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Apg 2 – Gastrite Objetivos: 1- Revisar a anatomia, fisiologia e os mecanismos de proteção e agressão do estômago; 2- Compreender a gastrite aguda e crônica (epidemiologia, etiologia, manifestações clínicas, fisiopatologia, complicações e diagnóstico; 3- Entender os aspectos microbiológicos da bactéria H. pylori e sua relação com a neoplasia gástrica; 4- Estudar o tratamento de erradicação da H. pylori. Anatomia do Estômago: O estômago é uma dilatação sacular do tubo digestório, interposta entre o esôfago e o duodeno, situada na cavidade abdominal, abaixo do diafragma.. Suas paredes podem se distender, possibilitando que a sua capacidade varie amplamente de acordo com o volume ingerido e o tempo decorrido da refeição. Orifícios: cádia e piloro. Partes do estômago: fundo, corpo e antro. O estômago ocupa o epigástrio e o hipocôndrio esquerdo. Composição da parede do estômago, quatro camadas de tecido: serosa, muscular, submucosa e mucosa. Camadas da parede gástrica: A mucosa gástrica é composta de epitélio colunar simples e é pontuada por criptas, cada uma das quais serve de abertura para 3 a 5 glândulas tubulares. O epitélio superficial é uniforme, mas as diferenças entre células das glândulas possibilitam dividir a mucosa gástrica em três regiões principais. A região cárdica, que compreende uns poucos centímetros quadrados em torno da cárdia e tem glândulas de células mucosas, que contêm grânulos de muco ácido. A região do fundo e do corpo, que tem glândulas com quatro tipos distintos de células: (1) células mucosas, semelhantes às da região cárdica, localizadas nas criptas; (2) células parietais (oxíticas), que secretam ácido e fator intrínseco; (3) células principais, que secretam pepsinogênios; (4) células endócrinas, que contêm grânulos nos quais se identificam serotonina e outros peptídios. ;A região pilórica tem glândulas com células mucosas semelhantes às da região cárdica e células endócrinas entre as quais se distinguem as células G, produtoras de gastrina.. As células superficiais produzem muco neutro e, provavelmente, bicarbonato. Fisiologia: O estômago armazena os alimentos ingeridos, promove a fragmentação dos componentes sólidos destes alimentos e transfere para o duodeno, sob um fluxo intermitente, a suspensão resultante, cujas maiores partículas têm dimensões inferiores a 0,5 mm. Durante o processo digestivo, o esvaziamento gástrico é regulado precisamente, de maneira que as capacidades de digestão biliopancreática e de absorção intestinal nunca sejam superadas por excesso de substrato. A função de armazenamento dos alimentos ingeridos é cumprida pelo estômago proximal (corpo e fundo). À medida que os alimentos são deglutidos, a musculatura lisa do estômago vai relaxando e sua capacidade vai se adequando ao conteúdo, sem que ocorram variações significativas da pressão interna. O estômago distal, durante a fase digestiva, é percorrido intermitentemente por ondas peristálticas de pressão elevada, que, geradas no nível do corpo, se deslocam caudalmente. Esta atividade motora cíclica do estômago distal, que se repete a cada 20 segundos, promove a fragmentação das partículas e a mistura do conteúdo gástrico. A separação das partículas de dimensões reduzidas, que são esvaziadas, das de maior tamanho, que são retidas no estômago, dá-se por mecanismo não completamente conhecido. O esvaziamento gástrico é uma atividade sujeita a uma regulação complexa. Sua velocidade é proporcional ao aumento do volume e da pressão intragástricos (via receptores mecânicos situados na parede do estômago) e inibida por vários componentes do efluente gástrico (via receptores situados na mucosa do intestino delgado, especialmente do duodeno). Estes fatores inibitórios, na ordem decrescente de potência nas suas concentrações fisiológicas, são: triglicerídios, ácidos graxos, peptonas, aminoácidos, açúcares e outros solutos osmoticamente ativos, e íons hidrogênio. Secreção gástrica O suco gástrico é uma mistura dos produtos das diferentes células secretoras da mucosa gástrica. Secreção de ácido clorídrico - As células parietais do estômago têm a capacidade de secretar íons hidrogênio e cloreto por um processo ativo e dependente de energia, que é eficiente a ponto de criar uma concentração de prótons na cavidade gástrica um milhão de vezes superior à do plasma. A ativação das células parietais que resulta nesse efeito se dá por três mecanismos principais: ■ Estimulação cefalicovagal- A partir destes, sinais eferentes (núcleo dorsal dos nervos vagos) ativam neurônios excitatórios colinérgicos, cujas terminações estimulam as células parietais. ■ Distensão gástrica - a distensão do antro promove a liberação de gastrina.. ■ Efeitos dos alimentos sobre a mucosa gástrica. Proteínas e os produtos de sua digestão interagem com receptores da mucosa antral, determinando a liberação de gastrina pelas células G. Secreção de pepsinogênios.- Pepsinogênios são pro enzimas secretadas pelas células principais das glândulas fúndicas e, em menor escala, pelas células produtoras do muco do estômago. Em meio ácido, transformam-se na enzima proteolítica pepsina. As variações de secreção de pepsinogênio são semelhantes às de secreção do ácido clorídrico e dependem dos mesmos fatores. Secreção de muco- O muco do estômago é um gel viscoso produzido pelas células superficiais da mucosa gástrica e por células produtoras de muco das glândulas do estômago. Está, em grande parte, aderido à mucosa gástrica, protegendo-a de agravos químicos e mecânicos. A camada de muco constitui uma barreira à difusão de pepsina e de íons hidrogênio do lúmen do estômago para a superfície das células da mucosa gástrica. Secreção de bicarbonato - As células superficiais da mucosa do estômago secretam íons bicarbonato em quantidade 10 vezes menor do que a secreção de ácido. Os íons bicarbonato secretados são retidos na camada de muco aderente à mucosa e neutralizam a fração de íons hidrogênio que se difunde através da barreira de muco. Como esta fração de íons hidrogênio é pequena, a quantidade de íons bicarbonato secretada é suficiente para impedir que o pH na adjacência das células da mucosa gástrica seja suficientemente baixo para lesá-las. Secreção de fator intrínseco - As células parietais das glândulas fúndicas secretam uma proteína, o fator intrínseco, que se liga às moléculas de vitamina B12 da dieta, carreando- as até a mucosa do íleo, onde são absorvidas. Gastrites Agudas Embora raramente observadas em biopsias ga ́stricas de rotina, as gastrites agudas sa ̃o classificadas em três grupos: o Gastrite aguda por Helicobacter pylori (H. Pylori); o Gastrite supurativa ou flegmonosa aguda; o Gastrite aguda hemorra ́gica ou gastrite erosiva aguda. Principal causa uso do AAS.. Histologicamente, independentemente da causa (a ́lcool, drogas ou eventos estressantes), o quadro acomete todo o estômago, para, a seguir, predominar no antro e duodeno. As alterações histológicas se localizam apenas em áreas imediatamente adjacentes às lesões e se caracterizam, na zona subepitelial, por edema difuso da la ̂mina própria, congestão capilar e diferentes graus de hemorragia intersticial. Erosões podem ou na ̃o estar presentes, ja ́ que sa ̃o rapidamente reparadas. Como os achados inflamato ́rios sa ̃o tipicamente ausentes ou discretos, muitos autores preferem o termo gastropatia, em vez de gastrite, nestas eventualidades. Gastrite aguda por Helicobacter pylori (H. pylori) Adquirido por via oral, o microrganismo penetra na camada de muco e se multiplica em contato íntimo com as ce ́lulas epiteliais do estômago. O epitélio responde com deplec ̧ão de mucina, esfoliação celular e alterac ̧ões regenerativas sinciciais. As bactérias aí assestadas liberam diferentes agentes quimiotáticosque penetram atrave ́s do epitélio lesado e induzem a migração de polimorfonucleares para a la ̂mina própria e epitélio. Os produtos bacterianos tambe ́m ativam os mastócitos e, atrave ́s de sua degranulac ̧a ̃o, há liberação de outros ativadores inflamato ́rios que aumentam a permeabilidade vascular, a expressa ̃o de moléculas de adesa ̃o de leuco ́citos nas ce ́lulas endoteliais e tambe ́m contribuem para uma maior migração de leuco ́citos. O H. pylori estimula o epitélio gástrico a produzir uma potente citocina, a interleucina-8, cuja produça ̃o é potencializada pelo fator de necrose tumoral e pela interleucina-1 liberados pelos macrófagos em resposta a ̀ lipopolissaca ́ride bacteriana. Nos poucos casos de infecc ̧ão aguda estudados, parece haver igual envolvimento do antro e corpo ga ́stricos. Nesta fase, ocorre pronunciada hipocloridria e ause ̂ncia de secreção de ácido asco ́rbico para o suco ga ́strico. A secreção ácida retorna ao normal apo ́s várias semanas, e a secrec ̧ão de ácido asco ́rbico para o suco ga ́strico persiste reduzida enquanto durar a gastrite cro ̂nica. Esta fase aguda e ́ de curta duraça ̃o. Com exceção de algumas crianças que eliminam espontaneamente a bacte ́ria, a resposta imune e ́ incapaz de eliminar a infecc ̧a ̃o e, após 3 a 4 semanas, ocorre um gradual aumento de ce ́lulas inflamatórias crônicas. Como conseque ̂ncia, a gastrite neutrofílica aguda dá lugar a uma gastrite ativa crônica. Sintomatologia: Embora a primoinfecc ̧a ̃o por H. pylori passe despercebida pela maioria dos pacientes, a ̀s vezes, apo ́s um período de incubaça ̃o variável de 3 a 7 dias, alguns indivi ́duos desenvolvem um quadro cli ́nico caracterizado por dor ou mal estar epiga ́strico, pirose, na ́useas, vômitos, flatulência, sialorreia, halitose, cefaleia e astenia. Tais casos expressam a ocorrência de gastrite aguda a ̀ histologia, conforme comprovado em alguns estudos. Os sintomas tendem a permanecer por 1 a 2 semanas. As anormalidades macroscópicas são extremamente varia ́veis à endoscopia, desde pequeno enantema ate ́ erosões, úlceras ou, mesmo, lesões pseudotumorais. Na maioria dos pacientes, as alterações concentram-se fundamentalmente no antro, podendo, às vezes, comprometer tambe ́m o corpo gástrico. Embora o quadro cli ́nico seja autolimitado, evoluindo sem sintomas, ou com sintomas persistindo por ate ́ 2 semanas, na quase totalidade dos casos a infecc ̧ão, se não tratada, permanece indefinidamente e se acompanha sempre de quadro histolo ́gico de gastrite cro ̂nica. Diagnóstico O diagnóstico laboratorial da infecc ̧a ̃o aguda pode ser feito através de histologia, testes respirato ́rios com carbono 13 ou 14, cultura e teste da urease. A sorologia tambe ́m pode ser usada, embora, em pacientes recentemente infectados, possam ocorrer resultados falso-negativos. Gastrite flegmonosa aguda É uma entidade rara, a ̀s vezes tambe ́m presente em pacientes pediátricos, que se caracteriza por infecça ̃o bacteriana da muscularis mucosa e submucosa do estômago, com infiltração de células plasmáticas, linfócitos e polimorfonucleares. Na maioria dos casos descritos, a inflamação não ultrapassa o ca ́rdia e o piloro, sendo a mucosa gástrica relativamente pouco acometida. O quadro costuma se instalar como complicac ̧ão de doença sistêmica ou septicemia, tendo sido descrita apo ́s empiema, meningite e endocardite pneumoco ́cica, entre outras. Quando causada por agentes formadores de ga ́s, é denominada gastrite enfisematosa. Muitas vezes, podem-se observar alguns fatores predisponentes, como cirurgia gástrica prévia, hipocloridria, câncer gástrico, úlcera gástrica e gastrite. Na maioria dos casos descritos ate ́ hoje, foram isolados germes gram-positivos, especialmente Streptococcus spp., embora Pneumococcus spp., Staphylococcus spp., Proteus vulgaris, Escherichia coli e Clostridium welchii também já tenham sido identificados. O diagno ́stico clínico é muitas vezes difi ́cil. A evoluça ̃o clínica é rápida, com dor epiga ́strica, náuseas e vômitos purulentos, constituindo sintomas comumente observados. Outras vezes, podem-se encontrar sinais de irritac ̧ão peritoneal. A visualizac ̧ão de gás na submucosa gástrica na radiografia simples de abdome sugere a possibilidade de germes formadores de ga ́s, tipo Clostridium welchii. Com frequência, o diagno ́stico é feito através de laparotomia exploradora ou, mesmo, na necropsia. Leucocitose com desvio para a esquerda e ́ quase sempre descrita, sendo a amilase normal. O estudo radiolo ́gico do estômago revela espessamento das pregas ga ́stricas com reduça ̃o da distensibilidade antral. Sendo a mucosa gástrica habitualmente poupada, a biopsia convencional pode na ̃o definir o diagnóstico, sendo necessa ́rio o uso de procedimentos especiais para se obter material da submucosa ga ́strica. Gastrite aguda hemorra ́gica Também denominada por alguns como lesão aguda da mucosa gastroduodenal (LAMGD), pode ser secunda ́ria ao uso de álcool, a ́cido acetilsalicílico, anti-inflamatórios, corticosteroides e em situac ̧o ̃es clínicas como choque, trauma, cirurgias extensas, queimaduras, septicemia, insuficiência respirato ́ria, hepática ou renal, entre outras. As lesões agudas da mucosa gastroduodenal ou u ́lceras de estresse se iniciam nas primeiras horas apo ́s grandes traumas ou doenças sistêmicas graves e acometem as regiões proximais do esto ̂mago. Ocasionalmente, podem também envolver o antro gástrico, duodeno ou eso ̂fago distal. São caracterizadas por mu ́ltiplas lesões hemorrágicas, puntiformes, associadas a alteraço ̃es da superfície epitelial e edema. Como complicac ̧ão clínica, a gastrite aguda pode exteriorizar-se por hemorragia digestiva alta. A sua patogenia não é bem conhecida, sendo os mecanismos mais aceitos aqueles relacionados com alterac ̧o ̃es nos mecanismos defensivos da mucosa gastroduodenal ..Estudos epidemiológicos estimam que 1,5 a 8,5% dos pacientes internados em unidades de terapia intensiva apresentam sangramento gastrintestinal visível, podendo, entretanto, acometer até 15% daqueles que na ̃o recebem tratamento profilático adequado. E ́ hoje aceito que pacientes internados em unidades de terapia intensiva e que apresentem alto risco para o desenvolvimento de leso ̃es agudas da mucosa gastroduodenal devam receber tratamento profila ́tico. Gastrites atróficas cro ̂nicas Não tem lesão visível, diferente da aguda. Gastrite cro ̂nica associada ao Helicobacter pylori (H. pylori) / Gastrite do tipo B -95% das gastrites crônicas; -Essa bactéria coloniza a mucosa ga ́strica humana com mínima competição por parte de outros microrganismos e parece estar particularmente adaptada a esse ambiente. - Raramente eliminada espontaneamente; -Gastrite Histológica de intensidade variável; - Antro (+ comum) -> corpo -> pangastrite (todo órgão) -Indivi ́duos com gastrite predominantemente antral terão secreça ̃o gástrica normal ou elevada grac ̧as à manutença ̃o de mucosa oxíntica íntegra e podera ̃o ter um risco aumentado para u ́lcera duodenal. - Indivíduos com gastrite acometendo de forma predominante o corpo do esto ̂mago tera ̃o secreça ̃o ácida reduzida, em conseque ̂ncia da destruiça ̃o progressiva da mucosa oxíntica. Histologicamente, exibem uma mistura de gastrite cro ̂nica superficial e alterac ̧ões atróficas com tendências a progredir com o passar dos anos (ou de ́cadas), podendo ocorrer tambe ́m o desenvolvimento de metaplasia intestinal. Estima-se que a gastrite cro ̂nica do corpo ga ́strico, associada a atrofia acentuada, eleva de tre ̂s a quatro vezes o risco de carcinoma ga ́strico, do tipo intestinal. Sintomatologia: - Habitualmente assintomática; -o principal significadoclínico da gastrite cro ̂nica associada ao H. pylori reside em sua estreita associac ̧ão etiológica com a úlcera pe ́ptica duodenal e com o carcinoma e linfoma gástrico. H. pylori x Cancer gastrico A sequência infecção pelo H. pylori → gastrite crônica → atrofia glandular → metaplasia intestinal constitui um conjunto de alterações associativas muito frequentemente observado na espécie humana e desencadeado pela infecc ̧ão pelo H. pylori ou tendo como passo inicial essa infecc ̧ão. -A infecção por H. pylori pode trazer consequências como ulceras pépticas e principalmente câncer gástrico (adenocarcinoma), devido a atrofia glandular e metaplasia intestinal; -Metaplasia intestinal no esto ̂mago se refere a ̀ reposição progressiva do epitélio gástrico pelo epitélio tipo intestinal, composto por células caliciformes, ce ́lulas absortivas, ce ́lulas de Paneth e ce ́lulas endócrinas. -A atrofia da mucosa ga ́strica associada à gastrite crônica sinaliza para a possibilidade da existe ̂ncia de metaplasia intestinal ou torna sua ocorre ̂ncia mais provável. Gatrite crônica -> antro+corpo -> atrofia glandular -> câncer gástrico ou metaplasia intestinal Tratamento -Como inúmeros indivíduos portadores de dispepsia funcional albergam o H. pylori e, portanto, sa ̃o também portadores de gastrite crônica, muitos cli ́nicos optam pelo tratamento anti-H. pylori nessa eventualidade. Entretanto, as evide ̂ncias são controversas no tocante ao benefi ́cio da erradicação do microrganismo na resoluc ̧ão dos sintomas. - A erradicaça ̃o do H. pylori promove remissão da gastrite ativa e reduz, enormemente, a incidência e/ou recorre ̂ncia da doença ulcerosa. No homem, a gastrite cro ̂nica ativa reverte ao normal apo ́s a erradicaça ̃o do microrganismo. Entretanto, ha ́ dúvidas sobre uma eventual regressa ̃o da atrofia gástrica e da metaplasia intestinal, lesões consideradas como condic ̧ões pré- neoplásicas. Gastrite Crônica Autoimune/Gastrite tipo A - acomete o corpo e fundo ga ́stricos, raramente atingindo o antro. Anticorpos contra as células parietais -Caracteriza- se por uma atrofia seletiva, parcial ou completa, das glândulas gástricas no corpo e fundo do estômago, ocorrendo uma substituição, parcial ou completa, das células superficiais normais por mucosa tipo intestinal (metaplasia intestinal). A mucosa antral, por quase na ̃o ser acometida nesta entidade, mante ́m sua estrutura glandular normal e apresenta ce ́lulas endócrinas hiperplásticas. -Funcionalmente, a atrofia das glândulas gástricas do corpo se associa com hipocloridria (atrofia parcial) ou, em casos avançados, acloridria, secunda ́ria à redução da massa de células parietais; paralelamente, ha ́ um decréscimo também na secreção de fator intri ́nseco, podendo ocasionar a redução da absorça ̃o de vitamina B12 e o aparecimento de manifestaço ̃es clínicas da anemia perniciosa. A preservaça ̃o funcional da mucosa antral resulta em estimulac ̧ão constante das ce ́lulas G com hipergastrinemia. Sintomatologia A gastrite autoimune e ́ assintomática do ponto de vista gastrintestinal, advindo sintomas hematolo ́gicos e/ou neurológicos na ocorrência de anemia perniciosa. Em decorrência da acloridria, com a consequente elevac ̧ão do pH gástrico, tem sido descrita uma maior suscetibilidade desses pacientes a infecc ̧o ̃es entéricas por bactérias, vírus e parasitos. Diagnóstico O diagnóstico da gastrite crônica autoimune do corpo e ́ eminentemente histopatolo ́gico. À endoscopia, quando se insufla ar no estômago, o pregueado mucoso do corpo se desfaz total ou parcialmente e observa-se uma mucosa de aspecto liso, brilhante e delgado, com os vasos da submucosa facilmente visualizados. Deve-se proceder à coleta simultânea de material para exame histopatológico do corpo e antro ga ́stricos, para se ter certeza da localizac ̧ão do processo inflamato ́rio. Anticorpos antice ́lula parietal e antifator intrínseco, embora presentes em ate ́ 90% dos portadores de anemia perniciosa, com freque ̂ncia estão ausentes em portadores de gastrite atro ́fica apenas, sem alterac ̧o ̃es hematológicas. A gastrina se ́rica acha-se comumente elevada, embora possa estar normal ou reduzida em um pequeno número de casos, quando a atrofia atinge tambe ́m o antro gástrico. GASTRITES QUÍMICAS Terminologia adotada no lugar de designac ̧o ̃es encontradas em outras classificaço ̃es, como gastrites reativas, gastrite de refluxo ou gastrite tipo C. Engloba os achados observados no refluxo biliar, em associac ̧ão com certas drogas ou sem relação causal evidente, pore ́m com aspectos histolo ́gicos comuns, constando de hiperplasia foveolar, edema, vasodilataça ̃o, fibrose ocasional e escassez de componente inflamatório. Gastrite química associada ao refluxo biliar Refluxo enterogástrico é um fenômeno comum apo ́s procedimentos de ressecc ̧ão gástrica, independentemente do tipo de reconstituic ̧ão do trânsito empregada, seja Bilroth I ou II. Também tem sido observado apo ́s vagotomia troncular com piloroplastia e, quando presente, é de mínima monta depois de vagotomia superseletiva. Entre os achados histológicos, a hiperplasia foveolar com alongamento e/ou tortuosidade constitui o achado histolo ́gico mais sugestivo de gastrite reativa associada ao refluxo biliar. Na maioria dos casos sintoma ́ticos, o quadro se desenvolve apo ́s cirurgia gástrica para u ́lcera péptica, com a sintomatologia se iniciando dentro de poucas semanas a va ́rios anos depois do ato cirúrgico. Sintomatologia: O quadro se caracteriza por dor epigástrica, vômitos biliosos, perda de peso e anemia. A dor na ̃o é aliviada por antia ́cidos ou outros antiulcerosos, se agravando com os alimentos e, com frequência, se associando com eructac ̧ões pós-prandiais, distensão abdominal e pirose; menos frequentemente, pode ocorrer anemia secunda ́ria à perda oculta de sangue pelas fezes. Diagnóstico: Se baseia na presenc ̧a de sintomas e na exclusa ̃o de outras afecções como úlcera po ́s-operatória, obstruça ̃o pilórica, síndrome de alça eferente, síndrome do intestino irrita ́vel, afecções biliopancrea ́ticas, dentre outras. O Bilitec 2000, instrumental que inclui eletrodos posicionados no esto ̂mago e/ou no esôfago, é capaz de monitorar por 24 h, atrave ́s de propriedades espectrofotoquímicas, a exposic ̧ão das mucosas destes segmentos a material refluído contendo bilirrubina. Constitui hoje o melhor método diagnóstico para a presença de refluxo alcalino, duodenoga ́strico ou gastresofa ́gico. Finalmente, estudos de esvaziamento do remanescente gástrico, empregando me ́todos isotópicos, podem ser necessários para avaliar distu ́rbios de motilidade, ja ́ que a cirurgia de derivações em Y de Roux pode na ̃o beneficiar, ou mesmo agravar, pacientes com estase aprecia ́vel do coto gástrico. TRATAMENTOS de ERRADICAÇÃO de PRIMEIRA LINHA: 1) IBP dose plena 12/12 horas + AMOXICILINA 1000 mg 12/12 horas + CLARITROMICINA 500 mg 12/12 horas Duração do Tratamento : 14 DIAS 2) IBP dose plena 12/12 horas+ SUBCITRATO de BISMUTO COLOIDAL 240 mg 12/12 horas + TETRACICLINA 500 mg 6/6 horas ou DOXICILINA 100 mg 12/12 horas + METRONIDAZOL 400 mg 8/8 horas Duração do Tratamento:10 a 14 dias ALÉRGICOS A PENICILINA: 1) IBP dose plena 12/12 horas + CLARITROMICINA 500 mg 12/12 horas + LEVOFLOXACINA 500 mg 24/24 horas Duração do Tratamento :14 dias 2) IBP dose plena 12/12 horas + TETRACICLINA 500 mg 6/6 horas ou DOXICICLINA 100 mg 12/12 horas+ METRONIDAZOL 400 mg 8/8 horas + SUBCITRATO de BISMUTO COLOIDAL 240 mg 12/12 horas Duração do Tratamento:14 dias TRATAMENTOS de ERRADICAÇÃO de SEGUNDA e TERCEIRA LINHA: 1) IBP dose plena 12/12 horas + AMOXICILINA 1000mg 12/12 horas + LEVOFLOXACINA 500 mg 24/24 horas Duração do Tratamento: 10 a 14 dias 2) IBP dose plena 12/12 horas +SUBCITRATO de BISMUTO COLOIDAL 240 mg 12/12 horas +TETRACICLINA 500 mg 6/6 horas ou DOXICICLINA 100 mg 12/12 horas + METRONIDAZOL 400 mg 8/8 horas Duração do Tratamento:10 a 14 dias Farmacodinâmica: Claritromicina: bactericida, inibe a síntese proteica da bactéria por meio da ligação ao RNA ribossomal 50S, impedindo a translocação. Fluoroquinolonas: bloqueiam a síntese de ácidos nucleicos, ao inibir a topoisomera II e IV. Impede o relaxamento do DNA superespiralado, necessário para transcrição e replicação normal.. Ex: levofloxacino. Amoxicilina (b-lactamico) – inibe a sínsede de parede celular da bactéria. (macrolídeo) Metranidazol- toxico para o DNA bacteriano. Tetraciclina – inibe a síntese de proteínas (30S) Helicobacter Pylori A Helicobacter têm forma bacilar ou espiral (0,5 a 1,0 μm de largura × 2,0 a 4,0 μm de comprimento), mas, como Campylobacter, pode adquirir a forma cocoide em culturas mais velhas Todos os Helicobacter gástricos são altamente móveis (motilidade em zigue-zague) e produzem urease em grande quantidade. Acredita-se que essas propriedades sejam importantes para a sobrevivência na acidez gástrica e para o movimento rápido através da camada viscosa de muco em direção ao ambiente de pH neutro. A maioria dos Helicobacter é catalase e oxidase-positiva, e não fermenta ou oxida carboidratos, embora possa metabolizar aminoácidos pela via fermentativa. O lipopolissacarídeo (LPS) presente na membrana externa consiste em lipídio A, oligossacarídeo do núcleo e cadeia lateral O. O lipídio A do H. pylori tem baixa atividade de endotoxina quando comparado com outras bactérias Gram-negativas, e a cadeia lateral O é antigenicamente semelhante aos antígenos de grupo sanguíneo de Lewis, o que pode proteger a bactéria do sistema imune. O crescimento de H. pylori e de outras espécies necessita de meio complexo suplementado com sangue, soro, carvão, amido ou gema de ovo; microaerofilia (diminuição de oxigênio e aumento de dióxido de carbono) e uma temperatura entre 30°C e 37°C. Uma vez que esses micro- organismos são relativamente difíceis de serem isolados e identificados por testes bioquímicos tradicionais, a maioria das doenças causadas por H. pylori é confirmada por técnicas não culturais. Referências: Whalen, Karen, et al. Farmacologia Ilustrada. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição). Grupo A, 2016. Jameson, J., L. et al. Medicina interna de Harrison - 2 volumes. Disponível em: Minha Biblioteca, (20th edição). Grupo A, 2019. Tortora, Gerard, J. et al. Microbiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (12ª edição). Grupo A, 2017. Murray, Patrick. Microbiologia Médica. Disponível em: Minha Biblioteca, (8th edição). Grupo GEN, 2017. Dani, Renato, e Maria do Carmo Friche Passos. Gastroenterologia Essencial, 4ª edição. Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2011.
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