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ORGANIZAÇÃO Ana Cristina Gipiela Pienta DIDÁTICA NA Educação Infantil A n a C r i s t i n a G i p i e l a P i e n t a O R G A N I Z A Ç Ã O O R G A N I Z A Ç Ã O D I D Á T I C A N A E d u c a ç ã o I n f a n t i l ISBN 978-65-5821-147-1 9 786558 211471 Código Logístico I000386 Organização didática na Educação Infantil Ana Cristina Gipiela Pienta IESDE BRASIL 2022 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2022 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Sensvector/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ P669o Pienta, Ana Cristina Gipiela. Organização didática na educação infantil / Ana Cristina Gipiela Pien- ta. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2022. 100 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-147-1 1. Educação infantil. 2. Didática. 3. Trabalho pedagógico. I. Título. 22-77759 CDD: 372.21 CDU: 373.21 Ana Cristina Gipiela Pienta Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Organização do Trabalho Pedagógico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em Educação Especial e Inclusiva pela Unifacear. Graduada em Pedagogia pela UFPR. Tem experiência como professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental – Anos Iniciais e como pedagoga na rede municipal de ensino de Curitiba, na qual atua há 25 anos. Trabalha ainda como docente e pesquisadora em cursos de capacitação de professores e em graduação e pós-graduação. É professora universitária e atuou como coordenadora de cursos de graduação, na modalidade presencial e a distância. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Fundamentos da Educação Infantil 9 1.1 Breve história da Educação Infantil 9 1.2 Educação Infantil: de Reggio Emilia para o mundo 18 1.3 O profissional da Educação Infantil 24 2 Eixos da ação pedagógica 31 2.1 Cuidar e educar 31 2.2 Interações e brincadeiras 35 2.3 Linguagens na Educação Infantil 40 3 A Educação Infantil na BNCC 45 3.1 Os campos de experiência 46 3.2 Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento 55 3.3 A transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental 60 4 Prática pedagógica 64 4.1 Organização do tempo 64 4.2 Organização do espaço e dos ambientes 68 4.3 Projetos na Educação Infantil 72 5 Documentação pedagógica 77 5.1 Planejar na Educação Infantil 77 5.2 Observação e registro 81 5.3 Avaliação na Educação Infantil 86 Resolução das atividades 94 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Esta obra apresenta os fundamentos que orientam a prática pedagógica na Educação Infantil, as principais concepções e a organização didática dessa que é a primeira etapa da Educação Básica. Conduz a reflexão sobre a importância do trabalho intencional e planejado voltado às crianças de 0 a 5 anos, garantindo oportunidades e experiências de aprendizagem e desenvolvimento para os pequenos. Nessa perspectiva, no primeiro capítulo, apresentamos o percurso histórico da Educação Infantil e as ideias que colaboraram para a construção das atuais concepções. Ainda nesse capítulo, abordaremos um estudo das propostas educacionais de Reggio Emilia, uma região da Itália em que a população se dedicou à educação para a infância, compreendendo suas influências na Educação Infantil pelo mundo. No segundo capítulo, faremos uma imersão nos documentos oficiais que orientam a Educação Infantil no Brasil, focando os princípios e eixos fundamentais da prática pedagógica. Abordaremos a importância e a indissociabilidade das ações de cuidar e educar, assim como as brincadeiras e as interações que são consideradas o fio condutor de todas as práticas na Educação Infantil. Na sequência, aprofundaremos os estudos sobre as formas de linguagem e expressão da criança, refletindo sobre como valorizar e estimular suas expressões. Em seguida, no terceiro capítulo, conheceremos a estrutura da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) proposta para a Educação Infantil, compreendendo seus desdobramentos na organização didática e sua abrangência na prática docente. No quarto capítulo da obra, proporemos a reflexão sobre a organização do tempo didático, assim como as possibilidades de composição dos espaços e ambientes pedagógicos na Educação Infantil; a pedagogia de projetos, nesse capítulo, é apresentada como uma possibilidade metodológica. APRESENTAÇÃOVídeo 8 Organização didática na Educação Infantil No quinto e último capítulo, conheceremos formas de organização e registro do planejamento pedagógico, refletindo sobre a função orientadora da prática pedagógica que a documentação pedagógica assume. Desejamos que a presente obra colabore para a construção de uma prática educativa que respeite e contribua imensamente para o desenvolvimento integral das crianças de 0 a 5 anos de todo o país. Bons estudos! Fundamentos da Educação Infantil 9 1 Fundamentos da Educação Infantil Conhecer os fundamentos da Educação Infantil é tarefa imprescindível para compreender os objetivos, as principais concepções e a organização didática dessa etapa da Educação Básica. Para tanto, neste capítulo, teremos a oportunidade de conhecer os principais aspectos da trajetória histórica da Educação Infantil, que fun- damentaram a construção das atuais concepções que serviram de base para sua formatação. Além dos fundamentos históricos, aprofundaremos no estudo das propostas educacionais de Reggio Emilia, uma região da Itália que se dedicou à educação para a infância, compreendendo suas influências na Educação Infantil pelo mundo. Com base no estudo desses fundamentos e das principais concepções que norteiam a Educação Infantil, refletiremos sobre o perfil e as caracte- rísticas necessárias e desejáveis para o profissional docente na educação para as crianças de 0 a 5 anos. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • analisar os principais aspectos da trajetória histórica da Educação Infantil para conhecer e compreender as atuais concepções que a fundamentam; • conhecer as propostas educacionais de Reggio Emilia para a infân- cia e suas influências na Educação Infantil no mundo; • refletir sobre o perfil e as características necessárias e desejáveis para o profissional da Educação Infantil. Objetivos de aprendizagem 1.1 Breve história da Educação Infantil Vídeo A Educação Infantil é a etapa de educação destinada às crianças de 0 a 5 anos. Entretanto, a ideia de conceber uma educação sistematiza- da e intencionalmente destinada a essa faixa etária, respeitando suas características e necessidades, é algo recente na história, principalmen- te porque o próprio conceito de infância também é relativamente re- cente. Vamos voltar na história e entender um pouco mais sobre isso. O conceito de infância é uma construção social e pode variar de acordo com a época e com a sociedade. As altas taxas de mortalidade infantilque ocorreram durante a IdadeMédia (séculos V-XV) e a Idade Moderna (fim do século XV até o século XVIII) – causadas principalmente pelas péssimas condições de higiene e saúde – alimentavam uma ideia de que as famílias não deveriam se apegar às crianças, já que elas fatalmente viriam a morrer. Ainda nesse período, as crianças que sobreviviam não tinham uma “identidade própria”, e só passavam a ser consideradas pela sociedade quando conseguiam realizar tarefas e ações semelhantes às dos adultos, pois atenção e cuidados especiais às crianças – reconhecendo sua fragi- lidade e suas necessidades – não eram próprios desse período histórico, como nos mostra Ariès (2017, p. 10): “paparicação” – era reservado à criancinha em seus primeiros anos de vida, enquanto ela ainda era uma coisinha engraçadi- nha. As pessoas se divertiam com a criança pequena como um animalzinho, um macaquinho impudico. Se ela morresse então, como muitas vezes acontecia, alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não fazer muito caso, pois outra criança logo a substituiria. A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato. Segundo Heywood (2004), nos registros históricos e em obras de arte até o fim do século XVIII, não existem crianças caracterizadas por sua expressão particular, sendo sempre retrata- das como adultos de tamanho reduzido. A obra de Diego Velázquez, A infanta Margarita, representa bem o pensamento da época. A pequena princesa retratada por Velázquez (um pintor espa- nhol do século XVII, considerado o principal artista da corte espanhola) tinha apenas 5 anos de idade, mas foi retratada com trajes, penteado e adornos idênticos ao de uma mulher adulta. Outras obras de Velázquez, como As meninas, também retratam crianças da realeza sempre na mesma condição, de pequenos adultos, sendo vestidas e expostas aos mesmos costumes dos mais velhos. po pc or ne r/ Sh ut te rs to ck Figura 1 Como as crianças eram representadas M us eo d el P ra do /W ik im ed ia C om m on s 1010 Organização didática na Educação InfantilOrganização didática na Educação Infantil Fundamentos da Educação Infantil 11 A criança era entendida como tendo modos de pensar e sentimentos que precediam a razão e os bons costumes. Não se procurava entender e aceitar as diferenças e semelhanças das crianças ou, então, valorizar a originalidade de seu pensamento. Pensava-se nelas como páginas em branco a serem preenchidas, preparadas para a vida adulta (HEY- WOOD, 2004), sendo vistas como adultos imperfeitos e incompletos. Nesse contexto, não havia nenhuma iniciativa de educação formal, sistematizada, intencional, para as crianças pequenas. Cabia à família, especificamente às mulheres, cuidarem dessas crianças nos seus pri- meiros meses de vida, e tão logo conseguissem realizar tarefas mais autonomamente, com independência motora básica, já passavam a ajudar os adultos. A crença era de que a criança somente se desen- volveria ao realizar tarefas cotidianas, assumindo atividades familiares (OLIVEIRA, 2002). Sendo assim, dois acontecimentos são essenciais para o reconheci- mento da infância: A criação das escolas como institucionalização do ensino. A difusão do pensamento cristão. 1 m eg ai co ns / S hu tte rs to ck 2 P ro S ym bo ls //S hu tte rs to ck 1 2 Com o advento da escola – que ocorreu entre os séculos XV e VXII – a criança passa a ser reconhecida como “diferente do adulto”, e a compreensão é que a escola pudesse integrá-la ao mundo dos adultos, entretanto, ainda persistia a ideia de prepará-la para esse mundo. A infância só passa a ser reconhecida, de acordo com Heywood (2004), a partir da disseminação da crença e do discurso cristão do “culto ao menino Jesus” e do “massacre dos inocentes” praticado por Herodes. Segundo o autor, a adoração cristã à imagem de “Jesus meni- no” difunde a ideia de que a criança é um mediador do céu e da terra. Esse é um dos marcos do surgimento do sentimento de infância, garantindo que as crianças fossem tratadas e percebidas na sua sin- gularidade por possuírem necessidades, características e sentimentos próprios de sua fase de desenvolvimento. Somente a partir dos séculos XIX e XX que as famílias passam a se interessarem por suas crianças, Será que atualmente as crianças são respeitadas em suas características? Você consegue identificar alguma situação em que as crianças são submetidas a estímulos e padrões, incentivando-as a assumir características “adultas”? Para refletir User Destacar 12 Organização didática na Educação Infantil pensando em seu bem-estar e se organizando em torno de suas ne- cessidades, ou seja, a criança finalmente sai do anonimato. Nesse mesmo período, com o advento da industrialização mundial, que culminou na Revolução Industrial, a vida em sociedade, assim como a organização das famílias, passou por uma completa transformação, sendo necessário pensar sobre o destino das crianças enquanto os pais e mães operários estivessem trabalhando. Nesse contexto, nos séculos XVII e XVIII, surgem as primeiras ins- tituições (creches) para crianças a partir dos dois anos de idade, mar- cando o início do atendimento educativo formal às crianças pequenas. Entretanto, eram locais considerados como instituições emergenciais, para livrar as crianças do abandono. Segundo Haddad (1991), eram ins- tituições sem finalidade específica, havia insuficiência de recursos, má qualidade de atendimento, profissionais sem formação específica, au- sência de legislação e normas básicas de atendimento. Sem contar que estavam vinculadas à ideia de que cuidavam de crianças cujas famílias eram ineficientes e negligentes. Apesar de controverso, esses primeiros passos no sentido de formali- zar a educação das crianças pequenas foram importantes para que pensa- dores e educadores da época pensassem a respeito da Educação Infantil. 1.1.1 Precursores da Educação Infantil Nesse contexto, vale destacar os chamados precursores da Educação Infantil, os quais são apresentados a seguir: Jan Amos Komenský (1592-1670) Em português conhecido como Comênio, ou Comênius, nasceu na República Tcheca. É conhecido como o primeiro filósofo que considerou os sentimentos das crianças, questionando a ideia de práticas educativas autoritárias, usando a expressão: “aprender brincando”. Sua principal obra foi a Didática Magna, na qual defende a ideia de um método universal capaz de “ensinar tudo a todos”. Em 1628, publicou A escola da infância, na qual aborda a educação de crianças menores de seis anos, tratando da necessidade da formação de professores para essa finalidade, reconhecendo a importância desse período para o desen- volvimento da criança, além de propor um ensino em nível inicial como o colo da mãe. Defendia a aprendizagem por meio das sensações, da experimenta- ção e manuseio de objetos para a internalização de aprendizagens. Ja n Vi lím ek /W ik im ed ia C om m on s User Destacar User Destacar User Destacar Fundamentos da Educação Infantil 13 Jean Jacques Rousseau (1712-1778) Rousseau nasceu em Genebra, na Suíça, e uma de suas principais contribui- ções para a Educação Infantil foi defender um ensino apropriado à faixa etária da criança, e não voltado aos interesses do adulto. Incentivava à experimen- tação de situações diversas, sempre de acordo com o ritmo de maturação e do desenvolvimento da criança, sendo precursor no interesse pelos estágios de desenvolvimento. Foi Rousseau que chamou a atenção para as caracte- rísticas próprias da criança, desvinculando-a da concepção de miniadulto incompleto. M au ric e Q ue nt in d e L a T ou r/ W iki m ed ia C om m on s Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) Suíço, nascido em Zurique, defendia uma escola que fosse semelhante ao ambiente familiar, baseada em princípios de tranquilidade, amor, afeto e segu- rança, que para Pestalozzi eram fundamentais para a aprendizagem. Também formalizou treinamentos para professores, disseminando seusideais de educação pelos sentidos, atividades diversificadas e contato com a natureza. Th eo do r P rü m m /W iki m ed ia Co m m on s Friedrich Froebel (1782-1852) Froebel é alemão, nasceu em Oberweißbach, e é considerado o “pai da pré- -escola”. Sua teoria parte da seguinte analogia: a criança é uma planta em desenvolvimento, e o professor o jardineiro que a faz desabrochar, originando o termo: jardim de infância, espaço por ele concebido e idealizado como sendo a primeira instituição criada com a finalidade de ensinar crianças pequenas, o kindergarten (jardim de Infância, em alemão). O primeiro jardim de infância, criado em 1937, atendia crianças de 1 a 6 anos, com a premissa de que elas se desenvolviam com a relação entre imagina- ção e ação. Toda prática educativa era feita com base nas características e necessidades das crianças, tendo as atividades de cooperação e os jogos livres como principais ações. Suas contribuições estão presentes na prática da Educação Infantil até os dias atuais. C. W . B ar de en /W ik im ed ia C om m on s User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar 14 Organização didática na Educação Infantil Maria Montessori (1870-1952) Montessori era italiana e foi a primeira médica mulher de seu país. Começou sua carreira trabalhando como psiquiatra de crianças com deficiência de um hospital. Criou materiais coloridos e manipuláveis para favorecer o desenvol- vimento e a aprendizagem dessas crianças. Baseado nos bons resultados obtidos, passou a adaptá-los para a utilização deles com crianças de desen- volvimento padrão. À Montessori, é atribuída a importante contribuição de que materiais adequa- dos e interessantes permitem que as crianças respondam aos estímulos com mais rapidez e entusiasmo, exercitando suas habilidades e aprendendo com autonomia, contrariando as práticas de repetição e memorização, fortalecen- do uma prática de ensino-aprendizagem desafiadora que visa a construção de conceitos. Na tio na l A rc hi ef /W ik im ed ia C om m on s Figura 2 Materiais desenvolvidos com base no Método Maria Montessori 1 J oa qu in C or ba ba n P / S hu tte rs to ck 2 R ve ct or / Sh ut te rs to ck 3 T et ia na Ly nn yk / Sh ut te rs to ck 4 R ve ct or / Sh ut te rs to ck 5 T et ia na Ly nn yk / Sh ut te rs to ck 6 V ec to rs lab / Sh ut te rs to ck 7 V ec to rs lab / Sh ut te rs to ck 8 E len ab ar ys hn iko va / Sh ut te rs to ck 1 2 6 75 8 3 4 A teoria de Maria Montessori está embasada nos princípios de individualidade, atividade e liberdade do aluno, que manuseia os materiais, experimenta, cria hipóteses e constrói conceitos, os quais são mediados pelo professor, mas sempre valorizando a autonomia da criança. User Destacar User Destacar User Destacar Fundamentos da Educação Infantil 15 Figura 3 Educação pela experiência 1 J im m y T ra n / S hu tte rs to ck 2 M on ke y B us in es se Im ag es / Sh ut te rs to ck 3 Le re m y / S hu tte rs to ck 3 1 2 As ideias de Montessori ultrapassaram as fronteiras da Itália. No Brasil, existem dezenas de escolas trabalhando com o chamado méto- do Maria Montessori. Ainda hoje, esses educadores influenciam as concepções que fun- damentam as ações pedagógicas na Educação Infantil e foram funda- mentais para a garantia dos direitos de educação e desenvolvimento das crianças pequenas. 1.1.2 Institucionalização do atendimento à infância A institucionalização do atendimento à infância ou o início da Edu- cação Infantil começou a partir do século XVIII com os processos de industrialização e urbanização, e da necessidade de garantir a guar- da e os cuidados de higiene e saúde das crianças pobres, cujas mães passaram a assumir postos de trabalho assalariado. Por esse motivo, o atendimento tinha como foco apenas a assistência. Ou seja, apenas ze- lar e cuidar da criança no período de ausência da família (ARIÈS, 2017; HEYWOOD, 2004). No Brasil, a educação de crianças pequenas teve início na metade do século XIX, motivada também pela industrialização crescente que levou mulheres das classes operárias para o trabalho nas fábricas. A Educação Infantil nasceu como um trabalho assistencial, uma espécie de favor para as mães que não tinham condições de cuidar de seus filhos, não havia qualquer finalidade de trabalho educativo visando ao desenvolvimento da criança. Somente na década de 1920, o governo brasileiro estimulou o aten- dimento às crianças menores de 6 anos, responsabilizando-se por parte dos recursos necessários. Entretanto, ainda ficava a cargo da so- ciedade organizar a realização e a prestação desse serviço. Para se aprofundar nos estudos e conhecer um pouco mais sobre o contexto de vida e de pro- dução intelectual de cada um dos precursores da Educação Infantil apresen- tados, sugiro que assis- tam aos vídeos indicados a seguir, que trazem um panorama geral da vida e obra desses importantes pensadores: • Jan Amos Comênius: Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=jOHSKZZmoWA • Jean Jacques Rousseau: Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=XfQidqFlJZY • Johann Heinrich Pestalozzi: Disponível: https://www.youtube. com/watch?v=Nsy7Htoidrc • Friedrich Froebel: Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=T7pJbL3iaQU • Maria Montessori: Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=qUX-TVVquZg Acessos em: 19 out. 2021 Vídeos User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar 16 Organização didática na Educação Infantil No Brasil, o crescimento da Educação Infantil foi marcado pelas de- sigualdades sociais. Na segunda metade do século XX, o número de ins- tituições cresceu exponencialmente, entretanto, com diferenças nítidas entre as instituições que prestam serviço às classes operárias e menos favorecidas e àquelas que passam a atender famílias de classes sociais mais favorecidas, reconhecendo o valor da educação para as crianças pequenas. No Brasil, até poucas décadas atrás, o atendimento destinado às crianças menores de cinco anos ainda estava vinculado às entidades de assistência social. Prova disso é que as instituições públicas de Educa- ção Infantil – muitas ainda denominadas creches – e seus profissionais, até a década de 1990, estavam vinculados às Secretarias de Assistência Social e não às Secretarias de Educação. Essa transição ocorreu apenas após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n. 9.394/1996 (BRASIL, 1996). O termo Educação Infantil no Brasil passou a ser utilizado na legisla- ção apenas após a institucionalização da LDB. Esse é um dos motivos pelos quais Kramer (2003) afirma que o Brasil ainda está na pré-história das políticas educacionais para a Educação Infantil. Ainda que no artigo 29 da LDB, a Educação Infantil configura como a primeira etapa da Educação Básica, visando “o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, in- telectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (BRASIL, 1996). Entretanto, o debate sobre a importância e a necessidade de ampliação dos direitos, do atendimento e da qualidade da Educação Infantil ainda estão longe de acabar. p. st ud io 66 /S hu tte rs to ck Para ler a lei completa, acesse o link a seguir. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l9394.htm. Acesso em: 1 nov. 2021. Site User Destacar User Destacar User Destacar Fundamentos da Educação Infantil 17 1.1.2.1 Políticas educacionais para a Educação Infantil Quanto aos fundamentos e bases curriculares da Educação Infantil, devemos destacar a necessária articulação entre os princípios de cui- dar e educar. O trabalho eminentemente educativo precisa ser realiza- do de maneira conjuntae complementar com as atividades essenciais de cuidado e atendimento das crianças de 0 a 5 anos. Aos princípios de educar e cuidar, as Diretrizes Curriculares Nacio- nais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010) apontam o jogo e a brinca- deira como metodologia, por excelência, do trabalho com as crianças dessa etapa da Educação Básica. Entende-se, dessa forma, que o brin- car é um elemento fundamental para os processos de desenvolvimen- to e aprendizagem da criança. Nesse cenário de novos paradigmas e concepções para a Educação Infantil, vale destacar a importância do cuidado como algo indissociável do processo educativo. Ou seja, na Educação Infantil, educar e cuidar, são princípios norteadores do trabalho pedagógico (PIENTA, 2011). His- toricamente, essas duas dimensões apareciam fragmentadas nas prá- ticas desenvolvidas. O cuidar estava associado à atividade meramente ligada ao corpo e era destinado às crianças mais pobres; o educar relacionava-se a uma experiência de promoção intelectual reservada aos filhos dos grupos socialmente privilegiados. A indissociação entre o educar e o cuidar são expressos no Parecer n. 20/2009, do Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 2009). Educar cuidando inclui acolher, garantir a segurança, mas, também, alimentar a curiosidade, a ludici- dade e a expressividade infantis. Educar de modo indissociado do cuidar é dar condições para as crianças explorarem o ambiente de diferentes maneiras: manipulan- do materiais da natureza ou objetos, observando, nomeando objetos, pessoas ou situações, fazendo perguntas, entre outras formas. Além de construírem sentidos pessoais e significados coletivos, à medida que vão se constituindo como sujeitos e se apropriando de um modo sin- gular das formas culturais de agir, sentir e pensar (BRASIL, 2009, p. 10). Ao falarmos de Educação Infantil no Brasil, é inevitável citarmos a negligência histórica de políticas públicas voltadas à infância. Isso se confirma ao analisarmos os altos índices de crianças de 0 a 5 anos que ainda não são atendidas em função do número de vagas disponíveis ser muito inferior à real demanda. Isso demonstra a falta de prioridade que é dispensado à educação das crianças pequenas. Para acessar o documen- to completo das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, acesse o link a seguir. Disponível em: http://portal. mec.gov.br/dmdocuments/ diretrizescurriculares_2012.pdf. Acesso em: 1 nov. 2021. Documento User Destacar User Destacar 1.2 Educação Infantil: de Reggio Emilia para o mundo Vídeo Você já ouviu falar de Reggio Emilia? É uma província italiana da re- gião de Emília-Romanha, no norte da Itália, que foi brutalmente destruí- da durante a Segunda Guerra Mundial. Com o desejo e a necessidade de reconstruir a cidade, grande parte da população decidiu que a me- lhor maneira de recuperar as perdas subjetivas (cultura, história, rela- ções sociais) era construindo uma escola para crianças pequenas com a força e os ideais da comunidade, que sonhava com a reconstrução de suas vidas e com um futuro melhor para seus filhos. A cidade toda se mobilizou, e as marcas e restos da destruição deixa- dos pelas tropas alemãs foram vendidos e transformados em recursos para a nova escola, aproveitando uma construção abandonada que se tornou a primeira creche de Reggio Emilia, em 1946. Nasce, dessa vonta- de e ação coletiva, uma ideia pedagógica que iria atravessar as fronteiras da Itália, com base na ideia de famílias que acreditavam na mudança e em um mundo melhor obtido por meio da educação. A parceria com as famílias e a comunidade é, até hoje, um dos pilares da metodologia de Reggio Emilia, acreditando que não é apenas na escola que acontece o ato educativo, pois as cidades são educadoras. Ou seja, os processos educativos ocorrem em diversos espaços de convivência da cidade. Um nome que se destacou nesse processo foi o do jovem pedago- go, Loris Malaguzzi (1920-1994), que ficou sabendo da ação comunitá- ria em prol de um projeto educativo e logo se interessou: 1818 Organização didática na Educação InfantilOrganização didática na Educação Infantil Re na ta S ed m ak ov a/ Sh ut te rs to ck Praça da Catedral de Reggio Emilia localizada na região da Emília-Romanha, província de Régio da Emília. User Destacar Esta ideia pareceu-me incrível! Corri até lá em minha bicicleta e descobri que tudo aquilo era verdade. Encontrei mulheres em- penhadas em recolher e lavar pedaços de tijolos. As pessoas haviam-se reunido e decidido que o dinheiro para começar a construção viria da venda de um tanque abandonado de guerra, uns poucos caminhões e alguns cavalos deixados para trás pelos alemães em retirada. (MALAGUZZI, 1999, p. 59) Loris desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do que se passou a ser conhecida como a abordagem Reggio Emilia. Um tra- balho pedagógico fundamentado no protagonismo infantil e na peda- gogia da escuta ativa, em que o professor se esforça em compreender a lógica das hipóteses e do desenvolvimento infantil, e aprende com a criança, de maneira simultânea, a quem ensina. Tendo como tarefa contínua, a busca por alternativas que promovam um processo perma- nente de aprendizagem dos pequenos. O poema As cem linguagens da criança, escrito por Loris Malaguzzi, sintetiza as ideias que fundamen- tam a abordagem: As cem linguagens da criança A criança é feita de cem. A criança tem cem mãos, Cem pensamentos, Cem modos de pensar, de jogar e de falar Fonte: MALAGUZZI, L., 1999, p. 60 Ao falar de “cem linguagens”, o autor quer reforçar a ideia de não reduzirmos ou subestimarmos a capacidade e as possibilidades da in- fância. A abordagem criada e defendida por Malaguzzi (1999), adotada nas escolas de Reggio Emilia, trabalha com as reflexões sobre a lin- guagem oral e escrita, o estudo do cérebro, o desenvolvimento cogni- tivo da criança e os processos de aprendizagem. Além de valorizar o pensamento da criança, também são valorizados e estimu- lados as suas hipóteses e os seus interesses. Além disso, as práticas de Reggio Emília também valorizam, e acima de tudo, incentivam, as múltiplas linguagens da infân- cia. Assim como, a forma por meio da qual as crianças expressam, pesquisam e produzem sentido para suas ideias e conhecimentos. O livro As cem linguagens da criança: a aborda- gem de Reggio Emilio na educação da primeira infância apresenta refle- xões de educadores que participaram da criação e desenvolvimento da abordagem educacional de Reggio Emilia. Livro Dr ag on Im ag es /S hu tte rs to ck Fundamentos da Educação InfantilFundamentos da Educação Infantil 1919 Faça a leitura completa do poema As cem linguagens da criança no link a seguir. Disponível em: https://www. escolaateliecarambola.com.br/ single-post/2016/03/03/a- crian%C3%A7a-%C3%A9-feita- de-cem. Acesso em: 1 nov. 2021. Leitura User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar 20 Organização didática na Educação Infantil Nesse contexto, o conhecimento da criança é o gatilho para todas as ações, ele é o centro do processo. Segundo Malaguzzi (1999, p. 62): Reconhecer o direito da criança de ser protagonista e a necessi- dade de manter a curiosidade espontânea de cada uma delas em um nível máximo. Tínhamos de preservar nossa decisão de aprender com as crianças, com os eventos e com as famílias, até o máximo de nossos limites profissionais, e manter uma pronti- dão para mudar pontos de vistas, de modo a jamais termos cer- tezas demasiada. Assim como o educador deve realizar a escuta atenta e disponível às suas linguagens, como afirma Hoyuelos (2006, p. 131): [...] se não aprendermos a escutar as crianças, será difícil apren- der a arte de estar e conversar com elas (de conversar em um sentido físico, formal, ético e simbólico). Será também difícil, acaso impossível, compreender como e porque pensam e falam as crianças; compreender o que fazem, pedem, planejam,teori- zam ou desejam; compreender qual mensagem preferem, quais procedimentos exploram ou elegem para influenciar seu entor- no ou obter conhecimento. Será por meio da escuta sensível do professor, que além de ouvir, também olha, acompanha todo o desenvolvimento da criança e poten- cializa suas linguagens, sempre direcionando-as a novas aquisições e aprendizagens inovadoras. As ideias adotadas na educação para a infância em Reggio Emilia transpuseram as fronteiras locais e já influenciam as concepções e or- ganização da Educação Infantil em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Muitos preceitos que fundamentam a abordagem Reggio estão presentes em documentos oficiais orientadores da Educação Infantil em nosso país, como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- ção Infantil (2010), a Base Nacional Curricular Comum para a Educação Infantil (2017), assim como diretrizes e planos curriculares locais, de Estados e municípios. 1.2.1 Princípios da Educação Infantil de Reggio Emilia Para compreender melhor os princípios da Educação Infantil de Reggio Emilia, vamos apresentá-los a seguir: Acesse a Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil no link a seguir. Disponível em: http:// basenacionalcomum.mec.gov.br/ abase/. Acesso em: 1 nov. 2021. Documento User Destacar Fundamentos da Educação Infantil 21 Imagem que se tem da criança www_logo_expert/Shutterstock Na abordagem de Reggio, a criança é vista de maneira diferente das concepções mais conservadoras, que a concebem como uma folha em branco, que será preenchida, compreendendo com base nisso que a criança chega à Educação Infantil sem nenhum tipo de conhecimento prévio ou interesses. Também não é vista como uma pequena flor, que será cultivada, ideia na qual se acredita em um conhecimento inato, que nasce com a criança, e que a escola só faz desabrochar. Em Reggio Emilia, a criança é a protagonista, um ser ativo, que expressa suas potencialidades por meio de diversas linguagens e encontra nos espaços de formação escolares oportunidades variadas para desenvolvê-las. O diálogo e a interação entre crianças e crianças, também entre crianças e adultos é essencial durante todo o processo, e é por meio dessas ações que o adulto mobiliza o que é necessário para que a aprendizagem e o desenvolvimento da criança aconteçam de modo contínuo. Papel da família www_logo_expert/Shutterstock A família, independentemente de sua configuração ou estrutura, é fundamental na abordagem Reggio Emilia para a formação integral da criança. Vale ressaltar que a escola em Reggio nasceu pelas mãos das famílias. Junto à família é onde ocorrem as primeiras aprendizagens. Por isso, a obser- vação e a troca de informações entre a família e a escola – estabelecendo uma parceria com objetivos comuns – é um dos pilares dessa abordagem. Os profes- sores de Reggio tem consciência da importância dessa parceria e, por isso, são os responsáveis por fortalecê-la, comunicando às famílias sobre as propostas e envolvendo-as em sua continuidade. Papel do professor www_logo_expert/Shutterstock Cabe ao professor estar disponível para ouvir e interagir com a criança durante todo o tempo, usando essas ações como gatilhos para criar estratégias que pro- movam a aprendizagem, visando aos aspectos cognitivo, afetivo, cultural, social e interacional. Ao considerar a criança protagonista do processo, o professor atua auxiliando-a em suas descobertas, sempre observando-as para estimular novas e contínuas aprendizagens. A proposta em Reggio Emilia é que os professores trabalhem em pares, sempre de maneira interativa e harmônica, tendo como objetivo comum o desenvolvimento da criança. Dispondo de dois professores, é possível realizar práticas em que, en- quanto um interage com as crianças, o outro observa e toma nota. A presença de dois profissionais proporciona a realização de diversas atividades simultaneamen- te, nas quais cada criança busca o que mais lhe interessa individualmente. Isso User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar 22 Organização didática na Educação Infantil porque, na abordagem de Reggio Emilia, a mesma atividade, para todas as crian- ças, ao mesmo tempo, não é uma prática aceitável, pois fere o princípio da criança como um ser singular, ativo, que tem interesses próprios. Quando todos realizam a mesma atividade ao mesmo tempo a individualidade da criança é deixada de lado. Pedagogia da escuta www_logo_expert/Shutterstock Todas as práticas pedagógicas realizadas partem do diálogo, da interação e do olhar sensível e atencioso sobre a criança e são fundamentadas na pedagogia da escuta, que se volta para a criança, sendo esta o centro do processo de ensino e aprendiza- gem, para ouvi-la e, assim, direcionar um processo pedagógico significativo. Em seu processo de aquisição de aprendizagem, a criança cria hipóteses, faz experimentos, elabora questionamentos, discute e conversa demonstrando seus conhecimentos e suas inquietações. É com a escuta ativa dessas expressões da criança que a prática pedagógica se constrói em Reggio Emilia. Comunidades educativas www_logo_expert/Shutterstock Vivemos em sociedade e aprendemos em comunidade e com cooperação. Embora a escola seja o espaço educativo por excelência, não é o único ambiente no qual se aprende e se ensina. Reggio Emilia reconhece essa natureza educativa das co- munidades, por isso propõe uma escola “sem muros”, ou seja, uma escola na qual a comunidade interage e participa ativamente. Compreende ainda que a criança aprende em diversos ambientes, pois as cidades e as comunidades são educati- vas, e esses conhecimentos são ouvidos e valorizados na escola. Criatividade www_logo_expert/Shutterstock As escolas de Reggio Emilia dão especial destaque à representação simbólica das crianças por meio de desenhos, pinturas, modelagem, música, representações cênicas, dança, histórias, entre outras expressões. Essas representações contri- buem positivamente por meio da ludicidade para a aprendizagem significativa. Figura 5 Atividades interativas 1 J R- 50 / Sh ut te rs to ck 2 io fo to / Sh ut te rs to ck 3 ku ro ks ta / Sh ut te rs to ck1 2 3 User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar É nesse contexto que os ateliês são espaços privilegiados e essenciais na abordagem Reggio Emilia. Constituindo-se como ambientes acolhe- dores e aconchegantes, com objetos variados e instrumentos que pro- porcionam à criança a exploração livre e a representação por meio da imaginação e espontaneidade. Vecchi (2017, p. 26) descreve os ateliês: De modo compatível com o espaço à disposição, o ateliê é um ambiente suficientemente grande para acomodar várias crianças e permitir diversas atividades, e está em relação, também visual, com o resto da escola. É equipado com instrumentos: mesas; recipientes para materiais; computador; impressora; máquinas fotográficas digitais; há muitos tradicionais: tintas para pintura e para desenho de diversos tipos, consistências e tonalidades; ar- gila preta, branca, vermelha, óxidos de diversas cores, tintas para a cerâmica; arames de diversas espessuras; chapas metálicas; material reciclado e muitos outros materiais. O ateliê é o espaço construído pelas crianças e para as crianças, va- lorizando seu pensamento original, espontâneo e autônomo. Documentar Marki Poplasen/ Shutterstock A documentação em Reggio é entendida como o registro da trajetória do apren- dizado, dando sentido e direção a esse processo. Documentar significa registrar falas de crianças, hipóteses, questionamentos, assim como selecionar produções, desenhos, e registrar, por meio de imagens ou vídeos, situações que demonstrem as aprendizagens. Os registros também devem proporcionar reflexão sobre o que precisa melhorar, mudar, acrescentar ou suprimir, para garantir a formação integral da criança. O vídeo O papel da docu- mentaçãopedagógica, do canal Quintal Pedagógico aborda a importância e a função da documentação pedagógica na Educação Infantil. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=cdmcs3oyTk0. Acesso em: 1 nov. 2021. Vídeo Ma rki Po pla se n/ Sh utt ers toc k Fundamentos da Educação InfantilFundamentos da Educação Infantil 2323 User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar 24 Organização didática na Educação Infantil Importância do ambiente Marki Poplasen/ Shutterstock Em Reggio Emilia, os ambientes de aprendizagem ocupam o papel do “terceiro professor”, porque devem ser tão bem planejados, organizados e pensados em função da criança, a ponto de garantir aprendizagem, permitindo e estimu- lando a exploração criativa da criança, é o ambiente como agente educativo. Figura 6 Ambiente que proporciona aprendizagem 1 M ar ko P op la se n / S hu tte rs to ck 2 sa nt yp an / Sh ut te rs to ck 3 Re be lli on W or ks / Sh ut te rs to ck1 2 3 Os princípios da Educação Infantil de Reggio Emilia podem e de- vem inspirar outras práticas, dando protagonismo à criança, visando a seu desenvolvimento integral, por meio da valorização de múlti- plas linguagens. 1.3 O profissional da Educação Infantil Vídeo De acordo com o artigo 62 da Lei de Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional (BRASIL, 1996): A formação de docentes para atuar na educação básica far-se- -á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magis- tério na educação infantil, a oferecida em nível médio, na mo- dalidade Normal. Entretanto, além da formação mínima exigida e recomendada, há um perfil profissional desejável para a atuação com as crianças de 0 a 5 anos, considerando as especificidades dessa fase de desenvol- vimento e as concepções que fundamentam essa etapa de ensino. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 41): User Destacar User Destacar User Destacar Fundamentos da Educação Infantil 25 O trabalho direto com crianças pequenas exige que o professor tenha uma competência polivalente. Ser polivalente significa que ao professor cabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas do conhecimento. Este caráter polivalente demanda, por sua vez, uma formação bastante ampla do profissional que deve tornar-se, ele também, um aprendiz, refletindo constantemen- te sobre sua prática, debatendo com seus pares, dialogando com as famílias e a comunidade e buscando informações ne- cessárias para o trabalho que desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre a prática direta com as crian- ças a observação, o registro, o planejamento e a avaliação. O texto dos Referenciais Curriculares aponta para a necessária articulação entre o cuidar e o educar na prática docente na Edu- cação Infantil. Ele também chama a atenção para a importância da formação continuada e da característica reflexiva desse profissional, em um constante movimento de: AÇÃO REFLEXÃO AÇÃO Fireofheart/Shutterstock Para, então, construir e reconstruir sua prática e seus saberes nas experiências vividas, nas situações do cotidiano, investigando e buscando fundamentar suas ações. Nessa perspectiva, é possível afirmar que nem todos os saberes necessários à docência na Educação Infantil são adquiridos na for- mação inicial e continuada. A própria ação docente é formativa, mas, para tanto, a ação docente na Educação Infantil necessita de um profissional curioso, até mesmo inquieto, sedento por pesquisas em diferentes áreas do conhecimento, a fim de construir um repertório vasto que será compartilhado com os bebês e as crianças, com base em seus interesses e curiosidades, em situações reais e significativas de aprendizagem. A construção desse repertório de conhecimentos do professor é fundamental frente às concepções curriculares assumidas pela Base Nacional Comum Curricular (2017). Não há uma relação de conteú- User Destacar User Destacar dos curriculares a serem abordados com os bebês e as crianças. O documento indica objetivos de aprendizagem, tais como: “manifes- tar interesse e respeito por diferentes culturas e modos de vida” (BRASIL, 2017, p. 46). Entretanto, a situação com a qual os objetivos de aprendizagem serão atingidos dependerá do interesse dos bebês e crianças e das situações vividas no cotidiano. Nesse sentido, percebemos a impor- tância do amplo conhecimento que o professor de Educação Infantil precisa ter, para poder interagir, trocar, discutir, ampliar e compar- tilhar ideias que podem ser na área da tecnologia, arte, literatura, ciências naturais, entre outras. O professor, na Educação Infantil, precisa estar disponível para ouvir e valorizar as “vozes” dos bebês e crianças, seja quando eles estão comunicando suas hipóteses, curiosidades, interesses, modos de compreender o mundo, ou quando manifestam sinais de desen- volvimento e aquisição de aprendizagens e até mesmo quando não falam. É com base na escuta sensível e na observação atenta que o professor poderá planejar a continuidade de suas ações, amplian- do os conhecimentos e proporcionando desenvolvimento integral e contínuo aos bebês e crianças. Ch am el eo ns Ey e/ Sh ut te rs to ck 2626 Organização didática na Educação InfantilOrganização didática na Educação Infantil User Destacar User Destacar Fundamentos da Educação Infantil 27 Como afirmam Machado e Barbosa (2018, p. 142): “O modo como o professor se coloca em escuta vai além de ouvir as crianças, suas vozes e palavras, diz respeito ao modo como ele se compromete com elas nas interações cotidianas”. Como praticar, cotidianamente, a escuta e o olhar atentos e sen- síveis? Isso é possível por meio da aproximação entre professor e crianças. Um professor que brinca, interage, participa das brinca- deiras e dos contextos criativos da criança consegue acolher suas manifestações. O respeito ao brincar é uma das mais importantes condições para atuarmos na Educação Infantil, pois pensar sobre o mo- mento da brincadeira, incluindo a participação do professor, requer nossa sensibilidade, pois, em algumas situações pode- mos observar e aguardar o convite para entrar na brincadeira e, em outras, nos incluir no brincar dos bebês e das crianças, respeitando suas decisões sobre como, com o que e com quem brincar. (CURITIBA, 2020, p. 145) Também é fundamental ao professor de Educação Infantil com- preender e incorporar, em sua prática, alguns eixos estruturantes dessa etapa da Educação Básica: Os bebês e as crianças são protagonistas do trabalho pedagógico. Cuidar e educar são ações indissociáveis. A trajetória curricular é definida tendo bebês e crianças como centro do processo. As interações e brincadeiras são a base de todas as ações. O tempo e as particularidades de cada bebê e criança precisam ser respeitados. A parceria entre professores e familiares garante uma educação compar- tilhada e complementar Os espaços internos e externos merecem atenção especial, pois são essenciais para garantir desenvolvimento e aprendizagem. Conhecer os direitos de aprendizagem e desenvolvimento dos bebês e crianças (BNCC) é fundamental para a realização do trabalho docente. No vídeo indicado, o pedagogo, especialista em Educação Infantil, doutor em Educação e coordenador do Obser- vatório da Cultura Infantil, Paulo Fochi, aprofunda as reflexões sobre a escuta da criança e como essa ação pode contribuir para a condução da prática pedagógica na Educação Infantil. A escuta da crian- ça e as contribuições para nosso aprendizado sobre a infância Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=RmE9bZdZjYI. Acesso em: 20 out. 2021. Vídeo 28 Organização didática na Educação Infantil É por meiodo trabalho intencional, bem planejado, mas também permeado pelo afeto das relações e interações, que o professor de Educação Infantil conseguirá compreender e valorizar a infância e suas múltiplas linguagens, apropriando-se do universo infantil em sua subjetividade. Tendo assim, condições de interpretar as possi- bilidades e decidir os caminhos a percorrer, oportunizando novas aquisições de aprendizagens significativas e de contínuo desenvol- vimento humano. CONSIDERAÇÕES FINAIS Você já tinha se atentado ao fato de que a educação das crianças de 0 a 5 anos nem sempre foi encarada como “ato educativo”? Neste capítulo, pudemos refletir sobre isso, e percebemos como a Educação Infantil mudou e avançou de acordo com cada período histórico-social. A Educação Infantil superou o caráter meramente assistencialista de déca- das atrás, quando a compreensão era de “cuidar das crianças pequenas enquanto as mães trabalhavam”, para se assumir como uma importante etapa de educação que contribui para o desenvolvimento integral da criança de 0 a 5 anos. A abordagem de Reggio Emilia reconhece e denota toda a riqueza e importância dessa etapa de ensino, valorizando as linguagens, habili- dades e capacidades da criança. Para tanto, o trabalho pedagógico na Educação Infantil merece e exige formação docente de qualidade, com perfil e disponibilidade para ouvir e valorizar os bebês e as crianças. Ter noção desses conceitos básicos, é essencial para prosseguirmos e aprofundarmos nossas reflexões sobre a organização didática na Edu- cação Infantil. ATIVIDADES Atividade 1 Quais são os pressupostos da “pedagogia da escuta”, que é um dos princípios da abordagem de Educação Infantil de Reggio Emilia? User Destacar Fundamentos da Educação Infantil 29 Atividade 2 No atual cenário da Educação Infantil, as ações de cuidado aparecem como algo indissociável do processo educativo. Isto é, educar e cuidar, na Educação Infantil, são princípios norteadores e indissociáveis do trabalho pedagógico. A esse respeito, leia os depoimentos fictícios a seguir: PROFESSORA 1: “Sou professora de Educação Infantil há 4 anos, comecei pouco antes de concluir a faculdade e permaneci com meus pequenininhos, e não quero deixá-los tão cedo. Fico encantada ao pensar nas possibilidades de meu trabalho, na diferença que posso fazer na vida de uma criança quando estimu- lo seu desenvolvimento, gosto especialmente dos momentos de troca de fraldas, quando consigo estabelecer uma comunicação individual com as crianças, enquanto realizo sua higiene vou mostrando objetos, falando seus nomes, identificando cores, for- mas, texturas, percebo que apresento o mundo para eles, e cada sorriso, cada palavrinha nova que ouço, me mostra que estou no caminho certo.” PROFESSORA 2: “Trabalhei seis meses como professora de Educa- ção Infantil, logo que terminei meu curso de Licenciatura, mas na primeira oportunidade fui trabalhar com alunos maiores, do Ensino Fundamental. A rotina com os pequenos é muito pesada, cansativa mesmo, e diariamente eu me perguntava: fiz faculdade para ficar trocando fraldas e limpando bumbum sujo? Admiro quem gosta, mas de verdade, não me agradava; talvez se tivesse uma outra pessoa para realizar essas funções (trocar fralda, fazer higiene, alimentar) e eu pudesse só ensinar...” Você consegue perceber a diferença na compreensão dos conceitos de cuidar e educar nos dois relatos? Reflita e comente a respeito. Atividade 3 Por que o professor que participa das brincadeiras e interações dos bebês e crianças consegue planejar e replanejar a sua prática de forma mais assertiva e significativa para a aprendizagem das crianças? REFERÊNCIAS ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2017. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: a educação é a base. Brasília, DF: MEC/Consed/ Undime, 2017. BRASIL. Lei n. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394. htm. Acesso em: 20 out. 2021. 30 Organização didática na Educação Infantil BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB n. 20/2009. Brasília, DF: MEC/CNE/CEB, 2009. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/dmdocuments/pceb020_09.pdf. Acesso em: 20 out. 2021. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília, DF: MEC/SEB, 2010. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ dmdocuments/diretrizescurriculares_2012.pdf. Acesso em: 20 out. 2021. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/ arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf. Acesso em: 20 out. 2021. CURITIBA. Secretaria Municipal da Educação de Curitiba, Departamento de Educação Infantil. Currículo da Educação Infantil: diálogos com a BNCC. Curitiba: SME, 2020. Disponível em: https://mid-educacao.curitiba.pr.gov.br/2020/6/pdf/00279189.pdf. Acesso em: 20 out. 2021. HADDAD, L. 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Na sequência aprofundaremos os estudos sobre as formas de linguagem e expressão da criança, refletindo sobre como valorizar e estimular suas expressões. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • compreender a importância das ações de cuidar e educar na Edu- cação Infantil e a importância de sua indissociabilidade; • refletir sobre a função dos brinquedos, brincadeiras e interações no desenvolvimento integral da criança, tornando-os práticas per- manentes e intencionais; • aprofundar os estudos sobre as formas de linguagem e expres- são da criança, refletindo sobre como valorizar e estimular suas expressões. Objetivos de aprendizagem 2.1 Cuidar e educar Vídeo A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, destina-se às crianças de 0 a 5 anos e tem como objetivo a promoção do desen- volvimento integral da criança, ampliando o seu universo de experiên- cias, conhecimentos e habilidades.Entretanto, toda ação pedagógica na Educação Infantil precisa considerar as especificidades dos bebês e das crianças, suas necessidades e características próprias de cada fase do desenvolvimento. User Destacar 32 Organização didática na Educação Infantil Em seus estudos, Jean Piaget (1994) afirma que existem três fases do desenvolvimento moral das crianças: Pic on sMe /Shutterstock Ke ripi k/Shutterstock d avo oda /Shutterstock Anomia Heteronomia Autonomia Perto do nascimento todos nós vivemos o período da anomia, pois nascemos sem a consciência do que é certo ou errado. Da anomia, a criança passa para a fase da heteronomia, na qual as regras e os conceitos de certo e errado são apresentados e mediados por outras pessoas – no caso da Educação Infantil, pelas professoras e pelos pro- fessores. Esse processo é importante para que o indivíduo atinja a fase de autonomia, na qual tem condições de avaliar as circunstâncias, fazer escolhas e tomar decisões. Por que estamos tratando de desenvolvimento moral ao falar de “cuidar e educar”? Porque é fundamental para o profissional da Educa- ção Infantil ter consciência de que cuidar e educar fazem parte desse processo de desenvolvimento. Não há como dissociar esses conceitos, uma vez que a criança ainda está construindo suas primeiras experiên- cias com o mundo fora do contexto familiar e não tem conhecimento suficiente para identificar riscos, perigos ou inadequações. Cuidar e educar fazem parte, portanto, do desenvolvimento da mo- ral autônoma. Isso porque, na fase da heteronomia, a criança avalia aquilo que é bom ou ruim por meio do convívio com pessoas mais experientes e da obediência às regras, construindo assim seu repertó- rio para, com o passar do tempo, realizar escolhas seguras e autôno- mas (PIAGET, 1994). f zkes/Shutterstock User Destacar Eixos da ação pedagógica 33 A Educação Infantil proporciona a diversificação e a consolidação de novas aprendizagens para bebês e crianças de modo complementar à educação familiar, especialmente no caso de crianças bem pequenas e bebês (de três meses a dois anos de idade), uma vez que as apren- dizagens tanto no âmbito familiar como no âmbito escolar são muito parecidas, envolvendo a socialização, a autonomia e a comunicação. É especialmente nesse contexto educativo que as ações de educar e cuidar são indissociáveis. É preciso superar práticas pedagógicas existentes que hierarquizam e diferenciam os profissionais e as instituições que cuidam daqueles que educam. Cuidar e educar acontecem simultaneamente, de manei- ra articulada durante brincadeiras, interações e todas as situações pe- dagógicas intencionais. Vamos entender isso pensando no contexto real: Quando a professora ou professor está no parquinho com uma turma de crianças de 2 anos, as crianças, ao tentar brincar no escorregador, precisam do auxílio do adulto para subir as escadas. Ao acompanhar a ação da criança, o profissional a orienta sobre como movimentar as mãos e os pés de maneira funcional: “coloca a mãozinha aqui, agora o pé...”. Enquanto ensina o movimento, o adulto está atento para garantir a segurança da criança, apoiando-a para não deixá-la cair. Olga Popko/Shutterstock Ao realizar essa ação, a professora está cuidando ou educando? Há como separar? Assim como no exemplo citado, inúmeras outras situações confirmam a indissociabilidade entre educar e cuidar: os mo- mentos de alimentação, higiene, manuseio de materiais diversos que exigem orientação das crianças. Isso porque: educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brin- cadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades in- fantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade so- cial e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o de- senvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis. (BRASIL, 1998, p. 23) As ações de cuidado integram a educação das crianças. Cuidar é compreender “como ajudar o outro a se desenvolver como ser huma- no [...] significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades” (BRASIL, 1998, p. 24). Considerando que a Educação Infantil se propõe ao de- senvolvimento integral das crianças, é preciso levar em conta todas as dimensões envolvidas no desenvolvimento, inclusive os cuidados com os aspectos biológicos do corpo. Identificar as necessidades das crianças é uma característica ne- cessária ao perfil do profissional da Educação Infantil, assim como saber definir os recursos e as ações necessárias para suprir essa ne- cessidade: é preciso acalentar e embalar o bebê? Acalmar a criança com uma conversa? O desconforto é físico? Ela necessita de troca de fraldas? Está com sede? O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil afirma que: o cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado também precisam seguir os princípios de promoção à saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com o de- senvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseados em conhecimen- tos específicos sobre o desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em consideração as diferentes realidades socioculturais. (BRASIL, 1998, p. 25) O vínculo entre as crianças e os adultos, profissionais da Educa- ção Infantil, é imprescindível para garantir o cuidado. Nenhuma criança vai se sentir segurança em expressar suas necessida- des e vulnerabilidades a uma pessoa com quem não tem vínculo, assim como o adulto não terá a percepção sensível p a r a identificar a criança se não estiver vinculado a ela. Isso acontece porque cuidar da criança envolve “interessar-se sobre o que a crian- ça sente, pensa, o que ela sabe sobre si e sobre o mundo, visando à ampliação deste conhecimento e de suas habilida- Jo se p Su ria /S hu tte rs to ck No vídeo Cuidar, educar e brincar, do canal Instituto Advento, você vai poder conhecer algumas práti- cas que mostram o ato de educar intimamente ligado ao cuidar na Educa- ção Infantil, em ações co- tidianas dos profissionais, como no banho, na troca de fraldas, na alimentação e na higiene dos bebês e das crianças. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=s71QaTgNdiw. Acesso em: 9 dez. 2021. Vídeo 3434 Organização didática na Educação InfantilOrganização didática na Educação Infantil Fam Veld /Shut terstock Eixos da ação pedagógica 35 des, que aos poucos a tornarão mais independente e mais autônoma” (BRASIL, 1998, p. 25). Montenegro (2001) alerta para a necessidade de refletir sobre as ações de cuidado nos programas de formação inicial e continuada de professores e professoras da Educação Infantil como forma de supe- rar a divisão e a hierarquização das funções entre professores e ou- tros profissionais sem formação docente. Práticas assim dissociam o educar e o cuidar e traduzem uma compreensão de que “para cuidar não é preciso formação específica”. Ao planejar, cabe ao professor pensar de maneira integrada as ações de cuidado atreladas às práticas educativas. Isso porque o ato de cuidar é uma ação pedagógica. Quer um exemplo de como associar educar e cuidar durante o banho de um bebê? No vídeo a seguir, o professor Nélio Spréa apresenta uma cantiga de fácil assimilação que instiga a curiosidade dos bebês e possibilita uma série de explorações sensoriais, motoras e identitárias. No minuto 6 (aproximadamen- te) ele mostra, pontualmen- te, como integrar o educare o cuidar. Espero que você goste! Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=gjG62IMQ0OQ. Acesso em: 9 dez. 2021. Na prática 2.2 Interações e brincadeiras Vídeo O que as crianças pequenas mais gostam de fazer? Qual é a ativi- dade principal que é comum a todas as crianças? Parabéns a quem respondeu brincar. Isso mesmo! Criança gosta de brincar. Toda criança, de qualquer cultura e realidade socioeconômica, em qualquer lugar e condição, ocupa seu tempo, essencialmente, brincan- do. Inserir a brincadeira no cotidiano da Educação Infantil depende da concepção de infância que a instituição assume, entretanto há que se considerar que a natureza da criança é lúdica, e desconsiderar isso no projeto político-pedagógico de uma instituição de Educação Infantil é negar a identidade de seu público. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: as crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos. No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam das mais diferentes lin- guagens e exercem a capacidade que possuem de terem ideias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva as crianças constroem o conhecimento a partir das 36 Organização didática na Educação Infantil interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópia da rea- lidade, mas sim, fruto de um intenso trabalho de criação, signifi- cação e ressignificação. (BRASIL, 1998, p. 21) A citação reforça a importância da brincadeira no processo de de- senvolvimento da criança, uma vez que seus conhecimentos e signifi- cações são construídos por meio de experiências lúdicas e fantasiosas. Quando a criança brinca, ela cria significados, cria estratégias para conhecer o mundo e compreender as relações que a circundam. Isso ocorre, principalmente, quando, ao brincar, ela adota outros papéis, e nessa situação age diante da realidade de maneira não literal, trans- ferindo e substituindo as suas ações corriqueiras pelas características do sujeito do papel assumido. A brincadeira favorece e otimiza a autoestima das crianças, assim como as crianças podem acionar seus pensamentos para a resolução de problemas que lhe são importantes e significativos. Assim, cria-se um espaço em que as crianças podem experimentar o mundo e inter- nalizar uma compreensão particular sobre as pessoas, os sentimentos e os diversos conhecimentos (BRASIL, 1998). Segundo Brougère (2004), é imprescindível que o brincar seja conti- nuamente possibilitado à criança, pois é com as brincadeiras que ela se apropria dos códigos sociais, assim como reelabora os comportamen- tos individuais por meio da comunicação e da interação com as outras crianças. Com a brincadeira, a criança recebe informações e as reati- va, apropriando-se delas por meio de situações lúdicas, por exemplo, quando imita papéis sociais e familiares. Já ao educador, cabe o papel de mediar o processo pedagógico e o brincar. Um importante substrato para o desenvolvimento das práticas pe- dagógicas na Educação Infantil são as brincadeiras que se caracterizam por atividades de extrema relevância para a criança pequena. Ao brin- car, a criança pode imitar aquilo que já conhece para construir e apro- priar-se de novas aprendizagens, “conforme ela reconstrói o cenário necessário para que sua fantasia se aproxime ou se distancie da rea- lidade vivida, assumindo personagens e transformando objetos pelo uso que deles faz” (BRASIL, 2010, p. 7). Todas as aquisições das crianças durante a Educação Infantil, perío- do no qual elas aprendem, movimentam-se e relacionam-se, ocorrem por meio das brincadeiras e interações. Em 2012, o MEC lançou o documento Brinquedos e brincadeiras de creche: manual de orientação pedagógica. Além de subsidiar teoricamente os profissionais sobre as brincadeiras e interações como eixos das práticas pedagógicas, o manual apresenta inúmeras sugestões de organização e uso de brinquedos, materiais e brincadeiras, formas de organizar os espaços e tipos de atividades. É um excelente material para estudo e consulta constante. Disponível em: http://portal. mec.gov.br/dmdocuments/ publicacao_brinquedo_e_ brincadeiras_completa.pdf. Acesso em: 10 dez. 2021. Saiba mais User Destacar User Destacar Eixos da ação pedagógica 37 wa ve br ea km ed ia /S hu tte rs to ck Por esse motivo, interações e brincadeiras são eixos estruturantes da prática pedagógica na Educação Infantil propostos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DNCEI) (BRASIL, 2010) e pela Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017). O objetivo é que as crianças ampliem seu contato com outras crianças e grupos culturais, expandindo, assim, padrões de referência e identidades por meio do diálogo e da vivência com a diversidade. As interações também colaboram para a construção da identidade da criança. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998) entende a identidade como uma marca singular de cada pessoa, que as diferencia, como nome, características físicas, história de vida e modos de ser. Esse processo ocorre por meio das relações que a criança estabelece com os outros, primeiro no contexto familiar e em seguida expandindo para outros grupos, inclusive na Educação Infantil. Essa construção ocorre por meio da imitação, da diferenciação ou da oposição durante as relações sociais. As identidades pessoais e coletivas das crianças são construídas nas relações, experiências e práticas cotidianas vivenciadas. Nessas opor- tunidades, a criança reflete sobre o mundo, construindo suas próprias percepções, como nos mostra Silva (2006, p. 104): A progressiva construção da identidade pessoal (personalidade), assim como a capacidade de relacionar-se e comunicar-se com os demais humanos, equivale ao substrato para um bom desen- volvimento psicomotor, linguístico e cognitivo. Durante toda a sua evolução, as crianças constroem seu processo de identidade. Desse modo, não há término no processo, pois na vida adulta, as pessoas incorporam novas situações para definição de suas identidades (como pais, profissionais etc.). Nas brincadeiras, as crianças constroem suas identidades ao experimentarem dife- rentes papéis. Os objetos empregados como acessórios dos per- sonagens auxiliam a aproximação da fantasia ao real. Ao vestir o avental da professora, a criança faz de conta ser a docente, por exemplo. As brincadeiras e interações carac- terizam a infância. Ao brincar, a criança experimenta, cria hipóteses, regula- -se, constrói normas que valem para si e para quem está ao seu redor, ou seja, é por meio da brincadeira que a criança cria e recria o mundo e as relações que a cerca. As aprendizagens na primeira infância acontecem por meio da brincadeira: os bebês descobrem os limites e as possibilidades de seu cor- po brincando com pés e mãos, levando-os até a boca, observando e encantando-se com seus próprios dedos, testando a flexibilidade de seu corpo. Julia Ma ria Isabela Han na Af ric a St ud io /S hu tte rs to ck O que toda criança faz, o tempo todo? A criança brinca! O vídeo Cultura da infância, do canal Escola Viver Presente, mostra a prática de uma escola de Educação Infantil que leva a brincadeira da criança muito a sério. Essa escola traduz em sua ação peda- gógica a prática brincante, que deve ser contínua, diária, intencional e plane- jada. Sim, é preciso plane- jar os contextos nos quais as crianças irão brincar, diversificando materiais,brinquedos, espaços e desafios brincantes. Os professores e professoras que sabem da relevância das brincadeiras para o desenvolvimento das crianças se encantarão com esse vídeo. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=38GfSgXpdX4. Acesso em: 10 dez. 2021. Vídeo Figura 1 A importância do estímulo Se re nk o Na ta lia /S hu tte rs to ck 3838 Organização didática na Educação InfantilOrganização didática na Educação Infantil User Destacar Eixos da ação pedagógica 39 Ao observar e explorar os brinquedos dispostos no berço, por meio da brincadeira de tocá-los, afastá-los e aproximá-los, a criança começa a perceber seu corpo e diferenciá-lo de outros objetos presentes no mundo. Essas experiências são fundamentais para o desenvolvimen- to da criança, ou seja, um ambiente rico de estímulos e possibilidades para brincadeiras e interações que desafiem e incentivem a criança na exploração colabora positivamente para o desenvolvimento integral na infância. A organização dos espaços na Educação Infantil está diretamente ligada às possibi- lidades de brincadeiras e interações. Organizar ambientes com materiais variados, que estimulem a exploração por parte das crianças, para que brinquem e interajam entre si e com os objetos, é fundamental e deve fazer parte do planejamento de professores e professoras de Educação Infantil. Observe as imagens a seguir. Figura 2 Brincadeiras com caixa de papelão Na prática 1fkzes/Shutterstock / 2The Childhood/Shutterstock / 3Nopphon_1987/Shutterstock / 4glenda/Shutterstock / 5ksenvitaln/Shutterstock (Continua) 1 3 4 2 5 Nas situações representadas, caixas de papelão foram utilizadas para estimu- lar as brincadeiras das crianças. É possível observar as interações entre elas e com o objeto, explorando e buscando formas de brincar que favorecem o desenvolvimento. Nas imagens a seguir, foram utilizados bambolês, que amarrados uns aos outros se transformaram em uma “cama de gato” desafiadora e cheia de en- cantamentos para as crianças. 40 Organização didática na Educação Infantil Figura 3 Brincadeiras com bambolê 1Hlornet/Shutterstock / 2Robert Kneschke/Shutterstock / 3Stmool/Shutterstock 1 2 Nos dois exemplos apresentados, foram propostos desafios motores para as crianças por meio de práticas lúdicas, com brincadeiras e interações, com o objetivo de desenvolver progressivamente a independência nos movimentos e a aquisição de equilíbrio, resistência, força, velocidade e flexibilidade motora. 3 De acordo com Wallon (1998), infantil é sinônimo de lúdico, ou seja, toda atividade da criança é lúdica. A partir do momento de seu nasci- mento, a criança começa a brincar. O bebê brinca e sente prazer com seu chilreio (emissão de sons repetidos em pequenos intervalos), brin- ca na interação com pessoas e objetos. E é por meio dessas brincadei- ras que ele avança em cada fase de seu desenvolvimento, adquirindo novas habilidades por meio de novas brincadeiras e descobertas, em um ciclo contínuo. 2.3 Linguagens na Educação Infantil Vídeo A criança se expressa de diversas formas: desenhos, pinturas, escul- turas, movimentos, brincadeiras, falas. Antes mesmo de ter o domínio da linguagem oral – isto é, da fala – ela já é capaz de se comunicar e se expressar. Entretanto, não é incomum encontrarmos a ideia de linguagem relacionada apenas à linguagem verbal, falada e escrita. Até mesmo a escola de Educação Infantil, infelizmente, acaba depositando maior peso nessas formas expressivas, não valorizando outras manifestações expressivas das crianças. User Destacar User Destacar Eixos da ação pedagógica 41 As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010) afirmam que é preciso garantir às crianças experiências que favoreçam sua imersão nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão – gestual, verbal, plástica, dramática e musical –, assim como possibilitar expe- riências de narrativas, de apreciação e de interação com a linguagem oral e escrita e o convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos (BRASIL, 1998). Figura 4 Formas de expressão usadas pelas crianças 1 D en is K uv ae v/ Sh ut te rs to ck 2 R aw pi xe l.c om /S hu tte rs to ck 3 m us e st ud io /S hu tte rs to ck 4 L ia _R us sy /S hu tte rs to ck 5 p or ce la ni q/ Sh ut te rs to ck 6 k se nv ita ln /S hu tte rs to ck 7 p or ce la ni q/ Sh ut te rs to ck 8 d av oo da /S hu tte rs to ck1 3 4 2 5 7 6 8 Malaguzzi (1993) afirma que a criança é “feita” de múltiplos pensa- mentos e maneiras de brincar, falar e escutar, mas a escola e a cultura “lhe separam a cabeça do corpo” e roubam quase toda essa variedade. Observe a descrição da prática a seguir: No início do ano, com uma turma de crianças de 4 e 5 anos, a professora propôs construir um espaço na sala em que cada criança se apresentasse, falasse um pouco de si, de suas características e preferências. Para isso dispôs diversos materiais para que escolhessem como fariam essa descrição: suportes e ris- cantes para desenhos e pintura, massinha para modelar, materiais variados para construções tridimensionais, assim como explicou que também poderia utilizar seu aparelho de celular para fotografar. Na prática (Continua) Para conhecer outras práticas lúdicas possíveis, acesse o material As múl- tiplas linguagens na edu- cação infantil: experiências de ensino e aprendizagem compartilhadas. Disponível em: https://sead.furg.br/ images/cadernos/pdf/volume-32. pdf. Acesso em: 10 dez. 2021. Leitura User Destacar 42 Organização didática na Educação Infantil Francisco, de 4 anos desenhou seu autorretrato e pediu a professora para fotogra- fá-lo “em uma pose parecida com o desenho”. Na sequência, falou que queria con- tar algumas características suas, a professora perguntou se poderiam fazer isso em um texto, ele concordou e relatou a professora o que deveria ser escrito. Vale destacar que foi proporcionado às crianças expressarem-se por meio de di- versas linguagens: desenho, modelagem, escultura, fotografia, além da linguagem escrita, sem definir um padrão, para todas as crianças, de como deveriam elaborar sua atividade. Outro merecido destaque vai para a ação da professora, que estava atenta e disponível às crianças, percebendo suas necessidades e auxiliando-as a encontrar alternativas para expressarem-se. FRANCISCO • 4 ANOS • GOSTO DE BRINCAR COM MEUS AMIGOS E COMER CHOCOLATE • TENHO UM CACHORRO CHAMADO FLOQUINHO É preciso garantir que o direito da criança de se manifestar por meio de múltiplas e variadas linguagens, que estão presentes no co- tidiano social e na vida da criança, encontre espaço nas práticas pe- dagógicas desenvolvidas na Educação Infantil, entendendo que são tão importantes quanto a linguagem verbal e escrita e proporcio- nando aprendizagens significativas para o desenvolvimento infantil. Segundo GOBBI (2010, p. 2): cabe aos adultos, junto com seus pares e as crianças, criarem espaços no cotidiano de creches e pré-escolas em que as mani- festações infantis estejam presentes sendo compreendidas em sua inteireza, não se deixando conduzir apenas pela linguagem verbal ou escrita desconsiderando demais formas expressivas. Condicionados a pensar nas linguagens sempre relacionadas à fala deixa-se de pensar nelas associadas ao movimento, ao de- senho, a dramatização, a brincadeira, a fotografia, a música, a dança, ao gesto, ao choro. Contudo, muitos ficam surpresos com Eixos da ação pedagógica 43 a riqueza das manifestações expressivas, chegam a espantar-se quando veem as crianças que se maravilham e descobrem coisas do cotidiano, tais como, entreter-se com seus traçados na dinâ- mica tão rápida do dia a dia, envolvendo-se com seus corpos que giram e criam coreografias ao tocar de uma música ou mesmo nos sons produzidos pelos talheres no momento das refeições. Basta estar
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