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Autoras: Profa. Eliana Chiavone Delchiaro Profa. Lisandra Marisa Príncepe Colaboradoras: Profa. Silmara Machado Profa. Christiane Mazur Doi Orientação e Supervisão de Estágio: Pré-escola Professoras conteudistas: Eliana Chiavone Delchiaro / Lisandra Marisa Príncepe Eliana Chiavone Delchiaro Pedagoga e mestra na área de Currículo (2009) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC‑SP). Em seu percurso profissional, atuou na docência e na direção de escola. Exerceu os cargos de professora da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e de diretora de escola ao longo dos 30 anos de trabalho na Rede Municipal de Ensino da cidade de São Paulo. Desde 2004 dedica‑se à formação de professores e à universidade. Atualmente é docente no Ensino Superior, na Universidade Paulista (UNIP). Lisandra Marisa Príncepe Doutora e mestra em Educação: Psicologia da Educação pela PUC‑SP. Também concluiu o estágio pós‑doutoral na mesma universidade, pelo Programa de Estudos Pós‑Graduados em Educação: Formação de Formadores. Tem experiência na docência da Educação Básica (Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental) e como gestora de projetos de educação não formal. Realiza estudos e pesquisas sobre formação de professores e gestores, produção de materiais didáticos para a Educação Básica e Ensino Superior e atua como docente do curso de Pedagogia na UNIP. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D345o Delchiaro, Eliana Chiavone. Orientação e Supervisão de Estágio: Pré‑escola / Eliana Chiavone Delchiaro, Lisandra Marisa Príncepe. – São Paulo: Editora Sol, 2023. 156 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517‑9230. 1. Educação infantil. 2. Estágio. 3. Pré‑escola. I. Delchiaro, Eliana Chiavone. II. Príncepe, Lisandra Marisa. III. Título. CDU 371.13 U519.28 – 24 Profa. Sandra Miessa Reitora Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração e Finanças Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora das Unidades Universitárias Profa. Silvia Gomes Miessa Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal Profa. Laura Ancona Lee Vice-Reitora de Relações Internacionais Prof. Marcus Vinícius Mathias Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária UNIP EaD Profa. Elisabete Brihy Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. M. Deise Alcantara Carreiro Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes Projeto gráfico: Revisão: Prof. Alexandre Ponzetto Louise de Lemos Leonardo do Carmo Sumário Orientação e Supervisão de Estágio: Pré-escola APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 O CAMINHO TRILHADO NA CONSTRUÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL: A EDUCAÇÃO INFANTIL PRÉ‑ESCOLA COMO PRIMEIRA ETAPA DA EDUCAÇÃO BÁSICA ....... 11 1.1 Documentos orientadores dos currículos e propostas pedagógicas para crianças de 4 anos a 5 anos e 11 meses ............................................................................................. 15 1.1.1 As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil ............................................ 15 1.1.2 A Base Nacional Comum Curricular ................................................................................................ 23 1.1.3 A estrutura da BNCC para a Educação Infantil .......................................................................... 25 2 SER PROFESSOR/A DE CRIANÇAS PEQUENAS: UMA TAREFA EXIGENTE, COMPLEXA E ESPECÍFICA ......................................................................................................................................................... 31 2.1 O que é necessário para ser professor/a de crianças de 4 anos a 5 anos e 11 meses? ............................................................................................................. 31 2.2 A formação do pedagogo para atuar com crianças pequenas: o desenvolvimento profissional em destaque .......................................................................................................................... 42 3 O ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO COMO UMA PRÁTICA REFLEXIVA .................. 46 3.1 O que é e para que serve o estágio obrigatório na pré‑escola? ....................................... 46 3.2 A formação do/a professor/a reflexivo/a .................................................................................... 48 4 A OBSERVAÇÃO COMO UM DOS PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DA FORMAÇÃO ................... 50 4.1. A observação: o que é e para que serve? .................................................................................. 52 4.1.1 Vantagens e desvantagens da observação ................................................................................... 53 4.2 Postura do/a estagiário/a ao acessar a unidade de Educação Infantil ........................... 55 4.3 O que observar na instituição de Educação Infantil? ............................................................ 58 Unidade II 5 OS PERSONAGENS DA PRÉ‑ESCOLA ....................................................................................................... 73 5.1 As crianças pequenas: características do desenvolvimento ............................................... 75 5.2 As famílias parceiras indispensáveis ............................................................................................. 88 5.3 Os profissionais que atuam na pré‑escola: todos são educadores .................................. 99 6 CENAS DO COTIDIANO DA PRÉ‑ESCOLA I: EDUCANDO O OLHAR PARA AS PRÁTICAS EDUCATIVAS ...............................................................................................................103 6.1 A rotina pedagógica ..........................................................................................................................103 6.2 A organização dos espaços e as materialidades da unidade educacional de Educação Infantil .................................................................................................................................108 7 CENAS DO COTIDIANO DA PRÉ‑ESCOLA II: A UNIDADE TEORIA‑PRÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ...............................................................................................................................116 7.1 As interações e brincadeiras como eixos do currículo na pré‑escola ...........................122 7.2 A efetivação dos direitos de aprendizagem e dos campos de experiência: os modos de educar e cuidar ................................................................................................................127 8 O REGISTRO E A REFLEXÃO SOBRE O OBSERVADO .........................................................................132 7 APRESENTAÇÃO Caros/as estudantes, Este livro‑texto tem a intenção de aproximá‑los de um dos espaços de atuação de um/a pedagogo/a: a unidade educacional de Educação Infantil (pré‑escola), que atende crianças pequenas de 4 anos a 5 anos e11 meses de idade. Temos como objetivos que você, estudante e futuro/a professor/a, reconheça a importância do estágio curricular obrigatório na pré‑escola para a formação profissional; compreenda a pré‑escola como uma instituição educativa que faz parte da primeira etapa da Educação Básica e é um lócus de atuação do/a pedagogo/a; entenda a complexidade do trabalho com crianças pequenas, bem como a importância da formação para uma atuação sintonizada com os desafios dessa etapa educacional; reflita sobre o cotidiano da pré‑escola e relacione os pressupostos teóricos estudados na universidade com a prática vivenciada no estágio, e desenvolva um olhar crítico para as relações educativas que ocorrem na instituição e os processos que possibilitam o desenvolvimento integral das crianças pequenas. Nossa proposta é orientar o seu olhar durante o estágio supervisionado obrigatório para que você possa identificar as características do desenvolvimento e as necessidades das crianças pequenas como sujeitos de direitos, conhecer e analisar a estrutura e a organização física e pedagógica da pré‑escola, necessárias a uma prática que garanta os direitos fundamentais das crianças pequenas. Além disso, pela observação sistemática, pretendemos que você tenha subsídios para analisar e interpretar a organização dos tempos, espaços e materiais, bem como as rotinas e práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da unidade educacional. Você está diante de uma disciplina cativante, que lhe auxiliará a descortinar questões importantes sobre a primeira etapa da Educação Básica, especialmente relacionadas à pré‑escola, e que também contribuirão para a construção da sua profissionalidade docente. Vamos juntos/as enfrentar esse desafio? 8 INTRODUÇÃO O estágio curricular supervisionado é uma etapa obrigatória na formação profissional docente. Como é sabido, ao longo do curso de Pedagogia, você deverá cumprir 400 horas de estágio, sendo 80 delas acompanhando trabalho pedagógico desenvolvido em pré‑escolas, que prestam atendimento educacional regular para crianças de 4 anos a 5 anos e 11 meses. Mas, por que o estágio é importante? Por meio do estágio você se aproximará da instituição de Educação Infantil, acompanhará o cotidiano educativo e vivenciará toda a diversidade presente nas práticas de educação e cuidado de crianças pequenas. Se na universidade é possível conhecer e discutir as teorias e fundamentos da educação, será durante o estágio que o contato com os saberes e fazeres que emergem nos interiores das pré‑escolas será consolidado. Ao longo da primeira unidade deste livro‑texto serão abordados conhecimentos importantes que auxiliarão o entendimento tanto das bases legais que colocam a educação de crianças de 4 anos a 5 anos e 11 meses como obrigatória, quanto dos documentos mandatórios que definem os princípios, objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, bem como os direitos das crianças pequenas à Educação Infantil. Serão discutidos, também, os conhecimentos necessários ao/à professor/a para atuar com essa faixa etária e as normativas que regulam a formação dos professores no contexto brasileiro para atuar com as crianças pequenas. Ademais, será dado um destaque especial para a especificidade do trabalho docente nesta etapa de educação e para o compromisso ético‑político do educador da infância, com a educação e o cuidado integral da criança pequena. Outro tópico de discussão será a essencialidade do estágio supervisionado como uma prática reflexiva e a observação rigorosa e sistemática como um instrumento de aprendizagem da docência. O estágio é uma das oportunidades da sua aproximação com a pré‑escola, que garantirá experiências e proporcionará aprendizagens específicas ligadas à profissão docente (Ostetto; Maia, 2019). Nessa seara, a observação ganhará um grande destaque, pois você, estudante, será desafiado/a a olhar: […] o todo sem se descuidar do particular; olhar as especificidades da Educação Infantil em geral, como primeira etapa da Educação Básica, e de cada instituição em particular em seus contextos; olhar as práticas, os espaços, as relações, as professoras, as crianças; há imensas coisas e aspectos que se olhar! (Ostetto; Maia, 2019, p. 2). Na unidade II discutiremos as características do desenvolvimento das crianças pequenas, que são as protagonistas do trabalho educativo, a partir de uma visão da criança como sujeito de direitos e do papel das famílias como parceiras indispensáveis da pré‑escola, uma vez que o trabalho com as crianças também pressupõe um trabalho com as famílias. Adicionalmente, será dado um destaque a todos os profissionais que atuam na pré‑escola (a equipe gestora, a equipe de apoio: porteiros, cozinheiros, auxiliares de limpeza, secretário etc.) e será explicitado como o trabalho desses profissionais pode contribuir para a educação integral das crianças, além da importância de eles estarem alinhados com os objetivos trilhados na proposta pedagógica da pré‑escola. 9 Um outro tópico abordará cenas do cotidiano da pré‑escola, enquanto contexto de vivências e experiências, que terá o objetivo de educar o seu olhar de estagiário/a para as práticas educativas: como a rotina é organizada? Quais são e como são os espaços internos e externos da pré‑escola? Quais materiais não estruturados, mobílias e brinquedos são ou deveriam ser dispostos para uso das crianças? Ou seja, o foco será as materialidades, que revelam de maneira contundente as concepções pedagógicas e são fundamentais para o desenvolvimento das práticas educativas, uma vez que são aspectos favorecedores das interações e brincadeiras. Em outro tópico, o foco será na operacionalização da proposta pedagógica da pré‑escola e, para tanto, serão discutidos os eixos do currículo (as interações e brincadeiras), definidos nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Brasil, 2009a), que devem permear todas as situações de aprendizagem e, também, como são efetivados os direitos de aprendizagem, os campos de experiências e os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento no dia a dia da pré‑escola. A Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2017), que define as aprendizagens essenciais que as crianças têm o direito de se apropriar na Educação Infantil, será articulada com acontecimentos práticos, a fim de dar relevo ao conceito de educação de qualidade, “[...] no qual [as crianças] possam apropriar‑se de diferentes práticas sociais e construir sentidos sobre o mundo, sobre si mesmas e sobre como se relacionar com o meio e com os outros” (Oliveira et al., 2019, p. 292). O cuidar e o educar serão abordados como elementos indissociáveis no trabalho pedagógico e, para encerrar o livro‑texto, será dado um destaque especial, primeiro, ao registro minucioso e sistemático do observado no período de estágio, e, em seguida, à reflexão como uma possibilidade de articular os conhecimentos teóricos a tudo o que foi vivenciado na prática, instigando você, futuro/a professor/a, tanto a reconhecer e valorizar as práticas consideradas exitosas, por estarem alinhadas aos princípios definidos para esta etapa da educação, quanto para que consigam pensar em alternativas para melhorar situações observadas, que ainda se distanciam das novas finalidades que hoje são postas à Educação Infantil. Todas as discussões, tanto da unidade I quanto da II, serão ilustradas com situações práticas, que expressarão de forma plural um pouco do que pode ser encontrado nas unidades educacionais de Educação Infantil. Com situações concretas pretende‑se não só evidenciar a diversidade presente no nosso cenário educacional, mas favorecer a articulação dos conhecimentos teóricos trabalhados no curso de Pedagogia com aquilo que efetivamente acontece no cotidiano das instituições de Educação Infantil. 10 11 ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DE ESTÁGIO: PRÉ-ESCOLA Unidade I Para começar a conversa Nesta unidade temos como objetivo criar um diálogo com você, futuro/aprofessor/a, sobre alguns conhecimentos necessários para uma docência qualificada e, para tanto, você deverá conhecer as bases legais que colocam a Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica, voltada para o cuidado e a educação de crianças de 0 a 5 anos e 11 meses, em instituições do sistema de ensino sob a responsabilidade de professores/as legalmente habilitados. Neste livro‑texto nos voltaremos especificamente para a pré‑escola obrigatória, cuja oferta gratuita é dever do Estado (Brasil, 2013a). As políticas públicas de Educação Infantil foram criadas ao longo da história atendendo diferentes momentos da sociedade. Elas respondem suas demandas sociais e em muitos casos provocam conflitos de interesse. Ter essa visão histórica crítica é fundamental para sua formação docente, em especial em nossa sociedade, que é marcada por fortes desigualdades sociais. O caminho trilhado pela Educação Infantil, no Brasil, foi composto por diferentes concepções de infância, de criança, de currículo, de professor e do papel da família, orientando diversas ações por parte do poder público e privado, tendo em vista a esfera social a que se destina. Assim, se apresentará, de forma dialógica, as bases legais que colocam a Educação Infantil pré‑escola como primeira etapa da Educação Básica brasileira. Antes, porém, traremos alguns episódios da história da Educação Infantil, a fim de possibilitar a compreensão sobre suas origens, os desafios enfrentados e todas as discussões que culminaram nos avanços conquistados ao longo do tempo, como sua obrigatoriedade, o que diz respeito às concepções de infância e, especialmente, o que se refere aos documentos mandatórios que regulam, fundamentam e trazem exigências para a educação de crianças pequenas. Também serão abordados aspectos referentes à formação do/a professor/a para atuar na pré‑escola, o lugar e as potencialidades do estágio supervisionado para a formação do/a pedagogo/a e as características da observação sistemática como um dos principais elementos da formação profissional. 1 O CAMINHO TRILHADO NA CONSTRUÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL: A EDUCAÇÃO INFANTIL PRÉ‑ESCOLA COMO PRIMEIRA ETAPA DA EDUCAÇÃO BÁSICA Para chegar ao patamar que estamos hoje da Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica, passamos por muitos acontecimentos nos últimos 35 anos. As conquistas foram paulatinas e carregadas de discussões e muitas lutas até que se garantisse o direito dos bebês e crianças à educação integral. Iniciaremos nossas reflexões com a experiência ficcional de duas mães que se encontraram em uma fila para a matrícula de seus filhos em uma pré‑escola pública. 12 Unidade I Cena 1: a história de Idalina e Josiane Idalina é mãe de Carol, uma menina de 4 anos, e Josiane é mãe de Jorge, de 5 anos, que estava com ela aguardando em uma fila de espera de uma unidade educacional de Educação Infantil. Todos residem em um pequeno município localizado na região Norte do Brasil. Carol é uma criança alegre, fala muito bem e interage com adultos e outras crianças de sua comunidade. Para Idalina chegou a hora de voltar a trabalhar. Com o companheiro desempregado, o retorno ao trabalho tornou‑se uma necessidade, mas, para isso acontecer, ela precisa de uma instituição de Educação Infantil para deixar sua filha. No entanto, a busca por essa instituição e a expectativa para conseguir uma vaga não se limita a um local de guarda e cuidado – Idalina vislumbra a possibilidade de sua filha brincar, aprender a alimentar‑se em companhia de outras crianças e desenvolver‑se ainda mais com o estímulo de professores. Já Josiane tem a expectativa de que a pré‑escola possa ajudar Jorge a se comunicar melhor e brincar ao ar livre, uma vez que eles moram num apartamento em um bairro que oferece alguns perigos e é muito violento. As duas mães, que passaram a conversar na fila de espera, comentaram que já tinham visitado algumas instituições e logo perceberam que a tarefa não seria fácil – estavam todas lotadas, com lista de espera e atendimento pouco transparente. Elas estavam muito ansiosas por uma vaga nessa pré‑escola municipal. Ao ser chamada, Idalina apresentou a documentação para o preenchimento da inscrição e logo a diretora informou que, para a faixa etária de 4 anos, a instituição tinha uma fila de espera com cerca de quinze crianças e que quando surgisse a vaga ela seria comunicada por telefone. A mãe insistiu para saber quando seria essa data, e a diretora informou que o prazo era indeterminado, visto que dependeria de alguma desistência, o que era bem difícil de acontecer. Diante de suas necessidades, Idalina estava inclinada a deixar sua filha com uma vizinha que cuida de outras crianças em sua própria casa, esperando que essa situação fosse provisória. No atendimento de Josiane, a diretora informou que contava com uma vaga, mas daria preferência para mães que trabalham, e perguntou se ela tinha carteira profissional assinada. Ao tomar conhecimento de que Josiane não trabalhava, a diretora só inscreveu a criança. A mãe ficou pensativa, imaginando que seria mais um nome na lista de espera, e saiu de lá bastante entristecida. A situação dessas duas mães não deve ser uma novidade. Você já deve ter visto situações semelhantes entre conhecidos ou até mesmo entre seus parentes. Você deve estar pensando: A criança, perante a lei, não é um sujeito de direitos? Não é dever do Estado garantir uma vaga para essa criança? Essas duas questões têm pertinência e demandam respostas de que você precisa se apropriar como futuro/a educador/a. 13 ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DE ESTÁGIO: PRÉ-ESCOLA O relato de Idalina e Josiane confirmam a reiterada negação dos direitos das crianças e a exclusão social que precisa ser combatida com políticas de inclusão, com o enfrentamento à pobreza, à desnutrição e ao trabalho infantil, entre outras situações, fazendo‑se valer, de fato, os direitos já assegurados por lei. Abuchaim (2018, p. 18) explica, conforme a legislação vigente, que a vaga na Educação Infantil é um direito público subjetivo que os municípios não podem se furtar a conceder. Por direito subjetivo entenda‑se uma prerrogativa do titular ao direito que não se pode negar. A discussão que envolve as crianças de 0 a 5 anos e seus direitos tem ocupado os debates entre movimentos sociais, pesquisadores, professores e sociedade civil há mais de 35 anos e tem resultado em conquistas importantes no plano legal, tendo início pela inclusão da oferta da Educação Infantil como um dever do Estado e direito da criança na Constituição Federal (CF) de 1988 (Brasil, 1988). A Educação Infantil ganhou destaque nas últimas décadas, especialmente com a inclusão pela CF das crianças a receber, desde o nascimento, atendimento educacional em creches (0 a 3 anos) e pré‑escolas (4 anos a 5 anos e 11 meses), como um dever do Estado com a educação formal pública. Como vimos, está assegurado legalmente, mas ainda faltam vagas suficientes para atender as demandas sociais, inclusive para o atendimento na pré‑escola, que é obrigatória, indicando que a situação ainda não está plenamente resolvida. A CF prevalece sobre todas as outras leis e reconhece como um direito de bebês e crianças o acesso à educação em creches e pré‑escolas. Seu avanço para a Educação Infantil é inegável, inclusive para a elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). A LDBEN (n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996) passou a considerar a Educação Infantil a primeira etapa da Educação Básica. Ela propõe a organização da educação brasileira, ampliando o conceito de Educação Básica, que passa a abranger a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. A LDBEN também orienta a organização de sistemas de ensino, entre eles o sistema municipal. Como indica o artigo 11, a Educação Infantil é oferecida prioritariamente pelos municípios. Nesse mesmo artigo está previsto que é incumbência dos municípios a organização, manutenção edesenvolvimento de órgãos e instituições oficiais e dos seus respectivos sistemas de ensino, de modo integrado às políticas e planos educacionais da União e dos estados. Isso significa investir autoridade nas instâncias locais, permitindo um projeto político mais amplo, com mais autonomia e responsabilização pelos municípios na formulação de sua própria política educacional, de acordo com as normas e diretrizes nacionais para a educação. Observe o quadro a seguir, que retrata a organização do sistema educacional brasileiro e a responsabilidade de cada ente público na oferta e manutenção do ensino. 14 Unidade I Quadro 1 – Sistema educacional brasileiro Educação Básica Ensino Superior Etapas Educação Infantil Ensino Fundamental Ensino Médio Creche Pré‑escola Anos Iniciais Anos Finais Faixas etárias 0 a 3 anos 4 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 14 anos 15 a 17 anos Acima dos 18 anos Responsabilidade prioritária Municípios Estados e municípios Estados Governo Federal e estados Fonte: Abuchaim (2018, p. 16). Após a LDBEN, muitos outros acontecimentos foram marcantes para a Educação Infantil. O Ministério da Educação (MEC), no final dos anos 1990, divulgou o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) (Brasil, 1998). O documento não era de uso obrigatório e, de acordo com Saisi (2003), serviu apenas como um guia de reflexão para contribuir com as equipes escolares na elaboração de seus projetos educacionais. Ele se constituiu em uma alternativa do MEC para atender às necessidades que se mostravam evidentes naquele momento. Nesse sentido, embora tenha sido um avanço para a Educação Infantil à época, a não obrigatoriedade dificultava a garantia de um conjunto de aprendizagens para todas as crianças do território nacional, contribuindo para a manutenção das diferenças de oportunidades e, consequentemente, das desigualdades educacionais. No ano de 1999 foram fixadas as primeiras Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Brasil, 1999), por meio da Resolução CNE/CEB n. 1, que deveriam ser observadas, obrigatoriamente, na elaboração das propostas pedagógicas de cada unidade de Educação Infantil brasileira. Essa resolução foi revogada, em 2009, pela Resolução CNE/CEB n. 5. Em 2006, a Lei n. 11.274 definiu que as crianças com 6 anos passassem a frequentar o Ensino Fundamental, ou seja, as crianças que antes eram atendidas na Educação Infantil passaram a frequentar o primeiro ano do Ensino Fundamental. No ano de 2009 (Brasil, 2009b), a Emenda Constitucional n. 59, de 11 de novembro, deu nova redação aos incisos I e VII do art. 208 da CF, tornando compulsória a matrícula de crianças de 4 anos completos, sendo dever das famílias efetuar a matrícula, e dos municípios disponibilizar vagas em instituições públicas para toda a demanda. Ainda em 2009, o MEC fixou as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil com a Resolução CNE/CEB n. 5 (Brasil, 2009a). Tal documento será discutido em sua integralidade no próximo tópico desta unidade. No ano de 2013 a Lei n. 12.796 alterou o artigo 4º da LDBEN, definindo, também, a obrigatoriedade da matrícula a partir dos 4 anos de idade (inciso I, artigo 4º). Por fim, em 2017, por meio da Lei n. 13.415 de 16 de fevereiro, foi aprovada a Base Nacional Comum Curricular, que será apresentada e discutida no próximo tópico. Optamos por citar apenas o RCNEI e os documentos legais que trouxeram avanços importantes para a primeira etapa da Educação Básica. Eles são instrumentos vivos que sofrem adequações ao longo do tempo, tendo em vista as necessidades e interesses da sociedade. 15 ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DE ESTÁGIO: PRÉ-ESCOLA Idalina e Josiane estão cumprindo os seus deveres de responsáveis pelas crianças, no entanto esbarram não só na falta de oferta de vagas, mas em informações confusas e exigências incorretas, entre elas a carteira profissional assinada solicitada pela diretora. Para trabalhar, Idalina contratará uma vizinha para cuidar de sua filha e é muito possível que a guarda e o cuidado oferecidos sejam insuficientes. A seguir, sintetizamos os documentos abordados nesse tópico. 1988 1996 1998 1999 2006 2009 2013 2017 Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil Divulga o RCNEI, um documento curricular, não obrigatório, que reuniu objetivos, conteúdos e orientações didáticas Altera o artigo 32 da LDBEN definindo que as crianças de 6 anos devem frequentar o primeiro ano do EF Lei n. 11.274, de 6/2/2006Constituição Federal O atendimento em creches e pré‑escolas é dever do Estado e direito dos bebês e crianças até os 6 anos de idade Resolução CEB n. 1, de 7/4/1999 Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, revogada em 2009 Emenda Constitucional n. 59, de 11/11/2009, e Resolução n. 5, de 17/12/2009 A EI se torna obrigatória para a faixa etária de 4 a 5 anos *Fixa as DCNEI para a EI Lei n. 13.415, de 16/2/2017 Sanciona a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Reconhece a Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica Altera o artigo 4º da LDBEN, definindo a obrigatoriedade da matrícula a partir dos 4 anos Lei n. 12.796, de 4/4/2013 Figura 1 – Principais marcos da Educação Infantil no contexto brasileiro A universalização da pré‑escola para o atendimento do público‑alvo de 4 anos a 5 anos e 11 meses deve ser prioridade dos municípios, que precisam identificar as crianças que não estão matriculadas e investir em políticas públicas que permitam que todas, sem distinção, possam ser atendidas nesta primeira etapa da Educação Básica. Para além das responsabilidades dos municípios, os movimentos sociais, as fundações de estudos e pesquisas, as universidades, os pesquisadores, as famílias e comunidade em geral também precisam continuar lutando pelo direito ao acesso, com qualidade, à primeira etapa da Educação Básica. 1.1 Documentos orientadores dos currículos e propostas pedagógicas para crianças de 4 anos a 5 anos e 11 meses 1.1.1 As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) foram definidas pela Resolução CNE/CEB n. 5/2009 (Brasil, 2009a). Tal documento mandatório visa estabelecer indicações comuns nacionais para a primeira etapa da Educação Básica (a Educação Infantil); a partir dele, os sistemas de ensino devem formular suas orientações curriculares considerando as características dos contextos locais. 16 Unidade I De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2016), há no Brasil um total de 5.570 municípios distribuídos em áreas urbanas, rurais e mistas com particularidades quanto à dimensão humana, produtiva, educacional e institucional. Independentemente das pluralidades regionais, as DCNEI devem ser seguidas, no sentido de nortear as propostas curriculares e os projetos pedagógicos de cada rede de ensino e unidade de Educação Infantil brasileira. Caberá às secretarias de educação a construção de suas propostas curriculares em sintonia com os princípios propugnados nas DCNEI. As DCNEI trazem definições importantes, que devem ser tomadas como ponto de partida para a elaboração dos currículos e, consequentemente, do desenvolvimento do trabalho pedagógico com as crianças de 4 anos a 5 anos e 11 meses (Brasil, 2009a): Quadro 2 – Definições de criança e de currículo presentes nas DCNEI Definições Criança Sujeito histórico de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade produzindo cultura (art. 4º). Currículo Conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico,ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade (art. 3º). Adaptado de: Brasil (2009a). Figura 2 Disponível em: https://tinyurl.com/2p487z3n. Acesso em: 29 set. 2023. 17 ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DE ESTÁGIO: PRÉ-ESCOLA Uma definição importante, presente nas DCNEI, é a de criança. Ela é considerada um sujeito histórico de direitos, alguém que pode construir o conhecimento a partir das suas ações e das interações que estabelece com parceiros mais ou menos experientes. Essa concepção rejeita, veementemente, a ideia de criança como uma página em branco, não abrindo espaço para qualquer prática tradicional que a coloque em posição secundarizada no processo educativo. Oliveira (2020, p. 192), em relação à definição de criança presente nas DCNEI, reforça que: O reconhecimento desse potencial aponta para o direito, desde o nascimento, de as crianças terem acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de saberes e conhecimentos, como requisito para a formação humana, para a participação social e para a cidadania. A criança deve, então, ser a protagonista nas práticas educativas e, para que ela possa se apropriar da cultura, será necessário conceber um currículo que não tenha como foco a transmissão do conhecimento, mas que seja constituído por diversas e variadas situações cotidianas. Oliveira (2020) aponta que isso só será possível a partir do momento que os profissionais que atuam nas unidades de Educação Infantil sejam capazes de articular os saberes concernentes às diferentes culturas, às crenças e manifestações familiares e, principalmente, “[…] os saberes e especificidades de cada comunidade” (Oliveira, 2020, p. 193). O currículo dinâmico e vivo deve acolher os saberes infantis e, a partir de uma escuta sensível, o/a professor/a selecionará entre os conhecimentos acumulados pela humanidade os mais significativos para as crianças, para que seja possível planejar situações de aprendizagens concretas e contextualizadas. Nessa perspectiva, conteúdos pré‑estabelecidos dão espaço para aquilo que é mais relevante para as crianças (Oliveira, 2020). Observe as duas cenas fictícias, a seguir, que retratam diferentes concepções de criança e de currículo. Cena 2 A professora Filomena é docente da unidade educacional de Educação Infantil Cora Coralina, que está localizada na área urbana de uma grande cidade da região sudeste. Ela acredita que as crianças de sua turma só conseguem aprender se ela transferir o conhecimento. Por isso, sem considerar os saberes prévios delas e sem permitir que se expressem, a docente frequentemente ministra aulas expositivas sobre temas aleatórios, pois acredita que são importantes para as crianças. Cena 3 A professora Ceci trabalha na unidade de Educação Infantil Nacuti, que está localizada às margens do Rio Solimões, na região Amazônica, e atende crianças indígenas. Antes de iniciar qualquer proposta, a docente fica muito atenta às curiosidades e interesses manifestados por sua turma e também considera e respeita as tradições, histórias e culturas dos povos originários. Organiza diferentes situações cotidianas para que sua turma vivencie experiências significativas, proporcionando uma relação viva com os conhecimentos, crenças e valores de seu povo e os demais conhecimentos acumulados pela humanidade. 18 Unidade I Exemplo de aplicação Com base nas discussões realizadas anteriormente, reflita: em qual das duas cenas, as concepções de criança e de currículo estão sintonizadas com as definições constantes nas DCNEI? Fica evidente que, na cena 3, as concepções de criança e de currículo mais se aproximam das definições das DCNEI, uma vez que a criança é a protagonista do processo pedagógico, respeitada em seus interesses e necessidades, e, ainda, são valorizadas as práticas cotidianas que procuram atender às especificidades dos povos indígenas. A proposta pedagógica difundida nas unidades de Educação Infantil deve expressar a visão de criança e de prática educativa que se pretende, bem como respeitar os seguintes princípios previstos no artigo 6º das DCNEI, conforme a figura a seguir. ÉTICOS Da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades ESTÉTICOS Da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais POLÍTICOS Dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática Princípios das propostas pedagógicas Figura 3 – Princípios das propostas pedagógicas de Educação Infantil Adaptado de: Brasil (2009a). Todas as propostas pedagógicas desenvolvidas nas unidades de Educação Infantil devem se guiar pelos princípios éticos, políticos e estéticos. Na prática elas devem visar a autonomia das crianças, a valorização da responsabilidade, da solidariedade, bem como a “construção de referências para o reconhecimento e o respeito das singularidades” (Oliveira et al., 2019, p. 39). Dentro dos princípios éticos residem ideias relacionadas ao combate aos preconceitos e à igualdade de direitos entre as pessoas, bem como o cuidado de seres vivos, o respeito a todas as formas de vida e 19 ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DE ESTÁGIO: PRÉ-ESCOLA a preservação da natureza. A ação pedagógica também deve ser norteada por princípios políticos que se revelam na: […] garantia do direito da criança aos serviços públicos, do direito de ser respeitada em sua singularidade e atendida em suas especificidades, de vivenciar relações democráticas em todos os sentidos desde a sua inserção nas regras e no sistema próprio da instituição educativa, até o convívio com os colegas (Oliveira et al., 2019, p. 40). As propostas pedagógicas para a Educação Infantil devem caminhar na direção de educar para a cidadania, pela garantia de uma formação participativa e crítica em que cada criança possa se expressar, questionar e que estejam comprometidas com o bem‑estar de si próprias e da coletividade. E, por fim, os princípios estéticos podem ser garantidos a partir do cuidado com a organização dos tempos, espaços e essencialmente das vivências que possibilitem a ampliação da sensibilidade, do acesso às artes e outras manifestações culturais, bem como da valorização da criatividade de cada criança (Oliveira et al., 2019), ou seja, a partir da constituição de um […] cotidiano de situações agradáveis, estimulantes, que desafiem o que cada criança e seu grupo de crianças já sabem sem ameaçar sua autoestima nem promover competitividade, ampliando as possibilidades de cuidar e ser cuidada, de se expressar, comunicar e criar, de organizar pensamentos e ideias, de conviver, brincar e trabalhar em grupo, de ter iniciativa e buscar soluções para os problemas e conflitos que se apresentam às mais diferentes idades, e lhes possibilitem apropriar‑se de diferentes linguagens e saberes que circulam em nossa sociedade […] (Brasil, 2013b, p. 88). Esses princípios éticos, políticos e estéticos podem ganhar concretude em vivências e experiências que tenham como eixos norteadores as interações e a brincadeira e que, de acordo com o artigo 9º das DCNEI (Brasil, 2009a): 20 Unidade I Destaque I – Promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança; II – favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical; III – possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos; IV – recriem, em contextos significativos para as crianças,relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaçotemporais; V – ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades individuais e coletivas; VI – possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de cuidado pessoal, auto‑organização, saúde e bem‑estar; VII – possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de referência e de identidades no diálogo e reconhecimento da diversidade; VIII – incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza; IX – promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura; X – promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais; XI – propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras; XII – possibilitem a utilização de gravadores, projetores, computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos tecnológicos e midiáticos. Fonte: Brasil (2009a). 21 ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DE ESTÁGIO: PRÉ-ESCOLA O conjunto de experiências descritas nas DCNEI deve ser considerado referenciais para a organização das práticas educativas de cada unidade de Educação Infantil. Elas precisam estar alinhadas com a concepção de criança, entendendo que ela se desenvolve por múltiplas interações no ambiente coletivo de educação, que será complementar em relação ao ambiente familiar. Todas as atividades propostas devem visar a educação integral e a indissociabilidade entre o cuidar e o educar, uma vez que: […] as crianças precisam não só ser atendidas em relação aos momentos de fome, higiene, sono, insegurança, aborrecimento, como temos defendido que, ao serem acolhidas em um ambiente que educa cuidando e cuida educando, podem as crianças efetivar valiosas aprendizagens em relação ao cuidar de si, cuidar de outras crianças (evidentemente à sua maneira) e cuidar do ambiente. Cabe aos professores e professoras perceber as ações de cuidado de uma nova perspectiva e se apropriar de procedimentos básicos para desempenhar a contento essas ações (Oliveira et al., 2019, p. 12). Contrário às concepções assistencialistas, o cuidar, como dimensão que não se separa do educar, implica no reconhecimento da necessidade de estabelecer com as crianças relações de confiança, de proteção, para que elas se sintam seguras e acolhidas em todas as suas necessidades e possam alcançar, aos poucos, a independência no autocuidado e construírem a sua identidade e autonomia. Outro ponto considerado pelas DCNEI refere‑se às especificidades da educação das crianças indígenas e das do campo. As diretrizes trazem um conjunto de objetivos específicos para a elaboração das propostas pedagógicas das crianças pertencentes a esses grupos, os quais sintetizamos a seguir. Crianças do campo Crianças indígenas Consideração das crenças, conhecimentos, valores, língua e memórias dos povos indígenas Articulação das práticas socioculturais da educação tradicional familiar com as práticas comunitárias Reconhecimento dos modos de vida e tradições dos povos dos territórios rurais Valorização dos saberes e do papel dos moradores do campo e respeito às características ambientais e socioculturais da comunidade Propostas pedagógicas para crianças indígenas e do campo Figura 4 – Objetivos das propostas pedagógicas para crianças indígenas e crianças do campo Adaptado de: Brasil (2009a). 22 Unidade I Embora a definição de currículo presente nas DCNEI seja ampla o bastante e indique a necessidade de valorização de experiências e saberes das crianças, tal resolução confere um destaque especial às especificidades das crianças indígenas e das crianças filhas de agricultores, extrativistas, pescadores, ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrária, quilombolas, caiçaras e povos das florestas, indicando que as propostas pedagógicas a serem desenvolvidas pelas unidades de Educação Infantil não podem ser organizadas na mesma lógica daquelas desenvolvidas nos centros urbanos ou com a imposição de uma cultura diferente. Ao contrário, devem reconhecer, priorizar, valorizar e respeitar as identidades linguísticas, étnicas e culturais, os saberes e a importância dos seus povos na produção de cultura. Defende‑se, aqui, que as crianças atribuem sentidos aos conhecimentos que fazem parte do seu cotidiano e é preciso reconhecê‑los para que sejam aprofundados nas experiências de aprendizagens. No artigo de Pasuch e Franco (2017) intitulado “O currículo narrativo na Educação Infantil das crianças do campo: reflexões para um diálogo pedagógico”, as autoras trazem excertos de diálogos – fruto de uma dissertação de mestrado da segunda autora – entre a pesquisadora e as crianças de uma unidade de Educação Infantil, localizada em uma comunidade rural no estado do Mato Grosso. Observe um diálogo (Franco apud Pasuch; Franco, 2017): Júnior: Professora? Olha, encontrei uma pena de galinha! Bia: Não é de galinha, é de papagaio. Paulo: Não é de papagaio, não! De papagaio não é dessa cor! Lorena: De papagaio é verde! Pesquisadora: Então é de quê, afinal? Bia: Deve ser de gavião. Sabia que ele pega pintinho? Paulo: E ele come rato e cobra também. Um dia lá perto do silo [depósito para armazenamento de produtos agrícolas] um gavião pegou um rato e saiu voando com ele no bico. Júnior: Se essa pena não for de gavião deve ser de outro pássaro. Paulo: O gavião fica lá do alto olhando as presas e quando ele vê: inhac! [Gesticula com a mão a forma como o gavião agarra sua presa]. O que o diálogo registrado pela pesquisadora nos revela sobre as crianças do campo? Quais saberes elas evidenciam em seus depoimentos? Como esses saberes podem ser articulados aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio da humanidade? 23 ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DE ESTÁGIO: PRÉ-ESCOLA O diálogo evidencia “o conhecimento que as crianças possuem sobre o mundo em que vivem, a natureza e seu contexto” (Pasuch; Franco, 2017, p. 383). Pode‑se perceber os saberes referentes às diferentes espécies de pássaros, suas cores e até os hábitos alimentares. Uma simples pena possibilitou a externalização das experiências vividas, a curiosidade, o interesse e o levantamento de hipóteses. Uma proposta pedagógica desenvolvida para e com as crianças do campo deve se apropriar desses saberes cotidianos que representam o modo como elas vivem e se relacionam na sua comunidade. Tais saberes precisam ser articulados com os conhecimentos científicos de modo a possibilitar a ampliação do seu universo de significados. Por exemplo: a unidade educacional de Educação Infantil pode desenvolver um projeto para a investigação dos tipos de pássaros existentes na região: suas principais características, hábitos, as espécies que estão em extinção, os cuidados para sua preservação, entre outras temáticas correlatas. As DCNEI, fruto de muitas discussões e reflexões, oferecem parâmetros para que a educação das crianças desse imenso país tenha uma diretriz e caminhe na direção da diminuição das desigualdades. Neste tópico, vimos alguns aspectos importantes referentes às DCNEI. No próximo discutiremos a Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil, um documento aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), previsto na Constituição Federal, na LDBEN e no Plano Nacional de Educação, que apresenta um conjunto de aprendizagens essenciais para a Educação Básica. 1.1.2 A Base Nacional Comum Curricular Figura 5 Fonte: Brasil (2017, capa). 24 Unidade I A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em 2017 para a Educação Infantil e o Ensino Fundamentale em 2018 para o Ensino Médio, é uma referência para a elaboração dos currículos de cada rede de ensino. Desenvolvida tendo como parâmetro as diretrizes curriculares de cada etapa, ela estabelece os objetivos necessários a serem alcançados na Educação Básica. A BNCC configura‑se uma estratégia para tentar garantir um patamar de aprendizagem para todos os estudantes brasileiros, buscando diminuir as grandes diferenças de oportunidades ainda existentes (Brasil, 2017). As aprendizagens essenciais definidas na BNCC devem propiciar aos estudantes o desenvolvimento de dez competências gerais, conforme disposto no quadro a seguir. Quadro 3 – Competências gerais da BNCC para a Educação Básica Competências gerais da BNCC Finalidade 1 Conhecimento Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos Entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e construir uma sociedade mais justa 2 Pensamento científico, criativo e crítico Exercitar a curiosidade intelectual Investigar causas, elaborar e testar hipóteses, resolver problemas, criar soluções 3 Senso estético Desenvolver o senso estético Reconhecer, valorizar e fruir as diferentes manifestações culturais 4 Comunicação Utilizar diferentes linguagens Expressar‑se e partilhar informações, ideias e sentimentos 5 Cultura digital Compreender, criar e utilizar tecnologias digitais de forma crítica Comunicar‑se, acessar e disseminar informações confiáveis, produzir conhecimentos, exercer o protagonismo 6 Mundo do trabalho Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais Entender as relações do mundo do trabalho e fazer escolhas em relação ao futuro 7 Argumentação Argumentar com base em informações confiáveis Formular, negociar e defender ideias que promovam os direitos humanos 8 Autocuidado Conhecer‑se, apreciar‑se, reconhecer suas emoções Cuidar da saúde física, lidar com as emoções 9 Cooperação e empatia Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos Valorizar a diversidade de indivíduos e grupos sociais 10 Autonomia Agir com autonomia Tomar decisões embasadas em princípios éticos, democráticos, inclusivos e sustentáveis Adaptado de: Brasil (2017). As dez competências traduzem valores alinhados a ações que possam contribuir para o cuidado pessoal, o desenvolvimento da autonomia, a valorização do conhecimento científico e de sua propagação, o respeito à diversidade e a tomada de decisões embasadas em princípios democráticos, de modo a construir uma sociedade mais justa e mais humana. A BNCC (Brasil, 2017) também reafirma o compromisso com a educação integral, uma vez que é preciso garantir o desenvolvimento pleno dos indivíduos, considerando as dimensões (cognitiva, afetiva, física, social, ética, moral, cultural) e respeitando as singularidades e diversidades. Além disso, os princípios de igualdade, diversidade e equidade ancoram a BNCC. A discussão parte do princípio de que o Brasil é composto por uma diversidade cultural ampla mas também por grandes desigualdades sociais, e que é necessário que cada estado ou município construa seus currículos e propostas pedagógicas que considerem essa multiplicidade. A BNCC, ao explicitar as aprendizagens que todos os estudantes devem desenvolver, expressa a igualdade educacional. 25 ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DE ESTÁGIO: PRÉ-ESCOLA No documento é afirmado que: “Essa igualdade deve valer também para as oportunidades de ingresso e permanência em uma escola de Educação Básica, sem o que o direito de aprender não se concretiza” (Brasil, 2017, p. 15). E, ainda, a BNCC reitera a necessidade de efetivar práticas pedagógicas inclusivas. No próximo tópico, nos deteremos na estrutura da BNCC para a primeira etapa da Educação Básica, Educação Infantil, com foco nas crianças pequenas de 4 anos a 5 anos e 11 meses. 1.1.3 A estrutura da BNCC para a Educação Infantil Observe, no quadro a seguir, como a BNCC está estruturada para a primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil. Quadro 4 – Estrutura da BNCC EI Educação Infantil Competências Gerais Direitos de aprendizagem e desenvolvimento Conviver Brincar Participar Explorar Expressar Conhecer‑se Campos de experiências O eu, o outro e o nós Corpo, gestos e movimentos Traços, sons, cores e formas Escuta, fala, pensamento e imaginação Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento Bebês (de 0 a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (de 4 anos a 5 anos e 11 meses) Adaptado de: Brasil (2017). Para a primeira etapa da Educação Básica, foram considerados os eixos do currículo previstos nas DCNEI (Brasil, 2009a): a interação e as brincadeiras. Os dois eixos evidenciam que somos seres sociais e que, para que possamos nos desenvolver, é imprescindível interagir – o que pressupõe a existência do outro (o colega mais experiente ou não, o/a professor/a e outros adultos que fazem parte do círculo vital da criança). Por meio das interações ocorrerá o compartilhamento de ideias e significados que exercerão forte influência sobre as aprendizagens das crianças pequenas. Na Educação Infantil, as interações ocorrem especialmente nos momentos de brincadeiras. O brincar, enquanto atividade principal da criança, desempenha grande peso no desenvolvimento, por ser uma “ação livre, que surge a qualquer hora […] dá prazer […] relaxa, envolve, ensina regras, linguagens, desenvolve habilidades e introduz a criança no mundo imaginário” (Kishimoto, 2010, p. 1). 26 Unidade I Ainda segundo a autora (Kishimoto, 2010), o brincar fornece às crianças o poder de tomar decisões, de se autoconhecer e de conhecer os outros e o mundo que as cerca. Brincando, ocorrem as partilhas, a mobilização do corpo e de todos os sentidos, a exploração do “[...] mundo dos objetos, das pessoas, da natureza e da cultura, para compreendê‑lo e expressá‑lo por meio de variadas linguagens” (p. 1). Saiba mais O documentário Tarja branca discute o quanto o brincar é urgente e fundamental para o desenvolvimento humano. TARJA branca. Direção: Cacau Rhoden. Brasil: Maria Farinha Filmes, 2014. 80 min. Considerando os eixos do currículo (as interações e as brincadeiras), foram definidos também, a partir das DCNEI (2009), seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento a serem assegurados ao público‑alvo da Educação Infantil: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Todos os direitos ressaltam a ação dos bebês e crianças por meio, evidentemente, da interação com outras crianças e adultos. São direitos universais que buscam reforçar a necessidade do convívio, das brincadeiras, da participação em todas as situações cotidianas, da exploração do mundo, da livre expressão, bem como do autoconhecimento para a construção da identidade pessoal, social e cultural. Na BNCC (Brasil, 2017) o currículo da Educação Infantil está estruturado em cinco campos de experiências e para cada campo são definidos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento separados em três grupos considerando a faixa etária dos bebês (0 a 1 ano e 6 meses), das crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) e das crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses). Os campos de experiência, de acordo com a BNCC: “constituem um arranjo curricular que acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando‑os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural” (Brasil, 2017, p. 38). Essa definição coaduna a definição de currículo presente nas DCNEI e indica que os campos devem considerar as experiências e saberes concretos do público‑alvo da Educação Infantil e, ainda, articulá‑los aos conhecimentos construídos socialmente, que fazem parte do patrimônio cultural da humanidade. Foram definidos cinco campos de experiências: • o eu, o outro e o nós; • corpo, gestos e movimentos; • traços, sons, cores e formas; 27 ORIENTAÇÃOE SUPERVISÃO DE ESTÁGIO: PRÉ-ESCOLA • escuta, fala, pensamento e imaginação; • espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. A organização dos campos de experiência é um arranjo curricular que tem por principal objetivo “[…] preservar tempo, espaço, materiais e interações necessários para que as crianças explorem, experimentem, elaborem os conhecimentos a seu modo“ (Oliveira et al., 2019, p. 296). Na figura a seguir, é possível observar as principais características de cada um dos campos de experiência. Campo da exploração de situações comunicativas cotidianas; das práticas sociais de leitura e escrita Escuta, fala, pensamento e imaginação Campo da exploração dos fenômenos naturais e socioculturais; dos conhecimentos matemáticos e das ciências Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações Campo da construção identitária, das descobertas dos encontros com o outro, da diversidade e da edificação das relações de respeito e confiança Campo das experimentações dos sentidos, dos gestos e dos movimentos por meio da música, dança, teatro e brincadeiras Campo das diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas por meio das artes visuais: pintura, colagem, modelagem, fotografia, música, teatro, dança, entre outras O eu, o outro e o nós Corpo, gestos e movimentos Traços, sons, cores e formas Figura 6 – Campos de experiências e suas principais características Adaptado de: Brasil (2017). Para cada campo de experiências são definidos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para três grupos etários. Essa divisão foi pensada levando em consideração as possibilidades de aprendizagem e características do desenvolvimento dos bebês e crianças. Todavia, tal divisão não pode ser encarada de maneira rígida, é preciso considerar “que há diferenças de ritmo na aprendizagem e no desenvolvimento das crianças que precisam ser consideradas na prática pedagógica” (Brasil, 2017, p. 42). Nosso foco, neste livro, é a criança pequena (de 4 anos a 5 anos e 11 meses) que lidera o grupo 3, a última fase da Educação Infantil. Observaremos que para cada campo de experiências são definidos objetivos que se articulam ao que é pretendido para determinado campo. Você verificará que antes de cada objetivo de aprendizagem há um código alfanumérico, como no exemplo: 28 Unidade I EI03EO01 As duas primeiras letras EI, referem‑se à etapa da Educação Básica, no caso, a Educação Infantil. Os dois números após as letras EI (03) referem‑se ao grupo, por faixa etária. O grupo 3 refere‑se às crianças de 4 anos a 5 anos e 11 meses. As duas seguintes letras (EO) dizem respeito ao campo de experiências “O eu, o outro e o nós”. Os dois últimos números (01) indicam a posição do objetivo de aprendizagem e desenvolvimento de cada campo de experiência – por exemplo, o campo “EO” tem um total de sete objetivos. As siglas correspondentes a cada campo de experiências são: • EO: o eu, o outro e o nós; • CG: corpo, gestos e movimentos; • TS: traços, sons, cores e formas; • EF: escuta, fala, pensamento e imaginação; • ET: espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Nos quadros a seguir, será possível observar os objetivos referentes a cada campo de experiência. Quadro 5 – Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: campo de experiências “O eu, o outro e o nós” Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento – 4 anos a 5 anos e 11 meses Campo de experiências: O eu, o outro e o nós (EI03EO01) Demonstrar empatia pelos outros, percebendo que as pessoas têm diferentes sentimentos, necessidades e maneiras de pensar e agir (EI03EO02) Agir de maneira independente, com confiança em suas capacidades, reconhecendo suas conquistas e limitações (EI03EO03) Ampliar as relações interpessoais, desenvolvendo atitudes de participação e cooperação (EI03EO04) Comunicar suas ideias e sentimentos a pessoas e grupos diversos (EI03EO05) Demonstrar valorização das características de seu corpo e respeitar as características dos outros (crianças e adultos) com os quais convive (EI03EO06) Manifestar interesse e respeito por diferentes culturas e modos de vida (EI03EO07) Usar estratégias pautadas no respeito mútuo para lidar com conflitos nas interações com crianças e adultos Adaptado de: Brasil (2017). De modo geral, no campo “O eu, o outro e o nós”, espera‑se que as crianças aprendam a respeitar sentimentos e emoções, bem como expressá‑los de forma genuína, além de conhecer e respeitar as regras sociais e a diversidade, demonstrando interesse pela construção de novas relações e valores como a solidariedade (Brasil, 2017). 29 ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DE ESTÁGIO: PRÉ-ESCOLA Quadro 6 – Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: campo de experiências “Corpo, gestos e movimentos” Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento – 4 anos a 5 anos e 11 meses Campo de experiência: Corpo, gestos e movimentos (EI03CG01) Criar com o corpo formas diversificadas de expressão de sentimentos, sensações e emoções, tanto nas situações do cotidiano quanto em brincadeiras, dança, teatro, música (EI03CG02) Demonstrar controle e adequação do uso de seu corpo em brincadeiras e jogos, escuta e reconto de histórias, atividades artísticas, entre outras possibilidades (EI03CG03) Criar movimentos, gestos, olhares e mímicas em brincadeiras, jogos e atividades artísticas como dança, teatro e música (EI03CG04) Adotar hábitos de autocuidado relacionados a higiene, alimentação, conforto e aparência (EI03CG05) Coordenar suas habilidades manuais no atendimento adequado a seus interesses e necessidades em situações diversas Adaptado de: Brasil (2017). As aprendizagens requeridas para o campo “Corpo, gestos e movimentos” referem‑se, especialmente, ao cuidado de si, da saúde, da valorização do próprio corpo, da construção da autonomia nas práticas de higiene, alimentação e autocuidado, bem como da coordenação das habilidades manuais (Brasil, 2017). Quadro 7 – Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: campo de experiências “Traços, sons, cores e formas” Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento – 4 anos a 5 anos e 11 meses Campo de experiência: Traços, sons, cores e formas (EI03TS01) Utilizar sons produzidos por materiais, objetos e instrumentos musicais durante brincadeiras de faz de conta, encenações, criações musicais, festas (EI03TS02) Expressar‑se livremente por meio de desenho, pintura, colagem, dobradura e escultura, criando produções bidimensionais e tridimensionais (EI03TS03) Reconhecer as qualidades do som (intensidade, duração, altura e timbre), utilizando‑as em suas produções sonoras e ao ouvir músicas e sons Adaptado de: Brasil (2017). Neste campo, pretende‑se que as crianças aprendam modos de expressão por meio das artes visuais, discriminem diferentes tipos de sons e ritmos e relacionem‑se com seus pares, empregando gestos, palavras, brincadeiras etc. (Brasil, 2017). 30 Unidade I Quadro 8 – Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: campo de experiências “Escuta, fala, pensamento e imaginação” Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento – 4 anos a 5 anos e 11 meses Campo de experiência: Escuta, fala, pensamento e imaginação (EI03EF01) Expressar ideias, desejos e sentimentos sobre suas vivências, por meio da linguagem oral e escrita (escrita espontânea), de fotos, desenhos e outras formas de expressão (EI03EF02) Inventar brincadeiras cantadas, poemas e canções, criando rimas, aliterações e ritmos (EI03EF03) Escolher e folhear livros, procurando orientar‑se por temas e ilustrações e tentando identificar palavras conhecidas (EI03EF04) Recontar histórias ouvidas e planejar coletivamente roteiros de vídeos e de encenações, definindo os contextos, os personagens, a estrutura da história (EI03EF05) Recontar histórias ouvidas para produção e reconto escrito, tendo o professor como escriba (EI03EF06) Produzir suas próprias histórias orais e escritas(escrita espontânea), em situações com função social significativa (EI03EF07) Levantar hipóteses sobre gêneros textuais veiculados em portadores conhecidos, recorrendo a estratégias de observação gráfica e/ ou de leitura (EI03EF08) Selecionar livros e textos de gêneros conhecidos para a leitura de um adulto e/ou para sua própria leitura (partindo de seu repertório sobre esses textos, como a recuperação pela memória, pela leitura das ilustrações etc.) (EI03EF09) Levantar hipóteses em relação à linguagem escrita, realizando registros de palavras e textos, por meio de escrita espontânea Adaptado de: Brasil (2017). Espera‑se que as crianças aprendam, neste campo, a expressar desejos, sentimentos, ideias; que consigam argumentar e relatar fatos do seu cotidiano, ouvir, compreender, contar, recontar e recriar narrativas, conhecer diferentes gêneros e portadores textuais e compreender a função social da escrita bem como a leitura como fonte de informação e prazer (Brasil, 2017). Quadro 9 – Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: campo de experiências “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações” Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento – 4 anos a 5 anos e 11 meses Campo de experiência: Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações (EI03ET01) Estabelecer relações de comparação entre objetos, observando suas propriedades (EI03ET02) Observar e descrever mudanças em diferentes materiais, resultantes de ações sobre eles, em experimentos envolvendo fenômenos naturais e artificiais (EI03ET03) Identificar e selecionar fontes de informações, para responder a questões sobre a natureza, seus fenômenos, sua conservação (EI03ET04) Registrar observações, manipulações e medidas, usando múltiplas linguagens (desenho, registro por números ou escrita espontânea), em diferentes suportes (EI03ET05) Classificar objetos e figuras de acordo com suas semelhanças e diferenças (EI03ET06) Relatar fatos importantes sobre seu nascimento e desenvolvimento, a história dos seus familiares e da sua comunidade (EI03ET07) Relacionar números às suas respectivas quantidades e identificar o antes, o depois e o entre em uma sequência (EI03ET08) Expressar medidas (peso, altura etc.), construindo gráficos básicos Adaptado de: Brasil (2017). Neste campo, espera‑se que as crianças interajam com o meio ambiente e com os fenômenos naturais e artificiais com curiosidade e levantando hipóteses sobre eles; que aprendam as noções de 31 ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DE ESTÁGIO: PRÉ-ESCOLA grandeza e unidades de medida para responder suas necessidades cotidianas e que identifiquem e registrem quantidades de diferentes maneiras (Brasil, 2017). Observação A forma adotada na BNCC pretende explicitar o que se espera que as crianças aprendam na EI, devendo ser elemento de reflexão para elaboração dos currículos adequados aos diferentes contextos. Logo, você, estagiário/a, ao conhecer e dominar os documentos mandatórios para a organização dos currículos de cada rede de ensino brasileira, poderá observar em que medida as DCNEI e a BNCC são operacionalizadas no dia a dia da instituição de Educação Infantil na qual cumprirá o seu estágio. Saiba mais Para conhecer integralmente a Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil, acesse o documento que está disponível no site do Ministério da Educação: Disponível em: https://tinyurl.com/56r58zcz. Acesso em: 3 out. 2023. Na unidade II serão apresentadas e discutidas cenas do cotidiano da pré‑escola, e você será conduzido a uma reflexão referente à tradução da DCNEI e BNCC EI nas práticas pedagógicas desenvolvidas. 2 SER PROFESSOR/A DE CRIANÇAS PEQUENAS: UMA TAREFA EXIGENTE, COMPLEXA E ESPECÍFICA 2.1 O que é necessário para ser professor/a de crianças de 4 anos a 5 anos e 11 meses? Você já deve ter ouvido comentários diversos a respeito do papel do/a professor/a de crianças pequenas, por exemplo, que para ser professor/a só é preciso saber cuidar, acompanhar ao banheiro, alimentar, ou ainda que é muito fácil trabalhar na pré‑escola, porque as crianças só brincam. Por detrás dessas falas emergem preconceitos e desconhecimentos que, de certo modo, acompanham tanto a história da Educação Infantil, marcada por orientações assistencialistas, quanto da desconsideração do desenvolvimento e das necessidades das próprias crianças como sujeitos de direitos, e do brincar como uma atividade sem propósito, que é utilizada apenas para passar o tempo. No entanto, na atualidade, essa visão do professor como cuidador e da pré‑escola como um lugar para as crianças passarem o tempo foi substituída. Hoje, há um reconhecimento por parte de pesquisadores, órgãos públicos, associações, fundações de defesa do direito à educação e dos demais 32 Unidade I membros da sociedade de que a Educação Infantil tem uma importância ímpar para o desenvolvimento da primeira infância, e de que para atuar nela é preciso ter uma base de conhecimentos profissionais que só podem ser construídos por uma boa formação pedagógica inicial (curso de Pedagogia) e a partir da formação continuada. Saiba mais Sugerimos o filme Ser e ter (Être et avoir, de Nicolas Philibert, 2002), que discute, entre outros temas, o papel do professor na educação das crianças. SER e ter. Direção: Nicolas Philibert. França: Les Films d’Ici. 104 min. Para discutirmos a docência na pré‑escola e todo o corpo de conhecimentos, habilidades e disposições necessários ao exercício do trabalho pedagógico, convidamos você para conhecer a rotina de planejamento e de desenvolvimento da professora Rosa. Cena 4: reflexões sobre o planejamento de atividades pedagógicas para uma turma da pré-escola A professora Rosa tem 32 anos de idade, é formada em Pedagogia e atua em uma unidade educacional de Educação Infantil de um município localizado na região Nordeste do Brasil. Ela ingressou na rede de ensino há cinco anos por concurso público. Rosa está alocada em uma instituição que conta com um espaço amplo, arborizado e repleto de brinquedos e outros materiais, além de compartilhar o trabalho com um grupo de profissionais comprometidos e aguerridos, que defendem a instituição pública e buscam no dia a dia desenvolver o trabalho educativo sintonizado com as necessidades das crianças. A professora tem, na sua carga horária de trabalho, quatro horas semanais para o planejamento. Ela considera o tempo insuficiente para tudo o que deve pensar e fazer e, por isso, utiliza algumas horas a mais para conseguir dar conta de suas atividades. Além dessas horas destinadas ao planejamento, duas horas por semana são dedicadas à formação, que acontece na instituição, no horário de trabalho pedagógico coletivo, e é conduzida pela coordenadora e pela diretora. Nesses ricos momentos, o corpo docente e as duas gestoras discutem acontecimentos do cotidiano, estudam temas pertinentes à Educação Infantil e compartilham ideias para o planejamento de projetos e outras atividades pedagógicas. Hoje, Rosa separou alguns materiais: Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Brasil, 2009a), Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2017), currículo da rede municipal, livros de histórias infantis diversos e outros textos de autores que discutem a organização da rotina pedagógica, para elaborar o planejamento para uma semana. Na semana anterior, a professora Rosa fez uma grande roda de conversa com a sua turma para levantar temas de interesse das crianças. Fora isso, ela também observa, diariamente, a movimentação do grupo e anota tudo o que desperta a curiosidade e a vontade de explorar. Tanto a escuta quanto a observação das crianças são consideradas no momento de planejar, selecionar materiais e organizar tempos e espaços para as vivências e experiências. 33 ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DE ESTÁGIO: PRÉ-ESCOLA Para o planejamento de dez dias de trabalho (duas semanas letivas), Rosa pensou em evidenciar o tema “bichinhos do jardim”. Issoporque, quando as crianças estão brincando na área externa, demonstram curiosidade sobre os modos de vida das formigas, dos caracóis, joaninhas, tatuzinhos, lagartas, borboletas, abelhas e outros, e também destacaram, durante a roda de conversa feita pela professora, o interesse pela temática. Figura 7 Disponível em: https://tinyurl.com/3r9avdwe. Acesso em: 29 set. 2023. A elaboração do planejamento é sempre uma atividade desafiadora para Rosa, pois há muito o que considerar, uma vez que mais de 20 crianças estão sob sua responsabilidade de educação e cuidados. Para iniciar a elaboração do planejamento, a professora Rosa, com base nos documentos oficiais, pensou: • “Eu estou elaborando atividades para crianças de 4 anos que são inventivas, curiosas, questionadoras”. • “Devo alinhar as propostas ao projeto pedagógico da minha unidade de Educação Infantil”. • “Preciso articular as experiências e saberes das crianças com os conhecimentos acumulados pela humanidade”. • “É necessário garantir as interações e as brincadeiras, a convivência entre crianças e adultos e a responsabilidade com a sustentabilidade do planeta”. • “É primordial assegurar a educação integral e o cuidado, sem separação das dimensões expressivo‑motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural da criança”. 34 Unidade I • “Preciso reconhecer as singularidades”. • “É fundamental permitir o deslocamento e os movimentos amplos das crianças nos espaços internos e externos da instituição, bem como a acessibilidade aos materiais, objetos e brinquedos”. • “Preciso favorecer a imersão das crianças nas diferentes linguagens e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical”. • “Será prioritário garantir o desenvolvimento dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de todos os campos de experiência: O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações; Escuta, fala, pensamento e imaginação; Traços, sons, cores e formas”. • “Será necessário possibilitar situações de aprendizagem que incentivem a curiosidade, os questionamentos e a exploração das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza”. • “As vivências devem ampliar a confiança e a participação das crianças em atividades coletivas e individuais, bem como possibilitar situações para o desenvolvimento da autonomia”. • “É fundamental documentar todo o processo por fotografias, relatórios e vídeos, com uma observação criteriosa”. • “Preciso fazer um levantamento de diversos portadores textuais, objetos, materiais não estruturados, brinquedos, materiais para desenho, pintura e colagem, música, fantasias e outros que tenham relação com o tema escolhido”. • “Será preciso pensar nas intervenções nos momentos de interações e brincadeiras, na condução da criança em busca das respostas às indagações que farão sobre os fenômenos investigados e, ainda, cuidar das situações de conflitos e disputas, bem como do encorajamento à capacidade que cada indivíduo tem para resolução de problemas”. • “Será importante realizar atividades que integrem as famílias, as crianças de diferentes faixas etárias matriculadas na instituição, bem como os demais adultos da unidade educacional de Educação Infantil”. Depois de elencar esses 15 tópicos a partir dos estudos e consultas às DCNEI, BNCC EI e currículo da sua rede de ensino, Rosa considerou as atividades permanentes que fazem parte da rotina: horários destinados à alimentação, higiene e descanso, para assim incluir as propostas envolvendo o tema escolhido. A professora definiu os conteúdos que serão aprofundados com as crianças, redigiu os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento pensando nos campos de experiências e articulou com diversas ideias práticas que colocarão a criança como protagonista. 35 ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DE ESTÁGIO: PRÉ-ESCOLA Só para exemplificar uma das atividades criadas, Rosa capturou uma grande lagarta e pensou que as crianças poderiam alimentá‑la e observar diariamente sua transformação, além de produzir desenhos, painéis coletivos, cantar cantigas, ler histórias sobre a metamorfose e realizar brincadeiras coletivas que se aproximam da temática. Um teatro poderia ser criado, com base nas fases de transformação da lagarta; livros sobre espécies diferentes de borboletas poderiam ser disponibilizados para a exploração, uma receita culinária seria realizada, entre outras ideias. O uso da área externa da instituição, que conta com árvores e outras plantas de diversas espécies e, também, diversos bichinhos (formigas, joaninhas, lagartas, abelhas, borboletas), a sala de aula de referência com cantos temáticos, o pátio, a quadra de esportes, a cozinha e refeitório da instituição seriam organizados e utilizados durante as vivências e experiências. Com todas as ideias documentadas, Rosa se organizou para fazer o levantamento dos materiais pedagógicos necessários e dar início ao desenvolvimento da proposta. A professora organizou diversos cantos temáticos na sala de referência de sua turma: • Canto de leitura e contação de histórias: onde foram disponibilizadas almofadas e, também, diversos portadores textuais sobre insetos de modo geral e, mais especificamente, sobre o processo de metamorfose das borboletas. • Canto das descobertas: onde foi colocado um pote de vidro fechado com um pedaço de tecido transparente e, dentro dele, uma lagarta; uma cesta de vime com folhas para alimentar a lagarta; minilupas e alguns binóculos que foram construídos pelas próprias crianças com rolinhos de papel higiênico. • Canto da imaginação: contendo um expositor de roupas e fantasias, incluindo asas de borboletas e diversos tecidos coloridos, além de pintura facial e outros acessórios, blocos de montar, massa de modelar, gravetos e pedrinhas recolhidos pelas crianças nos passeios pela unidade educacional e diversos brinquedos. Exemplo de aplicação Reflita sobre o que a professora Rosa precisou considerar para elaborar o planejamento de atividades para uma turma de crianças de 4 anos e em quais documentos mandatórios ela se embasou. O que o planejamento elaborado pela professora Rosa nos ensina sobre o trabalho docente na pré‑escola? A resposta para essa pergunta é simples: ser professor/a de crianças pequenas é uma tarefa exigente, complexa e que tem muitas especificidades, o que nos sinaliza que para atuar na Educação Infantil é preciso a apropriação de uma infinidade de conhecimentos. De modo sintético, os aspectos considerados pela professora e que evidenciam um corpo de conhecimentos necessários à elaboração do planejamento podem ser ilustrados na figura a seguir. 36 Unidade I Selecionar recursos pedagógicos, objetos, materiais e brinquedos, e organizar tempos e espaços de aprendizagem Definir objetivos de aprendizagem e desenvolvimento e favorecer situações de aprendizagem que incentivem a curiosidade, as atividades coletivas e individuais Considerar as individualidades e singularidades infantis, bem como a fase do desenvolvimento Valorizar os saberes e interesses das crianças e articulá‑los com os conhecimentos acumulados pela humanidade Garantir a educação integral: cuidar e educar; a operacionalização dos eixos do currículo: interações e brincadeiras; e priorizar as diferentes linguagens e campos de experiências Elaboração do planejamento pedagógico Figura 8 – Alguns aspectos considerados pela professora Rosa para a elaboração do planejamento pedagógico A professora Rosa deixou explícitas suas intenções pedagógicas ao listar o que deveria ser considerado no planejamento das atividades para a sua turma. O que fica evidente, na ação da docente, é a apropriação das DCNEI, especialmente da definição de currículo que, como abordado no tópico anterior é um “conjunto de práticas que buscam articular experiências e saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico,
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