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Disciplina: Introdução ao Antigo Testamento Aula 7: Nevî’îm II – Os profetas e a profecia Apresentação O profetismo é muito importante para compreendermos o Antigo Testamento. Ainda que houvesse manifestações proféticas no contexto do Antigo Oriente Próximo, os profetas de Israel fundaram um movimento político-religioso de denúncia da injustiça, dos desvios da religião, e dos desmandos da monarquia e dos povos estrangeiros que se relacionavam com os hebreus. Nesta aula, estudaremos os profetas do norte, das crises assíria e babilônica, do exílio e, por fim, aqueles pós-exílicos. Objetivos Identificar os profetas e o período de sua mensagem; Explicar a mensagem dos profetas do norte, e as crises assíria e babilônica, a partir de sua atuação nessas regiões geográficas; Analisar a mensagem dos profetas do exílio. Profetas e profecias: formas e características Há várias personalidades do período remoto da história de Israel que a Bíblia chama de profetas. Entre elas estão: Samuel (1 Samuel 1-25). Natã (2 Samuel 7; 12; 1 Reis 1). Gade, “o vidente de Davi” (1 Samuel 22, 5; 2 Samuel 24. 11-12). Aiás, de Siló (1 Reis 12). Mica, filho de Jimlá, (1 Reis 22). Elias, especialmente, que atuou entre 875-850 a.C. (1 Reis 17-2 Reis 2). Eliseu, sucessor de Elias, que atuou por volta de 850-790 a.C. (2 Reis 2-13). Após esse período mais primitivo do profetismo israelita, o movimento profético passou por transições importantes. Alguns profetas dos tempos posteriores tiveram seus nomes citados em livros dedicados a eles, que uniram, de algum modo, sua mensagem. Vamos conhecer a época determinada em que cada profeta atuou: Século VIII (entre 780 a 700 a.C.) Nos tempos de Jeroboão II (rei de Israel), atuaram Amós e, depois, Oseias – ambos no reino do norte. Em Judá, atuou Isaías. Século VII (entre 650 e 585 a.C.) No tempo de Josias e de seus filhos, Jerusalém estava em direção à catástrofe. Sofonias, Naum e Habacuque, mas, sobretudo, Jeremias, guiaram o povo durante esses trágicos anos. Século VI (entre 597 e 537 a.C.) Neste período do exílio na Babilônia, a fé dos exilados foi sustentada por um autor desconhecido do Deutero-Isaías. Meados do século V Neste período, atuaram os profetas pós-exílicos Ageu e Zacarias, os quais acompanharam os primeiros esforços da reconstrução do templo. Um terceiro (Trito-Isaías) profetizou sobre a vida da comunidade recém- instalada de Jerusalém. Em seguida, atuaram Malaquias, Obadias, Joel e Deutero-Zacarias. Finalmente, a profecia bíblica desapareceu nos moldes desse movimento de quase cinco séculos. Os nomes mais comuns dados para mediadores proféticos no Antigo Testamento são: 1 Vidente (em hebraico, ro’eh) Característico de tradições anteriores ao exílio, este vocábulo é usado 11 vezes. 2 Visionário (em hebraico, hozeh) Este vocábulo aparece em 16 ocasiões: 10 vezes em Crônicas. 3 Homem de Deus (îsh elohîm) Expressão muito frequente na Bíblia Hebraica: surge 76 vezes – 55 delas apenas no livro de 1 e 2 Reis. Aplica-se, geralmente, a personagens conhecidos, tais como: Eliseu (29 vezes); Elias (7 vezes); Moisés (6 vezes); Samuel (4 vezes); Davi (3 vezes); Semeías (2 vezes); Ben-Joanã (1 vez). 4 Profeta (em hebraico, nabî’) Termo muito frequente na literatura bíblica. Este título clássico aparece 315 vezes. Profetas do norte Amós O livro de Amós está enraizado na obra deste profeta, comumente datada de meados do século VIII a.C. (talvez cerca de 752 a.C.), no meio do próspero reino do norte, de Jeroboão II, combinado com o reino do sul, igualmente afortunado, de Uzias (Amós 1.1).1 Na perspectiva profética, ficou claro que essa imensa prosperidade era desfrutada em ambos os reinos e se baseava na ação dos ricos contra os pobres. O profeta afirmava a ilegitimidade de tal prática social e antecipava o julgamento vindouro de Yahweh, que ocorreu na forma da devastação assíria. Manuscrito iluminado da Bíblia de Souvigny (século XII d.C.). Abertura do livro do profeta Amós. (Fonte: https://goo.gl/gr2DF1 <https://www.gettyimages.com/detail/news- photo/the-letter-v-depicting-the-prophet- amos-miniature-from-the-news- photo/164080990? esource=SEO_GIS_CDN_Redirect#/the-letter- v-depicting-the-prophet-amos-miniature- from-the-bible-of-picture-id164080990> ) Amós denunciava aqueles que usufruíam de uma vida de luxo despreocupado, daqueles que eram ricos, mas permaneciam, ao mesmo tempo, inconscientes da violência e da opressão em que se baseavam. Como havia perdido a direção certa para a sociedade (Amós 3.9-10), a elite acumulava violência e opressão (Amós 3.10-11). O núcleo da mensagem de Amós atestava, então, que, devido a essas faltas, Deus destruiria a sociedade. A finalidade desse desastre e sua inevitável concretização eram temas persistentes levantados pelo profeta. Assim, Amós – aparentemente de Judá – atuou no reino do norte (Amós 7.12) e articulou uma poderosa crítica social, enraizada em um vigoroso sentido javista. O julgamento que, certamente, viria era expresso como o Dia do Senhor . Oseias O livro de Oseias foi o primeiro na ordem canônica dos Profetas Menores (ou Doze Profetas). Ele anunciou a acusação e a sentença devido ao crime de Israel: a quebra da aliança . Esse livro está enraizado na vida e nas palavras do profeta do norte, que viveu no século VIII a.C. Embora sua data não seja exata, a obra está claramente relacionada à ascensão do poder assírio e à ameaça permanente deste contra o reino do norte. Wilson (2006, p. 82) situou Oseias entre os profetas desse reino que trataram das tradições da aliança e que apelaram à volta para Moisés: um prenúncio da tradição deuteronomista. O tema do pacto quebrado fez com que o profeta falasse, particularmente, oráculos, que eram processos proféticos . É convencional dividir o livro de Oseias em duas partes desiguais: a primeira seção abrange os capítulos 1 a 3, e a segunda , os capítulos 4 a 14. Profetas da crise babilônica Jeremias I O livro de Jeremias é uma meditação multifacetada da fé em Deus em meio à crise por causa da destruição de Jerusalém, em 587 a.C., e às crises de deportação e perda subsequentes. 2 3 4 5 6 É cheio de sentimentos profundos, principalmente de luto, mas também manifesta a esperança para o futuro. Além disso, é extremamente complicado e repleto de multicamadas, reunidas por meio de um processo redacional complexo. Profeta Jeremias. Pintura de Michelangelo – Teto da Capela Sistina (Fonte: https://goo.gl/cJiXuY <> ) As bases históricas do livro estão fundamentadas na proclamação de Jeremias em Jerusalém, no final do século VII a.C. (talvez até 626 a.C. ou até 609 a.C.). Não há dúvida de que contém, especialmente nos capítulos 1-20, as declarações poéticas do profeta histórico. É evidente que essas expressões foram moldadas, embora de maneira bastante imaginativa, como podemos ver nos discursos de julgamento usados para acusar Jerusalém de sua desobediência à Torah de Yahweh, o que culminou na condenação da cidade a castigos. Vejamos como o livro é dividido: 1 Primeiro material Em particular, a vocação de Jeremias (1.4-10) parece ser um material deuteronomista. Se assim é, então, o objetivo é afirmar os temas de 1.10 – a função do profeta é: “Arrancar e derrubar” (exílio); “Construir e plantar” (pós- exílio). 2 Segundo material Texto de Jeremias 7.1-8.3, comumente denominado Sermão do Templo. Esta seção coloca o profeta em um lugar público, de onde convocou Judá para mudar seus caminhos de acordo com os requisitos da Torah (versos 3-7). 3 Terceiro material O destaque na primeira parte de Jeremias é a narrativa do capítulo 11. O profeta é apresentado como um vigoroso defensor público da aliança da Torah da tradição deuteronômica (v. 2). A longa seção poética da primeira parte de Jeremias mostra duas modalidades de textos. São elas: Entre os capítulos 4 a 6 Há uma série de poemas que preveem o assalto de Jerusalém por um oculto invasor e estrangeiro (sem nome no texto). Capítulo 7 Um oráculo sobre o templo anunciaque o lugar de culto não preservará Judá do juízo de Yahweh. Ao não nomear o invasor, a articulação poética da ameaça sustenta um tom ainda mais assustador (Jeremias I 5.15-17; 6.22- 23). Habacuque Habacuque marcou o início do período babilônico na história de Jerusalém. Este livro mobiliza uma rica variedade de tradições litúrgicas em uma declaração de fé coerente, que apresenta um apelo à necessidade de resolver o problema da ameaça babilônica, em última instância, mediante o entoar de um hino de triunfo: a declaração de confiança em Yahweh diante do quadro hostil. Esse hino encerra o livro. Pesher (Comentário) de Habacuque (1QpHab). Manuscritos do Mar Morto (Fonte: https://goo.gl/KV5QaE <https://goo.gl/KV5QaE> ) O início de Habacuque é marcado pelo intercâmbio dialógico entre o lamento e a resposta divina – uma característica da interação litúrgica, um traço familiar do livro dos Salmos. Há duas queixas em Habacuque. São elas: 1ª queixa (Habacuque 1.2-4) Esta queixa inicial levanta a questão aguda da teodiceia : Por que os ímpios prosperam à custa dos justos? Na resposta divina de 1.5-11, a crucialidade da Babilônia (os caldeus) sugere que os assírios é que devem receber o juízo divino. O retorno de tais versículos apresenta um exército estrangeiro invasor, cuja retórica não é 7 diferente da poesia de guerra de Jeremias 4-6. 2ª queixa (Habacuque 1.2-4) Esta segunda queixa descreve para Yahweh em detalhes a arrogância abusiva da força dos invasores. Em Habacuque 2.1-4, a segunda resposta divina afirma a importância decisiva do profeta, que levanta as questões e recebe retorno do próprio Yahweh (2.1). Essa resposta indica que os fiéis devem aguardar um futuro, pois nele, a fidelidade será cumprida por Yahweh. No devido tempo, em um momento certo, “os arrogantes não permanecerão” (2.5), isto é, o arrogante e o perverso (assírio ou babilônico) serão derrotados. Em seguida, são emitidas advertências contra os comportamentos autossuficientes: Às aquisições de bens (Habacuque 2.6-7). Aos bens mal-adquiridos (Habacuque 2.9-10). À exploração definida como “derramamento de sangue” (Habacuque 2.12). À desestabilização dos vizinhos pela bebida forte (Habacuque 2.15). Ao apelo aos ídolos mortos (Habacuque 2.19). Cada um dos oráculos de Habacuque é uma acusação profética contra os que atuam junto à comunidade da Torah. O livro termina no capítulo 3 com um hino prolongado que mostra tormento diante dos problemas. Contudo, é concluído com total confiança no triunfo final de Yahweh. No versículo 16, o autor reconhece as dificuldades atuais, mas, depois, declara sua prontidão para “esperar em silêncio”. Obadias O breve livro profético de Obadias apresenta a antipatia pos-exílica de Judá contra seu vizinho Edom. No século V a.C., quando Judá era uma fraca colônia política da Pérsia, os edomitas ao leste e ao sul colidiram com o território judeu de maneira hostil e agressiva. Tal ação evocou o ressentimento e a hostilidade que ficam evidentes no livro de Obadias. O profeta articula o julgamento de Yahweh contra uma nação e, então, de forma proporcional, antecipa o bem em favor de Israel, quando o inimigo é derrotado por Yahweh. Nos versículos 1-14, o oráculo contra Edom identifica o orgulho e a arrogância dos inimigos que se manifestaram em políticas agressivas e em saques (v. 5- 6). Em resposta, o oráculo profético antecipa o Dia do Senhor: um dia de julgamento contra Edom, que será tratado com dureza (v. 8). O oráculo reitera o Dia do Senhor no versículo 15, quando a preocupação com Edom é ampliada até se tornar um pronunciamento genérico contra todas as nações inimigas de Yahweh e de seu povo. Em seguida, o poema vacila entre uma referência contínua a Edom e uma genérica a todas as nações. Edom, portanto, é uma entidade que representa o poder impío do mundo que ameaça o povo de Deus – um exemplo do que está por vir para o mundo pagão. Página da Bíblia King James (1911). Final do livro de Amós e início do livro de Obadias (Fonte: https://goo.gl/9t6Sdr <https://goo.gl/9t6Sdr> ) Profetas do exílio Jeremias II O livro de Jeremias é um texto profético que evolui, após 20.1-6, à temática da invasão babilônica. Relata, de maneira concreta, o propósito severo de Yahweh no mundo real das nações, estabelecendo uma conexão entre esse objetivo e o poder mundano por meio de uma expressão poética. Entre os capítulos 11 e 20, há uma série de textos (11.18-12.6; 15.10-21; 17.14-18; 18.18-23; 20.7-13,14-18) em que o poeta trata as orações a Yahweh como uma troca íntima e combativa. Tais poemas são modelados por lamentos convencionais, conhecidos no livro dos Salmos, mas parecem especialmente comoventes na circunstância do profeta. Além disso, podem ser entendidos como articulações pessoais de fé, resultados da descoberta do profeta de que sua tarefa era maior do que aquilo que ele era capaz de suportar. Apesar de serem tão pessoais e estarem em 1ª pessoa, essas lamentações são utilizadas para expressar o sofrimento descomunal de Judá diante da ameaça histórica. De qualquer forma, tais poemas são pronunciações profundas e cheias de tristeza. Comentário Essa coleção de poesias estabeleceu a identidade de Jeremias como aquele que lamenta – uma identificação que levou tardiamente à tradição de que ele é o autor do livro das Lamentações. Os poemas nos capítulos 11-20 são popularmente chamados de Lamentações de Jeremias. Isaías e Deutero-Isaías No consenso crítico, há muito, julgou-se que a literatura relativa a Isaías do século VIII a.C. (chamado de Primeiro Isaías) é limitada a Isaías 1-39, porque, depois do capítulo 39, existe uma imensa ruptura literária, histórica e teológica. Em suma, esses capítulos – enraizados no profeta – estão preocupados com as crises da Jerusalém pré-exílica no período de 742-701 a.C. Ainda assim, o material de Isaías 1-39 é bem mais complexo do que essa conexão histórica, pois tais capítulos contêm muitos outros assuntos que não estão relacionados ao século VIII a.C. O primeiro livro de Isaías contém seis unidades textuais bastante distintas, das quais apenas três estão diretamente conectadas ao “Primeiro Isaías”: capítulos 1-12; 28-31; e 36-39. Os materiais mais importantes do profeta do século VIII a.C. são encontrados nos capítulos 1-12, que antecipam duramente o julgamento de Yahweh sobre Jerusalém devido à desobediência da Torah (Isaías 1.2-6; 2.6-22; 3.1-4.1; 5.1-7, 8-30). Parte do rolo de Isaías pertencente aos Manuscritos do Mar Morto (1QIsab). Isaías 57.17 a 59.9 (Fonte: https://goo.gl/o7fcxB <https://goo.gl/o7fcxB> ) O “Segundo Isaías” – também denominado “Deutero-Isaías” – é a porção central do livro de Isaías, situada nos capítulos 40 a 55. Ele está preocupado com a queda de Babilônia (Isaías 46-47) e a ascensão de Ciro, o persa (Isaías 44.28; 45.1), e difere na visão teológica da primeira parte de Isaías. Profeta Isaías. Pintura de Rafael (Fonte: https://goo.gl/fKUGdF <https://goo.gl/fKUGdF> ) A poesia de Isaías 40 a 55 foi concebida para dar uma articulação lírica, passível de se crer, à determinação de Yahweh de promover a restauração de Israel e o bem-estar de Jerusalém. O esforço cumulativo dessa poesia estabelece Yahweh como poderoso e compassivo em relação a Israel, expondo os outros deuses como impotentes e irrelevantes. 8 A boa notícia é a reafirmação do governo de Yahweh, que tira Israel do desamparo e do desespero. Nessa poesia, Israel é nomeado e considerado servo de Yahweh: aquele que está em aliança com Deus. Quatro poemas denominados Canções do servo usam esse termo para designar o povo (Isaías 42.1-9; 49.1-6; 50.4-9; 52.13-53.12), mas não devem ser separados do resto da poesia, e sim tratados como parte de seu contexto. Aqui, o servo não é outro senão Israel. Profetas pós-exílicos Ageu Profeta Ageu. Xilogravura pertencente às Crônicas de Nuremberg (1492) (Fonte: https://goo.gl/nFJG9P <https://goo.gl/nFJG9P> ) Com o livro de Ageu , a cronologia dos Doze Profetas entra no Período Persa. APérsia (Irã moderno) derrubou o poder babilônico em 540 a.C. e começou a expansão imperial para o oeste. Na época do profeta Ageu, Judá era um pequeno estado-cliente dos persas. Ageu e Zacarias podem ser datados no início do Período Persa (520-516 a.C.), e Malaquias, logo depois. O livro de Ageu tem quatro unidades: cada uma pode ser datada no tempo de Dario . O material, criado entre 520 e 516 a.C., revela o primeiro esforço sustentado de restauração de Jerusalém após o desastre de 587 a.C. 9 10 11 Ageu está situado em uma matriz sacerdotal, de modo que todas as ações indicadas nos oráculos são dessa natureza. Vejamos o que afirmam seus três oráculos: 1º oráculo Bastante extenso, diz respeito à reconstrução do templo (Ageu 1.1-15). 2º oráculo Ainda refere-se à reconstrução do templo e, novamente, menciona os dois líderes e a comunidade remanescente (Ageu 2.1-9). 3º oráculo Reflete mais sobre o significado do templo (Ageu 2.10-19). Juntos, eles demonstram que o templo é uma condição sine qua non para o bem-estar, a prosperidade e a bênção dos moradores de Jerusalém. Zacarias O livro de Zacarias é comumente dividido em duas partes bastante distintas. A primeira parte (entre os capítulos 1 e 8) está voltada para o contexto e as preocupações do livro de Ageu: o retorno dos exilados a Jerusalém e a reconstrução do templo da cidade. Zacarias 1.1-6 Reflete as cadências do Deuteronômio e parece claramente relacionado a Jeremias 18.1-11, com ênfase no arrependimento. Zacarias 7.1-8.23 Contempla uma série de afirmações oraculares que oferecem temas tradicionais e apropriados para um contexto pós-exílico. Zacarias 7.8-14 Apresenta uma sequência profética que convoca à obediência e ecoa o Deuteronômio (versos 9-10). O relatório sobre a desobediência a esses imperativos (versos 11-12a) e o consequente julgamento divino que justifica a dispersão de Israel no exílio (versos 12b-14) encerram a sequência. Saiba mais O texto desses capítulos está vinculado ao reinado de Dario (520-516 a.C.). Para saber mais sobre o assunto, leia Zacarias 1.1; 7.1. A segunda parte do livro de Zacarias – chamada, às vezes, de “Segundo Zacarias” – diz respeito aos materiais dos capítulos 9 a 14, que, geralmente, são divididos em duas subunidades. Vejamos: 1ª subunidade (Zacarias 9 a 11) Estes capítulos começam com temas proféticos bastante comuns, incluindo oráculos contra as nações (Zacarias 9.1-8), justapostos para prometer a restauração de Judá (Zacarias 9.9-10.12). 2ª subunidade (Zacarias 12 a 14) Estes capítulos formam uma unidade com seu próprio título (“Um Oráculo”). O texto é dominado pela repetição da fórmula “naquele dia” (12.3, 4, 6, 8, 9, 11; 13.1, 2; 14.6, 8, 13), assegurando o foco sobre um futuro a ser promulgado e imposto unicamente por Yahweh. Trito-Isaías A terceira seção do livro de Isaías compreende os capítulos 56-66, que, por razões óbvias, é chamada pelos estudiosos de “Terceiro Isaías” ou “Trito- Isaías”. Esse material reflete uma comunidade ocupada com assuntos muito diferentes daqueles presentes nos capítulos 40-55. O contexto aparente de tal literatura é a vida após o retorno e a restauração previstos no Deutero-Isaías: Um contexto em que a comunidade teve de resolver questões internas da vida social e religiosa. Comentário É comum localizar essa obra em algum lugar entre a construção do Segundo Templo (520-516 a.C.), na qual observamos Ageu e Zacarias, e a restauração de Esdras e Neemias após 450 a.C. A maioria dos especialistas prefere uma data depois de 520 a.C. Profeta Isaías. Pintura de Giovanni di Piamonte (1456 e 1466). (Fonte: https://goo.gl/p75v4M <https://goo.gl/p75v4M> ) O Trito-Isaías demonstra uma preocupação com a vida comunitária. No capítulo 56, por exemplo, há uma disputa sobre a inclusão e a exclusão na comunidade. Já no capítulo 58, existe um debate sobre o que constitui a prática adequada do jejum religioso. A comunidade refletida no Trito-Isaías teve de lidar com as frustrações e os desapontamentos que tão fortemente contrastavam com as anteriores expectativas líricas presentes no Deutero-Isaías. Ainda assim, os capítulos 60-62 de Isaías expressam um poder lírico – recurso utilizado para destacar o bem-estar futuro de Israel. A promessa lírica de Isaías 65.17-25 exprime a expectativa mais radical da “nova era”, quando o governo de Yahweh será totalmente estabelecido. Esta é a base de Apocalipse 21. O ponto culminante do livro, com a “nova Jerusalém”, encerra-o (Isaías 65.17-25). Saiba mais Para saber mais sobre o assunto, leia Isaías 66.10-13. Joel Segundo livro dos Doze Profetas, Joel é profundamente enigmático. Não se sabe nada desse profeta ou do contexto histórico do livro. Embora cite textos mais antigos e seja convencionalmente considerado tão tardio quanto o Período Persa, qualquer julgamento histórico-crítico a respeito do material não passa de especulação. Profeta Joel. Placa síria ou palestina (século VII d.C.) - Museu do Louvre. (Fonte: https://goo.gl/RxBnYz <https://goo.gl/RxBnYz> ) O livro divide-se em duas partes: Capítulos 1-2 (poéticos) A primeira parte trata de uma profunda crise histórica ou natural, representada por uma praga de gafanhotos, que põe em perigo a comunidade agrícola. Essa praga – que pode ter sido real – é o terreno a partir do qual o poeta constrói uma hipérbole: há uma grande ameaça militar sobre a comunidade. O poema de Joel justapõe uma reflexão sobre uma suposta crise (Joel 1.2- 2.27) à antecipação visionária que ultrapassa o contexto histórico. Ele trata da bondade de Yahweh em relação a Israel (Joel 2.28-3.21). Capítulos 2 e 3 (apocalípticos) A segunda parte do livro retrata Yahweh como um guerreiro essencial para o resgate de Israel das nações. Malaquias O livro de Malaquias conclui a coleção dos Doze Profetas, mas fornece poucas pistas sobre seu autor, público ou contexto. Ele é comumente relacionado a Ageu e Zacarias, e com eles, forma uma tríade de livros proféticos do Período Persa. Essa conexão é reforçada pela frase inicial de Malaquias 1.1 – sua profecia é um “oráculo” –, o que sugere um paralelo com Zacarias 9.1 e 12.1. A estrutura principal do livro de Malaquias apresenta uma série de análises. Cada uma faz uma pergunta, cita os que não conseguem respondê-la e move- se para um oráculo de resposta divina. Os assuntos dessas disputas variam um pouco, mas, em sua maioria, dizem respeito à falta de zelo com as exigências cultuais. A atenção dirige-se à responsabilidade que os levitas devem ter em relação à Torah (Malaquias 2.5- 7) e à correspondente fé de Judá (Malaquias 2.14). O capítulo 3 trata da esperança escatológica em relação à chegada da Yahweh no “Dia” (do julgamento) – tema continuado no capítulo 4. A conclusão do livro em 4.1-3, coerente com 3.16-18, faz uma distinção importante entre os “malfeitores”, que serão destruídos, e os “justos”. Jonas 18 13 O livro de Jonas é único entre os Doze Profestas, pois é escrito em forma de narrartiva. O personagem principal (Jonas) parece ser o mesmo citado em 2 Reis 14.25. Ainda assim, o livro pode ser considerado profético, tanto porque esse personagem enviado por Yahweh é um profeta, quanto porque o próprio material parece ter uma mensagem profética, dada não pelo personagem Jonas, mas pelo narrador. A questão inicial da interpretação do livro diz respeito ao gênero da narrativa. Jonas e a Baleia. Pintura de Pieter Lastman (1621). (Fonte: https://goo.gl/w9Q1Ri <https://goo.gl/w9Q1Ri> ) A erudição crítica já renunciou a qualquer ideia de que a história de Jonas seja histórica. Ela é definida como uma criação artística e imaginativa, projetada para transmitir uma mensagem entregue de forma artística, evitando, assim, que seja excessivamente didática. A narrativa de Jonas é oferecida como uma parábola, uma fábula ou uma novela didática, embora nenhum desses rótulos seja muita preciso. No livro, Jonas está no mesmo plano dos pagãos: ele recebe a misericórdia divina do mesmo jeito que os ninivitas.Mas sua recusa em se arrepender e mudar de ideia sobre a destruição de Nínive motiva a pergunta de Yahweh à Jonas. [...] Será razoável esse teu ressentimento? Jonas 4.4 Yahweh espera que Jonas confesse o erro em sua predileção por limitar a misericórdia e a salvação divina às pessoas como ele (judeus). Entretanto, Jonas não compreende o propósito da ação de Yahweh. Atividade Leia um trecho do livro História do futuro: dos profetas à prospectiva <galeria/aula7/anexo/a07_doc1.pdf> . Em seguida, responda: Por que um profeta não pode ser considerado adivinho? Notas Uzias Em 2 Reis 14.23-29 e 15.1-7, Uzias é citado por seu outro nome (Azarias). Dia do Senhor Dia em que o domínio de Yahweh seria completa e duramente decretado (Amós 5.18- 20). Quebra da aliança Tema desenvolvido nos demais livros da coleção dos Doze Profetas. Processos proféticos Acusações contra Israel que anunciavam o juízo divino contra o povo (WESTERMANN, 1967, p. 57). Primeira seção A primeira parte trata do divórcio e do novo casamento, isto é, da infidelidade e da fidelidade, da crise provocada pela aliança quebrada e da renovação da aliança. O capítulo 1 é um relatório sobre a experiência pessoal do profeta, e o capítulo 3, um testemunho em primeira pessoa. O texto assegura, claramente, a articulação teológica e ousada de Oseias, profundamente baseada em uma experiência pessoal de relacionamento quebrado e restaurado que o profeta relatou para revelar o caráter e a intencionalidade divina. Segunda seção A segunda seção maior é preenchida com processos proféticos. Teodiceia 1 2 3 4 5 6 7 Conjunto de argumentos que, em face da presença do mal no mundo, procuram defender e justificar a crença na onipotência e suprema bondade do Deus criador, contra aqueles que, em vista de tal dificuldade, duvidam de sua existência ou perfeição. Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Poesia de Isaías Em Isaías 40.9 e 52.7, a poesia usa o termo basar (= boas novas), que a Septuaginta traduziu por um vocábulo grego, relacionado à palavra-chave do Novo Testamento: Evangelho. Ageu O mesmo que meu festival. Este nome representa uma celebração cultual. Pérsia Poder recém-emergente ao leste dos antigos poderes semíticos da Assíria e da Babilônia. Dario Terceiro líder persa, sucessor de Ciro e Cambises. Malaquias No Período Persa, Malaquias é convencionalmente datado um pouco mais tarde do que Ageu e Zacarias, mais perto do movimento de reforma de Esdras, quando o zelo inicial de restauração e reconstrução refletido nos livros citados (Ageu e Zacarias) cresceu. Escatológica Relativa à escatologia: doutrina que trata do destino final do homem e do mundo, e que pode se apresentar em discurso profético ou em contexto apocalíptico. Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. 8 9 10 11 12 13 Referências ALTER, R.; KERMODE, F. Guia literário da Bíblia. São Paulo: UNESP, 1997. HILL, A. E.; WALTON, J. H. Panorama do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Acadêmica, 2006. SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2013. SICRE DÍAZ, J. L. Profetismo em Israel. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 1996. Próximos Passos Literatura pós-exílica; Reorganização pós-exílica: Esdras e Neemias; Salmos e culto no segundo templo; Sabedoria de Israel: Provérbios, Jó e Eclesiastes; Quatro livros dos megillot: Rute, Lamentações, Cântico dos Cânticos e Ester. Explore mais Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.
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