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ORGANIZAÇÃO Ana Cristina Gipiela Pienta DIDÁTICA NA Educação Infantil A n a C r i s t i n a G i p i e l a P i e n t a O R G A N I Z A Ç Ã O O R G A N I Z A Ç Ã O D I D Á T I C A N A E d u c a ç ã o I n f a n t i l ISBN 978-65-5821-147-1 9 786558 211471 Código Logístico I000386 Organização didática na Educação Infantil Ana Cristina Gipiela Pienta IESDE BRASIL 2022 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2022 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Sensvector/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ P669o Pienta, Ana Cristina Gipiela. Organização didática na educação infantil / Ana Cristina Gipiela Pien- ta. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2022. 100 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-147-1 1. Educação infantil. 2. Didática. 3. Trabalho pedagógico. I. Título. 22-77759 CDD: 372.21 CDU: 373.21 Ana Cristina Gipiela Pienta Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Organização do Trabalho Pedagógico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em Educação Especial e Inclusiva pela Unifacear. Graduada em Pedagogia pela UFPR. Tem experiência como professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental – Anos Iniciais e como pedagoga na rede municipal de ensino de Curitiba, na qual atua há 25 anos. Trabalha ainda como docente e pesquisadora em cursos de capacitação de professores e em graduação e pós-graduação. É professora universitária e atuou como coordenadora de cursos de graduação, na modalidade presencial e a distância. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Fundamentos da Educação Infantil 9 1.1 Breve história da Educação Infantil 9 1.2 Educação Infantil: de Reggio Emilia para o mundo 18 1.3 O profissional da Educação Infantil 24 2 Eixos da ação pedagógica 31 2.1 Cuidar e educar 31 2.2 Interações e brincadeiras 35 2.3 Linguagens na Educação Infantil 40 3 A Educação Infantil na BNCC 45 3.1 Os campos de experiência 46 3.2 Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento 55 3.3 A transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental 60 4 Prática pedagógica 64 4.1 Organização do tempo 64 4.2 Organização do espaço e dos ambientes 68 4.3 Projetos na Educação Infantil 72 5 Documentação pedagógica 77 5.1 Planejar na Educação Infantil 77 5.2 Observação e registro 81 5.3 Avaliação na Educação Infantil 86 Resolução das atividades 94 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Esta obra apresenta os fundamentos que orientam a prática pedagógica na Educação Infantil, as principais concepções e a organização didática dessa que é a primeira etapa da Educação Básica. Conduz a reflexão sobre a importância do trabalho intencional e planejado voltado às crianças de 0 a 5 anos, garantindo oportunidades e experiências de aprendizagem e desenvolvimento para os pequenos. Nessa perspectiva, no primeiro capítulo, apresentamos o percurso histórico da Educação Infantil e as ideias que colaboraram para a construção das atuais concepções. Ainda nesse capítulo, abordaremos um estudo das propostas educacionais de Reggio Emilia, uma região da Itália em que a população se dedicou à educação para a infância, compreendendo suas influências na Educação Infantil pelo mundo. No segundo capítulo, faremos uma imersão nos documentos oficiais que orientam a Educação Infantil no Brasil, focando os princípios e eixos fundamentais da prática pedagógica. Abordaremos a importância e a indissociabilidade das ações de cuidar e educar, assim como as brincadeiras e as interações que são consideradas o fio condutor de todas as práticas na Educação Infantil. Na sequência, aprofundaremos os estudos sobre as formas de linguagem e expressão da criança, refletindo sobre como valorizar e estimular suas expressões. Em seguida, no terceiro capítulo, conheceremos a estrutura da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) proposta para a Educação Infantil, compreendendo seus desdobramentos na organização didática e sua abrangência na prática docente. No quarto capítulo da obra, proporemos a reflexão sobre a organização do tempo didático, assim como as possibilidades de composição dos espaços e ambientes pedagógicos na Educação Infantil; a pedagogia de projetos, nesse capítulo, é apresentada como uma possibilidade metodológica. APRESENTAÇÃOVídeo 8 Organização didática na Educação Infantil No quinto e último capítulo, conheceremos formas de organização e registro do planejamento pedagógico, refletindo sobre a função orientadora da prática pedagógica que a documentação pedagógica assume. Desejamos que a presente obra colabore para a construção de uma prática educativa que respeite e contribua imensamente para o desenvolvimento integral das crianças de 0 a 5 anos de todo o país. Bons estudos! Fundamentos da Educação Infantil 9 1 Fundamentos da Educação Infantil Conhecer os fundamentos da Educação Infantil é tarefa imprescindível para compreender os objetivos, as principais concepções e a organização didática dessa etapa da Educação Básica. Para tanto, neste capítulo, teremos a oportunidade de conhecer os principais aspectos da trajetória histórica da Educação Infantil, que fun- damentaram a construção das atuais concepções que serviram de base para sua formatação. Além dos fundamentos históricos, aprofundaremos no estudo das propostas educacionais de Reggio Emilia, uma região da Itália que se dedicou à educação para a infância, compreendendo suas influências na Educação Infantil pelo mundo. Com base no estudo desses fundamentos e das principais concepções que norteiam a Educação Infantil, refletiremos sobre o perfil e as caracte- rísticas necessárias e desejáveis para o profissional docente na educação para as crianças de 0 a 5 anos. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • analisar os principais aspectos da trajetória histórica da Educação Infantil para conhecer e compreender as atuais concepções que a fundamentam; • conhecer as propostas educacionais de Reggio Emilia para a infân- cia e suas influências na Educação Infantil no mundo; • refletir sobre o perfil e as características necessárias e desejáveis para o profissional da Educação Infantil. Objetivos de aprendizagem 1.1 Breve história da Educação Infantil Vídeo A Educação Infantil é a etapa de educação destinada às crianças de 0 a 5 anos. Entretanto, a ideia de conceber uma educação sistematiza- da e intencionalmente destinada a essa faixa etária, respeitando suas características e necessidades, é algo recente na história, principalmen- te porque o próprio conceito de infância também é relativamente re- cente. Vamos voltar na história e entender um pouco mais sobre isso. O conceito de infância é uma construção social e pode variar de acordo com a época e com a sociedade. As altas taxas de mortalidade infantilque ocorreram durante a IdadeMédia (séculos V-XV) e a Idade Moderna (fim do século XV até o século XVIII) – causadas principalmente pelas péssimas condições de higiene e saúde – alimentavam uma ideia de que as famílias não deveriam se apegar às crianças, já que elas fatalmente viriam a morrer. Ainda nesse período, as crianças que sobreviviam não tinham uma “identidade própria”, e só passavam a ser consideradas pela sociedade quando conseguiam realizar tarefas e ações semelhantes às dos adultos, pois atenção e cuidados especiais às crianças – reconhecendo sua fragi- lidade e suas necessidades – não eram próprios desse período histórico, como nos mostra Ariès (2017, p. 10): “paparicação” – era reservado à criancinha em seus primeiros anos de vida, enquanto ela ainda era uma coisinha engraçadi- nha. As pessoas se divertiam com a criança pequena como um animalzinho, um macaquinho impudico. Se ela morresse então, como muitas vezes acontecia, alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não fazer muito caso, pois outra criança logo a substituiria. A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato. Segundo Heywood (2004), nos registros históricos e em obras de arte até o fim do século XVIII, não existem crianças caracterizadas por sua expressão particular, sendo sempre retrata- das como adultos de tamanho reduzido. A obra de Diego Velázquez, A infanta Margarita, representa bem o pensamento da época. A pequena princesa retratada por Velázquez (um pintor espa- nhol do século XVII, considerado o principal artista da corte espanhola) tinha apenas 5 anos de idade, mas foi retratada com trajes, penteado e adornos idênticos ao de uma mulher adulta. Outras obras de Velázquez, como As meninas, também retratam crianças da realeza sempre na mesma condição, de pequenos adultos, sendo vestidas e expostas aos mesmos costumes dos mais velhos. po pc or ne r/ Sh ut te rs to ck Figura 1 Como as crianças eram representadas M us eo d el P ra do /W ik im ed ia C om m on s 1010 Organização didática na Educação InfantilOrganização didática na Educação Infantil Fundamentos da Educação Infantil 11 A criança era entendida como tendo modos de pensar e sentimentos que precediam a razão e os bons costumes. Não se procurava entender e aceitar as diferenças e semelhanças das crianças ou, então, valorizar a originalidade de seu pensamento. Pensava-se nelas como páginas em branco a serem preenchidas, preparadas para a vida adulta (HEY- WOOD, 2004), sendo vistas como adultos imperfeitos e incompletos. Nesse contexto, não havia nenhuma iniciativa de educação formal, sistematizada, intencional, para as crianças pequenas. Cabia à família, especificamente às mulheres, cuidarem dessas crianças nos seus pri- meiros meses de vida, e tão logo conseguissem realizar tarefas mais autonomamente, com independência motora básica, já passavam a ajudar os adultos. A crença era de que a criança somente se desen- volveria ao realizar tarefas cotidianas, assumindo atividades familiares (OLIVEIRA, 2002). Sendo assim, dois acontecimentos são essenciais para o reconheci- mento da infância: A criação das escolas como institucionalização do ensino. A difusão do pensamento cristão. 1 m eg ai co ns / S hu tte rs to ck 2 P ro S ym bo ls //S hu tte rs to ck 1 2 Com o advento da escola – que ocorreu entre os séculos XV e VXII – a criança passa a ser reconhecida como “diferente do adulto”, e a compreensão é que a escola pudesse integrá-la ao mundo dos adultos, entretanto, ainda persistia a ideia de prepará-la para esse mundo. A infância só passa a ser reconhecida, de acordo com Heywood (2004), a partir da disseminação da crença e do discurso cristão do “culto ao menino Jesus” e do “massacre dos inocentes” praticado por Herodes. Segundo o autor, a adoração cristã à imagem de “Jesus meni- no” difunde a ideia de que a criança é um mediador do céu e da terra. Esse é um dos marcos do surgimento do sentimento de infância, garantindo que as crianças fossem tratadas e percebidas na sua sin- gularidade por possuírem necessidades, características e sentimentos próprios de sua fase de desenvolvimento. Somente a partir dos séculos XIX e XX que as famílias passam a se interessarem por suas crianças, Será que atualmente as crianças são respeitadas em suas características? Você consegue identificar alguma situação em que as crianças são submetidas a estímulos e padrões, incentivando-as a assumir características “adultas”? Para refletir 12 Organização didática na Educação Infantil pensando em seu bem-estar e se organizando em torno de suas ne- cessidades, ou seja, a criança finalmente sai do anonimato. Nesse mesmo período, com o advento da industrialização mundial, que culminou na Revolução Industrial, a vida em sociedade, assim como a organização das famílias, passou por uma completa transformação, sendo necessário pensar sobre o destino das crianças enquanto os pais e mães operários estivessem trabalhando. Nesse contexto, nos séculos XVII e XVIII, surgem as primeiras ins- tituições (creches) para crianças a partir dos dois anos de idade, mar- cando o início do atendimento educativo formal às crianças pequenas. Entretanto, eram locais considerados como instituições emergenciais, para livrar as crianças do abandono. Segundo Haddad (1991), eram ins- tituições sem finalidade específica, havia insuficiência de recursos, má qualidade de atendimento, profissionais sem formação específica, au- sência de legislação e normas básicas de atendimento. Sem contar que estavam vinculadas à ideia de que cuidavam de crianças cujas famílias eram ineficientes e negligentes. Apesar de controverso, esses primeiros passos no sentido de formali- zar a educação das crianças pequenas foram importantes para que pensa- dores e educadores da época pensassem a respeito da Educação Infantil. 1.1.1 Precursores da Educação Infantil Nesse contexto, vale destacar os chamados precursores da Educação Infantil, os quais são apresentados a seguir: Jan Amos Komenský (1592-1670) Em português conhecido como Comênio, ou Comênius, nasceu na República Tcheca. É conhecido como o primeiro filósofo que considerou os sentimentos das crianças, questionando a ideia de práticas educativas autoritárias, usando a expressão: “aprender brincando”. Sua principal obra foi a Didática Magna, na qual defende a ideia de um método universal capaz de “ensinar tudo a todos”. Em 1628, publicou A escola da infância, na qual aborda a educação de crianças menores de seis anos, tratando da necessidade da formação de professores para essa finalidade, reconhecendo a importância desse período para o desen- volvimento da criança, além de propor um ensino em nível inicial como o colo da mãe. Defendia a aprendizagem por meio das sensações, da experimenta- ção e manuseio de objetos para a internalização de aprendizagens. Ja n Vi lím ek /W ik im ed ia C om m on s Fundamentos da Educação Infantil 13 Jean Jacques Rousseau (1712-1778) Rousseau nasceu em Genebra, na Suíça, e uma de suas principais contribui- ções para a Educação Infantil foi defender um ensino apropriado à faixa etária da criança, e não voltado aos interesses do adulto. Incentivava à experimen- tação de situações diversas, sempre de acordo com o ritmo de maturação e do desenvolvimento da criança, sendo precursor no interesse pelos estágios de desenvolvimento. Foi Rousseau que chamou a atenção para as caracte- rísticas próprias da criança, desvinculando-a da concepção de miniadulto incompleto. M au ric e Q ue nt in d e L a T ou r/ W iki m ed ia C om m on s Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) Suíço, nascido em Zurique, defendia uma escola que fosse semelhante ao ambiente familiar, baseada em princípios de tranquilidade, amor, afeto e segu- rança, que para Pestalozzi eram fundamentais para a aprendizagem. Também formalizou treinamentos para professores, disseminando seus ideais de educação pelos sentidos, atividades diversificadase contato com a natureza. Th eo do r P rü m m /W iki m ed ia Co m m on s Friedrich Froebel (1782-1852) Froebel é alemão, nasceu em Oberweißbach, e é considerado o “pai da pré- -escola”. Sua teoria parte da seguinte analogia: a criança é uma planta em desenvolvimento, e o professor o jardineiro que a faz desabrochar, originando o termo: jardim de infância, espaço por ele concebido e idealizado como sendo a primeira instituição criada com a finalidade de ensinar crianças pequenas, o kindergarten (jardim de Infância, em alemão). O primeiro jardim de infância, criado em 1937, atendia crianças de 1 a 6 anos, com a premissa de que elas se desenvolviam com a relação entre imagina- ção e ação. Toda prática educativa era feita com base nas características e necessidades das crianças, tendo as atividades de cooperação e os jogos livres como principais ações. Suas contribuições estão presentes na prática da Educação Infantil até os dias atuais. C. W . B ar de en /W ik im ed ia C om m on s 14 Organização didática na Educação Infantil Maria Montessori (1870-1952) Montessori era italiana e foi a primeira médica mulher de seu país. Começou sua carreira trabalhando como psiquiatra de crianças com deficiência de um hospital. Criou materiais coloridos e manipuláveis para favorecer o desenvol- vimento e a aprendizagem dessas crianças. Baseado nos bons resultados obtidos, passou a adaptá-los para a utilização deles com crianças de desen- volvimento padrão. À Montessori, é atribuída a importante contribuição de que materiais adequa- dos e interessantes permitem que as crianças respondam aos estímulos com mais rapidez e entusiasmo, exercitando suas habilidades e aprendendo com autonomia, contrariando as práticas de repetição e memorização, fortalecen- do uma prática de ensino-aprendizagem desafiadora que visa a construção de conceitos. Na tio na l A rc hi ef /W ik im ed ia C om m on s Figura 2 Materiais desenvolvidos com base no Método Maria Montessori 1 J oa qu in C or ba ba n P / S hu tte rs to ck 2 R ve ct or / Sh ut te rs to ck 3 T et ia na Ly nn yk / Sh ut te rs to ck 4 R ve ct or / Sh ut te rs to ck 5 T et ia na Ly nn yk / Sh ut te rs to ck 6 V ec to rs lab / Sh ut te rs to ck 7 V ec to rs lab / Sh ut te rs to ck 8 E len ab ar ys hn iko va / Sh ut te rs to ck 1 2 6 75 8 3 4 A teoria de Maria Montessori está embasada nos princípios de individualidade, atividade e liberdade do aluno, que manuseia os materiais, experimenta, cria hipóteses e constrói conceitos, os quais são mediados pelo professor, mas sempre valorizando a autonomia da criança. Fundamentos da Educação Infantil 15 Figura 3 Educação pela experiência 1 J im m y T ra n / S hu tte rs to ck 2 M on ke y B us in es se Im ag es / Sh ut te rs to ck 3 Le re m y / S hu tte rs to ck 3 1 2 As ideias de Montessori ultrapassaram as fronteiras da Itália. No Brasil, existem dezenas de escolas trabalhando com o chamado méto- do Maria Montessori. Ainda hoje, esses educadores influenciam as concepções que fun- damentam as ações pedagógicas na Educação Infantil e foram funda- mentais para a garantia dos direitos de educação e desenvolvimento das crianças pequenas. 1.1.2 Institucionalização do atendimento à infância A institucionalização do atendimento à infância ou o início da Edu- cação Infantil começou a partir do século XVIII com os processos de industrialização e urbanização, e da necessidade de garantir a guar- da e os cuidados de higiene e saúde das crianças pobres, cujas mães passaram a assumir postos de trabalho assalariado. Por esse motivo, o atendimento tinha como foco apenas a assistência. Ou seja, apenas ze- lar e cuidar da criança no período de ausência da família (ARIÈS, 2017; HEYWOOD, 2004). No Brasil, a educação de crianças pequenas teve início na metade do século XIX, motivada também pela industrialização crescente que levou mulheres das classes operárias para o trabalho nas fábricas. A Educação Infantil nasceu como um trabalho assistencial, uma espécie de favor para as mães que não tinham condições de cuidar de seus filhos, não havia qualquer finalidade de trabalho educativo visando ao desenvolvimento da criança. Somente na década de 1920, o governo brasileiro estimulou o aten- dimento às crianças menores de 6 anos, responsabilizando-se por parte dos recursos necessários. Entretanto, ainda ficava a cargo da so- ciedade organizar a realização e a prestação desse serviço. Para se aprofundar nos estudos e conhecer um pouco mais sobre o contexto de vida e de pro- dução intelectual de cada um dos precursores da Educação Infantil apresen- tados, sugiro que assis- tam aos vídeos indicados a seguir, que trazem um panorama geral da vida e obra desses importantes pensadores: • Jan Amos Comênius: Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=jOHSKZZmoWA • Jean Jacques Rousseau: Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=XfQidqFlJZY • Johann Heinrich Pestalozzi: Disponível: https://www.youtube. com/watch?v=Nsy7Htoidrc • Friedrich Froebel: Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=T7pJbL3iaQU • Maria Montessori: Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=qUX-TVVquZg Acessos em: 19 out. 2021 Vídeos 16 Organização didática na Educação Infantil No Brasil, o crescimento da Educação Infantil foi marcado pelas de- sigualdades sociais. Na segunda metade do século XX, o número de ins- tituições cresceu exponencialmente, entretanto, com diferenças nítidas entre as instituições que prestam serviço às classes operárias e menos favorecidas e àquelas que passam a atender famílias de classes sociais mais favorecidas, reconhecendo o valor da educação para as crianças pequenas. No Brasil, até poucas décadas atrás, o atendimento destinado às crianças menores de cinco anos ainda estava vinculado às entidades de assistência social. Prova disso é que as instituições públicas de Educa- ção Infantil – muitas ainda denominadas creches – e seus profissionais, até a década de 1990, estavam vinculados às Secretarias de Assistência Social e não às Secretarias de Educação. Essa transição ocorreu apenas após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n. 9.394/1996 (BRASIL, 1996). O termo Educação Infantil no Brasil passou a ser utilizado na legisla- ção apenas após a institucionalização da LDB. Esse é um dos motivos pelos quais Kramer (2003) afirma que o Brasil ainda está na pré-história das políticas educacionais para a Educação Infantil. Ainda que no artigo 29 da LDB, a Educação Infantil configura como a primeira etapa da Educação Básica, visando “o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, in- telectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (BRASIL, 1996). Entretanto, o debate sobre a importância e a necessidade de ampliação dos direitos, do atendimento e da qualidade da Educação Infantil ainda estão longe de acabar. p. st ud io 66 /S hu tte rs to ck Para ler a lei completa, acesse o link a seguir. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l9394.htm. Acesso em: 1 nov. 2021. Site Fundamentos da Educação Infantil 17 1.1.2.1 Políticas educacionais para a Educação Infantil Quanto aos fundamentos e bases curriculares da Educação Infantil, devemos destacar a necessária articulação entre os princípios de cui- dar e educar. O trabalho eminentemente educativo precisa ser realiza- do de maneira conjunta e complementar com as atividades essenciais de cuidado e atendimento das crianças de 0 a 5 anos. Aos princípios de educar e cuidar, as Diretrizes Curriculares Nacio- nais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010) apontam o jogo e a brinca- deira como metodologia, por excelência, do trabalho com as crianças dessa etapa da Educação Básica. Entende-se, dessa forma, que o brin- car é um elemento fundamentalpara os processos de desenvolvimen- to e aprendizagem da criança. Nesse cenário de novos paradigmas e concepções para a Educação Infantil, vale destacar a importância do cuidado como algo indissociável do processo educativo. Ou seja, na Educação Infantil, educar e cuidar, são princípios norteadores do trabalho pedagógico (PIENTA, 2011). His- toricamente, essas duas dimensões apareciam fragmentadas nas prá- ticas desenvolvidas. O cuidar estava associado à atividade meramente ligada ao corpo e era destinado às crianças mais pobres; o educar relacionava-se a uma experiência de promoção intelectual reservada aos filhos dos grupos socialmente privilegiados. A indissociação entre o educar e o cuidar são expressos no Parecer n. 20/2009, do Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 2009). Educar cuidando inclui acolher, garantir a segurança, mas, também, alimentar a curiosidade, a ludici- dade e a expressividade infantis. Educar de modo indissociado do cuidar é dar condições para as crianças explorarem o ambiente de diferentes maneiras: manipulan- do materiais da natureza ou objetos, observando, nomeando objetos, pessoas ou situações, fazendo perguntas, entre outras formas. Além de construírem sentidos pessoais e significados coletivos, à medida que vão se constituindo como sujeitos e se apropriando de um modo sin- gular das formas culturais de agir, sentir e pensar (BRASIL, 2009, p. 10). Ao falarmos de Educação Infantil no Brasil, é inevitável citarmos a negligência histórica de políticas públicas voltadas à infância. Isso se confirma ao analisarmos os altos índices de crianças de 0 a 5 anos que ainda não são atendidas em função do número de vagas disponíveis ser muito inferior à real demanda. Isso demonstra a falta de prioridade que é dispensado à educação das crianças pequenas. Para acessar o documen- to completo das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, acesse o link a seguir. Disponível em: http://portal. mec.gov.br/dmdocuments/ diretrizescurriculares_2012.pdf. Acesso em: 1 nov. 2021. Documento 1.2 Educação Infantil: de Reggio Emilia para o mundo Vídeo Você já ouviu falar de Reggio Emilia? É uma província italiana da re- gião de Emília-Romanha, no norte da Itália, que foi brutalmente destruí- da durante a Segunda Guerra Mundial. Com o desejo e a necessidade de reconstruir a cidade, grande parte da população decidiu que a me- lhor maneira de recuperar as perdas subjetivas (cultura, história, rela- ções sociais) era construindo uma escola para crianças pequenas com a força e os ideais da comunidade, que sonhava com a reconstrução de suas vidas e com um futuro melhor para seus filhos. A cidade toda se mobilizou, e as marcas e restos da destruição deixa- dos pelas tropas alemãs foram vendidos e transformados em recursos para a nova escola, aproveitando uma construção abandonada que se tornou a primeira creche de Reggio Emilia, em 1946. Nasce, dessa vonta- de e ação coletiva, uma ideia pedagógica que iria atravessar as fronteiras da Itália, com base na ideia de famílias que acreditavam na mudança e em um mundo melhor obtido por meio da educação. A parceria com as famílias e a comunidade é, até hoje, um dos pilares da metodologia de Reggio Emilia, acreditando que não é apenas na escola que acontece o ato educativo, pois as cidades são educadoras. Ou seja, os processos educativos ocorrem em diversos espaços de convivência da cidade. Um nome que se destacou nesse processo foi o do jovem pedago- go, Loris Malaguzzi (1920-1994), que ficou sabendo da ação comunitá- ria em prol de um projeto educativo e logo se interessou: 1818 Organização didática na Educação InfantilOrganização didática na Educação Infantil Re na ta S ed m ak ov a/ Sh ut te rs to ck Praça da Catedral de Reggio Emilia localizada na região da Emília-Romanha, província de Régio da Emília. Esta ideia pareceu-me incrível! Corri até lá em minha bicicleta e descobri que tudo aquilo era verdade. Encontrei mulheres em- penhadas em recolher e lavar pedaços de tijolos. As pessoas haviam-se reunido e decidido que o dinheiro para começar a construção viria da venda de um tanque abandonado de guerra, uns poucos caminhões e alguns cavalos deixados para trás pelos alemães em retirada. (MALAGUZZI, 1999, p. 59) Loris desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do que se passou a ser conhecida como a abordagem Reggio Emilia. Um tra- balho pedagógico fundamentado no protagonismo infantil e na peda- gogia da escuta ativa, em que o professor se esforça em compreender a lógica das hipóteses e do desenvolvimento infantil, e aprende com a criança, de maneira simultânea, a quem ensina. Tendo como tarefa contínua, a busca por alternativas que promovam um processo perma- nente de aprendizagem dos pequenos. O poema As cem linguagens da criança, escrito por Loris Malaguzzi, sintetiza as ideias que fundamen- tam a abordagem: As cem linguagens da criança A criança é feita de cem. A criança tem cem mãos, Cem pensamentos, Cem modos de pensar, de jogar e de falar Fonte: MALAGUZZI, L., 1999, p. 60 Ao falar de “cem linguagens”, o autor quer reforçar a ideia de não reduzirmos ou subestimarmos a capacidade e as possibilidades da in- fância. A abordagem criada e defendida por Malaguzzi (1999), adotada nas escolas de Reggio Emilia, trabalha com as reflexões sobre a lin- guagem oral e escrita, o estudo do cérebro, o desenvolvimento cogni- tivo da criança e os processos de aprendizagem. Além de valorizar o pensamento da criança, também são valorizados e estimu- lados as suas hipóteses e os seus interesses. Além disso, as práticas de Reggio Emília também valorizam, e acima de tudo, incentivam, as múltiplas linguagens da infân- cia. Assim como, a forma por meio da qual as crianças expressam, pesquisam e produzem sentido para suas ideias e conhecimentos. O livro As cem linguagens da criança: a aborda- gem de Reggio Emilio na educação da primeira infância apresenta refle- xões de educadores que participaram da criação e desenvolvimento da abordagem educacional de Reggio Emilia. Livro Dr ag on Im ag es /S hu tte rs to ck Fundamentos da Educação InfantilFundamentos da Educação Infantil 1919 Faça a leitura completa do poema As cem linguagens da criança no link a seguir. Disponível em: https://www. escolaateliecarambola.com.br/ single-post/2016/03/03/a- crian%C3%A7a-%C3%A9-feita- de-cem. Acesso em: 1 nov. 2021. Leitura 20 Organização didática na Educação Infantil Nesse contexto, o conhecimento da criança é o gatilho para todas as ações, ele é o centro do processo. Segundo Malaguzzi (1999, p. 62): Reconhecer o direito da criança de ser protagonista e a necessi- dade de manter a curiosidade espontânea de cada uma delas em um nível máximo. Tínhamos de preservar nossa decisão de aprender com as crianças, com os eventos e com as famílias, até o máximo de nossos limites profissionais, e manter uma pronti- dão para mudar pontos de vistas, de modo a jamais termos cer- tezas demasiada. Assim como o educador deve realizar a escuta atenta e disponível às suas linguagens, como afirma Hoyuelos (2006, p. 131): [...] se não aprendermos a escutar as crianças, será difícil apren- der a arte de estar e conversar com elas (de conversar em um sentido físico, formal, ético e simbólico). Será também difícil, acaso impossível, compreender como e porque pensam e falam as crianças; compreender o que fazem, pedem, planejam, teori- zam ou desejam; compreender qual mensagem preferem, quais procedimentos exploram ou elegem para influenciar seu entor- no ou obter conhecimento. Será por meio da escuta sensível do professor, que além de ouvir, também olha, acompanha todo o desenvolvimento da criança e poten- cializa suas linguagens, sempre direcionando-as a novas aquisições e aprendizagens inovadoras. As ideias adotadas na educação para a infância em Reggio Emilia transpuseram as fronteiras locais e já influenciam as concepções e or- ganização da Educação Infantil em váriaspartes do mundo, inclusive no Brasil. Muitos preceitos que fundamentam a abordagem Reggio estão presentes em documentos oficiais orientadores da Educação Infantil em nosso país, como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- ção Infantil (2010), a Base Nacional Curricular Comum para a Educação Infantil (2017), assim como diretrizes e planos curriculares locais, de Estados e municípios. 1.2.1 Princípios da Educação Infantil de Reggio Emilia Para compreender melhor os princípios da Educação Infantil de Reggio Emilia, vamos apresentá-los a seguir: Acesse a Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil no link a seguir. Disponível em: http:// basenacionalcomum.mec.gov.br/ abase/. Acesso em: 1 nov. 2021. Documento Fundamentos da Educação Infantil 21 Imagem que se tem da criança www_logo_expert/Shutterstock Na abordagem de Reggio, a criança é vista de maneira diferente das concepções mais conservadoras, que a concebem como uma folha em branco, que será preenchida, compreendendo com base nisso que a criança chega à Educação Infantil sem nenhum tipo de conhecimento prévio ou interesses. Também não é vista como uma pequena flor, que será cultivada, ideia na qual se acredita em um conhecimento inato, que nasce com a criança, e que a escola só faz desabrochar. Em Reggio Emilia, a criança é a protagonista, um ser ativo, que expressa suas potencialidades por meio de diversas linguagens e encontra nos espaços de formação escolares oportunidades variadas para desenvolvê-las. O diálogo e a interação entre crianças e crianças, também entre crianças e adultos é essencial durante todo o processo, e é por meio dessas ações que o adulto mobiliza o que é necessário para que a aprendizagem e o desenvolvimento da criança aconteçam de modo contínuo. Papel da família www_logo_expert/Shutterstock A família, independentemente de sua configuração ou estrutura, é fundamental na abordagem Reggio Emilia para a formação integral da criança. Vale ressaltar que a escola em Reggio nasceu pelas mãos das famílias. Junto à família é onde ocorrem as primeiras aprendizagens. Por isso, a obser- vação e a troca de informações entre a família e a escola – estabelecendo uma parceria com objetivos comuns – é um dos pilares dessa abordagem. Os profes- sores de Reggio tem consciência da importância dessa parceria e, por isso, são os responsáveis por fortalecê-la, comunicando às famílias sobre as propostas e envolvendo-as em sua continuidade. Papel do professor www_logo_expert/Shutterstock Cabe ao professor estar disponível para ouvir e interagir com a criança durante todo o tempo, usando essas ações como gatilhos para criar estratégias que pro- movam a aprendizagem, visando aos aspectos cognitivo, afetivo, cultural, social e interacional. Ao considerar a criança protagonista do processo, o professor atua auxiliando-a em suas descobertas, sempre observando-as para estimular novas e contínuas aprendizagens. A proposta em Reggio Emilia é que os professores trabalhem em pares, sempre de maneira interativa e harmônica, tendo como objetivo comum o desenvolvimento da criança. Dispondo de dois professores, é possível realizar práticas em que, en- quanto um interage com as crianças, o outro observa e toma nota. A presença de dois profissionais proporciona a realização de diversas atividades simultaneamen- te, nas quais cada criança busca o que mais lhe interessa individualmente. Isso 22 Organização didática na Educação Infantil porque, na abordagem de Reggio Emilia, a mesma atividade, para todas as crian- ças, ao mesmo tempo, não é uma prática aceitável, pois fere o princípio da criança como um ser singular, ativo, que tem interesses próprios. Quando todos realizam a mesma atividade ao mesmo tempo a individualidade da criança é deixada de lado. Pedagogia da escuta www_logo_expert/Shutterstock Todas as práticas pedagógicas realizadas partem do diálogo, da interação e do olhar sensível e atencioso sobre a criança e são fundamentadas na pedagogia da escuta, que se volta para a criança, sendo esta o centro do processo de ensino e aprendiza- gem, para ouvi-la e, assim, direcionar um processo pedagógico significativo. Em seu processo de aquisição de aprendizagem, a criança cria hipóteses, faz experimentos, elabora questionamentos, discute e conversa demonstrando seus conhecimentos e suas inquietações. É com a escuta ativa dessas expressões da criança que a prática pedagógica se constrói em Reggio Emilia. Comunidades educativas www_logo_expert/Shutterstock Vivemos em sociedade e aprendemos em comunidade e com cooperação. Embora a escola seja o espaço educativo por excelência, não é o único ambiente no qual se aprende e se ensina. Reggio Emilia reconhece essa natureza educativa das co- munidades, por isso propõe uma escola “sem muros”, ou seja, uma escola na qual a comunidade interage e participa ativamente. Compreende ainda que a criança aprende em diversos ambientes, pois as cidades e as comunidades são educati- vas, e esses conhecimentos são ouvidos e valorizados na escola. Criatividade www_logo_expert/Shutterstock As escolas de Reggio Emilia dão especial destaque à representação simbólica das crianças por meio de desenhos, pinturas, modelagem, música, representações cênicas, dança, histórias, entre outras expressões. Essas representações contri- buem positivamente por meio da ludicidade para a aprendizagem significativa. Figura 5 Atividades interativas 1 J R- 50 / Sh ut te rs to ck 2 io fo to / Sh ut te rs to ck 3 ku ro ks ta / Sh ut te rs to ck1 2 3 É nesse contexto que os ateliês são espaços privilegiados e essenciais na abordagem Reggio Emilia. Constituindo-se como ambientes acolhe- dores e aconchegantes, com objetos variados e instrumentos que pro- porcionam à criança a exploração livre e a representação por meio da imaginação e espontaneidade. Vecchi (2017, p. 26) descreve os ateliês: De modo compatível com o espaço à disposição, o ateliê é um ambiente suficientemente grande para acomodar várias crianças e permitir diversas atividades, e está em relação, também visual, com o resto da escola. É equipado com instrumentos: mesas; recipientes para materiais; computador; impressora; máquinas fotográficas digitais; há muitos tradicionais: tintas para pintura e para desenho de diversos tipos, consistências e tonalidades; ar- gila preta, branca, vermelha, óxidos de diversas cores, tintas para a cerâmica; arames de diversas espessuras; chapas metálicas; material reciclado e muitos outros materiais. O ateliê é o espaço construído pelas crianças e para as crianças, va- lorizando seu pensamento original, espontâneo e autônomo. Documentar Marki Poplasen/ Shutterstock A documentação em Reggio é entendida como o registro da trajetória do apren- dizado, dando sentido e direção a esse processo. Documentar significa registrar falas de crianças, hipóteses, questionamentos, assim como selecionar produções, desenhos, e registrar, por meio de imagens ou vídeos, situações que demonstrem as aprendizagens. Os registros também devem proporcionar reflexão sobre o que precisa melhorar, mudar, acrescentar ou suprimir, para garantir a formação integral da criança. O vídeo O papel da docu- mentação pedagógica, do canal Quintal Pedagógico aborda a importância e a função da documentação pedagógica na Educação Infantil. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=cdmcs3oyTk0. Acesso em: 1 nov. 2021. Vídeo Ma rki Po pla se n/ Sh utt ers toc k Fundamentos da Educação InfantilFundamentos da Educação Infantil 2323 24 Organização didática na Educação Infantil Importância do ambiente Marki Poplasen/ Shutterstock Em Reggio Emilia, os ambientes de aprendizagem ocupam o papel do “terceiro professor”, porque devem ser tão bem planejados, organizados e pensados em função da criança, a ponto de garantir aprendizagem, permitindo e estimu- lando a exploração criativa da criança, é o ambiente como agente educativo.Figura 6 Ambiente que proporciona aprendizagem 1 M ar ko P op la se n / S hu tte rs to ck 2 sa nt yp an / Sh ut te rs to ck 3 Re be lli on W or ks / Sh ut te rs to ck1 2 3 Os princípios da Educação Infantil de Reggio Emilia podem e de- vem inspirar outras práticas, dando protagonismo à criança, visando a seu desenvolvimento integral, por meio da valorização de múlti- plas linguagens. 1.3 O profissional da Educação Infantil Vídeo De acordo com o artigo 62 da Lei de Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional (BRASIL, 1996): A formação de docentes para atuar na educação básica far-se- -á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magis- tério na educação infantil, a oferecida em nível médio, na mo- dalidade Normal. Entretanto, além da formação mínima exigida e recomendada, há um perfil profissional desejável para a atuação com as crianças de 0 a 5 anos, considerando as especificidades dessa fase de desenvol- vimento e as concepções que fundamentam essa etapa de ensino. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 41): Fundamentos da Educação Infantil 25 O trabalho direto com crianças pequenas exige que o professor tenha uma competência polivalente. Ser polivalente significa que ao professor cabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas do conhecimento. Este caráter polivalente demanda, por sua vez, uma formação bastante ampla do profissional que deve tornar-se, ele também, um aprendiz, refletindo constantemen- te sobre sua prática, debatendo com seus pares, dialogando com as famílias e a comunidade e buscando informações ne- cessárias para o trabalho que desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre a prática direta com as crian- ças a observação, o registro, o planejamento e a avaliação. O texto dos Referenciais Curriculares aponta para a necessária articulação entre o cuidar e o educar na prática docente na Edu- cação Infantil. Ele também chama a atenção para a importância da formação continuada e da característica reflexiva desse profissional, em um constante movimento de: AÇÃO REFLEXÃO AÇÃO Fireofheart/Shutterstock Para, então, construir e reconstruir sua prática e seus saberes nas experiências vividas, nas situações do cotidiano, investigando e buscando fundamentar suas ações. Nessa perspectiva, é possível afirmar que nem todos os saberes necessários à docência na Educação Infantil são adquiridos na for- mação inicial e continuada. A própria ação docente é formativa, mas, para tanto, a ação docente na Educação Infantil necessita de um profissional curioso, até mesmo inquieto, sedento por pesquisas em diferentes áreas do conhecimento, a fim de construir um repertório vasto que será compartilhado com os bebês e as crianças, com base em seus interesses e curiosidades, em situações reais e significativas de aprendizagem. A construção desse repertório de conhecimentos do professor é fundamental frente às concepções curriculares assumidas pela Base Nacional Comum Curricular (2017). Não há uma relação de conteú- dos curriculares a serem abordados com os bebês e as crianças. O documento indica objetivos de aprendizagem, tais como: “manifes- tar interesse e respeito por diferentes culturas e modos de vida” (BRASIL, 2017, p. 46). Entretanto, a situação com a qual os objetivos de aprendizagem serão atingidos dependerá do interesse dos bebês e crianças e das situações vividas no cotidiano. Nesse sentido, percebemos a impor- tância do amplo conhecimento que o professor de Educação Infantil precisa ter, para poder interagir, trocar, discutir, ampliar e compar- tilhar ideias que podem ser na área da tecnologia, arte, literatura, ciências naturais, entre outras. O professor, na Educação Infantil, precisa estar disponível para ouvir e valorizar as “vozes” dos bebês e crianças, seja quando eles estão comunicando suas hipóteses, curiosidades, interesses, modos de compreender o mundo, ou quando manifestam sinais de desen- volvimento e aquisição de aprendizagens e até mesmo quando não falam. É com base na escuta sensível e na observação atenta que o professor poderá planejar a continuidade de suas ações, amplian- do os conhecimentos e proporcionando desenvolvimento integral e contínuo aos bebês e crianças. Ch am el eo ns Ey e/ Sh ut te rs to ck 2626 Organização didática na Educação InfantilOrganização didática na Educação Infantil Fundamentos da Educação Infantil 27 Como afirmam Machado e Barbosa (2018, p. 142): “O modo como o professor se coloca em escuta vai além de ouvir as crianças, suas vozes e palavras, diz respeito ao modo como ele se compromete com elas nas interações cotidianas”. Como praticar, cotidianamente, a escuta e o olhar atentos e sen- síveis? Isso é possível por meio da aproximação entre professor e crianças. Um professor que brinca, interage, participa das brinca- deiras e dos contextos criativos da criança consegue acolher suas manifestações. O respeito ao brincar é uma das mais importantes condições para atuarmos na Educação Infantil, pois pensar sobre o mo- mento da brincadeira, incluindo a participação do professor, requer nossa sensibilidade, pois, em algumas situações pode- mos observar e aguardar o convite para entrar na brincadeira e, em outras, nos incluir no brincar dos bebês e das crianças, respeitando suas decisões sobre como, com o que e com quem brincar. (CURITIBA, 2020, p. 145) Também é fundamental ao professor de Educação Infantil com- preender e incorporar, em sua prática, alguns eixos estruturantes dessa etapa da Educação Básica: Os bebês e as crianças são protagonistas do trabalho pedagógico. Cuidar e educar são ações indissociáveis. A trajetória curricular é definida tendo bebês e crianças como centro do processo. As interações e brincadeiras são a base de todas as ações. O tempo e as particularidades de cada bebê e criança precisam ser respeitados. A parceria entre professores e familiares garante uma educação compar- tilhada e complementar Os espaços internos e externos merecem atenção especial, pois são essenciais para garantir desenvolvimento e aprendizagem. Conhecer os direitos de aprendizagem e desenvolvimento dos bebês e crianças (BNCC) é fundamental para a realização do trabalho docente. No vídeo indicado, o pedagogo, especialista em Educação Infantil, doutor em Educação e coordenador do Obser- vatório da Cultura Infantil, Paulo Fochi, aprofunda as reflexões sobre a escuta da criança e como essa ação pode contribuir para a condução da prática pedagógica na Educação Infantil. A escuta da crian- ça e as contribuições para nosso aprendizado sobre a infância Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=RmE9bZdZjYI. Acesso em: 20 out. 2021. Vídeo 28 Organização didática na Educação Infantil É por meio do trabalho intencional, bem planejado, mas também permeado pelo afeto das relações e interações, que o professor de Educação Infantil conseguirá compreender e valorizar a infância e suas múltiplas linguagens, apropriando-se do universo infantil em sua subjetividade. Tendo assim, condições de interpretar as possi- bilidades e decidir os caminhos a percorrer, oportunizando novas aquisições de aprendizagens significativas e de contínuo desenvol- vimento humano. CONSIDERAÇÕES FINAIS Você já tinha se atentado ao fato de que a educação das crianças de 0 a 5 anos nem sempre foi encarada como “ato educativo”? Neste capítulo, pudemos refletir sobre isso, e percebemos como a Educação Infantil mudou e avançou de acordo com cada período histórico-social. A Educação Infantil superou o caráter meramente assistencialista de déca- das atrás, quando a compreensão era de “cuidar das crianças pequenas enquanto as mães trabalhavam”,para se assumir como uma importante etapa de educação que contribui para o desenvolvimento integral da criança de 0 a 5 anos. A abordagem de Reggio Emilia reconhece e denota toda a riqueza e importância dessa etapa de ensino, valorizando as linguagens, habili- dades e capacidades da criança. Para tanto, o trabalho pedagógico na Educação Infantil merece e exige formação docente de qualidade, com perfil e disponibilidade para ouvir e valorizar os bebês e as crianças. Ter noção desses conceitos básicos, é essencial para prosseguirmos e aprofundarmos nossas reflexões sobre a organização didática na Edu- cação Infantil. ATIVIDADES Atividade 1 Quais são os pressupostos da “pedagogia da escuta”, que é um dos princípios da abordagem de Educação Infantil de Reggio Emilia? Fundamentos da Educação Infantil 29 Atividade 2 No atual cenário da Educação Infantil, as ações de cuidado aparecem como algo indissociável do processo educativo. Isto é, educar e cuidar, na Educação Infantil, são princípios norteadores e indissociáveis do trabalho pedagógico. A esse respeito, leia os depoimentos fictícios a seguir: PROFESSORA 1: “Sou professora de Educação Infantil há 4 anos, comecei pouco antes de concluir a faculdade e permaneci com meus pequenininhos, e não quero deixá-los tão cedo. Fico encantada ao pensar nas possibilidades de meu trabalho, na diferença que posso fazer na vida de uma criança quando estimu- lo seu desenvolvimento, gosto especialmente dos momentos de troca de fraldas, quando consigo estabelecer uma comunicação individual com as crianças, enquanto realizo sua higiene vou mostrando objetos, falando seus nomes, identificando cores, for- mas, texturas, percebo que apresento o mundo para eles, e cada sorriso, cada palavrinha nova que ouço, me mostra que estou no caminho certo.” PROFESSORA 2: “Trabalhei seis meses como professora de Educa- ção Infantil, logo que terminei meu curso de Licenciatura, mas na primeira oportunidade fui trabalhar com alunos maiores, do Ensino Fundamental. A rotina com os pequenos é muito pesada, cansativa mesmo, e diariamente eu me perguntava: fiz faculdade para ficar trocando fraldas e limpando bumbum sujo? Admiro quem gosta, mas de verdade, não me agradava; talvez se tivesse uma outra pessoa para realizar essas funções (trocar fralda, fazer higiene, alimentar) e eu pudesse só ensinar...” Você consegue perceber a diferença na compreensão dos conceitos de cuidar e educar nos dois relatos? Reflita e comente a respeito. Atividade 3 Por que o professor que participa das brincadeiras e interações dos bebês e crianças consegue planejar e replanejar a sua prática de forma mais assertiva e significativa para a aprendizagem das crianças? REFERÊNCIAS ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2017. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: a educação é a base. Brasília, DF: MEC/Consed/ Undime, 2017. BRASIL. Lei n. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394. htm. Acesso em: 20 out. 2021. 30 Organização didática na Educação Infantil BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB n. 20/2009. Brasília, DF: MEC/CNE/CEB, 2009. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/dmdocuments/pceb020_09.pdf. Acesso em: 20 out. 2021. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília, DF: MEC/SEB, 2010. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ dmdocuments/diretrizescurriculares_2012.pdf. Acesso em: 20 out. 2021. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/ arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf. Acesso em: 20 out. 2021. CURITIBA. Secretaria Municipal da Educação de Curitiba, Departamento de Educação Infantil. Currículo da Educação Infantil: diálogos com a BNCC. Curitiba: SME, 2020. Disponível em: https://mid-educacao.curitiba.pr.gov.br/2020/6/pdf/00279189.pdf. Acesso em: 20 out. 2021. HADDAD, L. 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Na sequência aprofundaremos os estudos sobre as formas de linguagem e expressão da criança, refletindo sobre como valorizar e estimular suas expressões. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • compreender a importância das ações de cuidar e educar na Edu- cação Infantil e a importância de sua indissociabilidade; • refletir sobre a função dos brinquedos, brincadeiras e interações no desenvolvimento integral da criança, tornando-os práticas per- manentes e intencionais; • aprofundar os estudos sobre as formas de linguagem e expres- são da criança, refletindo sobre como valorizar e estimular suas expressões. Objetivos de aprendizagem 2.1 Cuidar e educar Vídeo A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, destina-se às crianças de 0 a 5 anos e tem como objetivo a promoção do desen- volvimento integral da criança, ampliando o seu universo de experiên- cias, conhecimentos e habilidades. Entretanto, toda ação pedagógica na Educação Infantil precisa considerar as especificidades dos bebês e das crianças, suas necessidades e características próprias de cada fase do desenvolvimento. 32 Organização didática na Educação Infantil Em seus estudos, Jean Piaget (1994) afirma que existem três fases do desenvolvimento moral das crianças: Pic on sMe /Shutterstock Ke ripi k/Shutterstock d avo oda /Shutterstock Anomia Heteronomia Autonomia Perto do nascimento todos nós vivemos o período da anomia, pois nascemos sem a consciência do que é certo ou errado. Da anomia, a criança passa para a fase da heteronomia, na qual as regras e os conceitos de certo e errado são apresentados e mediados por outras pessoas – no caso da Educação Infantil, pelas professoras e pelos pro- fessores. Esse processo é importante para que o indivíduo atinja a fase de autonomia, na qual tem condições de avaliar as circunstâncias, fazerescolhas e tomar decisões. Por que estamos tratando de desenvolvimento moral ao falar de “cuidar e educar”? Porque é fundamental para o profissional da Educa- ção Infantil ter consciência de que cuidar e educar fazem parte desse processo de desenvolvimento. Não há como dissociar esses conceitos, uma vez que a criança ainda está construindo suas primeiras experiên- cias com o mundo fora do contexto familiar e não tem conhecimento suficiente para identificar riscos, perigos ou inadequações. Cuidar e educar fazem parte, portanto, do desenvolvimento da mo- ral autônoma. Isso porque, na fase da heteronomia, a criança avalia aquilo que é bom ou ruim por meio do convívio com pessoas mais experientes e da obediência às regras, construindo assim seu repertó- rio para, com o passar do tempo, realizar escolhas seguras e autôno- mas (PIAGET, 1994). f zkes/Shutterstock Eixos da ação pedagógica 33 A Educação Infantil proporciona a diversificação e a consolidação de novas aprendizagens para bebês e crianças de modo complementar à educação familiar, especialmente no caso de crianças bem pequenas e bebês (de três meses a dois anos de idade), uma vez que as apren- dizagens tanto no âmbito familiar como no âmbito escolar são muito parecidas, envolvendo a socialização, a autonomia e a comunicação. É especialmente nesse contexto educativo que as ações de educar e cuidar são indissociáveis. É preciso superar práticas pedagógicas existentes que hierarquizam e diferenciam os profissionais e as instituições que cuidam daqueles que educam. Cuidar e educar acontecem simultaneamente, de manei- ra articulada durante brincadeiras, interações e todas as situações pe- dagógicas intencionais. Vamos entender isso pensando no contexto real: Quando a professora ou professor está no parquinho com uma turma de crianças de 2 anos, as crianças, ao tentar brincar no escorregador, precisam do auxílio do adulto para subir as escadas. Ao acompanhar a ação da criança, o profissional a orienta sobre como movimentar as mãos e os pés de maneira funcional: “coloca a mãozinha aqui, agora o pé...”. Enquanto ensina o movimento, o adulto está atento para garantir a segurança da criança, apoiando-a para não deixá-la cair. Olga Popko/Shutterstock Ao realizar essa ação, a professora está cuidando ou educando? Há como separar? Assim como no exemplo citado, inúmeras outras situações confirmam a indissociabilidade entre educar e cuidar: os mo- mentos de alimentação, higiene, manuseio de materiais diversos que exigem orientação das crianças. Isso porque: educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brin- cadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades in- fantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade so- cial e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o de- senvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis. (BRASIL, 1998, p. 23) As ações de cuidado integram a educação das crianças. Cuidar é compreender “como ajudar o outro a se desenvolver como ser huma- no [...] significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades” (BRASIL, 1998, p. 24). Considerando que a Educação Infantil se propõe ao de- senvolvimento integral das crianças, é preciso levar em conta todas as dimensões envolvidas no desenvolvimento, inclusive os cuidados com os aspectos biológicos do corpo. Identificar as necessidades das crianças é uma característica ne- cessária ao perfil do profissional da Educação Infantil, assim como saber definir os recursos e as ações necessárias para suprir essa ne- cessidade: é preciso acalentar e embalar o bebê? Acalmar a criança com uma conversa? O desconforto é físico? Ela necessita de troca de fraldas? Está com sede? O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil afirma que: o cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado também precisam seguir os princípios de promoção à saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com o de- senvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseados em conhecimen- tos específicos sobre o desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em consideração as diferentes realidades socioculturais. (BRASIL, 1998, p. 25) O vínculo entre as crianças e os adultos, profissionais da Educa- ção Infantil, é imprescindível para garantir o cuidado. Nenhuma criança vai se sentir segurança em expressar suas necessida- des e vulnerabilidades a uma pessoa com quem não tem vínculo, assim como o adulto não terá a percepção sensível p a r a identificar a criança se não estiver vinculado a ela. Isso acontece porque cuidar da criança envolve “interessar-se sobre o que a crian- ça sente, pensa, o que ela sabe sobre si e sobre o mundo, visando à ampliação deste conhecimento e de suas habilida- Jo se p Su ria /S hu tte rs to ck No vídeo Cuidar, educar e brincar, do canal Instituto Advento, você vai poder conhecer algumas práti- cas que mostram o ato de educar intimamente ligado ao cuidar na Educa- ção Infantil, em ações co- tidianas dos profissionais, como no banho, na troca de fraldas, na alimentação e na higiene dos bebês e das crianças. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=s71QaTgNdiw. Acesso em: 9 dez. 2021. Vídeo 3434 Organização didática na Educação InfantilOrganização didática na Educação Infantil Fam Veld /Shut terstock Eixos da ação pedagógica 35 des, que aos poucos a tornarão mais independente e mais autônoma” (BRASIL, 1998, p. 25). Montenegro (2001) alerta para a necessidade de refletir sobre as ações de cuidado nos programas de formação inicial e continuada de professores e professoras da Educação Infantil como forma de supe- rar a divisão e a hierarquização das funções entre professores e ou- tros profissionais sem formação docente. Práticas assim dissociam o educar e o cuidar e traduzem uma compreensão de que “para cuidar não é preciso formação específica”. Ao planejar, cabe ao professor pensar de maneira integrada as ações de cuidado atreladas às práticas educativas. Isso porque o ato de cuidar é uma ação pedagógica. Quer um exemplo de como associar educar e cuidar durante o banho de um bebê? No vídeo a seguir, o professor Nélio Spréa apresenta uma cantiga de fácil assimilação que instiga a curiosidade dos bebês e possibilita uma série de explorações sensoriais, motoras e identitárias. No minuto 6 (aproximadamen- te) ele mostra, pontualmen- te, como integrar o educar e o cuidar. Espero que você goste! Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=gjG62IMQ0OQ. Acesso em: 9 dez. 2021. Na prática 2.2 Interações e brincadeiras Vídeo O que as crianças pequenas mais gostam de fazer? Qual é a ativi- dade principal que é comum a todas as crianças? Parabéns a quem respondeu brincar. Isso mesmo! Criança gosta de brincar. Toda criança, de qualquer cultura e realidade socioeconômica, em qualquer lugar e condição, ocupa seu tempo, essencialmente, brincan- do. Inserir a brincadeira no cotidiano da Educação Infantil depende da concepção de infância que a instituição assume, entretanto há que se considerar que a natureza da criança é lúdica, e desconsiderar isso no projeto político-pedagógico de uma instituição de Educação Infantil é negar a identidade de seu público. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: as crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que senteme pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos. No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam das mais diferentes lin- guagens e exercem a capacidade que possuem de terem ideias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva as crianças constroem o conhecimento a partir das 36 Organização didática na Educação Infantil interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópia da rea- lidade, mas sim, fruto de um intenso trabalho de criação, signifi- cação e ressignificação. (BRASIL, 1998, p. 21) A citação reforça a importância da brincadeira no processo de de- senvolvimento da criança, uma vez que seus conhecimentos e signifi- cações são construídos por meio de experiências lúdicas e fantasiosas. Quando a criança brinca, ela cria significados, cria estratégias para conhecer o mundo e compreender as relações que a circundam. Isso ocorre, principalmente, quando, ao brincar, ela adota outros papéis, e nessa situação age diante da realidade de maneira não literal, trans- ferindo e substituindo as suas ações corriqueiras pelas características do sujeito do papel assumido. A brincadeira favorece e otimiza a autoestima das crianças, assim como as crianças podem acionar seus pensamentos para a resolução de problemas que lhe são importantes e significativos. Assim, cria-se um espaço em que as crianças podem experimentar o mundo e inter- nalizar uma compreensão particular sobre as pessoas, os sentimentos e os diversos conhecimentos (BRASIL, 1998). Segundo Brougère (2004), é imprescindível que o brincar seja conti- nuamente possibilitado à criança, pois é com as brincadeiras que ela se apropria dos códigos sociais, assim como reelabora os comportamen- tos individuais por meio da comunicação e da interação com as outras crianças. Com a brincadeira, a criança recebe informações e as reati- va, apropriando-se delas por meio de situações lúdicas, por exemplo, quando imita papéis sociais e familiares. Já ao educador, cabe o papel de mediar o processo pedagógico e o brincar. Um importante substrato para o desenvolvimento das práticas pe- dagógicas na Educação Infantil são as brincadeiras que se caracterizam por atividades de extrema relevância para a criança pequena. Ao brin- car, a criança pode imitar aquilo que já conhece para construir e apro- priar-se de novas aprendizagens, “conforme ela reconstrói o cenário necessário para que sua fantasia se aproxime ou se distancie da rea- lidade vivida, assumindo personagens e transformando objetos pelo uso que deles faz” (BRASIL, 2010, p. 7). Todas as aquisições das crianças durante a Educação Infantil, perío- do no qual elas aprendem, movimentam-se e relacionam-se, ocorrem por meio das brincadeiras e interações. Em 2012, o MEC lançou o documento Brinquedos e brincadeiras de creche: manual de orientação pedagógica. Além de subsidiar teoricamente os profissionais sobre as brincadeiras e interações como eixos das práticas pedagógicas, o manual apresenta inúmeras sugestões de organização e uso de brinquedos, materiais e brincadeiras, formas de organizar os espaços e tipos de atividades. É um excelente material para estudo e consulta constante. Disponível em: http://portal. mec.gov.br/dmdocuments/ publicacao_brinquedo_e_ brincadeiras_completa.pdf. Acesso em: 10 dez. 2021. Saiba mais Eixos da ação pedagógica 37 wa ve br ea km ed ia /S hu tte rs to ck Por esse motivo, interações e brincadeiras são eixos estruturantes da prática pedagógica na Educação Infantil propostos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DNCEI) (BRASIL, 2010) e pela Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017). O objetivo é que as crianças ampliem seu contato com outras crianças e grupos culturais, expandindo, assim, padrões de referência e identidades por meio do diálogo e da vivência com a diversidade. As interações também colaboram para a construção da identidade da criança. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998) entende a identidade como uma marca singular de cada pessoa, que as diferencia, como nome, características físicas, história de vida e modos de ser. Esse processo ocorre por meio das relações que a criança estabelece com os outros, primeiro no contexto familiar e em seguida expandindo para outros grupos, inclusive na Educação Infantil. Essa construção ocorre por meio da imitação, da diferenciação ou da oposição durante as relações sociais. As identidades pessoais e coletivas das crianças são construídas nas relações, experiências e práticas cotidianas vivenciadas. Nessas opor- tunidades, a criança reflete sobre o mundo, construindo suas próprias percepções, como nos mostra Silva (2006, p. 104): A progressiva construção da identidade pessoal (personalidade), assim como a capacidade de relacionar-se e comunicar-se com os demais humanos, equivale ao substrato para um bom desen- volvimento psicomotor, linguístico e cognitivo. Durante toda a sua evolução, as crianças constroem seu processo de identidade. Desse modo, não há término no processo, pois na vida adulta, as pessoas incorporam novas situações para definição de suas identidades (como pais, profissionais etc.). Nas brincadeiras, as crianças constroem suas identidades ao experimentarem dife- rentes papéis. Os objetos empregados como acessórios dos per- sonagens auxiliam a aproximação da fantasia ao real. Ao vestir o avental da professora, a criança faz de conta ser a docente, por exemplo. As brincadeiras e interações carac- terizam a infância. Ao brincar, a criança experimenta, cria hipóteses, regula- -se, constrói normas que valem para si e para quem está ao seu redor, ou seja, é por meio da brincadeira que a criança cria e recria o mundo e as relações que a cerca. As aprendizagens na primeira infância acontecem por meio da brincadeira: os bebês descobrem os limites e as possibilidades de seu cor- po brincando com pés e mãos, levando-os até a boca, observando e encantando-se com seus próprios dedos, testando a flexibilidade de seu corpo. Julia Ma ria Isabela Han na Af ric a St ud io /S hu tte rs to ck O que toda criança faz, o tempo todo? A criança brinca! O vídeo Cultura da infância, do canal Escola Viver Presente, mostra a prática de uma escola de Educação Infantil que leva a brincadeira da criança muito a sério. Essa escola traduz em sua ação peda- gógica a prática brincante, que deve ser contínua, diária, intencional e plane- jada. Sim, é preciso plane- jar os contextos nos quais as crianças irão brincar, diversificando materiais, brinquedos, espaços e desafios brincantes. Os professores e professoras que sabem da relevância das brincadeiras para o desenvolvimento das crianças se encantarão com esse vídeo. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=38GfSgXpdX4. Acesso em: 10 dez. 2021. Vídeo Figura 1 A importância do estímulo Se re nk o Na ta lia /S hu tte rs to ck 3838 Organização didática na Educação InfantilOrganização didática na Educação Infantil Eixos da ação pedagógica 39 Ao observar e explorar os brinquedos dispostos no berço, por meio da brincadeira de tocá-los, afastá-los e aproximá-los, a criança começa a perceber seu corpo e diferenciá-lo de outros objetos presentes no mundo. Essas experiências são fundamentais para o desenvolvimen- to da criança, ou seja, um ambiente rico de estímulos e possibilidades para brincadeiras e interações que desafiem e incentivem a criança na exploração colabora positivamente para o desenvolvimento integral na infância. A organizaçãodos espaços na Educação Infantil está diretamente ligada às possibi- lidades de brincadeiras e interações. Organizar ambientes com materiais variados, que estimulem a exploração por parte das crianças, para que brinquem e interajam entre si e com os objetos, é fundamental e deve fazer parte do planejamento de professores e professoras de Educação Infantil. Observe as imagens a seguir. Figura 2 Brincadeiras com caixa de papelão Na prática 1fkzes/Shutterstock / 2The Childhood/Shutterstock / 3Nopphon_1987/Shutterstock / 4glenda/Shutterstock / 5ksenvitaln/Shutterstock (Continua) 1 3 4 2 5 Nas situações representadas, caixas de papelão foram utilizadas para estimu- lar as brincadeiras das crianças. É possível observar as interações entre elas e com o objeto, explorando e buscando formas de brincar que favorecem o desenvolvimento. Nas imagens a seguir, foram utilizados bambolês, que amarrados uns aos outros se transformaram em uma “cama de gato” desafiadora e cheia de en- cantamentos para as crianças. 40 Organização didática na Educação Infantil Figura 3 Brincadeiras com bambolê 1Hlornet/Shutterstock / 2Robert Kneschke/Shutterstock / 3Stmool/Shutterstock 1 2 Nos dois exemplos apresentados, foram propostos desafios motores para as crianças por meio de práticas lúdicas, com brincadeiras e interações, com o objetivo de desenvolver progressivamente a independência nos movimentos e a aquisição de equilíbrio, resistência, força, velocidade e flexibilidade motora. 3 De acordo com Wallon (1998), infantil é sinônimo de lúdico, ou seja, toda atividade da criança é lúdica. A partir do momento de seu nasci- mento, a criança começa a brincar. O bebê brinca e sente prazer com seu chilreio (emissão de sons repetidos em pequenos intervalos), brin- ca na interação com pessoas e objetos. E é por meio dessas brincadei- ras que ele avança em cada fase de seu desenvolvimento, adquirindo novas habilidades por meio de novas brincadeiras e descobertas, em um ciclo contínuo. 2.3 Linguagens na Educação Infantil Vídeo A criança se expressa de diversas formas: desenhos, pinturas, escul- turas, movimentos, brincadeiras, falas. Antes mesmo de ter o domínio da linguagem oral – isto é, da fala – ela já é capaz de se comunicar e se expressar. Entretanto, não é incomum encontrarmos a ideia de linguagem relacionada apenas à linguagem verbal, falada e escrita. Até mesmo a escola de Educação Infantil, infelizmente, acaba depositando maior peso nessas formas expressivas, não valorizando outras manifestações expressivas das crianças. Eixos da ação pedagógica 41 As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010) afirmam que é preciso garantir às crianças experiências que favoreçam sua imersão nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão – gestual, verbal, plástica, dramática e musical –, assim como possibilitar expe- riências de narrativas, de apreciação e de interação com a linguagem oral e escrita e o convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos (BRASIL, 1998). Figura 4 Formas de expressão usadas pelas crianças 1 D en is K uv ae v/ Sh ut te rs to ck 2 R aw pi xe l.c om /S hu tte rs to ck 3 m us e st ud io /S hu tte rs to ck 4 L ia _R us sy /S hu tte rs to ck 5 p or ce la ni q/ Sh ut te rs to ck 6 k se nv ita ln /S hu tte rs to ck 7 p or ce la ni q/ Sh ut te rs to ck 8 d av oo da /S hu tte rs to ck1 3 4 2 5 7 6 8 Malaguzzi (1993) afirma que a criança é “feita” de múltiplos pensa- mentos e maneiras de brincar, falar e escutar, mas a escola e a cultura “lhe separam a cabeça do corpo” e roubam quase toda essa variedade. Observe a descrição da prática a seguir: No início do ano, com uma turma de crianças de 4 e 5 anos, a professora propôs construir um espaço na sala em que cada criança se apresentasse, falasse um pouco de si, de suas características e preferências. Para isso dispôs diversos materiais para que escolhessem como fariam essa descrição: suportes e ris- cantes para desenhos e pintura, massinha para modelar, materiais variados para construções tridimensionais, assim como explicou que também poderia utilizar seu aparelho de celular para fotografar. Na prática (Continua) Para conhecer outras práticas lúdicas possíveis, acesse o material As múl- tiplas linguagens na edu- cação infantil: experiências de ensino e aprendizagem compartilhadas. Disponível em: https://sead.furg.br/ images/cadernos/pdf/volume-32. pdf. Acesso em: 10 dez. 2021. Leitura 42 Organização didática na Educação Infantil Francisco, de 4 anos desenhou seu autorretrato e pediu a professora para fotogra- fá-lo “em uma pose parecida com o desenho”. Na sequência, falou que queria con- tar algumas características suas, a professora perguntou se poderiam fazer isso em um texto, ele concordou e relatou a professora o que deveria ser escrito. Vale destacar que foi proporcionado às crianças expressarem-se por meio de di- versas linguagens: desenho, modelagem, escultura, fotografia, além da linguagem escrita, sem definir um padrão, para todas as crianças, de como deveriam elaborar sua atividade. Outro merecido destaque vai para a ação da professora, que estava atenta e disponível às crianças, percebendo suas necessidades e auxiliando-as a encontrar alternativas para expressarem-se. FRANCISCO • 4 ANOS • GOSTO DE BRINCAR COM MEUS AMIGOS E COMER CHOCOLATE • TENHO UM CACHORRO CHAMADO FLOQUINHO É preciso garantir que o direito da criança de se manifestar por meio de múltiplas e variadas linguagens, que estão presentes no co- tidiano social e na vida da criança, encontre espaço nas práticas pe- dagógicas desenvolvidas na Educação Infantil, entendendo que são tão importantes quanto a linguagem verbal e escrita e proporcio- nando aprendizagens significativas para o desenvolvimento infantil. Segundo GOBBI (2010, p. 2): cabe aos adultos, junto com seus pares e as crianças, criarem espaços no cotidiano de creches e pré-escolas em que as mani- festações infantis estejam presentes sendo compreendidas em sua inteireza, não se deixando conduzir apenas pela linguagem verbal ou escrita desconsiderando demais formas expressivas. Condicionados a pensar nas linguagens sempre relacionadas à fala deixa-se de pensar nelas associadas ao movimento, ao de- senho, a dramatização, a brincadeira, a fotografia, a música, a dança, ao gesto, ao choro. Contudo, muitos ficam surpresos com Eixos da ação pedagógica 43 a riqueza das manifestações expressivas, chegam a espantar-se quando veem as crianças que se maravilham e descobrem coisas do cotidiano, tais como, entreter-se com seus traçados na dinâ- mica tão rápida do dia a dia, envolvendo-se com seus corpos que giram e criam coreografias ao tocar de uma música ou mesmo nos sons produzidos pelos talheres no momento das refeições. Basta estar disposto a olhar e estar atento a esse universo rico de propósitos que reclama ser compreendido. A BNCC (BRASIL, 2017, p. 62) também reitera a necessidade de com- preender a criança como sujeito criativo e sensível, que se expressa por meio de: diferentes linguagens, sensações corporais, necessidades, opiniões, sentimentos e desejos, pedidos de ajuda, narrativas, registros de conhecimentos elaborados a partir de diferentes experiências, en- volvendo tanto a produção de linguagens quanto a fruição das artes em todas as suas manifestações. De acordo com Vigotski (2000, p. 11), a linguagem é um meio de comunicação social, de enunciação e compreensão de pensamentos, desejos e necessidades. Ou seja, todos os tipos de linguagem – musical, verbal, escrita, pictográfica, visual, cênica, corporal etc. – são formas de comunicação social. As práticas na Educação Infantil precisam partir do pressuposto de que todas as linguagens são essenciais e devem fazer parte do cotidia- no da Educação Infantil, proporcionando às crianças diferentes vetoresde comunicação, que oportunizam formas de se expressar de acordo com as variadas habilidades e características individuais das crianças, valorizando a pluralidade e a diversidade e proporcionando oportuni- dades de desenvolvimento, considerando que cada criança tem infini- tas formas de manifestação própria. Nos vídeos indicados a se- guir, você poderá aprofun- dar as reflexões sobre a abordagem pedagógica e as práticas com linguagens na Educação Infantil. • No vídeo O lugar da lingua- gem na Educação Infantil: reflexões e práticas, do canal MultiRio, a professora Deni- se Carvalho, da Universida- de Federal do Rio Grande do Norte, fundamenta teoricamente a relevância das práticas pedagógicas com as linguagens para o desenvolvimento das crianças de 0 a 5 anos. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=ScJQbtE49Jk • No vídeo Entrelaçando dife- rentes linguagens: reflexões e práticas, do canal UNIVESP, são mostradas práticas de expressões artísticas similares às desenvolvidas em escolas de Reggio Emilia, na Itália, executadas em uma escola pública do interior de São Paulo. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=ZVQ5InHt-TQ Acessos em: 10 dez. 2021. Vídeos CONSIDERAÇÕES FINAIS Na Educação Infantil, a criança é protagonista, por isso as práticas pedagógicas devem considerar suas características de desenvolvimento, seus interesses, suas necessidades e seus desejos. Nesse contexto, o cuidado, as brincadeiras, as interações e a valoriza- ção das múltiplas linguagens precisam estar presentes diariamente como eixos da ação pedagógica, de maneira intencional e planejada, tendo em vista a criança real, sujeito histórico social, que tem o direito de se desen- volver integralmente na Educação Infantil. 44 Organização didática na Educação Infantil ATIVIDADES Vídeo Atividade 1 Cuidar é compreender “como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano [...] significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades” (BRASIL, 1998, p. 24). Dê um exemplo de uma ação de cuidado realizada na Educação Infantil que está intimamente ligada ao educar, uma vez que contribui para o desenvolvimento da criança. Vídeo Atividade 2 Qual é a relação entre a organização dos espaços e dos materiais e a prática pedagógica que valoriza o brincar na Educação Infantil? Vídeo Atividade 3 Existe uma tendência, social e da escola, em valorizar a linguagem verbal, falada e escrita. Que outras linguagens devem ser valoriza- das na Educação Infantil? Por quê? REFERÊNCIAS BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília, DF: MEC/SEB, 2010. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998. BROUGÈRE, G. Brinquedos e companhia. São Paulo: Cortez, 2004. GOBBI, M. Múltiplas linguagens de meninos e meninas e a educação infantil. In: 1o SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – PERSPECTIVAS ATUAIS. Anais [...] Belo Horizonte: UFMG, 2010. MALAGUZZI, L. Una carta per tre diritti. Reggio Emilia: Scuole e Nidi d’infanzia, 1993. Disponível em: http://www.scuolenidi.re.it/allegati/cartaper3diritti.pdf. Acesso em: 9 dez. 2021. MONTENEGRO, T. O cuidado e a formação moral na educação infantil. São Paulo: Educ, 2001. PIAGET, J. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus, 1994. SILVA, A. H. O poder de um avental. In: ROSSETTI-FERREIRA, M. C. Os fazeres na educação infantil. São Paulo: Cortez, 2006. VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000. WALLON, H. A evolução psicológica da criança. Lisboa: Edições 70, 1998. A Educação Infantil na BNCC 45 3 A Educação Infantil na BNCC A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de abran- gência nacional com importante papel na garantia do direito à aprendiza- gem e desenvolvimento de todos os estudantes na busca pela equidade na educação. Esse documento regulamenta e indica quais são as aprendi- zagens essenciais que obrigatoriamente devem ser abordadas em todas as escolas do Brasil. Conhecer a estrutura da BNCC proposta para a Educação Infantil é imprescindível para professores e professoras que atuam com crianças de 0 a 5 anos, de forma a compreender os desdobramentos dessa es- trutura na organização didática. Nessa perspectiva, o objetivo deste ca- pítulo é apresentar os campos de experiência propostos na BNCC e sua abrangência na prática docente, assim como refletir sobre os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento propostos na BNCC e estratégias para desenvolvê-los, além de refletir sobre o processo de transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • conhecer os campos de experiência propostos na BNCC; • compreender a abrangência da BNCC; • refletir sobre os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento pro- postos na BNCC; • refletir sobre as formas de abordagem e as estratégias para desenvolvê-los; • refletir sobre o processo de transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental; • conhecer práticas exitosas que proporcionem a continuidade no desenvolvimento da criança. Objetivos de aprendizagem 46 Organização didática na Educação Infantil 3.1 Os campos de experiência Vídeo A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – documento aprovado em 2017 e implantado em 2018 – aliada às Diretrizes Curriculares Na- cionais para a Educação Infantil (DCNEI, aprovada em 2010), apresenta as possibilidades para a organização curricular da Educação Infantil em todo o território nacional. Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, quando do artigo 210, em que fica determinado que serão fixados conteúdos mí- nimos que assegurem a formação básica comum, vislumbrava-se a construção e instituição de uma base curricular ampla, que respeitas- se a autonomia, a diversidade e a pluralidade das instituições, mas que também garantisse democratização e acesso à educação de qualidade para todos. O objetivo da BNCC é indicar princípios, eixos e fundamentos que norteiam o trabalho pedagógico. As especificidades dos territórios, a diversidade dos contextos, a identidade local de cada instituição e co- munidade educativa são garantidos por meio da elaboração, coletiva e democrática, do projeto político-pedagógico das instituições, docu- mento que vai imprimir características do cotidiano local em um currí- culo democrático e participativo. Na Educação Infantil a BNCC estabelece cinco campos de experiên- cias, os quais surgiram em 1991 na Itália e indicam as experiências essenciais para que a criança aprenda e se desenvolva integralmente, como nos mostra Barbosa; Richter (2015, p. 196). Isso porque: um currículo para crianças pequenas exige estar inserido na cultura, na vida das crianças, das famílias, das práticas sociais e culturais, ou seja, é um currículo situado que encaminha para a experiência não na perspectiva do seu resultado, mas naquela que contenha referências para novas experiências, para a busca do sentido e do significado, que considera a dinâmica da sensi- bilidade do corpo, a observação, a constituição de relações de pertencimento, a imaginação, a ludicidade, a alegria, a beleza, o raciocínio, o cuidado consigo e com o mundo. No Brasil, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação In- fantil (DCNEI) 1 já indicavam a organização do currículo por meio desse arranjo curricular. Documento que antecede a BNCC. 1 http://ndi.ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-Curriculares-para-a-E-I.pdf http://ndi.ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-Curriculares-para-a-E-I.pdf A Educação Infantil na BNCC 47 É preciso ressaltar que a organização curricular na Educação In- fantil, de acordo com as orientações da BNCC (BRASIL, 2018), não está pautada em disciplinas, matérias, linguagens, componentes curricu- lares ou qualquer denominação já utilizada por outrosdocumentos curriculares, são os campos de experiências (conforme a Figura 1) que, por meio das interações e brincadeiras, estruturam e definem os ob- jetivos de aprendizagem e desenvolvimento. De acordo com a BNCC (BRASIL, 2018, p. 42), “os campos de experiências constituem um ar- ranjo curricular que acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhe- cimentos que fazem parte do patrimônio cultural”. Figura 1 Campos de experiência ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES O EU, O OUTRO, O NÓS CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO Fonte: Elaborada pela autora. Barbosa e Richter (2015, p. 190) chamam a atenção para o fato de que os campos de experiência não têm a função de “antecipar as áreas do conhecimento do ensino fundamental”, e tão pouco “preparar as crianças para a escolarização do ponto de vista do conhecimento disci- plinar”. Vejamos a seguir cada um dos campos de experiência, de acor- do com a BNCC (2018). A BNCC é o documento curricular orientador de toda a ação pedagógica no Brasil, por isso você precisa conhecê-lo em de- talhes, compreender sua proposta e as concepções que o fundamentam. Acesse o site do MEC e leia o documento. Disponível em: http:// basenacionalcomum.mec.gov.br/ abase/#infantil. Acesso em: 17 jan. 2022. Site http://basenacionalcomum.mec.gov.br http://basenacionalcomum.mec.gov.br 48 Organização didática na Educação Infantil O eu, o outro e o nós www_logo_expert/Shutterstock É na interação com os pares e com adultos que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista. Conforme vivem suas primeiras experiências sociais (na família, na instituição escolar, na coleti- vidade), constroem percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando- se como seres individuais e sociais. Ao mesmo tempo que participam de relações sociais e de cuidados pessoais, as crianças constroem sua autonomia e senso de autocuidado, de reci- procidade e de interdependência com o meio. Por sua vez, na Educação Infantil, é preciso criar oportunidades para que as crianças entrem em contato com outros grupos sociais e culturais, outros modos de vida, diferentes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pessoais e do grupo, costumes, celebrações e narrativas. Nessas experiências, elas podem ampliar o modo de perceber a si mesmas e ao outro, valorizar sua identidade, respeitar os outros e reconhecer as diferenças que nos constituem como seres humanos. (BRASIL, 2018, p. 42) Nesse campo, as experiências ocorrem por meio das interações. Ao passo que os bebês e as crianças se percebem como seres únicos e especiais, reconhecem sua identidade, suas marcas pessoais e a exis- tência do outro, bem com as características do outro. As práticas cotidianas e intencionais devem assegurar oportunida- des de relações entre bebês, crianças e adultos em diversos tempos e espaços, assim como ações e situações ligadas ao cuidado de si, do outro e do ambiente, nas quais bebês e crianças reconheçam e valo- rizem o próprio corpo, desenvolvam hábitos saudáveis, autoestima e autocuidado, valores fundamentais para a construção da identidade pessoal e coletiva. O planejamento do professor, nesse campo de experiência, deve prever propostas lúdicas para a construção da identidade, do respeito ao outro e da valorização das diferenças por meio de interações e brin- cadeiras, incentivando a expressão, o pensamento, a imaginação e a intersecção com outros campos de experiência. A Educação Infantil na BNCC 49 1 M ar i.T oc h/ Sh ut te rs to ck 2 Sy da P ro du ct io ns /S hu tte rs to ck 3 ks en vit al n/ Sh ut te rs to ck 1 2 3 Exemplo de atividades referentes aos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento do campo de experiência O eu, o outro e o nós. Corpo, gestos e movimento www_logo_expert/Shutterstock Com o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou inten- cionais, coordenados ou espontâneos), as crianças, desde cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu entorno, estabelecem relações, expres- sam-se, brincam e produzem conhecimentos sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se, progressivamente, conscientes dessa corporeidade. Por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comunicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. As crianças conhecem e reconhecem as sensações e funções de seu corpo e, com seus gestos e movimentos, identificam suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo, ao mesmo tempo, a consciência sobre o que é seguro e o que pode ser um risco à sua integridade física. Na Educação Infantil, o corpo das crianças ga- nha centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas pedagógicas de cuidado físico, orientadas para a emancipação e a liberdade, e não para a submissão. Assim, a instituição escolar precisa promover oportunidades ricas para que as crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e na interação com seus pares, explorar e vivenciar um amplo repertório de movi- mentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, me- sas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.). (BRASIL, 2018, p. 40-41) 50 Organização didática na Educação Infantil Nesse campo, os bebês e as crianças devem ter acesso a oportuni- dades de explorar o mundo utilizando o próprio corpo, expressando-se e interagindo por meio do movimento. Pois as crianças têm a chance de ampliar seu repertório de gestos, expressões, posturas e movimentos com as brincadeiras diversificadas, descobrindo novas possibilidades de se relacionar com os outros, com o mundo e os espaços e contextos que o rodeiam, tomando consciência de sua corporeidade. 1 P ro st oc k- st ud io /S hu tte rs to ck 2 Le na O gu rts ov a/ Sh ut te rs to ck 3 ks en vit al n/ Sh ut te rs to ck1 2 3 Exemplo de atividades referentes aos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento do campo de experiência Corpo, gestos e movimento. Traços, sons, cores e formas www_logo_expert/Shutterstock Conviver com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências, elas se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos. Essas experiências contribuem para que, desde muito pequenas, as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Portanto, a Educação Infantil precisa promover a participação das crianças em tempos e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a favo- recer o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitindo que se apropriem e reconfigurem, permanentemente, a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios e interpretar suas experiências e vivências artísticas. (BRASIL, 2018. p. 43) A Educação Infantil na BNCC51 Nesse campo de experiência é estimulado, em bebês e crianças, a exploração de diferentes expressões artísticas, culturais e científi- cas, compondo assim o repertório dos pequenos para que possam se expressar de maneira criativa e sensível. Aproximar as crianças das manifestações culturais expressas na música, nas artes visuais, no cinema, fotografia, teatro, dança, poesia, literatura os estimula a revelar sua imaginação e sua capacidade cria- dora. O planejamento docente deve abordar, por meio das brincadei- ras e interações, propostas de produção, apreciação e manifestação artística dos bebês e crianças, valorizando a cultura local e ampliando o repertório artístico e cultural. 1 S un ny s tu di o/ Sh ut te rs to ck 2 w av eb re ak m ed ia /S hu tte rs to ck 3 ks en vit al n/ Sh ut te rs to ck1 2 3 Exemplo de atividades referentes aos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento do campo de experiência Traços, sons, cores e formas. Escuta, fala, pensamento e imaginação www_logo_expert/Shutterstock Desde o nascimento, as crianças participam de situações comunicativas cotidia- nas com as pessoas com as quais interagem. As primeiras formas de interação do bebê são os movimentos do seu corpo, o olhar, a postura corporal, o sorriso, o choro e outros recursos vocais, que ganham sentido com a interpretação do outro. Progressivamente, as crianças vão ampliando e enriquecendo seu vocabu- lário e demais recursos de expressão e de compreensão, apropriando-se da língua materna – que se torna, pouco a pouco, seu veículo privilegiado de interação. Na Educação Infantil, é importante promover experiências nas quais as crianças possam falar e ouvir, potencializando sua participação na cultura oral, pois é na escuta de histórias, na participação em conversas, nas descrições, nas narrativas elaboradas individualmente ou em grupo e nas implicações com as múltiplas lin- guagens que a criança se constitui ativamente como sujeito singular e pertencente a um grupo social. Desde cedo, a criança manifesta curiosidade com relação à cultura escrita: ao ouvir e acompanhar a leitura de textos, ao observar os muitos textos que circulam no contexto familiar, comunitário e escolar, ela vai construindo sua concepção de língua escrita, reconhecendo diferentes usos sociais da escrita, dos gêneros, (Continua) 52 Organização didática na Educação Infantil suportes e portadores. Na Educação Infantil, a imersão na cultura escrita deve partir do que as crianças conhecem e das curiosidades que deixam transparecer. As experiências com a literatura infantil, propostas pelo educador, mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o desenvolvimento do gosto pela leitu- ra, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo. Além disso, o contato com histórias, contos, fábulas, poemas, cordéis etc. propicia a familiaridade com livros, com diferentes gêneros literários, a diferenciação entre ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da escrita e as formas corretas de manipulação de livros. Nesse convívio com textos escritos, as crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita que se revelam, inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que vão conhecendo letras, em escritas espontâneas, não convencionais, mas já indicativas da compreensão da escrita como sistema de representação da língua. (BRASIL, 2018, p. 43) Escuta e fala estão diretamente relacionadas à cultura oral e à escri- ta, e é nisso que esse campo de experiência atua: na expressão oral e escrita dos bebês e crianças, em seus desejos, interesses, narrativas e formas de se expressar presentes em seu contexto. A leitura e a contação de histórias precisam ser inseridas no plane- jamento docente e nas práticas cotidianas, como oportunidade para as crianças e os bebês vivenciarem experiências de leitura, além de am- pliarem repertório e desenvolverem a criatividade e a imaginação. É necessário também que as crianças tenham a oportunidade de narrar histórias, vividas ou ouvidas (reconto), desenvolvendo a oralidade e a capacidade narrativa. Produções escritas, com uma função social clara e tendo o pro- fessor como escriba, também são bem-vindas nesse campo de expe- riência, para explorar diferentes gêneros e suportes textuais. A escrita espontânea (produção gráfica da criança) também precisa ter espaço, valorizando as hipóteses da criança para registrar seu pensamento por meio da escrita. Conviver diariamente com situações significativas de escrita estimulam a curiosidade e o interesse das crianças, assim como o desejo por se apropriar dessa forma de comunicação e expressão. 1 fi zk es /S hu tte rs to ck 2 A NU RA K PO NG PA TI M ET /S hu tte rs to ck 3 ks en vit al n/ Sh ut te rs to ck1 2 3 Exemplos atividades referentes aos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento do campo de experiência Escuta, fala, pensamento e imaginação. A Educação Infantil na BNCC 53 Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações www_logo_expert/Shutterstock As crianças vivem inseridas em espaços e tempos de diferentes dimensões, em um mundo constituído de fenômenos naturais e socioculturais. Desde mui- to pequenas, elas procuram se situar em diversos espaços (rua, bairro, cidade etc.) e tempos (dia e noite; hoje, ontem e amanhã etc.). Demonstram também curiosidade sobre o mundo físico (seu próprio corpo, os fenômenos atmos- féricos, os animais, as plantas, as transformações da natureza, os diferentes tipos de materiais e as possibilidades de sua manipulação etc.) e o mundo sociocultural (as relações de parentesco e sociais entre as pessoas que co- nhece; como vivem e em que trabalham essas pessoas; quais suas tradições e seus costumes; a diversidade entre elas etc.). Além disso, nessas experiências e em muitas outras, as crianças também se deparam, frequentemente, com conhecimentos matemáticos (contagem, ordenação, relações entre quantida- des, dimensões, medidas, comparação de pesos e de comprimentos, avaliação de distâncias, reconhecimento de formas geométricas, conhecimento e reco- nhecimento de numerais cardinais e ordinais etc.) que igualmente aguçam a curiosidade. Portanto, a Educação Infantil precisa promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações. Assim, a institui- ção escolar está criando oportunidades para que as crianças ampliem seus conhecimentos do mundo físico e sociocultural e possam utilizá-los em seu cotidiano. (BRASIL, 2018, p. 42-43) Esse campo de experiência tem como foco explorar o mundo fí- sico, natural e sociocultural no qual bebês e crianças estão imersos. O trabalho com a observação, manipulação, experimentação, pro- blematização e investigação de fatos e situações oportuniza novas descobertas sobre o mundo para os bebês e as crianças. No planejamento, cabe ao professor abordar propostas de explo- ração de objetos e materiais com diferentes propriedades; classifi- cação, comparação, ordenação e contagem de objetos; brincadeiras com coleções, criando atributos e agrupando objetos por seme- lhanças e separando-os por diferenças; bem como trabalhar com resolução de problemas cotidianos, utilizando noções e raciocínio matemático Está curioso em saber como trabalhar com os campos de experiência na prática? Como inseri-lo no trabalho docente cotidia- no? Acesse os materiais indicados e conheça ex- periências realizadas por professores e professoras de Educação Infantil: • BNCC na prática para Educação Infantil: leitura para bebês Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=s3OuFqjyC3E. • BNCC na prática para Educação Infantil: tanque de areia Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=M4-Xcl479Y4&t=28s. Acessos em: 17 jan. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=s3OuFqjyC3E https://www.youtube.com/watch?v=s3OuFqjyC3Ehttps://www.youtube.com/watch?v=s3OuFqjyC3E https://www.youtube.com/watch?v=M4-Xcl479Y4&t=28s https://www.youtube.com/watch?v=M4-Xcl479Y4&t=28s https://www.youtube.com/watch?v=M4-Xcl479Y4&t=28s 54 Organização didática na Educação Infantil 1 J ac ob L un d/ Sh ut te rs to ck 2 N at al ia B el ay /S hu tte rs to ck 3 ks en vit al n/ Sh ut te rs to ck 1 2 3 Exemplo de atividades referentes aos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento do campo de experiência Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Não existem fronteiras entre os campos de experiências. O planeja- mento curricular dessa maneira indica um modo de conceber a orga- nização das aprendizagens e sua vinculação com a experiência vivida das crianças, algo que em nossa realidade educacional ainda é uma grande novidade. Sendo assim, é necessário frisar que é por meio das noções, habili- dades e atitudes abordadas nos campos de experiência que são garan- tidos os direitos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças de 0 a 5 anos (BRASIL, 2018, p. 40): Brincar todos os dias com diversidade de formas, espaços e tempos, parceiros (crianças ou adultos), ampliando acesso a produções culturais, conhecimentos, imaginação, criatividade e experiências. Participar com adultos e crianças, tanto das atividades escolares (participação no planejamento da gestão escolar e das atividades propostas pelo educador) quanto de atividades da vida cotidiana (escolha de brincadeiras, dos materiais utilizados e do ambiente). Conhecer e construir de forma positiva, tanto a sua identidade (pessoal, social e cultural) quanto a imagem de seus grupos de pertencimento nas diversas interações e linguagens vivenciadas no ambiente escolar, familiar e comunitário. Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses etc., por meio de diferentes linguagens. Explorar diferentes movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras emoções etc., seja na escola ou fora dela, ampliado saberes sobre a cultura e as diversas modalidades relacionadas a arte, escrita, tecnologia e ciência. Conviver com outras crianças e adultos – em grupos variados – utilizando linguagens variadas, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito à cultura e as diferenças entre as pessoas Direitos de aprendizagem e desenvolvimento A Educação Infantil na BNCC 55 A pergunta que tem pairado sobre a prática dos profissionais de Educação Infantil é: como planejar a ação pedagógica com base nos campos de experiências? A resposta está na compreensão da criança como protagonista do processo educativo; tomar ela como ponto de partida e nutrir o olhar atento do professor para os interesses, curiosidades, afetos, vínculos, ações e interações que as crianças realizam, como afirmam Barbosa e Richter (2015, p. 194): quando um grupo de crianças brinca no pátio de uma escola com água, utilizando bacias, funis, copinhos, peneiras, certa- mente o conhecimento de física, de química, de biologia que o professor possa ter poderá auxiliar a compreensão das ações das crianças. Ao observar, ele poderá propor novas possibilida- des, como a introdução de uma anilina se considerar que a cor é um elemento fantástico para as crianças interagirem ou terra, se pensar nos processos de transformação que levem à mo- delagem, escultura ou ainda à organização de um aquário. Os saberes e conhecimentos prévios do professor, sua formação científica, artística, tecnológica, ambiental, cultural lhe possibi- lita enriquecer ou ampliar o currículo vivido pelas crianças no cotidiano da creche e da pré-escola. Os campos de experiências (FINCO, 2015) privilegiam os projetos baseados nas ideias das crianças e não os conteúdos programáticos; a interdisciplinaridade e não o saber fragmentado; o processo e não somente o produto final; a observação e a documentação dos proces- sos individuais e dos grupos; respeitando e valorizando a diversidade que as crianças nos trazem. Tendo como desafio parar de pensar em educar por meio do ensino e dos currículos prontos para privilegiar a autoaprendizagem das crianças por meio da expressão, da criatividade e da aprendizagem pela convivência coletiva. Por meio leitura do Referencial da educação integral em tempo am- pliado da Rede Muncipal de Ensino de Curitiba – Educação Infantil, conheça a proposta pedagógica da Prefeitura Municipal de Curitiba para a Educação Infantil na modalidade da educação integral em tempo ampliado. Encon- tre relatos e exemplos de como os campos de expe- riência são abordados e trabalhados na prática. Disponível em: https://mid- educacao.curitiba.pr.gov.br/2021/5/ pdf/00295751.pdf. Acesso em: 17 jan. 2022. Leitura 3.2 Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento Vídeo De acordo com a BNCC (BRASIL, 2018, p. 44), as aprendizagens fun- damentais para os bebês e as crianças incluem “tanto comportamentos, habilidades e conhecimentos quanto vivências que promovem apren- dizagem e desenvolvimento nos diversos campos de experiências”. https://mid-educacao.curitiba.pr.gov.br/2021/5/pdf/00295751.pdf https://mid-educacao.curitiba.pr.gov.br/2021/5/pdf/00295751.pdf https://mid-educacao.curitiba.pr.gov.br/2021/5/pdf/00295751.pdf 56 Organização didática na Educação Infantil Nesse sentido, é importante reforçar que essas aprendizagens sem- pre ocorrem com base em interações e brincadeiras, as quais são os eixos estruturantes de toda ação pedagógica. Ao propor situações lúdi- cas e interativas, as professoras e os professores da Educação Infantil também precisam privilegiar as seis ações que configuram os direitos de aprendizagem de bebês e crianças: Conviver Brincar Participar Explorar Expressar Conhecer-se R Cr ea tiv e/ Sh utt er st oc k O resultado de todas essas ações gera aprendizagens, traduzidas na BNCC como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, os quais, com base nos campos de experiências, estão divididos em três grupos etários, reconhecendo as especificidades de cada um: Pic on sMe /Shutterstock Ke ripi k/Shutterstock d avo oda /Shutterstock bebês (zero a 1 ano e 6 meses) crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) Cada grupo, segundo a BNCC (BRASIL, 2018, p. 44), corresponde: aproximadamente, às possibilidades de aprendizagem e às ca- racterísticas do desenvolvimento das crianças [...]. Todavia, esses grupos não podem ser considerados de forma rígida, já que há diferenças de ritmo na aprendizagem e no desenvolvimento das crianças que precisam ser consideradas na prática pedagógica. Isso significa que os objetivos para cada grupo etário se entrelaçam com as aprendizagens e o desenvolvimento dos outros dois grupos, de crianças mais novas e mais velhas, isso porque os objetivos se relacio- A Educação Infantil na BNCC 57 nam ao desenvolvimento integral, o que independe da faixa etária, e sim do ritmo individual de aprendizagem e desenvolvimento de cada criança. Observe esses objetivos – quanto ao campo de experiências Corpo, gestos e movimentos – apresentados na BNCC (BRASIL, 2018, p. 47) que representam claramente essa intersecção: Crianças bem pequenas “Demonstrar progressiva independência no cuidado do seu corpo”. Crianças pequenas “Adotar hábitos [...] relacionados a higiene, alimentação, conforto e aparência”. lla m am am a/ Sh ut te rs to ck Bebês “Participar do cuidado do seu corpo e da promoção do seu bem-estar”. Os objetivos de aprendizagem para a Educação Infantil fornecem indicadores amplos do conhecimento, habilidades, atitudes, comporta- mentos e conceitos que os bebês e as crianças devem ter acesso. Cada objetivo de aprendizagem e desenvolvimento proposto na BNCC inicia com um verbo (perceber, interagir, comunicar, reconhecer, manifestar, resolver etc.) que indica a ação que se pretende, o processo cognitivoque será elaborado pela criança, seguido do objeto da ação, que é o conhecimento que se espera que a criança construa e mobilize. Veja o exemplo retirado da BNCC (BRASIL, 2018, p. 47): VERBO/AÇÃO Desenvolver progressivamente as habilidades manuais, adquirindo controle para desenhar, pintar, rasgar, folhear, entre outros. OBJETO DA AÇÃO/CONHECIMENTO Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento aliados aos inte- resses dos bebês e crianças devem orientar os professores para plane- jar experiências de aprendizagem. E como planejar ações pedagógicas intencionais, respeitando os ei- xos das brincadeiras e interações e tendo os bebês e crianças como protagonistas do processo? No site do MEC você encontra os objetivos de desenvolvimento e aprendizagem de todos os campos de experiência da BNCC. Disponível em: http:// basenacionalcomum.mec.gov.br/ abase/#infantil/os-objetivos-de- aprendizagem-e-desenvolvimento- para-a-educacao-infantil. Acesso em: 17 jan. 2022. Leitura http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#infantil/os-objetivos-de-aprendizagem-e-desenvolvimento-para-a-educacao-infantil http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#infantil/os-objetivos-de-aprendizagem-e-desenvolvimento-para-a-educacao-infantil http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#infantil/os-objetivos-de-aprendizagem-e-desenvolvimento-para-a-educacao-infantil http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#infantil/os-objetivos-de-aprendizagem-e-desenvolvimento-para-a-educacao-infantil http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#infantil/os-objetivos-de-aprendizagem-e-desenvolvimento-para-a-educacao-infantil 58 Organização didática na Educação Infantil A seguir temos alguns objetivos de desenvolvimento e aprendiza- gem (BRASIL, 2018) com exemplos de propostas que atendem a esses pressupostos. e ve ry th in g ba ge l/S hu tte rs to ck Campo de experiências: O eu, o outro e o nós Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: Comunicar necessidades, desejos e emoções, utilizando gestos, balbucios, palavras. (Bebês) Comunicar-se com os colegas e os adultos, buscando compreendê-los e fazendo-se compreender. (Crianças bem pequenas) Comunicar suas ideias e sentimentos a pessoas e grupos diversos. (Crianças pequenas) Ri do /S hu tte rs to ck Esses objetivos podem ser abordados por meio de situações diá- rias e recorrentes de conversa, que são oportunidades para as crian- ças opinarem, contarem suas experiências, levantarem hipóteses, expressarem curiosidades, argumentarem, criticarem, aprenderem com a opinião do outro, ouvirem opiniões divergentes e respeitá-las, além de ampliarem seus repertórios de narrativas e vocabulário. e ve ry th in g ba ge l/S hu tte rs to ck Campo de experiências: Corpo, gestos e movimentos Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: Participar do cuidado do seu corpo e da promoção do seu bem-estar. (Bebês) Demonstrar progressiva independência no cuidado do seu corpo. (Crianças bem pequenas) Adotar hábitos de autocuidado relacionados a higiene, alimentação, conforto e aparência. (Crianças pequenas) LB ed do e/ Sh ut te rs to ck Ao organizar um espaço como esse na sala de atividades, com es- pelho, papel higiênico, álcool gel, lenço umedecido (e outros materiais que as crianças estejam acostumadas), as crianças têm acesso e são in- A Educação Infantil na BNCC 59 centivadas a realizar gestos de higiene e autocuidado de modo autôno- mo. Para os bebês é necessário que a professora ou o professor realize a ação (limpar o nariz do bebê, limpar o rosto, higienizar as mãos) em frente ao espelho, falando o que está fazendo, indicando as ações rea- lizadas. Com as crianças bem pequenas isso também é necessário no início, ou em situações pontuais, ao passo que elas vão demonstrando progressiva independência nos cuidados. e ve ry th in g ba ge l/S hu tte rs to ck Campo de experiências: Escuta, fala, pensamento e imaginação Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: Escolher e folhear livros, procurando orientar-se por temas e ilustrações e tentando identificar palavras conhecidas. (Crianças pequenas) Ta m uT /S hu tte rs to ck As propostas com leitura, seja feita pela professora ou professor seja pela leitura da própria criança, garantem a abordagem desse objetivo. O acesso a diferentes materiais e gêneros textuais oportuni- za às crianças explorarem diferentes possibilidades de leitura (mesmo que ainda não saibam ler convencionalmente), assim como adquirirem o comportamento leitor. Ao dar à criança a possibilidade de escolher o livro de seu interesse, respeitamos as diversidades e abrimos espaço para que expressem suas opiniões e preferências. e ve ry th in g ba ge l/S hu tte rs to ck Campo de experiências: Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: Compartilhar, com outras crianças, situações de cuidado de plantas e animais nos espaços da instituição e fora dela. (Crianças bem pequenas) SU KJ AI P HO TO /S hu tte rs to ck 60 Organização didática na Educação Infantil Construir terrários, plantar e cultivar hortaliças, adotar hábitos de cuidado com flores e plantas já existentes no ambiente da Educação Infantil, observar o ciclo de desenvolvimento das plantas, discutir e re- fletir sobre cuidados necessários, ação da luz, calor, umidade etc. são ações relacionadas a um objetivo de aprendizagem e desenvolvimento que aguçam a curiosidade das crianças, motivando-as à elaboração de hipóteses e enriquecendo seus repertórios de conhecimentos. e ve ry th in g ba ge l/S hu tte rs to ck Campo de experiências: Escuta, fala, pensamento e imaginação Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: Manusear diferentes instrumentos e suportes de escrita para desenhar, traçar letras e outros sinais gráficos. (Crianças bem pequenas) Levantar hipóteses em relação à linguagem escrita, realizando registros de palavras e textos, por meio de escrita espontânea. (Crianças pequenas) M ig ue l L ag oa /S hu tte rs to ck Nesse contexto, as crianças podem experimentar, mediante as pro- postas mediadas por professores e professoras, diversas possibilida- des no universo da escrita, utilizando diferentes suportes e vivenciando múltiplas situações, nas quais ora o professor é escriba para realizar o registro das ideias das crianças, ora as crianças realizam suas tentativas espontâneas de escrita. Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento guiam a ação pe- dagógica do professor e ajudam a garantir o desenvolvimento pleno das crianças baseadas em suas experiências, vivências e características próprias do desenvolvimento. 3.3 A transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental Vídeo Em muitas circunstâncias da vida passamos por mudanças, enfren- tamos novas situações, o que normalmente gera insegurança e ansie- dade. E isso acontece desde a infância, como na transição do fim da Educação Infantil para o ingresso no Ensino Fundamental. A Educação Infantil na BNCC 61 Muda-se a organização e a utilização do espaço, as concepções de ensino e aprendizagem, a organização curricular, a ação pedagógica dos profissionais, a relação com o conhecimento, a rotina no espaço es- colar etc. Mesmo para as crianças que permanecem na mesma escola, as mudanças são muito significativas. Por isso é tão necessário pensar nessa transição, para que ocorra sem ruptura entre os diferentes momentos e evitando a fragmentação e a descontinuidade do trabalho pedagógico. Para tanto, é preciso um planejamento cuidadoso, que se inicia desde o começo do último ano da criança na Educação Infantil. Como parte do planejamento da transição, é preciso que se esta- beleça a parceria entre as instituições de Educação Infantil e Ensino Fundamental e as famílias, de modo que todos os responsáveis atuem conjuntamente para assegurar o bem-estar da criança nesse processo, conforme previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- çãoInfantil (BRASIL, 2010, p. 32): prever formas de articulação entre os docentes da Educação Infantil e do Ensino Fundamental (encontros, visitas, reuniões) e providenciar instrumentos de registro – portfólios de turmas, relatórios de avaliação do trabalho pedagógico, documentação da frequência e das realizações alcançadas pelas crianças – que permitam aos docentes do Ensino Fundamental conhecer os processos de aprendizagem vivenciados na Educação Infantil, em especial na pré-escola e as condições em que eles se deram, independentemente dessa transição ser feita no interior de uma mesma instituição ou entre instituições, para assegurar às crian- ças a continuidade de seus processos peculiares de desenvolvi- mento e a concretização de seu direito à educação. A fim de garantir a qualidade do processo de transição, é necessário conversar com as crianças, ouvi-las, saber de suas curiosidades e de suas inseguranças, dúvidas e angústias. Após a coleta dessas informa- ções, as ações devem ser planejadas, ajudando as crianças a explorar, descobrir e desmitificar o que está por vir no Ensino Fundamental. O ly aO K/ Sh ut te rs to ck Para que as crianças enfrentem de modo tranquilo os desafios da transição, é necessário que seja garantida a continuidade das apren- dizagens e o acolhimento afetivo na nova etapa de ensino. Para conhecer algumas dessas experiên- cias, acesse os materiais indicados: • Processos de transição das crianças da Educação Infantil – práticas e reflexões Disponível em: https:// mid-educacao.curitiba.pr.gov. br/2016/12/pdf/00125319.pdf. • A transição para o ensino fundamental. Como deve ser? Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=FolLm1UQzmk. Acessos em: 17 jan. 2022. Dica https://mid-educacao.curitiba.pr.gov.br/2016/12/pdf/00125319.pdf https://mid-educacao.curitiba.pr.gov.br/2016/12/pdf/00125319.pdf https://mid-educacao.curitiba.pr.gov.br/2016/12/pdf/00125319.pdf https://www.youtube.com/watch?v=FolLm1UQzmk https://www.youtube.com/watch?v=FolLm1UQzmk https://www.youtube.com/watch?v=FolLm1UQzmk 62 Organização didática na Educação Infantil Essas ações podem prever a troca de informações entre família, professores da Educação Infantil e do Ensino Funda- mental a respeito das necessidades e ca- racterísticas de cada criança. Também é fundamental que os professores do Ensi- no Fundamental estejam preparados para acolher as crianças e as aprendizagens construídas ao longo da Educação Infantil, valorizando-as. Visitas de professores do Ensino Funda- mental nas turmas de Educação Infantil é outra estratégia que vai colaborar para a criação de vínculo das crian- ças com esse profissional que irá recebê-los no novo espaço, assim como para que os professores e professoras do Ensino Fundamental conheçam a rotina e o trabalho realizado na Educação Infantil, facili- tando o planejamento com objetivo de continuidade e reduzindo as fragmentações. Levar as crianças da Educação Infantil em visita às escolas de Ensi- no Fundamental também é uma excelente estratégia, ajudando-as a se familiarizar com o ambiente escolar e reduzindo a ansiedade frente ao novo e, por vezes, o desconhecido. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Base Nacional Comum Curricular mudou as concepções curricula- res e os conceitos que fundamentam as práticas na Educação Infantil. Os princípios, eixos e fundamentos da Educação Infantil indicados na BNCC propõem práticas que valorizam os conhecimentos e experiências indi- viduais de aprendizagem das crianças, tornando-as protagonistas desse processo, partindo das ações e das práticas cotidianas que ressignificam os saberes culturalmente produzidos. Vale ressaltar que a BNCC é mais do que um rearranjo curricular, ao traduzir um novo olhar para o processo educativo de bebês e crianças. wa ve br ea km ed ia /S hu tte rs to ck wa ve br ea km ed ia /S hu tte rs to ck A Educação Infantil na BNCC 63 ATIVIDADES Atividade 1 Com base no segundo direito de aprendizagem e desenvolvimento (brincar) e no campo de experiência Corpo, gestos e movimento, cite uma atividade, intencional e planejada, que o professor pode realizar com crianças bem pequenas. Atividade 2 Explique a articulação necessária entre os objetivos de aprendiza- gem e o desenvolvimento dos diferentes grupos etários previstos na BNCC. Atividade 3 Cite estratégias para que a transição das crianças entre a Educa- ção Infantil e o Ensino Fundamental ocorra sem rupturas. REFERÊNCIAS BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_ versaofinal_site.pdf. Acesso em: 17 jan. 2022. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília, DF: MEC, SEB, DICEI, 2010. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/diretrizescurriculares_2012.pdf. Acesso em: 17 jan. 2022. BARBOSA, M. C. S.; RICHTER, S. R. S. Campos de Experiência: uma possibilidade para interrogar o currículo. In: FINCO, D. BARBOSA, M. C. S. FARIA, A. L. G. de (orgs). Campos de experiências na escola da infância: contribuições italianas para inventar um currículo de educação infantil brasileiro. Campinas: Edições Leitura Crítica, 2015. p. 185-198. FINCO, D. Campos de experiência educativa e programação pedagógica na escola da infância. In: FINCO, D.; BARBOSA, M. C. S.; FARIA, A. L. G. de (orgs). Campos de experiências na escola da infância: contribuições italianas para inventar um currículo de educação infantil brasileiro. Campinas: Edições Leitura Crítica, 2015. p.233-246. http://basenacionalcomum.mec.gov.br http://basenacionalcomum.mec.gov.br 64 Organização didática na Educação Infantil 4 Prática pedagógica A proposta deste capítulo é refletir sobre a prática pedagógica na Educação Infantil. Isso inclui discutir sobre a organização do tempo di- dático e conhecer as modalidades organizativas do tempo, assim como as possibilidades de organização do espaço, ambas – tempo e espaço – articuladas às concepções que fundamentam a Educação Infantil. Nesse contexto, a pedagogia de projetos emerge como uma possível forma de organização didática, curricular e do tempo na Educação Infantil. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • refletir sobre a organização do tempo na Educação Infantil; • conhecer modalidades organizativas do tempo articuladas às concepções que fundamentam a Educação Infantil; • refletir sobre a organização do espaço na Educação Infantil; • conhecer possibilidades de organização do espaço de maneira articulada às concepções que fundamentam a Educação Infantil; • compreender a metodologia de projetos como uma possível forma de organização didática, curricular e do tempo na Educa- ção Infantil. Objetivos de aprendizagem 4.1 Organização do tempo Vídeo O planejamento das ações pedagógicas na Educação Infantil, ao prever propostas e objetivos visando ao desenvolvimento de bebês e crianças, deve dimensionar a organização do tempo, reconhecendo-o como um aspecto de grande importância para que os objetivos propostos sejam alcançados. Nesse cenário, o tempo pedagógico assume funções importantes: é necessário que o profissional responsável preveja, em seu planejamento e em suas práticas, a forma de distribuição e utilização do tempo escolar, lembrando sempre que o tempo da criança é diferente do tempo do Prática pedagógica 65 adulto. Por exemplo, um adulto já adquiriu destreza e habilidades suficientes para fazer um pequeno lanche de maneira organizada e em um curto espaço de tempo. Quando executada por uma criança de três anos, essa mesma atividade demandará mais tempo, além da presença necessária de um adulto para orientação e auxílio, uma vez que as habilidades para se alimentar autonomamente ainda não foram adquiridas completamente por uma criança dessa idade. Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL,1998, p. 54), “a rotina representa, também, a estrutura sobre a qual será organizado o tempo didático, ou seja, o tempo de trabalho educativo realizado com as crianças. A rotina deve envolver os cuida- dos, as brincadeiras e as situações de aprendizagens orientadas”. Ao planejar a distribuição do tempo pedagógico, é imprescindível reconhecermos a importância do cotidiano e da rotina no desenvolvimento social e moral da criança. Assim como em nossa organização de vida temos o cotidiano e a rotina, os bebês e as crianças também estão inseridos em um cotidiano e precisam da definição de uma rotina. Na organização do trabalho pedagógico na Educação Infantil, a rotina é eminente. Para a criança, a rotina proporciona mais segurança e confiança, uma vez que ela sabe o que vai acontecer durante sua permanência na instituição, reduzindo, assim, a ansiedade e o estresse. Além disso, a existência da rotina auxilia no controle temporal e na aquisição das noções de tempo pela criança, assim como no controle dos impulsos e na organização do corpo, refletindo, inclusive, no controle dos esfíncteres. Para os profissionais da Educação Infantil, a rotina garante organi- zação do tempo pedagógico, otimizando as possibilidades de abordar – de maneira consciente e intencional – objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, distribuindo atividades permanentes no tempo dis- ponível, bem como prevendo propostas variadas e significativas para os bebês e as crianças. Para tanto, o desafio é a elaboração de uma rotina adequada às necessidades e às características das crianças, que seja de efetiva aplicação e que garanta boa organização didática, tendo como eixo brincadeiras e interações. Imaginemos a realidade da criança pequena, de 0 a 5 anos: qual o local no qual ela se sente mais segura e tem preferência por permanecer? Quem respondeu “a sua própria casa” está correto! Em casa, a criança No vídeo Rotinas na Edu- cação Infantil de acordo com a BNCC, do canal Meu diário de classe, é possível conhecer na prática a organização da rotina em uma turma de Educação Infantil. Nele, as crianças estão envolvidas na definição de como será a estrutura da aula, quais materiais serão utilizados, tornando-se parte inte- grante do processo e acei- tando melhor as regras que são combinadas em conjunto. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=ateuNP0_ XtI. Acesso em: 1 fev. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=ateuNP0_XtI https://www.youtube.com/watch?v=ateuNP0_XtI https://www.youtube.com/watch?v=ateuNP0_XtI 66 Organização didática na Educação Infantil tem o seu espaço, seus brinquedos, sua família, ela é proprietária e, ao mesmo tempo, pertence àquela realidade. Há identidade com o ambiente caseiro, por esse motivo, ela se sente segura e acolhida. Quando a criança vai para a instituição de Educação Infantil, pode sentir-se insegura e vulnerável, perder a referência, e esse é um dos motivos para a definição de uma rotina, não para reproduzir o ambiente da casa, mas para recuperar a segurança da criança, pois ao ter consciência de todas as ações que vão acontecer, as crianças ficam menos ansiosas e mais confiantes. A manutenção de práticas permanentes na Educação Infantil é uma forma de estabelecer uma rotina para as crianças com significativo valor para o processo ensino-aprendizagem, além de proporcionar segurança e previsibilidade às crianças. Práticas permanentes são ações que correspondem às necessidades básicas das crianças no que diz respeito aos cuidados, aprendizagem e prazer, configurando- -se como conteúdos que necessitam de uma constância. A seguir apresentamos algumas sugestões que podem ser incorporadas à rotina do trabalho pedagógico na Educação Infantil como práticas permanentes: Na prática Roda de conversas Práticas de movimento em espaços internos e externos Leitura ou contação de histórias Cantos de atividades diversificadas Cuidado com o corpo Ateliês de arte (desenho, pintura, modelagem, representação cênica, música) we e de zi gn /S hu tte rs to ck M on ke y B us in es s Im ag es / Sh ut te rs to ck dm on te ss i/S hu tte rs to ck Pe try ch en ko A nt on / Sh ut te rs to ck Ra wp ixe l.c om /S hu tte rs to ck su tla fk /S hu tte rs to ck Prática pedagógica 67 As ações que são realizadas regularmente, para constituir a rotina, passam a ser esperadas pelas crianças, marcando assim um determinado período do dia. Essa constância no cotidiano é indispensável aos bebês e às crianças de 0 a 5 anos, pois a reapresentação frequente das ações e atividades possibilita que elas construam bases de aprendizagem e sintam-se seguras quando forem apresentadas a novas e mais elaboradas propostas, o que garantirá uma progressividade no desenvolvimento. De acordo com o documento Currículo da Educação Infantil: diálogos com a BNCC (CURITIBA, 2020), a rotina também colabora no desenvolvimento da autonomia e na construção da identidade das crianças, uma vez que permite que elas antecipem o que vai acontecer, assim podem realizar algumas ações propostas autonomamente, com pouca interfe- rência do adulto. Ao planejarmos o tempo didático e a rotina pedagógica, devemos pensar em atividades diversas, por exemplo, atividades nas quais as crianças possam escolher o que fazer, em qual ambiente e espaço, usando materiais previamente organizados, além de atividades coordenadas pelo adulto para todo o grupo. Essas são ocasiões importantes para se trabalhar a atenção, a concentração e a capacidade das crianças de atender a propostas feitas coletivamente. Barbosa e Horn (2003) alertam para a importância de se prever momentos organizados de acordo com as características das crianças de cada grupo etário na Educação Infantil, momentos que envolvem a jornada diária dos bebês e das crianças no cotidiano das escolas: • horário de chegada; • alimentação; • higiene; • descanso; • jogos e brincadeiras; • interações; • práticas de movimento; • exploração de materiais gráficos e literários, entre outros. Em todos esses momentos, sempre devemos permitir experiências múltiplas, que estimulem a criatividade, a experimentação, a imaginação, para que as crianças desenvolvam distintas linguagens expressivas e interações. 68 Organização didática na Educação Infantil Ao dispormos e organizarmos essas atividades no tempo escolar, é preciso considerarmos as necessidades biológicas das crianças (por exemplo: quanto tempo é necessário destinar ao sono das crianças de 2 anos e para as de 5 anos? Em que momento será realizada a troca de fraldas e quanto tempo será destinado para isso?). Assim como, as necessidades psicológicas, compreendendo e respeitando as diferenças individuais (o tempo e o ritmo de cada um para realizar as propostas) e, também, as necessidades sociais e históricas, referentes à cultura e ao estilo de vida de cada grupo social. Isso porque ter uma rotina, na ação pedagógica, não significa que as atividades desenvolvidas serão sempre iguais, há que se garantir a diversidade das propostas como forma de abordar diversas maneiras de expressão e estimular diferentes aprendizagens. 4.2 Organização do espaço e dos ambientes Vídeo Assim como o tempo, o espaço nas instituições de Educação Infantil também requer especial atenção. É preciso pensar os ambientes com o objetivo de torná-los espaços educativos, nos quais sejam priorizados a autonomia e o protagonismo das crianças. Vamos refletir um pouco sobre isso. Há algumas décadas, ao iniciar o ano letivo, uma das principais atividades dos professores da Educação Infantil era fazer a decoração da sala: definir o tema, confeccionar cartazes, dedicar horas à pintura e ao detalhamento dos desenhos, para acolher as crianças, mas será que esse espaço era acolhedor? Era comum os professores repetirem para as crianças: cuidado para não estragar, não mexa nos desenhos, a professora fez isso com muito carinho, só observa, não coloca amãozinha. Ao refletir sobre isso, podemos nos questionar: esse espa- ço artificial proporciona interação com as crianças ou eles eram meros observadores, expectadores? Hoje, trabalhamos com outra concepção de infância: pensamos em uma criança autônoma, participativa, crítica e criativa. Nesse contexto, esse tipo de espaço também não cabe mais. É preciso nutrir um olhar mais sensível para o que expomos nas paredes e portas de nossas escolas e salas, valorizando a produção da criança com materiais verdadeiramente significativos e que promovam aprendizagem. Pi xe l-S ho t/ Sh ut te rs to ck Ev ge ny A ta m an en ko /S hu tte rs to ck Prática pedagógica 69 Além da necessária reflexão sobre o que expor nas salas e espaços variados das escolas e centros de Educação Infantil, é preciso considerarmos que a criança deve ter possibilidade de fazer deslocamentos e movimentos amplos nos espaços das instituições, logo, as salas de atividades e os espaços externos precisam estar organizados de modo que permitam isso. Todos os ambientes utilizados pelas crianças precisam ser intencionalmente preparados e organizados, garantindo conforto e segurança. Além disso, é preciso que eles se conectem com os interesses e necessidades dos pequenos, configurando-se como espaços de referência com os quais as crianças se identificam. As instituições de Educação Infantil devem prever, em seu planejamento, momentos de organização dos ambientes, com o objetivo de transformá-los em espaços de interação e aprendizagem, pensando ainda que os espaços não podem ser todos iguais, eles devem ser diversificados, refletindo diferentes crenças, valores, culturas e estimulando variadas aprendizagens. Tudo o que está exposto nos ambientes pedagógicos, seja pendurado no teto ou nas janelas, ou então cobrindo paredes e portas, deve refletir a identidade da criança, interagindo com os sujeitos que usufruem daquele espaço e dando espaço de protagonismo para os bebês e crianças. Nesse contexto, a maneira que estruturamos os espaços merece especial atenção, de modo que brinquedos, jogos, materiais de expressão plástica, livros e todos os demais materiais que estimulam e proporcionam aprendizagem devem estar disponíveis, acessíveis, e oportunizando o livre manuseio e as interações, tudo de maneira atrativa, segura, desafiadora e acolhedora para as crianças. Para uma formação voltada para a autonomia das crianças, o ambiente educativo deve proporcionar essa atitude, não deixando a criança dependente do adulto para pegar um material ou objeto que desejar. Conforme Guimarães (2009, p. 90), “se considerarmos uma criança ativa, exploradora e criadora de sentidos, é preciso pensar um espaço e um educador que deem apoio aos seus movimentos, que incentivem sua autoria e autonomia, que contribuam para a diversificação de suas possibilidades”. Então, como fazermos isso na prática? O conceito é simples, tudo o que gera risco, perigo à segurança e à integridade da criança não deve estar ao seu alcance, e, se possível, nem estar nos ambientes em que os bebês e as crianças transitam. Fora isso, todos os demais materiais No site Issuu, você encon- tra o Caderno de Orien- tação: assim se organiza o ambiente, o qual traz muitas dicas e exemplos de como organizar e estruturar os ambientes, tornando-os espaços de interação e aprendiza- gem. Fundamentado nas ideias de Regio Emillia, que entende o ambiente como o “terceiro educa- dor”, esse material gera reflexão e demonstra formas práticas de como transformar as ideias em ações pedagógicas. Disponível em: https://issuu. com/ongavante/docs/caderno_ de_orienta__o_-_assim_se_ organiza_o_ambien. Acesso em: 2 fev. 2021. Leitura https://issuu.com/ongavante/docs/caderno_de_orienta__o_-_assim_se_organiza_o_ambien https://issuu.com/ongavante/docs/caderno_de_orienta__o_-_assim_se_organiza_o_ambien https://issuu.com/ongavante/docs/caderno_de_orienta__o_-_assim_se_organiza_o_ambien https://issuu.com/ongavante/docs/caderno_de_orienta__o_-_assim_se_organiza_o_ambien 70 Organização didática na Educação Infantil que podem proporcionar desenvolvimento e apren- dizagem precisam estar disponíveis e acessíveis às crianças, em prateleiras baixas, armários com portas abertas, caixas organizadoras acessíveis, disponibilizando materiais devidamente orga- nizados. Dessa maneira, as crianças têm livre acesso a livros, materiais de arte, brinquedos, jogos, instrumentos musicais e tantos outros recursos que fazem parte de seu dia a dia na Educação Infantil. Ao propor essa forma de organização, é co- mum nos depararmos com outra questão: mas como controlar e organizar as crianças? E se cada um quiser um ma- terial diferente ao mesmo tempo e começarem a espalhar tudo pelos espaços? A resposta para essas questões está no planejamento e na definição da rotina, considerando ainda que tempos e espaços preci- sam ser pensados e planejados de maneira integrada. No início do período, ao conversarmos com as crianças sobre a rotina do dia, já ficará estabelecido o que será realizado em cada momento, ficando assim combinado que os livros não podem ser tirados das prateleiras, por exemplo, quando estiverem realizando uma atividade de ateliê de arte. Espaços acessíveis estimulam a autonomia, mas não significam falta de organização quando os tempos e os espaços são devidamente planejados. Ao falarmos sobre organização dos espaços e ambientes, não podemos deixar de tratar dos cantos de atividades diversificadas, uma modalidade de organização do espaço e do trabalho pedagógico na Educação Infantil que oferece várias possibilidades de atividades ao mesmo tempo, de modo que as crianças podem escolher em qual canto estar e o que fazer. A ideia é que os cantos sejam ofertados diariamente, durante um tempo determinado e combinado entre professores e crianças. A oferta de cantos de atividades diversificadas é um exercício para a autonomia infantil, na qual a criança aprende a escolher, a tomar decisões, a definir prioridades e considerar consequências, responsabilizando-se por suas escolhas. Isso porque o trânsito entre os cantos também depende de um combinado prévio, por exemplo: temos seis cantos na O vídeo Sugestões de intervenções no espaço da Educação Infantil retrata diversos ambientes ricos de estímulos e oportuni- dades, organizados com o objetivo de ampliar as capacidades de apren- dizagem e desenvolvi- mento das crianças. São ambientes e espaços que estimulam a exploração criativa, o brincar, respei- tando as características das crianças, e dotados de intencionalidade. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=Qy9QSp- BPwM. Acesso em: 2 fev. 2021. Vídeo In na R ez ni k/ Sh ut te rs to ck https://www.youtube.com/watch?v=Qy9QSp-BPwM https://www.youtube.com/watch?v=Qy9QSp-BPwM https://www.youtube.com/watch?v=Qy9QSp-BPwM Prática pedagógica 71 sala, hoje cada um permanecerá 10 minutos em cada canto, e poderá brincar em quatro cantos diferentes. Nessa forma de organização, na qual há simultaneidade de propostas, a trajetória de interações e aprendizagens fica mais nas mãos das crianças. O professor também exercita seu impulso de querer controlar todas as situações, pois cabe a ele, nessa situação, observar e intervir quando necessário. O papel do professor é fundamental no momento de planejar e propor os cantos, que apresentam desafios implícitos e oportunidades de desenvolvimento, sempre visando a atender às motivações e aos interesses das crianças. Além das aprendizagens oportunizadas em cada proposta, os momentos de montagem e desmontagem dos cantos também proporcionam importantes aquisições de desenvolvimento e expressão criadora. Nesses momentos, as crianças também aprendem a gerir o espaço, colaborando com ideias sobre as melhores formas de construir cada canto e cuidar dos materiais de uso coletivo. Os cantos propostos em sala devem ser em quantidade suficiente para atender ao númerode crianças que compõem a turma. Se um canto é composto por um jogo que precisa de quatro jogadores, o número máximo de crianças já está definido. Se os cantos comportam seis crianças, em uma sala com 30, serão necessárias cinco propostas. Lembrando que é necessário que o professor esteja constantemente observando o interesse das crianças para decidir quando é necessário trocar as propostas e organizar um novo canto, substituindo o anterior. A reflexão sobre a organização dos espaços e ambientes é ampla e necessária. Crianças pequenas, de três ou quatro anos, têm caracterís- ticas diferentes de crianças bem pequenas – menores de um ano –, e essas diferenças precisam ser consideradas no momento de organiza- ção dos espaços educativos. É fundamental que os espaços sejam aconchegantes e acolhedores, não apenas na dimensão física (o que também é importante), mas inclusive nas intenções que fundamentam a sua organização, considerando a importância de espaços que valorizem e possibilitem a realização dos planos das crianças e as interações que desenvolvem. O vídeo Assim se organiza o ambiente, do canal Avan- te (Educação e mobiliza- ção social), complementa o caderno de orientações indicado anteriormente, retrata experiências de organização de ambientes em uma instituição de Educação Infantil consi- derando a autonomia da criança, assim como as características infantis tão marcantes, de perfil explorador e criador de sentidos. São ambientes que traduzem cuidado e intenção educativa com as crianças. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=FZm6blu1Bic. Acesso em: 3 fev. 2022. Vídeo No site Paralaprá, conhe- ça algumas propostas, como a do material Cantos de atividades diversificadas: Educação Infantil, para organização dos cantos de atividades diversifica- das, sugestões de cantos e objetivos que podem ser abordados. Disponível em: http://paralapraca. org.br/wp-content/uploads/Cantos- de-atividades-diversificadas- Educacao-Infantil-05_05_2014. pdf. Acesso em: 3 fev. 2022. Leitura https://www.youtube.com/watch?v=FZm6blu1Bic https://www.youtube.com/watch?v=FZm6blu1Bic https://www.youtube.com/watch?v=FZm6blu1Bic http://paralapraca.org.br/wp-content/uploads/Cantos-de-atividades-diversificadas-Educacao-Infantil-05_05_2014.pdf http://paralapraca.org.br/wp-content/uploads/Cantos-de-atividades-diversificadas-Educacao-Infantil-05_05_2014.pdf http://paralapraca.org.br/wp-content/uploads/Cantos-de-atividades-diversificadas-Educacao-Infantil-05_05_2014.pdf http://paralapraca.org.br/wp-content/uploads/Cantos-de-atividades-diversificadas-Educacao-Infantil-05_05_2014.pdf http://paralapraca.org.br/wp-content/uploads/Cantos-de-atividades-diversificadas-Educacao-Infantil-05_05_2014.pdf 72 Organização didática na Educação Infantil Ambientes cheios de mobiliários, repletos de berços e trocadores, no caso de berçários, refletem uma concepção de Educação Infantil que privilegia o cuidar, assim como salas com mesas e carteiras enfileiradas, para crianças com quatro ou cinco anos, demonstram concepções que privilegiam uma preocupação excessiva com o ensino, a transmissão. Em nenhum dos casos, as brincadeiras e as interações, que são eixos da Educação Infantil, são favorecidas. Os cantos devem ser espaços que convidam à ação e à imaginação, podendo colaborar positivamente para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. 4.3 Projetos na Educação Infantil Vídeo Trabalhar com projetos é uma alternativa muito interessante para nortearmos a organização pedagógica na Educação Infantil, isso porque contempla uma visão multifacetada dos conhecimentos e das informações, além de ser um processo criativo para crianças e adultos, superando a fragmentação do conhecimento e a concepção de ensino com base na transmissão de conteúdos, práticas essas que caracterizam o modelo clássico e tradicional de escola. Na pedagogia de projetos, o objetivo é que a criança se envolva integralmente na atividade educativa, aderindo ao projeto proposto. Mais do que uma metodologia, trabalhar com projetos remete à ressignificação da escola, em suas várias facetas: currículo, tempos escolares, avaliação e objetivos da educação escolar. Hernández (1998) e Freire (2005) afirmam que a criança aprende de maneira ativa, participando, tomando atitudes diante dos fatos, pesquisando, construindo novos conceitos, investigando e selecionando os procedimentos apropriados quando se vê frente a problematizações. Trabalhar com projetos na Educação Infantil, segundo Pienta (2018, p. 71) significa optar por uma mudança de postura pedagógica, adotando a concepção de que a aprendizagem ocorre a partir da resolução de situações didáticas significativas para a criança, aproximando o conhecimento o máximo possível do seu contexto social, através do desenvolvimento do senso crítico, da pesquisa e da resolução de problemas. A pedagogia de projetos nasceu na primeira metade do século XX, quando edu- cadores europeus e norte- -americanos começaram a questionar e contestar a passividade das crianças nos métodos tradicionais de ensino e aprendizagem. Esse movimento foi cha- mado de Escola Nova, no qual o filósofo John Dewey (1859-1952) se destacou ao criticar os métodos de ensino nos quais os profes- sores eram considerados detentores exclusivos do saber, reproduzindo e per- petuando valores vigentes. Dewey defendia a concep- ção de que os métodos de ensino e aprendizagem precisam estabelecer a parceria e a cooperação entre professores e alunos (DEWEY, 1979). Saiba mais Prática pedagógica 73 A proposta é trabalharmos com projetos que valorizem a pesquisa e o cotidiano de cada criança e dos grupos sociais dos quais fazem parte. Segundo Hernández (2004, p. 50), aprender está relacionado com a elaboração de uma conversação cultural, em que se trata, sobretudo, de aprender a dar sentido, conectando com as perguntas que deram origem aos problemas que abordamos e com as perguntas que os sujeitos se fazem a si mesmos e o mundo, para poder, a posteriori, transferir esse sentido a outras situações. Uma das premissas da pedagogia de projetos é “valorizar a participação da criança e do educador no processo ensino-aprendizagem, tornando-os responsáveis pela elaboração e desenvolvimento de cada projeto de trabalho” (PIENTA, 2018, p. 71). Importante destacarmos que os projetos não seguem um esquema ou um modelo padrão, ou seja, nem sempre terão a mesma estrutura, pois dependem do tipo de problema do qual se originam, das experiências anteriores do grupo e das possibilidades concretas da escola e do contexto. Esse destaque é importante até mesmo para garantirmos que os projetos sejam inovadores e desafiadores para crianças e adultos, e não se tornem formas singulares e repetitivas delas verem e analisarem o mundo, podendo interferir negativamente no engajamento delas. Hernández (1998) reforça que os projetos devem estar voltados para uma ação concreta, partindo da necessidade das crianças de resolver problemas, questionamentos e dúvidas que surgem em seu cotidiano, levando-as para uma prática social que pode ser adaptada ao contexto escolar por meio de exposições, maquetes, músicas, danças, trabalhos artísticos, artesanatos, passeios, entre outros. O trabalho com projetos também se caracteriza pela possibilidade de propiciarmos uma frequente execução de tarefas por todos os alunos como sujeitos ativos dentro do processo de construção, execução e avaliação do projeto. Como nasce um projeto? Quem define qual projeto se desenvolverá? Para respondermos a essas questões, vamos conhecer uma experiência pedagógica realizada em uma escola. Para quem deseja se aprofundar na forma de organização metodológica proposta pela pedagogia de projetos, o livro Proje- tos pedagógicos na Edu- cação Infantil apresenta vasto referencial teórico e exemplos práticos de projetos, tendo a criança como protagonista do processo de ensino e aprendizagem. Não são exemplosa serem repro- duzidos, mas experiências pedagógicas bem-sucedi- das que podem suscitar ideias inovadoras. BARBOSA, M. C. S.; HORN, M. G. S. Porto Alegre: Artmed, 2011. Livro 74 Organização didática na Educação Infantil Em uma atividade realizada no jardim da escola, uma turma de crianças de 4 e 5 anos observou, durante um tempo, uma borboleta voar e pousar repetidas vezes. Todas as crianças ficaram muito interessadas, fazendo comentários sobre as co- res, os movimentos da borboleta e os formatos de sua anatomia. A professora da turma – atenta ao interesse das crianças – percebeu, nessa situação, o potencial para iniciar um projeto. Então, ela planejou uma atividade disparadora para retomar a temática da borbo- leta em sala de aula, nessa as crianças apresentariam uma representação de uma borboleta por meio de sombras em uma roda de conversa. No momento da atividade planejada, ao conversar com a turma e expor o material planejado, perguntando o que eles estavam vendo, uma criança disse que parecia uma água-viva. A partir de então, o interesse inicial pela borboleta foi substituído pela curiosidade pulsante e quase incontrolável sobre a água- -viva. Relatos como: “Eu vi uma água-viva na praia”; “Minha irmã encostou em uma água-viva e se queimou”; “Assisti na televisão que tinha uma praia com muitas águas-vivas”, bem como fizeram inúmeras perguntas à professora, fazendo-a perceber que o projeto da borboleta não faria mais sentido. Iniciou-se um belo projeto com base na curiosidade das crianças sobre a água-vi- va, o qual teve desdobramentos sobre a poluição das praias e mares, preservação ambiental e ecossistema marinho. O protagonismo das crianças em poder se expressar, sabendo que a professora daria voz e vez as suas indagações, somado à sensibilidade e à escuta atenta da professora, são fundamentais para um projeto de sucesso. Na prática Ne w Af ric a/ Sh ut te rs to ck Embora não tenha um esquema definido, recomendamos que após definirmos a pergunta inicial do projeto – o problema que vai mobilizar todas as ações –, as crianças e os professores construam hipóteses sobre o tema, com possíveis respostas à pergunta inicial. As ações poderão ser confirmadas ou refutadas ao longo do trabalho, proporcionando às crianças a oportunidade de prever e antecipar ideias. Feito isso, a continuidade do desenvolvimento do projeto ocorre após a coleta de informações, em que todo o grupo busca informações acerca do tema em diferentes fontes: relatos de vivências, conversas e O vídeo A importância de trabalhar com projetos na Educação Infantil mostra o passo a passo da metodologia utilizada por uma escola para o desenvolvimento dos projetos com as turmas de Educação Infantil, desde a definição do tema, a coleta de informações, o registro, a documentação e a divul- gação dos resultados. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=GTEWuunooBs. Acesso em: 3 fev. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=GTEWuunooBs https://www.youtube.com/watch?v=GTEWuunooBs https://www.youtube.com/watch?v=GTEWuunooBs Prática pedagógica 75 entrevistas, passeios, observações, exploração de materiais, pesquisas diversas. A sala de aula, nesse período, organiza-se em função de acolher e expor de maneira sistemática as informações coletadas. A coleta de informações é seguida pelo registro e pela sistematização das informações mais relevantes e necessárias para o projeto. De maneira coletiva, crianças e adultos decidem como essa seleção será realizada, assim como, são definidas as formas de registro do que foi pesquisado. Essa documentação pode ocorrer por meio de desenhos realizados pelas crianças, textos coletivos tendo o professor como escriba, registros por meio de fotos e filmagens, construção de painéis, representações diversas que se constituem como a memória do trabalho, assim como, a produção de conhecimento que será divulgado e socializado, o material pode ser exposto, recontando e narrando o que foi pesquisado por meio de diferentes linguagens. Ao utilizarmos os projetos como modalidade organizativa do trabalho pedagógico, a escola sai de sua função de transmissora de conhecimentos a serem acumulados e assume a capacidade de atuar e organizar os conhecimentos em função das questões que as crianças levantam, valorizando suas construções socioculturais e tornando-as protagonistas de seu desenvolvimento com base na interlocução que estabelecem com seus pares, com os adultos e com o ambiente, essas construções se expressam por meio de perguntas, interpretações e hipóteses construídas pelas próprias crianças. No vídeo Projeto borboletas e seus mistérios para Educa- ção Infantil, veja a descrição de um projeto desenvolvido em uma turma de Educa- ção Infantil, suas etapas e divulgação dos resultados em uma feira. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=HRL_w5RgRBg. Acesso em: 3 fev. 2022. Vídeo CONSIDERAÇÕES FINAIS Planejar a prática pedagógica na Educação Infantil pensando em ações intencionais para organizar tempo e espaço significa considerarmos que essas dimensões – quando utilizadas de maneira proveitosa – revertem- -se em aprendizagem e desenvolvimento para as crianças. Cabe a nós, profissionais da educação, observarmos – de maneira sistemática e sensível – e definirmos intencionalmente as ações que farão parte da prática pedagógica cotidiana e, nesse contexto, identificarmos questões norteadoras para projetos, e estruturarmos espaços pensando nas possibilidades de aprendizagem que eles podem proporcionar, assim como o tempo didático e as ações que neles se realizarão. https://www.youtube.com/watch?v=HRL_w5RgRBg https://www.youtube.com/watch?v=HRL_w5RgRBg https://www.youtube.com/watch?v=HRL_w5RgRBg 76 Organização didática na Educação Infantil ATIVIDADES Atividade 1 É correto afirmar que o tempo da criança é diferente do tempo do adulto? Explique. Atividade 2 Qual é a relação entre desenvolvimento da autonomia da criança e a organização do espaço na Educação Infantil? Atividade 3 Na pedagogia de projetos, qual é a função da coleta de informa- ções na estruturação e desenvolvimento de um projeto? REFERÊNCIAS BARBOSA, M. C. S.; HORN, M. G. S. Organização do espaço e do tempo na escola infantil. In: CRAIDY, C.; KAERCHER, G. E. Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2003. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf. Acesso em: 10 mar. 2022. CURITIBA. Secretaria Municipal da Educação. Currículo da Educação Infantil: diálogos com a BNCC. Curitiba: SME, 2020. Disponível em: https://mid-educacao.curitiba.pr.gov. br/2020/6/pdf/00279189.pdf. Acesso em: 10 mar. 2022. DEWEY, J. Experiência e Educação. 3. ed. São Paulo: Cia. 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Para tanto, a documentação pedagógica na Educação Infantil assume a função de orientadora da prática pedagógica e envolve desde o planejamento – que garante o caráter intencional do trabalho – até as estratégias de observação e avaliação com suas diferentes formas de registro. Estas têm a função de comunicar aos atores envolvidos (crianças, famílias e comunidade escolar) as experiências, os avanços das crianças e o valor do que elas fazem. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • compreender a importância do trabalho pedagógico intencional e pla- nejado na Educação Infantil; conhecer formas de organização e regis- tro do planejamento; • reconhecer a importância da documentação pedagógica na Educação Infantil como orientadora da prática; conhecer formas de registro e refletir sobre a importância da observação como ação orientadora da prática; • entender a função da avaliação na Educação Infantil; conhecer formas de planejamento e sistematização da avaliação. Objetivos de aprendizagem 5.1 Planejar na Educação Infantil Vídeo A Educação Infantil amplia as experiências e os saberes das crianças à medida que proporciona interação com outras crianças e adultos. É a primeira vivência de educação formal da criança fora do contexto familiar. É nessa configuração que o planejamento da Educação Infantil precisa prever práticas que articulem as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que compõem o patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico do contexto social a que pertencem. Planejar é demonstrar apreço e responsabilidade pelo trabalho de- senvolvido. Ao planejarmos, reduzimos as chances de a ação pedagó- gica não ter êxito, pois antecipamos, de maneira reflexiva, o que pode acontecer. Por esse motivo, o planejamento é primordial para a orga- nização de um trabalho pedagógico de qualidade na Educação Infantil. Reforçamos ainda que o planejamento ocorre em diferentes níveis: nível institucional, por meio do Projeto Político Pedagógico (PPP), do Plano de Ação Institucional (PAI) e da dimensão docente. No caso do último, é nele que se enquadram o planejamento anual ou semestral e os seus desdobramentos – planos de aula, roteiros semanais, pla- nejamentos de projetos ou sequências didáticas – que dependem das orientações de cada instituição, rede ou sistema de ensino. Independente da forma ou do modelo adotado, o professor de Edu- cação Infantil não pode perder de vista o caráter intencional, por isso, deve sempre planejar seu trabalho. Ainda sobre esse planejamento, é necessário sempre garantir a indivisibilidade das dimensões expressi- vo motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural das crianças. A despeito do trabalho pedagógico realizado na Educação Infantil, o qual tem a brincadeira como um de seus eixos norteadores, é co- mum ouvirmos comentários referentes às práticas realizadas, como: “as crianças só vêm aqui para brincar e rabiscar papéis”. Essa aparen- te simplicidade do trabalho requer planejamento? Por que planejar na Educação Infantil? In dy pe nd en z/ Sh ut te rs to ck 7878 Organização didática na Educação InfantilOrganização didática na Educação Infantil https://www.shutterstock.com/pt/g/Indypendenz Documentação pedagógica 79 A maioria das ações humanas tem como ponto de partida o ato de planejar, que é um instrumento de transformação e de mudança, pois nos possibilita atingir nossos desejos e metas. Em qualquer etapa da educação, o planejamento antecipa as ações que serão realizadas e define as melhores estratégias e trajetórias, assim como colabora para que o professor aja conforme o previsto para atingir seus objetivos, organizando, portanto, a ação pedagógica. No planejamento, são colocados os desejos, as intenções, os meios, entre outras ações, com o objetivo de o professor atingir suas metas. É por meio do planejamento que definimos onde queremos chegar e o que será necessário para efetivamente alcançar esse objetivo. Além disso, o planejamento na Educação Infantil é um instrumento de re- flexão e organização do contexto, como afirma Fochi (2015, p. 2): “pla- nejar é fazer um esboço mais amplo sobre a gestão do tempo, sobre a organização dos espaços, sobre a oferta de materiais e sobre os arranjos dos grupos”. Planejarmos o contexto, na Educação Infantil, significa considerarmos as atividades cotidianas que reali- zaremos com os bebês e as crianças no perío- do em que permanecem na escola, o que pode chegar a 12 horas diárias. Entre essas ativida- des estão: alimentação (três ou quatro vezes ao dia), trocas de fralda, momentos para ir ao banheiro, vestir-se e desvestir-se, dormir, deslocamentos entre os espaços da instituição, momentos de chegada e partida. Segundo Fochi (2015, p. 3), essas atividades propõem marcas temporais na rotina e podem contribuir para a construção da autonomia e do bem-estar das crianças quando envolvem a atenção do adulto para organizá-las e planejá-las inten- cionalmente. Em suas palavras: “além de um grau de intervenção mais consciente do adulto, para levar a cabo a ideia de que tais momentos também são atividades que as crianças aprendem, é preciso considerar a organização do tempo, do espaço e de ma- teriais adequados”. 1 Vo lo dy m yr T VE RD OK HL IB /S hu tte rs to ck 2 C hi ka la /S hu tte rs to ck 3 F ot oA nd al uc ia /S hu tte rs to ck 1 2 3 O planejamento prevê também as ações que organizam a rotina cotidiana, sem deixá-las acontecer de maneira mecanizada e sem sentido, garantindo espaço para o simples, o corriqueiro e para o extraordinário, entretanto, sem perder de vista os modos de ser e de viver dos bebês e das crianças. Na Educação Infantil, as crianças devem ser consideradas como o centro do planejamento, os sujeitos históricos e de direitos a quem se destinam todas as propostas pedagógicas – as quais precisam valori- zar os processos em detrimento dos produtos. São nas interações co- tidianas vivenciadas nessa etapa que a criança constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, cria, deseja, experimenta, observa, narra e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedadee, com isso, fundamente a sua cultura. Todas essas possibilidades devem ser con- templadas e previstas no planejamento. E qual é o tempo do planejamento? Ao elaborarmos este, projeta- mos nosso olhar para o futuro, embora seja necessário avaliarmos e refletirmos sobre o passado – aquilo que já foi realizado –, para assim definirmos novas metas e novos objetivos. Planejar é assumirmos que a ação pedagógica exige preparo, sendo que esse último tem formatos e estratégias que passam pelas carac- terísticas pessoais do professor. Alguns são detalhistas e gostam de descrever, nos mínimos detalhes, tudo o que será realizado; outros pre- An na N ah ab ed /S hu tte rs to ck An na N ah ab ed /S hu tte rs to ck 8080 Organização didática na Educação InfantilOrganização didática na Educação Infantil ferem organizar uma lista de tópicos, que guiará sua prática. Indepen- dentemente da forma como estruturamos o planejamento, devemos partir do olhar atento do professor para a realidade e, assim, perce- bermos as necessidades dos grupos de bebês e crianças, identificando problemas, expectativas e indo em busca de respostas e soluções. 5.2 Observação e registro Vídeo O ato de registrarmos um fato ou um acontecimento significa que confirmarmos sua relevância, querermos “guardarprovas” para comunicá-las a outras pessoas. Na Educação Infantil os acontecimen- tos relevantes do cotidiano são percebidos e observados pelo olhar atento dos profissionais e devemos registrá-los “a fim de pensar e comunicar as surpreendentes descobertas do cotidiano das crianças e os extraordinários acontecimentos que ocorrem nos lugares onde elas são educadas” (GANDINI; GOLDHABER, 2002, p. 150-151). Ostetto (2008) afirma que o exercício de registrar o cotidiano vi- venciado com um grupo de crianças é, além de uma aprendizagem, um grande desafio, pois o educador precisa necessariamente obser- var as ações, as reações, as interações, as proposições das crianças, bem como as suas próprias. É necessário darmos constante atenção às dinâmicas e às interações do grupo e observarmos como isso se reflete nas relações e decisões pedagógicas. A observação auxilia os profissionais a perceberem a evolução das aprendizagens das crianças e de suas potencialidades, a forma como as crianças reagem às situações e às atividades, assim como se as intenções das ações propostas e os seus resul- tados práticos estão atingindo os objetivos es- perados e propostos no planejamento. Segundo Weffort (1995, p.13), “a observação é a ferramenta básica neste aprendizado da construção do olhar sensível e pensante”. A documentação pedagógica nessa perspectiva – além de co- laborar para o processo avaliati- No vídeo Avaliação, registro e documentação pedagógica na Educação Infantil, do canal NEPEI UFMG, assistiremos a um debate sobre a importância das dimensões de avaliação, registro e documentação no acompanhamento do desenvolvimento e da aprendizagem das crianças e na reorganização contí- nua da prática pedagógica. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=Pbbcf8yudH0. Acesso em: 9 maio 2022. Vídeo Documentação pedagógicaDocumentação pedagógica 8181 De ni sP ro du ct io n. co m /S hu tte rs to ck https://www.youtube.com/watch?v=Pbbcf8yudH0 https://www.youtube.com/watch?v=Pbbcf8yudH0 vo, enriquecendo-o com informações – é uma forma de registro que contribui para a prática de comunicação com as famílias das crianças, para a reflexão sobre a trajetória do grupo e serve de subsídio para a formação profissional dos educadores envolvi- dos, que podem analisar sua prática pedagógica, direcionando o (re)planejamento. O registro sistemático das observações é um facilitador do acom- panhamento do professor frente à dinâmica da rotina escolar e do desenvolvimento das crianças e torna possível revisitarmos e re- lembrarmos as diversas situações vividas, auxiliando o professor no momento de elaborar pareceres avaliativos, entregar dados, redigir relatórios para a equipe gestora e para a família ou então para tra- tamentos médicos e terapêuticos por vezes solicitados. O registro garante a veracidade das informações. Faz parte desse movimento decidirmos as formas de registro, os materiais que serão utilizados, assim como as estratégias para apresentá-los à comunidade escolar e às famílias. Existem diversas formas possíveis de registrarmos as observa- ções realizadas, as mais recorrentes são: fotografias, filmagens, gra- vações em áudios e produções das crianças. Todos esses registros podem ser compilados e organizados em cadernos do professor, pautas de observação, fichas específicas sobre a rotina da crian- ça, agendas, cadernos de registros da turma, relatórios individuais, portfólios, álbuns físicos ou virtuais, exposições e mostras de traba- lhos para apreciação da comunidade. Uma dessas estratégias é o registro da observação livre (Figura 1), no qual o professor, por meio do seu olhar e da escuta atenta, percebe algum acontecimento interessante, seja durante uma brincadeira, nas interações, na alimentação ou em qualquer outra si- tuação. Seu olhar e sua escuta devem estar direcionados para as reações, as interações e os gestos das crianças, anotando o que observa sem atribuir valor ou fazer julgamento. Po zn ya ko v/ Sh ut te rs to ck 8282 Organização didática na Educação InfantilOrganização didática na Educação Infantil Documentação pedagógica 83 Figura 1 Exemplo de registro de observação livre REGISTRO DE ACOMPANHAMENTO Criança: A. C. S. Data de nascimento: 27/03/2020 • 20/10/2021: começou a se sentar sozinha, sem apoio. • 03/11/2021: está fazendo tentativas de se alimen- tar sozinha, utilizando as mãos. • 14/12/2021: depois de algumas semanas movi- mentando-se sentada, começou a engatinhar uti- lizando quatro apoios. • 03/03/2022: enquanto brincava apoiada na parede, soltou as mãos e conseguiu permanecer em pé. • 20/03/2022: chegou na escola choramingando, com coriza no nariz, alimentou-se pouco. • 10/04/2022: hoje caminhou pela primeira vez na sala sem apoio. pi gg u/ Sh ut te rs to ck Fonte: Elaborada pela autora. Outra forma de registro são as pautas de observação (Quadro 1). Nesse caso, a ação de observar é planejada, tendo na pauta (pre- viamente elaborada) um suporte para orientar a observação. Esse tipo de registro é construído pelos educadores com base nos objeti- vos propostos em seu planejamento. Trata-se de uma forma de an- tecipar o que será observado, pensando no que o educador precisa saber sobre as crianças. 84 Organização didática na Educação Infantil Quadro 1 Exemplo de pauta de observação Nome da instituição: Pauta de observação: leitura e contação de histórias Professor(a): Turma: Período de observação: Nome do aluno: Demonstra interesse por livros, escolhendo e folheando de maneira adequada? Tenta identi- ficar palavras, desenhos e expressões conhecidas nos livros escolhi- dos? Ouve aten- tamente histórias lidas e conta- das pela professora? Reconta as histórias ouvidas? Fonte: Elaborado pela autora. O caderno de registro é um instrumento muito utilizado por professores, especialmente na Educação Infantil. Esse material mui- to simples e acessível cumpre a função de registro diário e contínuo de memórias e reflexões. As anotações podem e devem ser fluidas, pessoais, com a marca do educador, o qual pode tecer reflexões, ano- tar dúvidas, dificuldades, tomar nota do que precisa ser reforçado, retomado, realizado posteriormente e do que o surpreendeu, gerou marcas etc. É uma forma de registro com maior liberdade de escrita. 19/03/2022: Amanda não quis se alimentar, ficou boa parte da tarde isolada dos colegas, chorou em alguns momentos, parecendo estar com dor. Às 15h, percebemos que estava com febre e en- tramos em contato com a família. 22/03/2022: as crianças estão gostando muito de brincar no canto de “Salão de Beleza”. É ne- cessário providenciar mais material e reorgani- zar para dar espaço para mais crianças. be rk ut /S hu tte rs to ck Documentação pedagógica 85 Segundo Lopes (2009, p. 115), os registros feitos no caderno do educador “correspondem a uma coletânea de apontamentos e relatos, planos e registros diários, que retratam atividades desenvolvidas, obje- tivos propostos, narrativas de aulas, observações sobre as crianças, en- caminhamentos construídos ao longo do ano”. O crescente e facilitado uso de equipamentos eletrônicos portáteis – como os smartphones – favoreceu o registro das experiências das crian- ças por meio de fotos, vídeos ou gravações de áudios. Planejarmos o que será registrado é uma boa estratégia, mas também é necessário cultivarmos o olhar atento para conseguirmos obter registros espontâ- neos de momentos inusitados e que demonstrem as novas aquisições das crianças, as interações e as descobertas. As fotos e os vídeos feitos na escola têm o objetivo de registrar de- terminada situação e comunicar algo; são imagens capturadas durante brincadeiras e atividades e, por isso, precisam ser espontâneas, natu- rais e verdadeiras. Esse material pode servir para o professor anali- sar futuramente ou então para ajudá-lo em sua memória pedagógica. Também pode ser utilizado em uma atividade com as crianças ou parademonstrar e comunicar às famílias sobre o trabalho realizado. As fotos também podem ser utilizadas nos portfólios e pareceres indivi- duais, enriquecendo a descrição feita pelo professor. Independentemente da forma de registro escolhida, a documenta- ção pedagógica é sempre construída com base na observação atenta, na escuta cuidadosa e afetiva, a qual valoriza a voz das crianças e por meio da qual é possível verdadeiramente enxergá-las, conhecê-las e respeitá-las em suas identidades. A documentação é uma ferramenta para recordarmos e construirmos as reflexões e análises das propostas educativas que os registros suscitam, favorecendo a análise e a con- templação do passado, a percepção e a compreensão do presente e o planejamento e a projeção do futuro das ações pedagógicas. Ra wp ixe l.c om /S hu tte rs to ck Ra wp ixe l.c om /S hu tte rs to ck https://www.shutterstock.com/pt/g/Rawpixel 86 Organização didática na Educação Infantil 5.3 Avaliação na Educação Infantil Vídeo Ao atuarmos na docência de Educação Infantil, é comum ouvirmos muitas perguntas dos pequenos e adquirirmos o hábito de pergun- tar; por isso, começamos esta seção dessa maneira, com perguntas e problematizações: o que avaliamos na Educação Infantil? Como ava- liarmos crianças tão pequenas? Qual é a função da avaliação nessa etapa de ensino? Para pensarmos a avaliação na Educação Infantil, é necessário deixarmos de lado algumas ideias que temos relacionadas ao ato de avaliar, por exemplo, classificar, emitir notas e realizar processos avaliativos formais e pontuais. O processo de avaliação na Educação Infantil fundamenta-se em um eixo principal: acompanhar o desen- volvimento das crianças, tendo os princípios determinados nos princi- pais documentos orientadores das práticas pedagógicas. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a Educação Infantil (BRASIL, 2010), as instituições voltadas para essa educação devem criar procedimentos para o acompanhamento do trabalho pedagógico e para a avaliação do desenvolvimento das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou classificação. O artigo 31 da Seção II da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em seu inciso I, determina que a avaliação na Educa- ção Infantil deve acontecer “mediante o acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental” (BRASIL, 1996). A BNCC indica que “parte do trabalho do educador é refletir, sele- cionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças” (BRASIL, 2018, p. 39). Nessa perspectiva de acompanhamento contínuo e atencioso, a avaliação na Educação Infantil deve garantir a observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e das interações no cotidia- no das instituições, ou seja, a avaliação acontece de modo contínuo e rotineiro, sem momentos específicos e pontuais. É imprescindível também a continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de transi- No texto Observar para conhecer e documentar do Instituto Avisa Lá, trazemos uma reflexão sobre o “poder” do olhar do educador no registro e na documentação das práticas educativas. O tex- to fundamenta as ações de observação, registro e documentação e expõe exemplos de práticas que ilustram tais ações. Disponível em: https://avisala.org. br/index.php/formacao-nos-munici- pios/observar-para-conhecer-e-do- cumentar/. Acesso em: 9 maio 2022. Leitura https://avisala.org.br/index.php/formacao-nos-municipios/observar-para-conhecer-e-documentar/ https://avisala.org.br/index.php/formacao-nos-municipios/observar-para-conhecer-e-documentar/ https://avisala.org.br/index.php/formacao-nos-municipios/observar-para-conhecer-e-documentar/ https://avisala.org.br/index.php/formacao-nos-municipios/observar-para-conhecer-e-documentar/ ção vividos pela criança (transição casa/instituição de Educação Infan- til, transições no interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-escola/Ensino Fundamental) (NONO, 2011). O Referencial Curricular Nacional (RCN) para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 58-59) indica a observação como a principal ferra- menta para a avaliação nessa etapa: A observação e o registro se constituem nos principais instru- mentos de que o professor dispõe para apoiar sua prática. Por meio deles o professor pode registrar, contextualmente, os processos de aprendizagem das crianças; a qualidade das inte- rações estabelecidas com outras crianças, funcionários e com o professor e acompanhar os processos de desenvolvimento obtendo informações sobre as experiências das crianças na instituição. Esta observação e seu registro fornecem aos pro- fessores uma visão integral das crianças ao mesmo tempo que revelam suas particularidades. São várias as maneiras pelas quais a observação pode ser registrada pelos professores. A es- crita é, sem dúvida, a mais comum e acessível. O registro diário de suas observações, impressões, ideias etc. pode compor um rico material de reflexão e ajuda para o planejamento educati- vo. Outras formas de registro também podem ser considera- das, como a gravação em áudio e vídeo; produções das crianças ao longo do tempo; fotografias etc. A avaliação na Educação Infantil deve ser refletida com base nas experiências vividas e que são ressaltadas pela heterogeneidade, pela diferença e pela ideia contínua de construção e reconstrução do co- nhecimento. De maneira simultânea, deve potencializar o individual e o coletivo. Sa br in a Br ac he r/ Sh ut te rs to ck Documentação pedagógicaDocumentação pedagógica 8787 88 Organização didática na Educação Infantil Também é válido frisarmos a função da avaliação como instru- mento de reflexão e tomada de decisão sobre a prática do professor, entendendo que a avaliação pode apontar e orientar caminhos para melhorar e otimizar a aprendizagem das crianças. Por isso é tão importante o professor registrar o que observa nas ati- vidades com as crianças, esse hábito possibilita aos professores saberem como intervir e propor atividades segundo as especificidades e necessida- des de cada um. Além desses registros, os professores precisam elaborar outros instrumentos, como o portfólio – coleções de materiais que regis- tram diferentes momentos e vivências das crianças na instituição (MICA- RELLO, 2010). A seguir, apresentamos um relato sobre essa prática. Na prática Nos muitos anos de experiência como docente e pedagoga da Educação Infantil, já me deparei com muitas situações, mas me lembro de uma em especial: uma família, ao buscar o portfólio da criança na escola; quando já estavam de saída, o pai retirou as folhas com rabiscos, garatujas e desenhos, entregou-me e dis- se: “essa papelada rabiscada só aumenta o entulho lá de casa”. Frente a essa situação, pergunto-me: será que a insti- tuição tinha deixado claro para aquele pai que aquela “papelada rabiscada” mostrava a trajetória de aprendi- zagem da criança? Sua evolução gráfica estava regis- trada naqueles papéis. Mas essa clareza somos nós, educadores, que enxergamos, os familiares nem sem- pre conseguem compreender, e por isso a importância de organizar a documentação avaliativa da criança de modo que deixe essa evolução clara e evidente, com objetivos bem definidos e apresentados. Esse fato pode ser consequência da indiferença de um pai, mas também pode ser fruto de uma avaliação equivocada, que não esclareceu sua finalidade. Logo, mesmo não estando atrelada à aprovação, à emissão de notas ou ao juízo de valor, a avaliação na Educação Infantil tem enorme importância, pois suscita aquilo que é essencial: o desenvolvimento da criança. Vamos pensar nisso. De re k Ha tfi el d/ Sh ut te rs to ck Fonte: Elaborado pela autora O portfólio na Educação Infantil é um importanteinstrumento de registro da avaliação, visto que possibilita o acompanhamento da aprendizagem e do desenvolvimento das crianças, assim como a melhoria do trabalho pedagógico. Documentação pedagógica 89 A palavra portfólio vem do latim e significa portar (portare) páginas (folium). Ganhou notoriedade ao ser utilizado por artistas plásticos e designers como uma pasta de produtos que divulga o trabalho de de- terminado profissional ou empresa. No contexto pedagógico o portfólio descreve o percurso de apren- dizagem da criança por meio de atividades significativas selecionadas pelos professores ou pelas próprias crianças. Também deve ser utili- zado como um recurso norteador do planejamento pedagógico do professor, o qual por meio do portfólio consegue refletir sobre os en- caminhamentos e as propostas estabelecidos. O parecer descritivo também é um importante instrumento de registro de avaliação na Educação Infantil. Constitui-se a partir da observação e análise das produções da criança, da sua trajetória de de- senvolvimento e aprendizagem. O resultado é um relatório que retrata e avalia todo o trabalho pedagógico realizado e considera as experiên- cias individuais e coletivas das crianças, sem a intenção de emitir julga- mentos ou mensurar resultados. Esse instrumento inicia abordando as propostas feitas para todo o grupo durante um período pedagógico (bimestre, trimestre, semes- tre, ano) e, em seguida, apresenta as especificidades de cada criança. Observe o texto a seguir que compõe o parecer descritivo de uma criança de 1 ano e 7 meses: Figura 2 Exemplo de relatório Relatório geral da turma No segundo semestre demos continuidade ao trabalho pedagógico utilizando jogos, brinquedos e brincadeiras pautados nos objetivos e direitos de aprendizagem e desenvolvi- mento da BNCC, abordando os campos de experiência. Trabalhamos com brincadeiras na frente do espelho e fotos para que as crianças pudes- sem familiarizar-se com a imagem do próprio corpo, observando detalhes em si e no outro. Fizemos brincadeiras de imitações, gestos e expressões, e outras com materiais diversos em situações desafiadoras. Em todas elas observamos uma crescente interação das crianças com os colegas e educadores. Aos poucos, elas se sentiram seguras para escolher os brinque- dos com os quais brincar, também ajudaram a guardá-los. be rk ut /S hu tte rs to ck No texto Portfólio como instrumento de avaliação: a fotografia da turma, de Mara Mansani, conhe- ceremos a experiência de uma professora que constrói o portfólio de alfabetização das crianças e que, sendo mais do que uma amostragem das atividades, possibilita-nos perceber as hipóteses de aprendizagem e a traje- tória do desenvolvimento gráfico, tornando-o mais um instrumento de apoio para o planejamento e o replanejamento. Disponível em: https://novaescola.org. br/conteudo/436/portfolio-como-ins- trumento-de-avaliacao-a-fotografia- -da-turma. Acesso em: 9 maio 2022. Leitura https://novaescola.org.br/conteudo/436/portfolio-como-instrumento-de-avaliacao-a-fotografia-da-turma https://novaescola.org.br/conteudo/436/portfolio-como-instrumento-de-avaliacao-a-fotografia-da-turma https://novaescola.org.br/conteudo/436/portfolio-como-instrumento-de-avaliacao-a-fotografia-da-turma https://novaescola.org.br/conteudo/436/portfolio-como-instrumento-de-avaliacao-a-fotografia-da-turma be rk ut /S hu tte rs to ck As crianças participaram de práticas, como circuito, bambolê, brincadeiras cantadas, imitação de animais, ginástica e dança; também brincaram muito com bolinhas de sabão. Todas as atividades visavam à aquisição gradativa de equilíbrio e flexibilidade corporal. Exploraram também diferentes suportes (papel, papelão, calçadas, lixas, caixa de areia) e riscantes (lápis de cor, giz de cera, tintas, pincéis, rolinhos de tinta, carvão, gravetos); participaram de situações de faz de conta com fantoches e imitação de personagens; experi- mentaram movimentos corporais dançando a partir de estímulos rítmicos; e participaram de brincadeiras com cantigas de roda. Por meio dessas vivências lúdicas, proporcionamos às crianças o desenvolvimento dos sentidos e a expressividade por meio da arte. Elas também participaram diariamente de situações de leitura planejadas pelos educado- res, ampliaram seu repertório aprendendo músicas novas e deram continuidade ao desenho como representação simbólica. Além disso, realizaram leituras de imagens em livros e revistas. Percebemos, por meio desse trabalho, a interação das crianças e o desenvolvimento signi- ficativo da oralidade. Trabalhamos com situações lúdicas utilizando jogos de montar, com objetos de diferentes tamanhos; incentivamos a realizarem ações de encaixar, empilhar e enfi- leirar, estimulando-as a buscarem resolver situações do cotidiano e outros desafios propostos. Observamos que as crianças apresentaram necessidades e interesses diversos, com ritmo e maneira própria de se expressarem. Parecer individual de aprendizagem Francisco é um menino alegre e cheio de energia; já tenta falar algumas palavras, como o nome das educadoras e de seus coleguinhas, e a cada dia amplia seu vocabulário e desenvolve sua linguagem oral. Ajuda a guardar os brinquedos de uso coletivo, alimenta-se muito bem com refeição variada e tem preferência por frutas. Gosta de dormir no bebê conforto, tem soninho tran- quilo. Adora abraçar e ser abraçado pelas educadoras, gosta muito de um colinho. Nas atividades mantém-se atento e participativo, manuseando os materiais destina- dos para cada trabalho. Nos espaços do CMEI, corre, anda e explora os brinquedos ofereci- dos. É uma criança bem sociável. Na hora das refeições, Francisco sempre quer ser o primeiro. Continuamente temos conversado e explicado que há hora para tudo e que tem que esperar a sua vez; é uma criança carinhosa e raramente age por meio de gestos agressivos; quando isso acontece é na disputa por brinquedos. Participa das brincadeiras coletivas e individuais, responde positivamente aos estímu- los motores com grande agilidade de movimentos, relaciona-se bem com seus colegas, está ampliando sua capacidade para cumprir regras e combinados. Na hora da chamada fica atento para ouvir seu nome, reconhece sua foto, fica sentado para ouvir a história lida e observar as ilustrações dos livros; adora ouvir e dançar músicas. Francisco está em pleno desenvolvimento, sua resposta é positiva em relação aos estí- mulos propostos e a cada atividade realizada nos mostra que está se desenvolvendo bem em todos os campos de aprendizagem. Fonte: Elaborada pela autora. 9090 Organização didática na educação infantilOrganização didática na educação infantil Documentação pedagógica 91 Considerando que é fundamental a observação sistemática de vários elementos que compõem a prática na Educação Infantil, reco- mendamos a utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); constituindo, assim, uma documentação específica que permita, além do acompa- nhamento do desenvolvimento das crianças, as famílias conhecerem o trabalho da instituição junto delas e os seus processos de desenvolvi- mento e aprendizagem na Educação Infantil. O RCN (BRASIL, 1998, p. 65) alerta para o fato de “que não se tra- ta de avaliar a criança, mas sim as situações de aprendizagem que foram oferecidas”, ou seja, aquilo que esperamos da aprendizagem da criança deve sempre estar vinculado às oportunidades e às expe- riências a ela oferecidas. Recomendamos também que professores e professoras compar- tilhem com as crianças as observações que sinalizam seus avanços e as possibilidades de superação das dificuldades. Ações relativamente simples devem ser valorizadas e pontuadas pelos profissionais, por exemplo, quando a criança organiza os brinquedos depois de ter brin- cado ou quando consegue alimentar-se sozinha, mostrando a elas suas aquisições e fortalecendo assima função formativa da avaliação. Isso permite que as crianças acompanhem suas próprias conquistas e supe- rem as dificuldades ao longo do processo, potencializando suas ações positivas e fortalecendo sua autoestima. Todas essas ações reforçam a importância da avaliação como ativi- dade planejada, consciente e intencional na práxis do professor. A avaliação, quando assumida de maneira sistemática e contínua, torna-se instrumento voltado para reorientar a prática educativa, me- lhorando a ação docente. Além disso, possibilita a aprendizagem e o desenvolvimento às crianças. CONSIDERAÇÕES FINAIS A docência na Educação Infantil requer dinâmica, atitude e movimen- to dos profissionais envolvidos. Nesse contexto, são quatro ações que caracterizam a prática docente nessa etapa de ensino: observar, plane- jar, registrar e avaliar. Ao observar a criança, o educador deposita nela a função de protagonista do processo; ao planejar, registrar e avaliar, ele garante intencionalidade no ato educativo, produzindo a documentação 92 Organização didática na Educação Infantil para que o trabalho seja comunicado, compartilhado e constantemente revisitado, com o objetivo de proporcionar novas oportunidades de de- senvolvimento e aprendizagem para as crianças. ATIVIDADES Atividade 1 Considerando que as brincadeiras e as interações são eixos da ação pedagógica na Educação Infantil, qual é a função do plane- jamento nesse contexto? É possível que as crianças brinquem de maneira planejada? Justifique sua resposta. Atividade 2 Explique a importância do olhar sensível do professor de Educação Infantil. Atividade 3 Qual é a relação entre avaliação e planejamento na Educação Infantil? Explique. REFERÊNCIAS BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018. 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Acesso em: 9 maio 2022. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/diretrizescurriculares_2012.pdf http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/diretrizescurriculares_2012.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf Documentação pedagógica 93 FOCHI, P. S. Planejar para tornar visível a intenção educativa. Revista Pátio Educação Infantil, n. 45, out. 2015. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/319653821_ Planejar_para_tornar_visivel_a_intencao_educativa. Acesso em: 9 maio 2022. GANDINI, L.; GOLDHABER, J. Duas reflexões sobre a documentação. In: GANDINI, L.; EDWARDS, C. Bambini: a abordagem italiana à Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2002. LOPES, A. C. T. 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As práticas pedagógicas realizadas partem do diálogo e interação, além do olhar sensível e atencioso sobre a criança, sendo esses fundamentos da pedagogia da escuta. A criança é o centro do processo de ensino e aprendizagem, para ouvi- la e, assim, direcionar um processo pedagógico significativo. 2. No atual cenário da Educação Infantil, as ações de cuidado aparecem como algo indissociável do processo educativo. Isto é, educar e cuidar, na Educação Infantil, são princípios norteadores e indissociáveis do trabalho pedagógico. A esse respeito, leia os depoimentos fictícios a seguir: PROFESSORA 1: “Sou professora de Educação Infantil há 4 anos, comecei pouco antes de concluir a faculdade e permaneci com meus pequenininhos, e não quero deixá-los tão cedo. Fico encantada ao pensar nas possibilidades de meu trabalho, na diferença que posso fazer na vida de uma criança quando estimulo seu desenvolvimento, gosto especialmente dos momentos de troca de fraldas, quando consigo estabelecer uma comunicação individual com as crianças, enquanto realizo sua higiene vou mostrando objetos, falando seus nomes, identificando cores, formas, texturas, percebo que apresento o mundo para eles, e cada sorriso, cada palavrinha nova que ouço, me mostra que estou no caminho certo.” PROFESSORA 2: “Trabalhei seis meses como professora de Educação Infantil, logo que terminei meu curso de Licenciatura, mas na primeira oportunidade fui trabalhar com alunos maiores, do Ensino Fundamental. A rotina com os pequenos é muito pesada, cansativa mesmo, e diariamente eu me perguntava: fiz faculdade para ficar trocando fraldas e limpando bumbum sujo? Admiro quem gosta, mas de verdade, não me agradava; talvez se tivesse uma outra pessoa para realizar essas funções (trocar fralda, fazer higiene, alimentar) e eu pudesse só ensinar...” 94 Organização didática na Educação Infantil Você consegue perceber a diferença na compreensão dos conceitos de cuidar e educar nos dois relatos? Reflita e comente a respeito. Desde 2009, a indissociação entre o educar e o cuidar são expressos no Parecer n. 20, do Conselho Nacional de Educação. Isso significa afirmar que o educar e o cuidar, na Educação Infantil, são princípios norteadores do trabalho pedagógico. Os relatos das professoras estão diretamente relacionados à compreensão historicamente construída na qual essas duas dimensões apareciam fragmentadas nas práticas desenvolvidas. O depoimento da professora 2 mostra o cuidar associado à atividade meramente ligada ao corpo, desprovida da compreensão educativa relacionadas a essas ações. Já o relato da professora1 reconhece a relação presente e indissociável entre o educar durante as ações de cuidar, que inclui acolhimento e segurança, além de estimular a curiosidade, a ludicidade e as diversas formas de expressão da criança. 3. Por que o professor que participa das brincadeiras e interações dos bebês e crianças consegue planejar e replanejar a sua prática de forma mais assertiva e significativa para a aprendizagem das crianças? Ao participar das brincadeiras e interações com os bebês e crianças, o professor se coloca à disposição e tem oportunidade de ouvir e valorizar as “vozes” dos bebês e crianças e perceber suas hipóteses, suas curiosidades, seus interesses e seus modos de compreender o mundo. É a partir dessa escuta sensível e da observação atenta que o professor poderá planejar a continuidade de suas ações, ampliando os conhecimentos e proporcionando desenvolvimento integral e contínuo aos bebês e crianças. Por estar próximo das crianças e bebês em todas as oportunidades possíveis, o professor apropria- se do universo infantil em sua subjetividade. Tendo assim, condições de interpretar as possibilidades e decidir os caminhos a percorrer, oportunizando novas aquisições de aprendizagens significativas e de contínuo desenvolvimento humano. 2 Eixos da ação pedagógica 1. Cuidar é compreender “como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano [...] significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades” (BRASIL, 1998, p. 24). Dê um exemplo de uma ação de cuidado realizada na educação infantil que está intimamente ligada ao educar, uma vez que contribui para o desenvolvimento da criança. Resolução das atividades 95 As ações de cuidar e educar são indissociáveis e estão presentes nos momentos de interação, alimentação, higiene e manuseio de materiais diversos que exigem orientação das crianças, ou seja, durante a maior parte da ação pedagógica orientada. Um exemplo disso é o ato de alimentar a criança (no caso de crianças bem pequenas) ou de auxiliar e orientar a alimentação (no caso de crianças pequenas). Enquanto cuida das ações de alimentação, verificando a adequação de quantidades, consistência e temperatura, a professora, ou o professor, também educa quanto às atitudes e comportamentos necessários naquele momento, assim como estimula o acesso a novos sabores, texturas e combinações e incentiva a autonomia, tanto de escolha como de manuseio de objetos. 2. Qual é a relação entre a organização dos espaços e dos materiais e a prática pedagógica que valoriza o brincar na educação infantil? Para brincar, a criança precisa encontrar um espaço que permita e estimule essa ação. É preciso planejar os contextos nos quais as crianças irão brincar, diversificando materiais, brinquedos, espaços e desafios brincantes. Salas repletas de carteiras e cadeiras não estimulam e tampouco possibilitam o brincar da criança, que necessita de espaço para se movimentar, construir seus contextos de brincadeira e interagir com os objetos e os colegas. 3. Existe uma tendência, social e da escola, em valorizar a linguagem verbal, falada e escrita. Que outras linguagens devem ser valorizadas na Educação Infantil? Por quê? É preciso garantir que o direito da criança de se manifestar por meio de múltiplas e variadas linguagens, que estão presentes no cotidiano social e na vida da criança, encontre espaço nas práticas pedagógicas. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010) afirmam que é preciso garantir às crianças experiências que favoreçam sua imersão nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão – gestual, verbal, plástica, dramática e musical –, assim como possibilitar experiências de narrativas, de apreciação e de interação com as múltiplas linguagens, oportunizando formas de se expressar de acordo com as variadas habilidades e características individuais das crianças, valorizando a pluralidade e a diversidade. 96 Organização didática na Educação Infantil 3 A Educação Infantil na BNCC 1. Com base no segundo direito de aprendizagem e desenvolvimento (brincar) e no campo de experiência Corpo, gestos e movimento, cite uma atividade, intencional e planejada, que o professor pode realizar com crianças bem pequenas. Para as crianças bem pequenas – de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses –, no contexto do campo de experiência Corpo, gestos e movimento, garantindo o direito de brincar, podem ser propostas atividades envolvendo o imaginar, o brincar de faz de conta, a expressão corporal, a experimentação de movimentos corporais em diversos espaços e com diferentes materiais em brincadeiras, considerando a linguagem corporal em um modo de expressão. 2. Explique a articulação necessária entre os objetivos de aprendizagem e o desenvolvimento dos diferentes grupos etários, previstos na BNCC. A articulação entre os objetivos de aprendizagem e o desenvolvimento dos diferentes grupos etários – o que é previsto na BNCC – se refere ao ato de compreender que, embora existam marcos de desenvolvimento, cada criança tem um ritmo próprio. Essa diferença entre os ritmos das crianças é devido aos objetivos específicos de cada grupo de faixa etária, que devem se conectar com as aprendizagens e o desenvolvimento dos outros grupos etários. Isso ocorre porque os objetivos correspondem ao desenvolvimento integral da criança – independentemente de sua faixa etária – e servem para demonstrar que o desenvolvimento é um processo fluido e contínuo, e não fragmentado em etapas duramente marcadas. 3. Cite estratégias para que a transição das crianças entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental ocorra sem rupturas. Para que a transição das crianças entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental ocorra sem rupturas e fragmentações, é fundamental ouvir as crianças, acolher suas dúvidas, inseguranças e ansiedades. Outra estratégia excelente é levá-las para conhecer as escolas de Ensino Fundamental, auxiliando-as a se familiarizar com o novo ambiente, assim como receber professores e professoras dessa etapa no espaço da Educação Infantil, para que conheçam a rotina das crianças e, dessa forma, favoreçam o seu acolhimento. Resolução das atividades 97 4 Prática pedagógica 1. É correto afirmar que o tempo da criança é diferente do tempo do adulto? Explique. A afirmação de que o tempo da criança é diferente do tempo do adulto é correta e legítima. A infância é marcada por ser um período de aprendizagens e desenvolvimento do indivíduo, e que estão sendo adquiridas habilidades essenciais. O adulto já passou por essa fase e adquiriu destreza e diferentes habilidades em diversas áreas do desenvolvimento, o que lhe garante a capacidade de desenvolver tarefas com mais agilidade e rapidez. A criança, ainda em desenvolvimento, precisa ser respeitada em seu tempo para adquirir tais habilidades e, por isso, é importante reconhecer o tempo da criança no planejamento da prática pedagógica na Educação Infantil. 2. Qual é a relação entre desenvolvimento da autonomia da criança e a organização do espaço na Educação Infantil? Existe uma relação direta entre a organização dos espaços na Educação Infantil e o desenvolvimento da autonomia das crianças. Quando o espaço é organizado de modo seguro e adequado, que atende às necessidades e interesses das crianças, possibilitando deslocamentos e movimentação autônoma dos pequenos, essa relação é valorizada. À medida que brinquedos, jogos, materiais de expressão plástica, de leitura e tantos outros que estimulam e proporcionam aprendizagem às crianças estão dispostos de maneira a facilitar o manuseio e as interações, de maneira atrativa, acolhedora, segura e desafiadora, em que as crianças podem acessá-los sem depender do auxílio do adulto, essa relação é valorizada. Espaços bem-organizados e planejados, com materiais acessíveis, estimulam a autonomia, enquanto espaços muito limitadores tornam a criança dependente do auxílioe do comando de adultos constantemente. 3. Na pedagogia de projetos, qual é a função da coleta de informações na estruturação e desenvolvimento de um projeto? A coleta de informações é o momento em que todo o grupo (crianças e adultos) se mobiliza para buscar dados e informações em diferentes fontes para fundamentar o projeto, tentando responder à pergunta inicial e disparadora. Essas informações podem ser obtidas por meio de relatos de vivências, conversas e entrevistas, passeios, observações, exploração de materiais, pesquisas diversas. Todas as informações adquiridas são apresentadas e analisadas coletivamente, para que se defina a melhor forma de utilizá-las na continuidade das ações. 98 Organização didática na Educação Infantil 5 Documentação pedagógica 1. Considerando que as brincadeiras e as interações são eixos da ação pedagógica na Educação Infantil, qual é a função do planejamento nesse contexto? É possível que as crianças brinquem de maneira planejada? Justifique sua resposta. O planejamento antecipa as ações do professor, define os objetivos da prática pedagógica e prevê o que pretendemos proporcionar para a criança. Ainda que as brincadeiras e as interações sejam ações espontâneas das crianças, elas não podem ocorrer de maneira improvisada. É preciso que, por meio da observação do grupo, o educador planeje o brincar, organizando o tempo, o espaço, os materiais e preparando o ambiente, além de definir quais são os objetivos da proposta, direcionando seu olhar para a tarefa constante de observação e replanejamento. 2. Explique a importância do olhar sensível do professor de Educação Infantil. O olhar sensível do professor de Educação Infantil consiste na habilidade de observar atentamente a criança e enxergar suas potencialidades, suas necessidades, perceber seus interesses, suas curiosidades e suas expectativas. É o olhar que não emite valores ou julgamentos, apenas objetiva ver a essência da criança e captar elementos que colaborem para a organização de práticas promotoras de desenvolvimento. 3. Qual é a relação entre avaliação e planejamento na Educação Infantil? Explique. Avaliar, na Educação Infantil, não se relaciona à emissão de notas ou à promoção a etapas seguintes. A avaliação tem a função de acompanhar, de maneira constante, o desenvolvimento das crianças de 0 a 5 anos, assim como servir de subsídio para o planejamento, que é o processo de reflexão e a tomada de decisão sobre a prática do professor, entendendo que esta pode apontar e orientar caminhos para melhorar e otimizar a aprendizagem das crianças e fundamentar o planejamento das ações futuras. Resolução das atividades 99 ORGANIZAÇÃO Ana Cristina Gipiela Pienta DIDÁTICA NA Educação Infantil A n a C r i s t i n a G i p i e l a P i e n t a O R G A N I Z A Ç Ã O O R G A N I Z A Ç Ã O D I D Á T I C A N A E d u c a ç ã o I n f a n t i l ISBN 978-65-5821-147-1 9 786558 211471 Código Logístico I000386 Página em branco Página em branco