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TEMA 3 As Etnografias portuguesas: encruzilhadas coloniais e terrenos Contemporâneos ETNOGRAFIAS, USOS E COSTUMES, EM PORTUGAL E NAS COLÓNIAS Texto 1 - Leite de Vasconcelos (1858-1941) Considerado o autor “chave” do trabalho etnográfico em Portugal. Contou com a ajuda de abordagens anteriores realizadas por Teófilo Braga (1843-1924). Mas também a nível nacional por Adolfo Coelho (1847-1919) e Consiglieri Pedroso (1851-1910) e influenciado por outros autores estrangeiros, tais como Edward Tylor, Spencer, Darwin, Max Muller e Auguste Comte. Leite de Vasconcelos divide a Etnografia em 3 ramos: Território e Povo; Folclore Ergografia Na 2ª metade do século XIX, os autores que estudaram a sociedade e a cultura portuguesa foram considerados os agentes do período “positivista filológico-etnográfico” da Etnologia Portuguesa. Nos finais do século XX, a literatura popular era composta por 3 géneros: o cancioneiro, o romanceiro e os contos. No começo do século XX, o estudo da cultura focou-se fundamentalmente na etnografia e no folclore e na sua relação com a identidade nacional. Anos mais tarde, com a influência do funcionalismo britânico, existiu uma separação da antropologia (social e cultural) e dos estudos folclóricos. A era etnofolclórica portuguesa prolonga-se até cerca de 1970, por razões ideológicas associadas à identidade, ao nacionalismo, ao ruralismo, as tradições e a cultura material. Em Portugal, o interesse colocado nos estudos folclóricos acabou por se tornar um forte obstáculo para o desenvolvimento da antropologia até à segunda metade do século XX. Para explicar o processo da literatura folclórica em Portugal, João Leal estudou 2 modelos: Romântico: as tradições populares e a literatura consolidam e explicam a identidade nacional. Etnogenealógicos: estruturam os seus estudos em correntes como a mitologia comparada ou as escolas difusionistas pré-evolucionistas e pretende trabalhar a literatura e as tradições populares servindo de testemunhos das correntes étnicas. A década de 1940: foi importante para a apoteose da nacionalidade, da autenticidade, das raízes históricas e da cultura popular. Resumindo: Na primeira metade do século XX, os folcloristas portugueses centraram-se na vida quotidiana da população mais humilde. Foram abordados diversos temas, como: tecnologias tradicionais, arquitetura popular, o vestuário e os artefactos, como partes da cultura material. Depois de 1960 e particularmente depois de 1974: a Antropologia e as outras ciências sociais formaram uma nova era em Portugal. Com a implantação de um regime democrático concedeu novas capacidades para a investigação e para o ensino. OUTROS RESUMOS: Texto 1 – “Os Caminhos da etnografia portuguesa” – Ramos F. Leite de Vasconcelos (1858-1941). É tido como o “alma mater” do trabalho etnográfico em Portugal. As primeiras abordagens pertencem a Teófilo Braga (1843-1924), a Adolfo Coelho (1847-1919) e Consiglieri Pedroso (1851-1910). Leite de Vasconcelos dividiu a Etnografia em 3 ramos: território e povo, folclore e ergografia. Deixou uma obra inacabada a “Etnografia Portuguesa”, que teria 10 volumes, mas que até à sua morte só publicou 3, tendo os restantes sido acabados pelos seus seguidores. A antropologia portuguesa: desenvolveu-se essencialmente ao redor da construção da nação e não do império, nem tão pouco das colónias, como aconteceu nas abordagens a nível internacional. Aconteceu sempre como um estudo orientado para a cultura popular portuguesa de cariz rural. Na segunda metade do séc. XIX: os primeiros autores dedicaram os seus estudos sobre a cultura, a literatura e a linguagem popular, a história nacional e a arqueologia. No final do séc. XIX: a cultura popular era tida como o universo formado pela literatura e pelas tradições populares. Da literatura, inclui-se: o cancioneiro, o romanceiro e os contos. No âmbito das tradições populares encontramos as crenças, superstições, festas cíclicas, ritos de passagem, etc. Outro autor foi João Leal (1870-1970), com a obra “Etnografias Portuguesas – Cultura Popular e Identidade Nacional”, onde o autor dá um entendimento e génese dos estudos etnográficos portugueses. Durante o séc. XX: os estudos culturais centram-se essencialmente na etnologia, e no folclore e na relação com a identidade nacional. O interesse nos estudos folclóricos constitui um forte entrave na evolução da antropologia portuguesa. As orientações ideológicas do regime visavam a legitimação da “autenticidade” e da “singularidade nacional”. Pina Cabral: refere o processo evolutivo da Etnografia e da Antropologia Portuguesa: Na 1.ª metade do séc. XIX: com a ascensão da burguesia fomenta-se no estudo da “cultura popular” (costumes populares). Situação considerada grave, em comparação com outras ciências, pois na falta de evidências produzidas por profissionais o campo está entregue a amadores e leigos. Depois de 1960 e em especial depois de 1974: com a instauração de um regime democrático, é então permitida a abertura a novos campos de investigação e ensino. Texto 2 – George Stocking A partir do final do século XIX George Stocking, deu a conhecer duas tradições diferentes no processo de desenvolvimento da Antropologia: • Tradição antropológica de construção do império: com principal incidência nos EUA e em países centrais europeus, a antropologia definiu-se como uma disciplina orientada principalmente para as sociedades e culturas não-ocidentais. • Tradição antropológica de construção da nação: com maior ênfase em países europeus da periferia ou semiperiferia, a antropologia focou-se fundamentalmente no estudo da tradição camponesa nacional ligados à construção da identidade nacional. Em Portugal, muito embora a existência de um império e não exista nenhum problema semelhante aos países europeus, mas foi como antropologia de construção da nação que a antropologia se revelou quer cultural e intelectualmente a partir das décadas de 1870 e 1880. Durante quase um século (1870 a 1970): a antropologia portuguesa não teve apenas na cultura popular o seu objetivo principal de pesquisa, mas também preocupações pelo tema da identidade nacional portuguesa. Contextos, protagonistas e instituições 1. A 1ª grande fase de desenvolvimento da antropologia em Portugal (entre 1870 e 1880): assiste-se à emergência da antropologia portuguesa como campo disciplinar autónomo. → Destacaram-se Adolfo Coelho (1847-1919) e Teófilo Braga (1843-1924), mas com papel também importante no trabalho pioneiro de Consiglieri Pedroso (1851-1910) e Leite de Vasconcelos (1858-1941). → Os autores Adolfo Coelho e Teófilo Braga desenvolveram um papel importante, “Conferências do Casino de 1871”, destacaram-se pela regeneração da vida intelectual portuguesa. Este foi sem dúvida um momento de viragem na cultura e na ciência portuguesas do século XIX. → Anteriormente existiam outras formas de distinguir a antropologia, tais como: Etnografia, folclore, etnologia, demótica, mitologia, mitografia e tradições populares. → As décadas iniciais são vistas como uma grande vontade de atualização internacional da antropologia portuguesa e também de grande visibilidade desta na cena intelectual e cultural interna. Surgem então as 1.ªs revistas especificamente etnográficas/antropológicas, como a revista de Etnologia e Glotologia, dirigida por Adolfo Coelho, ou o Anuário para o estudo das Tradições Populares Portuguesas, este editado por Leite de Vasconcelos, contudo de pouca duração. 2. O 2.º grande período de desenvolvimento da antropologia portuguesa surge entre 1890 e 1902: corresponde à viragem do século, um evento importante foi o Ultimatum e na sua sequência da entrada da fase inicial da crise da monarquia. → Os principais autores desta fase antropológica são Rocha Peixoto (1868-1909) e Adolfo Coelho, este já existente nas décadas de 1870 e 1880. Teófilo Braga, Consiglieri Pedroso e Leite de Vasconcelos afastam-se do domínio antropológico na procura de outros interesses. → Surge um granden.º de revistas etnográficas e antropológicas portuguesas, como: a Portugália (de Rosa Peixoto) e a Revista Lusitana (de Leite de Vasconcelos). Neste período surgem também as primeiras entradas museológicas da etnografia e antropologia portuguesas. Entretanto a antropologia perde alguma visibilidade na vida cultural e cientifica portuguesa que possuía nas décadas de 1870 e 1880. 3. A 3.ª grande fase do desenvolvimento da antropologia portuguesa desenvolve-se ao longo das décadas de 1910 e a1920: Aqui as principais figuras, são: Vergílio Ferreira (18881944); D. Sebastião Pessanha (1892-1975); Luís Chaves (1889-1975) e Augusto César Pires de Lima (1888-1959). → Depois de quase 2 décadas dedicado à dialetologia e sobretudo à arqueologia, Leite de Vasconcelos regressa à investigação etnográfica, com a edição de ensaios inseridos na série Estudos de Etnografia Comparativa e com a publicação do Boletim de Etnografia. Entretanto a etnografia portuguesa recupera, alguma da visibilidade perdida nos anos de viragem do século. Os etnógrafos tem uma presença fundamental nas revistas culturais mais importantes da época. 4. O 4.º período no desenvolvimento da antropologia portuguesa desenrola-se da década de 1930 até aos anos 1970: coincide com o Estado Novo, surgem nesta fase um maior n.º de atores, que distribuímos por 3 grupos, constituídos: 1. Etnógrafos ligados ao Estado Novo: em que a política de espírito deu grande importância à etnografia e ao folclore (exemplos: exposições, espetáculos, edições e iniciativas, como o Concurso da Aldeia Mais Portuguesa de Portugal; criação do Museu de Arte Popular e organismos de coordenação das Casas do Povo). A etnografia e o folclore foram então fundamentais no enquadramento político-ideológico das populações rurais, estimulando assim o aparecimento de museus e revistas de natureza etnográfica 2. Etnógrafos ligados a contornos académicos surgem figuras a realçar: Leite de Vasconcelos: depois do seu regresso à etnografia, iniciou a partir de 1930 a publicação da sua Etnografia Portuguesa (1933, 1936, 1942), mais tarde interrompida pela sua morte. Herculano de Carvalho: autor de uma monografia sobre sistemas tradicionais de debulha. Jorge Dias (1907-1973): a figura principal da antropologia portuguesa de perfil académico nos anos 1930 a 1970: formou uma equipa com a qual a antropologia portuguesa recupera alguma da atualização teórica e inserção internacional perdida nas décadas da I República, projetou de forma importante a antropologia portuguesa no plano intelectual e científico. A projeção do seu trabalho e da sua equipa ficou a dever-se a duas razões: a capacidade de alargar as suas pesquisas numa rede mais alargada de discussões interdisciplinares apoiada na universidade onde se integram; articulação da sua pesquisa com os primeiros esforços da disciplina antropológica tanto a nível da investigação, como ao nível museológico e universitário. 3. Grupo de protagonistas importantes para a antropologia portuguesa entre 1930 e 1970: constituído por um conjunto de intelectuais ligados de forma mais irregular à etnografia e à antropologia, mas a partir de posições críticas da etnografia do Estado Novo, conseguiram entradas importantes nessas áreas. A seguir à II Guerra Mundial, o período mais marcante que esta etnografia atingiu foi no decorrer da década de 1950 e da década de 1960, beneficiando das novas condições de trabalho cultural criadas pela Fundação Calouste Gulbenkian. As figuras mais marcantes foram: Michel Giaccometti (1930-1990) e Fernando Lopes da Graça (1906-1994). OBJETOS, MÉTODOS E TEORIAS Ao longo de diferentes momentos históricos vividos, o estudo tem-se centrado na cultura popular portuguesa da antropologia portuguesa. A cultura popular é sempre sinónimo de ruralidade, por hábito exclui-se as cidades e as camadas populares urbanas. Em cada um dos períodos do desenvolvimento histórico da antropologia portuguesa, são diferentes os objetos precisos que representam a cultura popular, mas também os meios metodológicos e teóricos mobilizados para o seu estudo. Entre 1870 e 1880: a cultura popular é vista como um universo quase formado pela literatura e pelas tradições populares. A literatura popular divide-se em três grandes géneros: o cancioneiro, o romanceiro e os contos. As tradições populares, são formadas: crenças e superstições, festas cíclicas, ritos de passagem, etc. Recorrendo a diferentes teorias (mitologia comparada, escolas difusionistas pré-evolucionistas e evolucionismo), os etnólogos dos anos 1870 e 1880 contribuem uma perspetiva histórica da cultura popular. É vista não como um testemunho do passado (de caraterísticas principalmente etnogenealógicas). A literatura e as tradições populares são vistas como uma herança étnica de que o povo asseguraria a custódia, o povo é visto como um guardador de textos anonimamente criados em tempos antigos. Na viragem do século (para o séc. 20): surge uma imagem menos textual e mais complexa da cultura popular, vinda de uma certa diversificação de objetos. Esse processo de diversificação de objetos evidencia-se 1.º com Adolfo Coelho. Mas é mais visível em Rocha Peixoto, no início da sua produção antropológica encontram-se as tradições populares, festas de São João ou o Natal. Mas temas como a arte e arquitetura popular, as tecnologias tradicionais ou o coletivismo agrário ganham a sua atenção. Do ponto de vista metodológico, existem menos contatos com o povo substitui-se na viragem do século por um contato com os protagonistas da cultura popular. O evolucionismo torna-se a principal fonte de inspiração teórica, embora mostre alguns sinais de crise. Se para Adolfo Coelho já tinha recorrido nos anos 1880 a autores evolucionistas, no caso de Rocha Peixoto, baseia-se fundamentalmente no diálogo com a arqueologia. Em consequência do domínio do evolucionismo, continua a triunfar uma conceção historicista da cultura popular. Mas o passado que é agora valorizado é o dos estágios de evolução dos evolucionistas e não o passado étnico dominante nos anos 1870 e 1880. A etnografia transforma-se literalmente em etnografia artística, a conceção da cultura popular que se estabelece é a de um universo composto basicamente por objetos que devem ser vistos e apreciados. Em Portugal a descontinuidade política entre a I República e Estado Novo não exclui que se possam detetar importantes descontinuidades, ou seja, a cultura popular continua a ser vista durante o Estado Novo como sinónimo de arte popular, e a etnografia classificada como etnografia artística. Em resumo: o projeto antropológico de Jorge Dias, ao recuperar as preocupações etnogenealógicas que caraterizavam as décadas de 1870 e 1880 manteve intata a equação entre a cultura popular e o passado. A cultura popular portuguesa passa a ser vista como o testemunho de qualquer coisa que, condenada a médio prazo a fazer parte do passado, mas mais próximo do observador. Associados a objetos, métodos e teorias diferenciadas, ligados a imagens distintas da cultura popular: os diferentes momentos da antropologia portuguesa articulam-se não apenas com diferenças formas de pensar o país, mas também com modalidades distintas de construção de identidade nacional. Portugal deixa de ser visto como o resultado de um conjunto de acontecimentos políticos e militares mais ou menos recentes, para passar a ser visto como produto de longínquas originalidades étnicas, mais fortes e poderosas, identificáveis através da persistência da literatura e das tradições populares. A viragem do século é marcada: por um acontecimento político maior: o Ultimatum. O Ultimatum suscitou duas reações contraditórias: Por um lado, uma confusão nacionalista que deu origem à chamada geração de 90: em particular nos domínios da literatura, da arte ou da arquitetura. Por outro lado, desenvolveu-se uma reação mais negativa, baseada na descrença em relação à viabilidade de Portugal como nação. A etnografia é caraterizada: Por textos curtos, com muitasimagens. A etnografia dos anos 1910 e 1920: limita-se a pontuar esses textos e a legendar essas imagens confirmações sobre o carácter “autenticamente português”, “carateristicamente nosso”, “verdadeiramente tradicional” das tradições e objetos estudados. Entre as décadas de 1930 e 1970, a etnografia do Estado Novo prolonga as linhas centrais da etnografia da I República. OUTRO RESUMO: Texto 2 – “A antropologia portuguesa entre 1870 e 1970” (João Leal) Em Portugal apesar da existência de colónias, os estudos culturais debruçaram-se essencialmente sobre a construção da nação (houve alguns estudos, gerados pela curiosidade sobre as populações das colónias, mas apenas casos isolados). O estudo está principalmente orientado para a cultura portuguesa de matriz rural. A primeira fase da Antropologia em Portugal: acontece nas décadas de 1870 e 1880, nas figuras de Adolfo Coelho, Teófilo Braga, Consiglieri Pedroso e o ainda jovem Leite de Vasconcelos. O desenvolvimento das 1.ªs ideias aconteceram nas Conferências do Casino, onde Teófilo Braga e Adolfo Coelho propunham regenerar a vida intelectual portuguesa, insistem no interesse de seguir as linhas de pensamento europeias e aderir às “ideias do século”. Os campos de saberes, que suscitam interesse são: Etnografia, folclore, etnologia, demótica, demonologia, mitologia, mitografia, tradições populares, faziam fronteira com disciplinas como filologia, linguística, história literária, arqueologia e antropologia física. Teófilo Braga: defendeu a divulgação do positivismo em Portugal e era praticante de história literária. Adolfo Coelho: foi antropólogo, linguista e pedagogo (fez parte de uma rede internacional alargada). A “Revista de Etnologia e Glotologia” foi dirigida por ele. Leite de Vasconcelos: dialetologia (estudo científico dos dialetos linguísticos) e arqueologia. Editou o “Anuário das tradições Populares Portuguesas”. Consiglieri Pedroso: insere na Antropologia Portuguesa, conceitos internacionais (russa, alemã e polaca) derivado do seu conhecimento de línguas. Manteve correspondência com diversos folcloristas internacionais e foi membro de várias sociedades científicas internacionais. Tinha a revista “O Positivismo” e recorrentes artigos etnográficos no “Diário de Notícias” e “Jornal do Comércio”. 2.º período de desenvolvimento da Antropologia Portuguesa, na virada de século: marcado pelo evento “Ultimatum”, acompanha a crise na monarquia, sob o tema da decadência nacional. Autores principais da cena antropológica: Rocha Peixoto (1868-1909), e Adolfo Coelho: A revista etnográfica “Portugália” foi fundada e dirigida por Rocha Peixoto e a também a “Revista Lusitana” de Leite de Vasconcelos, são as publicações mais marcantes desta época. Surgem ainda as primeiras incursões museológicas de etnografia e antropologia. O 3.º período de desenvolvimento da Antropologia Portuguesa: acontece na década de 1910-1920, e coincide com a 1.ª República. Os principais autores foram: Vergílio Correia (1888-1944), D. Sebastião Pessanha (18921975), Luís Chaves (1889-1975), Augusto César Pires de Lima (1888-1959) e o regresso de Leite de Vasconcelos à investigação etnográfica, publicou vários estudos de etnografia comparativa e manteve uma publicação “Boletim de Etnografia”, os primeiros se organizaram em torno de Leite de Vasconcelos. Em termos museológicos mantem-se uma estagnação, e continua-se a privilegiar o espólio, em vez do material etnográfico. A 4.ª fase do desenvolvimento da antropologia portuguesa: acontece na década de 1930 até 1970, e coincide com o Estado Novo, que define 3 grupos de atores: Os etnógrafos do Estado Novo: orientados para a propaganda externa e estilização da cultura portuguesa através de exposições, espetáculos, edições, etc. Formação de museus etnográficos e ranchos folclóricos nas casas do povo. Segundo grupo, composto por: Leite de Vasconcelos e Jorge Dias (1907-1973), doutorado em Etnologia, na Alemanha, forma uma equipa de trabalho no regresso a Portugal em 1947, a antropologia portuguesa, recupera e atualiza-se teoricamente, insere-se assim na esfera internacional. O 3º grupo: conjunto de intelectuais, com posições críticas à etnografia do Estado Novo. OBJETOS, MÉTODOS E TEORIAS As tradições populares são transcritas sob a forma de provérbios, crenças ou superstições, do ponto de vista metodológico, a recolha resulta de métodos incipientes, onde o contato direto com os protagonistas é escasso. Teófilo Braga: baseou o seu trabalho em fontes literárias. A interpretação da cultura baseou-se com correntes de mitologia comparada de Max Muller, tanto para Consiglieri Pedroso e Adolfo Dias, como para Leite de Vasconcelos. Na viragem de século: além da literatura e das tradições populares, as tecnologias e a cultura material, a arte popular, as formas de vida económica e social, passam a integrar o âmbito da antropologia portuguesa. Rocha Peixoto: foi quem fez o maior esforço para alargar o campo temático, cobrindo temas como a arte, a arquitetura popular, as tecnologias tradicionais ou o coletivismo agrário. É este autor que do ponto de vista metodológico, tem um contato mais efetivo com o povo, os protagonistas da cultura popular. Flávio Gonçalves: influenciado por Rocha Peixoto, fazia recolhas diretas junto das populações estudadas. Na sequência de posições mais evolucionistas, o camponês passa a ser classificado como “primitivo moderno”, passando a ter uma conotação negativa, “boçal”, “rude”, “grosseira” e “bárbara”. Na década de 1910/20: Vergílio Correia aborda a cultura popular, mas como arte popular, o autor faz vários trabalhos sobre o Alentejo e outros autores seguiram o seu exemplo, D. Sebastião Pessanha, Luís Chaves, cultivaram o género – Etnografia Artística – fortalecendo os laços entre etnógrafos, fotógrafos, aguarelistas e pintores. Entre 1930/1970: A etnografia está ligada fortemente ao “Estado Novo” prossegue a linha de pensamento anterior e a cultura popular, continua a ser vista como arte popular, etnografia artística, de destacar os trabalhos do autor Jorge Dias, que passa a desenvolver uma etnografia crítica, fomentando uma “espécie de guerra cultural”, opondo-se a uma imagem unitária, como propõe o regime do Estado Novo. ETNOGRAFIAS CONTEMPORÂNEAS Texto 3 - A Etnografia Portuguesa a partir de 1965 – José Cutileiro José Cutileiro é o antropólogo português mais conhecido e mais citado internacionalmente. Deve-se a 2 razões: 1.ª Porque a versão inicial da sua tese foi publicada em língua inglesa. 2.ª Porque este antropólogo integrou a chamada corrente mediterrânia, orientação que marcou a Antropologia Europeia desde finais da década de 60 do século passado até aos nossos dias. Livro: Ricos e Pobres no Alentejo – Uma Sociedade Rural Portuguesa. É um livro de referência para a compreensão da sociedade rural alentejana da 1.ª metade do séc. XX, em relação à hierarquia social resultante da posse da terra, aos mecanismos políticos do Estado Novo, às relações familiares, aos grupos sociais, ao patrocinato e às desigualdades sociais. Na sua etnografia, o autor aborda a problemática do “sistema da posse da terra, baseado numa agricultura latifundiária extensiva a na respetiva estratificação social”. O objetivo geral da obra: “Ao estudar pormenorizadamente a estrutura social de algumas aldeias com menos de 2000 habitantes esperou-se contribuir para um conhecimento mais rigoroso do Alentejo. E em muitos temas o leitor reconhecerá caraterísticas que transcendem o Alentejo e encontram, na sociedade portuguesa contemporânea” (Cutileiro 1977). 1.ª parte: o autor analisa historicamente o nascer do atual regime de posse da terra, caraterizando a base agrícola da povoação. A terra torna-se, como um barómetro para, com eficácia e realismo, medir a própria sociedade. Analisa também as crises e conflitualidades, manifestas e latentes, na ordem socioeconómica vigente. Abordando os conflitos entre grupos sociais, desde os já existentes até à presente época. 2.ª parte:está relacionada com o tema “Família, Parentesco e Vizinhança”. Carateriza as relações conjugais entre marido e mulher, analisando também o papel das relações entre pais e filhos, o papel das crianças no seio familiar e o tipo de relações de géneros estabelecidas no seio familiar nuclear. 3.ª parte: o autor carateriza os organismos corporativos, a “Casa do Povo” (na freguesia) e o “Grémio da Lavoura” (no concelho). Fazem parte da estrutura política também os organismos de regulação de ordem, de aplicação das leis e de cobrança dos impostos, o autor finaliza a caraterização da estrutura política incluindo o exercício do poder e controle políticos. 4.ª parte: “O Patrocinato” é o objeto da obra. Carateriza os conceitos de patrocinato e parentesco espiritual, caraterizando as amizades políticas e pessoais, as dinâmicas evolutivas do paternalismo ao corporativismo, e a relação entre patrocinato e controle social. 5.ª e última parte: “A Religião”, a comunidade em análise é caraterizada nas suas relações com o sobrenatural e a esfera religiosa. José Cutileiro realizou o seu trabalho de campo em meados da década de 60 numa zona rural do distrito de Évora. Estudou uma sociedade predominantemente analfabeta, mas também pela superstição e pela miséria, cujas reivindicações políticas eram reprimidas. OUTRO RESUMO: Texto 3 – “A Etnografia Portuguesa a partir de 1965 – José Cutileiro” – Ramos F. José Cutileiro José Cutileiro: É o antropólogo português mais citado e conhecido internacionalmente. Os 2 motivos são: a versão inicial da tese de doutoramento publicada por ele foi em inglês e o facto de ter integrado a corrente mediterrânia que marcou a Antropologia Europeia na década de 1960 até ao presente. → Após abril de 1974, abandonou a vida académica, para se dedicar à diplomacia. A sua obra mais importante foi: “Ricos e Pobres no Alentejo – Uma sociedade rural portuguesa”, permite compreender a comunidade alentejana na 1ª metade do séc. XX, no que diz respeito à hierarquia social, resultante da posse da terra, à política do Estado Novo, as relações familiares, os grupos sociais, o patrocinato e as desigualdades sociais. Publicado em inglês é um trabalho vital para entender a problemática agrária e o sistema económico que, entretanto, foi destruído. → José Cutileiro realizou o seu trabalho de campo na década de 60 do séc. XX numa zona rural do distrito de Évora, escolheu “Vila Nova” como pseudónimo, numa sociedade dominada pelo analfabetismo, superstição e miséria, e que via as suas reivindicações políticas constantemente reprimidas. 9