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DESENHO DE OBSERVAÇÃO AULA 1 Prof Péricles Varella Gomes CONVERSA INICIAL Com certeza uma da maneiras mais importantes de comunicação humana é o desenho de observação. Esta disciplina vai permitir ao estudante aprender a desenhar, a partir da observação objetiva do mundo concreto à nossa volta. Habilidade essencial para a carreira do designer (designar = desenhar), saber se expressar visualmente é fator determinante no sucesso desta fascinante carreira. Esta disciplina tem o propósito de dismistificar essa importante habilidade, por meio de uma abordagem prática, objetiva e inovadora. Nesta aula, vamos contextualizar o desenho de observação e demonstrar que todos podem desenhar, com o devido investimento em tempo e disciplina, bem como apresentar os materiais mínimos necessários para tal. Vamos iniciar as atividades práticas… rabiscando! Nada mais divertido do que rabiscar sem medo de errar, até porque um rabisco é apenas um rabisco, certo? Além disso, vamos falar um pouco sobre a percepção visual (o olhar) e também comparar nosso olho humano com uma máquina fotográfica e entender como fotografar e desenhar são habilidades muito parecidas. Seja muito bem-vindo à nossa disciplina de desenho de observação. CONTEXTUALIZANDO Desde as cavernas de Lascaux na pré-história, os seres humanos demonstravam a necessidade de se expressar visualmente em imagens bidimensionais. O desenvolvimento da humanidade está diretamente conectado ao desenvolvimento da sua capacidade simbólica e, portanto, da capacidade de desenharmos de maneira objetiva as nossas ideias e projetos. O ditado “uma imagem vale mais do que mil palavras” indica a importância do desenho quando se quer comunicar uma ideia criativa. Figura 1 – Desenhos rupestres pré-históricos Crédito: Thipjang/Shutterstock. O desenho como forma de expressão de ideias concretas e abstratas está presente em todas as civilizações humanas, mas é a partir do Renascimento que essa habilidade fica mais sofisticada, com o aparecimento da perspectiva. Nossa disciplina de desenho de observação vai focar no aspecto objetivo dessa habilidade: o ato concreto de materializar numa folha de papel em duas dimensões o mundo real que nos cerca! Portanto, não vamos abordar o desenho ARTÍSTICO (este mais subjetivo e complexo) nesta disciplina. Essa distinção é fundamental para entender que a habilidade do desenho a ser desenvolvida é comparável ao ato de escrever. Todos que ingressam num curso superior sabem ler e escrever (ainda que não sejam poetas e romancistas). Vale o mesmo raciocínio para o desenho de observação. TODOS nós somos capazes de desenhar, se soubermos observar de VERDADE aquilo que desejamos desenhar. Simples assim! Nesta aula vamos iniciar esta incrível aventura de olhar… e desenhar. TEMA 1 – TODOS PODEMOS DESENHAR Você provavelmente não se lembra mais. Mas aprender a caminhar aos 2 ou 3 anos de idade foi um grande desafio. Para todos nós foi, e, no entanto, você hoje não só caminha muito bem, mas corre, anda de bicicleta, e faz isso com a maior naturalidade, nem pensa mais. Várias habilidades que adquirimos no nosso desenvolvimento motor e/ou cognitivo são assim. Parecem muito difíceis, mas depois a gente nem se lembra mais do processo e do esforço que foi para aprendê-los. E desenhar é exatamente a mesma coisa. E o melhor de tudo é que você não vai correr nenhum risco de se machucar! Mais seguro do que tirar selfies com o seu telefone celular. O importante nesse processo é estar motivado e disposto a arriscar, e começar logo a rabiscar! Você precisa estar também confiante que pode desenhar. Só um pequeno detalhe: desde que tenha o tempo e a disciplina para tal. Então, por favor, pense assim: “Eu não sei desenhar, mas estou com muita vontade de aprender”. Vamos começar? 1.1 Você consegue desenhar! Use seu lado direito do cérebro! Agora que já estamos motivamos para aprender a desenhar, vamos entender um pouco de como o cérebro humano funciona, naquilo que diz respeito à percepção visual. Betty Edwards, em seu livro Desenhando com o lado direito do cérebro (leitura imprescindível para quem quer aproveitar esta disciplina), assim descreve o processo de aprender a desenhar: Você tem dois “cérebros”: um esquerdo e um direito. Os estudiosos do cérebro atualmente sabem que o cérebro esquerdo é o verbal e racional; ele pensa em série e reduz o raciocínio a números, letras e palavras. O seu cérebro direito é não verbal e intuitivo; ele pensa em padrões, ou imagens, compostas de “coisas inteiras”, e não compreende reduções, sejam números, letras ou palavras. Assim sendo, o grande desafio será desligar” o lado esquerdo do cérebro e “ligar” o seu lado direto. Alguns conseguem fazer essa troca rapidamente e começam a desenhar de maneira surpreendente. Na verdade, precisamos que você “veja com outros olhos” aquilo que você sempre viu. De agora em diante, precisamos que você comece a PERCEBER de verdade. OBSERVAR atentamente. De preferência, pare de falar, para de teclar ao telefone, pare, até mesmo, de escutar música por um momento. OLHE de verdade e se concentre, por exemplo, numa cadeira à sua frente. Fique olhando por cerca de 3 minutos! Pronto, talvez você já esteja usando o lado direito do cérebro. O resto é fácil, basta agora aprender a rabiscar. Veja os exemplos a seguir de desenhos de uma cadeira. A Figura 2 representa alguém desenhando com o lado esquerdo do cérebro. A Figura 3 seria de alguém desenhando como lado direito do cérebro. Qual a diferença entre os dois? Figura 2 – Cadeira geométrica Crédito: Attaphong/Shutterstock. Figura 3 – Cadeira artística Crédito: Les Perysty/Shutterstock. O primeiro desenho é um desenho milimetricamente racional, com régua, um desenho técnico, demorado e com forte apelo matemático (cérebro esquerdo). O segundo desenho é um croqui, rabiscado, feito à mão livre, respeitando aquilo que o olho humano de fato enxerga quando alguém está desenhando uma cadeira ao vivo (cérebro direito). O nosso objetivo nesta disciplina é que você consiga desenhar à mão LIVRE, buscando em poucos minutos rabiscar uma cadeira como a do lado DIREITO, demonstrado acima. 1.2 Você não precisa ser um artista! Mas dê férias para o seu cérebro esquerdo! Vamos fazer agora um importante esclarecimento: não queremos fazer de você um artista nesta disciplina. Já falamos no início desta aula que todos podemos ler e escrever, ainda que não sejamos poetas ou escritores. Então, pretendemos ajudar você aprender a desenhar, da mesma maneira que alguém ajudou você aprender a escrever na sua infância. Só que faremos isso em poucas semanas. Basta você querer aprender. Por que é importante essa distinção? Porque não vamos tratar de aspectos subjetivos do desenho, apenas regras bem simples e objetivas. Até porque você está matriculado num curso superior de Design. E uma definição de design seria resolver problemas. Voltemos ao exemplo da cadeira acima. Van Gogh (que não vendeu um quadro sequer em vida) pintou uma cadeira, que ficou famosa. Veja o quadro a seguir. Trata-se de uma pintura a óleo. Com certeza você já viu esta imagem. Nela Van Gogh quis exprimir suas contradições artísticas e talvez seus problemas mentais. Hoje este quadro vale uma fortuna, mas o artista morreu pobre. Não queremos você pintando quadros. Queremos você apenas fazendo croquis muito bons, e que sirvam para comunicar simplesmente uma ideia projetual sua. Figura 4 – Van Gogh: cadeira e cachimbo, óleo sobre tela Crédito: GOGH, V. Cadeira de Van Gogh,1888. Assim sendo, vamos concentrar nossas energias nestas semanas em desenhar a lápis, em papel, aprender o A, B, C básico do desenho de observação, simplificando nossa trajetória, e mais importante,dismistificando que artistas nascem sabendo desenhar, e que apenas alguns poucos iluminados têm talento para o desenho de observação. Se você consegue ler (e escrever) você também consegue observar e desenhar. Uma última observação ainda o respeito do desenho. Alguns croquis acabam indo parar em museus, por serem de pessoas famosas que desenhavam para projetar (prédios, cadeiras, quadros, cidades ou carros). Querem alguns nomes? Leonardo da Vinci, Michelangelo, Oscar Niemeyer, Elgson Gomes, Poty, Le Corbusier, Sergio Rodrigues, e muitos outros. Nos croquis de Oscar Niemeyer para o projeto da catedral de Brasília ele rabiscou várias versões, sem se preocupar em mostrar detalhes. Trata-se de um pensamento visual, feito com o lado direito do cérebro! Figura 5 – Croquis de Leonardo da Vinci Crédito: Kwirry/Shutterstock. TEMA 2 – OLHAR DE VERDADE Olhar parece ser tão fácil que todos olhamos o tempo todo, para tudo, desde o momento em que nascemos. À medida que crescemos, vamos aprendendo a olhar e a entender o mundo. O olhar sem dúvida domina as nossas percepções sensoriais, e por meio do olhar entendemos o mundo. Antes de ir para a escola, crianças adoram desenhar livremente, e sem medo de errar, tudo o que veem. Desenhos de crianças de 3 a 5 anos são, sem dúvida, maravilhosos (principalmente aos olhos dos pais…). Quando entramos na escola, na esmagadora maioria das vezes, iniciamos um processo de DESAPRENDER a olhar. As nossas professoras nos incentivam a desenhar um vocabulário visual “infantil”, que na verdade estraga a nossa percepção. Raramente, enquanto crianças têm bons professores de arte-educação. Figura 6 – Desenho infantil Fonte: o autor. À medida que avançamos no ensino médio, cada vez mais nossa habilidade para desenhar vai sendo corroída e deixada de lado. Aprendemos a ler, escrever, fazer contas, tabuada. Desenhar passa a ser um talento menor. E então, entramos na universidade… Pois é, agora estamos na universidade, e ainda desenhamos como crianças de 7 anos de idade. O que aconteceu nesse período? Tiramos fotografia o tempo todo, portanto, sabemos olhar. Mas não sabemos desenhar. O que aconteceu, afinal? Neste bloco vamos entender melhor como reverter esse importante fenômeno educacional. Alguns gostam de acreditar que as pessoas que sabem desenhar já nascem com esse talento. Pensam que não adianta tentar adquiri- lo, pois se você não nasceu com ele, jamais poderá desenvolvê-lo. Tudo isso se trata de um grande equivoco, acredite! 2.1 Você olha com as mãos? Essa frase todos já ouvimos várias vezes, com conotação negativa. Na verdade a gente olha, sim, com as mãos! Quando alguém que sabe desenhar de verdade faz um desenho incrível, está olhando com as mãos. A mão com o lápis deve SEMPRE estar conectada com o olho que observa. Uma técnica bastante comum em aulas práticas consiste em fazer estudantes desenhar SEM olhar para o papel, olhando tão somente para o objeto à sua frente. Uma frase sintetiza este conceito: Você não desenha o desenho, você desenha o objeto! Portanto, de agora em diante, quando for desenhar algo, passe 80% do tempo olhando o objeto e apenas 20% do tempo olhando o papel. Você vai se surpreender com a mudança na qualidade dos seus desenhos. Figura 7 – Exemplo de desenho feito apenas olhando para o objeto Fonte: o autor. No desenho acima, você percebe a diferença na qualidade de um desenho usando a técnica descrita. É fundamental você iniciar imediatamente esse processo de ver com as mãos. Talvez você queira colocar um pano cobrindo a sua mão e o papel, para não cair na tentação de “colar”. Alunos de artes plásticas que aprendem escultura compreendem bem esta ideia. Mas designers também gostam de fazer maquetes e protótipos. Então, de agora em diante, não se sinta mais constrangido em olhar com as mãos. TEMA 3 – MATERIAIS PARA DESENHO Por um lado, a boa notícia é que vamos gastar muito pouco dinheiro em material de desenho. Além do bloco de papel, você vai precisar apenas comprar dois lápis e uma borracha. O mais interessante nessa habilidade é o quão simples será manusear essas ferramentas e materiais. Não vamos usar lápis de cor, aquarela, computador, tinta acrílica. Vamos usar papel, lápis, uma borracha e uma caneta (qualquer caneta). Por outro lado, a má notícia é que seu esforço e sua dedicação, bem como o tempo dedicado, serão os fatores determinantes na sua aprendizagem. Desenhar não é complicado nem caro. Então, vamos aos materiais de desenho que você precisa providenciar. 3.1 O papel Como já definimos anteriormente, desenhar seria o ato de representar o mundo 3D em uma superfície 2D, no caso, uma folha de papel. Vamos então falar sobre o suporte do desenho por excelência, ou seja, o papel. Claro que podemos desenhar nas paredes (coisa que toda criança adora fazer), podemos desenhar em tecido, em lixa, mas 99% das vezes faremos isso em papel. Figura 8 – Exemplo de papel com desenho a lápis mole Fonte: o autor. Essencialmente, são dois aspectos que importam nesse quesito. O tamanho a folha e a textura do papel. A textura você sente ao tatear uma folha. O papel pode ser liso ou áspero, e, claro, existem variações entre esses dois extremos. Para o desenho de observação que vamos desenvolver aqui, quase sempre a lápis de desenho artístico, vamos optar por papel de textura intermediária. Quando o papel é muito liso, o atrito entre o grafite e a superfície fica insuficiente para um traço de qualidade, natural. Quando o papel é muito áspero, você vai gastar a ponta do lápis muito rapidamente e terá de apontá-lo o tempo todo. Portanto, um papel de textura intermediária seria o ideal. As papelarias vendem papel Canson para desenho artístico. Compre um bloco de gramatura média (120 g a 160 g), tamanho A3, de papel Canson. Não é um papel caro. Mas seria importante que a folha fosse espessa o suficiente para não ter nenhuma transparência, o que vai permitir você desenhar em ambos os lados dela. O outro aspecto seria o tamanho do papel. Resumidamente, papel é vendido em tamanhos que variam de A0 até A6. Veja a figura a seguir. Vamos trabalhar com papel A3. Para ter uma referência, o A4 seria o papel de carta. Portanto, o formato A3 tem o dobro do tamanho do A4. Figura 9 – Tamanhos de papel 3.2 Lápis – E talvez uma borracha Agora que já sabemos onde vamos desenhar, resta saber com o que se desenha. O lápis será a nossa ferramenta de trabalho. Vamos usar basicamente um tipo apenas de lápis. Lápis preto 4B, ou mais alto 5B, 6B, etc. Figura 10 – Tipos de lápis Crédito: Ekaterina_Minaeva/Shutterstock. Para entender qual a diferença entre essas categorias, pense assim: quanto mais alto o B, mais grafite e mais mole o lápis fica. Para nosso curso, não queremos lápis HB, H, ou outros. Precisamos de lápis que sejam bons em deixar um traço sem ter que apertar a mão, e também fácil de fazer sombras. Não usaremos lapiseira de desenho técnico. Eventualmente, vamos usar caneta, mas qualquer caneta serve, até dessas que você ganha de brinde. Além do lápis, você vai precisar de uma borracha mole para desenho artístico – uma borracha vai ser suficiente, porque vamos tentar evitar apagar o desenho ao máximo. No final do curso, você poderá jogar até fora a sua borracha. Essencialmente, seria como fotografar. Quando você fotografa, você não fica apagando a sua foto. Se você não gosta, faz outra foto. Use o mesmo raciocínio para os seus desenhos. Não gostou? Então faz outro, e outro e outro, até ficar bom. TEMA 4 – RABISCANDO SEM MEDO Chegou a hora de começar a desenhar. Vamos, primeiramente, apenas entender melhor a relação entre o lápis e o papel. Apenas rabiscar, sem nenhuma pretensão de representar nada. A sua mão deve estar totalmente livre e descontraída. A ideiaaqui seria basicamente se permitir “gastar” papel para entender melhor como acontece o traço, elemento básico de qualquer desenho. Queremos que você rabisque uma folha em branco, pode até telefonar para alguém e ficar rabiscando enquanto fala! Assim, não vai se preocupar tanto em errar ou acertar. Até porque não há nada a perder. Apenas uma folha de papel. Aposto que você já fez isso muitas vezes – falar ao telefone longamente e rabiscar sem pretensão. Então vamos lá. Vamos sentir o lápis atritando o papel. Não pense muito no que vai desenhar. Aliás, não pense nada. Apenas rabisque, de todas as formas possíveis e imagináveis. Não tente fazer uma linha reta. Nem tente fazer um círculo perfeito. Mas preencha esta folha de papel plenamente. Se quiser, use outra folha de papel. Ou o outro lado da mesma folha, tanto faz. Gaste cerca de 15 minutos nesta atividade. Veja a figura abaixo, mas não a copie. Apenas se inspire nela. Mas por favor, não apague nada. Figura 11 – Rabiscos aleatórios Fonte: o autor. 4.1 Traçando… o traço, sem medo de errar Agora que você já iniciou a aventura de rabiscar livremente a lápis, gostaríamos de fazer uma comparação lúdica, mas que vai ajudar você entender como o desenho JÁ faz parte da sua vida, sem você perceber. Figura 12 – Desenho em areia na praia de Péricles Gomes, 2019 Fonte: o autor. Esse desenho foi feito em menos de 1 minuto na areia da praia, com um pedaço de bambu. Perceba que você reconhece uma bandeira! A areia da praia seria o papel e o bambu seria o lápis. Nada foi apagado, e, no entanto, ficou muito bem desenhado, não acha? Claro que logo que eu tirei a foto o mar veio e apagou o desenho. Mas eu fui mais rápido que a “borracha do Oceano Atlântico”. Confesso que não estava trabalhando neste momento, estava vindo de uma festa no domingo, às 6 horas da manhã, e resolvi desenhar na areia. Veja que eu “errei” o retângulo, e então eu rabisquei por cima para melhorar. Tudo não passou de um croqui efêmero que o meu celular imortalizou para vocês poderem aprender a não ter medo de rabiscar. 4.2 Os tipos de traço e à mão livre! Podemos classificar os traços em algumas categorias principais. Mas antes vale alertar que o maior perigo para o principiante seria a tentação de usar regra para desenhar, já que não confia na sua habilidade. Por favor, não caia nesta tentação. Ninguém nasce sabendo desenhar. A régua e esquadros não são seus amigos neste curso. Eles são seus piores inimigos. Seriam como muletas ou mesmo aquelas rodas auxiliares que as crianças usam para aprender a andar de bicicleta. Figura 13 – Tipos de traço Fonte: o autor. Os traços podem ser divididos nas seguintes categorias, de maneira bem simplificada: • Traços contínuos retos (vertical horizontal ou oblíquo). • Traços circulares (círculos, elipses e afins). • Traços irregulars. • Traços intermitentes. • Traços sobrepostos (texturas ou hachuras). Cada estudante vai desenvolver durante a sua carreira de designer o seu próprio traço. Isso leva certo tempo. Mas, no decorrer dos estudos universitários, você vai cada vez mais ter a sua própria identidade nos seus traços, nos seus desenhos, nos seus croquis. Seria como a sua caligrafia, sua assinatura. Veja que algumas pessoas assinam “rabiscando”. Por que assinamos documentos? Porque sua assinatura é um traço único, só seu, e, portanto, bastante difícil de falsificar. Pense nisso de maneira criativa e abrangente. Analise a sua assinatura. Talvez você queira fazer um redesign dela. Rabisque a sua assinatura várias vezes numa folha de papel e crie novas versões. Você estará praticando desenho e estará também já criando um novo design. O design de sua assinatura: um rabisco com muito estilo e classe. Figura 14 – Assinatura de Pericles Gomes Fonte: o autor. TEMA 5 – O DESENHAR E O FOTOGRAFAR Vamos tratar agora de duas atividades muito parecidas e muito diferentes. Uma delas tornou-se tão corriqueira, que a cada dia que passa você cria várias imagens, sem nenhum esforço: Fotografar! Grafar com fótons! A outra seria desenhar com lápis. Seria então, digamos, grafitar com átomos? Quando você fotografa com o seu celular, você na maioria das vezes nem pensa no que está fazendo. Nem olha. Apenas aperta o botão e PRONTO! “Então, para que aprender a desenhar, se eu já sei fotografar?”, pensou vocêê neste momento. Cuidado com esse pragmatismo enganoso. Primeiro, porque talvez você não saiba fotografar. Você apenas sabe fazer selfies… Segundo, porque saber desenhar é como saber escrever. Tão importante quanto. E, por último, você também precisa aprender a FOTOGRAFAR. Desenhar vai ensinar você de fato observar, não apenas olhar. O ato de observar cuidadosamente uma cena ou objeto e transmitir para uma folha de papel vai exigir de você um esforço concentrado e criterioso de entender o que está na sua frente. Quando você desenha, você precisa criticamente estabelecer relações de tamanho, de quantidade de luz e sombra e de espaços entre as partes que compõem a cena. Você tem de escolher quais detalhes são importantes e quais são supérfluos no seu croqui. Lembre-se de que um croqui não deve levar mais do que 10 a 15 minutos para ser feito. Você não está fotografando, está apenas desenhando… Assim como quando o “clic” da máquina fotográfica acontece, seu croqui deve ser um instantâneo no tempo. Uma importantíssima diferença entre desenho e fotografia, no entanto, é que no desenho você tem que decidir o que entra e o que fica fora dele. Na fotografia o seu celular faz essa redução dos detalhes por você. Portanto, você tem mais poder de decisão ao desenhar. Um último conselho: não desenhe a partir de fotos, pois, se assim o fizer, nunca vai aprender a observar o mundo que você precisa desenhar. Simples mas complicado, não acha? 5.1 Fotografar você já sabe… ou não sabe? Tudo começa no olho. No seu olho, melhor dizendo. Você tem dois olhos para melhor ver. Sua visão, mesmo que com óculos, é extraordinária. Agora, só falta você olhar de verdade, antes de apertar o gatilho da sua máquina fotográfica (ou celular). Mais importante do que ter uma Nikon profissional ou o iPhone mais recente é sua capacidade de olhar e pensar antes de disparar. Antes da fotografia digital, fotografar com filme era relativamente caro, e não dava para ver a foto antes de mandar o filme para revelar. Então, era preciso caprichar ainda mais e observar com critério, para não gastar filme. Isso mudou completamente na era do telefone celular, não é mesmo? Antes de dar algumas dicas sobre como fazer melhores croquis, vamos falar brevemente sobre a história da fotografia. Ela nasceu no século XV, no Renascimento italiano (a parte física), foi aperfeiçoada no século XIX na França (a parte química), e no século XXI (a partir dos EUA) ela invadiu tudo e todos (a parte digital). Quem fotografa bem já tem meio caminho andado na direção de desenhar bem. Cartier-Bresson, um dos maiores fotógrafos que já existiu, no final da sua vida, parou de fotografar para apenas desenhar. Figura 15 – Exposição de fotos de Cartier-Bresson em Milão, 2007 Crédito: ©CC-20/Maurizio Zanetti. A fotografia reinventou a pintura e depois da Segunda Guerra Mundial virou arte (ainda mais na versão em preto e branco). Aliás, seria ótimo pensar fotografia no nosso contexto, somente em tons de cinza, já que só vamos desenhar com lápis preto. A essência do desenho é cinza. A cor para o iniciante só atrapalha. Ao experimentar fotografar para a nossa disciplina, aconselhamos você pensar em preto e branco ou transformar suas fotos em preto e branco, quando elas forem coloridas. Tudo começa e termina na luz. Sem luz (e sombra) não existe fotografia. Qualquer tipo de luz serve. Mas você precisa começar a prestar atenção nas fontes de luz quandofor fotografar. Além da luz, temos outros pontos que são fundamentais na arte de fotografar: • Luz e Sombra: cuide da luz para sua foto ter mais qualidade e profundidade. Lembre que o flash não é o seu melhor recurso, e deve ser poupado. • Enquadramento: observe e decida o que você deixa de fora e o que você considera importante incluir no campo visual. • Equilíbrio: tente equilibrar a composição, sem exagerar na simetria visual. Uma fotografia equilibrada leva em conta o peso visual dos elementos que a compõem. • Proporção e regra dos terços: imagine um grid de 3X3 e enquadre os pontos mais importantes da sua imagem usando esse grid. Você vai se surpreender. • Forma e Fundo: cuidado com fundos muito congestionados. Sempre que possível, busque um fundo neutro ou desfocado para melhorar o objeto principal. • Perspectiva: boas fotos levam em consideração a profundidade do espaço e a perspectiva da cena em questão. Tente achar a linha do horizonte como referência. • Simplicidade: em arte, design e arquitetura, menos é mais. Simplifique ao máximo a sua composição fotográfica. Em essência, comece agora a praticar a fazer fotos mais elaboradas, pois isto fará você começar a olhar o mundo com o seu lado direito do cérebro, o que vai ajudar você na aprendizagem do desenho. 5.2 Desenhar você não sabe… mas vai aprender! Agora que você compreendeu que fazer selfies e fotografar são habilidades bem distintas, vamos discutir um pouco sobre a sua capacidade de aprender a desenhar. Seria importante você reconhecer que ainda NÃO SABE desenhar, mas QUER APRENDER. Sua motivação será o fator mais importante de agora em diante. Você escolheu estudar DESIGN, portanto, precisa estar motivado a aprender a desenhar. Caso contrário, não conseguira se estabelecer como um profissional neste ramo. Mas o ato de desenhar deve ser de agora em diante algo divertido e empolgante, uma verdadeira aventura visual, na qual você vai se sair muito bem. Pense em rabiscar sempre que possível. Se tiver qualquer tempinho sobrando, use seu bloco de desenho para captar as coisas que você observa. Pense que você está montando seu portfólio visual de aprendizagem. Gostaríamos que você fizesse um diário, no qual todo dia você fará ao menos três desenhos, qualquer desenho, de cenas do seu cotidiano. Pode ser objetos, pessoas, plantas, roupas, casas, carros, mas tudo SEMPRE olhando, nada de desenhar de memória ou de imaginação. Não critique seus desenhos. Permita-se rabiscar à vontade, não apague nada, mas desenhe tudo. Tente desenhar da mesma maneira que você se alimenta. Assim, o desenho vai entrar na sua vida e nunca mais vai sair dela. Se você conseguir isso, em poucos meses você estará desenhando bem o suficiente para se tornar um bom designer, nosso principal objetivo nesta disciplina. Desenhar é fácil, e você vai aprender. TROCANDO IDEIAS O desafio é rabiscar alguns objetos fáceis de desenhar que você tenha em sua casa ou utiliza em seu dia a dia. Compartilhe esses rabiscos no fórum com seus colegas. NA PRÁTICA Acompanhe as orientações a seguir para realizar a atividade. 1. Leia o texto da aula. 2. Leia a explicação a seguir. 3. Realize a atividade solicitada. Bons rabiscos e bom trabalho! A atividade consiste em você imprimir o dado abaixo, montar o objeto (pode usar uma tesoura para recortar e cola ou fita adesiva para colar). Tempo médio de execução do protótipo: 15 minutos. Uma vez pronto o dado, você vai realizar três croquis desse dado, observando-o (não tente desenhar de memória). Você deverá desenhar três versões do objeto, a saber: 1. Desenho de 10 minutos olhando livremente o objeto e o papel. 2. Desenho de 6 minutos olhando 80% do tempo o objeto. 3. Desenho de 2 minutos sem olhar o papel (com um pano encima da sua mão) Finalmente, compare a qualidade dos três desenhos. Verifique as diferenças e perceba como você pode mudar a maneira de ver o mundo. Figura 16 – Cubo planificado para montar e desenhar Fonte: o autor. FINALIZANDO Nesta aula foram apresentados os princípios, os conceitos e as ferramentas do desenho de observação. Estas, se corretamente aplicadas, podem trazer benefícios aos estudantes de design, no sentido de poder representar visualmente ideias projetuais e criativas e, portanto, formar uma sólida base da profissão em questão. Foram apresentados os conceitos de desenho e fotografia, de maneira bem simples, para propiciar um entendimento cognitivo das técnicas básicas de representação bidimensional. Os princípios do rabiscar, base de qualquer desenho à mao livre, foi devidamente explicado. Foi apresentada também a diferença entre o desenhar e o fotografar, sendo que uma faz parte da outra. Ambas começam no seu olho e acabam numa folha de papel ou numa imagem digital. Conclui-se que as técnicas e as habilidades apresentadas impactam positivamente para a carreira do designer, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da sua habilidade em observar e representar o mundo em seu entorno. REFERÊNCIAS BIRCH, H. Desenhar, truques, técnicas e recursos para a inspiração visual. Londres: Gustavo Gili, 2015 CERVER, F. Desenho para principiantes. Londres: Konneman, 2010. CLARKE, L. 40 Tips to take better Photos. PetaPixel. Disponível em: <https://petapixel.com/2014/01/24/40-tips-take-better-photos/>. Acesso em: 14 fev. 2019. EDWARDS, B. Desenhando com o lado direito do cérebro. 4. ed. New York: Tarcher/Penguin, 2012. DESENHO DE OBSERVAÇÃO AULA 2 Prof. Péricles Varella Gomes 2 CONVERSA INICIAL Como visto anteriormente, o desenho tem sido uma ferramenta poderosa para a expressão do homem ao longo do tempo. Todos podem desenhar suas ideias, pois esta forma de expressão é um meio muito democrático de comunicação. Parsons (1992) argumenta este papel da arte como meio de demonstrar o interior do ser humano: “A arte não se limita a ser um conjunto de objetos bonitos, constituindo antes uma das formas de que dispomos para articular a nossa vida interior [...] que a arte exprime mais do que aquilo que um indivíduo tem em mente num determinado momento”. O começo do curso de desenho pode carregar incertezas quanto à capacidade artística de cada um, mas o importante é não desistir e praticar todas as técnicas e exercícios aqui propostos. O desenho de observação (DO) é estabelecido por quatro conceitos básicos – enquadramento, volumetria, perspectiva e proporções, e é considerado um meio para aquisição do domínio sobre os fundamentos do desenho, sobre a percepção visual e sobre o espaço no qual se desenvolve, seja bidimensional, seja tridimensional. Nesta aula vamos avançar nos exercícios de desenvoltura dos traços. Praticando retas em direções e posições variadas, conhecendo alguns artistas e seus famosos traços, exercitando a técnica do desenho de círculos e ovais e, por fim, um exercício. Vale lembrar que a interação entre os colegas de curso também será necessária para a evolução individual e coletiva nesta disciplina. CONTEXTUALIZANDO Para chegarmos a um traço de precisão e valor artístico aceitável, e para seu aprimoramento e entendimento, é necessária a prática constante. Cada artista ou designer possui seu próprio traço, com suas características e peculiaridades. Esses fatores são desenvolvidos com o tempo e com muito treino. O traçado à mão livre, ou seja, sem réguas, compassos ou outros materiais que auxiliem em seu desenho, é uma técnica importante para o desenho de observação. Com ela você pode desenhar em qualquer lugar e expressar suas ideias. O desenho é uma linguagem universal. 3 O DO consiste em desenhar o que vemos. Segundo Molliere (2017), as pessoas têm dificuldade em separar o que pensam e o que veem: Você sabe,por exemplo, que as folhas do pinheiro têm a forma de agulhas quando essa conífera está longe e quando ela está perto. Na realidade, porém, a partir de certa distância você não consegue enxergar agulhas, apenas uma massa verde. Outro exemplo muito comum: você desenha os vidros de uma janela de perfil mesmo quando está num lugar onde não pode vê-los. Desta forma ficaremos atentos aos exercícios da aula e suas características. Agora vamos descobrir qual o seu nível no desenho, e para isto vamos precisar de: • Papel; • Lápis preto número 2; • Borracha; • Local firme para desenhar, como uma mesa ou prancheta; • Um copo para observação ao final da aula. Com estes materiais poderemos iniciar a prática. Você não deve ter medo do resultado, até porque se não ficar bom, você pode tentar outras vezes. Fazer esta aula é fundamental, mas devemos ter consciência da importância do treino diário. Volte sempre aos exercícios anteriores, aulas e temas. Mesmo após o término do curso você sempre deve procurar revisar o conteúdo. Vamos começar? TEMA 1 – EXERCÍCIOS INICIAIS Os exercícios iniciais consistem em aprender as técnicas usadas ao longo da aula. Treinar vários tipos de traços e ter controle sobre seus estilos e formas é imprescindível para obter resultados satisfatórios em seus desenhos. Figura 1 – Começando seu desenho Crédito: Andrej Sevkovskij/Shutterstock. 4 Para o aquecimento, antes de começar a desenhar é importante fazer desenhos aleatórios, de modo que você tenha noção de espaço e de sua fluidez. Estudar traços rápidos é importante para sua desenvoltura na hora de desenhar. Eles auxiliarão o seu entendimento da visão em relação à sua mão e o lápis. Após realizar os primeiros traços livres, tente copiá-los para você perceber a diferença entre o desenho livre e o desenho por cópia. Figuras 2 e 3 – Tipos de exercícios Crédito: Profartshop/Shutterstock; Adelart/Shutterstock. É importante ficar atento ao seu desenvolvimento durante o desenho. No primeiro momento você está apenas desenhando uma linha imaginária, com desenhos rápidos e fluidos. Ao longo do curso você verá que estaremos observando objetos e as linhas devem sair naturalmente. 1.1 Texturas É possível observar na Figura 3 a formação de padrões e texturas por causa dos traços rápidos e próximos. Mais para frente iremos estudá-los mais aprofundadamente e entender a importância de dominar o traçado com eficiência. TEMA 2 – PRATICANDO RETAS SEM RÉGUA Podemos começar este tema indagando: o que é uma linha reta? A linha reta é a união de pontos, sem curvas ou ângulos. O desenho de observação tem como característica principal a sua fluidez e espontaneidade. Deste modo o seu processo de criação é artístico e sem muitos instrumentos, mantendo a característica humana do traço à mão 5 livre. Ao longo do curso será exercitado o potencial do aluno sem o uso de ferramentas como o esquadro, réguas ou compassos. Para desenhar uma linha reta sem régua é necessário manusear de maneira correta o lápis, de forma que haja espontaneidade. A Figura 4 mostra a maneira correta de manuseio. Figura 4 – Posição Crédito: Irina Zholudeva/Shutterstock. Em uma folha, estabeleça pontos guia para servirem de referência. A margem da folha pode ser um exemplo. Tente desenhar de maneira contínua linhas horizontais, verticais e diagonais. Por exemplo: Figuras 5, 6, 7 e 8 – Linhas Créditos: Magnia/Shutterstock; Magnia/Shutterstock; Fire_Fly/Shutterstock. 6 As linhas nunca são iguais no desenho à mão livre. Há diversos tipos de traços: linhas suaves, em gradação, com pressão, oscilantes e pesadas. E podemos diferenciar no traçado do lápis: com movimentos suaves, deslizando e parando bruscamente, ziguezague, girando e deslizando, e assim por diante. TEMA 3 – EXEMPLOS DE TRAÇOS Com estudo e prática, os artistas, designers e arquitetos desenvolvem suas identidades por meio de seus desenhos. Neste tema veremos alguns exemplos famosos de personalidades que perpetuaram sua arte em seus traços característicos. 3.1 Candido Portinari No Brasil temos como exemplo Candido Portinari, nascido em 1903 em Minas Gerais. Ele retratava em sua arte o Brasil da época, a história dos trabalhadores e a fauna brasileira (Figura 9). Suas técnicas variavam entre pintura, gravura e murais. Esta característica de Portinari é universal em todo tipo de arte – a expressão de um povo, de uma cultura e suas ideias – como esclarece Lara (2011) a respeito da temática carnavalesca de Portinari: As telas de Portinari apresentam tons de brincadeira, espontaneidade, permissividade, que revelam sentidos da festa. Daí ter sido nosso foco nessa investigação. Embora o Brasil não possa ser delineado apenas como país do futebol, do carnaval (samba) e da mulata, porque tais categorias, em si, não são suficientes para descrever um país tão diverso e múltiplo, não há como desconsiderar que essa temática mobiliza muitas pessoas em ações coletivas para que alcancem os objetivos que elegem para si e para o grupo (Lara, 2011, p. 500) A Figura 9 mostra um desenho de Portinari retratando um morador de Brodowski, cidade onde nasceu. 7 Figura 9 – Menino de Brodowski, de Candido Portinari Crédito: Rook76/Shutterstock. 3.2 Leonardo da Vinci Leonardo da Vinci nasceu em 1452, perto de Florença, na Itália. Foi um pintor, cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. Foi um dos maiores nomes do Renascimento e um dos maiores artistas que já existiu. Sua arte transcende gerações e estilos, sempre uma referência universal para toda a humanidade. Figura 10 – Leonardo da Vinci Crédito: Kwirry/Shutterstock. 8 Para expressar suas criações, Da Vinci recorre ao esboço, com desenhos rápidos, denominados croquis. Ele observava a natureza e suas formas para mimetizar suas criações técnicas. Os artistas do Renascimento retratavam o espaço de uma forma realista, e usavam a perspectiva e a geometria para se aproximarem da profundidade e da realidade. O Renascimento foi um dos movimentos que mais influenciaram o período, não só na arte moderna como em áreas científicas, filosóficas, literárias, urbanas, além do comércio. Com a descoberta e sistematização da perspectiva, o desenho passou a ser visto como uma forma de ciência, sendo tratado como tal por muitos artistas e arquitetos desde então. Simon Worrall (2018) um pesquisador da vida e obra de Da Vinci descreve uma característica importante do artista e que deve ser seguida por todos que querem aprender o desenho de observação: “Nas ruas de Florença e de Milão, Da Vinci carregava o seu caderno para todo lado. Esboçava as expressões das pessoas com que se deparava, tentando capturar-lhes as emoções e o que lhes ia no espírito. Isso está bem patente, por exemplo na ‘A Última Ceia’”. Da Vinci foi um exemplo de como o desenho de observação pode ser usado para representação em vários níveis de dificuldade e necessidade. Na Figura 10 podemos ver um de seus desenhos mais famosos, o Homem Vitruviano, que estabelece proporções do corpo humano masculino ideal. 3.3 Pablo Picasso O próximo exemplo é o espanhol Pablo Picasso. Nascido em 1881 em Málaga, foi um dos criadores do Cubismo, um movimento artístico mundialmente famoso por suas obras geométricas e abstratas de caráter moderno. Apesar do nome, este estilo artístico se alimentava da observação do artista. Rocha (1981) descreve o movimento e suas características estéticas: O cubismo consistia em representar pessoas e figuras em formatos de triângulos, cubos e quadrados e buscava a geometria dos motivos representados. Tudo se reduzia a formas geométricas. Picasso monta a imagem em facetas múltiplas e deforma a realidade tal qual a conhecemos, criando figuras que causam estranhamento, comoa representação de uma face, por exemplo, uma metade frontal e outra metade de lado. Tenta-se representar no plano uma figura em três dimensões. 9 Seus desenhos representavam o dia a dia da vida espanhola. Suas obras mais famosas são os quadros Guernica, de caráter político, Les Demoiselles d’Avignon, e Pomba da Paz (Figura 11). Figura 11 – A Pomba da Paz, de Picasso Crédito: Eli_Oz/Shutterstock. 3.4 Michelangelo Michelangelo nasceu em 1475, na Itália, e assim como Da Vinci, foi um dos expoentes do Renascimento italiano. Seus desenhos são reconhecidos mundialmente. Figura 12 – Desenho de Michelangelo Crédito: Aleisha/Shutterstock. 10 Neste momento importante da arte mundial, o Renascimento e Michelangelo retratam com perfeição em suas pinturas, esculturas e obras arquitetônicas as características principais que foram um divisor de águas na arte. Prêto (2016) enfatiza o surgimento da perspectiva como parte principal das obras: Na arte foi criado um sistema de proporções ideais para a arquitetura e para a representação do corpo, e se cristalizou o sistema da perspectiva para a definição da representação bidimensional. O Renascimento associou ainda o idealismo clássico com um intenso interesse pelo estudo científico do mundo natural, produzindo uma arte que era uma generalização universal mal capaz de se deter no particular para descrever caracteres individuais. Ao mesmo tempo, era uma arte de índole ética, pois se considerava possuir uma função social da qual não podia escapar, e almejava, sobretudo, a cura das almas e a instrução do público para a condução da vida pelos caminhos da virtude. Michelangelo foi pintor, arquiteto e escultor. Dentre suas obras principais está “A Criação de Adão”. A Figura 12 retrata um estudo de uma parte da obra, a qual demorou quarenta anos para ser concluída; este detalhe faz parte do afresco Juízo Final, no altar da Capela Sistina. 3.5 Vincent Van Gogh Vincent Van Gogh nasceu na Holanda em 1853, e foi um pintor pós- impressionista com temáticas ligadas à natureza e às pessoas. É possível perceber que o desenho de observação faz parte constante da obra de Van Gogh. A alma do pintor e sua perspicácia de captar o momento sempre estão expressas em sua obra de uma maneira lúdica e ao mesmo tempo profunda. Aur (2017) descreve que o artista e seu grupo exercitavam práticas importantes para um desenho mais preciso; além da observação e da troca de ideias em relação ao trabalho realizado: “Ele e seus amigos pintores posavam uns para os outros em vez de contratar modelos, com a finalidade de economizar despesas. Van Gogh conversava muito e trocava ideias sobre arte e suas obras com outros pintores”. 11 Figura 14 – Girassóis de Van Gogh Crédito: Shirley Ren/Shutterstock. Mais adiante nesta aula vamos praticar a transferência de ideias entre colegas do curso e exercitar o espirito crítico. Ao longo das aulas da disciplina estas atividades vão acontecer de forma recorrente. TEMA 4 – PRATICANDO CÍRCULOS E OVAIS Quando vamos desenhar figuras geométricas, geralmente recorremos a esquadros, compassos e réguas. Os círculos e ovais são as figuras que possuímos mais insegurança na hora de desenhar à mão livre. Isto é natural, pois o percurso da mão deve seguir uma harmonia para chegarmos ao ponto de encontro para fazer curvas corretamente. Devemos lembrar que sem a prática nunca chegaremos ao resultado esperado, por isso vale a pena persistir e não desistir logo nos primeiros desenhos. Evidentemente você não vai usar nenhuma destas ferramentas no nosso curso de DO. 4.1 Desenhando curvas Para praticar círculos e ovais comece desenhando de uma forma livre e despretensiosa, sempre buscando o entendimento do movimento de sua mão. 12 Figuras 15 e 16 – Tipos de ovais e círculos Crédito: Lazerko Art/Shutterstock; Mayrisio/Shutterstock. Não se cobre muito para atingir um desenho perfeito logo nas primeiras tentativas. Você deverá ter paciência e estar consciente de que suas habilidades no desenho serão aprimoradas ao longo do tempo. Figura 17 – Direção de traço Crédito: Rolandtopor/Shutterstock. Divida uma circunferência em quatro partes e faça com atenção cada divisão. Este exercício ajudará seu entendimento das dimensões do círculo. 13 Figura 18 – Divisão para desenhar TEMA 5 – DESENHANDO UM COPO Como vimos anteriormente, o desenho à mão livre tem como característica ser rápido e solto. Gildo Montenegro (2007) descreve esta linguagem da seguinte maneira: A liberdade de traço, a linha solta e rápida, é [sic] essencial e depende fundamentalmente de prática, de muita prática. Recomendamos que o leitor esboce tudo aquilo que está na sua frente: outra pessoa, uma garrafa, um copo, uma cadeira, tudo. A mão livre deve ter também assunto livre. Em qualquer lugar, com qualquer coisa que risque: caneta esferográfica, lápis, um pedaço de carvão, batom etc... Levando em consideração as dicas do autor, faremos o nosso primeiro desenho de observação da aula. Neste exercício colocaremos em prática as técnicas vistas até o momento. 5.1 Desenhando Observe as linhas que constituem o desenho do copo: a perspectiva do ponto de vista em que estamos fazem os círculos se transformarem em ovais, e as linhas retas verticais também ficam inclinadas. A perspectiva nada mais é do que um modo tridimensional de representação. Ela cria uma ilusão de profundidade bidimensional que, neste caso, é o papel. Vamos explicar isso mais aprofundadamente em breve. Vamos começar: • Passo 1: Desenhe de forma despretensiosa e solta as linhas-base do copo que você está observando. Elas o auxiliarão em todo o processo. E 14 não as apague: lembre-se de não fazer linhas muito fortes no começo, pois elas são apenas linhas-base. • Passo 2: Veja se a proporção está aproximadamente parecida com o que você está observando. Sem usar a borracha você pode redesenhar as linhas que estão fugindo da harmonia do desenho. É um desenho rápido e com movimentos de linha; chamamos isso de caráter de croqui. • Passo 3: Tente fazer a textura do copo acompanhando sua geometria. Você já pode começar a treinar as sombras também. Figura 19 – Copos e taças Crédito: Rolandtopor/Shutterstock. • Passo 4: Observe de onde vem a luz e, portanto, a direção da sombra. Uma dica é sempre identificar a fonte principal da luz no ambiente. Com esses quatro passos você deu início ao seu estudo de desenho figurativo e verá que desenhar não é um “bicho de sete cabeças”. Não se esqueça de praticar sempre – todos os dias se possível. TROCANDO IDEIAS O desafio desta seção nesta aula é fazer uma pesquisa sobre os traços de dois artistas. Atenção, não devem ser os mesmos artistas sobre os quais tratamos no Tema 3 desta aula. 15 Após a pesquisa deve haver a troca de informações no fórum da matéria. Tente analisar o traço dos artistas e ser crítico em relação ao tema. Se quiser, avalie a perspectiva e o ponto de observação do artista ao realizar o quadro, suas linhas e formas. Não comente sobre as cores. O fato de você ser um estudante analisando um artista experiente mostrará os pontos aos quais você deve ficar atento quando for buscar desenvolver a sua técnica. Comece a escolher os seus “heróis” do desenho. Espirito crítico, repertório e autoconhecimento são importantes na arte. O texto deve conter no mínimo 200 e no máximo 300 palavras por artista estudado, e tenha em vista a análise dos pontos principais vistos nesta aula. Saiba mais Aqui vão alguns sites confiáveis e ótimos como fontes de referência. Use-os sempre que você estiver pesquisando ou melhorando seu repertório. O Urban Sketchers é um site do movimento que acontece em cidades do mundo inteiro no qual pessoas com estilos, idades e formações diferentes se reúnem para desenharo espaço urbano e suas peculiaridades. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/>. Outra fonte muito democrática e rica em informações é o Google Art & Culture, com diversos temas e notícias sobre o mundo das artes. Possui acervo de obras do mundo todo em alta resolução. Disponível em: <https://artsandculture.google.com/>. NA PRÁTICA Após o exercício de troca de ideias sobre os artistas, você e seus colegas deverão compartilhar os desenhos feitos nos exercícios durante a aula no fórum. A prática consiste na interação e percepção de traços diferentes e comentários construtivos. Parsons (1992) ressalta que a arte é formadora de espírito crítico e tem papel fundamental na construção da comunicação entre os seres humanos: Constatamos, assim, que a arte é necessária para desenvolver o raciocínio visual e perceptivo, para nos referenciar como seres humanos capazes de compreender códigos diferentes de linguagem para além do conceito de beleza. De forma atemporal, a arte comunica, expressa visões díspares e se constitui em área de conhecimento, passível de ser ensinada e apreendida. 16 Deste modo vamos aumentando o nosso repertório sempre indagando os estilos de todas as artes e extraindo os pontos positivos para o próprio estilo de desenhar. FINALIZANDO Agora você já possui um panorama básico sobre o desenho de observação. Você deve juntar as informações da aula e começar a perceber seu estilo. Com a pesquisa proposta aqui você terá uma base de qualidade para tal. Montenegro (2017) explica este conceito da referência nos desenhos: Nada se cria do nada. Veja, leia sobre todos os assuntos; bagagem cultural faz a diferença nesta hora. É possível amplificar pelo subconsciente uma coisa que você propôs através do consciente. Mas a resposta não é imediata; você precisará se alimentar de dados (pesquisas) o consciente. Em algum momento imprevisto, a resposta virá. E não adianta procurar obsessivamente a solução, pois isto perturba o trabalho da intuição. Pesquisando você ficará mais seguro do que está fazendo em seus desenhos e terá uma referência sobre outros artistas, arquitetos e designers. Nesta aula revisamos os pontos principais para você iniciar seus estudos no desenho de observação. Com dedicação e atenção você será capaz de: • Desenhar traços mais precisos; • Entender retas e círculos; • Ter resultados mais satisfatórios em suas criações; • Avançar nas próximas etapas do curso. 17 REFERÊNCIAS AUR, D. Van Gogh: a biografia resumida e as principais obras. Green Me, 26 out. 2017. Disponível em: <https://www.greenme.com.br/viver/arte-e- cultura/5981-van-gogh-biografia-principais-obras>. Acesso em: 26 jul. 2019. FRASÃO, D. Leonardo da Vinci. E-biografia, 11 jun. 2019. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/leonardo_vinci/>. Acesso em: 26 jul. 2019. _____. Pablo Picasso. E-biografia, 25 jul 2019. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/pablo_picasso/>. Acesso em: 26 jul. 2019. _____. Michelangelo: Pintor e escultor italiano. E-biografia, 11 jun. 2019. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/michelangelo/>. Acesso em: 26 jul. 2019. _____. Caravaggio: Pintor e escultor italiano. E-biografia, 29 abr. 2019. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/caravaggio/>. Acesso em: 26 jul. 2019. LARA, L. M. et al. Iconografia das festas populares em Cândido Portinari: sentidos/significados das expressões carnavalescas. Motriz: Revista de Educação Física, vol. 17, n. 3, Rio Claro, jul./set. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?frbrVersion=2&script=sci_arttext&pid=S1980- 65742011000300013&lng=en&tlng=en>. Acesso em: 26 jul. 2019. MOLLIERE, B. A perspectiva em urban skerching: truques e técnicas para desenhistas. 1. ed. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. MONTENEGRO, G. Desenho de projetos. São Paulo: Blucher, 2007. PORTAL PORTINARI. Disponível em: <http://www.portinari.org.br/>. Acesso em: 26 jul. 2019. PRÊTO, A. A obra de Michelangelo. Estúdio Anilton Prêto, 16 jan. 2016. Disponível em: <https://aniltonpreto.com.br/blog/11-historia-da-arte/44-a-obra- de-michelangelo.html>. Acesso em: 26 jul. 2019. ROCHA, A. do A. Pablo Picasso. UOL Educação. Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/biografias/pablo-picasso.htm>. Acesso em: 26 jul. 2019. 18 WORRALL, S. O que faz de Leonardo Da Vinci um génio? National Geographic, 21 nov. 2017. Disponível em: <https://www.natgeo.pt/historia/2017/11/o-que-faz-de-leonardo-da-vinci-um- genio>. Acesso em: 26 jul. 2019. ZYLBERKAN, M. Caravaggio e sua arte de contrastes. Veja, 22 maio 2012. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/entretenimento/caravaggio-e-sua-arte- de-contrastes/>. Acesso em: 26 jul. 2019. DESENHO DE OBSERVAÇÃO AULA 3 Prof. Péricles Varella Gomes 2 CONVERSA INICIAL Para o mundo da arte, do design e da arquitetura, o estilo é importante, afinal, tudo pode ser arte; depende do artista, seu estilo, seu traço e o valor que as pessoas darão para a sua obra. Mas, para isso, é possível destacar artifícios que simplificam a identificação de um desenho como expressivo e criativo, ou feio e sem valor. Nesta aula vamos falar sobre luz e sombra, claro e escuro, e como o domínio destas técnicas nos guiam para um desenho mais expressivo e com tridimensionalidade. A luz e a sombra vão complementar os seus desenhos quando você precisar expressar maior realismo, seja em uma perspectiva de arquitetura para apresentar a um cliente, um objeto inovador de design de produto ou desenho de corpo humano. Domingues (2011) descreve o poder da luz e sombra como um fator não só estético, mas igualmente espacial: “Seria importante entender quão relevante pode chegar a ser a luz na definição de um espaço ou de um objeto. A quantidade de luz que chega sobre a superfície será encarregada de dar profundidade e/ou relevo de dito plano”. Vamos observar uma das obras mais conhecidas de Leonardo da Vinci, A Última Ceia (1498): Figura 1 – Luz e sombra no Renascimento Crédito: Renata Sedmakova/Shutterstock. 3 Podemos perceber que a luz destaca o primeiro plano, dando impressão de profundidade em contraste com a sombra na parte posterior do ambiente. A perspectiva é uma técnica muito usada e aprimorada com o surgimento do Renascentismo. Buchan (2014) descreve o uso desta técnica nas obras de Da Vinci: O chiaroscuro – “luz e sombra” ou, mais literalmente, claro-escuro” – é uma técnica inovadora de pintura do artista Leonardo da Vinci, pintor renascentista do século XV, juntamente com o sfumato. O claro-escuro se define pelo contraste entre luz e sombra na representação de um objeto. Também chamado de perspectiva tonal. A técnica exige um conhecimento de perspectiva, do efeito físico da luz em superfícies, e das sombras, da tinta e de sua matização. CONTEXTUALIZANDO Agora vamos nos aprofundar neste assunto tão importante para o nosso aprimoramento na técnica do desenho à mão livre. O que é a luz e sombra? Qual o seu papel no desenho de observação? O nosso olho percebe fundamentalmente a luz, e, por consequência, as sombras que a luz projeta. Sendo assim, luz e sombra, ou claro-escuro, são fundamentais para a beleza e volumetria desejada no desenho. Figura 2 – Luz e sombra nas faces Crédito: Pericles Varella Gomes. A nossa capacidade de observar e traduzir para o papel o que estamos vendo é a parte mais importante deste artifício. Conheça os tipos de traçado para fazer o efeito de luz e sombra: Figura 3 – Sombreamento plano 4 Crédito: phloxii/Shutterstock. Figura 4 – Sombreamento de linha Crédito: Irmun/Shutterstock. Figura 5 – Sombreamento por trama Crédito: Alena Nikifarava/Shutterstock. Ao longo da aula vamos entender melhor o conceito do chiaroscuro, estudar texturas, fazer exercícios e aumentar o seu repertórioartístico. TEMA 1 – CLARO-ESCURO NA ARTE E NA FÍSICA O claro-escuro ou chiaroscuro, em italiano, define a técnica do contraste em um desenho; contrastes de luz e sombra representados por tons de uma cor que vão do mais escuro para o mais claro, demonstrando a posição e dimensão no papel do objeto. https://www.shutterstock.com/pt/g/phloxii 5 Domingues (2011) faz uma descrição breve do que representa o claro- escuro: Quando se fala em claro-escuro o definimos como as relações de luz e sombra que podem existir no plano, em um objeto ou em um espaço. Busca-se precisamente o contraste do claro-escuro, para dar tridimensionalidade, ou melhor dito dar a ilusão de volume, à representação de um espaço qualquer: a passagem gradual da luz e a sombra será a encarregada de potenciar essa terceira dimensão, dar profundidade ao que se vê como plano e lhe outorgar uma particular qualidade espacial. Figura 6 – A luz e sombra nas faces Crédito: MarinaSM/Shutterstock. Há diversos pontos a se atentar nesta técnica. Não basta olhar apenas para os pontos mais escuros; deve-se perceber o brilho, ou seja, a área que não será pintada, representando maior concentração da luz, meio-tom, sombra, luz refletida e sombra projetada, e assim você terá um ponto de referência. Vamos usar um exemplo real para você entender a importância da luz e sombra em nossas vidas. Veja a fotografia da Lua a seguir e tente perceber como a luz solar e as sombras são vitais na percepção de sua esfericidade. 6 Figura 7 – A Lua e suas sombras Crédito: djsknat/Shutterstock. Vamos entrar um pouco mais em detalhes nos elementos que compõem o claro escuro. Você deve analisar atentamente a próxima figura e perceber as diferentes luzes e sombras que existem na cena. Figura 8 – Demonstração prática de luzes e sombra numa esfera 1.1 Treinando os olhos Para você dominar a representação da luz e sombra, não é necessário apenas saber desenhar. É fundamental conseguir observar a fonte da luz incidente nas faces, ou de nada adiantará um traço correto. Nogueira (2018) descreve a percepção da sombra ao se observar o ambiente como técnica para criar uma ilusão de terceira dimensão, ressaltando a importância de saber olhar: A luz e sombra é a parte do acabamento mais importante, não dá para você imaginar um objeto finalizado se este não tiver luz e sombra. Antes de desenhar a luz e as sombras que você vê, você precisa treinar seus olhos para ver como um artista. Os valores são os diferentes tons de 7 cinza entre o branco e o preto. Os artistas usam valores para traduzir a luz e as sombras que veem em sombreamento, criando assim a ilusão de uma terceira dimensão. Você deve observar como os diferentes tons estão contrastando em um objeto, para que tenha sempre a referência de um para o outro. Desenhar é sempre um apoio da referência que você identifica. Seja na proporção, texturas ou sombras, cada camada e setor do desenho exige um pensamento diferente. TEMA 2 – EXERCÍCIO DOS 7 TONS DE CINZA Existem inúmeros meios de começar a exercitar a prática da luz e sombra. Um dos primeiros exercícios é o que ilustra nuances tonais e conduz ao entendimento da intensidade que deve ser aplicada para chegar ao resultado almejado ou o material mais correto. No exercício “7 tons de cinza”, vamos dividir uma folha em 3 linhas horizontais e 3 linhas verticais: Figura 9 – Divisão para o exercício Na figura você pode ver como dividir a folha e ter uma noção da separação que irá se transformar em tons iguais e diferentes gradativamente. Aqui estaremos exercitando a luz e sombra sem observar nada ao nosso redor. Vamos entender a lógica desta técnica: 8 Figura 10 – 7 tons de cinza Crédito: Pericles Varella Gomes. Começando pelo retângulo número 1, que será o mais claro (deixe-o em branco), observa-se que ele será nosso ponto de referência para o próximo, e assim por diante. Este exercício mostra como você pode diferenciar os tons: apertando com mais força o lápis contra o papel, com mais ou menos velocidade, e o número de vezes em que você passa o lápis em cima do mesmo quadrante ou usando lápis diferentes (4B, 6B etc.). Figura 11 – Exemplo de “7 tons de cinza” finalizado Na Figura 11 temos o exemplo do exercício realizado por um aluno de Desenho de Observação. É possível perceber os locais em que foi aplicada mais força e a preocupação do estudante em manter a mesma tonalidade dos retângulos transversais e diferenciar o seguinte. TEMA 3 – ANALISANDO UM RENASCENTISTA O Renascimento foi um período na história que desenvolveu produções em diferentes dimensões na sociedade humana. Foi um movimento cultural, 9 intelectual e artístico, que surgiu na Itália no século XIV, quando o homem se desvencilhava do “divino”, tendo uma visão mais antropocêntrica. As artes foram desenvolvidas e muito do que consumimos hoje é consequência dos avanços do Renascimento. Buchan (2014) nos conta um pouco da peculiaridade deste período: O Renascimento foi repleto de inovações técnicas no campo artístico. A observação direta da realidade é uma delas. Assim, os artistas costumavam desenhar exaustivamente para melhor representarem em suas pinturas e esculturas aquilo que estava diante deles. Outras invenções importantes foram a pintura de cavalete (com a utilização de uma tela colocada sobre esse suporte), e o aprimoramento e uso popularizado da tinta a óleo (mistura de pigmentos com óleos vegetais), pois permitiram tanto o deslocamento e comercialização das obras quanto uma maior vivacidade nas cores e efeitos mais realistas nas pinturas. Além disso, os artistas, antes anônimos, passaram a ser valorizados pela sociedade. Com isso, teve início a prática do autorretrato, que podemos comparar, em menores proporções, com as atuais selfies. 3.1 Exercício de análise de luz e sombra em Veermer Vamos agora analisar uma obra clássica para entender melhor como estes conceitos de luz e sombra foram utilizados pelos grandes mestres da pintura. O quadro a óleo de Vermeer ilustra bem as dinâmicas importantes que luz e sombra imprimem quando se busca realismo e profundidade: Figura 12 – Claro-escuro na obra de Vermeer Crédito: Johannes Vermeer (1632–1675)/CC-PD. Perceba no rosto da jovem retratada que a luz vem da esquerda para a direita, quase horizontalmente, dando-lhe um caráter dramático. As sombras resultantes valorizam a volumetria e a beleza do rosto e das cores. Olhando com mais cuidado, vemos que o nariz e a testa são as partes mais iluminadas. O nariz tem sombras próprias, sem as quais não seria tão 10 perceptível a sua beleza. Veja também que o queixo passa a ter um volume bem definido graças ao efeito da luz e sombra. O brinco da jovem está na parte escura do rosto, e ficou bastante realçado pelas sombras deste lado. Existe um reflexo (uma contraluz) que imprime um volume sutil no rosto em volta do brinco. O pano azul da cabeça também se beneficia das luzes e sombras para obter uma volumetria muito expressiva. Os olhos são particularmente expressivos, em grande parte pela volumetria dos globos oculares, graças à luz e sombra. Finalmente, o fundo preto do quadro valoriza tremendamente a composição da cena, completando-a de forma magistral. De agora em diante, observe, desenhe e também fotografe sempre tentando valorizar estes aspectos de luz e sombra. Você se surpreenderá como suas imagens começarão a ter vida própria. TEMA 4 – TEXTURAS NA TEORIA E NA PRÁTICA O desenho exige um tratamento gráfico de superfície e planos. A textura deve ser trabalhada para tornar o desenho mais elegante, enfatizar a perspectiva e definir os materiais que compõem o objeto sendo desenhado. As texturas representam superfícies, porque todo objeto, plano ou face possui uma textura, seja um tijolo, pedra, madeira, concreto,vidro ou mármore. Usamos as texturas para dar efeitos de: • Iluminação; • Reflexão; • Curvatura e arestas; • Escala e proporção; • Especificar madeira, plástico, metal, pedra etc. A textura é mais um meio de identificar melhor os elementos em um desenho. Os artistas usam este artifício para expressar planos e meios diferentes dando mais personalidade ao desenho e maior entendimento ao observador de sua arte. Domingues (2011) relata que a textura bem-feita potencializa o valor artístico da obra, sendo um meio de comunicação complementar, nunca estando sozinho: 11 É claro que essas variáveis instrumentais não devem se confundir com a expressão formal do desenho, senão que devem ser utilizadas como intenção da mensagem de materialização que o desenhista pretende transmitir através do seu croqui; tais texturas e efeitos possuem características da máquina: não são avaliadas em si mesmas e sim a partir de sua aplicação estimada como valor acrescentando ao desenho. Figura 13 – Texturas Crédito: jumpingsack/Shutterstock. A textura dá características reais a um desenho, e faz com que possam ser identificados os vários planos. O croqui tem a função de transferir ideias, traduzir pensamentos e expressar inúmeras coisas, e a textura levará o artista a atingir este objetivo com mais facilidade. Inclusive a ausência de textura pode significar algo que o artista quer transmitir. Mas quais são os tipos de textura? Existem infinitos estilos, mas vamos separar alguns que ajudam na percepção visual do desenho: • Rugosos ou lisos; • Duros ou macios; • Leves ou pesados; • Brilhante ou foscos; • Transparentes ou opacos; • Homogêneos ou heterogêneos; • Toscos ou sutis. 12 4.1 Desenhando texturas Agora que você já sabe a importância e o valor da textura, vamos fazer exercícios simples: em uma folha de papel separe alguns quadrantes para desenhar. Figura 14 – Texturas Crédito: Haryadi CH /Shutterstock. Olhe ao seu redor e transfira para o papel as texturas que estão no entorno. Tente fazer isso olhando para as faces de objetos. Perceba como cada um possui texturas diferentes e a luz e a sombra também influenciam de maneira diferente. Você pode também pegar a folha em que está desenhando e colocar em cima de uma face com textura protuberante e pintar por cima. Você verá como o desenho resultante traduz a real textura. TEMA 5 – PRIMEIRO TRABALHO ARTÍSTICO Como vimos, a luz e a sombra atribuem valor gráfico ao desenho, e, portanto, enriquecem a percepção e aumentam a ideia de tridimensionalidade. Neste exercício vamos olhar para a seguinte figura: 13 Figura 13 – Volumes Crédito: Pericles Varella Gomes. 5.1 Desenhando sombras e texturas Olhando a figura acima, descubra qual a direção da fonte de luz que incide nas faces dos volumes. Perceba que há uma fonte principal que proporciona um contraste bem definido. Aqui vai um checklist: • Direção da luz; • Comece fazendo o esboço das formas (lembre-se de quando vimos círculos, ovais e retas); • Após o esboço, lembre-se das texturas; • Sempre faça contornos leves e sem força; a luz e sombras são feitas gradativamente com a repetição em cima do que já está desenhado. Você verá que seu desenho tomará forma. Não hesite em fazer mais de uma vez se achar que não ficou bom. Tente fazer uma versão igual à foto (objetos lisos de gesso). Depois, tente fazer cada objeto de um material diferente (madeira, plástico, metal, tecido etc.). NA PRÁTICA Agora você deverá escolher um objeto qualquer de sua casa. Pode ser uma maçã, um vaso, um móvel ou a sua própria mão. Desenhe este objeto utilizando o que aprendeu nesta aula. Apague ou acenda luzes diferentes no ambiente em que você estiver desenhando. Use uma 14 janela como luz principal. Deixe o objeto parado e faça mais de um desenho com fontes de luzes diferentes. Assim você aprenderá como a luz e as sombras podem mudar a sua percepção do desenho. TROCANDO IDEIAS Após o exercício anterior, compartilhe seu desenho com os colegas no fórum. Compartilhe também suas experiências e dúvidas; você verá que todos possuem dificuldades em comum e a prática da crítica saudável ajuda a desenvolver a sua autocrítica. Não se compare com os outros, todos possuímos velocidades diferentes de aprendizagem, mas com foco e dedicação, os resultados serão surpreendentes. FINALIZANDO Após ter realizado esta aula com atenção e ter feito todos os exercícios, você estará pronto(a) para aperfeiçoar suas técnicas de desenho de observação, mas não deixe de continuar estudando e treinando esses exercícios ao longo do curso. Em breve você perceberá o quanto a luz e a sombra aumentam a qualidade artística de seus desenhos, trazendo um resultado muito mais satisfatório. Não deixe de pesquisar e observar grandes artistas e suas obras, percebendo como eles aplicam os artifícios que você está aprendendo neste curso. 15 REFERÊNCIAS BUCHAN, S. Claro e escuro (chiaroscuro). Disponível em: <https://www.fotografia-dg.com/claro-e-escuro-chiaroscuro/>. Acesso em: 6 maio 2019. DOMINGUES, F. Croquis e perspectivas. Porto Alegre: Nobuko, 2011. GOMES, P. V. Os dez mandamentos na avaliação do desenho de observação. Disponível em: <http://designunibrasila.blogspot.com/2010/03/os- dez-mandamentos-na-avaliacao-do.html>. Acesso em: 6 maio 2019. MOLLIERE, B. A perspectiva em urban skerching: truques e técnicas para desenhistas. 1. ed. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. MONTENEGRO, G. Desenho de projetos. São Paulo: Blucher, 2007. NOGUEIRA, L. Luz e sombra. Disponível em: <https://desenhetudo.blogspot.c om/p/luz-e-sombra.html>. Acesso em: 6 maio 2019. OLEQUES, L. C. Renascimento. Disponível em: <https://www.infoescola.com/ movimentos-culturais/renascimento/>. Acesso em: 6 maio 2019. ZAGONEL, B; DORIA, L.; DIAZ, M. Metodologia do ensino em artes. Curitiba: InterSaberes, 2014. DESENHO DE OBSERVAÇÃO AULA 4 Prof. Péricles Varella Gomes 2 CONVERSA INICIAL A capacidade de representar objetos e cenas tridimensionais numa folha de papel parece magia para muitos. Ao dominar a técnica da perspectiva, você poderá fazer desenhos muito realistas e rápidos que podem comunicar de forma significativa aquilo que enxerga e também suas novas ideias. Antes de iniciarmos o estudo da perspectiva, observe a fotografia a seguir e perceba como ela transmite uma ilusão de profundidade e de realismo. Figura 1 – Exemplo de profundidade Fonte: Acervo do autor. Nesta imagem, os elementos que se repetem (postes e faixas no meio) estão posicionados de tal forma que você consegue ser o motorista da cena. O ponto de observação, portanto, é um aspecto fundamental no desenho em perspectiva; é o mesmo que tirar uma foto da cabina de um carro, olhando para a estrada em direção ao infinito. Nesta aula, vamos apresentar a teoria e a prática do desenho em perspectiva, entendendo linha do horizonte, pontos de fuga e como distintos pontos de observação geram diferentes pontos de fuga, criando uma sensação 3 de profundidade em desenhos. Vamos também estudar as diferenças entre os tipos de perspectiva disponíveis ao desenhista. CONTEXTUALIZANDO Com certeza você já ouviu falar de objetividade e subjetividade na vida. O mesmo ocorre quando falamos de perspectiva. Essencialmente, podemos desenhar uma cadeira, por exemplo, usando métodos precisos, até recorrendo a uma régua para marcar as medidas em escala. Esse desenho é totalmente objetivo, na medida em que serve como projeto para quem quiser construir a cadeira. Uma segunda forma de representar a cadeira é desenhá-la como o olho humano a enxerga. Nosso olho percebe o mundo em três dimensões, como se fosse uma câmera fotográfica, e assimdeforma a imagem, fazendo com que coisas idênticas pareçam menores à medida que se afastam do ponto de observação. Os postes da estrada da Figura 1 provam isso: quanto mais longe estão, menores eles aparecem. As figuras 2 e 3, a seguir, comparam os dois tipos de perspectiva. Confira e acompanhe os comentários na sequência. Figura 2 – Cadeira geométrica – objetivo (em escala) Crédito: Attaphong / Shutterstock. 4 Figura 3 – Cadeira artística – subjetivo (olhar humano) Fonte: Les Perysty / Shutterstock. Veja como a cadeira da Figura 2 tem objetividade, mantendo o paralelismo entre os elementos que a compõem. Já a da Figura 3 revela um caráter mais artístico e, portanto, mais subjetivo. A cadeira geométrica usa a perspectiva axonométrica cilíndrica isométrica, já a cadeira artística possui uma perspectiva cônica ou linear (com pontos de fuga e linha do horizonte). Vamos estudar nesta aula essa modalidade de desenhar, ou seja, desenhar aquilo que de fato enxergamos a olho nu. Você percebe algumas diferenças, talvez sutis, entre os dois tipos de perspectiva. O desenho expresso pela Figura 2 (feito sem pontos de fuga e linha do horizonte) possui um caráter técnico e pode ser usado para medir os tamanhos no próprio desenho; no entanto, não enxergamos a cadeira dessa forma. O desenho da Figura 3, feito sem régua, representa a forma como de fato vemos tal objeto. Tente perceber as diferenças entre as duas maneiras de representação. Para facilitar esse exercício, vamos analisar duas imagens diferentes de um mesmo projeto, usando as formas de perspectiva mencionadas. Você percebe na Figura 4 que todas as linhas apresentam paralelismo em três direções distintas; não existe nenhuma deformação, mesmo nas linhas verticais. Isso é bastante utilizado em jogos digitais, tais como os Sims, ou para representar móveis e casas. 5 Figura 4 – Perspectiva axonométrica e paramétrica Trata-se de um modo interessante de representar espaços e objetos, e pode ser feito com esquadros ou também à mão livre. Mas não vamos usar essa técnica em nossa aula. Já na Figura 5 você consegue perceber como as deformações agora aparecem nesse tipo de perspectiva? As arestas que estão mais longe ficam menores, portanto as linhas parecem convergir para algum lugar. Figura 5 – Perspectiva cônica (com pontos de fuga) Esses pontos no infinito (na maioria das vezes, na linha do horizonte) são os pontos de fuga. TEMA 1 – TEORIA E PRÁTICA DA PERSPECTIVA Você provavelmente já visitou museus ou já teve algum contato com desenhos incríveis de paisagens urbanas, automóveis e mobiliários que 6 parecem reais, ainda que sejam feitos à mão livre. Quando um desenho possui qualidade de croquis, o desenhista usou a técnica da perspectiva cônica, com pontos de fuga e linha do horizonte (Figura 6). Esta será nossa principal atividade nesta aula: saber desenhar de forma rápida, usando de forma intuitiva o nosso olho, tentando se concentrar ao máximo na cena que se apresenta. Figura 6 – Croquis de paisagem com dois pontos de fuga Você deverá criar desenhos que representam de forma eficaz e elegante a cena em questão. A teoria e a prática do desenho em perspectiva não são difíceis, e, com um mínimo de esforço, qualquer pessoa pode desenhar bem, desde que use dois princípios do desenho de observação: linha do horizonte e ponto de fuga. Agora vamos marcar a linha do horizonte e o ponto e fuga numa imagem – a Figura 7 será útil para fazermos esse exercício. Note que a fotografia foi feita quase no topo do hotel em Las Vegas. Perceba que a linha do horizonte (marcada em amarelo) está bem aparente. Observe também que a imagem tem apenas um ponto de fuga. As linhas em vermelho convergem para o ponto de fuga, que está situado na linha do horizonte (LH). 7 Figura 7 – Linha do horizonte, em amarelo, e um ponto de fuga, em vermelho (linhas convergem para o horizonte) Fonte: Acervo do autor. Pronto! Com esses dois princípios, fica fácil desenhar bem a cena em questão. Vamos, então, explicar cada um deles separadamente. TEMA 2 – LINHA DO HORIZONTE A linha do horizonte é muito fácil de ver e de fotografar. Veja na Figura 8 uma vista panorâmica da cidade de São Paulo que, observada do alto, tem um caráter de imensidão. E a linha do horizonte está presente, ao longe, definindo basicamente o fim da terra e o inicio do céu. Quanto maior for a altura de quem vê, mais terra ele avista. Perceba na foto que a linha do horizonte é meio irregular – pois há montanhas no horizonte –, mas mesmo assim ela está lá. A partir de agora, você terá que marcar essa linha quando for desenhar qualquer coisa: uma cidade, uma praia, uma cadeira ou uma casa. Mas por quê? Por razões simples: ela define o enquadramento do desenho no papel, estabelece um ponto de partida para o croqui e facilita a vida no sentido de depois fazermos os pontos de fuga e tudo o mais que irá compor o desenho. De agora em diante, linha do horizonte em primeiro lugar! 8 Figura 8 – Linha do horizonte e o Edifício Itália, em São Paulo Fonte: Acervo do autor. Quando viajamos, gostamos muito de fotografar as paisagens que visitamos. Nessas fotos, a linha do horizonte sempre está presente, mesmo que não demos conta dela. Ao irmos à praia, ela também está lá: fica onde o céu se encontra com o mar (Figura 9). A mais fácil definição de linha do horizonte, portanto, é: LH: onde o céu encontra a terra (ou o mar). A linha do horizonte está presente em tudo. Quando olhamos da janela de um avião, pode até parecer uma linha curva (depende da altitude); já quando estamos numa cena urbana, ela fica meio enrustida. Mas lembre-se da definição oficial da LH: é sempre a altura do olho do observador. 9 Figura 9 – Horizonte é sempre a altura do olho do observador Fonte: Acervo do autor. Vejamos o último exemplo de linha do horizonte para reforçar o entendimento. Na Figura 10, temos uma típica cena de rua, em que a linha do horizonte está bem escondida, daí a importância de a definição estar bem memorizada na mente do artista para não se perder no início do processo de estruturação da cena. Figura 10 – Cena urbana Fonte: Acervo do autor. 10 TEMA 3 – PONTOS DE FUGA Agora, vamos aprender a usar os pontos de fuga, que são muito importantes para estruturar os croquis. Eles podem ser definidos como: linhas paralelas no mundo real convergem para pontos de fugas. O conceito pode parecer complicado, mas na prática e de forma intuitiva você já sabe disso. Numa rua com árvores e postes iguais, à medida que estes se afastam de você, parecem ficar menores, ainda que sejam do mesmo tamanho. Portanto, a impressão é a de que estão “fugindo de você”, metaforicamente falando. Esse efeito acontece sempre que em um desenho elementos iguais se repetem na cena: janelas iguais em um prédio, cadeiras iguais em uma sala de aula, e assim por diante. Vamos ilustrar esse conceito com um exemplo bem eloquente. A Figura 11 apresenta elementos iguais, mas que, fotografados, parecem que vão diminuindo na imagem. Figura 11 – Elementos iguais parecem convergir para um ponto (de fuga) Crédito: Hanna Alandi / Shutterstock. 3.1 Desenho com apenas um ponto de fuga… no horizonte! Como já sabemos o que seja um ponto de fuga, vamos agora ver um desenho esquemático que usa tal conceito na prática. A seguir você pode perceber esse princípio com mais precisão (Figura 12), usado para representar um espaço externo. A linha do horizonte está marcada em azul e define a localização do ponto de fuga. 11 Figura 12 – Exemplo de desenho com apenas um ponto de fuga Lembre-se de que arestas paralelas entre si no espaço tridimensional parecem convergir para um mesmo ponto. Veja também que as janelas iguais,
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