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Fabrício de Mattos. Farmacologia II, Seminário VIII – Farmacologia da Dor e Opiáceos – 1. Descrever as diferentes reações a nível medular, tronco-encefálicas e corticais à dor. Nível Medular: a informação da dor corporal é conduzida da medula espinhal ao encéfalo pela via espinotalâmica, em que os axônios dos neurônios de segunda ordem decussam imediatamente e ascendem através do tracto espinotalâmico ao longo da superfície ventral da medula espinhal. Tronco-Encefálico: essas fibras passam pelo bulbo, ponte e mesencéfalo sem fazer sinapse, até alcançarem o tálamo. À medida que os axônios espinotalâmicos percorrem o tronco encefálico, eles se posicionam ao longo do lemnisco medial permanecendo como um grupo axonal distinto da via mecanossensorial. A informação da dor da face e do terço anterior da cabeça segue uma via ao tálamo análoga à via espinhal. As fibras do nervo trigêmeo fazem a primeira sinapse com os neurônios sensoriais secundários no núcleo espinhal do trigêmeo no tronco encefálico. Os axônios dessas células decussam e ascendem ao tálamo pelo lemnisco trigeminal. O tronco encefálico participa da regulação descendente da dor, em que a região da chamada substância cinzenta periaquedutal localizada no mesencéfalo pode causar analgesia profunda. Ela recebe normalmente aferências de várias estruturas do encéfalo, muitas das quais responsáveis pela transmissão de informações relacionadas ao contexto emocional. Os neurônios da substância cinzenta periaquedutal enviam axônios descendentes a várias regiões localizadas na linha média do bulbo, especialmente para os núcleos da rafe (cujos neurônios usam o neurotransmissor serotonina). Esses neurônios bulbares projetam os axônios, por sua vez, para os cornos dorsais da medula espinhal, onde podem deprimir de maneira eficiente a atividade dos neurônios nociceptivos. Tálamo: o tracto espinotalâmico e os axônios do lemnisco trigeminal fazem sinapse em uma região mais extensa do tálamo. Alguns axônios terminam no núcleo ventral posterior de forma segregada doo sistema para o tato. Outros axônios espinotalâmicos terminam nos pequenos núcleos intralaminares do tálamo. Córtex Cerebral: a partir do tálamo, as informações de dor seguem pelas radiações talâmicas e se projetam através da capsula interna e coroa radiada para várias áreas do córtex cerebral, dentre elas a área somestésica situada no giro pós-central (áreas 3,2 e 1 de Brodmann) em uma via somatotópica, ou seja, há uma representação das diferentes partes do corpo nos núcleos, tractos e áreas de projeção cortical. 2. Explicar os mecanismos segmentares e supra-segmentares que participam na condução, integração e modulação do estímulo aldogênico. A transdução dos estímulos dolorosos ocorre nas terminações nervosas livres das fibras não mielinizadas C e nas pobremente mielinizadas Aδ. A maioria dos nociceptores responde aos estímulos mecânicos, térmicos e químicos, sendo por isso chamados nociceptores polimodais. Contudo, assim como os mecanorreceptores, muitos nociceptores mostram seletividade em suas respostas aos diferentes estímulos. Assim sendo, existem também nociceptores mecânicos, que respondem seletivamente a pressões intensas, nociceptores térmicos, que mostram respostas seletivas ao calor ou frio extremos, e nociceptores químicos, responsivos seletivamente à Histamina e a outros agentes químicos. Os nociceptores estão presentes na maioria dos tecidos do corpo, incluindo a pele, os ossos, os músculos, a maioria dos órgãos internos, os vasos sanguíneos e o coração, estando ausentes no sistema nervoso em si, mas presentes nas meninges. No momento em que a pele é lesada, várias substâncias são liberadas, entre elas proteases, ATP, íons K+, prostaglandinas e substância P. As proteases podem clivar um peptídeo extracelular abundante chamado cininogênio, formando o peptídio bradicinina. A bradicina liga-se a uma molécula receptora específica, que aumenta a condutância iônica de alguns nociceptores. Além disso, a Bradicina estimula mudanças intracelulares de longa duração, que tornam mais sensíveis os canais iônicos ativados pelo calor. O ATP causa a despolarização das fibras que contêm os nociceptores por meio da ligação direta a canais iônicos que dependem do ATP para sua ativação. O aumento da concentração extracelular de K+ despolariza diretamente as membranas neuronais. As prostaglandinas não causam dor em si, mas aumentam muito a sensibilidade dos nociceptores a outros estímulos. A substância P é um peptídeo sintetizado pelos próprios nociceptores. A ativação de um ramo do neurito periférico do nociceptor pode levar à secreção de substância P por outras ramificações desse mesmo nociceptor nas áreas vizinhas da pele. A substância P causa vasodilatação e a liberação de histamina nos mastócitos. A sensibilização de outros nociceptores, nas vizinhanças da lesão, por ação da substância P, é uma das causas de hiperanalgesia secundária, assim como a ativação pós-lesão dos axônios mecanorreceptores Aβ por um toque leve ou um outro mecanismo que envolve uma linha cruzada entre a via do tato e a via da dor na medula espinhal. Acredita-se que o neurotransmissor dos aferentes nociceptivos seja o glutamato. No entanto, sabe-se que a substância P localiza-se em grânulos de secreção nas terminações axonais e pode ser liberada por salvas de potenciais de ação de alta frequência. As fibras Aδ e C levam informação ao SNC a velocidades diferentes, em função das diferenças em suas velocidades de condução dos potenciais de ação. Consequentemente, a ativação dos nociceptores da pele produz duas percepções distintas de dor, uma dor primária, rápida e aguda causada pela ativação das fibras Aδ, e uma dor secundária, lenta e contínua, causada pela ativação das fibras C. Essas fibras possuem seus corpos celulares localizados nos gânglios da raiz dorsal segmentar e entram no corno dorsal da medula espinhal, ramificando-se e percorrendo uma curta distância no sentido rostral e caudal da medula (região chamada de Tracto de Lissauer), fazendo depois sinapse em células da parte externa do corno dorsal, em uma região conhecida como substância gelatinosa. A informação da dor corporal é conduzida da medula espinhal ao encéfalo pela via espinotalâmica, em que os axônios dos neurônios de segunda ordem decussam imediatamente e ascendem através do tracto espinotalâmico ao longo da superfície ventral da medula espinhal. Essas fibras passam pelo bulbo, ponte e mesencéfalo sem fazer sinapse, até alcançarem o tálamo. À medida que os axônios espinotalâmicos percorrem o tronco encefálico, eles se posicionam ao longo do lemnisco medial permanecendo como um grupo axonal distinto da via mecanossensorial. A informação da dor da face e do terço anterior da cabeça segue uma via ao tálamo análoga à via espinhal. As fibras do nervo trigêmeo fazem a primeira sinapse com os neurônios sensoriais secundários no núcleo espinhal do trigêmeo no tronco encefálico. Os axônios dessas células decussam e ascendem ao tálamo pelo lemnisco trigeminal. O tracto espinotalâmico e os axônios do lemnisco trigeminal fazem sinapse em uma região mais extensa do tálamo. Alguns axônios terminam no núcleo ventral posterior de forma segregada doo sistema para o tato. Outros axônios espinotalâmicos terminam nos pequenos núcleos intralaminares do tálamo. A partir do tálamo, as informações de dor seguem pelas radiações talâmicas e se projetam através da capsula interna e coroa radiada para várias áreas do córtex cerebral, dentre elas a área somestésica situada no giro pós-central (áreas 3,2 e 1 de Brodmann) em uma via somatotópica. A dor causada pela atividade dos nociceptores pode ser diminuída pela atividade simultânea em mecanorreceptores de baixo limiar (fibras Aβ). Isso ocorre porque determinados neurôniosdos cornos dorsais, os quais projetam seus axônios pelo tracto espinotalâmico, são excitados tanto por axônios sensoriais de grande diâmetro como por axônios não mielizinados de nociceptores. O neurônio secundário também é inibido por um interneurônio, e esse é tanto excitado por axônios sensoriais calibrosos, como inibido pelo axônio nociceptivo. Por meio desse circuito, a atividade apenas do axônio nociceptivo resultaria em excitação máxima do neurônio de projeção, permitindo que os sinais nociceptivos alcancem o cérebro. Contudo, se os axônios de mecanorreceptores dispararem conjuntamente, eles ativarão o interneurônio que suprimirá os sinais nociceptivos. Isso é conhecido como teoria do portão da dor. A região da chamada substância cinzenta periaquedutal pode causar analgesia profunda. Ela recebe normalmente aferências de várias estruturas do encéfalo, muitas das quais responsáveis pela transmissão de informações relacionadas ao contexto emocional. Os neurônios da substância cinzenta periaquedutal enviam axônios descendentes a várias regiões localizadas na linha média do bulbo, especialmente para os núcleos da rafe (cujos neurônios usam o neurotransmissor serotonina). Esses neurônios bulbares projetam os axônios, por sua vez, para os cornos dorsais da medula espinhal, onde podem deprimir de maneira eficiente a atividade dos neurônios nociceptivos. 3. Qual a participação das prostaglandinas no fenômeno da dor? As prostaglandinas PGI2 e PGE2 são oriundas do catabolismo do ácido araquidônico sob ação das enzimas ciclooxigenase 1 ou COX-1, constitutiva e presente nas plaquetas, e cicloxigenase 2 ou COX-2, indutiva e presente no endotélio. Essas prostaglandinas são vasodilatadoras e não causam dor em si, mas aumentam muito a sensibilidade dos nociceptores a outros estímulos, levando a chamada hiperalgesia. As aspirinas e outros fármacos antiinflamatórios não-esteroidais são um tratamento utilizado para tratar a hiperalgesia porque atuam inibindo as ciclooxigenases. 4. Explique porque medidas fisioterápicas e a acupuntura aliviam a dor. As medidas fisioterápicas e a acupuntura aliviam a dor por atuarem nos mecanismos neurofisiológicos de regulação da dor, sendo que a fisioterapia atua mais através da regulação aferente baseada na teoria do portão da dor e a acupuntura através da regulação descendente, que se baseia na regulação descendente da dor pela substância cinzenta periaquedutal, cujas conexões são numerosas, sendo o contingente mais importante representado por fibras das vias espinotalâmicas, o que aumenta a complexidade e sofisticação do sistema de regulação da dor, uma vez que os próprios estímulos nociceptivos que sobem pelas vias espino-talâmicas podem inibir a entrada de impulsos dolorosos no sistema nervoso central. Sendo assim, a introdução de uma agulha em uma parte do corpo pode causar alívio em um ponto doloroso muito distante. 5. Conceituar dor neuropática e descrever os possíveis mecanismos envolvidos na gênese deste tipo de Dor. A dor neuropática é consequência direta de doença ou lesão afetando o sistema somatossensitivo periférico ou central, estando associada a paresetesias, disestesias, sensações de queimação, hiperssensibilidade ao toque e alodínia (estímulos não normalmente não são dolorosos e passam a provocar dor). Os mecanismos envolvidos na gênese deste tipo de dor podem ser periféricos ou centrais, sendo os periféricos associados a lesão de nervos periféricos associada à regeneração defeituosa, anormalidades na excitabilidade e sensibilidade aumentada a estímulos químicos, térmicos e mecânicos. Os mecanismos centrais envolvem principalmente o fenômeno da sensibilização central, que surge como consequência da atividade espontânea dos neurônios da via espinotalâmica que passam a desenvolvem um aumento da sua atividade e resposta a impulsos aferentes, incluindo o impulso tátil normal. Outros mecanismos podem estar localizados a nível central após a injúria de um nervo periférico, pelo fato de a perda dos sinais aferentes causar mudanças funcionais nos neurônios da coluna dorsal da medula espinhal. Uma delas é a diminuição da atividade dos interneurônios que inibem os neurônios da via nociceptiva, ou seja, perda da inibição aferente. Além disso, os neurônios da via espinotalâmica podem passar a disparar potenciais de ação espontaneamente. Uma atividade diminuída da regulação descendente da dor também pode estar envolvida na gênese da dor neuropática. – Opiáceos – 1. Características farmacológicas dos diferentes opiáceos, ressaltando sua correlação com a terapêutica. O termo opióide se refere aos compostos semelhantes ao ópio, um produto natural derivado da papoula. Os opiáceos são fármacos derivados do ópio e incluem produtos naturais como a morfina, a codeína e a tebaína. Os peptídeos opióides endógenos, ou endorfinas, são os ligantes naturais dos receptores opióides. Os opiáceos produzem seus efeitos que simulam a ação desses peptídeos. Existem descritas três famílias de peptídeos opióides clássicos: as encefalinas, endorfinas e dinorfinas. Cada família tem sua origem em uma proteína precursora diferente (preproopiomelanocortina ou POMC que origina as β-endorfinas, preproencefalina que origina a encefalinas e preprodinorfina que origina as dinorfinas). Morfina e Agonistas Opióides Semelhantes: receptores μ (Codeína, Tramadol e Heroína) Em geral são prontamente absorvidos no trato gastrointestinal, mas também são bem absorvidos nas vias parenterais, subcutânea, intramuscular, injeção epidural ou intratecal. Cerca de 33% da morfina plasmática está ligada às proteínas e sua via metabólica principal é sua conjugação hepática com o ácido glicurônico, formando dois metabólitos ativos que são excretados pelos rins. A codeína, diferente da morfina, possui eficácia de cerca de 60% quando administrada por via oral em comparação com a via parenteral. Análogos da codeína como o levorfanol, oxicona e metadona têm razões altas entre a potência oral e a parenteral. A eficácia oral maior desses fármacos deve-se ao metabolismo mais restrito durante a primeira passagem. Depois de absorvida, a codeína é metabolizada pelo fígado, e seus metabólitos são excretados principalmente como compostos inativos na urina. O tramadol consiste em um análogo sintético da codeína que atua como agonista fraco nos receptores opióides μ. Parte do seu efeito analgésico é produzido pela inibição das captações de norepinefrina e serotonina. No tratamento das dores brandas a moderadas, o tramadol é tão eficaz quanto a morfina ou meperidina. Entretanto, a eficácia do primeiro fármaco é menor no tratamento das dores crônicas ou graves. O tramadol é tão eficaz quanto a meperidina no tratamento das dores do trabalho de parto e pode causar menos depressão respiratória neonatal. A heroína ou diacetilmorfina é rapidamente hidrolisada em 6-monoacetilmorfina (6-MAM), hidrolisada em morfina. São mais lipossolúveis que a morfina e penetram mais facilmente no cérebro. Algumas evidências sugerem que a heroína e a 6-MAM sejam responsáveis pelas ações farmacológicas da heroína. Esse fármaco é excretado principalmente na urina, em grande parte sob a forma de morfina livre e conjugada. Outros agonistas dos receptores μ (Levorfanol, Mepiridina. Difenoxilato, Loperamida, Fentanila, Metadona e Propoxifeno) O levorfanol (dextrorfano) é relativamente destituído de ação analgésica, mas pode produzir efeitos inibitórios nos receptores NMDA. Seus efeitos farmacológicos são muito semelhantes ao da morfina, mas pode causar menos náuseas e vômitos. É metabolizado mais lentamente e tem meia-vida de cerca de 12 a 16h. Deste modo, a administração repetida em intervalos curtos pode levar ao acúmulo do fármaco no plasma. A miperidina é atua principalmente no SNC e nos componentes neurais do intestino. Não é maisrecomendado para o tratamento das dores crônicas em razão da toxicidade dos seus metabólitos. Perfil de efeitos semelhantes aos da morfina. Meia-vida de cerca de 3h. Difenoxilato é um congênere da miperidina aprovado para diarreia. Loperamida é outro congênere que penetra muito pouco no SNC, mas reduz a motilidade gastrointestinal, sendo usado no controle da diarreia crônica. A fentanila é um opióide sintético, sendo um analgésico popular por causa do tempo relativamente curto até o início do efeito analgésico máximo e pela regressão rápida do efeito após doses pequenas administradas, e também pela segurança cardiovascular. É cerca de 100 vezes mais potente que a morfina, sendo administrada mais comumente por via intravenosa. Não provocam liberação de histamina. A metadona possui ação prolongada e com propriedades qualitativamente semelhantes às da morfina. É bem absorvida pelo trato gastrointestinal, com meia-vida variando de 15h a 40h. Indicada para o alívio da dor crônica, tratamento das síndromes de abstinência aos opióides e tratamento dos usuários de heroína. O propoxifeno é menos seletivo que a morfina com incidência de efeitos colaterais comparáveis aos da codeína. Meia-vida de 6h a 12h. Recomendado para o tratamento de dores brandas a moderadas. Administrado mais comumente em associação com o ácido acetilsalicílico ou paracetamol. Agonistas/Antagonistas Opióides e Agonistas Opióides Parciais: agonistas receptores κ e antagonistas receptores μ (Pentazocina, Nalbufina, Butorfanol, Buprenorfina) A pentazocina possui efeitos no SNC equivalentes aos dos opióides semelhantes à morfina. Os efeitos analgésicos são atribuídos às suas ações agonistas nos receptores opióides κ. Doses mais altas podem produzir efeitos disfóricos e psicomiméticos que dependem da ativação dos receptores κ supraespinhais. Atua ainda como antagonista fraco ou parcial dos receptores μ típicos. Não antagoniza a depressão respiratória causada pela morfina ou outros agonistas dos receptores μ. Respostas cardiovasculares semelhantes às observadas nos agonistas μ típicos, tendo em vista que em doses altas aumenta a pressão arterial e a frequência cardíaca. A nalbufina é um agonista-antagonista opióide com espectro de ação qualitativamente semelhante ao da pentazocina, sendo mais um antagonista dos receptores μ mais potente, o que causa menos disforia. Deprime a respiração tanto quanto a morfina, mas mostra um efeito limitante. É indicado para produzir analgesia. Como atua como agonista-antagonista, sua administração aos pacientes tratados com opióides semelhantes à morfina pode gerar dificuldades, a menos que seja intercalado um período curto sem o fármaco inicial. O butorfanol é um congênere da morfina com ações semelhantes às da pentazocina, sendo mais apropriado para o alívio das dores agudas do que das crônicas. A Buprenofina é um opióide lipofílico semissintético derivado da tebaína que tem potência de 20 a 50 vezes maior que a morfina, sendo indicada como analgésico e fármaco de manutenção para pacientes dependentes dos opióides. 2. Mecanismo celular de ação dos opiáceos. Classificar e discutir os efeitos dos receptores opiáceos. Classificar os opiáceos quanto à ação nos receptores. Há três tipos de receptores opióides clássicos - μ, δ e κ – que atuam por meio de proteínas G sensíveis à toxina pertussis, sendo acoplados para inibir a atividade da adenililciclase, ativar correntes de K+ ligadas aos receptores e suprimir as correntes de Ca2+ controladas por voltagem. A hiperpolarização do potencial de membrana pela ativação das correntes de K+ e pela limitação da entrada do Ca2+ por supressão das correntes deste cátion constitui os mecanismos prováveis que explicam a inibição opióide da liberação dos neurotransmissores e transmissão dos estímulos dolorosos. Os receptores opióides combinam-se com diversos sistemas de segundos-mensageiros, como a ativação das MAP-quinases e a cascata mediada pela fosfolipase C. A exposição prolongada aos opióides gera adaptações em diversos níveis desses sistemas sinalizadores, que podem estar relacionadas com os efeitos como tolerância, sensibilização e síndrome de abstinência. A maioria dos opióides utilizados na prática clínica é relativamente seletiva para os receptores μ, o que reflete sua semelhança com a morfina. Entretanto, fármacos relativamente seletivos nas doses convencionais podem interagir com outros subtipos de receptor, quando são administrados em doses suficientemente altas, resultando em alterações potenciais de seu perfil farmacológico. A morfina e muitos outros opióides usados clinicamente produzem seus efeitos por meio dos receptores μ e afetam diversos sistemas fisiológicos. Esses fármacos causam analgesia, afetam o humor e o comportamento de gratificação e modificam as funções respiratória, cardiovascular, gastrointestinal e neuroendócrina. Os agonistas seletivos para os receptores κ provocam analgesia mediada predominantemente nos tecidos espinhais. A depressão respiratória e miose podem ser menos graves com esses agonistas. Em vez de euforia, os agonistas dos receptores κ causam efeitos disfóricos e psicomiméticos. Nos circuitos neurais que medeiam a gratificação e analgesia, os agonistas μ e κ produzem efeitos de antagonismo. Foram desenvolvidos compostos agonista-antagonistas mistos na esperância de que pudessem ter menor potencial de dependência e induzir menos depressão respiratória do que a morfina e fármacos semelhantes. Contudo, na prática clínica descobriu-se que esses fármacos causam analgesia e efeitos colaterais na mesma intensidade. Esses fármacos em geral exercem um efeito limitante que restringe a analgesia conseguida. 3. Efeitos centrais dos opiáceos e discutir a importância terapêutica destes efeitos. 3. Os efeitos centrais dos opiáceos e discutir a importância terapêutica desses efeitos. Analgesia - Os fármacos semelhantes à morfina causam analgesia, sonolência, alterações do humor e confusão mental. A analgesia é obtida sem a perda da consciência. Quando as doses terapêuticas da morfina são administradas aos pacientes com dor, eles referem que a dor se torna menos intensa e menos incomoda ou desaparece por completo, mas é comum ocorrer sonolência. Além de aliviar o sofrimento, alguns pacientes demonstram euforia. Quando a morfina é administrada na mesma dose a um indivíduo normal sem dor, a experiência pode ser desagradável. As náuseas são um efeito comum e pode haver vômitos. O indivíduo pode referir sonolência, confusão mental, apatia e depressão das atividades físicas. À medida que a dose aumenta, os efeitos analgésicos, subjetivos e tóxicos tornam-se mais pronunciados. A morfina não tem ação anticonvulsivante e, em geral, não causa disartria, labilidade emocional ou incoordenação motora significativa. O alívio da dor pelos opióides semelhantes à mórfica é relativamente seletivo, tendo em vista que as outras modalidades sensoriais não são alteradas. Os pacientes frequentemente referem que a dor ainda está presente, mas que se sentem mais confortáveis. As dores difusas e persistentes são aliviadas mais eficazmente que as dores agudas e intermitentes, porém doses suficientes dos opióides podem atenuar mesmo a dor grave associada à cólica renal ou à biliar. Alterações no Humor e Propriedades Recompensantes - Os mecanismos pelos quais os opióides causam euforia, tranquilidade e outras alterações do humor não estão totalmente esclarecidos. Contudo, os sistemas neurais que medeiam o reforço opióide são diferentes dos envolvidos na dependência física e na analgesia. Dados farmacológicos e comportamentais sugerem a participação das vias dopaminérgicas na recompensa induzida pelos fármacos, principalmente as que envolvem o núcleoacumbente. Existem amplas evidências de interações entre opióides e a dopamina na mediação da recompensa gerada pelos opióides. Efeitos no Hipotálamo e Neuroendócrinos - Os opióides alteram também o ponto de equilíbrio dos mecanismos hipotalâmicos de regulação da temperatura, de modo que a temperatura corporal geralmente diminui ligeiramente. Contudo, a administração prolongada de doses altas aumenta a temperatura corporal. A morfina também atua no hipotálamo de forma a inibir as secreções do hormônio de liberação das gonadotrofinas (GnRH) e do hormônio de liberação da corticotropina (CRH), diminuindo assim as concentrações circulantes do hormônio luteinizande (LH), do hormônio folículo- estimulante (FSH) e do ACTH, o que leva à consequente diminuição da concentração plasmática dos esteroides sexuais e do cortisol. A administração dos agonistas dos receptores μ aumenta a concentração plasmática da prolactina provavelmente em razão da redução da inibição dopaminérgica de sua secreção. A administração de morfina ou β-endorfina produz pouca alteração da concentração plasmática do hormônio do crescimento. Com a administração prolongada, o paciente desevolve tolerância aos efeitos da morfina nos fatores de liberação hipotalâmicos. Miose - A morfina e a maioria dos agonistas dos receptores μ e κ causam constricção pupilar por uma ação excitatória na inervação parassimpática das pupilas. Depois da administração de doses tóxicas dos agonistas μ, a miose é acentuada, e as pupilas puntiformes são patognomônicas. Contudo, os pacientes desenvolvem midríase acentuada quando desenvolvem asfixia. Há alguma tolerância ao efeito miótico, mas os pacientes viciados com níveis circulantes altos dos opióides apresentam pupilas contraídas. As doses terapêuticas da morfina aumentam a acomodação e reduzem a pressão intraocular nos indivíduos normais bem como nos pacientes com glaucoma. Convulsões - doses altas da morfina e dos opióides semelhantes causam convulsões. Vários mecanismos parecem ser responsáveis por este efeito, e os diferentes tipos de opióides provocam convulsões com características diversas. Os fármacos semelhantes à morfina excitam alguns grupos de neurônios, especialmente as células piramidais do hipocampo. Estes efeitos excitatórios provavelmente são decorrentes da inibição da liberação de GABA pelos interneurônios. Os agonistas δ seletivos causam efeitos semelhantes. 4. Efeitos dos opiáceos no aparelho cardiovascular, respiratório e no músculo liso, e a importância terapêutica destes efeitos. Sistema Cardiovascular - Nos pacientes em decúbito, as doses terapêuticas dos opióides semelhantes à morfina não produzem efeitos expressivos na pressão arterial ou na frequência e no ritmo cardíacos. Tais doses provocam vasodilatação periférica, diminuem a resistência periférica e inibem os reflexos barorreceptores. Por essa razão, quando os pacientes deitados assumem a posição ereta, pode haver hipotensão ortostática e queda. A dilatação das arteríolas e vênulas periféricas causada pela morfina envolve vários mecanismos. A morfina e outros opióides provocam a liberação de histamina que, em alguns casos, desempenha um papel importante na geração da hipotensão. Entretanto, a vasodilatação geralmente é bloqueada apenas parcialmente pelos antagonistas H1, mas pode ser revertida eficazmente pela naloxona. A morfina também atenua a vasoconstricção reflexa causada pela elevação da PCO2. A morfina pode produzir efeito terapêutico bem definido no tratamento da angina pectoris e infarto agudo do miocárdio por meio da redução da pré-carga, inotropismo e cronotropismo negativos, alterando favoravelmente os determinantes do consumo miocárdio de O2 e ajudando a aliviar a isquemia. A morfina pode produzir o fenômeno do pré-condicionamento isquêmico, no qual um episódio breve de isquemia protege paradoxalmente o contração contra isquemia adicional. Esse efeito parece ser mediado pela modulação (por meio de receptores δ) de um canal de K+ sensível ao ATP mitocondrial existente nos miócitos cardíacos. Sistema Respiratório - Os opióides semelhantes à morfina deprimem a respiração, ao menos em parte por um efeito direto nos centros respiratórios do tronco cerebral. Essa depressão respiratória é detectável mesmo com doses muito pequenas para alterar a consciência e aumenta progressivamente à medida que a dose é ampliada. As doses terapêuticas da morfina utilizadas nos seres humanos deprimem todos os componentes da atividade respiratória (frequência, volume por minuto e volume corrente) bem como provocam respirações irregulares e periódicas. A redução do volume respiratório é atribuída principalmente à frequência respiratória mais lenta; com os níveis tóxicos, a frequência respiratória pode diminuir 3 a 4 incursões por minuto. Embora os efeitos respiratórios sejam facilmente percebidos, a depressão respiratória clinicamente significativa é rara com as doses convencionais de morfina, contanto que não haja disfunção pulmonar associada. A morfina e os opióides semelhantes também deprimem o reflexo da tosse, ao menos em parte por sua ligação direta no centro respiratório do bulbo. Não há uma correlação direta entre depressão respiratória e supressão da tosse, e os agentes antitussígenos disponíveis não deprimem a respiração. A supressão da tosse por esses fármacos parece envolver os receptores bulbares, menos sensíveis à naloxona que os receptores ativados na analgesia. Efeitos Nauseantes e Eméticos - são causados pela estimulação direta da zona de ativação dos quimiorreceptores da área póstrema do bulbo. Ais sintomas são relativamente raros nos pacientes que recebem doses terapêuticas de morfina na posição de decúbito, mas ocorrem em pacientes ambulatoriais tratados com morfina subcutânea, o que sugere também a participação de um componente vestibular. Todos os agonistas μ utilizados clinicamente causam algum grau de náusa e vômitos. Trato Gastrointestinal - a morfina e outros agonistas dos receptores μ geralmente reduzem a secreção ácida do estômago, embora também ocorra estimulação em alguns pacientes. A ativação dos receptores opióides nas células parietais aumenta a secreção, mas na maioria dos casos predominam os efeitos indiretos, como aumento da secreção de somastotatina pelo pâncreas e redução da secreção de acetilcolina. As doses baixas de morfina reduzem a motilidade gástrica e prolongam o temp ode esvaziamento gástrico; o que pode aumentar a suscetibilidade ao refluxo esofágico. O tônus da região antral do estômago e da primeira parte do duodeno é exacerbado, o que pode dificultar a intubação terapêutica do duodeno. Nos intestino delgado, a morfina diminui as secreções biliares, pancreáticas e intestinais, bem como retarda a digestão dos alimentos no intestino delgado. O tônus em repouso aumenta, e podem ser observados espasmos episódicos. No intestino grosso as ondas peristálticas propulsoras diminuem ou são suprimidas, e a hipertonia pode chegar ao nível de espasmo. Nas vias biliares o esfíncter de Oddi se contrai e a pressão dentro do duto biliar aumenta, provocando desconforto epigástrico e cólica biliar típica. 5. Indicações e limitações do uso de opiáceos e risco de seu emprego a curto e médio prazo. Um dos aspectos característicos dos fármacos opióides é o desenvolvimento de tolerância e dependência física com a administração repetida. A tolerância ao efeito dos opióides ou outros fármacos semelhantes significa simplesmente que o agente terapêutico perdeu sua eficácia com o transcorrer do tempo e que se torna necessário aumentar a dose para conseguir a mesma resposta fisiológica. O termo dependência refere-se a um conjunto complexo e mal-definido de alterações da homeostasia de um organismo, que provoca um distúrbio do seu equilíbrio homeostático quando o fármaco é interrompido. Em geral, esse distúrbio se evidencia quando aadministração de um opióide é interrompida repentinamente, resultando na síndrome de abstinênica. O vício consiste em um padrão comportamental que se caracteriza pelo uso compulsivo de uma droga e pela dedicação irreversível às atividades necessárias à sua obtenção bem como ao seu uso. Tolerância e dependência são respostas fisiológicas encontradas em todos os pacientes e não significam necessariamente vício. O emprego a curto prazo dos opióides gera um fenômeno conhecido como tolerância aguda, ao passo que o emprego a médio e longo prazo resulta em tolerância clássica ou crônica. A breve dessensibilização dos receptores, que pode explicar o desenvolvimento da tolerância, provavelmente envolve a fosforilação dos receptores μ e δ pela PKC. Algumas outras quinases foram implicadas na dessensibilização, como a PKA e a quinase dos receptores β-adrenérgicos. A tolerância persistente pode estar associada aos aumentos da atividade da adenililciclase, uma contrarregulaçao para os níveis baixos de AMP cíclico observados depois da administração aguda dos opióides. O tratamento prolongado com opióides que atuam nos receptores μ causa a superativação da adenililciclase. Esse efeito é evitado pelo pré-tratamento com toxina pertussis. Dados recentes sugerem que a tolerância aos opióides pode estar relacionada não à dessensibilização dos receptores, mas sim à falta de dessensibilização. 6. Discutir o controle das intoxicações causadas por estes medicamentos. A toxicidade aguda dos opióides pode ser causada por overdoses durante tratamento clínico, por overdoses acidentais utilizadas por viciados, ou como tentativas de suicídio. Em alguns casos, efeitos tóxicos tardios podem ocorrer depois da injeção de um opióide em áreas resfriadas da pele, ou nos pacientes com pressão arterial baixa e choque. O fármaco não é totalmente absorvido, por isso uma dose adicional pode ser administrada. Quando a circulação normal é restaurada, uma quantidade excessiva pode ser absorvida repentinamente. É difícil definir a quantidade tóxica ou letal exata de qualquer opióide usado nos seres humanos. Nos indivíduos sem tolerância, a toxicidade grave pode ocorrer depois da ingestão oral de 40 a 60mg de metadona. Um adulto normal sem dor provavelmente não morre depois da administração oral de doses menores que 120mg de morfina ou não tem efeitos tóxicos graves depois da administração de doses menores que 30mg por via parenteral. A tríade de coma, pupilas puntiformes e depressão respiratória é muito sugestiva de intoxicação por opióides. Os pacientes geralmente apresentam esturpor, ou se a overdose for maciça, podem entrar em coma. A frequência respiratória fica muito lenta e os músculos flácidos. Quando ocorre morte, quase sempre é atribuída à insuficiência respiratória. Mesmo que a respiração seja recuperada, a morte ainda pode ocorrer em consequência das complicações que se desenvolvem durante o coma, como pneumonia ou choque. A intoxicação por opióides frequentemente causa edema pulmonar não-cardiogênico..
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