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Introdução: Epidemiologia: 76% das mulheres e 57% dos homens tem algum tipo de cefaleia 10% da população em geral sofre de enxaqueca A cefaleia tensional é a mais comum Classificação: As cefaleia são classificadas em: Primárias: → Cefaleias Tensionais → Cefaleia Trigeminal/Tipo salva → Cefaleia Migrânea/Enxaqueca → Cervicogênica → Hemicrania Paroxística Crônica/Cefaleia Crônica Diária (ocorre geralmente por muita medicação analgésica e uma cefaleia normal acaba se cronificando) 1. CEFALEIA MIGRÂNEA/ENXQUECA: Epidemiologia: Acomete 22% das mulheres e 15,8% dos homens e possui pico entre 30-50 anos de idade A migrânea sem aura corresponde a 75% dos casos enquanto a com aura 25% Características da Enxaqueca/Migrânea: Sintomas premonitórios: são os sinais que precedem a cefaleia por horas ou até mesmo dias (paciente apresenta irritabilidade, raciocínio e memorização mais lentos, desanimo e avidez por alguns tipos de alimento) Aura: é um complexo de sintomas neurológicos que se desenvolve gradualmente (ao longo de no mínimo 5 min podendo perdurar até 60min). A aura típica é um distúrbio visual no qual há pontos fosfenos, perda ou distorção de um dos hemicampos visuais ou parte deles. Características da dor: de forte intensidade, pulsátil, piorando com as atividades diárias ou até mesmo impedindo de realizar as mesmas. A dor é unilateral em 75% das crises, geralmente mudando de um lado de uma crise para outra. Duração da dor: 4-72 horas Sintomas associados: geralmente pode haver náuseas, vômitos, fonofobia e fotofobia Fase de recuperação: paciente necessita de um período de repouso para seu completo reestabelecimento Manejo Clínico: Manter paciente em ambiente de repouso sob penumbra, ambiente tranquilo e silencioso Quando a dor <72h pode-se: I. administrar antiemético parenteral se vômitos ou uso prévio de medicações: dimenidrato 30mg por via intravenosa (IV) diluído em 100ml de soro fisiológico a 0,9% ou dimenidrato 50 mg por via intramuscular (IM); II. recomenda-se jejum, com reposição de fluidos (soro fisiológico 0,9%) por via intravenosa (IV) se houver indícios de desidratação; III. dipirona 1 grama (2 ml) IV diluído em água destilada (8ml); III. Cetoprofeno 100mg IV diluído em soro fisiológico 0,9% (100ml) ou 100mg IM. IV. Reavaliar paciente em 1 hora; se não houver melhora, prescrever sumatriptano 6mg subcutâneo (1 seringa com 0,5ml), repetindo a dose, se necessário, em 2 horas. Se houver melhora de a dor dar alta ao paciente PALESTRA 5: NEUROLOGIA Contexto Emergencial das Cefaleias cefaleia na emergência Se piora da dor ou não melhora o paciente deve ser avaliado por neurologista Em casos de dor há >72h: I. jejum e acesso venoso para reposição de fluidos se necessário. Infundir soro fisiológico a 0,9% 500ml em pinça aberta; II. Tratamento da crise como citado anteriormente associado a dexametasona 10mg (ampola 10mg/2,5ml) IV lento. III. Se não melhorar com dexametasona e estiver na urgência da UBS encaminhar o paciente para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde deverá ser prescrito: clorpromazina 0,1-0,25mg/kg IM (ampola 25 mg/5 ml); manter infusão de soro fisiológico a 0,9%; IV. Se em 1 hora o paciente mantiver a dor, repetir clorpromazina por até três vezes, no máximo Se houver melhora clínica, o paciente recebe alta da UPA com encaminhamento para acompanhamento ambulatorial na UBS para que seja encaminhado a um ambulatório não hospitalar de neurologia Se não houver melhora da dor após as três doses de clorpromazina, acionar CR e encaminhar paciente para hospital terciário, onde será realizada avaliação por neurologista e tomada conduta específica Após internação em hospital terciário, o paciente deve ser redirecionado à atenção básica (UBS) por meio de contrarreferência descrevendo o tratamento realizado e as orientações a serem seguidas, com data de retorno em hospital terciário, se houver Obs.1: Não prescrever opioide para o tratamento da crise de enxaqueca, existem medicações mais eficazes que não têm o risco de abuso e dependência. 2. CEFALEIA TENSIONAL: Epidemiologia: Acomete principalmente mulheres e possui prevalência a partir dos 40 anos de idade Características da Cefaleia tensional: É uma dor menos intensa que a da enxaqueca, podendo acometer bilateralmente (principal), occipital ou holocraniana. Surge mais comumente no final da tarde e está associada a estresse físico (cansaço, exagero de atividades físicas, especialmente sob calor ou sol), causa muscular (posicionamento do pescoço no sono ou trabalho) ou por causas emocionais. OBS: ao contrário da enxaqueca não impede de realizar as atividades diárias. Características da dor: fraca a moderada, sensação de aperto ou pressão (dor em faixa), na maioria das vezes bilateral, mas pode ser frontal, occipital ou holocraniana. Duração da dor: 30 min – 7 dias Sintomas associados: por vezes pode ocorrer hiperestesia (aumento da sensibilidade) e hipertonia da musculatura pericraniana que pode ser evidenciada na palpação cuidadosa. Fase de Recuperação: geralmente rápida após uso de analgésicos comuns (dipirona, paracetamol...) Manejo Clínico: • Orientar sobre a baixa gravidade do quadro, ou seja, sobre a NÃO necessidade de ser feito exames complementares e encaminhamento a especialista. • Orientação de medidas educativas/não farmacológicas como sono regular, evitar bebidas alcoólicas, controle do estresse (por meio de técnicas de relaxamento, atividade física leve, lazer) • Prescrição de analgésicos simples (paracetamol 750mg-1g), dipirona 500mg-1g, ambos de 6-6h, ou AINES (ibuprofeno 400-800mg, diclofenaco 50mg) ambos de 8-8h, ou cetoprofeno sódio 500mg – 8- 8h; esses fármacos associados a cafeína aumentam a eficácia analgésica. A maioria das crises é resolvida com uma dose de analgésico comum, sendo a escolha feita de acordo com a experiência anterior do paciente e a tolerância à droga. Se não há resposta em 1 ou 2 horas com uma medicação, pode-se usar outra. 3. CEFALEIA TRIGEMINAL/EM SALVAS: Epidemiologia: Acomete principalmente homens (85% dos casos), geralmente após os 20 anos, sendo mais comum entre 30-50 anos. Características da Cefaleia em salvas/Trigeminal: A doença evolui em surtes de 1 a 3 meses de duração (salvas), quando o paciente experimenta de uma a oito crises por dia e frequentemente é despertado a noite pela crise de dor. Uma das principais características é a periodicidade da cefaleia em salva, geralmente ela acomete por um período e após o paciente fica meses ou anos sem crises e depois ela volta a surgir. Características da dor: Dor excruciante (muito intensa), de duração limitada, unilateral e com sintomas de alteração autonômicas (hiperemia conjuntival e/ou lacrimejamento, congestão nasal e ocular, rinorreia, edema palpebral, rubor facial, miose e/ou ptose ipsilaterais). Duração da dor: 15-180 minutos Sintomas associados: pode haver sensação de inquietude e agitação (devido a dor o paciente não consegue ficar parado) Fase de Recuperação: melhora após uso de oxigênio 100% com máscara facial Manejo Clínico: Administrar oxigênio a 100%, em máscara sem recirculação, com fluxo de 10- 12 l/min durante 20 minutos, ou sumatriptano 6mg por via subcutânea se disponível. Caso o paciente tenha utilizado algum medicamento vasoconstrictor, o sumatriptano deve ser evitado. Analgésicos comuns e opioides são ineficazes e não devem ser utilizados. Após melhora do quadro álgico, o paciente deve ser orientado a evitar fatores desencadeantes (bebidas alcoólicas e substâncias voláteis), até o final do período de crises. O médico da urgência deve encaminhar o paciente para avaliação pelo neurologistaem nível secundário, dentro do sistema de referência e contrarreferência Secundárias: São provocadas por doenças (cefaleia por lesão expansiva, hemorragia cerebral, intoxicação, disfunção endócrina, infecção sistêmica Incidência das Cefaleias na Urgência: As primarias são mais comuns entre 10-49 anos Em <10 anos prevalecem as secundárias (principalmente associadas a tumores do SNC, tumores, malformações do SNC) Em >50 anos é maior a incidência das primárias, havendo casos de secundaria também Atendimento das Cefaleias na Urgência: • Proporcionar pronto atendimento • Dispor de um ambiente de repouso com pouca luminosidade e silêncio • Equipe médica e pessoal de apoio adestrado para atendimento de emergências • Capacidade de realizar exame laboratoriais básicos, radiografias simples, tomografia computadorizada e exame do liquido cefalorraquidiano Diagnóstico: 1. História Clínica/Anamnese: Características da cefaleia, tais como: → Localização da dor: holocraniana (na cabeça toda, mais associada a cefaleias secundárias), hemicraniana (apenas um lado, mais associada a cefaleia primárias) → Frequência da dor: se a dor é intermitente a gravidade é menor (primarias), se for crônica (não passa) é mais associada a características graves como tumores. → Duração da dor: dias, horas, minutos → Intensidade de dor: inicio e forma; importante saber se é a primeira vez (deve-se suspeitar de gravidade), se a dor é recorrente (menos grave); se o paciente sempre tem dor mas aquela dor é diferente significa que ela iniciou agora (deve-se preocupar com prognóstico) → Agravamentos: saber se HIC aumenta a dor (forca para evacuar, ao deitar-se) → Acompanhamentos: saber quais sintomas acompanham a dor (alteração visual, outros sinais) → Aura: característico de cefaleia migrânea → Fatores deflagradores das crises: mais associados a primarias, pelo momento de estresse → Respostas anteriores a medicamentos: se passou ao tomar algum medicamento Outros fatores importantes na história clínica são: → Histórico familiar → Abuso de medicação → Doenças coexistentes Sinais de alarme: • Primeira ou pior cefaleia da vida (pode ser hemorragia subaracnóidea – HSA) • Início súbito ou recente • Início >50 anos • Intensidade e frequência progressiva e persistentemente maiores • História de neoplasia ou HIV positivo • Alteração no exame neurológico • Febre ou outros sinais de doença sistêmica/sinais meníngeos • Paciente com histórico de traumatismo craniano • Mudanças nas características da cefaleia • Cefaleia persistentemente unilateral • Cefaleia associada ao esforço físico extenuante • Refratariedade ao tratamento/tratamento ineficiente 2. Exame neurológico: Busca por anormalidades 3. Exames complementares: busca por anormalidades; não são necessários em pacientes adultos com cefaleia recorrente que preencha os critérios de enxaqueca, incluindo aquelas com aura visual, sem mudança de padrão recente (1 ano), sem história de convulsões e sem outros sintomas e sinais neurológicos focais → Tomografia Computadorizada: usada para afastar metástases, tumores etc. → Exame de líquor: em suspeita de meningite ou hemorragia subaracnóidea; o exame detecta a presença ou ausência de sangue ou células inflamatórias. Usado para diferenciar hemorragia subaracnóidea de meningite → Eletroencefalograma: não há indicação para cefaleia; usado em alteração ou perda de consciência, ou quando há sintomas neurológicos transitórios sem cefaleia (não e o caso aqui) FLUXOGRAMA DE MANEJO DO PACIENTE COM CEFALEIA: Tratamento Geral: • Dores leve/moderada: AAS (100mg) ou paracetamol (1000mg) • Dor moderada: dipirona 1g, diluído em água destilada, IV + bromoprida 10mg IV OU: - Tenoxican 20mg, diluído em água destilada, IV + bromoprida q0mg IV - Sumatriptano (50mg) ou rizatriptano (10mg) ou zolmitriptano (2,5mg) • Dor Intensa: tenoxican (20mg) diluído em água destilada, IV + bromoprida 10mg IV ou sumatriptano (6mg) • Status enxaquecoso: internar o paciente para excluir cefaleia secudaria, hidratar e fazer reposição eletrolítica (dexametasona) + clorpromazina (clamante) + infusão de soro fisiológico se necessário OU meperidina 2ml (100mg) diluídos em 1ml a cada 30 min até a dor ceder. Se a dor é muito intensa o tratamento é profilático • Cefaleia em salva: tratamento com inalação de O2 a 100% de 7 a 10l/min por 15 min; sumatriptano 6mg é uma alternativa assim como lidocaína nasal; orientar para tratamento profilático Erros Frequentes na Emergência: • Associar cefaleia a HAS, na qual hemorragia subaracnóidea não é lembrada • Associação entre cefaleia e ingesta alcoólica. Pacientes alcoolizados e com cefaleia devem ser reavaliados repetidamente pelo risco de hematomas intracranianos ou de trauma cranioencefálico inaparente. • Cefaleia em idosos, na qual lesões estruturais ou arterite temporal não são cogitadas. • Cefaleia em idosos com rigidez de nuca erroneamente interpretada como secundaria a artrose cervical. • Cefaleia em gestantes nas quais HIA benigna e pré- eclâmpsia podem assemelhar-se a enxaqueca. • Odontalgia ou pulpite diagnosticada como nevralgia do trigêmeo • Lembrar de examinar a cavidade oral • Glaucoma agudo não diagnosticado, lembrar que tal afecção caracteriza-se como urgência oftalmológica que as vezes se inicia com cefaleia • Sinusite esfenoidal diagnosticada como cefaleia primaria Referências: PROTOCOLO NACIONAL PARA DIAGNÓSTICO E MANEJO DAS CEFALEIAS NAS UNIDADES DE URGÊNCIA DO BRASIL - 2018 Academia Brasileira de Neurologia – Departamento Científico de Cefaleia Sociedade Brasileira de Cefaleia - José Geraldo Speciali1 , Fernando Kowacs2 , Mauro Eduardo Jurno3 , Igor Silvestre Bruscky4,5, João José Freitas de Carvalho6,7, Francisca Goreth Malheiro Moraes Fantini8 , Elmano Henrique Torres de Carvalho9 , Leopoldo Antônio Pires10, Daniel Borges Fialho2 , Gilmar Fernandes do Prado11 - https://sbcefaleia.com.br/images/file%205.pdf https://sbcefaleia.com.br/images/file%205.pdf
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