angiogênese também influenciam a metástase. Outra questão aberta é se existem genes cuja principal, ou única, contribuição é o controle de programas de expressão gênica que promovam a metástase. Esta questão é mais do que de interesse acadêmico, porque se as formas alteradas de certos genes promovem ou suprimem o fenótipo metastático, sua detecção em um tumor primário teria implicações tanto prognósticas quanto terapêuticas. Entre os candidatos a tais oncogenes metastáticos estão os codificadores de SNAIL e TWIST, fatores de transcrição cuja principal função é promover a transição epitelial-para- mesenquinal (EMT). Na EMT, as células do carcinoma regulam, negativamente, a expressão de certos marcadores epiteliais (p. ex., E-caderina) e aumentam a expressão de certos marcadores mesenquimais (p. ex., vimentina, actina do músculo liso). Essas alterações moleculares são acompanhadas por alterações fenotípicas, como a alteração morfológica das células epitelioides poligonais para uma forma mesenquimal fusiforme, juntamente com o aumento da produção de enzimas proteolíticas que promovem a migração e a invasão. Acredita-se que essas mudanças favorecem o desenvolvimento de um fenótipo pró-migratório que é essencial para a metástase. A perda da expressão da E- caderina parece ser um evento-chave na EMT, e SNAIL e TWIST são repressores transcricionais que reduzem a expressão da E-caderina. Ainda não foi esclarecido como a expressão desses fatores de transcrição reguladores é estimulada; no entanto, modelos Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 4 experimentais sugerem que as interações das células tumorais com as células estromais são um estímulo fundamental para essas alterações. Assim, a aquisição de um fenótipo metastático pode não exigir um conjunto de mutações, mas pode ser uma propriedade emergente resultante das interações de células tumorais e o estroma. Metástase. A metástase é definida pela disseminação de um tumor para locais que são anatomicamente distantes do tumor primário e marca, de forma inequívoca, um tumor como maligno, pois, por definição, neoplasias benignas não metastatizam. A invasividade dos cânceres permite que eles penetrem nos vasos sanguíneos, linfáticos e cavidades do corpo, quefornecem oportunidades de propagação. No geral, aproximadamente 30% dos pacientes com tumores sólidos recém-diagnosticados (excluindo câncer de pele não melanoma) apresentam metástases clinicamente evidentes. Outros 20% apresentam metástases ocultas no momento do diagnóstico. Em geral, quanto mais anaplásica e maior for a neoplasia primária, mais provável é a disseminação metastática, mas, como na maioria das regras, há exceções. Sabe-se que alguns cânceres extremamente pequenos metastatizam; por outro lado, algumas lesões grandes e de aparência ameaçadora podem não metastatizar. Todos os tumores malignos podem formar metástases, mas alguns o fazem muito raramente. Por exemplo, os carcinomas basocelulares da pele e a maioria dos tumores primários do sistema nervoso central são altamente invasivos localmente, mas raramente apresentam metástases. É evidente então que a capacidade de invasão local e metástases são características distintas. Uma circunstância especial envolve os chamados “cânceres do sangue”, as leucemias e os linfomas. Esses tumores são derivados de células formadoras de sangue que normalmente têm a capacidade de entrar na corrente sanguínea e alcançar locais distantes; como resultado, com raras exceções, as leucemias e os linfomas são considerados doenças disseminadas no momento do diagnóstico e são sempre considerados malignos. As neoplasias malignas disseminam-se por uma das três vias: (1) semeadura dentro das cavidades do corpo; (2) disseminação linfática ou (3) disseminação hematogênica. A disseminação por semeadura ocorre quando as neoplasias invadem uma cavidade corporal natural. Este modo de disseminação é particularmente característico dos cânceres do ovário, que muitas vezes cobrem amplamente as superfícies peritoneais. Os implantes, literalmente, podem cobrir todas as superfícies peritoneais e ainda assim não invadir os tecidos subjacentes. Aqui está um exemplo em que a capacidade de reimplantar e crescer em locais distantes do tumor primário parece estar separada da capacidade de invadir. Neoplasias do sistema nervoso central, como o meduloblastoma ou o ependimoma, podem penetrar nos ventrículos cerebrais e ser transportadas pelo líquido cerebrospinal para reimplantar nas superfícies meníngeas, tanto no cérebro como na medula espinal. A disseminação linfática é mais típica dos carcinomas, enquanto a disseminação hematogênica é favorecida pelos sarcomas. No entanto, existem numerosas interconexões entre os sistemas linfático e vascular, de modo que todas as formas de câncer podem se disseminar através de um ou ambos os sistemas. O padrão de envolvimento dos linfonodos depende principalmente do local da neoplasia primária e das vias naturais de drenagem linfática local. Os carcinomas do pulmão que se originam nas passagens respiratórias formam metástase, primeiramente para os linfonodos brônquicos regionais e depois para os linfonodos traqueobrônquicos e hillares. O carcinoma de mama geralmente surge no quadrante superior externo e primeiro se dissemina para os linfonodos axilares. No entanto, as lesões mediais da mama podem drenar pela parede torácica para os linfonodos ao longo da artéria mamária interna. Posteriormente, em ambos os casos, os linfonodos supraclaviculares e infraclaviculares podem ser semeados. Em alguns casos, as células cancerosas parecem trafegar pelos canais linfáticos dentro dos linfonodos imediatamente próximos e serem aprisionadas nos linfonodos subsequentes, produzindo as chamadas “metástases saltatórias”. As células podem percorrer todos os linfonodos e chegar ao compartimento vascular via ducto torácico. Um “linfonodo sentinela” é o primeiro linfonodo regional que recebe o fluxo linfático de um tumor primário. O mapeamento pode ser feito através da injeção de corantes azuis ou sondas radiomarcadas perto do tumor primário. A biópsia do linfonodo sentinela permite a determinação da extensão da disseminação do tumor e pode ser utilizada para planejar o tratamento. Deve-se notar que, embora o aumento dos linfonodos próximos de uma neoplasia primária deva despertar a preocupação com a disseminação metastática, nem sempre implica envolvimento neoplásico. Os produtos Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 5 necróticos da neoplasia e antígenos tumorais geralmente provocam respostas imunológicas reativas nos linfonodos, como hiperplasia dos folículos (linfadenite) e proliferação de macrófagos nos seios subcapsulares (histiocitose do seio). Portanto, um exame histopatológico sempre deve ser realizado em um linfonodo aumentado de tamanho. A disseminação hematogênica é a via favorecida para os sarcomas, mas os carcinomas também a utilizam. Como seria de esperar, as artérias são penetradas menos facilmente do que as veias. Com a invasão venosa, as células sanguíneas seguem o fluxo venoso de drenagem do local da neoplasia, e as células tumorais frequentemente param no primeiro leito capilar que encontram. Como a drenagem de toda a área portal flui para o fígado e todo o fluxo de sangue da veia cava flui para os pulmões, o fígado e os pulmões são os locais secundários envolvidos com mais frequência na disseminação hematogênica. Os cânceres que surgem próximos da coluna vertebral quase sempre embolizam através do plexo paravertebral; essa via provavelmente está envolvida nas frequentes metástases vertebrais dos carcinomas da tireoide e da próstata. Certos carcinomas apresentam a propensão de crescer dentro das veias. O carcinoma de células renais muitas vezes invade a veia renal para crescer de maneira “semelhante a uma cobra” até a veia cava inferior, alcançando algumas vezes o lado direito do coração. Os carcinomas hepatocelulares geralmente penetram as raízes portal e hepática para crescer no seu interior e dentro dos principais canais venosos. Notavelmente, tal crescimento intravenoso pode não ser acompanhado por disseminação tumoral ampla. Muitas observações sugerem que a localização anatômica de uma neoplasia e sua drenagem venosa não podem explicar, por completo, a distribuição sistêmica das metástases. Por exemplo, os carcinomas prostáticos preferencialmente disseminam-se para os ossos, o carcinoma broncogênico tende a envolver as glândulas suprarrenais e o cérebro, e o neuroblastoma dissemina-se para o fígado e os ossos. Por outro lado, os músculos esqueléticos, embora ricos em capilares, raramente são locais de metástases tumorais. CaP → Metástase linfonodal e óssea. Se a doença se disseminou, o local mais provável são os linfonodos, e, em seguida, os ossos. Com menos frequência se espalha para o fígado ou outros órgãos. Para pesquisa de metástases é a cintilografia óssea é fundamental, sendo altamente sensível (porém pouco específica). 4. ESTUDAR OS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS (CLÍNICA, EXAMES, BIOPSIA) – PROSTATITE E HBP; Prostatite A prostatite é dividida em três categorias: (1) prostatite bacteriana aguda (2%-5% dos casos), causada pelos mesmos organismos associados às infecções agudas do trato urinário; (2) prostatite bacteriana crônica (2%-5% dos casos), também causada por uropatógenos comuns; e (3) síndrome da dor pélvica crônica (90%-95% dos casos). Esta última pode ser subdividida em casos inflamatórios, que estão associados a leucócitos em secreções prostáticas, e casos não inflamatórios, nos quais os leucócitos estão ausentes. O diagnóstico de prostatite não é comumente baseado na biópsia, pois os achados histológicos são inespecíficos e a biópsia de uma prostatite infectada pode resultar em sepse. A exceção é a prostatite granulomatosa, que pode produzir endurecimento da próstata, levando à biópsia para descartar um câncer de próstata. Nos Estados Unidos, a causa mais comum é a instilaçãodo bacilo de Calmette-Guérin (BCG) dentro da bexiga para tratamento do câncer da bexiga superficial. O BCG é uma cepa atenuada do bacilo da tuberculose que produz uma reação imune granulomatosa na próstata indistinguível da tuberculose. A tuberculose prostática disseminada é rara no Ocidente. A prostatite granulomatosa fúngica geralmente só é observada nos hospedeiros imunocomprometidos. A prostatite granulomatosa inespecífica é relativamente comum e representa uma reação de corpo estranho às secreções que extravasam para tecidos devido ao rompimento de ductos e ácinos prostáticos. Os granulomas prostáticos pós-cirúrgicos também podem ser observados. Características Clínicas: A prostatite bacteriana aguda apresenta-se com início súbito de febre, calafrios, disúria, dor perineal e obstrução da saída da bexiga urinária (bloqueio na base da bexiga); pode ser complicada pela sepse. Se houver suspeita de prostatite aguda, exame retal digital é contraindicado, pois a pressão sobre o tecido esponjoso e sensível da próstata pode causar bacteremia. A prostatite bacteriana crônica geralmente está associada a infecções recorrentes do trato urinário intercaladas por períodos assintomáticos. Pode também manifestar-se por meio de lombalgia, disúria e desconforto perineal e suprapúbico. Tanto a prostatite bacteriana aguda quanto a crônica são tratadas com antibióticos. A síndrome da dor pélvica crônica é caracterizada por dor crônica localizada no períneo, Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 6 área suprapúbica e pênis. Dor durante ou após a ejaculação é um achado relevante. A etiologia é incerta, e constitui um diagnóstico de exclusão. Na verdade, nem sequer está claro se a dor está relacionada com uma anormalidade da próstata. O tratamento para a síndrome da dor pélvica crônica é empírico e depende da natureza dos sintomas. Hiperplasia Prostática Benigna A hiperplasia prostática benigna (HPB) é uma causa extremamente comum de aumento da próstata resultante da proliferação de elementos estromais e glandulares. Acomete um número significativo de homens a partir dos 40 anos de idade e sua frequência aumenta progressivamente com a idade, e alcança 90% na oitava década de vida. O aumento da próstata em homens com HPB é uma importante causa de obstrução urinária. Embora a causa da HPB ainda não seja plenamente compreendida, está claro que o crescimento excessivo (dependente do androgênio) dos elementos glandular e estromal apresenta um papel essencial. A HPB não acomete homens castrados antes do estabelecimento da puberdade ou homens com doenças genéticas que bloqueiam a atividade do androgênio. A di- hidrotestosterona (DHT), o mediador do crescimento prostático, é sintetizada na próstata a partir da testosterona circulante pela ação da enzima 5α- redutase, tipo 2. A DHT se liga aos receptores nucleares do androgênio, que regulam a expressão de genes que sustentam o crescimento e a sobrevivência do epitélio prostático e das células estromais. Embora a testosterona também possa ligar-se aos receptores de androgênio e estimular o crescimento, a DHT é 10 vezes mais potente. Características Clínicas: Como a HPB envolve preferencialmente as porções internas da próstata, as manifestações mais comuns estão relacionadas com a obstrução do trato urinário inferior, frequentemente na forma de dificuldade de iniciar o fluxo de urina (hesitação) e interrupção intermitente do fluxo urinário durante a micção. Esses sintomas são frequentemente acompanhados por urgência e frequência urinárias, e noctúria, indicadores de irritação da bexiga urinária. As manifestações clínicas da hiperplasia prostática ocorrem em apenas cerca de 10% dos homens com evidência patológica de HBP. A presença de urina residual na bexiga urinária causada por obstrução crônica aumenta o risco de infecções do trato urinário. Em alguns homens acometidos, a HPB causa completa obstrução urinária, com resultante distensão dolorosa da bexiga e, na falta do tratamento apropriado, hidronefrose. O tratamento inicial é farmacológico, com o uso de agentes terapêuticos direcionados para a inibição da formação de DHT (como inibidores da 5α redutase) ou que relaxam o músculo liso prostático, bloqueando os receptores α-1 adrenérgicos. Várias técnicas cirúrgicas estão reservadas para os casos gravemente sintomáticos que resistem à terapia farmacológica. 5. COMPREENDER OS MÉTODOS DIAGNÓSTICOS E ESTADIAMENTO (ESCALA DE GLEASON); Detecção do tumor primário. A detecção do CaP é feita pelo toque digital da glândula, através de medidas do PSA sérico e da ultrassonografia transrretal. O toque digital tem sensibilidade que varia entre 18 e 35%, dependendo do tipo de paciente que está sendo avaliado. Nos casos pouco sintomáticos, e que provavelmente têm tumor de pequeno volume, são comuns os resultados falso- negativos. As dosagens do PSA têm sensibilidade um pouco maior que o toque digital, da ordem de 40 a 50%. Sob o ponto de vista prático, níveis séricos de PSA inferiores a 2,5 ng/mL, em pacientes com o toque prostático normal, acompanham-se de riscos desprezíveis de presença de CaP, o que permite que esses casos sejam apenas seguidos clinicamente. Por outro lado, níveis superiores a 2,5 ng/mL acompanham-se de riscos substanciais da doença. Vale ressaltar que pacientes mais idosos ou com quadros de hiperplasia benigna mais acentuada, podem apresentar pequenas elevações do PSA sem que isso indique a presença de neoplasia local. Nos casos de hiperplasia benigna toleram-se níveis de PSA equivalentes a 1/15 do peso ou do volume da próstata, avaliados pelo ultrassom. Valores mais elevados exigem biópsia local para descartar processo maligno. Quando os níveis de PSA situam-se entre 10 e 20 ng/mL, a chance de existir neoplasia prostática é de cerca de 55%, estando indicada biópsia local, independentemente da idade ou de volume da glândula. O câncer da próstata é classificado (graduado histologicamente) pelo sistema de Gleason, criado em 1967 e atualizado em 2014. De acordo com esse sistema, os cânceres da próstata são estratificados em cinco graus com base nos padrões glandulares de diferenciação. O grau 1 representa os tumores mais bem diferenciados, ao passo que os tumores grau 5 não exibem qualquer diferenciação glandular. A maioria dos tumores pertence aos padrões 3, 4 e 5. Uma vez que a maioria dos tumores apresenta mais do que um padrão, um grau primário é atribuído ao padrão dominante, e um grau secundário ao segundo padrão Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 7 mais frequente. Os dois graus numéricos são então somados, a fim de se obter uma pontuação combinada do sistema Gleason. Os tumores que exibem apenas um padrão são tratados como se seus padrões primário e secundário fossem os mesmos e, assim, o número é dobrado. Portanto, os tumores mais diferenciados obtêm pontuação de 2 (1 + 1) e os menos diferenciados de 10 (5 + 5). Um novo sistema de estadiamento também baseado no padrão glandular foi recentemente aceito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para ser usado inicialmente em conjunto com o sistema de Gleason; ele varia de 1 (prognóstico excelente) a 5 (prognóstico sombrio). → Grau 1 - As células são, geralmente, uniformes e pequenas e formam glândulas regulares, com pouca variação de tamanho e forma, com bordos bem definidos, densamente agrupadas, distribuídas homogeneamente e com muito pouco estroma entre si. → Grau 2 - As células variam mais em tamanho e forma e as glândulas, ainda uniformes, mostram-se frouxamente agrupadas e com bordos irregulares. → Grau 3 - As células variam ainda mais em tamanho e forma, constituindo glândulas muito pequenas, uniformes, anguladas ou alongadas, individualizadase anarquicamente espalhadas pelo estroma. Podem formar também massas fusiformes ou papilíferas, com bordas lisas. → Grau 4 - Muitas das células estão fusionadas em grandes massas amorfas ou formando glândulas irregulares, que são distribuídas anarquicamente, exibindo infiltração irregular e invadindo os tecidos adjacentes. As glândulas podem apresentar, ainda, células pálidas e grandes, com padrão hipernefróide. → Grau 5 - Tumor anaplásico. A maioria das células estão agrupadas em grandes massas que invadem os órgãos e tecidos vizinhos. As massas de células podem exibir necrose central, com padrão de comedocarcinoma. Muitas vezes, a diferenciação glandular pode não existir: padrão de crescimento infiltrativo tipo cordonal ou de células soltas. Nesse contexto, os graus 1 e 2 foram descritos, mas, posteriormente, concluiu-se que a maioria desses representava hiperplasia adenomatosa atípica. Esse dado, aliado ao fato de que um escore de Gleason abaixo de 5 favorece uma conduta terapêutica expectante, levaram os patologistas a assinalarem nas biópsias de próstata apenas graus iguais ou acima de 3 (escores ≥ 6), conforme as recomendações adotadas para a graduação do carcinoma de próstata após o consenso da Sociedade Internacional de Patologistas de 2005. A sobrevida dos pacientes com câncer da próstata se relaciona diretamente com o escore histológico pelo sistema de Gleason. Gleason de 2 a 4 - câncer com crescimento provavelmente lento; cerca de 25% de chance de disseminação do câncer para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida. Gleason de 5 a 7 - câncer de crescimento lento ou rápido, a depender de outros fatores; cerca de 50% de chance de disseminação do câncer para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida. Gleason de 8 a 10 - câncer de crescimento muito rápido; cerca de 75% de chance de disseminação do câncer para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida. Atualmente, utiliza-se o sistema de classificação prognóstica elaborado pela Sociedade Internacional de Patologia Urológica (ISUP), que leva em consideração que tumores com a mesma pontuação podem possuir comportamentos biológicos distintos e a partir disso tem como objetivo refinar a capacidade prognóstica do Gleason. Um Gleason de 7 pode ser 4 + 3 ou 3 + 4, sendo o primeiro mais agressivo devido seu predomínio de um tecido mais indiferenciado, mas a pontuação se mantém a mesma. A presença, nas neoplasias prostáticas, de marcadores tumorais específicos, como a fosfatase ácida e o antígeno prostático específico, permite que, através de métodos imunoistoquímicos, os adenocarcinomas locais possam ser diferenciados de outros tipos de tumores. Isso é particularmente relevante nos casos de neoplasias metastáticas de origem indeterminada, em que a identificação desses antígenos nas lesões secundárias permite caracterizar a origem prostática do tumor. Nesses pacientes, deve-se proceder à pesquisa dos dois marcadores, já que ambos aparecem de forma independente e não obrigatória. Vale salientar que nos tumores mais indiferenciados a positividade para a fosfatase ácida costuma prevalecer sobre a positividade para o antígeno prostático específico. A União Internacional Contra o Câncer (UICC) propôs a utilização do sistema TNM em CaP, de modo a padronizar a classificação dos pacientes com a doença e permitir estudos comparativos mais precisos (T0, T1a, T1b, T1c, T2a, T2b, T2c, T3a...) Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 8 A análise do PSA é o exame mais usado no diagnóstico e no controle do câncer da próstata, mas, conforme será discutido, apresenta várias limitações. O PSA é um produto do epitélio prostático normalmente secretado no sêmen. Embora a triagem por PSA possa detectar os cânceres da próstata em seu estágio inicial, estudos sobre o histórico natural da doença (os chamados “estudos observe e espere”) confirmaram que muitos cânceres de próstata são clinicamente insignificantes, o que faz com que dispensem tratamento às vezes por décadas. O sobretratamento desses cânceres pode levar a complicações significativas, como morbidade e, particularmente, disfunção erétil e incontinência. Uma segunda limitação do PSA como biomarcador é que ele não é específico para câncer. A HPB, a prostatite, os infartos prostáticos, a instrumentação da próstata e a ejaculação também aumentam os níveis séricos do PSA. Inversamente, 20% a 40% dos pacientes com câncer da próstata, confinado ao órgão, apresentam nível de PSA abaixo dos níveis utilizados, como ponto de corte, para identificar pacientes com propensão ao câncer de próstata. Por causa desses problemas, os valores do PSA estão sendo reavaliados como teste de triagem. Por outro lado, uma vez diagnosticado o câncer, as medições seriadas do PSA são muito valiosas para o acompanhamento da resposta ao tratamento. Por exemplo, um nível crescente de PSA após uma prostatectomia radical ou radioterapia para a doença localizada é indício de doença disseminada ou recorrente. Biópsia da próstata. A biópsia da próstata deve ser indicada em todos os pacientes com áreas de maior consistência na glândula e/ou com elevação dos níveis séricos de PSA. Essas alterações traduzem a presença de adenocarcinoma em 5 a 95% dos casos, sendo que afecções benignas com nódulos de hiperplasia benigna, infecção prostática, cálculos ou infartos, são responsáveis nos demais pacientes pelas alterações encontradas no toque retal ou nas medidas de PSA. A realização de biópsia prostática com ajuda da USTR e com sedação endovenosa constitui o método mais recomendado na prática. A possibilidade de resultados falso-negativos em 10 a 22% dos casos submetidos à biópsia exige que, nos pacientes com indícios significativos e biópsia negativa, o procedimento seja repetido precocemente. Convém ressaltar que a biópsia deve ser sempre bilateral, mesmo em casos com nódulo unilateral. Essa manobra aumenta a sensibilidade do exame, já que lesões bilaterais, muitas vezes imperceptíveis, são encontradas em 80% dos pacientes com câncer da próstata. 6. ENTENDER O TRATAMENTO E PREVENÇÃO DO CA DE PRÓSTATA (POLÍTICAS PÚBLICAS PARA RASTREAMENTO PRECOCE); Ao se planejar o tratamento dos casos de CaP, deve-se levar em consideração a extensão da doença, o grau histológico do tumor e as condições gerais do paciente. Os tumores localizados inteiramente dentro da glândula (estágio T1 e T2) nem sempre precisam ser tratados, mas, se for necessário, pode-se recorrer à cirurgia ou à radioterapia conformada. Quando o câncer atinge os envoltórios da próstata (estágio T3) costuma-se indicar tratamento radioterápico associado à terapêutica hormonal antiandrogênica. Finalmente, quando tumor se estende para outros órgãos (estágios N+ e/ou M+), a doença é tratada com castração ou hormônios antiandrogênicos. O grau histológico do tumor também deve ser levado em conta ao se planejar o tratamento dos casos de câncer da próstata, uma vez que as lesões bem diferenciadas (escore de Gleason 6) tendem a ter um comportamento mais indolente e podem ser tratadas de forma mais conservadora. Por outro lado, as neoplasias indiferenciadas (escores de Gleason 8 a 10), são extremamente agressivas e respondem de forma imprevisível às diferentes opções de tratamento. Tal fato justifica a adoção de terapia combinada nesses casos, em geral, à associação de cirurgia ou radioterapia com terapêutica hormonal. Finalmente, a estratégia de tratamento dos casos de CaP deve levar em conta as perspectivas de vida do paciente. A orientação conservadora (vigilância clínica ou tratamento hormonal) está justificada nos casos com perspectiva de vida menor que 10 anos,quer pela idade avançada do paciente, quer pela existência de doenças complexas associadas. Quando as condições gerais e a idade prenunciam chances razoáveis de sobrevida de mais de 10 anos, o tratamento curativo radical deve ser adotado. Aspectos desfavoráveis também existem em relação à cirurgia radical. Embora seu valor curativo seja inquestionável e a intervenção seja atualmente realizada com baixa morbidade, a prostatectomia radical pode provocar impotência sexual e incontinência urinária, comprometendo a qualidade de vida do paciente. A impotência, que se caracteriza por perda das ereções penianas, surge em 95% dos casos operados com mais de 70 anos de idade, em 50% dos indivíduos com 55 a 65 anos e em 15 a 20% dos pacientes com menos de 55 anos. Incontinência Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 9 urinária moderada ou grave surge em 20 a 40% dos pacientes submetidos à cirurgia em centros não especializados, mas acomete apenas 2 a 4% dos casos quando a intervenção é realizada por equipes habilitadas. A prevenção do CaP não pode ser feita de forma eficiente, porque ainda não são conhecidos os fatores que modificam a maquinaria celular, tornando-a maligna. Hábitos dietéticos específicos talvez possam reduzir os riscos de CaP. Nesse sentido, tem-se recomendado alimentação com baixo teor de gordura animal, hábito comum nos países onde a incidência da doença é baixa (o ideal é que sejam ingeridos diariamente apenas 15% do total de calorias sob forma de gordura). O consumo abundante de tomate cozido e seus derivados parece diminuir em 35% os riscos de CaP, segundo estudo realizado na Universidade de Harvard. O efeito benéfico do tomate resultaria da presença de grandes quantidades de licopeno, um betacaroteno natural precursor da vitamina A. Finalmente, complementação dietética com vitamina E (800 mg ao dia) e com selenium (200 µg ao dia) talvez tenha um efeito protetor contra o CaP, reduzindo riscos de ocorrência da doença em 32 a 63% dos pacientes analisados em dois estudos caso-controle. Como a testosterona contribui para o crescimento do câncer da próstata, é possível que o bloqueio parcial desse hormônio possa reduzir a incidência da doença. Com essa perspectiva, o Southwest Oncology Group, dos Estados Unidos, estabeleceu um projeto para explorar o eventual papel da finasterida na prevenção dos tumores malignos da próstata. Tal medicação bloqueia a enzima 5a-redutase, responsável pela ação da testosterona na célula prostática e não interfere significativamente com a função sexual do paciente, comum quando se utilizam outros antagonistas da testosterona. Cerca de 9.000 homens foram randomizados em dois grupos, recebendo placebo ou 5 mg/dia de finasterida, por 7 anos. Ao final do estudo, a incidência de câncer da próstata foi 24% menor nos pacientes recebendo finasterida, contudo, os casos de neoplasia identificados nesse grupo eram mais indiferenciados e, portanto, mais agressivos. A conclusão preliminar foi de que a finasterida não deveria ser utilizada na prevenção do câncer de próstata, até que o real impacto da piora histológica do tumor, observada nesses casos, possa ser dimensionada clinicamente. O Ministério da Saúde, assim como a Organização Mundial da Saúde, não recomenda que se realize o rastreamento do câncer de próstata. Não é indicado que homens sem sinais ou sintomas façam exames. Na fase inicial, o câncer de próstata pode não apresentar sintomas e, quando apresenta, os mais comuns são: (1) dificuldade de urinar; (2) demora em começar e terminar de urinar; (3) sangue na urina; (4) diminuição do jato de urina; (4) necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite. Na presença de sinais e sintomas, recomenda-se a realização de exames para investigar o câncer de próstata.
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