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Gestão do Conhecimento Os elementos construtivos do sucesso Gilbert Probst Steffen Raub Kai Romhardt P962g Probst, Gilbert. Gestão do conhecimento : os elementos construtivos do sucesso / Gilbert Probst, Steffen Raub, Kai Romhar- dt; tradução Maria Adelaide Carpigiani. – Porto Alegre : Bookman, 2002. 286 p. ; 25 cm. ISBN 978-85-7307-978-4 1. Administração – Gestão. I. Raub, Steffen. II. Romhardt, Kai. III. Título. CDU 659.2/.28 Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto – CRB 10/1023 1Gestão do conhecimento:o desafio INTRODUÇÃO Para sobreviver e competir na “sociedade do conhecimento”, as empresas devem aprender a administrar seus ativos intelectuais. Provavelmente, há pouco de novo a ser dito sobre a administração dos fatores clássicos de produção; a gestão do conhecimento, entretanto, está apenas começando. O conhecimento é o único recurso que aumenta com o uso. Este capítulo mostrará por que as empresas cada vez mais aceitam o desafio da gestão do conhe- cimento, e que recompensas elas podem esperar desse empreendimento. Os ad- ministradores profissionais do conhecimento enfrentam enormes demandas por causa do seu crescimento intenso, por seu curto ciclo de vida e pela natureza cada vez mais intensa em conhecimento de todos os processos administrativos. Deve- se agir rapidamente, pois se você esperar até os esforços de gestão do conhecimen- to de seus concorrentes começarem a dar resultados, pode ser tarde demais para alcançá-los. GESTÃO DO CONHECIMENTO: O DESAFIO Um assunto quente O conhecimento como fator competitivo chegou ruidosamente às manchetes de negócios. As empresas são instadas a fazer maior uso do “tesouro oculto” nas mentes de seus funcionários. As firmas inovadoras formam grupos de tra- balho sobre a gestão do conhecimento, enquanto os dirigentes enfatizam o papel especial que o conhecimento desempenhará em moldar o futuro de suas empresas. Muitos organizadores profissionais anunciam workshops e confe- rências sobre gestão do conhecimento, e consultores de empresas oferecem seus serviços. Isso tudo significa que as empresas estão condenadas a fra- cassar a menos que tomem medidas deliberadas para administrar seu co- nhecimento? 12 GESTÃO DO CONHECIMENTO Sucesso das empresas de conhecimento intensivo Muitas empresas de conhecimento intensivo conquistaram um sucesso espetacu- lar nos últimos anos – sucesso que se reflete em seu desempenho na bolsa de valores. A SAP, produtora de software, atualmente supera a VOLKSWAGEN em capi- talização no mercado de ações. A empresa de Internet NETSCAPE ultrapassou a APPLE, e a MICROSOFT – a “fábrica pensante” insuperável – faz sombra a gigantes industriais como a BOEING e a KODAK. O tamanho das instalações industriais e dos edifícios administrativos de uma empresa deixou de ser uma medida confiá- vel de sua importância ou capacidade industrial. OS ADMINISTRADORES DESCOBREM O CONHECIMENTO Avançando para a “sociedade do conhecimento” A “sociedade da informação” e a “economia do conhecimento” prognosticadas há muito tempo, agora estão surgindo como realidades tangíveis. Os principais teó- ricos da administração argumentam que, para uma empresa, é muito mais lucra- tivo investir uma certa quantia em seus ativos de conhecimento do que despen- der a mesma quantia em ativos materiais. James Brian Quinn, o conhecido pro- fessor de administração norte-americano, afirma que, em muitas empresas, três quartos do valor agregado são atribuíveis à posse de conhecimento específico (cf. Quinn, 1992, 1993 e The Economist [11/11/95]);* Charles Handy, importante teórico da administração, acredita que já estamos em um estágio em que o valor do capital intelectual de uma empresa é freqüentemente várias vezes o de seus ativos materiais (cf. Handy, 1990). Tendências da indústria A revolução na tecnologia das comunicações trouxe mudanças econômicas que acentuam a importância do conhecimento. Nos países industriais modernos, as indústrias intensivas em conhecimento são responsáveis por uma proporção em constante crescimento no produto nacional líquido. Essa tendência certamente afeta o sucesso financeiro de empresas individuais, levando mais empresas a reco- nhecer a importância fundamental do conhecimento como recurso. No mundo da gestão tão ligado em números, poucos ficarão surpresos em saber que o ímpeto inicial nasceu de um exercício de avaliação do valor das ações das empresas. Avaliando o conhecimento Os balancetes são uma ferramenta conhecida na contabilidade e na administra- ção financeira. A maioria dos executivos reagiriam com perplexidade, entretanto, se lhes pedissem para apresentar os números dos ativos intelectuais de sua empre- * Ver também Sveiby, 1997; Davenport & Prusak, 1998; Edvinsson & Malone, 1997; Stewart, 1997. GESTÃO DO CONHECIMENTO: O DESAFIO 13 sa. Uma das primeiras empresas a inventariar o seu conhecimento foi a sueca SKANDIA ASSURANCE AND FINANCIAL SERVICES (AFS). Em 1993, a empresa pu- blicou os primeiros cálculos de seus ativos intelectuais como suplemento aos resultados tradicionais da empresa. Isso constituiu um novo princípio (ver a Figura 1.1). FIGURA 1.1 Relatório anual de capital intelectual da SKANDIA. Suplemento ao relatório anual de 1994 da SKANDIA Visualizando o Capital Intelectual na Skandia Capital Intelectual Processos de criação de valor Suplemento ao Relatório Anual de 1993 da Skandia Índices de conhecimento A principal razão para a SKANDIA AFS publicar os cálculos de seu capital intelec- tual é fornecer uma divisão mais sistemática dos ativos não-materiais antes conhe- cidos em conjunto como “fundo de comércio” (goodwill). Um sistema engenhoso de índices é usado para lançar o conhecimento e as habilidades de funcionários altamente treinados, junto com outros fatores como relações com o cliente, repu- tação da empresa no mercado e sua tecnologia de informática. Um diagrama conhecido como o navegador é, então, construído para mostrar as relações entre as tendências estratégicas da empresa e as variáveis selecionadas para definir seu capital intelectual.1 Ausência de ferramentas administrativas A tentativa revolucionária da SKANDIA de tornar seu capital intelectual mais trans- parente salienta um problema administrativo que se tornou cada vez mais apa- rente nos últimos anos. As técnicas e ferramentas para administrar os fatores clás- 14 GESTÃO DO CONHECIMENTO sicos de produção (mão-de-obra, capital e terras) foram progressivamente refina- das, mas não se fez praticamente nenhum progresso na criação de ferramen- tas profissionais para administrar ativos de conhecimento. Como resultado, as organizações geralmente fazem muito pouco uso de seus recursos intelec- tuais. Elas podem não utilizar suficientemente suas patentes, não explorar e desenvolver habilidades específicas dos funcionários, ou podem falhar em explo- rar vantagens competitivas de forças específicas, como o domínio de tecnologias de ponta. Os primeiros administradores de conhecimento A difundida inabilidade das administrações de tratar o conhecimento como um recurso estimulou uma série de iniciativas recentes. Novos cargos foram criados, freqüentemente com títulos muito criativos: muitas empresas agora têm um dire- tor de capital intelectual, ou um diretor de conhecimento, ou um gerente de ativos de conhecimento ou intelectuais. As pessoas que ocupam esses cargos têm funções notadamente diferentes, embora todas estejam oficialmente preocupadas com os ativos intelectuais. Algumas trabalham com análises estratégicas das com- petências, enquanto outras desenvolvem maneiras de catalogar o conhecimento, criam melhores infra-estruturas de comunicações ou procuram maneiras mais eficientes de administrar portfólios de patentes. O fator comum em seu trabalho é que todas elas estão reagindo ao desafio de um ambiente cada vez mais compe- titivo em que o aprimoramento da gestão dos ativos intelectuais pode trazer van- tagens críticas. Os administradores precisam analisar como a importância crescente do co- nhecimentopode afetar a posição competitiva de sua empresa. Portanto, eles devem compreender a dinâmica básica de nossa sociedade orientada para o co- nhecimento. O AMBIENTE DO CONHECIMENTO: TRANSPARENTE – OU TURBULENTO? Tendências ambientais O ambiente de conhecimento em que as empresas devem operar atualmente é estruturalmente muito mais complexo do que aquele que existia há vários sécu- los. Isso se deve, em grande parte, a três tendências intimamente relacionadas: a impressionante taxa de crescimento do conhecimento, o grau em que ele se tor- nou fragmentado e sua globalização crescente. Do ponto de vista quantitativo, o conhecimento humano tem crescido expo- nencialmente. Depois da invenção da prensa tipográfica, por Gutenberg, passaram mais de 300 anos para o volume de informações mundiais dobrar pela primeira vez. Desde então, ele praticamente dobrou a cada cinco anos. Entre 1950 e 1975, por exemplo, foram produzidos tantos livros quanto nos 500 anos após a inven- ção da prensa (cf. Badaracco, 1991, p.17 e Arthur Anderson, 1996, p.7). Nos últimos 30 anos, a proporção de funcionários de pesquisa e desenvolvimento na força de trabalho total das empresas industriais ocidentais dobrou. O uso de tec- nologias aplicadas mostra uma curva de crescimento similar e correspondente. jpsantos Caixa de texto PRESERVANDO O CONHECIMENTO 179 mente que recursos anteriores de vendas. Seus colegas não sabem de coisa alguma sobre essa apresentação, talvez em virtude da identificação pobre do conhecimen- to de dentro da empresa, ou da falta de comunicação; ou talvez não tenham oferecido incentivos ao destacado apresentador para compartilhar seu know-how. Regras de seleção Ao decidir qual conhecimento preservar, é útil considerar o que aconteceria ao conhecimento de qualquer funcionário se ele saísse de repente. Quem poderia encontrar documentos ou apresentações vitais em seu disco rígido? Pode estar bem organizado, mas também pode não estar. Os contatos e processos que são importantes para o trabalho estão bem documentados? A saída inesperada de um funcionário muitas vezes deixa uma lacuna dolo- rosa, como resultado da documentação inadequada durante sua permanência. A documentação sempre toma tempo e esforço, seus benefícios geralmente não são imediatos e a pessoa que a criou raramente recebe o crédito. Portanto, as regras de seleção são necessárias pois não faz sentido documentar qualquer coisa. O desafio é separar as experiências valiosas do resto e transferir dados, informações e habili- dades valiosos para os sistemas organizacionais em que eles podem ser úteis a toda a empresa. Novamente, a ARTHUR ANDERSEN dá um bom exemplo. ESTUDO DE CASO: ARTHUR ANDERSEN A seleção e preservação sistemáticas de conhecimento usando o ARTHUR ANDER- SEN ONLINE O sistema interno de informações da ARTHUR ANDERSEN foi descrito resumidamen- te no capítulo sobre a definição de metas de conhecimento. Existem fóruns ele- trônicos sobre todos os assuntos que afetam a competência em consultoria da empresa. A qualidade das contribuições varia muito, e muitas delas logo estão desatualizadas e deixam de ser úteis (ver a Figura 10.2). O desafio é analisar o sistema divergente de partes individuais de informa- ção. As responsabilidades pelos processos de análise e seleção são atribuídas com clareza. Todo centro de competência da organização (por exemplo, a GQT) tem gerentes ou equipes específicas que executam essas funções. Eles intera- gem para desenvolver conhecimento condensando contribuições individuais em documentos principais. De 12 relatórios sobre a introdução do LOTUS Notes, por exemplo, criou-se um documento principal que resume as principais lições apren- didas. O processo de sintetização significa que apenas os princípios básicos são mantidos no sistema a longo prazo, e o usuário é poupado da necessidade de utilizar os relatórios individuais. Os itens tipicamente selecionados para retenção são as melhores práticas, as melhores empresas, apresentações, definições de processos, estudos, artigos e análises de causa e efeito. Eles são armazenados de forma estruturada no ARTHUR ANDERSEN ONLINE e, assim, são disponibilizados a todos os membros da organização. Os gestores de conhecimento nos centros de competência também são respon- sáveis por se desfazerem de material indesejável. Se isso não fosse feito, o banco de dados global cresceria cerca de 3% ao dia e logo se tornaria disfuncional. jpsantos Caixa de texto 180 GESTÃO DO CONHECIMENTO Paralelos com a memória humana Os processos de seleção e armazenamento em uma organização podem ser com- parados com os que ocorrem no cérebro humano. Informações que são gravadas na nossa memória de longo prazo devem antes passar pelas memórias de curtíssi- mo prazo e de curto prazo.3 Elas são os porteiros da memória de longo prazo: separam as percepções importantes das irrelevantes, dessa forma protegendo o cérebro de uma constante superestimulação. Infelizmente, a parte consciente da mente só pode influenciar esse processo até certo ponto. Por isso, temos de usar todos os tipos de truques e técnicas de aprendizado para sermos mais espertos que os porteiros e filtrar o que desejamos conservar da torrente de informações. Rotinas organizacionais Existe um problema parecido nas organizações. Os mecanismos de seleção nem sempre funcionam de forma tão sistemática quanto planejado. As organizações têm rotinas que fazem com que alguns processos – como o preenchimento de um tipo específico de documento – prossigam automática e indubitavelmente. Em quase todo escritório existem “arquivos-mortos”, ou arquivos empoeirados, que indicam um método errado de preservar o conhecimento. As rotinas estão firme- mente estabelecidas e os funcionários que mantém ou administram esses sistemas raramente os mudam sem um impulso externo. Documentos de conhecimento As organizações nunca conseguem administrar todos os processos envolvidos na seleção do conhecimento. Nem faria sentido tentar. Entretanto, em áreas-chaves, como o conhecimento sobre clientes, por exemplo, elas devem esforçar-se para selecionar significativamente e documentar eficientemente. Se esse conhecimen- to for registrado em documentos, tais como mapas de conhecimento ou lições aprendidas, ele se torna independente dos indivíduos e é preservado para a orga- nização.4 O importante é concentrar o conhecimento em torno de determinados fatores-chaves e relacioná-lo claramente a problemas especiais. Só vale preservar conhecimento que possa ser útil para outras pessoas no futuro. Qualquer outra evento divergente análise convergente síntese descobertas importantes FIGURA 10.2 De um sistema divergente para um convergente. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . PRESERVANDO O CONHECIMENTO 181 coisa desperdiçará o tempo de quem futuramente buscar o conhecimento e os fará duvidar da qualidade do sistema de documentação. Ao mesmo tempo, deve- mos lembrar que só podemos adivinhar uma pequena parte de nossas necessida- des futuras de informação, por isso nossos limites não devem ser muito estreitos. Documentando o sucesso Outra maneira de ajudar as pessoas a entenderem o passado da organização é preservar as idéias principais na forma de princípios administrativos, declarações de visão e de missão, histórias ou outros tipos de simbolismo. Essas formas de armazenamento são úteis, pois fornecem um atalho para se entender a organiza- ção (cf. Probst & Büchel, 1997, p.21). Uma empresa suíça, por exemplo, pediu a um consultor para documentar o lançamento extremamente bem-sucedido de uma nova linha de produtos. Foram questionados todos aqueles que tinham de- sempenhado um papel importante, foram identificados os fatores considerados responsáveis pelo sucesso e a história foi então reconstruída. Os resultados do estudo foram reunidos como um caso de treinamento, que atualmente está dis- ponível para instrutores. A história relata um evento positivo e significativo no passado da empresa e pode ser usadopara motivar funcionários em treinamento e dar-lhes conhecimento. Sistemas de gerenciamento de documentos Outra razão para conservar os documentos de conhecimento é que eles po- dem ser necessários por razões legais. Em uma ocasião, um funcionário de TI responsável por monitorar todos os projetos maiores em uma empresa des- centralizada queixou-se de que, ao chegar para calcular os honorários devidos aos consultores, documentos vitais relacionados ao contrato tinham desapa- recido. Havia novos projetos em andamento e bastante troca de funcionários, e os documentos simplesmente não foram encontrados. Esse tipo de dificul- dade poderia ser evitado usando-se um dos novos sistemas de gerenciamento de documentos que mantém registros informatizados dos contratos de clien- tes durante todo o seu ciclo de vida e os armazenam na memória eletrônica da firma. Identificando funcionários-chave Novas tecnologias como o gerenciamento do fluxo de trabalho e os sistemas de gerenciamento de documentos oferecem maneiras novas de preservar o conheci- mento organizacional. Porém, ainda são as pessoas que fazem escolhas sensíveis ou catastróficas em pontos vitais. Os funcionários nem sempre podem ser substi- tuídos por máquinas ou sistemas informatizados. Suas experiências são a chave para organizar o passado da empresa de forma significativa. Enfatizamos repeti- damente a importância desses funcionários-chave no processo de gestão do co- nhecimento. A maneira mais certa de evitar a perda da memória coletiva é iden- tificando-os e conservando-os na empresa. 182 GESTÃO DO CONHECIMENTO ARMAZENANDO CONHECIMENTO Quando o conhecimento que vale salvar foi separado do resto, ele precisa ser armazenado de forma adequada na base de conhecimento da organização. Pode- mos distinguir três tipos de meio de armazenamento: funcionários individuais, grupos e computadores. Como eles operam com princípios diferentes, vamos discuti-los separadamente. Armazenamento individual: “Quem sabe isso?” As organizações sofrem a perda permanente de especialistas valiosos através de demissões, excesso de pessoal, aposentadoria e morte. Em um artigo da revista The Economist, a expressão “ativos não fixos” foi usada (ironicamente) para refe- rir-se a funcionários excepcionais. Isso toca o cerne de um dos principais proble- mas no relacionamento entre empresas e seus trabalhadores do conhecimento. O conhecimento armazenado nas cabeças dos funcionários é extremamente volátil. Se for perdido, o dano só pode ser limitado por meios legais, o que é dispendioso e quase sempre tem efeitos colaterais imprevisíveis. A maneira mais simples de proteger o capital intelectual é criar um ambiente em que as pessoas simplesmen- te não pensem em mudar de emprego. Sistemas de incentivos e desincentivos para sair Se as pessoas com desempenho elevado estiverem felizes em seu ambiente social, é menos provável que elas sejam suscetíveis a ofertas lucrativas de fora. Trabalha- dores especializados em conhecimento, entretanto, têm uma estrutura motiva- cional diferente. Incentivos adequados só podem ser idealizados pelos que conhe- cem essa estrutura e que reúnem mais informações conversando com as pessoas envolvidas. Contudo, é um erro pensar que todos os especialistas podem ser con- servados indefinidamente por um excelente ambiente de trabalho se o pagamen- to for medíocre; alguns deles são obrigados a sair. As barreiras às saídas (cf. Bono- ma & Slevin, 1978, p.205) podem ser levantadas por sistemas de incentivos so- ciais ou materiais, mas as necessidades pessoais de funcionários individuais tam- bém devem ser levadas em conta para tornar as barreiras efetivas. Mecanismos de ligação flexíveis Às vezes, é impossível conservar funcionários valiosos por meio de incentivos. O mais talentoso é aquele que tem idéias próprias e não quer trabalhar para sempre em uma grande empresa. Em algum momento, eles sairão para montar uma em- presa independente apesar dos riscos. Mesmo assim, pode ser possível manter o acesso a seu conhecimento depois que forem embora criando-se mecanismos fle- xíveis de cooperação. Esses mecanismos podem ter muitas formas: os ex-funcio- nários poderiam ser convidados a voltar como professores ou consultores, por exemplo, ou trazidos para discussões difíceis com clientes. O principal é criar uma situação em que todos ganham. As firmas de consultoria, nas quais a taxa PRESERVANDO O CONHECIMENTO 183 anual de rotatividade de pessoal chega até a 30%, usam o êxodo de funcionários treinados internamente para construir fortes redes de relacionamento. Elas têm “sua” gente em quase todas as principais organizações e, assim, garantem acesso a informações exclusivas. Também existem muitas maneiras de ainda poder envol- ver funcionários aposentados, embora isso não seja feito com freqüência. Atual- mente, parece existir um sentimento geral de que as pessoas mais velhas são inú- teis e espera-se que elas se afastem abrupta em vez de gradativamente. Porém, se a empresa mantiver um relacionamento com elas, ela retém contatos com clientes e acesso a informações que, de outra forma, estariam perdidos para sempre. ESTUDO DE CASO: ABB CONSULTING Conservando a experiência de gerentes aposentados Antes da ABB CONSULTING ser criada, a administração suíça da ABB enfrentava um dilema. Por um lado, não queriam oferecer aposentadoria precoce aos ge- rentes que há muito trabalhavam com eles, pois isso significaria perder sua longa experiência e seus contatos. Por outro lado, os cargos eram necessários para dar a chance aos funcionários jovens de ascenderem às posições elevadas em um tempo razoável. Os gerentes mais velhos desejavam mais liberdade para decidir quando e com que rapidez se aposentariam. A criação da ABB CONSULTING proporcionou-lhes uma maneira de se aposentarem em estágios. Hoje, todo o pessoal dessa empresa é formado por antigos altos funcionários da ABB SWIT- ZERLAND que quiseram fazer um recomeço, aos 60 anos, como consultores. Es- ses “estadistas mais velhos” trabalham principalmente nas subsidiárias da ABB, onde podem continuar a fazer total uso de sua experiência e de sua rede mundial de contatos (ver a Figura 10.3). Os conselheiros que trabalham na ABB CONSULTING operam em campos muito diferentes, como na administração por um período fixado, em relações públicas ou na cooperação com órgãos estatais ou públicos. Existem muitas áreas em que podem aplicar seu conhecimento. Podem usar sua experiência para atua- rem como ghost writers da administração presente, como guias competentes em atividades de produção (que antes eles próprios gerenciavam) ou como expe- rientes supervisores de processos em projetos complexos. Normalmente, quan- do um funcionário se aposenta – seja por vontade própria ou não – a transferên- cia de conhecimento entre quem está se aposentando e a empresa está no final. Entretanto, a ABB encontrou uma alternativa flexível que beneficia ambos os lados. A empresa pode ainda consultar seus antigos especialistas e os gerentes aposentados que quiserem continuar trabalhando recebem reconhecimento pes- soal e financeiro do fato de que ainda são necessários. O dinheiro que, de outra forma, seria necessário para uma consultoria dispendiosa de recolocação de fun- cionários pode ser usado mais produtivamente. Transferência sistemática de habilidades Outra maneira de conservar habilidades vitais é treinar sucessores. Muito antes do atual ocupante de um cargo sair, o sucessor deve ser treinado passo a passo, por 184 GESTÃO DO CONHECIMENTO um longo tempo, nas tarefas que terá de desempenhar e, assim, adquirir as habi- lidades do “mestre”. Muitas organizações européias fazem um cavalo de batalha do treinamento de sucessores, e os funcionários presentes tentam conservar seu poder até o último dia, retendo informações importantes. No Japão, existe uma tradição diferente. Sempai-kohai O princípio japonês chama-se sempai-kohai. Ele se baseia em uma estreita relação entre dois homens, o mais velho sempai, o queensina, e o mais novo kohai, o que é ensinado (cf. The Economist, 20.4.1996, p.58). Para todo trabalhador novo é designado um mentor mais velho que ensina ao mais jovem todos os truques do negócio. O relacionamento é reforçado sistematicamente por atividades conjuntas no tempo livre, para criar uma atmosfera de confiança em que se pode trocar qualquer tipo de informação. O sistema também é excelente para a transferência de conheci- mento implícito. Em 1993, a indústria do aço japonesa dispensou um quarto de seus 150.000 trabalhadores. Temeu-se que o nível médio de competência caísse drastica- mente, provocando uma queda óbvia na qualidade. O fato disso não acontecer foi visto pelos observadores externos como corroboração do princípio do sempai-kohai. Explicação seletiva Existem algumas maneiras baratas e fáceis de reduzir o dano que pode ser impos- to pela saída de um especialista. Um dos métodos mais simples é os especialistas treinados realizarem entrevistas de saída estruturadas. Nessas entrevistas, o co- nhecimento que seja vital para a organização – como documentos especiais, con- tatos ou envolvimento em projetos – é explicitado e documentado. Essas entre- vistas também devem envolver o sucessor. Se as conversas forem abertas e positi- vas, preserva-se muita informação valiosa e a organização também pode aprender FIGURA 10.3 Conservação de competências através de “estadistas mais velhos”. Tarefas de liderança/ apoio administrativo • administração temporária • apoio/preparação • liderança de projeto • transferência de know-how • reengenharia da empresa • aquisição/venda de atividades Atividades especializadas • supervisão de projeto • gestão de abastecimento • planejamento de pesquisa de mercado • relatórios/prognósticos tecnológicos • processo de reengenharia Mandatos públicos • ligação com autoridades • representação em comitês escolares • representação em associações e clubes • representação em comissões (inter) nacionais Relações públicas • organização de conferências, seminários e visitas • palestras/publicações • atuação como ghost writer • promoção de apresentações Campos de atividade da ABB CONSULTING PRESERVANDO O CONHECIMENTO 185 mais sobre si. Ela pode aprender, por exemplo, as razões que o entrevistado tem para sair e então será capaz de ajustar as “barreiras à saída” como necessário. Na SANDIA NATIONAL LABORATORIES (Albuquerque, Novo México), as entrevistas de saída em profundidade são gravadas em fita de áudio e de vídeo (cf. The Econo- mist, 20.4.1996, p.58). O objetivo é captar algo da sabedoria de quem sai e pre- servar sua experiência para a organização. A memória coletiva A memória humana é efêmera e dinâmica. Os psicólogos acreditam que toda vez que lembramos de algo, mudamos ou reescrevemos nosso próprio passado. O problema é que as falsas lembranças se parecem com as genuínas.5 Se não quiser- mos ser enganados por nossas próprias reconstruções da realidade passada,6 preci- samos do feedback dos outros que dela participaram para que possamos confirmar ou ajustar nosso próprio quadro. O grupo, assim, torna-se um contrapeso para nossas lembranças próprias. Existem diferenças entre as lembranças individuais e as maneiras do grupo armazenar experiências compartilhadas. Mesmo agora, usando entrevistas em pro- fundidade, os psicólogos conseguem traçar os limites entre as áreas que foram mais ou menos afetadas pela Guerra dos Trinta Anos. Os horrores dessa época penetraram tão profundamente na memória coletiva que, hoje, 350 anos depois, ainda afetam o comportamento diário dos habitantes da área.7 Esse fenômeno indica que as experiências passadas em uma organização podem estar profunda- mente enraizadas, mesmo se não forem óbvias para o observador casual. Os grupos vencem os indivíduos A memória coletiva não é apenas muita bagagem histórica; ela também pode ser extremamente produtiva. Em um experimento em laboratório, foi explicado às pessoas como montar um rádio transistor. Explicou-se a alguns em grupo e a outros individualmente.8 Uma semana depois do treinamento, eles eram convi- dados a voltar e pediu-se que lembrassem e executassem as etapas individuais da montagem do rádio. As pessoas que tinham sido treinadas individualmente foram colocadas em pequenos grupos para esse propósito. As que tinham sido treinadas em grupo foram deixadas juntas e podiam lembrar como grupo. O resultado foi que aquelas que tinham sido treinadas como grupo se lembraram de mais detalhes do processo e produziram rádios melhores. A análise detalhada dos vídeos do treinamen- to original mostrou que elas tinham desenvolvido uma gama de vínculos sociais e cognitivos; os pesquisadores os chamaram de “sistema de memória transitiva” (cf. Cohen & Bacdayan, 1994). A memória do grupo foi superior àquela dos indivíduos. Lembrando em pares Um outro fenômeno de memória conjunta foi revelado durante a observação de pares (cf. Wegner, 1996, pp. 189ff.). Alguns indivíduos utilizam outros, com quem interagem estreitamente, como uma extensão de sua capacidade de arma- 186 GESTÃO DO CONHECIMENTO zenamento, assim aumentando a capacidade própria de lembrar do passado. Eles desenvolvem uma percepção dos detalhes de uma situação vivenciada em con- junto que são particularmente prováveis de serem notados pelo parceiro, por exem- plo, nomes. Essa divisão de trabalho significa que os parceiros só podem se lem- brar de uma situação completamente se a lembrarem juntos. Documentando processos importantes Existem muitos sucessos de grupo que não podem ser explicados por esses méto- dos de análise. Processos de grupo, como solução de problemas, quase sempre têm uma dinâmica própria, que observadores e mesmo os próprios membros do grupo têm dificuldade de entender. Todavia, existem algumas providências que podem ser tomadas para preservar processos importantes e fornecer uma base para aperfeiçoamentos futuros. Os funcionários da FUJI-XEROX, joint-venture nipo- americana, documentaram cada etapa e cada detalhe do processo de cooperação (cf. The Economist, 20.4.1996, p.58). O objetivo era ajudar funcionários futuros a aprender a história da empresa, e também aprender com ela. Atas As atas são a maneira tradicional de registrar reuniões. Entretanto, bons redatores de atas são raros e a tarefa geralmente é considerada cansativa. As atas costumam ser muito curtas ou muito longas; muitas vezes, são redundantes, mal estrutura- das, agravos incompletos que, de qualquer forma, são apresentados tarde demais. Contudo, em organizações em que grande parte do trabalho é executado em grupos transitórios de projeto, as atas são o principal documento para preservar o desenvolvimento do trabalho até então. As empresas japonesas dão treinamento especial em técnicas de documentação adequada a seus mediadores. O objetivo é garantir que fatos e decisões não sejam esquecidos e que os novos membros do grupo possam estudar as atas de reuniões anteriores e entender rapidamente a situação atual da discussão do grupo. A importância de uma linguagem compartilhada A palavra falada é mais poderosa que registros escritos. É a melhor maneira de preservar e fixar experiências de grupo. A fala está mais perto de nós do que a palavra escrita. No decorrer de sua vida, uma empresa desenvolve seu vocabulário próprio; os novos funcionários precisam aprendê-lo para participarem da conver- sa. Isso vai muito além das abreviações usuais, que são usadas em prol da eficiên- cia. Palavras comuns como qualidade, mudança e segurança são usadas de formas específicas na empresa e, assim, tornam-se veículos da história da empresa. As palavras são freqüentemente associadas a emoções fortes. Em uma em- presa industrial, uma equipe de consultores muito bem pagos fez uma reorgani- zação chamada “Horizontes”. Foi um fracasso lamentável. Anos depois, a simples menção da palavra “Horizontes” era suficiente para encerrar qualquer conversa de um projeto de consultoria. PRESERVANDO O CONHECIMENTO 187 Toda organização tem termos e expressões desse tipo;eles são usados com freqüência no decorrer das atividades diárias. Portanto, os gestores de conheci- mento devem dar-se ao trabalho de fixar experiências ou idéias vitais no vocabu- lário da organização e usá-las para os próprios propósitos. Definição de termos em grupo Uma maneira de fixar e preservar idéias e imagens vitais é pedir aos grupos para definirem termos.9 Se os termos básicos forem analisados explicitamente no iní- cio de um processo de grupo, dá-se atenção a quaisquer discordâncias no signifi- cado de termos que não pareciam ambíguos. Uma definição formulada por uma equipe e documentada adequadamente pode reduzir o risco de mal-entendidos futuros. É especialmente provável que expressões da moda, como “gestão da qua- lidade total” ou “organização de processo”, sejam entendidas de modos diferen- tes. Se for estabelecida uma terminologia básica comum, é menos provável que as pessoas falem sem entendimento mútuo. Experiências partilhadas Em empresas descentralizadas ou heterogêneas, quase sempre é extremamente difícil integrar idéias de pessoas diferentes sobre um assunto específico. O inves- timento necessário para criar uma linguagem comum ou para proporcionar expe- riências compartilhadas pode ser considerável. Todavia, todos os 20.000 funcio- nários da SWISSCOM participam atualmente do “Workshop de Mudança de Opi- nião” como parte de uma reorganização em grande escala. Os participantes prati- cam a mudança em pequenos grupos e a aplicam a sua situação particular. Todos eles assistem ao mesmo vídeo sobre as conseqüências de falta de foco no cliente e examinam o problema em grupos. Isso dá origem a experiências compartilhadas, que podem então ser utilizadas no trabalho. O programa “Mudança da SWISSCOM”, que inclui todas as estruturas e estratégias da organização, transforma-se em algo que pode ser experimentado e se enraíza com mais firmeza na memória organizacional. Também é algo que os funcionários podem relacionar com o próprio trabalho. A memória eletrônica da empresa Capacidade ilimitada de armazenamento Nos últimos anos, a revolução na indústria de computadores multiplicou as ma- neiras de armazenar material eletronicamente. Se o desenvolvimento continuar na mesma velocidade rápida, logo haverá espaço praticamente ilimitado de arma- zenagem a um custo muito modesto. Digitalização Quase todos os meios tradicionais de armazenagem podem ser colocados na for- ma digital. Videocassetes podem ser substituídos por DVDs, documentos podem 188 GESTÃO DO CONHECIMENTO ser escaneados e a câmera digital está no mercado há algum tempo. No futuro, o usuário comum de computador será capaz de acessar à gama completa de meios de armazenamento através de uma única interface. As vantagens qualitativas dos meios digitais de armazenagem são que eles são fáceis de editar, podem ser usados repetidamente e podem ser distribuídos de maneira barata através de redes. O crescimento dos meios digitais está criando a base para uma memória humana global. Ao mesmo tempo, a Internet oferece a números crescentes de usuários acesso a massas de dados. A Internet, e as intranets de muitas empresas, são só o começo de um desenvolvimento que até os especialistas acham difícil de avaliar. Se bibliotecas, jornais, arquivos de fitas, filmes e textos crescerem todos juntos, e se forem impostos padrões mais abrangentes para organizar e estruturar matérias- primas digitais, então a Internet se tornará um meta-arquivo para tudo. Implicações para a memória organizacional Esse desenvolvimento tem conseqüências importantes para empresas que operam em um ambiente intensivo em conhecimento. Em primeiro lugar, elas devem supor que seus concorrentes têm acesso a um conjunto de dados mundiais e que o usam para os seus próprios objetivos. Em segundo lugar, a organização de sua própria base de conhecimento informatizada é uma questão importante. Uma parte substancial do know-how das empresas intensivas em conhecimento está contida em documentos que podem ser digitalizados, tais como apresentações, for- mulários, plantas de construção e relatórios. Se eles forem armazenados sistematica- mente e reutilizados, constituem uma vantagem competitiva de benefício crescente. Perda de memória A memória eletrônica pode não dar certo por muitas razões. Se, por exemplo, documentos de trabalho de uma determinada estação de trabalho não forem en- trados no sistema, eles não são armazenados na memória eletrônica da empresa e não ficam disponíveis para outros funcionários. Se um documento for codificado de maneira errada, ou armazenado no lugar errado, ele não pode ser recuperado e pode ser perdido para sempre. Se um usuário não conseguir interpretar a codifi- cação, ou se uma rede ou um computador individual não estiver conectado ao banco de dados central, a organização pode não se lembrar mais do documento. Muito poucas empresas organizam suas memórias eletrônicas rigorosamen- te, por isso os problemas que acabamos de descrever não são incomuns. A maio- ria das organizações está lutando com sistemas de TI e estruturas de dados que cresceram com o passar do tempo. Portanto, pode ser difícil construir uma me- mória corporativa eficiente e favorável ao usuário, especialmente nas grandes empresas internacionais (ver a Figura 10.4). Bancos de dados O modelo mostra que a memória eletrônica de uma organização contém classes muito diferentes de dados. Quanto mais estruturada for a maneira de armazenar um documento informatizado, mais fácil será encontrá-lo mais tarde. Menos pro- PRESERVANDO O CONHECIMENTO 189 blemáticos são os bancos de dados que a própria empresa opera, usando um rígido sistema de classificação. Hoje em dia, bancos de dados de clientes e produtos geralmente se baseiam em uma estrutura de dados relativos que rotula registros individuais com números de clientes, produtos ou projetos não ambíguos. As ligações entre diferentes bancos de dados são apoiadas por sistemas como o SAP R3. Informação desestruturada É mais provável que surjam dificuldades na armazenagem da parte desestrutura- da da memória eletrônica. Em muitas empresas intensivas em conhecimento, uma parte importante do capital intelectual consiste em gráficos, relatórios, do- cumentos escritos de todos os tipos e anotações de apresentações. Qualquer um que já tenha procurado um diagrama importante em seu disco rígido sabe quão facilmente pode-se perder informação valiosa por armazenagem descuidada. Em nível organizacional, onde milhares de discos rígidos e servidores estão conecta- dos, o problema é proporcionalmente maior. Os ativos intelectuais só podem ser preservados, com segurança, de maneira estruturada para uso futuro pela empresa se houver um procedimento combinado para a classificação e o armazenamento. Camada de navegação Camada de acesso/segurança Memória eletrônica Informações desestruturadas = documentos Informações estruturadas = bancos de dados descritores/hierarquias de termos/resumos informações codificadas • documentos preliminares • relatórios finais informações decodificadas • gráficos • documentos escaneados • fóruns de discussão • dados do cliente • banco de dados do projeto • sistema de informação da produção FIGURA 10.4 Camadas da memória eletrônica. 190 GESTÃO DO CONHECIMENTO Vocabulário controlado De maneira geral, existem duas tendências principais. Em primeiro lugar, po- dem-se atribuir palavras-chaves a documentos importantes, usando-se um voca- bulário controlado que seja obrigatório na organização. Essas “linguagens empre- sariais” são criadas por um processo de coleta e definição de palavras-chaves rele- vantes para a empresa. Isso permite que os documentos sejam designados subse- qüentemente para diferentes campos de atividade dentro da empresa. A desvan- tagem é o esforço envolvido na manutenção e a imposição da linguagem. Escolha automática de palavras-chaves A outra possibilidade é a designação automática de palavras-chaves através de procedimentos inteligentes de classificação. Para esse tipode procedimento – por exemplo, usando o raciocínio baseado em casos – o programa de classificação necessita uma quantidade suficiente de texto, que é então examinado, por exem- plo, por freqüência de palavras. Como resultado dessa e de outras análises, cada documento recebe descritores. Esses procedimentos se tornam mais sofisticados e são melhorados continuamente por feedback do uso ativo do sistema. Contudo, a maioria dos usuários fica frustrada pelo baixo número de acertos. Além disso, esses procedimentos só podem ser utilizados em textos. Documentos ou gráficos escaneados armazenados em um sistema sem descrição textual adicional são ex- tremamente difíceis da organização recuperar. Conexões A conexão de documentos com base no significado é uma das chaves para se criar uma memória eletrônica eficiente. Da mesma maneira que o cérebro mantém conjuntos inteiros de lembranças em sistemas de ligações de neurônios, um sistema de TI pode abrir caminho para memórias que tenham quase desaparecido. Entretanto, o sistema caótico de ligações na Internet e em muitas intranets pode ser fatal para a armaze- nagem sistemática de conhecimento organizacional vital. Há uma crescente ten- dência de ligações de hipertexto que não levam a parte alguma, pois a página referida na Internet não existe mais ou foi armazenada em outro lugar. Quanto mais tempo a organização gastar definindo seus campos vitais de conhecimento nos primeiros elementos construtivos de gestão do conhecimento, mais fácil será em seguida armazenar material de forma significativa em relação a esses campos. ATUALIZANDO E LEMBRANDO A importância da atualização O processo de preservar conhecimento não acaba com a armazenagem. Somente quando a informação desejada puder ser recuperada e sua qualidade for aceitável é que a memória organizacional cumpriu seu objetivo. Quando o material for selecionado e armazenado adequadamente, o passo seguinte a considerar é o pro- PRESERVANDO O CONHECIMENTO 191 cesso de atualização. As empresas incorrem em custos substanciais quando to- mam decisões sobre investimentos com base em conhecimento desatualizado e falho. Os chefes dos centros de competência da ARTHUR ANDERSEN são responsá- veis pela atualidade dos documentos em fóruns de discussão e bancos de dados. Isso institucionaliza o processo de esvaziamento, para que os bancos de dados, que de outra forma dobrariam seu volume em cerca de três meses, mantenham um tamanho relativamente constante e estejam – teoricamente – livres de infor- mações desatualizadas. Espiral descendente Se a administração não atualizar o conhecimento, um sistema pode facilmente entrar na espiral descendente mostrada na Figura 10.5. Para gerenciar adequada- mente suas memórias, as empresas precisam solucionar quaisquer problemas de confiança e de acesso. Se as pessoas confiarem na qualidade dos dados, e se o sistema for de fácil acesso, ele será usado e mantido e isso, por sua vez, melhora a qualidade dos dados. Porém, se a base de conhecimento atual já for defeituosa, o usuário perde a confiança nela e não se dispõe a investir tempo e energia para manter o sistema. A qualidade dos dados continua a deteriorar-se e o sistema morre. Dada a presente vida curta do conhecimento, isso pode acontecer relativa- mente rápido. Uso do sistema diminui mais... ... continua a diminuir Confiança nos dados Investimentos em acessibilidade Qualidade dos dados ... se deteriora mais ... não são feitos FIGURA 10.5 Espiral descendente em uma base de conhecimento eletrônica (diagrama baseado em Manago & Auriol, 1996, p.28). Esquecimento organizacional O esquecimento organizacional constitui mais uma ameaça às memórias valiosas de uma organização. Não é raro ouvir queixas como: “Antigamente, sabíamos como fazer aquilo, mas parece que esquecemos.” Existem dois tipos básicos de esquecimento organizacional. No primeiro tipo, a memória é apagada e está irrecuperavelmente perdida pela organização. 192 GESTÃO DO CONHECIMENTO Funcionários saem, equipes estabelecidas se separam, dados são destruídos por vírus ou áreas funcionais inteiras são terceirizadas. Todos esses eventos reduzem a memória coletiva. No segundo tipo de esquecimento, o acesso à memória é blo- queado, por algum tempo ou permanentemente. Ao nível do funcionário indivi- dual, isso poderia acontecer devido à sobrecarga temporária ou permanente de trabalho, ou por falta de vontade de repassar o conhecimento a outras pessoas. Bloqueios de memória análogos podem ocorrer em nível de grupo e na memória informatizada (ver a Figura 10.6). Treinamento Essa visão geral mostra que a retenção de conhecimento e de habilidades é uma batalha permanente contra o esquecimento natural. Encontramos o mesmo em outras áreas da vida. Um idioma estrangeiro que aprendemos mas não usamos por longo tempo é perdido gradativamente. Os músculos se atrofiam se não fo- rem exercitados regularmente. Sabe-se a partir da psicologia do aprendizado que a repetição nos ajuda a lembrar; a maneira das pessoas aprenderem vocabulário é um exemplo. Grande parte do efeito de cursos de treinamento pode ser perdida se as pessoas treinadas não puderem aplicar imediatamente o que aprenderam em seu trabalho. Se tentam usar isso posteriormente, quase sempre descobrem que esqueceram, ao menos em parte. Essa é a razão pela qual as organizações estão modo forma eletrônicacoletivaindividual conteúdo da memória apagado • demissão • morte • esquecimento • aposentadoria precoce • dispersão de equipes estabelecidas • reengenharia • terceirização de áreas funcionais perdas irreversíveis de dados através de: • vírus • defeitos no hardware • quedas do sistema • falta de back-ups • hackers • ... a c e s s o i m p o s s ív e l temporário permanente • sobrecarga/ temporária • transferências • doença/férias • falta de treinamento • “operação tartaruga” • tabus sobre rotinas antigas • sabotagem coletiva perdas reversíveis de dados através de: • sobrecarga/ temporária • problema de interface • sobrecarga/ permanente • pouca experiência sobre a importância do próprio conhecimento. • trocas internas de pessoal. • venda de partes da empresa • transferência de grupos • segredos (conhecimento escondido) • incompatibilidade permanente de sistemas • sobrecarga/ permanente • índices incorretos FIGURA 10.6 Formas de esquecimento organizacional. jpsantos Caixa de texto MEDINDO CONHECIMENTO 199 • As habilidades e capacidades dos indivíduos são medidas, mas o conhecimen- to coletivo é negligenciado. • Acontece com freqüência que somente as entradas são medidas (por exemplo, despesa de treinamento) e nenhum resultado (por exemplo, o sucesso desse treinamento). Usam-se as medidas erradas • Ativos tangíveis e intangíveis são medidos através de escalas diferentes.5 • As medidas quantitativas são submetidas a apreciação e as qualitativas são negligenciadas. Entretanto, informações qualitativas como a satisfação do clien- te podem ser mais significativas para o desenvolvimento futuro da empresa do que informações meramente quantitativas. • As medições têm uma estrutura interna de referência; não existem quaisquer comparações com concorrentes externos ou com empresas líderes. Fazem-se medições, mas ninguém sabe por quê • As pessoas medem coisas que sejam fáceis de medir, sem considerar o uso que os resultados terão. • Medem-se variáveis que não podem ser interpretadas. • As medições são feitas automaticamente; o sistema de medição e seu significa- do não são questionados, pelo menos em relação à estratégia atual. A lista de problemas mostra como é importante ter um sistema de medição de conhecimento bem ponderado. O planejamento cuidadoso do sistema garante que a empresa sabe o que está sendo medido e o que ela deseja medir. ÍNDICES DE CONHECIMENTO Balanced scorecard Se a gestão do conhecimento não deve ser uma atividade isolada, ela deve ser compatível com os sistemas de administração e de monitoramento existentes.Kaplan e Norton descreveram um método para incluir o conhecimento em siste- mas de metas e de avaliações (ver Kaplan & Norton, 1992, 1993; Edvinsson & Malone, 1997). Essa abordagem, conhecida como balanced scorecard, foi desen- volvida em um estudo que visava melhorar o significado dos índices financeiros tradicionais. O estudo recebeu apoio da empresa de contabilidade e consultoria empresarial KPMG dos EUA. O modelo resultante, exibido na Figura 11.2, re- presenta quatro perspectivas da atividade da empresa: ela é retratada do ponto de vista de clientes, finanças, processos internos de negócios e aprendizado e crescimen- to. O quarto aspecto fornece a ligação com a gestão do conhecimento. O balan- ced scorecard é uma ferramenta de administração estratégica que tenta ligar inter- venções operacionais na base de conhecimento da organização com as metas de longo prazo da empresa. jpsantos Caixa de texto 200 GESTÃO DO CONHECIMENTO P e rs p e c ti v a d o c lie n te “C o m o d e v e m o s n o s a p re s e n ta r a o s c lie n te s p a ra r e a liz a r n o s s a v is ã o ? ” In ic ia tiv a s D ir e çã o e st ra té g ic a M e d id a s M e ta s d e O p e ra çã o P e rs p e c ti v a i n te rn a d o p ro c e s s o d e n e g ó c io s “E m q u e p ro c e s s o s d e n e g ó c io s d e v e m o s n o s d e s ta c a r p a ra s a ti s fa - z e r n o s s o s a c io n is ta s e c lie n te s ? In ic ia tiv a s D ir e çã o e st ra té g ic a M e d id a s M e ta s d e O p e ra çã o P e rs p e c ti v a f in a n c e ir a “C o m o d e v e m o s n o s a p re s e n ta r a o s a c io n is ta s p a ra s e rm o s b e m -s u c e d i- d o s f in a n c e ir a m e n te ? ” In ic ia tiv a s D ir e çã o e st ra té g ic a M e d id a s M e ta s d e O p e ra çã o P e rs p e c ti v a d e a p re n d iz a d o e c re s c im e n to “C o m o p o d e m o s c o n - s e g u ir d e s e n v o lv im e n to s u s te n ta d o d e n o s s a c a p a c id a d e d e r e n o v a r e m e lh o ra r p a ra r e a li- z a r n o s s a v is ã o ? ” In ic ia tiv a s D ir e çã o e st ra té g ic a M e d id a s M e ta s d e O p e ra çã o V is ã o e e s tr a té g ia F IG U R A 1 1 .2 B a la n c e d s c o r e c a r d . A d a p ta d o e r e im p re s s o c o m a u to ri z a ç ã o d a H a r v a r d B u s in e s s R e v ie w . D e “ T h e B a la n c e d S c o re c a rd – M e a s u re s t h a t D ri v e P e rf o rm a n c e ” , d e R .S . K a p la n & D .P . N o rt o n , J a n ./ F e b . 1 9 9 2 . C o p y ri g h t © p o r P re s id e n t a n d F e ll o w s o f H a rv a rd C o ll e g e ; d ir e it o s a u to ra is r e s e rv a d o s . Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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