Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Geovana Sanches, TXXIV TRABALHO DE PARTO PREMATURO (TPP) INTRODUÇÃO O trabalho de parto prematuro (ou prematuridade) consiste na interrupção da gestação entre 20 semanas e 1 dia e 36 semanas e 6 dias. Essa condição gera problemas especialmente para o bebê, pois a prematuridade pode lhe causar diversos problemas como: doença da membrana hialina, enterocolite necrotizante e hemorragias cerebrais. A incidência do TPP no Brasil é muito alta, variando entre 8 e 10% de todas as gestações. ETIOLOGIA A prematuridade é multifatorial, sendo reconhecidos diversos fatores etiológicos. Uma das principais causas consista na presença de infecções. Outros fatores importantes são: • Fatores demográficos o Gestação nos extremos da vida reprodutiva (adolescência e período peri-menopausa) • Hábitos de vida o Especialmente cocaína e crack, drogas que levam a hipertonia uterina (causam contração uterina sem período de relaxamento, promovendo a prematuridade) • Condições socioeconômicas e Assistência pré-natal o O baixo nível socioeconômico por si só não é causa de prematuridade. Entretanto, está muito relacionada a falta de assistência pré-natal, na qual um dos objetivos é prevenir a prematuridade a partir do tratamento de infecções e anemia durante a gestação • Antecedentes ginecológicos o O principal são os miomas, tendo em vista que eles crescem durante a gestação, esticando as fibras musculares do útero. Como resposta, o útero apresenta maior força contrátil, a qual pode desencadear a prematuridade • Antecedentes obstétricos o O histórico de um TPP anterior é fator de risco muito importante, pois a taxa de recorrência é alta • Intercorrências fetais, anexiais, placentárias ou da gestante o Todas as condições que levam a uma sobre-distenção uterina, ou seja, um crescimento do útero acima do esperado para a idade gestacional, leva ao esticamento das fibras musculares uterinas. Isso leva a maior força contrátil, podendo desencadear o TPP o Algumas condições que cursam com isso são: § Gestação gemelar § Polidrâmnio § Placentomegalia § Miomas § Malformações fetais que cursam com aumento do feto • Iatrogenia o A cardiotocografia pode ser realizada a partir do momento que o feto é viável (em geral, a partir das 24 semanas em hospitais escola e 28 semanas nos demais serviços). o Todavia, deve-se evitar sua realização antes da 32ª semana de idade gestacional, pois até esse período o sistema parassimpático do feto ainda não está desenvolvido. Com isso, ao realizar o exame antes das 32 semanas, será identificado uma taquicardia fetal, a qual é fisiológica nesse momento o Essa taquicardia, entretanto, pode ser mal interpretada como sinal de sofrimento fetal, indicando a interrupção da gestação e, assim, provocando a prematuridade DICA As causas de prematuridade são as mesmas da rotura prematura de membranas ovulares, podendo ser dividida em dois grandes grupos: • Infecções o ITU o Vulvovaginites o Infecções sistêmicas Geovana Sanches, TXXIV • Sobre-distenção uterina: crescimento uterino maior do que o esperado para a idade gestacional MARCADORES DE PREMATURIDADE Marcadores bioquímicos Os marcadores bioquímicos de prematuridade são exames de alto custo, não sendo muito utilizados na prática clínica. Os principais são a fibronectina fetal e as interleucinas 6 e 8. Fibronectina fetal A fibronectina fetal é uma substância que se aloca entre a placenta e o útero, podendo ser encontrada na secreção vaginal das gestantes até a 24ª semana de idade gestacional. Caso seja encontrada entre a 24ª e 36ª semanas, essa paciente tem risco de apresentar trabalho de parto prematuro, pois esse achado indica que em algum momento o útero contraiu mais do que o esperado para a idade gestacional e a fibronectina foi capaz de chegar à vagina da paciente. Interleucinas A partir de uma amniocentese (punção guiada por ultrassom com coleta do líquido amniótico), pode-se fazer a análise laboratorial para buscar a presença das interleucinas 6 e 8. Caso elas estejam presentes no líquido amniótico de gestantes com menos de 36 semanas, isso é um indicativo de risco para trabalho de parto prematuro, pois indica que em algum momento a cascata de prostaglandinas foi ativada. Medida do colo uterino A medida do colo uterino através da ultrassonografia em gestantes com mais de 24 semanas de idade gestacional é outro marcador de prematuridade, sendo mais usado no dia a dia devido ao custo inferior. Ao realizar o exame, caso seja encontrada uma medida do colo uterino inferior a 3 cm de comprimento x 2 cm de largura, consideramos que há risco para trabalho de parto prematuro. DIAGNÓSTICO O diagnóstico do trabalho de parto prematuro é clínico, baseando-se no cálculo da idade gestacional e exame obstétrico (dinâmica uterina + toque vaginal). Critérios • Dilatação do colo uterino > 2 cm • Presença de > 2 contrações a cada 10 minutos • Esvaecimento > 80% A presença dos três critérios em conjunto define o trabalho de parto, independente da paridade da gestante. Caso isso ocorra antes das 37 semanas de idade gestacional, diagnosticamos o trabalho de parto prematuro. Na presença de um ou dois dos critérios, consideramos um falso trabalho de parto. Todavia, o tratamento será exatamente o mesmo do TPP, pois caso não seja feita a inibição, ele irá progredir, tornando-se verdadeiro. CONDUTA Objetivos • Inibir parto prematuro • Prevenir a prematuridade • Coibir complicações do parto prematuro Conduta 1. Internação da paciente 2. Exame físico critérios, buscando sinais de foco infeccioso (principal causa de TPP) a. Administração de antibiótico caso seja encontrado infecção b. Não realizar antibioticoterapia profilática 3. Paciente com IG entre 24 e 34 semanas: corticoterapia 4. Tocólise Corticoterapia A corticoterapia deverá ser realizada para gestantes com idade gestacional entre 24 e 34 semanas, com finalidade de amadurecer o pulmão do feto, caso a inibição do trabalho de parto prematuro falhe. Utiliza-se a betametasona (Celestone Soluspan®), corticoide que mais atravessa a placenta. Faz-se um único ciclo entre 24 e 34 semanas, seguindo o esquema: • 1ª dose: Betametasona 12mg IM • 2ª dose (após 24 horas da aplicação da 1ª dose): Betametasona 12mg IM Tocólise A tocólise consiste em coibir as contrações uterinas, devendo ser realizada em todas as gestantes em verdadeiro ou falso trabalho de parto prematuro, exceto naquelas em que há contraindicação para inibição. Contraindicações absolutas 1. Óbito fetal Geovana Sanches, TXXIV 2. Malformações fetais incompatíveis com a vida o Como por exemplo, anencefalia 3. Sofrimento fetal crônico o Manifesta-se por retardo do crescimento intrauterino 4. Sofrimento fetal agudo o Além de não inibir o trabalho de parto, devemos fazer com que a criança nasça o mais rápido possível 5. Corioamnionite o Infecção da cavidade amniótica o Assim como na condição anterior, além de não inibirmos o parto, deseja-se que a criança nasça o mais rápido possível 6. Rotura prematura de membranas ovulares o Espera-se até 48h após a rotura da membrana, pois esse é o período necessário para o pico máximo de efeito da corticoterapia 7. Doenças maternas descompensadas Contraindicações relativas 1. Trabalho de parto prematuro avançado o Quando a gestante chega com mais de 4cm de dilatação do colo uterino, dificilmente conseguiremos inibir o TPP, mas devemos tentar 2. Trabalho de parto prematuro em gestantes com idade gestacional < 24 semanas ou > 34 semanas o Bebês com mais de 34 semanas apresentam maturação pulmonar, não sendo obrigatório inibir o parto. Já aqueles com menos de 24 semanas, dificilmente irão sobreviver o Essas decisões dependem do serviçode neonatologia disponível na retaguarda Medicamentos inibidores do TPP Estimuladores b-adrenérgicos Os beta-agonistas relaxam a musculatura uterina, cessando as contrações. Apresentam efeito inotrópico positivo e causam vasodilatação periférica, sendo os principais efeitos colaterais a taquicardia materna e fetal, e a queda da pressão arterial. Os medicamentos mais utilizados são a Isoxsuprina (Inibina®), a Terbutalina (Bricanyl®) e o Fenoterol (Berotec®). Para sua administração, deve-se diluir 5 a 10 ampolas do beta-agonista em 500 mL de soro fisiológico. A solução deve ser administrada para a paciente em bomba de infusão contínua, inicialmente com 4 gotas/minuto. A cada 30 minutos, verificar se ainda há contrações, aumentando 4 gotas/minuto a cada meia hora, até que as contrações cessem. Após o desaparecimento, manter a solução por mais 12 horas, suspendendo a medicação posteriormente. Cessando-se a medicação, manter a paciente em 24 horas sob observação sem receber medicações e, caso as contrações não retornem, dar alta hospitalar. Um problema durante a administração é quando aumentamos o gotejamento e a gestante segue tendo contrações, além de evoluir com taquicardia e hipotensão, associado a taquicardia fetal. Nesses casos, não podemos aumentar mais o gotejamento, estando indicada associação de outra droga. ATENÇÃO Os beta-agonistas não podem ser utilizados por gestantes com cardiopatias e com síndrome hemorrágica. Isso pois, tendo em vista o efeito inotrópico positivo e a vasodilatação periférica causados pelo medicamento, ambas as condições podem ser descompensadas. Nesses casos, indica-se como droga de escolha o Sulfato de Magnésio, nas mesmas doses utilizadas na pré-eclâmpsia. Sendo um estabilizador de membranas, essa droga impede a entrada e saída de íons da célula, inclusive do cálcio, bloqueando assim as contrações uterinas. • Inibidores da síntese de prostaglandinas Os inibidores da síntese de prostaglandinas são as drogas mais utilizadas em associação para inibição do trabalho de parto prematuro. Elas bloqueiam a produção de prostaglandinas e, consequentemente, inibem as contrações uterinas. O mais usado é a Indometacina (Indocid®) por via retal, a qual também está indicada para o tratamento de polidrâmnio – ela provoca importante vasoconstrição no rim do feto, o que Geovana Sanches, TXXIV leva a menor filtração, produção de urina e, assim, de líquido amniótico. Esse medicamento está contraindicado para gestantes com mais de 34 semanas, pois provoca o fechamento precoce do ducto arterioso. Bloqueadores do canal de cálcio O bloqueador do canal de cálcio mais utilizado é a Nifedipina (Adalat®). Todavia, essa droga é um anti-hipertensivo, causando hipotensão importante na gestante. Bloqueadores da liberação da ocitocina Os bloqueadores da liberação da ocitocina consistem no melhor medicamento para inibição do trabalho de parto prematuro. Isso pois, atuam bloqueando os receptores de ocitocina e não apresentam praticamente nenhum efeito colateral. O medicamento mais utilizado dessa classe é o Atosibano (atosiban). Todavia, é um medicamento de alto custo, não estando disponível na rede pública de saúde.
Compartilhar