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Autores: Profa. Claudia Regina Cortez Prof. Jefferson Rodrigues de Sousa Colaboradores: Profa. Vanessa Santhiago Prof. Luiz Henrique Cruz de Mello Esportes Individuais Professores conteudistas: Claudia Regina Cortez / Jefferson Rodrigues de Sousa Claudia Regina Cortez É mestre em Educação pelo Centro Universitário Salesiano (Unisal). Possui Pós‑Graduação em Handebol pela Universidade de São Paulo (USP) e Educação Física Infantil pela Universidade Metropolitana de São Paulo (Unimesp). Ex‑atleta de handebol, atuou pela Seleção Paulista e pela Seleção de Guarulhos de 1983 a 1995. Possui inúmeros títulos de campeã paulista de handebol e dos Jogos Regionais e Abertos de Handebol e foi vice‑campeã brasileira. É docente desde 2009 na UNIP, atuando nos cursos de Educação Física e Biomedicina. Sua área de especialidade abrange o ensino dos jogos esportivos coletivos e individuais durante o processo de iniciação esportiva, na qual tem produzido e orientado diversos trabalhos com o ensino dos esportes. Jefferson Rodrigues de Sousa É mestre em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2012). Possui pós‑graduação em Educação Física Escolar (2007) e Metodologia do Treinamento do Voleibol (2020) e graduação em Educação Física pela Universidade Cruzeiro do Sul (2005). É docente desde 2013 na UNIP, atuando no curso de Educação Física. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C828e Cortez, Claudia Regina. Esportes Individuais / Claudia Regina Cortez, Jefferson Rodrigues de Sousa. – São Paulo: Editora Sol, 2023. 116 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517‑9230. 1. Esporte individual. 2. Modalidade. 3. Formação. I. Cortez, Claudia Regina. II. Sousa, Jefferson Rodrigues de. III. Título. CDU 796 U517.26 – 23 Profa. Sandra Miessa Reitora Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração e Finanças Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora das Unidades Universitárias Profa. Silvia Gomes Miessa Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal Profa. Laura Ancona Lee Vice-Reitora de Relações Internacionais Prof. Marcus Vinícius Mathias Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária UNIP EaD Profa. Elisabete Brihy Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. M. Deise Alcantara Carreiro Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Lucas Ricardi Louise de Lemos Caio Ramalho Sumário Esportes Individuais APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 HISTÓRIA DO ESPORTE .....................................................................................................................................9 1.1 Histórico dos esportes individuais no Brasil .............................................................................. 12 1.2 Esporte educacional, esporte‑participação e esporte de rendimento ............................ 15 2 CARÁTER COMPETITIVO E NÃO COMPETITIVO ..................................................................................... 17 2.1 Esportes individuais nas escolas e clubes ................................................................................... 19 2.1.1 Divisão em categorias dos esportes na BNCC Educação Física............................................ 20 2.2 Órgãos oficiais de representação dos esportes individuais ................................................. 24 3 ESPORTES INDIVIDUAIS ................................................................................................................................ 26 3.1 Esportes individuais aquáticos ........................................................................................................ 27 3.1.1 Natação ....................................................................................................................................................... 28 3.1.2 Saltos ornamentais ................................................................................................................................ 31 3.1.3 Nado sincronizado .................................................................................................................................. 31 3.1.4 Maratona aquática ................................................................................................................................. 32 3.2 Esportes individuais terrestres ........................................................................................................ 33 3.3 Esportes individuais aéreos .............................................................................................................. 34 3.3.1 Balonismo .................................................................................................................................................. 35 3.3.2 Paraquedismo ........................................................................................................................................... 36 3.4 Esportes individuais de menor expressão ................................................................................... 36 4 DIVISÃO DOS ESPORTES INDIVIDUAIS .................................................................................................... 38 4.1 Esportes individuais de rede ............................................................................................................ 39 4.1.1 Equipamentos, instalações e regras básicas ................................................................................ 39 4.2 Esportes individuais de parede ....................................................................................................... 40 4.2.1 Equipamentos, instalações e regras básicas ................................................................................ 40 4.3 Esportes individuais de campo e taco ......................................................................................... 41 4.3.1 Equipamentos, instalações e regras básicas ................................................................................ 42 4.4 Esportes individuais de precisão .................................................................................................... 44 4.4.1 Equipamentos, instalações e regras básicas ................................................................................ 46 4.5 Esportes individuais de marca......................................................................................................... 49 4.5.1 Equipamentos, instalações e regras básicas ................................................................................ 52 4.6 Esportes individuais de combate ................................................................................................... 53 4.6.1 Equipamentos, instalações e regras básicas ................................................................................55 4.7 Esportes individuais técnico‑combinatórios ............................................................................. 57 4.7.1 Equipamentos, instalações e regras básicas ................................................................................ 59 Unidade II 5 FATORES DE DESEMPENHO ......................................................................................................................... 69 5.1 O treinamento a longo prazo e as modalidades esportivas individuais ........................ 70 5.1.1 O processo de adaptação ao treinamento em esportes individuais .................................. 72 5.2 Adaptações a longo prazo ................................................................................................................ 74 5.2.1 Variáveis que determinam a adaptação de longo prazo ........................................................ 75 5.2.2 Variáveis que determinam a adaptação anual ........................................................................... 76 6 O AMBIENTE DE DESENVOLVIMENTO DO TALENTO ESPORTIVO NAS MODALIDADES ESPORTIVAS INDIVIDUAIS ............................................................................................................................... 78 6.1 Tipos de competições de esportes individuais .......................................................................... 78 6.1.1 Fundamentação das competições em esportes individuais .................................................. 80 6.1.2 Calendário esportivo ............................................................................................................................. 82 6.1.3 Definição do local da competição ................................................................................................... 83 7 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E MOTORAS PREDOMINANTES NAS DISTINTAS MODALIDADES ESPORTIVAS INDIVIDUAIS ............................................................................................................................... 84 7.1 Classificação unidimensional de habilidades ............................................................................ 84 7.1.1 Características motoras: aquisição do comportamento motor ideal de acordo com o tipo de modalidade ............................................................................................................................. 86 7.1.2 Características físicas: qualidades de base e especiais ............................................................ 87 8 ESTRUTURA FÍSICA E MATERIAIS PARA A PRÁTICA DAS DISTINTAS MODALIDADES ESPORTIVAS INDIVIDUAIS ............................................................................................................................... 89 8.1 Modalidades esportivas ..................................................................................................................... 90 8.1.1 Pontos importantes a serem levados em consideração .......................................................... 91 8.2 Estrutura de jogo .................................................................................................................................. 92 8.2.1 Programas de desenvolvimento das modalidades esportivas individuais ....................... 92 8.2.2 Implicações pedagógicas e formação esportiva: iniciação e especialização.................. 95 8.2.3 Ensino por meio dos jogos .................................................................................................................. 96 8.2.4 Papéis do professor e do aluno no processo ensino‑aprendizagem‑treinamento dos esportes ......................................................................................................................................................... 97 7 APRESENTAÇÃO É indiscutível que estamos lidando com um tema importantíssimo para a cultura humana e o seu desenvolvimento. O esporte é um fenômeno sociocultural de múltiplas possibilidades e de grande importância para a humanidade. Por esse motivo, a sua compreensão é muito importante para as pessoas, especialmente para aquelas que se interessam por estudos relacionados a seu desenvolvimento. Este livro‑texto tem como intuito auxiliar o aluno no estudo dos esportes individuais como um fenômeno político, social e cultural, enfatizando as diferentes abordagens teórico‑metodológicas de ensino do esporte individual e suas fases de iniciação, aperfeiçoamento e especialização. É importante instrumentalizar o aluno a aplicar conhecimentos sobre o conceito e as abordagens teóricas em pedagogia do esporte relacionados ao desenvolvimento motor individual, com ênfase nas ações motoras envolvidas na execução dos elementos básicos dos esportes. Deve‑se mostrar o esporte como expressão da cultura, assim como suas implicações para o ensino das modalidades esportivas individuais, conceitos sobre competição e detecção de talentos esportivos, elementos e estrutura de organização dos esportes individuais, aspectos didático‑pedagógicos e metodológicos associados ao ensino dos esportes individuais e, ainda, a organização de atividades de ensino dos esportes individuais. Também é fundamental capacitar o professor de educação física formado pela UNIP a conhecer e saber utilizar os esportes individuais como um instrumento da educação física escolar, explorando suas possibilidades sociais e educacionais, refletindo sobre o assunto e também conhecendo e vivenciando os esportes individuais enquanto prática social e educativa inserida no contexto escolar e não escolar no que se refere aos seus aspectos pedagógicos e metodológicos básicos. INTRODUÇÃO Esta disciplina tem o objetivo de destacar o estudo do esporte como um fenômeno social, cultural e político, apresentando as abordagens teórico‑metodológicas de ensino dos esportes individuais. Ainda, pretende demonstrar os procedimentos didático‑pedagógicos nas fases de iniciação e aperfeiçoamento do treinamento técnico e tático dos esportes individuais e suas diferentes classificações. Cabe salientar que o conteúdo a ser abordado tentará provocar indagações acerca da atuação do professor de educação física e de como ele pode se utilizar de todos esses conteúdos para propor a seus educandos práticas de atividades físicas e esportivas (Afes) utilizando os esportes individuais. Com esse propósito, na unidade I, incialmente, faremos uma explanação histórica da prática dos esportes individuais e sua importância na história e falaremos sobre as questões relacionadas à prática dos esportes em seus diferentes segmentos (educação, qualidade de vida e saúde e alto rendimento), tentando elucidar o papel da iniciação esportiva no âmbito escolar e em outros segmentos esportivos. Ainda na unidade I, falaremos sobre os órgãos oficiais de representação dos esportes individuais, equipamentos, instalações, regras básicas, espaços físicos e materiais adequados para a prática dos esportes individuais. Para finalizar a unidade, daremos ênfase às diferentes classificações usadas para os esportes individuais, que são divididos por objetivos e formatos de disputa diferenciados. 8 A unidade II começa com o treinamento a longo prazo e as modalidades esportivas individuais da iniciação esportiva e chega até o esporte de rendimento, passando pela formação do ambiente propício à formação do talento esportivo nas modalidades esportivas individuais, pelas características físicas e motoras predominantes nas distintas modalidades, bem como pela estrutura física e pelos materiais para a prática das distintas modalidades esportivas individuais. Terminamos a unidade salientando a estrutura de jogo, elucidando os diferentes programas de desenvolvimento das modalidades esportivas individuais, as implicações pedagógicas e a formação esportiva (iniciação esportiva e especialização esportiva). Desse modo, pretende‑se levar o aluno a compreender os aspectos conceituais e estruturais do desporto individual e suas aplicações na escola e no segmento não escolar, paraque ele possa refletir e analisar as diversas abordagens metodológicas aplicadas ao ensino das modalidades individuais e com isso entender o processo de aprendizagem das modalidades individuais de forma interdisciplinar. Diante do exposto, esperamos que você possa aproveitar o conteúdo deste livro‑texto e que ele auxilie e contribuía para a sua formação acadêmica. Bons estudos! 9 ESPORTES INDIVIDUAIS Unidade I 1 HISTÓRIA DO ESPORTE O esporte tem o poder de inspirar. Tem o poder de unir as pessoas. Fala aos jovens em uma linguagem que eles entendem. O esporte pode criar esperança onde antes só havia desespero. Nelson Mandela O esporte é um fenômeno cultural e social que tem papel de influenciar a sociedade e ser influenciado por ela. Muitas vezes suas problemáticas se refletem na sociedade, e a cada dia ele se apresenta socialmente como uma parte importante do mundo, revelando uma inter‑relação com o cotidiano familiar e com valores políticos, educacionais, econômicos, artísticos e religiosos. Se aprofundarmos nossos conhecimentos acerca do esporte, podemos fazer com que mais praticantes venham a se beneficiar dos aspectos positivos que a sua prática é capaz de oferecer. O surgimento do esporte remonta à Antiguidade, sendo a sociedade grega seu referencial. Os exercícios físicos assumiram uma finalidade educativa pelos gregos de Atenas. Lá, o que prevalecia na formação de um atleta era o físico robusto e ágil, já que para os gregos o corpo era o essencial. Tal herança dos primórdios da humanidade permanece viva atualmente. Os Jogos Olímpicos são a maior competição do planeta e conferem aos vencedores status social e reconhecimento pela sua vitória, além de premiação. Na atualidade, o esporte tem várias versões e abordagens. Isso faz parte de seu aspecto competitivo e profissional. Num sentido lúdico e participativo, é uma atividade destinada a todos, independentemente da idade ou das condições físicas de cada indivíduo. Quando comparamos o jogo ao esporte, devemos nos lembrar que no jogo as regras são mais flexíveis e podem ser ajustadas de acordo com o perfil do público e o espaço físico; já o esporte é regido por regras estabelecidas por instituições regulamentadoras, como as federações internacionais das modalidades específicas, que são disseminadas pelas confederações em seus países, para que todos pratiquem os esportes com o mesmo formato. A história do esporte se confunde com a própria história da civilização. Sobre isso, podemos enfatizar três períodos importantes: 10 Unidade I • esporte antigo (até a primeira metade do século XIX); • esporte moderno (de 1820 a 1980); • esporte contemporâneo (de 1980 em diante). As antigas civilizações (a chinesa, a grega e as indígenas) já possuíam atividades físicas em suas culturas, a maioria com características singulares. No Japão e na China havia as artes marciais, no Egito já se realizavam corridas e arremessos e os indígenas praticavam tiatchi, semelhante ao futebol. O esporte moderno, no entanto, surgiu na Inglaterra no final do século XIX e início do século XX, com base em duas diferentes percepções: proporcionar prazer para quem joga e para os espectadores, e fornecer formação moral (TUBINO, 1987). A passagem do século XIX para o século XX marcou, na história do esporte e dentro do espírito da época, o surgimento de diversas federações internacionais de modalidades esportivas. Apesar do chamado “esporte moderno” ter surgido na Inglaterra, a criação das federações internacionais esteve, quase sempre, ligada à aristocracia francesa da virada do século. Foi nessa época que surgiram, por exemplo, a Federação Internacional de Ginástica (FIG), em 1881; a Federação Internacional de Remo (Fisa), em 1892; a Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa), em 1904; a Federação Internacional de Natação (Fina), em 1908; a Associação Internacional das Federações de Atletismo (Iaaf), em 1912; entre outras (TAVARES, 2008). Nesse processo, em 1892 foi criado o Comitê Olímpico Internacional (COI), com a finalidade explícita de organizar o Movimento Olímpico Mundial e realizar os Jogos Olímpicos da Era Moderna (RUBIO, 2010). A criação do COI viabilizou a primeira edição dos Jogos Olímpicos, em Atenas, na Grécia, em 1896, inaugurando de forma mais efetiva as competições esportivas entre países e, com elas, duas características que marcaram o esporte, em especial o olímpico, durante praticamente todo o século XX, dando a ele um caráter predominantemente político: o amadorismo e o nacionalismo. O grande marco da configuração do esporte moderno foi a retomada dos Jogos Olímpicos, e dos ideais a ele ligados, pelo francês Pierre de Coubertin, que institui os Jogos Olímpicos da Era Moderna, internacionalizando o esporte a partir de ideais comuns; para tal, foi necessária também uma internacionalização das regras, massificando e aproximando o esporte, seus promotores, praticantes e espectadores por todo o mundo. Observação Atualmente, o esporte vem sendo estudado, debatido e ensinado. Ele se manifesta na sociedade de diversas maneiras, gerando também uma pluralidade de definições. 11 ESPORTES INDIVIDUAIS A partir de 1960, podemos perceber inúmeras iniciativas com o intuito de consolidar algumas investigações acerca da história do esporte. Em 1967, foi fundada a primeira sociedade internacional, o International Comitee for History of Physical Education and Sport e, em 1973, uma nova associação foi criada, a International Association for History of Physical Education and Sport. Um marco importante em busca de fomentar tais pesquisas aconteceu em 1989, quando essas duas instituições se uniram, dando origem à International Society for History of Physical Education and Sport (ISHPES), entidade que congrega pesquisadores de vários países e leva a cabo iniciativas como a realização de eventos científicos (BARROS, 2007). É importante destacar que a ISHPES faz parte de um conglomerado de instituições conceituadas que elaboram e editam boletins, anais e outras publicações, concedem premiações anuais e mantêm um site com uma extensa lista de discussões através da internet, assim como são responsáveis pela produção de periódicos e revistas especializadas sobre a história e o desenvolvimento do esporte. Em 1976, durante a I Reunião de Ministros de Esporte em Paris, ficou decidido que até o final da década a Unesco se responsabilizaria pela publicação e divulgação de um documento com diretrizes efetivas para que governos e populações em geral se referenciassem nas questões relativas ao esporte, para um mundo melhor. Esse documento foi a Carta Internacional de Educação Física e Esporte, de 1978. Logo em seu artigo primeiro, foi reconhecido que as práticas esportivas são direito de todas as pessoas. Esse pressuposto rompeu com a perspectiva anterior de que o esporte era uma prerrogativa dos talentos e dos anatomicamente indicados, isto é, o fez sair da perspectiva única do rendimento para a perspectiva do direito de todos às práticas esportivas. Nessa nova perspectiva, o esporte passou, na sua ampliada abrangência social, a compreender todas as pessoas, independentemente das suas idades e de suas situações físicas. Depois da Carta da Unesco, todos os documentos do esporte (Carta Olímpica, Agendas, Conclusões de Congressos, Manifestos etc.) passaram a também reconhecer o direito de todos às práticas esportivas, o que defendeu a inclusão social no esporte (TUBINO, 2010). Para se ter uma ideia do alcance e da aceitação do esporte pelo mundo, como também de sua relevância na cultura dos povos, o Comitê Olímpico Internacional (COI), através do Movimento Olímpico, agrega 202 Comitês Olímpicos Nacionais. A ONU (Organização das Nações Unidas), órgão internacional de cunho político institucional, tem 200 filiados. É também um dos negócios mais rentáveis do mundo, gerando milhares de empregos e movimentando bilhões de dólares ao redor do planeta. O esporte, na atualidade, está presenteem diversos segmentos da sociedade e da ciência, existindo hoje a medicina esportiva, a engenharia para ambientes e equipamentos esportivos, a computação e tecnologia a serviço do esporte, a estatística, a publicidade, propaganda e marketing, a economia, a sociologia do esporte, entre outros. 12 Unidade I Conforme Betti (1991, p. 24), O esporte tem sido conceituado como uma ação social institucionalizada, convencionalmente regrada, que se desenvolve com base lúdica, em forma de competição entre duas ou mais partes oponentes ou contra a natureza, cujo objetivo é, através de uma comparação de desempenhos, designar o vencedor ou registrar o recorde; seu resultado é determinado pela habilidade e estratégia do participante, e é para este gratificante tanto intrínseca como extrinsecamente. Já para Bento (2006, p. 17), A imagem atual de pluralidade do esporte nos dirige à sua caracterização como: [...] um fenômeno sociocultural que representa, promove e disponibiliza formas muito distintas, mas todas especificamente socioculturais e historicamente datadas, de lidar com a corporalidade. Por sua vez, Paes (2001, p. 112) descreve uma visão do esporte associada a um simbolismo relacionado às vivências do cotidiano: O esporte é uma representação simbólica da vida, de natureza educacional, podendo promover no praticante modificações tanto na compreensão de valores como nos costumes e modo de comportamento, interferindo no desenvolvimento individual, aproximando pessoas que têm, neste fenômeno, um meio para estabelecer e manter um melhor relacionamento social. 1.1 Histórico dos esportes individuais no Brasil A história dos esportes no Brasil nos remete aos séculos XIX e XX, período em que temos os primeiros relatos e produções desta história. Havia então uma preocupação de que a história fosse contada de forma ordenada e com um cunho verídico (PACHECO, 1893). Essas publicações se referem principalmente ao turfe nacional, que era uma espécie de corrida de cavalo praticada pelos ingleses e que também era realizada no Rio de Janeiro. Observação Vale destacar que os ingleses tiveram bastante influência nos esportes praticados no Brasil. Nesse sentido, eles também foram responsáveis pela criação do esporte mais aclamado pelo povo brasileiro, o futebol. Conforme Seyton (2013), em 1837, surgiu um projeto para o ensino de ginástica, natação, equitação e dança para meninas desamparadas do Rio de Janeiro, a ser administrado pelas paróquias locais. 13 ESPORTES INDIVIDUAIS Competições, de fato, têm início em 1846. O esporte era o remo, e duas canoas fizeram uma regata no Rio de Janeiro. Jornais da época publicaram que havia “assombrosa massa popular” na Regata da Abolição, que também aconteceu no Rio de Janeiro, em maio de 1888. No remo, uma das primeiras modalidades esportivas a serem praticadas em nosso país, também existia uma preocupação sobre a sistematização de observações sobre sua história: Evidentemente sabido é que dificuldades de monta teríamos de encontrar na compilação de fatos históricos sobre a vida deste esporte, assim como na coleção de documentos a ele referente; porquanto, até a presente data é conhecida de sobejo a deficiência das publicações sobre o nosso movimento esportivo, hoje, felizmente, em grau de desenvolvimento notório (MENDONÇA, 1909). Estes trabalhos tinham como foco principal preservar a memória e a história do esporte nacional, relatando eventos e marcos pertinentes ao início dessas práticas esportivas, sob o olhar de praticantes e público envolvido. Talvez um dos primeiros defensores do esporte como inserção social no país tenha sido Rui Barbosa. É dele o parecer da Reforma do Ensino de 1882, sobre a importância da educação física e dos esportes na formação dos jovens. Entre 1920 e 1930, começaram alguns movimentos voltados também à prática da ginástica. Nessa época, surgiram alguns escritos sobre tal segmento; no entanto, grande parte dos conteúdos trabalhados era fruto de livros estrangeiros, pois a nossa produção ainda não tinha um número expressivo de conteúdos e aprofundamentos a respeito dessa prática. A partir de 1940, temos um marco na produção de material histórico relacionado ao esporte pelas mãos de Inezil Penna Marinho, um dos maiores estudiosos da história da educação física e do esporte no Brasil. Sua obra, além de retratar de forma fidedigna muitos fatos, também apresenta mudanças que apontam para uma perspectiva mais crítica e interpretativa da história (MELO, 1997). Em 1970, podemos perceber um movimento no sentido de atribuir uma maior abrangência aos estudos relacionados à história do esporte e observar com uma maior frequência investigações sociológicas e antropológicas ligadas ao esporte, dando conotação a tais práticas com uma maior abrangência e importância na formação de um ser integral. Dentro dessa ordem cronológica, é notório o aperfeiçoamento das iniciativas de pesquisa, buscando discutir com maior profundidade a presença e o papel da prática nos diversos quadros socioculturais. Ao longo do tempo, vemos uma maior sistematização e institucionalização dos estudos e uma configuração mais clara da história do esporte como um campo de investigação. Também é possível afirmar a incrível força do fenômeno esportivo no cenário contemporâneo, algo denotado no Brasil, até porque o país mais frequentemente faz parte do circuito internacional de grandes eventos esportivos e inclusive pôde sediar os maiores que existem: a Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016. 14 Unidade I Para falar sobre esportes no Brasil, não podemos deixar de explorar a história do território brasileiro. Influenciado pelas tradições europeias, o fenômeno esportivo teve início no Brasil na mesma época em que a população da Europa chegou, instalando‑se nas principais cidades do país. Com a consolidação de sociedades de classe alta, o esporte seguiu uma linha elitista e somente as pessoas com alto poder aquisitivo podiam fazer parte dos grandes clubes, os quais descobriam estrelas nesse campo de atuação. Seja como hobby, seja como profissão, o esporte ainda era uma atividade inacessível para grande parte da população. Dentro do conjunto de direitos sociais previstos na Constituição Brasileira (BRASIL, 1988), são referenciados o esporte e o lazer. Consta, em seu artigo 217, que “É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um”; no § 3º, que “O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social” e, no artigo 6º, que “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. De acordo com o texto constitucional de 1988, deve‑se priorizar recursos públicos para o esporte educacional e, o caput do art. 217, estabelece como dever do Estado fomentar práticas esportivas formais e não formais como direito de cada um (TUBINO, 2010). Isso se apresentava em consonância com a Carta da Unesco de 1978, que já consolidava, logo no seu primeiro artigo, o direito de todas as pessoas às práticas esportivas. Fato é que, embora as motivações não apresentassem uma fundamentação importante para o desenvolvimento dos alunos, todos tiveram a oportunidade de experimentar a prática esportiva dentro dos ambientes escolares. Isso acabou gerando um gosto pelas atividades físicas e abriu oportunidades para aqueles que queriam seguir essa carreira profissional. No Brasil, o esporte de rendimento era praticado nas escolas e fora do âmbito institucionalizado de forma indiscriminada. As pessoas tinham um entendimento sobre as práticas físicas ligadas a qualquer tipo de jogo/esporte como recreação. Em 1985, foi instituída a Comissão de Reformulação do Esporte Brasileiro, quando foi sugerido que o conceito de esporte no Brasil fosse ampliado, deixando a perspectiva única doalto rendimento e, também, compreendendo as perspectivas da educação e da participação (lazer). A partir deste marco, foram introduzidas, na realidade esportiva nacional, as manifestações esporte‑educação, esporte‑participação (lazer) e esporte‑performance (desempenho). Apesar de todos esses movimentos em prol da prática esportiva, permanecemos até 1993 sem uma lei específica, quando foi criada a Lei Zico (n. 8.672), que contemplou todos os conceitos e princípios para o esporte brasileiro, inclusive o reconhecimento das manifestações esportivas (esporte‑educação, esporte‑participação e esporte‑performance). Em 1998, foi promulgada a Lei Pelé (n. 9.615) em substituição à Lei Zico; no entanto, foi mantido o texto anterior quanto aos conceitos e princípios. A Lei Pelé clarificou as normas gerais sobre esporte em nosso país, afirmando que ele tem três formatos diferenciados: desporto educacional, de participação e de rendimento. 15 ESPORTES INDIVIDUAIS Saiba mais Acesse os links a seguir, que trazem a história dos esportes individuais: COB. Documentos. Rio de Janeiro, [s.d.]a. Disponível em: https://cutt.ly/82vXAM0. Acesso em: 6 jan. 2023. Disponível em: https://www.cob.org.br/pt/. Acesso em: 6 jan. 2023. Disponível em: https://olympics.com/pt/. Acesso em: 6 jan. 2023. 1.2 Esporte educacional, esporte‑participação e esporte de rendimento Para iniciarmos uma discussão sobre esporte, devemos ter em mente sua abrangência e seus conceitos, pois isso irá definir quais são as metodologias e os objetivos a serem alcançados. O esporte não deve ser entendido e interpretado sobre um único olhar, pois ele pode ser utilizado e aplicado em vários formatos e para diferentes públicos. Por isso, faz‑se necessária sua diferenciação para uma aplicação metodológica adequada, para que todos possam praticá‑lo de acordo com suas expectativas e obter todos os seus benefícios. De acordo com a Lei Pelé, o esporte nacional está dividido em três vertentes, com conceitos e objetivos diferenciados. Veja a figura a seguir: Esporte • Utilização construtiva de tempo livre • Bem‑estar dos praticantes • Alto nível • Competição • Regras e códigos • Esporte olímpico Esporte‑participação Esporte‑performanceEsporte‑educação • Processo educativo • Cidadão • Caráter formativo • Sem seletividade e competição acirrada • Princípios educacionais • Participação • Cooperação • Co‑educação • Integração • Responsabilidade • Prática esportiva democrática • Saúde • Federações e confederações Figura 1 – Características das vertentes do esporte 16 Unidade I O esporte‑educação ou esporte educacional é praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando‑se a seletividade e o excesso de competitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer. É o formato no qual existem algumas características relacionadas à formação do cidadão, sendo o esporte usado como uma ferramenta bastante útil e prazerosa para o desenvolvimento motor e de aspectos socioemocionais e cognitivos de crianças e adolescentes. Ele assegura a inclusão de todos os indivíduos em práticas esportivas lúdicas, oportuniza a todos uma vivência democrática, pois não deve existir a seletividade, desenvolve a autonomia, pois oferece oportunidades de decisões na organização e na realização das atividades, respeita o nível de desenvolvimento motor, cognitivo, emocional, psicológico e social dos indivíduos e busca desenvolver a autocrítica, a autoavaliação e, consequentemente, a autoestima. Ainda, tem foco voltado para a emancipação dos indivíduos, sendo entendido como uma ferramenta para o exercício da cidadania. Por sua vez, o esporte de participação é praticado de forma voluntária, compreendendo as modalidades desportivas realizadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e educação e na preservação do meio ambiente. Esse formato do esporte tem como finalidade o bem‑estar e a participação do praticante e se apresenta como valioso instrumento de apropriação da dimensão cultural do esporte, como uma forma de participação ativa e não seletiva e de espaços culturais e de convivência (TUBINO, 2002). Tem como propósitos a descontração, a diversão, o desenvolvimento pessoal e o relacionamento com as pessoas. Podemos inferir que o esporte‑participação, por ser a dimensão social do esporte mais inter‑relacionada com os caminhos democráticos, equilibra o quadro de desigualdades de oportunidades esportivas encontrado na dimensão esporte de rendimento. Enquanto o esporte de rendimento só permite sucesso aos talentos ou àqueles que tiveram condições, o esporte‑participação favorece o prazer a todos que dele desejarem tomar parte (GODTSFRIEDT, 2010). Por fim, o esporte de rendimento é caracterizado pela busca por resultados, vitórias e recordes em modalidades esportivas regidas por normas universalmente preestabelecidas e vinculadas a federações e confederações nacionais e internacionais de esporte, que exigem dos atletas alto grau de dedicação. Esse formato do esporte pode ser organizado e praticado de forma profissional e não profissional. Na forma profissional, deve ficar explícito que existe uma remuneração pactuada em contrato formal de trabalho entre o atleta e a entidade de prática desportiva; já no modo não profissional, identificado pela liberdade de prática e pela inexistência de contrato de trabalho, é permitido o recebimento de incentivos materiais e de patrocínio (BRASIL, 1988). 17 ESPORTES INDIVIDUAIS Lembrete O esporte educacional prioriza a formação ética e sem seletividade do cidadão; já no esporte‑participação, a prática tem como finalidade contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social e na promoção da saúde e o esporte‑rendimento foca no resultado e no alto rendimento, é seletivo e busca a perfeição na execução técnica e tática. Saiba mais O livro a seguir aborda as participações do Brasil em Jogos Olímpicos e todos os atletas que se destacaram nas diferentes modalidades esportivas. Leia: RUBIO, K. Atletas olímpicos brasileiros. São Paulo: Sesi‑SP Editora, 2015. 2 CARÁTER COMPETITIVO E NÃO COMPETITIVO As modalidades esportivas são regidas por regras e normas determinadas pelas federações internacionais de cada esporte. Essa estrutura se encaixa em um modelo piramidal, utilizado pela maioria das modalidades esportivas. Trata‑se da cadeia hierárquica que rege o funcionamento de cada modalidade no que se refere às regras e diretrizes. As normas são definidas pelas organizações que estão no topo, e quem se encontra abaixo deverá aplicá‑las conforme determinado. Federação internacional Federação continental Federação nacional Federação regional Clubes, atletas, treinadores etc. Figura 2 – Pirâmide representativa das organizações que regem o esporte 18 Unidade I Portanto, as regras estabelecidas pelas federações internacionais de cada modalidade devem ser aplicadas igualmente em todos os países que as têm como prática; no entanto, dependendo da faixa etária e dos objetivos dos praticantes, podemos optar por um formato competitivo ou não competitivo. Já discutimos as três vertentes do esporte: educacional, participação e rendimento. Se pensarmos no aspecto competitivo e seletivo, ele se relaciona com o rendimento e a competitividade; no entanto, dentro de uma visão educacional e de participação, podemos ajustar esse mesmo esporte sem competitividade, moldando seu formato de modo a permitir que quem o pratica explore seus próprios limites sem se comparar a outras pessoas, em uma competição consigo mesmo. No sentido moderno, a competição coloca um sujeito contra o outro, o que, dependendo da faixa etária e da metodologia adotada pelo professor, poderá ser prejudicial ao praticante, deturpando sua autopercepção e autoestima,já que o coloca como uma prática essencialmente destrutiva, privilegiando o vitorioso em detrimento do derrotado (RUBIO, 2010). Cabe ao professor elaborar seu planejamento sempre pautado em aspectos relacionados ao desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo‑social de seus alunos, considerando a modalidade esportiva a ser ensinada, e adequar seus conteúdos e metodologias, buscando um aprendizado salutar em todos os aspectos de formação do cidadão. A competição é um elemento importante do esporte, que dá sentido à sua existência, e é nela que a manifestação do esporte se realiza em sua plenitude. Portanto, qualquer ação orientada para o ensino e a aprendizagem do esporte não está desvinculada da necessidade de se aprender a competir, seja nas aulas de educação física escolar (ensino formal) ou nas escolas de esportes e centros de treinamento (ensino não formal) (SCAGLIA; MONTAGNER; SOUZA, 2001; SCAGLIA; GOMES, 2005). A competição e a concorrência são a alma e o motor do desporto e da vida (BENTO, 2006, p. 14). As competições devem ser dosadas e adequadas ao nível de compreensão do aprendiz e de seus objetivos, pois ela fará parte de sua formação e estará presente em toda sua vida; portanto, não podemos renegá‑la a um valor menor na formação do indivíduo. Se pensarmos na competição dentro do âmbito escolar, ela sugere um cunho educativo ao aprendiz, e fica claro que devemos, enquanto mediadores dessa prática, estar conscientes de suas particularidades e função. Logo, seus princípios e condutas pedagógicas terão de responder os motivos (por quê), para quem, o quê, quando e como a competição será apresentada e ensinada (SCAGLIA; SOUZA, 2004; SANTANA; REIS, 2006). Ao pensarmos o esporte educacional e o esporte‑participação, podemos ajustar os aspectos competitivos e não competitivos, tendo como objetivo utilizar o esporte como uma ferramenta bastante útil e prazerosa para o desenvolvimento motor e também dos aspectos socioemocionais e cognitivos de crianças e adolescentes, assegurando a inclusão de todos os indivíduos em práticas esportivas lúdicas e oportunizando a todos uma vivência democrática. Visando somente o desenvolvimento da autonomia, esse pensamento oferece oportunidades de decisões na organização e na realização das atividades, respeita o nível de desenvolvimento motor, cognitivo, emocional, psicológico e social dos indivíduos e ainda busca desenvolver a autocrítica, a autoavaliação e, consequentemente, a autoestima, associadas a uma Afes salutar para sua formação. 19 ESPORTES INDIVIDUAIS 2.1 Esportes individuais nas escolas e clubes O esporte no âmbito escolar tem por finalidade democratizar e gerar cultura pelo movimento de expressão do indivíduo em ação como manifestação social e de exercício crítico da cidadania, evitando a exclusão e a competitividade exacerbada. A escola é o espaço onde o professor se utiliza do esporte como estratégia ao trabalhar o esporte‑educação. Além de proporcionar aos alunos a vivência de diferentes modalidades, deve levá‑los a refletir de forma crítica não só sobre os problemas que envolvem o esporte na sociedade, mas também remeter a analogias das práticas sociais. As Afes dentro do âmbito escolar estão normatizadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. O esporte se caracteriza por ser orientado pela comparação de um determinado desempenho entre indivíduos ou grupos (adversários), regido por um conjunto de regras formais, institucionalizadas por organizações (associações, federações e confederações esportivas), as quais definem as normas de disputa e promovem o desenvolvimento das modalidades em todos os níveis de competição (BRASIL, 2018a). A BNCC tem como princípio assegurar aos alunos os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). Esse documento normativo aplica‑se exclusivamente à educação escolar. Os esportes na BNCC Educação Física do Ensino Fundamental incluem tanto suas manifestações mais formais quanto suas derivações. Para a BNCC, os esportes se caracterizam por comparação de desempenho entre indivíduos ou grupos (competição entre adversários), regras formais institucionalizadas por organizações que os promovem e normatizam pelo mundo. No entanto, os esportes são práticas sociais e, portanto, são passíveis de recriação e ressignificação por seus praticantes. Apesar de manter suas características básicas, as derivações dos esportes se adaptam aos interesses dos praticantes, aos espaços onde são praticados, ao número de praticantes no momento, aos recursos materiais disponíveis e outras adaptações possíveis (BRASIL, 2018a). Tal afirmação reforça a autonomia do professor ao ajustar o conteúdo das modalidades esportivas ao grau de entendimento e percepção de seus alunos, adaptando‑as a formatos de prática e disputa. 20 Unidade I Figura 3 – Representação de uma corrida ao ar livre com característica de uma prova de fundo do atletismo Disponível em: https://cutt.ly/z2b6j9E. Acesso em: 5 jan. 2023. A BNCC coloca os esportes como uma unidade temática da educação física e os classifica seguindo alguns critérios como cooperação, interação com o adversário, desempenho motor e objetivos táticos da ação. A partir desses critérios, as modalidades esportivas foram divididas em oito categorias, nas quais são privilegiadas as ações motoras intrínsecas que reúnem modalidades com exigências motoras semelhantes. 2.1.1 Divisão em categorias dos esportes na BNCC Educação Física • Esportes de invasão: são esportes nos quais o objetivo é infiltrar o campo adversário e levar a bola ou outro objeto até uma meta ou área específica do campo adversário. Exemplos: futsal, handebol, basquete, futebol, rúgbi. Essa categoria só é contemplada nos esportes coletivos. • Esportes de rede: são esportes nos quais a bola ou outro objeto deve ser rebatido ou lançado sobre a rede em direção ao campo do adversário. Exemplo: tênis de campo. • Esportes de parede: são esportes parecidos com os de rede, porém não possuem rede e sim uma parede, em frente à qual os jogadores se posicionam e rebatem a bola. Exemplo: squash. • Esportes de campo e taco: são esportes nos quais o objetivo é rebater a bola à maior distância possível para conquistar território. Exemplos: golfe ou beisebol. 21 ESPORTES INDIVIDUAIS • Esportes de marca: são os esportes nos quais o resultado é aferido a partir do tempo, da distância ou do peso. Exemplo: atletismo (corrida, salto em distância, levantamento de peso). • Esportes de precisão: são aqueles nos quais há um alvo específico. Exemplos: tiro com arco ou boliche. • Esportes de combate: são os esportes de luta, de enfrentamento corporal, tanto de luta agarrada (exemplos: jiu‑jitsu, judô) quanto de luta que envolve contato corporal e troca de golpes (exemplos: boxe, karatê, taekwondo). • Esportes técnico-combinativos: são esportes nos quais a realização de gestos técnicos é o principal instrumento para definir o vencedor. Exemplos: ginástica artística, patinação artística, nado sincronizado, ginástica rítmica. Nos clubes, a metodologia do aprendizado está muito relacionada à faixa etária do aprendiz. A criança passa por diferentes estágios de aprendizado na modalidade, e na primeira etapa prioriza‑se a iniciação esportiva universal (IEU), que compõe um conjunto de atividades voltadas para crianças e que oferece modalidades esportivas de forma lúdica e atrativa. Esse formato objetiva trabalhar e desenvolver habilidades locomotoras, estabilizadoras, manipuladoras e, através delas, os fenômenos sensoriais, perceptivos, motivacionais, sociais e emocionais. Essas práticas auxiliam na aquisição e no aprimoramento das habilidades motoras fundamentais que se relacionam com as técnicas de diversasmodalidades esportivas e capacidades coordenativas (equilíbrio, diferenciação etc.), físicas, técnicas e cognitivas. Tais atividades são necessárias para aumentar o acervo motor do aprendiz e prepará‑lo para o aprendizado relacionado à fase seguinte das habilidades motoras especializadas das modalidades esportivas. Após o aprendiz vivenciar as diferentes formas de movimento, ele estará apto a escolher uma determinada modalidade esportiva para sua prática permanente com um cunho participativo e até mesmo de rendimento. Podemos visualizar na figura a seguir o formato sugerido para diferentes faixas etárias, a duração de cada fase e a frequência semanal: 22 Unidade I Fase pré‑escolar I: 2‑3 anos D: 4‑5 anos F: 2‑3 vezes Fase universal I: 6‑12 anos D: 6 anos F: 2‑3 vezes Fase orientação I: 12‑14 anos D: 2‑4 anos F: 2‑3 vezes Fase direção I: 14‑16 anos D: 2‑4 anos F: 2‑3 vezes Fase recreação/saúde I: 16‑18 anos D: 2 anos F: 2‑3 vezes Fase readaptação I: 18 anos D: 2 anos F: 2‑3 vezes Idade Nível de rendimento Fase aproximação/ integração I: 18‑21 anos D: 4‑5 anos F: 3‑6 vezes Fase alto nível I: 21 anos D: 4 anos F: 6‑8 vezes Fase especialização I: 16‑18 anos D: 4‑5 anos F: 3‑4 vezes Figura 4 – Modelo de iniciação esportiva universal e fases de treinamento: fases do desenvolvimento esportivo, duração, relação com a idade e frequência de semanas Fonte: Greco e Benda (1998a, p. 24). Diferente do esporte desenvolvido no âmbito escolar, em clubes a criança já é direcionada a partir dos 12 anos de idade a uma fase de orientação e opta pela modalidade esportiva com a qual mais se identifica a partir de vários aspectos: motores, cognitivos e socioemocionais. Ao compararmos o esporte no âmbito escolar ao praticado no clube, a escola dará os passos iniciais na modalidade esportiva, enquanto no clube a criança poderá ir passando de fase a fase até a especialização, quando poderá escolher continuar atuando em um formato de participação ou até mesmo passar para o esporte de rendimento, de acordo com seus anseios e habilidades. Em relação a essas práticas, ao pensarmos nos esportes individuais, vem a pergunta: por qual modalidade começar? 23 ESPORTES INDIVIDUAIS Como falado anteriormente, devemos lembrar que a criança já vem com um repertório motor de suas vivências anteriores, e precisamos partir exatamente desse ponto com um esporte que reúna essas características. O mais completo e adequado a esse contexto é o atletismo, que possui um leque de possibilidades de movimentos que vão ao encontro desse acervo motor, com atividades de locomoção, equilíbrio e manipulação muito simples, como corridas, saltos, arremessos e lançamentos. É certo que na fase de iniciação esportiva não devemos nos preocupar com execuções perfeitas; a ideia inicial tem como princípio o lúdico, o método global e o método do jogo, o que resultará em práticas prazerosas e adequadas ao iniciante e trará motivação e prazer na prática esportiva. Além disso, é sabido que do atletismo se derivaram inúmeras Afes; portanto, se o professor se utilizar inicialmente dessa modalidade, ele terá contemplado vários objetivos estabelecidos para essa fase e toda a preparação para a fase seguinte, quando o aprendiz terá um acervo motor bastante rico e variado para experiências mais especializadas e complexas. Gradativamente, devemos ir propiciando outras práticas, como os esportes de combate. É necessário desmistificar que essa prática propicia uma maior agressividade à criança, pois, quando o conteúdo é bem abordado pelo professor, são mostradas as regras, os conceitos de dever e de direito e o respeito ao adversário. Isso auxilia na formação do cidadão, que respeita normas nas relações interpessoais e sociais. Devemos tentar abordar todos os formatos de práticas esportivas individuais: os esportes de precisão, rede, campo e taco, invasão e técnico‑combinatórios, lembrando que devemos partir dos esportes mais simples e chegar até os mais complexos. Figura 5 – Tipo de atividade física esportiva (Afes): tênis de campo Disponível em: https://cutt.ly/b2ndQqc. Acesso em: 6 jan. 2023. 24 Unidade I 2.2 Órgãos oficiais de representação dos esportes individuais As Federações Esportivas Internacionais (IFs) são organizações não governamentais internacionais reconhecidas pelo Comitê Olímpico Internacional como responsáveis por administrar os esportes que representam. De acordo com a Carta Olímpica, existe apenas uma federação internacional para cada esporte olímpico. Ela é a representação maior do esporte mundial, sendo responsável por gerir, administrar e monitorar todos os aspectos relacionados à modalidade, o que inclui os Jogos Olímpicos. Supervisionam o trabalho das confederações nacionais do esporte, que por sua vez devem participar de encontros anuais do Conselho Executivo do Comitê Olímpico Internacional (COI), onde devem opinar sobre a capacidade das cidades candidatas a receber os Jogos e participar de atividades das comissões. Além das Federações de cada modalidades esportiva também existem outras quatro associações que reúnem as federações: a Associação das Federações Olímpicas Internacionais de Verão (ASOIF), a Associação das Federações Esportivas Internacionais de Inverno (AIOWF), a Associação das Federações Esportivas Internacionais Reconhecidas pelo COI (ARISF) e a Associação Geral das Federações Esportivas Internacionais (GAISF), que também inclui outras federações esportivas. Elas se reúnem com o objetivo de discutir problemas em comum das federações e definir datas desses eventos. No âmbito nacional, duas organizações foram responsáveis especificamente pelo desenvolvimento do esporte de alto nível: o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e o Ministério da Cidadania (MC), que agrega a Secretaria Especial do Esporte (ME), no período de 2019 a 2022. A Secretaria Especial do Esporte tem a função de assessorar o Ministério da Cidadania na supervisão e coordenação da política de desenvolvimento da prática esportiva. Nessa missão, desenvolve e implementa ações de inclusão social por meio do esporte, com a perspectiva de garantir à população o acesso gratuito a atividades físicas, qualidade de vida e desenvolvimento humano. Em outra frente, é dever da secretaria garantir o desenvolvimento de políticas e incentivos para o esporte de alto rendimento. A partir de 2023, as organizações responsáveis especificamente pelo desenvolvimento do esporte de alto nível são: o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e o Ministério do Esporte (ME). A Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social (Snelis) tem como competência a formulação e a implementação de programas esportivos‑educacionais, de lazer e de inclusão social, em parceria com estados, municípios e o Distrito Federal. Suas ações são voltadas para crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, além de pessoas com deficiência, sempre com foco no exercício de uma cidadania ativa, com ênfase na população de regiões com alta vulnerabilidade social. A pasta também atua no incentivo a eventos e competições escolares e de participação. A Secretaria Nacional de Alto Rendimento (Snear) executa ações para fortalecer o esporte competitivo e dar suporte aos atletas nacionais. Para isso, tem integração com diversas entidades esportivas, como o Comitê Olímpico do Brasil (COB), o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), o Comitê 25 ESPORTES INDIVIDUAIS Brasileiro de Clubes (CBC) e entidades que representam o desporto escolar e universitário. O Bolsa Atleta, um dos maiores programas de patrocínio estatal do planeta, é uma das prioridades da Snear. A Secretaria Nacional de Incentivo e Fomento ao Esporte (Senife) acompanha e monitora os resultados obtidos nos projetos esportivos e paradesportivos financiados mediante incentivos fiscais. Também atua na elaboração de estudos e pesquisas sobre fomento e incentivo ao esporte e busca melhorias permanentes na atualização do sistema de gestão e informaçãono âmbito da Lei de Incentivo ao Esporte. O Conselho Nacional do Esporte (CNE) é um órgão colegiado de deliberação, normatização e assessoramento, diretamente vinculado ao ministro de Estado do Esporte, e parte integrante do Sistema Brasileiro de Desporto, tendo por objetivo buscar o desenvolvimento de programas que promovam a massificação planejada da atividade física para toda a população, bem como a melhoria do padrão de organização, gestão e qualidade. Todas essas secretarias, juntamente com o Conselho Nacional de Esporte, formam o Sistema Nacional de Esporte, que elabora as políticas para o esporte de alto rendimento. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) é a entidade representativa máxima do esporte no Brasil. Foi fundado em 8 de junho de 1914, e somente em 1935 começou a atuar. Sua sede atual é na Barra da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro. Tem por objetivo representar o olimpismo e difundir o ideal olímpico no território nacional, além de desenvolver os esportes olímpicos no país. Para isso, conforme estipulado pela Lei n. 10.264, sancionada em julho de 2001 (Lei Agnelo‑Piva), recebe repasse de 85% de 2% da arrecadação bruta de todas as loterias federais do país (BRASIL, 2001). Parte desse dinheiro arrecadado é repassado às confederações nacionais de cada esporte. As confederações nacionais dos esportes representam a modalidade esportiva no âmbito nacional. Elas são subordinadas às federações internacionais na disseminação e organização da modalidade. Uma confederação é constituída pela união de três ou mais federações e representa a modalidade esportiva nacional e internacionalmente. Cabem às confederações instituídas na forma da lei o exercício do poder desportivo no território nacional, a representação das suas atividades no exterior e o intercâmbio com as entidades internacionais. Elas também são responsáveis pela organização de competições de ordem nacional, tais como Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Liga Nacional, entre outras. As federações estaduais, filiadas às confederações, são os órgãos de direção dos desportos em cada uma das unidades territoriais do país (Distrito Federal, estados e territórios). Poderão as federações ser especializadas ou ecléticas, segundo tratem de um só ou de dois ou mais desportos. As confederações dão filiação, no Distrito Federal e em cada estado ou território, a uma única federação para cada desporto. Elas são responsáveis por difundir a modalidade e organizar competições estaduais, devendo ser constituídas por três ou mais entidades de prática desportiva. Outro segmento na representatividade dos esportes individuais são os clubes sociais e esportivos, que possibilitam a seus membros a oportunidade de participar de atividades sociais e praticarem esportes, 26 Unidade I como futebol, futebol de salão, voleibol, basquete, natação, equitação, golfe, tiro etc. Eles têm como principal adesão o associativismo, sendo organizados como entidades sem fins lucrativos e pertencentes ao terceiro setor. As estruturas esportivas dos clubes são muito importantes, pois eles são os principais fomentadores do esporte olímpico nacional e fazem parte de uma hierarquia complexa. Sua atuação é essencial desde a iniciação esportiva até a formação e o treinamento de atletas olímpicos. Lembrete O esporte é uma prática regida por regras determinadas pelas federações internacionais de cada modalidade, que são as mesmas utilizadas nos diferentes países que as praticam; portanto, essas regras não podem ser modificadas. Saiba mais Neste tópico, falamos dos esportes individuais e dos diferentes órgãos responsáveis pela atualização de regras, regulamentos competitivos, organização de competições e suas competências. Para aprofundamento desse tema, acesse os links a seguir, de páginas de entidades regulatórias de diferentes modalidades: Disponível em: https://www.cbat.org.br/. Acesso em: 6 jan. 2023. Disponível em: https://www.cbtm.org.br/. Acesso em: 6 jan. 2023. 3 ESPORTES INDIVIDUAIS Os esportes individuais são diretamente focados no indivíduo e em sua expectativa de rendimento ou prática em uma modalidade específica, e sua prática não está diretamente relacionada ao aspecto de grupo. Na maior parte dessas modalidades existe uma ação de oposição direta a um adversário. Podemos dar alguns exemplos: tênis de campo, atletismo, natação, entre outros. Nos esportes individuais, seu praticante tem consciência de que a melhora de seu desempenho está diretamente relacionada ao aprendizado de habilidades motoras especializadas e à sua tática individual para a aplicação dessas habilidades no contexto da modalidade. Prioritariamente, deverá haver um técnico para aplicar o treinamento adequado, visando ao resultado estabelecido, e tal melhora também se refere às suas condições físicas e psicológicas. Em geral, a participação em esportes individuais favorece o desenvolvimento da coordenação motora e da concentração e incrementa a força de explosão, o raciocínio rápido, o desenvolvimento do senso criativo e, desta forma, a autoconfiança. 27 ESPORTES INDIVIDUAIS O praticante de esporte individual sabe que a melhora de sua performance, bem como os resultados obtidos, dependem exclusivamente dele. Tais desafios são típicos das modalidades individuais, e para tanto, além dos aspectos motores, ele terá que ter um grande controle emocional, uma autoestima elevada, automotivação e uma percepção bastante aguçada, pois em todos os momentos competitivos essas qualidades estarão à prova, considerando ainda que no momento crucial das disputas a interferência dos treinadores será mínima, o que aumenta a pressão e a responsabilidade do indivíduo, pois caberá ao praticante a tomada de decisão mais assertiva. Além disso, os esportes individuais são centrados em provas, podem ter um caráter mais previsível das ações motoras dependendo da modalidade, proporcionam pouca interação entre sujeitos, apresentam uma diversidade de perspectivas e contextos e possuem particularidades e especificidades técnicas (TANI; BENTO; PETERSEN, 2006). O foco das modalidades individuais é o rendimento individual. Elas são centradas nas técnicas individuais, possuem especificidades estruturais e funcionais e exigem habilidades motoras específicas (técnicas) e movimentos técnicos com alto grau de dificuldade, dependendo da modalidade. Muitas vezes a sua prática envolve a utilização de implementos específicos e exige capacidades motoras específicas e alto grau de aperfeiçoamento técnico (GRECO; BENDA, 1998a). 3.1 Esportes individuais aquáticos A história dos esportes aquáticos tem os seus primeiros registros na Antiguidade, por volta do ano 3000 a.C. Por uma questão básica de sobrevivência, o homem precisava deslocar‑se da melhor maneira possível na água para poder buscar alimentos ou mesmo fugir de animais que lhe ameaçassem. Na Grécia Antiga, a natação passou a ser vista como atividade física e uma forma de desenvolver o corpo de maneira harmoniosa. Durante a Idade Média, acreditou‑se que a prática dos esportes aquáticos pudesse estar associada à disseminação de algumas doenças, mas sua prática voltou com muita força no período do Renascimento, quando a Europa ganhou muitas piscinas públicas, especialmente durante o reinado de Luís XIV na França. Os esportes aquáticos têm conquistado espaço, compondo um dos gêneros mais antigos, tendo em vista que as atividades no meio líquido estavam associadas tanto ao descanso quanto à caça, já que muitas vezes sua sobrevivência se dava através delas, embora não seja uma prática tão comum para o homem quanto percorrer distâncias curtas ou longas em diferentes velocidades. A sustentação na água pode ter sido aprendida pelo homem por instinto e pela observação de outras espécies, o que auxiliou seu processo evolutivo. A história dos esportes aquáticos no Brasil é muito rica. Nosso extenso litoral ajudou a disseminar todas as modalidades, hoje muito presentes em todos os cantos do país, emnossas praias e piscinas. Esporte individual aquático designa os esportes praticados em meio líquido, portanto os locais nos quais são praticadas essas modalidades podem variar desde piscinas até águas abertas, onde se fazem travessias (represas, lagos, mares etc.). 28 Unidade I São reconhecidos como esportes aquáticos aqueles cuja regulamentação é definida pela Federação Internacional de Natação (Fina), no cenário internacional, e pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), no Brasil. São eles: natação (em piscina) e maratonas aquáticas (em águas abertas), nado sincronizado, polo aquático e saltos ornamentais. Nessas modalidades, estar com o corpo imerso na água é uma condição para atuar. Já os esportes náuticos (canoagem, remo, vela) são diferentes dos esportes aquáticos porque, apesar de também serem praticados em meio aquático, de fato é a embarcação que está na água, e a pessoa deve permanecer dentro da embarcação, não na água. Basicamente, é considerado um esporte náutico aquele que tem como campo de prática as águas de mares, rios, lagoas e lagos. Sendo assim, incluímos nessa categoria esportes como o remo; a vela; o surf; a prancha a vela e sua variante mais recente, o kitesurf; o esqui aquático e o wakeboard; o caiaque e a canoagem. A natação, os saltos ornamentais, o nado sincronizado e a maratona aquática têm provas individuais; dentre essas práticas, a mais popular de todas é a natação, com diferentes estilos de prática e diversas provas. 3.1.1 Natação A prática da natação possui um formato mais eclético, pois ela é um esporte muito importante para todas as idades, sendo um dos únicos que é praticado desde o nascimento até o envelhecimento. Sua prática é procurada por diferentes motivos, desde terapia até diversão e/ou competição. Para a prática de natação, as piscinas devem ter diferentes tamanhos. Ela é considerada curta quando possuir 25 m ou 50 m, medida utilizada na modalidade olímpica. Figura 6 – Nado crawl ventral ou livre Disponível em: https://cutt.ly/22nbGqX. Acesso em: 6 jan. 2023. 29 ESPORTES INDIVIDUAIS O estilo crawl ou livre é considerado o mais conhecido, simples, rápido e praticado. Nele, o indivíduo se posiciona com o corpo voltado de frente para o fundo da piscina (em decúbito frontal). Os membros inferiores (pernas) devem estar semiflexionados (extensão) e os pés estendidos se movendo com golpes curtos, como se dessem pontapés, trocando esquerda e direita ligeiramente. A movimentação dos braços é intercalada, de modo que um inicie a puxada da água logo, antecipando o movimento. As competições neste estilo têm as seguintes provas: 50, 100, 200, 400, 800 (exclusiva para mulheres) ou 1.500 m (unicamente masculina). São considerados ainda como modalidades de competição o revezamento, que pode ser de 4 × 100 m e de 4 × 200 m, e, por fim, a maratona aquática. Figura 7 – Nado crawl dorsal ou costas Disponível em: https://cutt.ly/92nQsZ6. Acesso em: 6 jan. 2023. No estilo costas ou crawl dorsal, os praticantes devem alinhar‑se na água, com o corpo de frente para o bloco de saída e as duas mãos agarradas nos suportes (agarre). Os pés, incluindo os dedos, devem ficar sob a superfície da água. Ao comando de uma partida e após a virada, o nadador deve dar impulso e nadar na posição de costas durante toda a trajetória, com exceção do momento da volta. Quando o corpo mudar de posição e como consequência sair da posição costas, não deve ter mais braçada ou pernada que seja independente da ação contínua de volta. O nadador tem que retornar à posição de costas após deixar a parede. Quando a volta for executada, é necessário que exista o toque na parede com alguma parte do corpo do nadador. Ao fim da prova, o praticante tem de tocar a parede de costas, do contrário será desclassificado. Existem provas de 100 m e de 200 m. 30 Unidade I Figura 8 – Nado peito Disponível em: https://cutt.ly/d2nQBrH. Acesso em: 6 jan. 2023. No estilo peito, conhecido por seus movimentos em “tesourada”, todos os movimentos dos braços devem acontecer simultaneamente e no mesmo plano horizontal, ou seja, não existem movimentos alternados durante esse estilo. Dessa forma, apesar de não haver grandes dificuldades para sua aprendizagem de uma forma geral, exige muito em termos de coordenação para o praticante. As competições podem ser de 100 m e de 200 m. Figura 9 – Nado borboleta Disponível em: https://cutt.ly/42nWaD1. Acesso em: 6 jan. 2023. O nado borboleta é julgado por muitos como um estilo com grau de dificuldade elevado para ser executado de maneira correta; por isso, na sequência de aprendizagem dos estilos de natação, é um dos últimos a ser ensinado. Tal fato se dá por ser o que exige mais resistência do praticante, sendo considerado o mais pesado. 31 ESPORTES INDIVIDUAIS Este nado exige força para empurrar a água e, ao mesmo tempo, flexibilidade para enfrentar a resistência dela. O posicionamento do corpo é com a barriga voltada ao fundo da piscina. Por fim, o estilo medley. Nas provas de medley individualizadas, o nadador terá que realizar os quatro nados seguindo a ordem: borboleta, costas, peito e livre. A competição poderá ser de 200 m, quando o competidor deverá nadar 50 m cada estilo; de 400 m, quando terá que nadar 100 m cada estilo, e por último o revezamento, de 4 × 100 m. Vale destacar que já existem provas de 50 m a 1.500 m entre os quatro estilos nas provas individuais, além do revezamento com equipes de quatro competidores. 3.1.2 Saltos ornamentais O salto ornamental é um esporte individual que tem como característica o salto de uma plataforma elevada que chega a até 10 m, conhecida como trampolim, podendo ser fixo ou não. Para a sua execução, terá de ser realizado um salto em direção à piscina, com uma série de movimentos estéticos e acrobáticos. É semelhante à ginástica olímpica. Para a execução do salto ornamental, o ideal é que haja um ensaio dos movimentos e que haja concentração, equilíbrio, elasticidade e coordenação. Para o saltador, é exigido muito do tendão de Aquiles e dos joelhos. Por esse motivo, deve haver um trabalho especial para fortalecer as articulações dos joelhos e do quadril. O processo avaliativo acontece por notas de 0 a 10. Juízes fazem essa avaliação considerando como requisitos a dificuldade nas manobras e o posicionamento do atleta ao cair na água. Cada atleta salta três vezes, sendo descartados o melhor e o pior salto. Sua nota é a média das notas dos sete árbitros. 3.1.3 Nado sincronizado O nado sincronizado é uma modalidade aquática que reúne elementos da natação, dança e ginástica. Tem como característica principal a execução, dentro de uma piscina, de uma série de movimentos ao ritmo da música. Possui três formatos básicos de disputa: individual, casal e por equipe. Esta modalidade envolve o uso de várias habilidades por parte do atleta, como força física, arte, precisão, flexibilidade, controle de respiração (apneia) dentro da água e graciosidade. A competição ocorre em duas partes: exercícios técnicos e exercícios livres. Os árbitros avaliam o desempenho dos atletas com notas de, no máximo, 10 pontos. São considerados pelos árbitros qualidade técnica, graça, delicadeza, sincronia dos movimentos com a música e criação artística dos movimentos. Os nadadores perdem pontos nas seguintes situações: quando tocam o fundo da piscina, descansam na borda e se apresentam com olhar sem sorriso ou graça (expressão facial). 32 Unidade I 3.1.4 Maratona aquática A maratona aquática é uma modalidade disputada no mar, que possui algumas regras bastante específicas. A largada é dada de uma plataforma flutuante, de uma superfície fixa ou de terra firme (em que os atletas correm antes de começarem a nadar). Figura 10 – Maratona aquática Disponível: https://cutt.ly/O2nY0Je. Acesso em: 6 jan. 2023. O percurso é delimitado por boias e pode ser realizado em linha reta, com os atletas indo e vindo como numa piscina, ou em formatos diversos.Normalmente os atletas nadam o estilo crawl, fazendo a respiração de forma frontal, olhando para a frente e levantando a cabeça, para facilitar a sua orientação, diferentemente das provas de natação em piscinas, em que existe uma predominância da respiração lateral. Os últimos metros da prova são demarcados por raias, que formam um funil até a linha de chegada. Os atletas precisam levantar as mãos para bater na estrutura montada acima da água. Nos Jogos Olímpicos, as provas têm 10 km de distância e são disputadas em águas abertas. A profundidade mínima do percurso tem que ser de 1,40 m e a temperatura da água deve estar entre 16 °C e 31 °C, devendo ser medida antes e durante a prova. Durante o percurso, o nadador pode encostar o pé no fundo, mas não pode caminhar ou saltar utilizando o fundo como apoio. 33 ESPORTES INDIVIDUAIS 3.2 Esportes individuais terrestres Os esportes individuais terrestres são aqueles praticados por apenas uma pessoa, ou seja, um atleta compete com o adversário individualmente. Alguns deles podem ser disputados contra apenas um competidor ou contra vários, que também estão competindo de forma individual, e essa disputa obrigatoriamente acontece em solo. Há vários exemplos dessas modalidades: atletismo, lutas, ginástica, entre outros. Figura 11 – Atletismo: prova de 3.000 m com obstáculos Disponível em: https://cutt.ly/92nUnb2. Acesso em: 6 jan. 2023. Cada modalidade terrestre possui características próprias. Algumas delas apresentam regras bem específicas, já outras são regidas e arbitradas através de códigos de pontuação. Dentro desse rol de modalidades terrestres, veremos que elas são classificadas de acordo com as características de cada prova em: esportes individuais de invasão, esportes individuais de rede e parede, esportes individuais de campo e taco, esportes individuais de precisão, esportes individuais de marca, esportes individuais de combate e esportes individuais técnico‑combinatórios, sendo que em uma mesma modalidade esportiva – por exemplo, no atletismo – podemos ter provas com diferentes classificações, critérios de disputa e regulamentos específicos. 34 Unidade I Figura 12 – Bike freestyle Disponível em: https://cutt.ly/a2nUS5h. Acesso em: 6 jan. 2023. 3.3 Esportes individuais aéreos Esses esportes estão relacionados às atividades esportivas, de lazer e de entretenimento que acontecem no espaço aéreo do Brasil e do mundo. Os voos podem acontecer em vários tipos de aeronaves, dispositivos, paraquedas, drones e aeromodelos sobre a terra e sobre a água. Nos esportes individuais aéreos, diferentemente do que acontece nos terrestres, seu praticante explora o ambiente aéreo se utilizando de algum aparelho específico. Entre essas práticas, temos: balonismo, paraquedismo, voo livre, voo em ultraleves motorizados, aeromodelismo, drones, planadores e acrobacia aérea. Algumas dessas modalidades também são consideradas esportes radicais pelo alto grau de dificuldade e perigo envolvidos. Por serem esportes que envolvem o espaço aéreo, seus praticantes devem seguir todas as normas estabelecidas, o que inclui vestimentas e materiais adequados, pois tudo isso está diretamente ligado à sua sobrevivência. Essas atividades foram divididas em três universos operacionais: o das atividades regidas pelo RBAC n. 103, um regulamento exclusivo para atividades desportivas, caracterizado pelo baixo nível de integração ao sistema de aviação civil, as quais estão submetidas a uma restrição operacional básica, garantindo a segurança de terceiros e do sistema de aviação civil; o das atividades regidas operacionalmente pelos RBAC n. 61 e 91, as quais estão sujeitas às exigências da aviação geral (certificado de piloto, certificado de aeronavegabilidade etc.) por possuírem maior interação com o sistema de aviação civil; e as atividades regidas pelos regulamentos do RBAC‑E n. 94, referentes a aeromodelismo e drones (BRASIL, 2018b). No Brasil, o esporte aéreo é compartilhado por diferentes órgãos reguladores e entidades associativas. Existem o piloto pela RBAC 61, o piloto pela RBAC 103, o paraquedista e o aeromodelista. Mas aí vem a pergunta: o que contempla cada um e como eles são geridos? 35 ESPORTES INDIVIDUAIS Observação Os pilotos pela RBAC 103 são os praticantes que optaram por voar segundo o Regulamento Brasileiro de Aviação Civil de número 103 da ANAC e sob as Instruções do Comando da Aeronáutica de números 100‑3, 100‑12 e 100‑38 (BRASIL, 2018b). 3.3.1 Balonismo O balonismo é um esporte aéreo praticado com um balão de ar quente, que proporciona ao praticante a sensação de ficar mais próximo do céu, flutuando em meio às nuvens. O esporte possui adeptos em todo o mundo, inclusive no Brasil. No interior do estado de São Paulo, na cidade de Boituva, há um grande centro para a prática de balonismo e de outros esportes aéreos. Figura 13 – Balonismo Disponível em: https://cutt.ly/a2mGOAZ. Acesso em: 6 jan. 2023. Atualmente, existem campeonatos desse esporte por todo o mundo. Algumas das provas de balonismo são: Fly In, Fly On, Caça à Raposa e Key Grab. O balonismo pode ser praticado por qualquer pessoa. No entanto, a prática desse e de todos os esportes aéreos acaba sendo elitizada, devido ao fato de os equipamentos utilizados serem caros, bem como as horas de voo. 36 Unidade I 3.3.2 Paraquedismo O paraquedismo, dentre os esportes individuais aéreos, é um dos mais procurados. Nele, o praticante salta do avião munido de um paraquedas, passando por alguns segundos em queda livre a uma velocidade entre 200 e 350 km/h, e em determinado momento abre um paraquedas que diminui a velocidade, possibilitando o pouso ou aterrissagem. Figura 14 – Paraquedismo Disponível em: https://cutt.ly/02mHlwo. Acesso em: 6 jan. 2023. A prática é autorizada a pessoa maior de 18 anos, que passe por exame médico e que faça um curso teórico e prático em escola certificada pela Confederação Brasileira de Paraquedismo. Os equipamentos necessários para a prática do paraquedismo são: paraquedas, altímetro (que indica a altura em que a pessoa está em relação ao solo), capacete, macacão e óculos. O paraquedas conta com velames dirigíveis, que tornam o pouso seguro e possibilitam a navegação até o local exato do pouso. A questão do impacto também foi solucionada, pois ele tem freio aerodinâmico. 3.4 Esportes individuais de menor expressão Os esportes individuais, em geral, são menos cativantes ao público. A principal consequência desse fato é que as instituições responsáveis pela organização acabam por não os priorizar, visando aquilo que lhes trará melhor retorno, tanto no aspecto financeiro quanto no de abrangência do público. O esporte, por ser um fenômeno cultural e social, reflete a realidade de um país; portanto, essas manifestações estão diretamente ligadas a práticas cotidianas. 37 ESPORTES INDIVIDUAIS O Brasil possui uma prática muito mais expressiva dos jogos coletivos, tais como o futebol de campo e voleibol, e por esse motivo a mídia também acaba por priorizar a disseminação dessas modalidades pelo retorno que elas proporcionam. Podemos entender como esportes individuais de menor expressão aqueles cuja prática está condicionada aos aspectos culturais relacionados aos países que as praticam, às condições climáticas e aos espaços físicos utilizados para a sua prática. Podemos citar algumas modalidades, tais como: patinação artística, esqui, squash, golfe, entre outros. Figura 15 – Patinação artística no gelo Disponível em: https://cutt.ly/42m187Y. Acesso em: 6 jan. 2023. No que se refere às condições climáticas, um exemplo clássico é demonstrado nos Jogos Olímpicos de Inverno: os países participantes, em sua maioria, são aqueles que possuem neve. Essa característica determina uma prática mais intensa dessas modalidades por todas as faixas etárias. Lembrete Os esportes podem ser divididos em quatro grandes grupos: esportes individuais aquáticos, esportes individuais terrestres, esportes
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