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O líquido cefalorraquidiano É um líquido produzido nos ventrículos cerebrais e banha o sistema nervoso central e parte do sistema nervoso periférico. Tem a função de proteção, nutrição e defesa. Ele é um ultrafiltrado plasmático que cobre todo o sistema nervoso central e auxilia na modulação das variações normais da pressão intracraniana com o fluxo sanguíneo renal. Tem propriedade antibacteriana e defensoras, além da capacidade de transporte de nutrientes, metabólitos, neuro- hormônios e neurotransmissores. Comparado com o plasma, ele tem um teor discretamente elevado de cloretos, sódios e magnésio, potássio, cálcio e glicose levemente diminuidos, significamente menos proteína, celularidade escassa e poucos linfócitos. Indicações e contra-indicações O exame é indicado no auxilio diagnóstico e prognóstico das desordens do sistema nervoso central e para encontrar evidências clínicas de enfermidades do SNC (particularmente na superfície externa das estruturas correspondentes da superfície cerebral e medula espinhal). Os processos patológicos mais profundos não acarretam alterações na composição do LCR. Não é indicado em casos de aumento da pressão intracraniana ou traumatismo craniano ocasionado por: edemas cerebrais, hematomas subdurais, aneurismas, abcessos e algumas neoplasias. Pode ocorrer uma queda da pressão na área puncionada em relação ao compartimento intracraniano, ocasionando herniação do cerebelo pelo forame Magno tentorium ou hérnia cerebelar. Coleta A coleta é feita com anestesia. É puncionada pela cisterna magna ou região lombar L4-L5/L5-L6. A quantidade deve ser 1 ml/5 kg/tubo. Um frasco sem EDTA e um com EDTA (contagem de leucócitos), desprezando a primeira gota. Deve-se evitar lesões traumáticas e/ou contaminações. É um exame seguro e pouco invasivo (quando o veterinário é treinado), além disso é acessível em relação aos outros exames do SNC. Após a coleta, deve-se encaminhar o LCR imediatamente após a coleta, sob refrigeração para evitar a degeneração celular. Exame laboratorial Primeiro se faz o exame físico, avaliando coloração, aspecto, densidade e capacidade de coagulação. Como químico, avalia-se proteínas totais, glicose, cloretos e enzimas (AST, CK e LDH). No exame microscópico, observa-se hemácias, leucócitos, citologia diferencial e observação de micro-organismos. Interpretação A coloração: • Normal; • Avermelhado: processos hemorrágicos; o Hemorrágico com coloração clara: sangramento recente; o Hemorrágico amarelado (após centrifugação): hemorragia tardia; • Amarelo: hidrocefalia, neoplasias do SNC, hemorragias sub-aracnoideas, inflamações agudas e icterícias sistêmicas; • Atípicas (cinza ao esverdeado): processos supurativos. O aspecto deve ser sem turvação (células acima de 500 células/ml (turbidez)). A capacidade de coagulação está ausente, então em casos de presença de fibrinogênio, esta ocorrendo processos supurativos. A densidade é de 1004 a 1006 em cães e gatos e 1003 a 1012 em outros animais. No exame químicos pode ser encontrado: • Presença de AST, CK e LDH: doenças neurológicas, toxoplasmose e peritonite infecciosa felina (lesão tesidual no SNC) (AST, CK e LDH não atravessam a barreira hematocefálica); • Aumento de LDH (desidrogenase láctica): AVC, tumores so SNC e meningites; • Diminuição da glicose (normal: aprox. do sangue 60 a 80% plasmática): infecção por microrganismos glicolíticos; • Aumento de glicose: encefalites, compressão da medula espinhal, tumores e abcessos cerebrais; • Aumento de albumina: obstruções do fluxo do LCR, aumento da permeabilidade da barreira hematocefálica (meningite bacteriana); Exame do liquido cefalorraquidiano • Aumento da globulina: processos inflamatórios secundários a encefalite, abscessos, toxoplasmose e meningite, e processos não inflamatórios como estados convulsivos, uremia, hemorragias e edema. No exame microscópico, os leucócitos podem estar até 8 células/ul (pleocitose), as hemácias ausentes, linfócitos de 60 a 80%, pouco monocitóides (derivados e semelhantes aos monócitos, as vezes com aspecto de macrófago), raros neutrófilos e células plasmáticas do plexo coróide e ependimais. • Elevada: meningoencefalites bacterianas; • Moderada: infecções viraias, riquétsias, intoxicações e micoses sistêmicas. A citologia diferencial (linfócitos, poucos monócitos e raros neutrófilos): • Aumento de linfócitos: infecções virais ou fúngicas (eosinófilos) e qualquer infecção crônica (infecções virais: predomínio de células mononucleares, glicose normal e AST no LCR pode estar elevada); • Linfócitos reativos: estímulo antigênico local, tais como doenças infecciosas, processos neoplásicos e doenças autoimunes; • Aumento de neutrófilos: infecção bacteriana ou piogênica, processos inflamatórios, traumas, meningites assépticas ou sépticas e neoplasias (na persistência desse aumento, prognóstico desfavorável que significa lesão progressiva); • Neutrófilos degenerados: processos infecciosos; Doenças e correlações de alterações no exame do LCR • Toxoplasmose e micoses sistêmicas: relação igual de mononucleares e polimorfonucleares; • Meningoencefalites granulomatosas: predominância de mononucleares; • Eritrofagocitose: presença de sangue no LCR há mais de um dia; • Processos neoplásicos: proteína total aumentada, contagem de leucócitos normal (células tumorais raramente escapam para o LCR); • Lesão traumática: hemorragia na aubaracnóide associada à proteína alta e contagem elevada de neutrófilos; • Hidrocefalia: aumentos de CK e LDH; • Erliquiose neural: proteínas de normal a moderada, celularidade normal a moderada, mononucleares predominantes e mórulas ocasionalmente; • Peritonite infecciosa felina ou meningite piogranulomatosa multifocal: proteínas de moderada a acentuada, celularidade de moderada a acentuada e polimorfonucleares predominantes; • Raiva: proteínas de discretas a moderadas, celularidade de discreta a moderada e mononucleares predominantes; • Toxoplasmose: proteínas de discretas a moderada, celularidade de discreta a moderada, monócitos, linfócitos, neutrófilos e eosinófilos predominantes; • Linfossarcoma: proteínas aumentadas, pleocitose significativa (linfócitos) e predominio de mononucleares; Mieloencefalite protozoária equina (EPM) O protozoário é o Sarcocystis neurona. Alem do exame de liquor, faz-se com o LCR o exame de Western blot que possui 90% de sensibilidade e especificidade. Faz-se também uma sorologia para identificar ovos do parasita. Poliencefalomalácia Ocorre em ruminantes, caracterizada por necrose do córtex telencefálico. Ocorre intoxicação por enxofre, por sal (privação de água), por chumbo, deficiência de tiamina e ocorre meningoencefalite por herpesvírus bovino (BoHV) As proteínas se encontram aumentadas e ocorre pleocitose com predomínio de mononucleares (alguns vacuolizados). Cinomose Na cinomose, a alteração mais comumente encontrada no exame do LCR é a pleocitose linfocítica.