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Aula 2 Introdução geral do Antigo Testamento

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Disciplina: Introdução ao Antigo Testamento
Aula 2: Introdução geral do Antigo Testamento
Apresentação
Na aula anterior, apresentamos a Bíblia Hebraica: seu nome, sua divisão e
estruturação. Agora, nós nos aprofundaremos no Antigo Testamento.
A chamada Introdução Geral do Antigo Testamento é o estudo da formação dos
textos, da consideração progressiva de sua sacralidade e autoridade religiosa
(canonicidade), e da transmissão do Antigo Testamento.
Para esse estudo, faremos a análise de como a Bíblia Hebraica foi redigida,
entenderemos como tais textos foram canonizados, e como os manuscritos foram
transmitidos em papiros e pergaminhos, os quais são a origem do Antigo Testamento,
traduzidos nas várias línguas para a leitura e a devoção de cristãos, judeus e
muçulmanos.
Objetivos
Explicar o processo de formação dos livros do Antigo Testamento
(Redaktiongeschichte);
Definir o conceito de cânon – desde a formação dos livros até seu agrupamento
e sua sacralização;
Identificar os principais manuscritos do Antigo Testamento, as edições críticas da
Bíblia Hebraica e as principais traduções em língua portuguesa.
Redação
O processo de composição do Antigo Testamento e de definição do cânone foi
longo e gradual. Em nenhum momento, algum conselho ou alguma autoridade
religiosa decretou os livros que os hebreus deveriam aceitar ou rejeitar.
A Bíblia Hebraica surgiu, cresceu e foi organizada lentamente: seus conteúdos
foram redigidos e se expandiram de forma intermitente, em um processo
complexo de redação e incorporação de novos documentos.
Durante muitas gerações, escritores registraram e interpretaram as
experiências políticas e espirituais de sua nação, mas sem a pretensão de que
tais registros fossem se transformar em sagrados.
 Livro antigo com uma pena de pássaro.
O exílio babilônico (564-539 a.C.) é o episódio que explica muito a razão por
que os escritos legais e proféticos de Israel foram se tornando cada vez mais
importantes.
A destruição do templo e da cidade de Jerusalém, o fim da monarquia israelita
e o desterro destituíram os judeus de elementos fundamentais para a
constituição de sua identidade étnica e religiosa.
Logo, a identidade coletiva do povo de Israel passou a ser mantida e
divulgada por sua memória traditiva, posta cada vez mais na forma escrita.
Esses textos foram:
1
Citados, debatidos e lidos publicamente em festivais nacionais.
2
Ensinados com o objetivo de formar os mais jovens na fé judaica.
3
Recitados para explicar a própria razão do exílio.
Isso tornou tais escritos, tanto por uso quanto por hábito, livros
sagrados para Israel.
 
É provável que, no século IV a.C. – época em que os administradores persas
encorajavam ativamente a publicação das leis religiosas da Judeia –, as
tradições legais de Moisés tenham sido reformuladas, editadas e publicadas
nos cinco livros da Torah, e, em seguida, proclamadas como vinculativas para
todos os judeus.
Essa coleção (Pentateuco) foi a primeira parte da Bíblia Hebraica a alcançar
o status autoritativo.
No tablete de argila, está o mais antigo texto conhecido a documentar o exílio
de Judá na Babilônia (Bible Lands Museum, Jerusalém)
As linhas 11 a 18 afirmam:
“Testemunhas: Tub-shalam, filho de Ahiqar; Azar-Yama, filho de Yahu-Kullu;
Ah-lumur, filho de Balassu, e o escriba, Nabu Na’id, filho de Nabu-zar-iqisha.
[Escrito em] Al-Yahudaia (Cidade dos Judeus), no dia 20 de Nizã, ano 33 de
Nabucodonosor, rei da Babilônia”.
 Tablete de argila de 572 a.C. (Fonte:
https://goo.gl/oD6Ron
<https://goo.gl/oD6Ron> )
De acordo com certos indícios, na esteira da formação, organização e redação
da Torah, a segunda divisão principal da Tanak – os Profetas (Nevî’îm) –
pode ter sido aceita por volta de 200 a.C. Isso deve ter acontecido, ao menos,
com alguns grupos influentes dentro da comunidade judaica.
A referência mais antiga a todas as três partes da Tanak como livro imbuído
de autoridade ocorre no prefácio do Sirácida (Eclesiástico):
Em grego

1 πλὴν τοῦ ἐπιδιδόντος τὴν ψυχὴν αὐτοῦ καὶ
διανοουμένου ἐν νόμῳ ὑψίστου σοφίαν πάντων ἀρχαίων
ἐκζητήσει καὶ ἐν προφητείαις ἀσχοληθήσεται. 
2 διήγησιν ἀνδρῶν ὀνομαστῶν συντηρήσει καὶ ἐν
στροφαῖς παραβολῶν συνεισελεύσεται. 
3 ἀπόκρυφα παροιμιῶν ἐκζητήσει καὶ ἐν αἰνίγμασι
παραβολῶν ἀναστραφήσεται.
Sirácida 39.1-3
Em português

1 Mas de quem dá a sua vida e reflete na LEI do
Altíssimo, investigará a sabedoria de todos os antigos e
se dedicará nas PROFECIAS. 
2 preservará os ESCRITOS dos homens célebres e
penetrará na sutileza das parábolas. 
3 procurará o segredo dos provérbios e ocupa-se do
sentido oculto dos provérbios e viverá o enigma das
parábolas.
Sirácida 39.1-3
Embora alguns dos Escritos (como os Salmos) tenham sido usados no culto
de Judá por gerações, essa parte da Escritura pode ter permanecido aberta
até o primeiro século. Afinal, alguns grupos judeus, como aqueles que viviam
no Egito, aceitavam livros que, em última instância, não estavam incluídos na
Tanak.
A atividade literária de Israel ocorre não só no âmbito da religião mas
também no contexto mais amplo das práticas do Antigo Oriente Próximo. É
fato que a elite dos escribas de Israel, em alguma extensão, transmitiram,
revisaram e expandiram os textos bíblicos.
O Antigo Testamento é, em grande parte, resultado da atuação dos escribas
profissionais de Israel. Em vez de meros copistas de materiais mais antigos,
os escribas israelitas preservaram as tradições e as leis ancestrais de Israel
por escrito. O processo de produção desse material escrito envolveu revisões,
edições e reedições.

Saiba mais
Tradicionalmente, Esdras – o escriba sacerdote – publicou a edição
autorizada da Torah durante o período de dominação persa. Basta
analisarmos os livros de Esdras e Neemias, que correspondem à memória
da atuação de Esdras.
É bem provável, ainda, que escribas tenham adicionado, posteriormente,
coleções de oráculos proféticos e outros livros sagrados – como Salmos,
Jó e Eclesiastes.
Ao produzirem e reproduzirem cópias escritas da Torah, dos Profetas e dos
Escritos, de alguma forma, os escribas orientaram o processo de compilação
de livros sagrados, dando a eles alguma aprovação prévia.
Entretanto, ao que tudo indica, outros grupos judeu-helenísticos não
estritamente vinculados ao templo de Jerusalém (como os essênios)
aceitaram outros textos para além dos que entraram na Tanak.
 Selo de Elishama, escriba citado em Jeremias
41.1 e 2 Reis 25.25. Analisado por: Avigad, 1997,
p. 53. (Fonte: https://goo.gl/eBsD3t
<https://goo.gl/eBsD3t> )
Ainda assim, os escribas da Judeia parecem ter contribuído muito para a
organização, redação, revisão e determinação do conteúdo final da Bíblia
Hebraica. Esse processo, do qual os escribas podem ter participado, é a
canonização.
 Ruínas do Scriptorium dos escribas na
Comunidade de Qumran (Fonte:
https://goo.gl/7HZ2hH
<https://goo.gl/7HZ2hH> )
Cânon
Cânon é a lista de livros incluídos nas várias Bíblias.
Como já foi possível constatar, quando se trata do Antigo Testamento, há
várias extensões diferentes para o cânon e listas distintas de livros que
compõem as Escrituras hebraicas – consideradas, por judeus e cristãos,
autoritativas em matéria de fé e religião.
As distinções entre os vários cânones remontam às diferenças entre:
As Escrituras que se tornaram o Antigo Testamento – originalmente
escritas em hebraico (com algumas porções em aramaico);
1
A coleção mais ampla que circulava em língua grega – majoritariamente
formada por traduções dos textos hebraicos e aramaicos.
A determinação dos livros do Antigo Testamento foi atribuída, durante muito
tempo, ao chamado sínodo de Jâmnia.
Após a guerra dos judeus contra Roma (66-73 d.C.) e a vitória das tropas
romanas, um grupo de rabinos teria se reunido na cidade costeira de Jâmnia
(Yavneh) para consolidar e unificar o judaísmo pós-guerra.
De acordo com essa tradição, tal reunião (ocorrida em cerca de 90 d.C.) teria
definido o cânon, decidindo, exatamente, quais livros eram sagrados. No
entanto,não há evidências documentais que provem que rabinos em Jâmnia
tenham se reunido para fechar o cânon. E há quem duvide que uma
assembleia rabínica tenha, de fato, ocorrido.
Ao que parece, os limites precisos do cânon – especialmente dos Escritos
(Nevî’îm) – só ocorreram mais tarde, com participação importante dos
escribas. Foram eles que criaram um texto bíblico padrão – protótipo do Texto
Massorético posterior.
Essa padronização dos manuscritos bíblicos ocorreu, aparentemente, durante
o período compreendido entre as duas guerras dos judeus contra Roma:
2
1
1ª guerra 
66-73 d.C.
2
2ª guerra 
132-135 d.C.
Uma evidência da definição do cânon judaico no período entre as duas guerras
é destacada pelo historiador judeu Flávio Josefo (37-100 d.C.). Ele parece
assumir a existência de um cânone estabelecido em Contra Apião:
Em grego

οὐ μυριάδες βιβλίων εἰσὶ παρ᾽ ἡμῖν ἀσυμφώνων καὶ
μαχομένων δύο δὲ μόνα πρὸς τοῖς εἴκοσι βιβλία τοῦ
παντὸς... πέντε μέν ἐστι Μωυσέως... οἱ μετὰ Μωυσῆν
προφῆται τὰ κατ᾽ αὐτοὺς πραχθέντα συνέγραψαν ἐν
τρισὶ καὶ δέκα βιβλίοις αἱ δὲ λοιπαὶ τέσσαρες ὕμνους εἰς
τὸν θεὸν καὶ τοῖς ἀνθρώποις ὑποθήκας τοῦ βίου
περιέχουσιν.
Josefo, Contra Apião, 1.38-40
Em português

Não temos miríades de livros junto a nós, discordando
e lutando uns com os outros, mas vinte e dois livros
que têm tudo [...] cinco são de Moisés [...] os profetas
depois de Moisés anotaram o que foi feito em seus
tempos em treze livros. Os quatro livros restantes
contêm hinos para Deus e preceitos para a condução da
vida humana.
Josefo, Contra Apião, 1.38-40
A referência de Josefo a um total de 22 livros na Bíblia Hebraica traz algumas
dificuldades. Ao que parece, os 24 livros presentes na atual Tanak são
divididos de forma distinta por Josefo: o livro de Rute foi adicionado ao livro
de Juízes, e o livro de Lamentações foi adicionado a Jeremias. Mas tal
inferência é apenas uma hipótese.
Portanto, é praticamente impossível identificar a data precisa em que os
conteúdos do Antigo Testamento assumiram a forma em que se encontram no
chamado Texto Massorético medieval.
Ainda assim, a presença de manuscritos contendo material apócrifo – ou
deuterocanônico, na perspectiva católico-romana –, como os Manuscritos do
Mar Morto e as listas cristãs dos primeiros séculos do cristianismo, mostra que
a questão dos conteúdos precisos da Bíblia Hebraica ainda não foi resolvida.
Atividade
1. Defina o conceito de cânon.
Principais manuscritos
As traduções modernas da Bíblia baseiam-se em edições impressas da Bíblia
Hebraica. Essas edições, por sua vez, são o resultado do trabalho de crítica
textual crítica textual sobre manuscritos do passado.
No caso da Bíblia Hebraica, os manuscritos mais importantes são dos séculos
X e XI d.C., ou seja, os medievais.
O texto hebraico presente nesses manuscritos é chamado de Texto
Massorético, que utiliza o alfabeto quadrado e adiciona às consoantes sinais
diacríticos para representar as vogais, os acentos e as orientações para a
leitura – prosódicas, métricas, pontuação etc.
Os massoretas pertencem à família de Ben Asher, de Tiberíades (Galileia).
 Bíblia Hebraica (Fonte: Shutterstock /
Alexander Dvorak)

Leitura
3
4
Para aprofundar-se no assunto, leia mais sobre O Texto Massorético e
os massoretas <galeria/aula2/anexo/a02_doc1.pdf> .
O primeiro manuscrito medieval importante para a reconstituição do texto
hebraico do Antigo Testamento é o Códice de Aleppo (ֶּכֶתר ֲאָרם צֹוָבא), do início
do século X d.C.
Esse manuscrito foi mantido pela comunidade judaica da cidade de Aleppo, na
Síria, e é proveniente da tradição de Ben Asher. Em 1947, perdeu 1/4 de seu
conteúdo em um incêndio na sinagoga que o conservava e, hoje, está
guardado no Israel Museum (Jerusalém).
Os esforços para a recuperação do que se perdeu do Códice de Aleppo
estão sendo feitos desde que o manuscrito passou a ser cuidado pelas
autoridades de Israel.
Os esforços para reconstituição do Códice de Aleppo continuam pelas
consultas às citações do manuscrito em obras rabínicas.
 Página do Códice de Aleppo, com destaque aos
sinais massoréticos (Fonte:
https://goo.gl/zfavfK
<https://goo.gl/zfavfK> )
Outro manuscrito fundamental para a reconstituição do Antigo Testamento é o
Códice de Leningrado B19A, do século XI d.C. (ano 1008 ou 1009). Esse
manuscrito é a fonte mais completa de todos os livros bíblicos
veterotestamentários. Sabe-se que foi corrigido de acordo com um manuscrito
de Ben Asher e escrito por Samuel Ben Jacob Jam’a – tanto as consoantes
quanto as vogais e notas massoréticas.
5
6
O Códice de Leningrado foi emprestado à Universidade de Leipzig e analisado
por Paul Kahle, que o utilizou na edição da Biblia Hebraica Sttutgartensia
(BHS) – a mais importante já impressa, que serve de base para as traduções
modernas do Antigo Testamento.
Desde a terceira edição da BHS (1937) – hoje, está em execução a quinta –, o
texto apresentado é a publicação diplomática do Códice de Leningrado, que
representa o impresso de um manuscrito.
 Página do Códice de Leningrado (fólio 474a)
(Fonte: https://goo.gl/3h7irp
<https://goo.gl/3h7irp> )

Saiba mais
Há, ainda, outros manuscritos hebraicos – como o Códice do Cairo,
contendo os Profetas (896 d.C.) – e outros manuscritos datados a partir
do século X, inclusive os manuscritos iluminados (ilustrados), presentes
na Biblioteca Digital da Universidade de Cambridge
<http://cudl.lib.cam.ac.uk/collections/hebrew> .
Esses manuscritos são as mais antigas evidências do texto hebraico
vocalizado. Na Antiguidade, a língua hebraica era escrita sem vogais. As
evidências fragmentárias mais antigas de textos vocalizados pertencem
ao século VI ou, talvez, ao século V d.C.
Manuscritos do Mar Morto
A descoberta dos Pergaminhos do Mar Morto nas cavernas perto de Qumran,
ao sul de Jericó, a partir de 1947, trouxe à luz manuscritos de livros bíblicos
datados 1.000 anos antes do Códice de Aleppo.
Todos os livros bíblicos, exceto Ester, são atestados na coleção de Qumran,
mas muitos manuscritos estão em fragmentos. Analisá-los exigiu – e ainda
exige – grande esforço dos críticos textuais.
Não há, nos manuscritos de Qumran, sinais massoréticos, uma vez que o
sistema foi desenvolvido séculos mais tarde. Sendo assim, esses manuscritos
ajudam a reconstituir a história do texto consonantal.
Ainda que a maioria dos textos esteja fragmentada, há textos praticamente
integrais, como o rolo de Isaías (1QIsaª). Esse pergaminho contém todo o
livro de Isaías e data de cerca de 100 a.C.
Há manuscritos bíblicos em Qumran que datam do século III a.C.
A maioria dos rolos compreende apenas um livro bíblico, mas três manuscritos
da Torah continham dois livros consecutivos. Os Doze Profetas – chamados,
também, de Profetas Menores – estavam em um único rolo. Muitos desses
textos concordam, substancialmente, com o texto copiado pelos massoretas
1.000 anos depois.
 Reprodução fotográfica de 1QIsaª (rolo de
Isaías). O mais preservado manuscrito encontrado
nas Cavernas de Qumran (Fonte:
https://goo.gl/za9dZz
<https://goo.gl/za9dZz> )
Apesar da concordância em um âmbito mais geral, há textos entre os
Manuscritos do Mar Morto que contêm outras formas de textos bíblicos. Vários
destes, incluindo uma cópia importante do livro de Êxodo (4QpaleoExodm),
estão mais próximos da forma do texto preservada na tradição samaritana.

Atenção
Há uma tradição do Pentateuco utilizada em Samaria – cidade do centro
da Palestina (Pentateuco Samaritano) – que é, muitas vezes, mais
longa do que o Texto Massorético – representado pelo Códice de
Leningrado –, porque adiciona frases ou citações de outras passagens
bíblicas, ou, ainda, uma declaração para indicar o cumprimento de algo
escrito.
Os manuscritos de Qumran que utilizam o texto próximo ao Pentateuco
Samaritano mostram não apenas a antiguidade dessas versões mas
também sua circulação. Em outros casos, alguns livros bíblicos se
assemelham mais à versão do texto na Septuaginta do que à versão do
Texto Massorético.Outros manuscritos
As cópias mais antigas dos textos do Antigo Testamento são as traduções em
grego, exceto os Manuscritos do Mar Morto. Há fragmentos de manuscritos
bíblicos gregos do século II a.C.
Os manuscritos completos mais antigos datam do século IV d.C.: Códice
Vaticanus e Códice Sinaiticus. Outro importante manuscrito (Códice
Alexandrinus) data do século V d.C. Esses manuscritos são conhecidos como
unciais, pois se utilizam apenas vogais e consoantes maiúsculas.
Geralmente, os manuscritos da Antiguidade, com traduções gregas dos livros
bíblicos, são muito literais e refletem o texto hebraico de perto. No entanto,
há casos em que a LXX difere do Texto Massorético .7
Portanto, não há uma cópia perfeita do texto autógrafo , e sim cópias feitas
séculos depois que os livros foram originalmente compostos, as quais,
geralmente, divergem entre si.
Entretanto, o número de textos disponíveis proporciona a possibilidade de
reconstituir o bíblico em termos bem razoáveis: um escrito que sirva de base
para as traduções do texto hebraico do Antigo Testamento nas muitas línguas
modernas.
 Reprodução fotográfica do Códice Vaticanus
contendo Esdras 2.1-8 (Fonte:
https://goo.gl/axGiDx
<https://goo.gl/axGiDx> )
8
Atividade
2. Veja a relação de livros, na ordem em que aparecem no Códice de
Leningrado <galeria/aula2/anexo/a02_doc2.pdf> (Codex
Leningradendis, 1009 d.C. – conhecido, também, pela letra L ou por
Firkovich B 19). Depois, compare essa relação de livros e sua ordem com
os nomes dos livros e as respectivas ordens na Bíblia Almeida Revista
e Atualizada <galeria/aula2/anexo/a02_doc3.pdf> , publicada
pela Sociedade Bíblica do Brasil. Os livros são os mesmos, mas a
organização é diferente.
Traduções em língua portuguesa
Vamos analisar, agora, uma linha do tempo que destaca os momentos marcantes das
traduções do Antigo Testamento em português:
Séculos XIII-XIX
A primeira tradução é do século XIII. Dom Dinis (1261-1325), o poeta – Rei de
Portugal entre 1279 e 1325 –, traduziu os 20 primeiros capítulos de Gênesis a
partir da Vulgata Latina . Um século depois, D. João I (1357-1433) traduziu os
Salmos.
Em 1491, foi publicado o Pentateuco, mas as iniciativas de tradução foram
encerradas em 1547, visto que a Inquisição, além de perseguir os judeus,
proibia versões da Bíblia que não fossem a Vulgata. Ainda assim, o Pentateuco
foi publicado nesse ano, em Constantinopla, por judeus portugueses.
A primeira tradução completa do Antigo Testamento foi feita por por João
Ferreira de Almeida (1628-1691) até Ezequiel 48.12, a partir do Texto
Massorético. A tradução foi completada por Jacobus op den Akker e concluída
em 1694.
9
Após as revisões, a edição da tradução da Bíblia completa (Antigo e Novo
Testamento) foi publicada em 1748.
Entre 1782 e 1790, António Pereira de Figueiredo traduziu o Antigo Testamento
a partir da Vulgata e publicou-o em 17 volumes. A primeira tradução no Brasil a
partir do hebraico foi realizada por D. Pedro II, que traduziu Neemias e outras
porções do Antigo Testamento a partir do Texto Massorético, mas não publicou
seu trabalho.
A tradução da Bíblia feita por João Ferreira de Almeida – e completada por
Jacobus op den Akker – foi revista e corrigida em 1898.
Século XX
Em 1917, Hugh Clarence Tucker, William Cabel Brown, Eduardo Carlos Pereira,
Ruy Barbosa, José Veríssimo e Virgílio Várzea terminaram o trabalho de tradução
e publicaram a chamada Tradução Brasileira. Nesse mesmo ano, Esteves Pereira
traduziu o livro do profeta Amós a partir de um manuscrito etíope.
Traduções católicas a partir da Vulgata e de outras línguas foram realizadas em:
1950 – tradução de Manoel de Matos Soares;
1959 – tradução dos monges de Maredsous a partir da versão belga;
1976 – tradução da Bíblia de Jerusalém a partir da edição francesa.
Além disso, a tradução da Bíblia feita por João Ferreira de Almeida foi revista e
atualizada em 1959.
O judaísmo produziu duas significativas edições da Bíblia Hebraica. A primeira é
de Meir Matzliah Melamed – rabino que traduziu e publicou a Torah em 1962.
Os protestantes publicaram, ainda, em:
1967 – Versão Revisada, promovida pela Imprensa Bíblica Batista;
1981 – Bíblia Viva, feita a partir da versão inglesa de Kenneth Taylor;
1990 – Edição Contemporânea da Bíblia de Almeida, feita pela Editora Vida;
1994 – João Ferreira de Almeida Corrigida e Fiel, promovida pela Sociedade
Bíblica Trinitariana.
Há, também, traduções católicas a partir do Texto Massorético. São elas:
1982 – Bíblia Vozes, traduzida por uma comissão presidida por Ludovico
Garmus;
1990 – Edição Pastoral, traduzida por uma comissão presidida por Ivo
Storniolo.
A versão que representa o esforço ecumênico, unindo protestantes, católicos,
ortodoxos e judeus, é a Tradução Ecumênica da Bíblia, publicada em 1997.
Século XXI
Uma versão da Torah Viva, publicada, originalmente, em inglês, foi feita por
Adolfo Wesserman e divulgada em 2001.
Outras traduções católicas a partir da Vulgata e de outras línguas foram
realizadas em:
2002 – Bíblia do Peregrino, traduzida por Luis Alonso Schökel;
2009 – Reina-Valera, traduzida a partir do espanhol.
A segunda edição da Bíblia Hebraica produzida pelo judaísmo foi a Tanak,
traduzida por David Gorovits e Jairo Fridlin e publicada em 2006.
Os protestantes publicaram, ainda, em:
2007 – Bíblia Almeida Século XXI, publicada pelas editoras Vida Nova, Atos
e Hagnos;
2012 (revisada em 2017) – Bíblia King James Atualizada;
2014 – Bíblia Viva revisada.
Atividade
3. Quais são os três grupos de manuscritos importantes para reconstituir os
textos do Antigo Testamento?
 a) Texto Massorético, Manuscritos do Mar Morto e Septuaginta.
 b) Pentateuco, Profetas e Escritos..
 c) Septuaginta, Vulgata e 1QIsaª.
 d) Texto Massorético, Vulgata Latina e Traduções Siríacas.
 e) Vulgata, Manuscritos do Mar Morto e Septuaginta.
Notas
Cânon 
Em termos mais estritos e etimológicos, a palavra cânon provém do vocábulo grego
kánṓn, que significa “regra” ou “vara de medir”. O termo foi usado no plural por
bibliotecários e estudiosos da antiga Alexandria no período helenístico (terceiro e
segundo séculos a.C.) para fazer referência aos clássicos literários em oposição às
demais obras, como as tragédias gregas, por exemplo.
Na teologia cristã, o termo passou a ser usado no singular para designar as Escrituras
como “regra da fé”, a partir do século IV d.C. Em seu uso teológico, portanto, cânon é
um conceito cristão mais tardio. Logo, é anacrônico em relação ao contexto do
judaísmo antigo ou mesmo do cristianismo mais antigo.
Em linguagem comum, no entanto, cânon passou a significar, simplesmente, o
corpus (conjunto de textos) das Escrituras, que, como vimos, varia entre as Igrejas
Cristãs – e entre as Igrejas Cristãs e o judaísmo.
Massorético 
Do vocábulo aramaico massorah, que significa “tradição”.
Crítica textual 
1
2
3
Análise, comparação e adoção de critérios científicos para reconstituição de textos.
Massoretas 
Escribas responsáveis pelas cópias do Texto Massorético.
Incêndio na sinagoga 
O fogo destruiu:
• As primeiras 7 páginas do manuscrito com comentários gramaticais dos
massoretas;
• 118 páginas com o Pentateuco até Deuteronômio 28.17;
• 3 páginas do livro de Reis (de 2 Reis 14.21 a 2 Reis 18.13);
• 3 páginas do livro de Jeremias (de 29.9 a 31.34) – a página que as precede está
parcialmente rasgada;
• 3 páginas de Doze Profetas – de Amós 8.13 a Miqueias 5.1 (incluindo os livros
Obadias e Jonas);
• 4 páginas do fim dos Doze Profetas – do fim de Sofonias até Zacarias 9.17
(incluindo Ageu);
• 2 páginas de Salmos (de 15.1 a 25.1);
• 36 páginas dos Escritos – do Cântico dos Cânticos (3.11) até o fim dos Escritos
(incluindo Eclesiastes, Lamentações, Ester, Daniel, Esdras e Neemias);
• 1 página com uma descrição do Códice de Aleppo;
• 20 páginas no final do Códice de Aleppo – como anotações dos massoretas.
 
Recuperação 
Em 1982, foi recuperado um fólio do manuscrito com 2 Crônicas 35.7-36.19. Em
1988, sete ou oito linhas do livro de Êxodo (capítulo8) foram restauradas. Duas
fotografias centenárias do manuscrito continham mais três fólios do Pentateuco.
Casos em que a LXX difere do Texto Massorético 
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Os livros de Jeremias e de Jó, por exemplo, são mais breves na LXX. A ordem dos
capítulos em Jeremias também difere da ordem no Texto Massorético – mas coincide
com a ordem de alguns manuscritos de Jeremias de Qumran. Todavia, há outros que
se assemelham ao Texto Massorético.
A história de Davi e Golias da LXX (1 Samuel 16-18) é muito mais curta. Daniel 4-6
tem, na LXX, um texto muito diferente do encontrado no Texto Massorético.
Os Manuscritos de Qumran ajudam a entender que as diferenças entre o texto grego
da Septuaginta e o Texto Massorético não advêm de problemas de tradução, mas da
circulação de um texto hebraico mais curto. Contudo, no caso de Jó, os Manuscritos
do Mar Morto não apresentam uma versão abreviada de Jó nem um texto diferente
de Daniel 4-6.
Texto autógrafo 
Proveniente da mão do autor.
Vulgata Latina 
Tradução do hebraico para o latim feita por Jerônimo.
Referências
AVIGAD, N. Corpus of West Semitic Stamp Seals. Jerusalém: Israel Academy of
Sciences and Humanities, 1997.
FRANCISCO, E. F. Manual da Bíblia Hebraica. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2005.
GOTTWALD, N. K. Introdução socioliterária à Bíblia Hebraica. 2. ed. São Paulo:
Paulus, 1997.
HILL, A. E.; WALTON, J. H. Panorama do Antigo Testamento. São Paulo: Vida
Acadêmica, 2006.
SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal,
2013.
Próximos Passos
Civilizações mesopotâmicas;
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9
Civilização egípcia;
Israel e seus Vizinhos.
Explore mais
Acesse o site da Livraria Digital de Manuscritos do Mar Morto Leon Levy: The Leon
Levy Dead Sea Scrolls Digital Library <https://www.deadseascrolls.org.il/>
.
A página é mantida pela Israel Antiquity Authority – órgão do governo de Israel
responsável pela fiscalização, pela administração, pelo estudo e pela divulgação de
achados arqueológicos.
Nela, estão disponíveis textos encontrados nas grutas de Qumran, que foram
analisados, editorados, fotografados em alta resolução e organizados.
Em língua portuguesa, há o projeto Biblioteca Digital Mundial, mantido com o apoio
da UNESCO, que permite o download dos 340 fólios da Bíblia Hebraica consultada por
Alfonso de Zamora – professor de hebraico de Salamanca e Alcalá de Henares.
Para saber mais a respeito do projeto, acesse o Manuscrito da Bíblia Hebraica
<https://www.wdl.org/pt/item/17841/#institution=complutense-
university-madrid> .

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