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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Das Normas Fundamentais do Processo Civil. ......................................................................................................................................................01 Da Aplicação das Normas Processuais. ...................................................................................................................................................................02 Da Jurisdição e da Ação. Dos Limites da Jurisdição Nacional. ......................................................................................................................03 Da Cooperação Internacional. Da Competência. Da Cooperação Nacional. ..........................................................................................06 Das Partes e Dos Procuradores. Da Capacidade Processual. Dos Deveres das Partes e de Seus Procuradores. Dos Procura- dores. Da Sucessão das Partes e dos Procuradores. ..........................................................................................................................................14 Do Litisconsórcio. ..............................................................................................................................................................................................................15 Da Intervenção de Terceiros. Da Assistência. Da Denunciação da Lide. Do Chamamento ao Processo. Do Incidente de Des- consideração da Personalidade Jurídica. Do Amicus Curiae. .........................................................................................................................17 Do Juiz e dos Auxiliares da Justiça. Dos Poderes, Dos Deveres e Da Responsabilidade do Juiz. Dos Impedimentos e da Suspeição. .............................................................................................................................................................................................................................21 Dos Auxiliares da Justiça. ...............................................................................................................................................................................................24 Do Ministério Público. .....................................................................................................................................................................................................27 Da Advocacia Pública. .....................................................................................................................................................................................................29 Da Defensoria Pública. ....................................................................................................................................................................................................33 Da Forma, do Tempo e do Lugar dos Atos Processuais. Do Tempo do Lugar dos Atos Processuais. .........................................34 Dos Prazos. ...........................................................................................................................................................................................................................37 Da Comunicação dos Atos Processuais. Da Citação. Das Cartas. Das Intimações. ..............................................................................39 Das Nulidades. ....................................................................................................................................................................................................................45 Da Distribuição e Do Registro. ....................................................................................................................................................................................45 Do Valor da Causa. ...........................................................................................................................................................................................................46 Da Tutela Provisória. Da Tutela de Urgência. Do Procedimento da Tutela Antecipada Requerida em Caráter Antecedente. Do Procedimento da Tutela Cautelar Requerida em Caráter Antecedente. Da Tutela da Evidência. ...........................................47 Da Formação do Processo. Da Suspensão do Processo. Da Extinção do Processo. ............................................................................56 Do Processo de Conhecimento e do Cumprimento de Sentença. Do Procedimento Comum. .....................................................57 Da Petição Inicial. ..............................................................................................................................................................................................................58 Da Improcedência Liminar do Pedido. .....................................................................................................................................................................61 Da Audiência de Conciliação ou de Mediação. ...................................................................................................................................................62 Da Contestação. Da Reconvenção. Da Revelia. .....................................................................................................................................................63 Das Providências Preliminares e do Saneamento. Do Julgamento Conforme o Estado do Processo. ........................................66 Da Audiência de Instrução e Julgamento. ..............................................................................................................................................................67 Das Provas. ...........................................................................................................................................................................................................................68 Da Sentença e da Coisa Julgada. ................................................................................................................................................................................82 Da Liquidação de Sentença. .........................................................................................................................................................................................87 Do Cumprimento da Sentença. ...................................................................................................................................................................................88 Da Restauração de Autos. .............................................................................................................................................................................................95 Do Processo de Execução. Da Responsabilidade Patrimonial. Das Diversas Espécies de Execução. .............................................95 1 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. MA. BRUNA PINOTTI GARCIA OLIVEIRA Advogada e pesquisadora. Doutoranda em Direito, Es- tado e Constituição pela Universidade de Brasília – UNB. Mestre em Teoria do Direito e do Estado pelo Centro Univer- sitário Eurípides de Marília (UNIVEM) – bolsista CAPES. Pro- fessora de curso preparatório para concursos e universitária da Universidade Federal de Goiás – UFG. Autora de diver- sos trabalhos científicos publicados em revistas qualificadas, anais de eventos e livros, notadamente na área do direito eletrônico, dos direitos humanos e do direito constitucional. DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL. Art. 1º, caput, LINDB. Salvo disposição contrária, a lei co- meça a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. Em termos de vacatio legis, segue-se o mesmo raciocínio aplicado à lei material quanto à lei processual. A regra é que a norma processual entra em vigor em 45 dias após a publi- cação, salvo se a própria lei estabelecerprazo diverso. (Ex.: o Novo CPC entrará em vigor 1 ano após sua publicação). Se o processo já estava extinto, a lei processual não re- troage. Se ainda não começou, segue totalmente a lei pro- cessual nova. A questão controversa se dá quanto aos pro- cessos em curso porque a lei processual tem aplicabilidade imediata – significa que os atos processuais já praticados serão preservados, mas os que irão ser praticados seguirão a lei nova. A lei processual, diferente da lei material, tem aplicabili- dade imediata. Se uma lei material nova surge, ela só se apli- ca aos casos novos depois dela. Agora, se uma lei processual surge, aplica-se aos litígios em curso. O artigo 2º do CPC/2015, correspondente ao artigo 262 do CPC/1973, prevê que “o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exce- ções previstas em lei”. Basicamente, se traz o princípio da demanda, de modo que o Judiciário não pode agir de ofício para iniciar a atividade jurisdicional, devendo ser provocado. Uma vez provocada a jurisdição, o Judiciário poderá tocar o processo, fazendo com que ele siga seu rumo, o que se denomina impulso oficial. O artigo 3º consolida a inafastabilidade da jurisdição, pela qual a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciá- rio lesão ou ameaça a direito (artigo 5º, XXXV, CF; artigo 3º, CPC). É garantido a todos o acesso à justiça, de modo que restrições ao direito de ação devem ser compatíveis com o sistema jurídico-processual constitucional. Já as exceções dos parágrafos, que trazem a arbitragem e os meios alterna- tivos de solução de conflitos, são compatíveis com tal princí- pio e devem ser – e são – incentivadas, tanto antes do litígio se iniciar quanto em seu curso. Prova disso é a obrigatorie- dade da audiência de conciliação no procedimento comum. O artigo 4º coloca o direito à solução integral do mé- rito em prazo razoável. Evidente, quando uma demanda é proposta há um curso natural. Espera-se que ela vá até o final, sendo conferida uma resposta de mérito com o con- sequente trânsito em julgado da decisão que o faça. Para tanto, é preciso que ela preencha requisitos e contenha de- terminados elementos correlatos a estes requisitos. Espera- se, ainda, que não tarde esta resposta, sob pena de nem mesmo ser eficaz mais. O artigo 5º traz o dever das partes de agir com boa- fé. Proceder com lealdade e boa-fé, a rigor, abrange todas as diversas obrigações. A questão é complementada pela disciplina da litigância de má-fé, que pune a conduta que atenta a este princípio. O artigo 6º traz o dever de colaboração das partes em busca da decisão de mérito. É certo que cada uma das par- tes defende, em primeiro plano, interesses individuais, mas em segundo deve haver essa cooperação, e para tanto é de suma relevância a intervenção do Estado, pois o magistra- do, como sujeito processual imparcial, pode e deve servir de fiel da balança, quanto ao cumprimento desse dever. O artigo 7º traz um aspecto essencial ao contraditório, que é o tratamento igualitário entre as partes, dado pelo Estado-juiz, no sentido de paridade de armas. Também os 9º e 10 trazem aspecto importante ao contraditório pre- vendo que não será proferida decisão contra uma parte antes que ela seja ouvida, ressalvadas exceções legais, ca- bendo ao juiz dar oportunidade para que as partes se ma- nifestem sobre tudo que for decidir. O artigo 8º prevê o dever do juiz de aplicar a lei con- forme os fins sociais e as exigências do bem comum, res- guardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a lega- lidade, a publicidade e a eficiência, que são notadamente princípios constitucionais que regem a Administração Pú- blica. Colaciona-se, então, no artigo 11 a regra da publicida- de e a exceção do sigilo. No artigo 12, o Novo Código de Processo Civil fixou uma ordem cronológica de julgamento, a qual foi bastante questionada pelos juristas à espera da vigência do diplo- ma. Na redação originária do caput do artigo 12 se fixava que os juízes e os tribunais “deverão obedecer à ordem cronológica”. A Lei nº 13.256/2016 alterou a expressão e a substituiu dizendo que os juízes e tribunais “atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica”. Art. 1o O processo civil será ordenado, disciplinado e in- terpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. Art. 2o O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei. Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. § 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. 2 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL § 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de so- lução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Minis- tério Público, inclusive no curso do processo judicial. Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. Art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do pro- cesso deve comportar-se de acordo com a boa-fé. Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar en- tre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Art. 8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atende- rá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguar- dando e promovendo a dignidade da pessoa humana e ob- servando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: I - à tutela provisória de urgência; II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III; III - à decisão prevista no art. 701. Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de ju- risdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Ju- diciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advo- gados, de defensores públicos ou do Ministério Público. Art. 12. Os juízes e os tribunais atenderão, preferencial- mente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sen- tença ou acórdão. § 1o A lista de processos aptos a julgamento deverá es- tar permanentemente à disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores. § 2o Estão excluídos da regra do caput: I - as sentenças proferidas em audiência, homologató- rias de acordo ou de improcedência liminar do pedido; II - o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos; III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas; IV - as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932; V - o julgamento de embargos de declaração; VI - o julgamento de agravo interno; VII - as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça; VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal; IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamentada. § 3o Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica das conclusõesentre as preferências le- gais. § 4o Após a inclusão do processo na lista de que trata o § 1o, o requerimento formulado pela parte não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto quando implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em diligência. § 5o Decidido o requerimento previsto no § 4o, o processo retornará à mesma posição em que anteriormente se encon- trava na lista. § 6o Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1o ou, conforme o caso, no § 3o, o processo que: I - tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quando houver necessidade de realização de diligência ou de com- plementação da instrução; II - se enquadrar na hipótese do art. 1.040, inciso II. DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS. Autonomia do direito processual civil O direito processual civil é o ramo do direito que traz as regras e os princípios que cuidam da jurisdição civil. Aquele que se pretenda titular de um direito que não vem sendo respeitado pelo seu adversário pode ingressar em juízo, para que o Estado faça valer a norma de conduta que se aplica ao fato em concreto. O processo civil estabelece as regras que servirão de parâmetro na relação entre o Es- tado-juiz e as partes. Vale destacar que a jurisdição civil está relacionada a pretensões de direito provado (direito civil ou comercial) e de direito público (direito constitucional, administrativo e tributário). O juiz deve, ainda, se atentar ao fato de que o processo não é um fim em si mesmo, mas um meio para solucionar os conflitos. Logo, as regras processuais devem ser respei- tadas, mas não a ponto de servirem de obstáculo para a efetiva aplicação do direito no caso concreto. Assim, dili- gências desnecessárias e formalidades excessivas devem ser evitadas. Esta é a ideia da instrumentalidade do proces- so – processo é instrumento e não fim em si mesmo. Sendo assim, o processo deverá ser efetivo, aplicar sem demora, a não ser a razoável, o direito no caso concreto. O Direito Processual Civil pode ser visto como disci- plina autônoma, mas nem sempre foi assim. Somente em 1868, com a teoria de Oskar von Bulow – obra “teoria dos pressupostos processuais e das exceções dilatórias” – que foi concebida uma ideia de relação processual (conjunto de ônus, poderes e sujeições aplicados às partes do processo) e o processo civil passou a ser visto com autonomia. Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas pro- cessuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte. 3 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicá- vel imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. DA JURISDIÇÃO E DA AÇÃO. DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL. Jurisdição Jurisdição é o poder-dever do Estado de dizer o Direito. Sendo assim, trata-se de atividade estatal exercida por inter- médio de um agente constituído com competência para exer- cê-la, o juiz. Nos primórdios da humanidade não existia o Direito e nem existiam as leis, de modo que a justiça era feita pelas próprias mãos, na denominada autotutela. Com a evolução das instituições, o Estado avocou para si o poder-dever de solucionar os litígios, o que é feito pela jurisdição. O poder-dever de dizer o direito é uno, apenas existindo uma separação de funções: o Legislativo regulamenta normas gerais e abstratas (função legislativa) e o Judiciário as aplica no caso concreto (função jurisdicional). Tradicionalmente, são enumerados pela doutrina os se- guintes princípios inerentes à jurisdição: investidura, porque somente exerce jurisdição quem ocupa o cargo de juiz; ade- rência ao território, posto que juízes somente têm autoridade no território nacional e nos limites de sua competência; indele- gabilidade, não podendo o Poder Judiciário delegar sua com- petência; inafastabilidade, pois a lei não pode excluir da apre- ciação do Poder Judiciário nenhuma lesão ou ameaça a direito. Embora a jurisdição seja una, em termos doutrinários é possível classificá-la: a) quanto ao objeto – penal, trabalhista e civil (a civil é subsidiária, envolvendo todo direito material que não seja penal ou trabalhista, não somente questões ine- rentes ao direito civil); b) quanto ao organismo que a exerce – comum (estadual ou federal) ou especial (trabalhista, militar, eleitoral); c) quanto à hierarquia – superior e inferior. Neste sentido, com vistas a instrumentalizar a jurisdição, impedindo que ela seja exercida de maneira caótica, ela é distribuída entre juízos e foros (órgãos competentes em lo- calidades determinadas). A esta distribuição das parcelas de jurisdição dá-se o nome de competência. Em verdade, a com- petência é o principal limite à jurisdição. Tipos de tutela jurisdicional - Tutelas de conhecimento: nos processos de conheci- mento é possível detectar 5 espécies de tutela jurisdicional que podem ser prestadas, conforme a classificação de Pontes de Miranda. Esta classificação doutrinária fixa as tutelas cuja eficácia prepondera na sentença que presta a jurisdição. a) Meramente declaratórias (certificação) – É aquela pela qual o juiz atesta ou certifica a existência ou não de uma rela- ção / situação jurídica controvertida ou a falsidade / autenti- cidade de um documento. Natureza ex tunc. Não forma título executivo. Ex.: investigatória de paternidade, usucapião, nuli- dade de negócio jurídico, sentenças de improcedência, inter- dição (posição majoritária). Obs.: Em toda sentença, mesmo que o pedido tenha por essência outro cunho, o juiz declara quem tem razão. Então, toda sentença é declaratória, ainda que não em sua essência. Contudo, algumas são exclusivamente declaratórias. b) Constitutivas ou desconstitutivas (inovação) – É aquela pela qual o juiz cria (positivas, constituem), modifica (modifi- cativas, alteram) ou extingue (negativas, desconstituem) uma relação ou situação jurídica. Natureza ex nunc. Não forma tí- tulo executivo. Ex.: adoção, adjudicação compulsória, ação de revisão de cláusula contratual, modificação de guarda, divór- cio, desconstituição do poder familiar, ação rescisória e res- cisão de contrato. Perceba-se que a ação constitutiva pode ser voluntária (há litígio) ou necessária (não há litígio mas a lei obriga). c) Condenatórias (execução forçada) – É aquela em que se reconhece um dever de prestar cujo inadimplemento autoriza o início da fase de cumprimento e de execução. Resulta na formação de um título executivo judicial. O juiz não só declara a existência do direito em favor do autor, mas concede a ele a possibilidade de valer-se de sanção executiva, fornecendo-lhe meios para tanto. A eficácia é ex tunc, retroagindo à data da propositura da ação. Ex.: cobrança, indenizatória, repetição de indébito, ação de regresso. Em geral, as sentenças condenatórias já indicam qual o bem devido pelo réu e sua quantidade. No entanto, admitem- se sentenças condenatórias alternativas (decide pela existên- cia de uma obrigação de dar coisa incerta ou de uma obriga- ção alternativa, reconhecendo ambas, embora só uma deva ser cumprida), genéricas ou ilíquidas (é necessário propor uma fase de liquidação da sentença determinando o quan- tum), e condicionais (exigência condicionada de evento futuro certo – termo – ou incerto – condição). d) Executivas lato sensu (autoexecutoriedade) – É aquela que contém mecanismos que permitem a imediata satisfa- ção do vencedor sem a necessidade de início da nova fase no processo. Têm natureza condenatória e dispensam a fase de execução para que o comando da sentença seja cumprido, isto é, a satisfação não é obtida em 2 fases, mas em uma só. Logo que transitaem julgado, é expedido mandado judicial para cumprir a sentença, sem que se exija outro ato proces- sual. Ex.: despejo, reintegração de posse, todas as demandas para entrega de coisa que sejam procedentes. e) Mandamentais ou injuncionais (ordem) – São aquelas que contêm uma ordem que deve ser cumprida pelo próprio destinatário (e não por um serventuário), sob pena de crime ou multa e penas do artigo 14. Enfim, o juiz profere uma de- claração reconhecendo o direito, condena o réu, aplicando uma sanção, que não é simplesmente a condenação, é tam- bém a imposição de uma medida, um comando, que permite a tomada de medidas concretas e efetivas para o vencedor satisfazer seu direito sem a necessidade de processo autôno- mo de execução. Descumprida a ordem, o juiz pode determi- nar providências que pressionem o devedor, como a fixação de multa diária, conhecidas como astreintes. Ex.: mandado de segurança, obrigações de fazer ou não fazer. 4 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Obs.: A principal diferença entre a executiva lato sensu e a mandamental é que na mandamental quem tem que cumprir é o devedor, ao passo que na executiva, se o devedor não cumprir espontaneamente, o Estado o fará. Não obstante, há quem defenda uma sexta categoria. A categoria “f” seria a das sentenças determinativas ou dis- positivas (normatização) – Alguns autores estabelecem esta categoria – É aquela em que o juiz, com sua vontade, com- plementa a vontade do legislador e cria uma norma jurídica específica para o caso concreto. Ex.: regulamentação de visi- tas, revisão de cláusula contratual. Marcus Vinícius Rios Gonçalves, contra a classificação de Pontes de Miranda, diz que mandamental e executiva são 2 espécies de tutela condenatória. - Tutelas de urgência: existem tutelas jurisdicionais que serão prestadas em caráter de urgência, podendo ser caute- lar ou antecipada. a) Cautelar – A tutela jurisdicional cautelar é aquela que serve para proteger pessoas, provas e bens em situação de risco: as medidas para assegurar bens compreendem as que visam garantir uma futura execução forçada e as que somen- te procuram manter um estado de coisa; as medidas para assegurar pessoas compreendem providências relativas à guarda provisória de pessoas e as destinadas a satisfazer suas necessidades urgentes; as medidas para assegurar pro- vas compreendem a antecipação de coleta de elementos de convicção a serem utilizadas na futura instrução do processo principal. b) Antecipada – A tutela jurisdicional antecipada é aquela que antecipa o resultado útil do processo e confere ao postu- lante aquilo que somente teria quando da decisão final tran- sitada em julgado. - Tutela inibitória: Esta forma de tutela tem por obje- tivo, proteger o direito, a pretensão antes que efetivamen- te venha ser lesado ou mesmo ameaçado, sendo, portanto, forma preventiva de tutela. Trata-se de tutela anterior à sua prática, e não de uma tutela voltada para o passado, como a tradicional tutela ressarcitória. Ação 1. Conceito Em sentido genérico, ação é o direito de demandar, ou seja, de ingressar em juízo para obter do Judiciário uma res- posta a toda e qualquer prestação a ele dirigida. Em sentido estrito, a definição de ação muda conforme a espécie de teoria adotada: para as teorias concretistas, só tem ação aquele que é titular efetivo do direito postulado (então, se alguém ingressou com a demanda mas ela foi julgada improcedente ao final, nunca houve ação); para as teorias abstratistas puras, criadas na tentativa doutrinária de que o direito processual fosse considerado uma ciência autô- noma, a ação é um direito de exigir resposta do Judiciário às pretensões a ele dirigidas sem importar se o direito material existe ou não (para haver ação basta qualquer resposta do Judiciário, ainda que não aprecie diretamente a matéria leva- da a juízo); e para a teoria eclética somente haverá ação se for conferida uma resposta de mérito pelo Judiciário (logo, a de- manda preenche requisitos iniciais e permite ao juízo apreciar diretamente a matéria levada até ele, dando uma resposta de mérito, seja pela procedência, seja pela improcedência). Quando uma demanda é proposta há um curso natural. Espera-se que ela vá até o final, sendo conferida uma resposta de mérito com o consequente trânsito em julgado da decisão que o faça. Para tanto, é preciso que ela preencha requisitos e contenha determinados elementos correlatos a estes requi- sitos. Assim que recebe a petição inicial, o juiz verifica se ela está apta, o que envolve detectar a presença dos elementos da ação (partes, causa de pedir, pedido), entre outros requisi- tos descritos no art. 319, CPC. Não estando apta, se possível, o juiz determinará sua emenda; estando apta, determinará a citação do réu. Contudo, ainda depois da citação o juiz poderá extinguir a demanda sem resolução do mérito (art. 485, CPC), inclusive podendo tomar como base os argumentos da con- testação do réu, caso em que também deverá ouvir a parte autora (art. 337, CPC). Adotando a teoria eclética majoritária, somente haverá ação se a resposta dada à demanda for de mérito. 2. Condições da ação Existem requisitos para que o juiz possa dar uma resposta à pretensão formulada na petição inicial, sem os quais não existe ação, daí serem chamados de condições da ação. São elas: a) Legitimidade “ad causam”: é a relação de pertinência subjetiva (adequação dos sujeitos) quanto ao conflito trazido a juízo e a qualidade para litigar sobre ele, seja como deman- dante (sujeito ativo), seja como demandado (sujeito passivo). Pode ser ordinária, quando pertencente ao titular do direito que vai a juízo postulá-lo em nome próprio, ou extraordinária, quando a lei autoriza que um terceiro substituto vá a juízo como parte postular um direito que não lhe pertence (art. 18, CPC). Nota-se que se relaciona ao elemento da ação chamado partes (quem irá compor os polos ativos e passivo da ação). b) Interesse de agir: é formado pelo binômio necessida- de e adequação, entendendo-se por necessária a ação quan- do sem ela o sujeito não tiver como obter o bem desejado e por adequada quando o meio processual escolhido foi o pertinente nos termos da legislação processual. O interesse de agir relaciona-se ao elemento causa de pedir da ação, pois nos fatos o sujeito irá descrever porque precisa da ação (necessidade) e nos fundamentos jurídicos apontará as nor- mas que fundamentam o seu Direito e delimitam a espécie de meio que ele deve utilizar para levar a pretensão a juízo (adequação). c) Possibilidade jurídica do pedido: não se admitem formulações de pretensões que contrariem o ordenamento jurídico (não podem ir contra à lei nem à moral e aos bons costumes). Para entender se o pedido é juridicamente possí- vel o juiz deve se atentar aos demais elementos da ação que não o pedido, quais sejam, partes e causa de pedir. Obs.: O novo Código de Processo Civil não será expresso no que tange às condições da ação como o atual é. Consta no artigo 17, CPC: “para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade”. Verifica-se que o novo Código co- loca de forma expressa apenas duas das condições da ação. Deve-se entender, para todos efeitos, que o interesse engloba tanto o que antes conhecíamos como interesse de agir quan- to a possibilidade jurídica do pedido. É bastante coerente e, na prática, muitas vezes as condições da ação se confundiam. 5 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 3. Elementos da ação A cada uma das condições da ação corresponde um elemento da ação, isto é, um aspecto essencial que está presente em toda demanda. Os elementos da ação devem ser identificados em todo tipo de ação, delimitando a res- posta esperada do juízo ao apreciar o mérito. São eles partes, causa de pedir e pedido. a) Partes: parte é o sujeito ativo e passivo, ou seja, é quem pede a tutela e em face de quem ela é postulada. Assim, são partes o autor e o réu. Uma ação pode não ter autor? Somentese o processo puder ser iniciado de ofício, ou seja, pelo juiz sem a pro- vocação externa. Um exemplo é o inventário, que pode ser iniciado tanto de ofício quanto por uma parte. Uma ação pode não ter réu? Isso é mais comum. É o que ocorre nos procedimentos de jurisdição voluntária, aqueles nos quais não há litígio mas a lei determina que devam ser levados a juízo mesmo assim, por exemplo, divórcio con- sensual (ambos cônjuges são autores ou requerentes). No campo da jurisdição contenciosa isso fica bem difícil, mas um exemplo é a investigação de paternidade cujo pai fa- leceu e não deixou herdeiros, pois o espólio é uma massa patrimonial que não poderia ser acionada numa ação que não tem natureza patrimonial e sim pessoal. É possível que mais de uma pessoa figure nos polos da ação? Sim, é o chamado litisconsórcio, pelo qual duas ou mais pessoas podem figurar como autoras ou rés no processo. O representante é parte? Não é parte aquele que re- presenta uma pessoa física incapaz ou uma pessoa jurídica (por exemplo, um menor de idade vem representado por seu pai ou sua mãe, quem é parte é o menor, não o pai ou a mãe). Desta afirmação extrai-se que todas as pessoas, físicas e jurídicas, e até alguns entes despersonalizados, têm ca- pacidade de ser parte, mas nem todas estas possuem capa- cidade processual, ou seja, capacidade para estar em juízo. Somente possuem capacidade processual pessoas naturais maiores e capazes (os incapazes precisarão, conforme o caso, serem representados ou assistidos). Quanto às pes- soas jurídicas, a lei lhes atribui personalidade civil e aptidão para ser titular de direitos e obrigações, sendo sempre re- presentadas por quem seus estatutos designarem e, se não o fizerem, por seus diretores. Já os entes despersonaliza- dos que podem ser partes são aqueles que a princípio não deveriam o ser, mas a lei lhes confere a capacidade para que postulem ou defendam determinados interesses em juízo, quais sejam: massa falida (universalidade jurídica de bens e interesses da empresa cuja falência foi decretada/ administrador judicial), espólio (universalidade de bens e interesses de quem morreu/inventariante), herança jacen- te e vacante (sem herdeiros conhecidos ou testamento/ curador), condomínio (edifícios/administrador ou síndico), sociedades sem personalidade jurídica (de fato/administra- dor dos bens), pessoa jurídica estrangeira (representante ou administrador da filial), nascituro (nascimento com vida é condição suspensiva para o exercício de direitos e deve- res/genitores). O advogado é parte? Não, ele é apenas um represen- tante da parte porque possui uma capacidade que ela não possui. Para postular em juízo é preciso possuir capacidade postulatória e quem a tem, em regra, são os advogados e o Ministério Público. Se a parte for advogado, poderá postu- lar em nome próprio. Senão, deverá outorgar procuração a um advogado. Excepcionalmente, atribui-se à parte capa- cidade postulatória sem que ela precise de advogado, por exemplo, juizado especial cível em ações de até 20 salários mínimos, Justiça do Trabalho e Habeas Corpus. b) Causa de pedir: fundamentos de fato e de Direito que embasam o pedido. A causa de pedir justifica o pedido que é dirigido ao órgão jurisdicional. Quem ingressa em juízo deve expor ao juiz os fatos que justificam seu plei- to e indicar a maneira que o ordenamento jurídico regula aquela situação. Em suma, o autor deve apresentar o fato e seu nexo com o fundamento jurídico. Afinal, a atividade jurisdicional consiste em aplicar o Direito a um fato. O que importa mais para o juiz na causa de pedir? Por mais que a indicação dos fundamentos jurídicos seja ne- cessária, o juiz irá se ater principalmente aos fatos quando julgar a demanda, até mesmo porque o juiz presumivel- mente conhece o Direito (jura novit curia). A consequência disso é que o juiz poderá decidir favoravelmente ao autor utilizando fundamento jurídico diverso, desde que se ate- nha aos fatos. Cada vez que os fatos da causa de pedir são alterados, modifica-se a ação, razão pela qual o juiz deve se ater aos fatos para não prolatar sentença extra petita (fora do pedido). Qual é a causa de pedir próxima e qual a remota? Há divergência na doutrina a respeito de qual parte da causa de pedir é a remota e qual é a próxima. Nery Júnior está entre os que chamam de causa de pedir próxima os fatos e remota os fundamentos jurídicos, Greco Filho e Bueno invertem a nomenclatura. Na prática, não é uma distinção relevante. É possível que a petição inicial invoque mais de uma causa de pedir? Sim, em três casos: quando invocados fa- tos de igual estrutura, que repercutem na esfera jurídica de uma pessoa (ex.: várias violações de uma mesma cláusula contratual pelo réu, buscando sua anulação, isto é, mes- mo fato ocorreu várias vezes e atingiu uma esfera jurídica); quando invocados fatos de igual estrutura, que conduzem a efeitos jurídicos que repercutem em diferentes esferas ju- rídicas (ex.: dois autores vizinhos afirmam que o réu causou danos a seus imóveis, no caso, os mesmos fatos atingiram duas esferas jurídicas); quando invocados fatos de estrutu- ra diferente (ex.: não pagamento e uso indevido do imóvel, buscando-se o despejo). É possível modificar a causa de pedir depois da cita- ção? Não, a não ser que o réu concorde, mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições permitidas por lei (art. 329, CPC). Antes da citação é possível modificá-la sem restrições. O mesmo vale para o pedido. c) Pedido: provimento jurisdicional postulado e bem da vida que se almeja. Em outras palavras, é aquilo que, em virtude da causa de pedir, postula-se ao órgão julgador. 6 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Qual é o pedido mediato e qual o imediato? Quando ingressa com uma ação o autor deve indicar o pedido ime- diato, correspondente ao provimento jurisdicional que de- seja obter (condenatório, declaratório, constitutivo, execu- tivo, mandamental), e o pedido mediato, referente ao bem da vida almejado. Os artigos 322 a 329 do CPC cuidam da questão do pedido, trazendo os casos em que cabe pedido genérico, os pedidos implícitos que são aceitos e as possi- bilidades de cumulação. Em regra, o pedido deve ser certo e determinado. Cer- to é o que identifica seu objeto, individualizando-o perfei- tamente; determinado é o pedido líquido, no qual o autor indica a quantidade dos bens que pretende haver. Quando o pedido pode ser ilíquido e genérico? Nos incisos do art. 324, §1º estão algumas exceções que au- torizam o pedido ilíquido ou genérico: ações universais, quais sejam as que têm por objeto uma universalidade de direito (como herança e patrimônio); quando não for pos- sível determinar em definitivo as consequências do ato ou fato ilícito, pois no ingresso da ação ainda não se sabe a extensão do dano sofrido, incluindo neste inciso o dano moral; quando o valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu, como as ações de prestação de contas. O pedido pode ser implícito? em regra, os pedidos de- vem ser interpretados restritivamente, não cabendo ao juiz decidir extra, ultra ou citra petita: além, fora ou menos que o pedido. Contudo, existem casos de pedidos implícitos, que o juiz deve conceder mesmo que o autor não peça ex- pressamente, notadamente juros legais, correção monetá- ria, custas e despesas processuais e prestações periódicas. Como funciona a cumulação de pedidos? É preciso que os pedidos se relacionem, justificando-se o julgamen- to conjunto na mesma ação. Haverá cumulação subjetiva no caso da demanda ser proposta contra mais de um réu (litisconsórcio passivo) e cumulação objetiva havendo fun- damentos ou pedidos múltiplos. Aqui se fala da cumulação objetiva de pedidos, que pode ser simples, quando o autor formula múltiplos pedidos e deseja obter êxito em todos, mas um pedido não depende do outro; sucessiva, quan- do o autor formula múltiplos pedidos e deseja obter êxito em todos, mas oresultado do exame de um repercute no do outro; alternativa, quando o autor formula mais de um pedido mas o acolhimento de um exclui o do outro, não havendo assim soma de pedidos; eventual ou subsidiária, idêntica à alternativa, mas havendo uma ordem de prefe- rência. Para cumular pedidos, eles devem ser compatíveis entre si, o juízo competente deve ser o mesmo e o proce- dimento escolhido deve ser adequado a todos os pedidos. Os elementos funcionam para delinear as relações que podem existir entre duas demandas: litispendência, con- tinência, conexão e prejudicialidade. E, principalmente, os elementos servem para estabelecer os limites subjetivos e objetivos da coisa julgada. Como se verá, embora a coisa julgada material se limite ao dispositivo da sentença, trata-se de fenômeno que só pode ser dimensionado pelos elementos da ação. Se os elementos de uma ação forem os mesmos de outra, tem-se ações idênticas, mas basta que um deles se diferencie para que as ações sejam consideradas diferen- tes (art. 337, §2°, CPC). Imaginemos que duas ações pos- suem os mesmos elementos, sendo assim idênticas: como consequência, será impedido o prosseguimento da que foi proposta posteriormente, extinguindo-a sem resolução do mérito (art. 485, V). Os fenômenos associados a ações idên- ticas são a litispendência e a coisa julgada: assemelham-se porque em ambas reproduz-se uma ação que foi anterior- mente ajuizada, diferenciam-se pelo fato da ação repetida já estar extinta ou não (haverá litispendência se a ação re- petida estiver em curso e coisa julgada se a ação repetida já foi decidida por sentença, de que não caiba recurso) (art. 337, §§1° e 3°, CPC). DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL. DA COMPETÊNCIA. DA COOPERAÇÃO NACIONAL. 1. Competência internacional A competência jurisdicional é restrita ao território na- cional, conforme se extrai do CPC: Art. 16, CPC. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código. O juiz brasileiro não possui jurisdição em outros terri- tórios. A jurisdição, como manifestação de poder, encontra óbice na soberania de outros países. Da mesma forma, para que uma sentença estrangeira seja reconhecida no país de- verá ser homologada, sendo que certas matérias somente podem ser julgadas no Brasil e por isso não serão homolo- gadas (ex.: ação que verse sobre bens imóveis situados no Brasil ou ações de inventário e semelhantes). Neste viés, a sentença proferida em outro país é ine- ficaz enquanto tal e não poder ser executada no Brasil e nem aqui produz seus efeitos. Não obstante, a existência de processo em país estrangeiro não obsta o ingresso da ação no Brasil (não induz litispendência) e nem impede que o Judiciário brasileiro julgue ações conexas. 1.1 Homologação de sentença estrangeira Para que uma sentença estrangeira se torne eficaz de- verá ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, i, CF), no denominado exequatur. A execução após a homologação, por seu turno, se dará perante a Justiça Federal. De maneira inovadora, o novo CPC entra em detalhes sobre a homologação de sentença estrangeira em seu Livro III, conferindo capítulo próprio à temática: 7 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL CAPÍTULO VI DA HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA E DA CONCESSÃO DO EXEQUATUR À CARTA ROGATÓRIA Art. 960. A homologação de decisão estrangeira será requerida por ação de homologação de decisão estrangeira, salvo disposição especial em sentido contrário prevista em tratado. § 1º A decisão interlocutória estrangeira poderá ser executada no Brasil por meio de carta rogatória. § 2º A homologação obedecerá ao que dispuserem os tratados em vigor no Brasil e o Regimento Interno do Su- perior Tribunal de Justiça. § 3º A homologação de decisão arbitral estrangeira obedecerá ao disposto em tratado e em lei, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições deste Capítulo. Art. 961. A decisão estrangeira somente terá eficácia no Brasil após a homologação de sentença estrangeira ou a concessão do exequatur às cartas rogatórias, salvo disposi- ção em sentido contrário de lei ou tratado. § 1º É passível de homologação a decisão judicial defi- nitiva, bem como a decisão não judicial que, pela lei brasi- leira, teria natureza jurisdicional. § 2º A decisão estrangeira poderá ser homologada par- cialmente. § 3º A autoridade judiciária brasileira poderá deferir pedidos de urgência e realizar atos de execução provisória no processo de homologação de decisão estrangeira. § 4º Haverá homologação de decisão estrangeira para fins de execução fiscal quando prevista em tratado ou em promessa de reciprocidade apresentada à autoridade bra- sileira. § 5º A sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de homolo- gação pelo Superior Tribunal de Justiça. § 6º Na hipótese do § 5º, competirá a qualquer juiz examinar a validade da decisão, em caráter principal ou in- cidental, quando essa questão for suscitada em processo de sua competência. Art. 962. É passível de execução a decisão estrangeira concessiva de medida de urgência. § 1º A execução no Brasil de decisão interlocutória es- trangeira concessiva de medida de urgência dar-se-á por carta rogatória. § 2º A medida de urgência concedida sem audiência do réu poderá ser executada, desde que garantido o contradi- tório em momento posterior. § 3º O juízo sobre a urgência da medida compete ex- clusivamente à autoridade jurisdicional prolatora da deci- são estrangeira. § 4º Quando dispensada a homologação para que a sentença estrangeira produza efeitos no Brasil, a decisão concessiva de medida de urgência dependerá, para produ- zir efeitos, de ter sua validade expressamente reconhecida pelo juiz competente para dar-lhe cumprimento, dispensa- da a homologação pelo Superior Tribunal de Justiça. Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à homo- logação da decisão: I - ser proferida por autoridade competente; II - ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia; III - ser eficaz no país em que foi proferida; IV - não ofender a coisa julgada brasileira; V - estar acompanhada de tradução oficial, salvo dispo- sição que a dispense prevista em tratado; VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública. Parágrafo único. Para a concessão do exequatur às car- tas rogatórias, observar-se-ão os pressupostos previstos no caput deste artigo e no art. 962, § 2o. Art. 964. Não será homologada a decisão estrangeira na hipótese de competência exclusiva da autoridade judiciá- ria brasileira. Parágrafo único. O dispositivo também se aplica à con- cessão do exequatur à carta rogatória. Art. 965. O cumprimento de decisão estrangeira far-se-á perante o juízo federal competente, a requerimento da parte, conforme as normas estabelecidas para o cumprimento de decisão nacional. Parágrafo único. O pedido de execução deverá ser ins- truído com cópia autenticada da decisão homologatória ou do exequatur, conforme o caso. 1.2 Competência do juiz brasileiro No novo Código de Processo Civil, a competência está regulada nos artigos 21 a 23, sendo que os artigos 21 e 22 tratam dos casos de competência concorrente (cabível o julgamento, em tese, tanto por autoridade brasileira quan- to por estrangeira) e o artigo 23 trata dos casos de compe- tência exclusiva (somente autoridade brasileira, recusando- se a homologação de sentença estrangeira): Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira pro- cessar e julgar as ações em que: I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, con- sidera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal. Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasi- leira processare julgar as ações: I - de alimentos, quando: a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos; II - decorrentes de relações de consumo, quando o con- sumidor tiver domicílio ou residência no Brasil; III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se sub- meterem à jurisdição nacional. Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; 8 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confir- mação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. 2. Competência interna 2.1 Estrutura do Poder Judiciário O Poder Judiciário tem por função essencial aplicar a lei ao caso concreto, julgar os casos levados à sua apreciação. Sendo assim, é o responsável pelo exercício da função jurisdicional. O artigo 92 da Constituição disciplina os órgãos que com- põem o Poder Judiciário, sendo que os artigos posteriores de- limitam a competência de cada um deles. Os órgãos que ficam no topo do sistema possuem sede na Capital Federal, Brasília, e são dotados de jurisdição em todo o território nacional. Artigo 92, CF. São órgãos do Poder Judiciário: I - o Supremo Tribunal Federal; I-A - o Conselho Nacional de Justiça; II - o Superior Tribunal de Justiça; III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Fe- deral e Territórios. § 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal. § 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacional. O Supremo Tribunal Federal é o órgão de cúpula do Poder Judiciário, desempenhando a função de Tribunal Constitucio- nal. Não é exatamente correto chamá-lo de quarta instância porque em alguns casos é possível que dos Tribunais ou Tur- mas recursais (segunda instância) se vá direto ao Supremo Tri- bunal Federal. Por sua vez, os Tribunais Superiores desempenham o pa- pel de terceira instância, são eles: Superior Tribunal de Justi- ça, Tribunal Superior Eleitoral, Tribunal Superior do Trabalho e Superior Tribunal Militar. Neste sentido, não sendo a matéria específica eleitoral, trabalhista ou militar, o papel de terceira instância será exercido pelo Superior Tribunal de Justiça. Na segunda instância se encontram outros Tribunais: os tribunais regionais federais compõem a segunda instância da justiça comum federal; os tribunais de justiça são a segunda instância da justiça comum estadual; os tribunais regionais do trabalho formam a segunda instância da justiça trabalhista; os tribunais regionais eleitorais são a segunda instância da justiça eleitoral; os tribunais de justiça militares, quando criados, com- põem a segunda instância da justiça militar. O acesso à primeira instância se dá perante as varas na justiça estadual, eleitoral (geralmente cumulativa com uma vara comum), na justiça trabalhista e na justiça militar e as se- ções/subseções na justiça federal. 2.2 Distinção entre foro e juízo Foro é a base territorial sobre a qual cada órgão do Poder Judiciário exerce sua jurisdição. Em primeira instância, foro é uma expressão utilizada para indicar a comarca ou seção judi- ciária de determinada cidade. Nas demais instâncias, designa toda a zona territorial na qual o Tribunal exerce sua jurisdição: STF e outros Tribunais Superiores – Brasil; TJMG – Estado de Minas Gerais; etc. Juízo é o órgão jurisdicional designado para o julgamento do caso – justiça comum estadual, justiça comum federal, jus- tiça eleitoral, justiça trabalhista, justiça militar. Basicamente, re- fere-se à justiça competente para decidir sobre aquela matéria. 2.3 Competência absoluta e relativa As regras de competência absoluta são imperativas, co- gentes e podem ser reconhecidas de ofício pelo juiz a qual- quer tempo no processo. As regras de competência relativa se sujeitam a prorrogação e derrogação e somente é possível reconhecer a incompetência se questionada (o novo CPC ino- va ao permitir que o Ministério Público alegue este tipo de competência). A competência de juízo é sempre absoluta. A competência de foro, em regra, é relativa, mas pode em alguns casos ser absoluta. 2.4 Perpetuatio jurisdictionis O princípio da perpetuação da competência está previsto no CPC nos seguintes termos: Art. 43. Determina-se a competência no momento do re- gistro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevan- tes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta. Se o órgão judiciário for suprimido, os processos que por ele tramitavam serão remetidos a outro juízo, o que também ocorre em caso de alteração de competência em razão da ma- téria (ex.: criação de vara de família) ou da hierarquia. 2.5 Critérios para fixação de competência a) Objetivo: fixa a competência em razão da matéria, abso- luta, e em razão do valor da causa, relativa; b) Territorial: competência de foro, relativa, em regra; c) Funcional: abrange a competência hierárquica – casos de foro em razão da função, mais conhecidos como de foro especial ou privilegiado – e outros de competência originária, regra de competência absoluta. 2.6 Regras de apuração da competência Um roteiro simples de perguntas deve ser percorrido: 1 – O processo é de competência originária de algum Tri- bunal? 2 – Se não, o processo deve ser julgado por alguma das justiças especiais? 3 – Sendo a justiça comum competente, a matéria é de cunho federal ou estadual? 4 – Em qual local deverá ser proposta a ação (comarca ou seção)? 5 – Em qual juízo do local deve ser feita a propositura (vara cível, vara de família...)? 9 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2.7 Disciplina constitucional - Supremo Tribunal Federal: artigo 102, CF; - Superior Tribunal de Justiça: artigo 105, CF; - Tribunais Regionais Federais: artigo 108, CF; - Justiça Federal – 1ª instância: artigo 109, CF; - Justiça Trabalhista – artigo 114, CF; - Justiça Comum Estadual – competência subsidiária. 2.8 Foro competente O novo Código de Processo Civil fez algumas alterações sensíveis em relação ao antigo, notadamente: exclusão do foro da mulher nas ações de divórcio; criação de foro específico para reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos; e exclusão da exceção de incompetência como instru- mento de arguição. Regra geral: domicílio do réu. Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de do- micílio do réu. § 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles. § 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor. § 3o Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este tam- bém residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro. § 4o Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domi- cílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor. § 5o A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado. [...] Art. 50. A ação em que o incapaz forréu será proposta no foro de domicílio de seu representante ou assistente. Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União. Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação pode- rá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal. Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito Federal. Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o de- mandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado. Atenção: nos casos em que UEDF sejam réus, aceita-se a propositura, alternativamente, no foro de domicílio do autor, no foro onde ocorreu o ato ou fato, no foro da situação da coisa ou na capital – a escolha é do autor. Única regra de competência territorial absoluta: foro do local do imóvel. Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. § 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de pro- priedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova. Nestas ações negritadas o foro obrigatoriamente tem que ser o do local do imóvel. § 2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta. Competência nas ações de inventário Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Bra- sil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domi- cílio certo, é competente: I - o foro de situação dos bens imóveis; II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio. Competência na ação de ausência Art. 49. A ação em que o ausente for réu será proposta no foro de seu último domicílio, também competente para a arre- cadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias. Competência territorial para ações específicas – relativa Art. 53. É competente o foro: I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casa- mento e reconhecimento ou dissolução de união estável: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal; II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos; III - do lugar: a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa ju- rídica; b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obriga- ções que a pessoa jurídica contraiu; c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou associação sem personalidade jurídica; d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento; e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito previsto no respectivo estatuto (estatuto do idoso – Lei nº 10.741/2003); f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício; IV - do lugar do ato ou fato para a ação: a) de reparação de dano; b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios; V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou aciden- te de veículos, inclusive aeronaves. 2.9 Arguição de incompetência O novo CPC excluiu a exceção de incompetência, de modo que toda e qualquer incompetência deverá ser arguida em pre- liminar de contestação. 10 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2.10 Conflito de competência Mediante suscitação de conflito de competência que dois juízes que se digam competentes ou incompeten- tes questionam perante um órgão superior qual deles é o competente para julgar o caso. Ex.: Dois juízes estaduais discutem sobre serem compe- tentes – Tribunal de Justiça decide. Ex.: Juiz estadual e juiz federal entram em conflito so- bre a competência ser federal ou estadual – Superior Tribu- nal de Justiça decide. 3. Modificação de competência - Prorrogação: se a incompetência relativa não for alega- da, se prorroga, se convalida. - Derrogação: as partes podem eleger o foro, notadamen- te pela via contratual, lembrando-se que a eleição de foro no direito do consumidor tende a ser relativizada, notadamente nos contratos de adesão. A eleição de foro não pode derrogar a conexão. No caso da eleição de foro, a incompetência pode ser reconhecida de ofício pelo juiz. - Conexão: relação que se estabelece entre duas ou mais demandas quanto aos seus elementos. Havendo mesmo pedido ou mesma causa de pedir entre ações há conexão. No caso de ações conexas, serão reunidas para julgamento conjunto. Cabe o reconhecimento de ofício. Somente per- mite a alteração da competência relativa (ex.: uma causa na justiça federal conexa com a estadual – parte da doutrina diz que a federal atrai a estadual, outra que cada uma de- verá tramitar no local competente; ex.: uma causa na justiça trabalhista conexa com outra na justiça comum estadual). - Continência: trata-se de modalidade mais intensa de co- nexão, na qual existem mesmas partes e mesma causa de pe- dir, mas pedido diverso, sendo que uma causa contém a outra. - Prevenção: devido à prevenção, o mesmo juízo e o mes- mo órgão no Tribunal atrairá todos os casos relacionados. TÍTULO II DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL E DA COO- PERAÇÃO INTERNACIONAL CAPÍTULO I DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira proces- sar e julgar as ações em que: I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver do- miciliado no Brasil; II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, consi- dera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal. Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações: I - de alimentos, quando: a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos; II - decorrentes de relações de consumo, quando o consu- midor tiver domicílio ou residência no Brasil; III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se subme- terem à jurisdição nacional. Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confir- mação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domi- cílio fora do território nacional. Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacio- nais e acordos bilaterais em vigor no Brasil. Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdi- ção brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quandoexigida para produzir efeitos no Brasil. Art. 25. Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando houver cláusu- la de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato interna- cional, arguida pelo réu na contestação. § 1o Não se aplica o disposto no caput às hipóteses de competência internacional exclusiva previstas neste Capítulo. § 2o Aplica-se à hipótese do caput o art. 63, §§ 1o a 4o. CAPÍTULO II DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL Seção I Disposições Gerais Art. 26. A cooperação jurídica internacional será regida por tratado de que o Brasil faz parte e observará: I - o respeito às garantias do devido processo legal no Es- tado requerente; II - a igualdade de tratamento entre nacionais e estrangei- ros, residentes ou não no Brasil, em relação ao acesso à justiça e à tramitação dos processos, assegurando-se assistência judi- ciária aos necessitados; III - a publicidade processual, exceto nas hipóteses de sigilo previstas na legislação brasileira ou na do Estado requerente; IV - a existência de autoridade central para recepção e transmissão dos pedidos de cooperação; V - a espontaneidade na transmissão de informações a au- toridades estrangeiras. § 1o Na ausência de tratado, a cooperação jurídica interna- cional poderá realizar-se com base em reciprocidade, manifes- tada por via diplomática. § 2o Não se exigirá a reciprocidade referida no § 1o para homologação de sentença estrangeira. 11 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL § 3o Na cooperação jurídica internacional não será ad- mitida a prática de atos que contrariem ou que produzam resultados incompatíveis com as normas fundamentais que regem o Estado brasileiro. § 4o O Ministério da Justiça exercerá as funções de autori- dade central na ausência de designação específica. Art. 27. A cooperação jurídica internacional terá por ob- jeto: I - citação, intimação e notificação judicial e extrajudicial; II - colheita de provas e obtenção de informações; III - homologação e cumprimento de decisão; IV - concessão de medida judicial de urgência; V - assistência jurídica internacional; VI - qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira. Seção II Do Auxílio Direto Art. 28. Cabe auxílio direto quando a medida não de- correr diretamente de decisão de autoridade jurisdicional es- trangeira a ser submetida a juízo de delibação no Brasil. Art. 29. A solicitação de auxílio direto será encaminha- da pelo órgão estrangeiro interessado à autoridade central, cabendo ao Estado requerente assegurar a autenticidade e a clareza do pedido. Art. 30. Além dos casos previstos em tratados de que o Brasil faz parte, o auxílio direto terá os seguintes objetos: I - obtenção e prestação de informações sobre o ordena- mento jurídico e sobre processos administrativos ou jurisdi- cionais findos ou em curso; II - colheita de provas, salvo se a medida for adotada em processo, em curso no estrangeiro, de competência exclusiva de autoridade judiciária brasileira; III - qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira. Art. 31. A autoridade central brasileira comunicar-se -á diretamente com suas congêneres e, se necessário, com outros órgãos estrangeiros responsáveis pela tramitação e pela execução de pedidos de cooperação enviados e recebi- dos pelo Estado brasileiro, respeitadas disposições específicas constantes de tratado. Art. 32. No caso de auxílio direto para a prática de atos que, segundo a lei brasileira, não necessitem de prestação jurisdicional, a autoridade central adotará as providências necessárias para seu cumprimento. Art. 33. Recebido o pedido de auxílio direto passivo, a autoridade central o encaminhará à Advocacia-Geral da União, que requererá em juízo a medida solicitada. Parágrafo único. O Ministério Público requererá em juí- zo a medida solicitada quando for autoridade central. Art. 34. Compete ao juízo federal do lugar em que deva ser executada a medida apreciar pedido de auxílio direto pas- sivo que demande prestação de atividade jurisdicional. Seção III Da Carta Rogatória Art. 35. (VETADO). Art. 36. O procedimento da carta rogatória perante o Su- perior Tribunal de Justiça é de jurisdição contenciosa e deve assegurar às partes as garantias do devido processo legal. § 1o A defesa restringir-se-á à discussão quanto ao aten- dimento dos requisitos para que o pronunciamento judicial estrangeiro produza efeitos no Brasil. § 2o Em qualquer hipótese, é vedada a revisão do mérito do pronunciamento judicial estrangeiro pela autoridade judi- ciária brasileira. Seção IV Disposições Comuns às Seções Anteriores Art. 37. O pedido de cooperação jurídica internacional oriundo de autoridade brasileira competente será encami- nhado à autoridade central para posterior envio ao Estado requerido para lhe dar andamento. Art. 38. O pedido de cooperação oriundo de autori- dade brasileira competente e os documentos anexos que o instruem serão encaminhados à autoridade central, acompa- nhados de tradução para a língua oficial do Estado requerido. Art. 39. O pedido passivo de cooperação jurídica inter- nacional será recusado se configurar manifesta ofensa à or- dem pública. Art. 40. A cooperação jurídica internacional para execu- ção de decisão estrangeira dar-se-á por meio de carta roga- tória ou de ação de homologação de sentença estrangeira, de acordo com o art. 960. Art. 41. Considera-se autêntico o documento que ins- truir pedido de cooperação jurídica internacional, inclusive tradução para a língua portuguesa, quando encaminhado ao Estado brasileiro por meio de autoridade central ou por via diplomática, dispensando-se ajuramentação, autenticação ou qualquer procedimento de legalização. Parágrafo único. O disposto no caput não impede, quan- do necessária, a aplicação pelo Estado brasileiro do princípio da reciprocidade de tratamento. TÍTULO III DA COMPETÊNCIA INTERNA CAPÍTULO I DA COMPETÊNCIA Seção I Disposições Gerais Art. 42. As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei. 12 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevan- tes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta. Art. 44. Obedecidos os limites estabelecidos pela Cons- tituição Federal, a competência é determinada pelas normas previstas neste Código ou em legislação especial, pelas normas de organização judiciária e, ainda, no que couber, pelas consti- tuições dos Estados. Art. 45. Tramitando o processo perante outro juízo, os au- tos serão remetidos ao juízo federal competente se nele inter- vier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade profissio- nal, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto as ações: I - de recuperação judicial, falência, insolvência civil e aci- dente de trabalho; II - sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho. § 1o Os autos não serão remetidos se houver pedido cuja apreciação seja de competência do juízo perante o qual foi pro- posta a ação. § 2o Na hipótese do § 1o, o juiz, ao não admitir a cumulação de pedidos em razão da incompetência para apreciar qualquer deles, não examinará o mérito daquele em que exista interesse da União, de suas entidades autárquicas ou de suas empresas públicas. § 3o O juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual sem suscitar conflito se o ente federal cuja presença ensejou a remessa for excluído do processo. Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de do- micílio do réu. § 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquerdeles. § 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de do- micílio do autor. § 3o Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro. § 4o Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domi- cílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor. § 5o A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado. Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imó- veis é competente o foro de situação da coisa. § 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de pro- priedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova. § 2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta. Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no es- trangeiro. Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domi- cílio certo, é competente: I - o foro de situação dos bens imóveis; II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio. Art. 49. A ação em que o ausente for réu será proposta no foro de seu último domicílio, também competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de dis- posições testamentárias. Art. 50. A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domicílio de seu representante ou assistente. Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União. Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação po- derá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrên- cia do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal. Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito Federal. Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a de- manda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado. Art. 53. É competente o foro: I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casa- mento e reconhecimento ou dissolução de união estável: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal; II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos; III - do lugar: a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa ju- rídica; b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa jurídica contraiu; c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou associação sem personalidade jurídica; d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento; e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre di- reito previsto no respectivo estatuto; f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício; 13 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV - do lugar do ato ou fato para a ação: a) de reparação de dano; b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios; V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves. Seção II Da Modificação da Competência Art. 54. A competência relativa poderá modificar-se pela conexão ou pela continência, observado o disposto nesta Seção. Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quan- do lhes for comum o pedido ou a causa de pedir. § 1o Os processos de ações conexas serão reunidos para de- cisão conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado. § 2o Aplica-se o disposto no caput: I - à execução de título extrajudicial e à ação de conheci- mento relativa ao mesmo ato jurídico; II - às execuções fundadas no mesmo título executivo. § 3o Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem co- nexão entre eles. Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais. Art. 57. Quando houver continência e a ação continente tiver sido proposta anteriormente, no processo relativo à ação contida será proferida sentença sem resolução de mérito, caso contrário, as ações serão necessariamente reunidas. Art. 58. A reunião das ações propostas em separado far- se-á no juízo prevento, onde serão decididas simultaneamente. Art. 59. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo. Art. 60. Se o imóvel se achar situado em mais de um Estado, comarca, seção ou subseção judiciária, a competência territorial do juízo prevento estender-se-á sobre a totalidade do imóvel. Art. 61. A ação acessória será proposta no juízo competente para a ação principal. Art. 62. A competência determinada em razão da maté- ria, da pessoa ou da função é inderrogável por convenção das partes. Art. 63. As partes podem modificar a competência em ra- zão do valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações. § 1o A eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado ne- gócio jurídico. § 2o O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes. § 3o Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abu- siva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determi- nará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu. § 4o Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláu- sula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão. Seção III Da Incompetência Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão preliminar de contestação. § 1o A incompetência absoluta pode ser alegada em qual- quer tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício. § 2o Após manifestação da parte contrária, o juiz decidirá imediatamente a alegação de incompetência. § 3o Caso a alegação de incompetência seja acolhida, os autos serão remetidos ao juízo competente. § 4o Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar- se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente. Art. 65. Prorrogar-se-á a competência relativa se o réu não alegar a incompetência em preliminar de contestação. Parágrafo único. A incompetência relativa pode ser alega- da pelo Ministério Público nas causas em que atuar. Art. 66. Há conflito de competência quando: I - 2 (dois) ou mais juízes se declaram competentes; II - 2 (dois) ou mais juízes se consideram incompetentes, atribuindo um ao outro a competência; III - entre 2 (dois) ou mais juízes surge controvérsia acerca da reunião ou separação de processos. Parágrafo único. O juiz que não acolher a competência declinada deverá suscitar o conflito, salvo se a atribuir a outro juízo. CAPÍTULO II DA COOPERAÇÃO NACIONAL Art. 67. Aos órgãos do Poder Judiciário, estadual ou fede- ral, especializado ou comum, em todas as instâncias e graus de jurisdição, inclusive aos tribunais superiores, incumbe o dever de recíproca
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