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10
A POLÊMICA COBRANÇA DE RESENHAS POR PRODUTORES(AS) DE CONTEÚDO LITERÁRIO: A “TRETA” ENTRE RONALDO BRESSANE E TATIANA FELTRIN[footnoteRef:2] [2: Artigo científico apresentado ao Grupo Educacional IBRA como requisito para a aprovação na disciplina de TCC.] 
Maxwell dos Santos [footnoteRef:3] [3: Discente do curso Licenciatura em Letras Português/ Espanhol] 
Declaro que o trabalho apresentado é de minha autoria, não contendo plágios ou citações não referenciadas. Informo que, caso o trabalho seja reprovado duas vezes por conter plágio pagarei uma taxa no valor de R$ 250,00 para terceira correção. Caso o trabalho seja reprovado não poderei pedir dispensa, conforme Cláusula 2.6 do Contrato de Prestação de Serviços (referente aos cursos de pós-graduação lato sensu, com exceção à Engenharia de Segurança do Trabalho. Em cursos de Complementação Pedagógica e Segunda Licenciatura a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso é obrigatória).
RESUMO
Nos últimos dias, os círculos literários no mundo digital debatem as repercussões da queixa de um autor sobre os encargos de divulgação literária. Parece que grande parte da discussão e análise pode não ter tido em conta as complexidades envolvidas - e talvez este artigo tenha - e acrescentando a isto, especialmente para se afastar das discussões maniqueístas que defendem o autor e defendem a produtora de conteúdo literário. Um dos lados do argumento é que não há problema em alguém oferecer os seus serviços. Para a elaboração do presente trabalho, foi feito um estudo bibliográfico acerca da cobrança de resenhas e a mercantilização da arte. Como resultado, na verdade, este não é um argumento falso; numa sociedade onde prevalece o princípio da liberdade comercial, qualquer pessoa tem o direito de prestar um serviço, seja ele qual for. Conclui-se que isto também se aplica a quanto se cobra pelas próprias atividades e a quanto se está disposto a pagar por um serviço. Contudo, quando as pessoas falam de literatura e a aproximam do dinheiro, as coisas aquecem.
Palavras-chave: Cobrança. Treta. Resenha. Mercantilização.
ABSTRACT
In recent days, literary circles in the digital world have been debating the repercussions of an author's complaint about literary distribution charges. It seems that much of the discussion and analysis may not have taken into account the complexities involved - and perhaps this article has - and adding to this, especially to move away from the Manichean discussions that defend the author and defend the publisher/distributor of the book. One side of the argument is that it's okay for someone to offer their services. For the elaboration of the present work, a bibliographical study was made about the collection of reviews and the commodification of art. As a result, this is actually not a false argument; in a society where the principle of commercial freedom prevails, anyone has the right to provide a service, whatever it may be. It is concluded that this also applies to how much you charge for your own activities and how much you are willing to pay for a service. However, when people talk about literature and bring it closer to money, things heat up.
Keywords: Billing. Bullshit. Review. Commodification.
1 INTRODUÇÃO
Existem os modelos de marketing mais tradicionais de publicidade e comunicação. O que mudou hoje em dia é simplesmente que é provável que os meios e canais que recebem este recurso tenham mudado (logicamente, no caso da literatura, devemos pesar as quantidades envolvidas em comparação com outros setores, tais como os cosméticos e a moda). 
O trabalho justifica-se pela importância da publicidade ser indispensável e deve estar ligada a ela, certamente com um bom plano, o que também é verdade para a literatura. Por conseguinte, não deve causar qualquer surpresa que os canais digitais tenham os seus conjuntos de ferramentas de comunicação disponíveis e que os autores possam decidir se utilizam estes serviços com base nas expectativas, resultados esperados e, naturalmente, na relação custo-benefício, que estará intimamente relacionada com as suas ambições e mesmo com a dimensão das suas possibilidades literárias. 
No entanto, se algo que parece tão simples causa tal alarido, é porque algo está errado. De fato, há uma especificidade na questão da literatura, na qual grande parte do setor público (leitores, autores, editores, etc). É difícil separar a crítica literária da publicidade literária. Levando isso em consideração, a questão norteadora do presente trabalho é: Qual a importância de compreender a polêmica cobrança de resenhas por produtores(as) de conteúdo literário e a mercantilização de Benjamin?
O objetivo geral do presente trabalho visa analisar a cobrança de resenhas por parte de alguns produtores. Como objetivos específicos: Compreender a “treta” entre Bressane e Feltrin; Observar a polêmica das cobranças de resenhas; Analisar a mercantilização da arte de Benjamin. 
Foi realizado um estudo experimental, baseado em pesquisa bibliográfica como um estudo experimental, utilizando as principais bases de dados e bases de dissertações e temas disponíveis no período de dez anos, bem como o auxílio de diversas fontes, como livros, internet, etc. 
2 ANALISANDO A POLÊMICA ENTRE O ESCRITOR RONALDO BRESSANE E A BOOKTUBER TATIANA FELTRIN
Atualmente, se vive em tempos de grandes mudanças, como no olho de um furacão, vozes reacionárias surgem por todo o lado, e a razão parece cada vez mais impossível. Nesta onda de influências digitais, há muito que é negativo e alguns que é positivo. O mesmo é válido para a academia. Hoje em dia, quase ninguém para pensar nisso, e a situação permanece bastante sombria para os escritores, e para a literatura em particular (JEFFMAN, 2017). 
Mesmo que rapidamente, as grandes mudanças no universo dos influenciadores digitais, a começar pela morte do blog. Não se pode imaginar a proliferação de bibliotecários, sem primeiro observar a revolução iniciada pelos blogs, que agora estão, em sua maioria mortos, mas que começaram a publicar conteúdo literário nos finais dos anos 2000. O boom dos blogs da época estava cheio de romantismo e dedicação como passatempo. Uma grande parte dos blogs no início estavam longe dos centros urbanos, onde não havia possibilidade de discutir literatura (FAILLA, 2019). 
Numa era em que se fala de todo o poder investido no leitor, os autores ou sucumbem à bajulação e à doutrinação grupal da seção a que desejam juntar-se, ou experimentam a estagnação sem originalidade, já que o cânone vive agora na obscuridade. Nestes tempos de grande fervor, as pessoas estão quase sempre sujeitas ao tipo errado de influência, mas pode-se ter a maioria dos olhos na direção errada, porque a própria literatura continua a ter sérios problemas, até porque continua a receber as cartas e as regras do jogo por círculos elitistas e burgueses distintos na Internet, no meio acadêmico ou no mercado (JEFFMAN, 2017).
Não se considera que uma resenha [classificação] num blog seja uma comunicação da obra, pelo que nunca cobraremos por ela, nem por ela, nem pelas nossas entrevistas. As resenhas de livros devem ser independentes, mesmo que sejam impressionistas, e a erudição e o conhecimento literário do crítico virão à tona, o que se reflete na resenha e não deve ser imaginado como propaganda. Mesmo assim, não se deve negar o seu impacto, mesmo que as resenhas sejam negativas, e a sua publicação pode ter um impacto positivo no livro (FAILLA, 2019). 
No seu artigo, Jeffman (2017) critica que no início dos estudos de história da leitura, o leitor foi posto de lado, uma vez que os estudiosos se concentraram em grande parte no instrumento, o livro. Gradualmente, este leitor ganhou visibilidade e relevância no estudo da literatura. Cada um tendia a atribuir um significado e a percebê-lo de forma diferente consoante o aspecto do objeto, que no caso do livro podia ser visto pela cor das páginas, a espessura e o tamanho da edição, a forma do tipo escolhido para o texto, etc.
De acordo com Bressane (2019),estranhamente, o bibliófilo não compreende esta verdade irrefutável: ao cobrar por uma revisão, o bibliófilo tira todo o valor e credibilidade das outras revisões que ele próprio fez. Como exemplo, há leitores que comentam que depois de fazer uma revisão negativa de um livro de uma determinada editora, nunca mais recebeu um tal livro 
Eis como eu vejo a monetização: eu não faria isso. Uma das razões porque 'meias frases' terminaram é que tenho lutado para não ficar do lado dos 'profissionais' precisamente porque já tenho esta desconfiança de parcerias com o público, e também porque (e aqui está o ponto importante) o profissionalismo requer outra postura, já não é um hobby, não é 'upz, não posso carregar uma crítica a tempo, da próxima vez que você for'. É um trabalho a sério. Se vai cobrar por ele, também tem de prestar um serviço. No que diz respeito ao site, isto tem levado muito tempo e penso que para os vídeos deveria pedir muito também. Eu não o faria, pelas razões já explicadas. Mas não vejo nada de errado em cobrar pela leitura do livro daquele tipo quando tenho tantos livros para ler. É como sugerir ao tipo que escreva um romance e o disponibilize gratuitamente na Internet. O que me atrai no discurso de Bressane é que parece que o seu tempo é mais valioso porque o conteúdo que ele cria é, em última análise, ficção (BRESSANE, 2019).
O escritor Ronaldo Bressane publicou uma mensagem dizendo que é assim que funciona o maravilhoso mundo dos amantes do livro. Ele colou um e-mail enviado por um amante de livros com um "orçamento para leitura/interpretação/revisão de vídeos" de um livro e avisou que o público será avisado que isto é publicidade. Um dia mais tarde, a leitora de livros Tatiana Feltrin tuitou uma série de posts sobre o tema "Threads of Honesty". No último, Feltrin (2018) publicou uma lista de preços com outros valores e escreveu: 
"É verdade: há um preço. Acha que é caro? Encontre outro blog (…)"
 (FELTRIN, 2019). 
Em contrapartida, Bressane (2018) questionou:
Engraçado como nenhuma editora suspendeu a cooperação quando revelei que Tati Feltrin cobrava por mensagens, não é? Agora estão enojadas só porque ela tirou o bolsominion do armário? (BRESSANE, 2018).
Num espaço de tempo muito curto, o conteúdo estava relacionado com a Feltrin, e no dia seguinte ela levou para a sua conta pessoal no Twitter para falar sobre o caso. Segundo ela, os livros dados diretamente pelos autores são apenas presentes para amigos e familiares que tenderão invariavelmente a dizer que gostam mais de escrever por razões sentimentais do que por gostarem realmente de os ler (quando na realidade o fazem). Portanto, "enviar o seu livro para o seu blogger/blogger favorito sem contato prévio é uma divulgação forçada" (FELTRIN, 2019).
Tatiana Feltrin prossegue dizendo que, numa cadeia de tweets, dizendo que pedir uma revelação de vídeo, especificamente no seu canal, garantiria que 300.000 pessoas na plataforma receberiam "uma cara 'pequena' do vídeo destacando o seu livro; o título e o nome apareceriam no topo; dessas 300.000, pelo menos 5.000 ficariam intrigadas e clicariam no vídeo; aprenderiam mais sobre o livro e a opinião do blogueiro" (FAILLA, 2019). 
Ela conclui, provocando, 
"Excelente divulgação, não é? É isso mesmo: tem um preço. Acha que é caro? Encontre outro blog ou outra forma de divulgação que lhe sirva no bolso. E seja feliz " (FELTRIN, 2019). 
Aparentemente, além dos seus sentimentos, ela também se utiliza como mediadora do mercado editorial e do público. Dois dias depois, Tatiana Feltrin anunciou no Twitter que iria tornar pública a lista de preços no blog que mantém com o seu marido, com um valor ligeiramente diferente do que Bressane tinha divulgado no seu post no Instagram.
A controvérsia durou vários dias, levando os membros do ambiente da Internet e não só a discutir o caso. O próprio Ronaldo Bressane, confrontado com a avalanche de comentários que recebeu pela sua tentativa de descobrir possíveis injustiças na relação autor-narrador, escreveu um novo artigo sobre o assunto, publicado na sua conta da plataforma Medium (BRESSANE, 2018).
No artigo, Bressane afirma ter "aberto a caixa de Pandora" e por isso sente-se obrigado a tentar fechá-la. Ele retoma o caso já descrito acima, e afirma que não foi, de fato, o agente principal que negociou o preço com Tatiana Feltrin por e-mail, mas um amigo que tinha lidado com a editora do livro, que ficou surpreendido com os números cobrados, e lhe enviou um formulário (FAILLA, 2019). 
Com refinada arrogância, de o ver dizer: 
"Não vou ligar a vídeos sobre este assunto porque são para outra plataforma". Se queres dizer disparates sobre literatura, aprende primeiro a ler e a escrever" (BRESSANE, 2019).
O uso e a insistência da palavra influenciadora distancia-os de qualquer interesse crítico, e eles assumem em grande medida que são consumidores do que, neste caso, são livros literários. São pessoas que gostam de certas coisas e explicam as suas considerações, assumindo geralmente que as suas opiniões são subjetivas (MACPHERSON, 2019, p. 281).
3 MERCANTILIZAÇÃO DA ARTE EM BENJAMIN
A preocupação de Benjamin com o caráter único e incomparável destes fenômenos levou-o a utilizar A Flor do Mal como uma referência fundamental para compreender a modernidade. No entanto, isto não é um regresso aos fatos; o objetivo é uma "história da maternidade". O interesse de Baudelaire está relacionado com a tarefa do materialista histórico de refrescar a história, ou seja, reescrevê-la da perspectiva do subjugado (MACPHERSON, 2019, p. 281).
Na sua tese de doutoramento de 1919, The Concept of Art Criticism in German Romanticism, Benjamin já se voltara para a questão de articular uma crítica de arte imanente que não procurasse critérios de julgamento em fatores exteriores à obra, mas na sua própria composição: procurou substanciar tanto a necessidade da crítica de arte como a afirmação de que a particularidade de uma determinada obra não deveria ser abolida. A partir daí, Benjamin responderia a esta exigência desenvolvendo em vários escritos uma elaboração de uma concepção epistemológica da obra de arte e uma consideração do seu método crítico (GATTI, 2019).
Como afirmou num anúncio de 1922 para a revista Angelus Novus:
[......] É necessário limitar o exercício da crítica positiva, mais do que nunca, ainda mais do que os Românticos, às obras de arte individuais. Pois a função da grande crítica, como se pensa, não é instruir por representações históricas, nem educar por comparação, mas sim compreender por imersão. A crítica deve dizer a verdade sobre a obra, e isto não é menos um requisito da arte do que da filosofia (BENJAMIN, 2013, p. 32).
Para Walter Benjamin, a obra de arte será o objeto de estudo capaz de fornecer verdades histórico-sociais que serão reveladas pela crítica de arte, que por sua vez apresentará o conteúdo da crítica social desta forma. A arte revelaria dentro de si, na sua própria composição formal, um conjunto de tendências e contradições do seu tempo, permitindo assim uma reflexão crítica sobre esta sociedade através da imersão na obra (MACPHERSON, 2019, p. 281).
Na modernidade, quando o significado de cada coisa é fixado pelo seu preço, a poesia de Baudelaire é fundamental na apropriação de elementos desta cultura a fim de revelar as dimensões do inferno instalado no seu interior. Benjamin argumenta que a subversão do significado literal em As Flores do Mal é uma forma de contraponto à reativação do mito pelo capitalismo. A desintegração das relações espaço-temporais inerentes à modernidade encontra uma forma de resistência na poesia lírica de Baudelaire. O tom ostensivamente místico da sua alegoria está intimamente ligado à história, e é porque não transcende a história que a sua poesia contém enigmas em vez de mistério (GATTI, 2019, p. 52).
Nas suas metamorfoses, Baudelaire assume vários papéis - playboy, philanderer, ragpicker - desafiando sempre as regras do jogo social. Com a ajuda destas máscaras, ele tenta salvar o poeta das decoraçõesmercantilistas que a ameaçam. O deslize do comportamento de Baudelaire está relacionado com o fato de que ele teve de recuperar a dignidade de um poeta numa sociedade que já não tinha qualquer mérito para falar (BENJAMIN, 2013, p. 159). 
O risco de não ter em conta a máscara de Baudelaire, combinado com a tentativa de visualizar a face "real" do poeta, leva ao desmembramento e à perda do contexto histórico da sua obra. Este erro metodológico tem de persuadir alguém a acreditar na existência de uma essência escondida na queixa de aparente multiplicidade (MACPHERSON, 2019, p. 281).
Num currículo não datado, mas possivelmente de 1928, Benjamin afirma que todas as suas obras escritas antes desta época tinham uma intenção programática geral" de reconhecer nas obras de arte "uma expressão holística das tendências religiosas, metafísicas, políticas e econômicas de uma época, em vez de uma redução a qualquer campo unilateral. Assim, o potencial de crítica social é escondido em cada obra de arte, e a sua exposição será a tarefa de uma crítica de arte interior que não procura os seus critérios de julgamento nos fatores externos da obra, tais como a biografia do autor ou os acontecimentos históricos a que assistiu, mas na sua própria composição (BENJAMIN, 2013, p. 293-294). 
Ao valorizar a duração de uma obra de arte como elemento essencial da sua crítica, Benjamin mostra-nos, como observou Luciano Gatti, a forte influência do conceito romântico de crítica de arte no seu pensamento - o tema da sua tese de doutoramento. Contudo, ao contrário dos Românticos, ele recusa-se a compreender a duração como um processo de abertura para o futuro, no qual o sentido do eu da obra é reforçado (GATTI, 2019, p. 54). 
Em vez de o entender como um organismo vivo em crescimento, Benjamin entende-o como um processo de envelhecimento, um entorpecimento gradual da vida da obra, através do qual o aparecimento da sua realidade natural desaparece, devido ao desaparecimento no mundo daqueles "dados da realidade" que o constituem. O ponto de partida da crítica não corresponderia portanto, como no caso do pensamento estético romântico, a um "grau de consciência imediatamente a seguir" que deve ser superado por um movimento de auto reflexão, mas à estranheza produzida pelo confronto entre o "conteúdo das coisas" da obra e o momento histórico a que a crítica pertence. Neste sentido, a história da obra prepara-a para a crítica, de modo a que a distância histórica aumente o seu poder (BENJAMIN, 2013, p. 13).
Para Benjamin (2013, p. 13), numa sociedade de mercado vemos uma concorrência desenfreada, e é por esta razão que dá uma vida curta à fisionomia, mas também absorve o homem das letras num modo de produção, transformando-o numa espécie de trabalhador das palavras e da arte. Neste sentido, tudo acaba por ser engolido pela sociedade de consumo e pelo mercado.
Neste caso, as raízes das relações sociais de mercado na arte do século XIX, que, segundo o cientista político C. B. Macpherson, são justificadas por um conceito econômico liberal com origem no século XVII. Na modernidade benjaminiana, o artista é incorporado na força de trabalho, facto que não pode ocorrer sem uma profunda revisão da natureza da criação artística (D'ANGELO, 2016, p. 240).
Os marqueteiros são indivíduos que "transferem livremente a sua força de trabalho" e "a sociedade será uma série de relações entre proprietários", de modo que "a sociedade política é uma ilusão contratual que protege os proprietários e regula as suas relações de forma ordenada" (MACPHERSON, 2019, p. 281).
Nesta era da mistificação do mercado, onde, como vimos, tudo acaba por se tornar um objeto comerciável, a própria literatura torna-se uma mercadoria. Um exemplo de estar consciente deste facto social é Baudelaire, razão pela qual Benjamin utiliza: As Flores do Mal como uma referência fundamental para compreender a modernidade. Baudelaire foi escolhido como o herói da modernidade e foi incluído na lista de conspiradores profissionais como um provocador (D'ANGELO, 2016, p. 242).
Os conspiradores profissionais são homens de letras, Baudelaire é um homem do pano, um trabalhador, ambos pertencem ao pano. Baudelaire, como conspirador, embora sem uma consciência plena, teria percebido as dificuldades do mercado literário, e por isso era uma espécie de evasor que agiu da mesma forma que o mercado literário nascente (MACPHERSON, 2019).
4 CONCLUSÃO
Existe uma perigosa quebra de confiança no meio acadêmico, especialmente na era do fascismo cultural. Em muitas discussões sobre o assunto, tenho observado este novo universo de influentes que vêm abolir a literatura acade mica aborrecida. Isto termina com o que é considerado um círculo elitista da literatura. É um ultraje que tem a sua razão de ser, mas temos de ser rápidos e um pouco mais lentos. 
Criticar e questionar o elitismo burguês na literatura não é o mesmo que destruí-lo, mas sim cometer o erro de observar que existem elementos importantes que ainda estão por vir, e em particular de não ver o que se pretende atacar como uma nova premissa velha ou igualitária. Na minha opinião, deve dizer-se que é este o caso de ambos os lados. 
Os críticos das ideias da Academia não reconhecem qualquer discussão da Academia, embora simplesmente reproduzam novos círculos burgueses (à esquerda e à direita), bastante elitistas e muitas vezes sectários no seu comportamento, porque não há nada de crítico nas várias bolhas que estão espalhadas por aí; por outro lado, a própria Academia parece-me isolada e incapaz de perceber que está cada vez mais a falar por si própria. É inútil compreender quem oferece e quem compra, sem trazer também o ponto de vista do autor para o debate. 
No entanto, uma proporção igualmente grande acaba por publicar sob demanda, num formato híbrido, mas em ambos os casos em volumes pequenos, lentos e lucrativos a longo prazo. Assim, embora muitos autores, seja por ingenuidade ou ignorância, procurem "promover" as suas publicações em pontos de grande visibilidade, imaginem uma coisa e encontrem outra, a realidade da descapitalização literária continua a ser a mesma, e assim as rodas do elitismo burguês permanecem no lugar, embora muitos se iludam a ver uma alternativa à academia em influência digital.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENJAMIN, Walter. As Afinidades Eletivas de Goethe. In: Ensaios reunidos: Escritos sobre Goethe. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2013.
MURARO, Cauê. Booktubers são os novos críticos literários, 'jabazeiros' ou só youtubers que falam de livros? Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2018/10/01/booktubers-sao-os-novos-criticos-literarios-jabazeiros-ou-so-youtubers-que-falam-de-livros.ghtml. Acesso em: 05 mar. 2023.
D’ANGELO, Martha. A Modernidade Sobre o Olhar de Walter Benjamin. Estudos avançados, São Paulo, nº 56, p 237-251, 2016.
FAILLA, Z. Retratos da leitura no Brasil. 4. Organização de Zoara Failla. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.
JOBIM, José Luis. A crítica literária e os críticos criadores no Brasil. Rio de Janeiro: Caetés: EDUERGJ, 2019.
GATTI, Luciano. Constelações: Crítica e Verdade em Benjamin e Adorno. São Paulo: Edições Loyola, 2019.
LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. São Paulo: Martins Fontes, 2019.
MACPHERSON, C. B. A teoria política do individualismo possessivo: Hobbes a Locke. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2019.

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