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VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Princípios e Diretrizes do SUS Princípios doutrinários Regem; são fundamentos; traduzem o que o SUS tem como objetivo; de que jeito o SUS lida com os desafios, tentar aproximar o teórico da prática. - Universalidade: Todos têm direito ao acesso as ações e serviços de saúde, independente de renda, sexo, ocupação ou outras características pessoais ou sociais. Acesso para todos. Direito assegurado pela Constituição Federal. - Equidade: É um princípio de justiça social; visa atender de forma desigual os desiguais; investir mais onde a carência é maior. Ofertar estratégias para o acesso. - Integralidade: Reconhece que o indivíduo é um ser integral, participativo no processo saúde-doença; atendimento integral, com prioridade para a atenção preventiva; oferta de ações e serviços; traço da boa medicina (articulação entre a prevenção e a necessidade imediata). Oferta de ações e serviços de saúde nas diferentes densidades tecnológicas. * diferença de complexidade e densidade tecnológica: baixa densidade tecnológica não significa que não há complexidade. * 3 tipos de tecnologia: Leve (foco no paciente, leva em consideração o tipo de relação de saúde e o usuário/paciente - relações, poder - PTS), Leve-Dura (protocolos, medicamentos) e Dura (equipamentos, robótica, tecnologias avançadas). Princípios organizativos Gestão; como operacionalizar o que o SUS precisa fazer. - Regionalização e Hierarquização: Pensa a divisão de um estado em diferentes áreas (ex: Estado de SP é dividido em 17 regiões de saúde, cada uma delas com uma DRS). - Descentralização: Autonomia. - Participação da comunidade: Lei nº 8142; fortalecimento das instâncias colegiadas; Conselho Regional de Saúde (conselhos são permanentes e deliberam, ou seja, fiscalizam, fazem reinvindicações; já as conferências não são permanentes, sendo convocadas com uma periodicidade definida e são consultivas); fiscalização/ controle mais direto. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Medicina e Direitos Humanos Direitos Humanos É uma normativa de valores. Na sua origem, a palavra direito significa exatamente aquilo que é reto, correto ou justo. Direitos não são apenas demandas por justiça são também o reconhecimento de que algo nos é devido. Direitos não são favores, súplicas ou gentilezas se existe um direito há um débito e uma obrigação correlata. A cada direito corresponde um dever. Ter um direito é ser beneficiário de um dever correlativo por parte de outras pessoas ou do próprio Estado. Dizer que existe um dever correspondente a um direito não significa que os direitos possuam, necessariamente, eficácia, isto é, que eles sempre consigam produzir efeitos concretos na realidade. Para que os direitos não sejam apenas frases escritas em um pedaço de papel, mas se convertam em obrigações plenamente realizadas, faz-se necessária a existência de instrumentos jurídicos. Direitos guardam relação com a forma como pensamos o que é o ser humano e como deve ser sua relação com os outros seres humanos. Seres humanos são detentores de determinados direitos em razão de sua dignidade. Podemos avaliar as coisas pelo preço ou pela dignidade. Os seres humanos devem ser sempre tratados com respeito. Cada vez que usamos alguém como coisa, isto é, como instrumento para a obtenção de algo, estamos a violar a sua dignidade e, consequentemente, a desrespeitar seus direitos. O que é justo perante a lei. Prerrogativa legal, conferida a alguém, para exigir de outrem algum procedimento. Privilégio de praticar ou não um determinado ato. Autorização legal para a realização de uma ação. Conjunto de normas jurídicas que funcionam como referencial de justiça. Privilégios que a lei permite a alguém. “Comumente compreendidos como aqueles direitos inerentes ao ser humano”. “Um conjunto de faculdades e definições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional”. Em resumo → “um conjunto mínimo de direitos necessário para assegurar uma vida do ser humano baseada na liberdade, igualdade e na dignidade”. Não estão personificados em uma única pessoa, ou grupo de pessoas, sejam elas ligadas ao Estado, ao governo ou particulares. Os direitos humanos não possuem (e não deveriam ser assim tratados) um viés ideológico, seja ele político, ou partidário. Os direitos humanos são “faculdades e definições”, “um conjunto mínimo de direitos”. Política de Estado: Política de direitos inserida na Constituição Federal, ex: SUS. Política de Governo: Partido eleito legitimamente pode exercer sua função por um determinado tempo. Essa política pode trabalhar a Política de Estado e desenvolver contornos específicos (ex: Barueri não tem a ESF, mas não pode negar assistência a saúde da população – não pode ir contra os princípios do SUS). O Governo é o operador do aparelho do Estado. Política Setorial: Políticas organizadas por setores/políticas sociais que estão pensando no bem-estar da população (saúde, educação). VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C No dia 10 de dezembro de 1948, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou e proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Os Direitos Humanos na Formação do Profissional de Medicina VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Determinantes Sociais de Saúde, Vulnerabilidades e Políticas de Promoção de Equidade Evolução do conceito ‘saúde’: - Saúde = ausência de doenças. - Saúde = qualidade de vida. Determinantes Sociais da Saúde (DSS) Relação estabelecida entre saúde e condições sociais. Entendimento da saúde numa perspectiva ampla. Considerar a dimensão cotidiana da vida, com os aspectos: Subjetivos, Relacionais, Comunitários, Políticos, Econômicos e Sociais. Vulnerabilidade Vulnerare: ferir, lesar, prejudicar. Bilis: suscetível. Estado de ser/estar em perigo ou exposto a potenciais danos em razão de uma fragilidade atrelada à existência individual, eivada de contradições. Ser humano vulnerável: - Não necessariamente sofrerá danos, mas está a eles mais suscetível em função de sua cidadania fragilizada. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C - Pode possuir ou ser apoiado para criar as capacidades necessárias para a mudança de sua condição este modo, a vulnerabilidade não se trata apenas de uma condição natural que não permite contestações: o estado de vulnerabilidade associa situações e contextos individuais e, sobretudo, coletivos. Uma vulnerabilidade individual pode refletir elementos que dizem respeito a um grupo/território. O termo difundiu-se justamente no campo da saúde pública: - Década de 80: epidemia da AIDS. - A incidência do vírus passou a ser articulada com o contexto socioeconômico tentativa de compreender quais grupos sociais e indivíduos poderiam estar mais ou menos vulneráveis à vitimização pela epidemia. - Coloca em evidência as incapacidades das práticas de cuidado e prevenção no campo da saúde para dar conta deste agravo. Do Risco a Vulnerabilidades em saúde RISCO: “chances matemáticas” de exposição a eventos de saúde que comprometem fisicamente, psicologicamente ou socialmente indivíduos de um grupo específico, fazendo com que os mesmos adoeçam ou até morram devido aos agravos de saúde. VULNERABILIDADE: compreensão e análise reflexiva dos “potenciais” de adoecimento, de não-adoecimento e de enfrentamento que todo e cada indivíduo tenha em um conjunto de condições de vida. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C GRUPO DE RISCO Identificação de subgrupos com maior chance deter pessoas com aids do que na população geral. “GRUPOS DE RISCO”: homossexuais, hemofílicos, haitianos e usuários de heroína, nomeados “quatro Hs”. A prevenção era pautada no isolamento sanitário destes subgrupos como “BARREIRA À TRANSMISSÃO”. Problemática do conceito de GRUPOS DE RISCO: - Mídia e opinião pública: período de “quarentena” afastando as pessoas do trabalho, escola, família, etc. - Isolamento dos grupos de risco: acabaram por acirrar preconceitos e discriminação. - Retardou a identificação da suscetibilidade das pessoas que não se incluíam nestes grupos. COMPORTAMENTO DE RISCO Novo conceito: Comportamento de risco. Identificação dos comportamentos que efetivamente expõem as pessoas ao HIV. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Universalização da preocupação com a aids (qualquer pessoa pode adotar um comportamento de risco e se expor ao vírus). Ao universalizar a preocupação com a epidemia, o conceito de comportamento de risco também buscou estimular o envolvimento ativo das pessoas com a prevenção, por meio da busca de transformação de seus comportamentos. Problemática do conceito de COMPORTAMENTO DE RISCO: - Aumenta da “culpabilização” individual, atribuindo ao indivíduo infectado TODA RESPONSABILIDADE pela aquisição do vírus falha do indivíduo no esforço à prevenção. VULNERABILIDADE Surge um novo instrumental para compreender e intervir sobre a epidemia de aids: Vulnerabilidade. Mudança no perfil da epidemia afetando grupos sociais com menor poder social. Diálogo entres as disciplinas/ciências médicas, sociais, humanas e destas com os movimentos sociais. Compreensão de que, para além dos aspectos biológicos, os ASPECTOS ESTRUTURAIS interferiam no processo de infecção e adoecimento das populações. “A noção de vulnerabilidade busca responder à percepção de que a chance de exposição das pessoas ao HIV e ao adoecimento pela aids não é a resultante de um conjunto de aspectos apenas individuais, mas também coletivos, contextuais, que acarretam maior suscetibilidade à infecção e ao adoecimento, e, de modo inseparável, maior ou menor disponibilidade de recursos de todas as ordens para se proteger de ambos.” Vulnerabilidade e Direitos Humanos em saúde “Vulnerabilidade designa grupos ou indivíduos fragilizados, jurídica ou politicamente, na promoção, proteção ou garantia de seus direitos de cidadania”. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Vulnerabilidade em Saúde Pública: implicações para as políticas públicas O conceito de vulnerabilidade porta um sentido de susceptibilidade, ou seja, as características que nos deixam aptos a sermos lesados por um evento externo qualquer. Na vida em sociedade os eventos externos potencialmente causadores de danos podem ter naturezas diversas. Reconhecimento de que a susceptibilidade e o grau de risco não se distribuem ao acaso no conjunto da sociedade e, consequentemente, a gravidade da vulnerabilidade não é a mesma entre todos os membros de uma sociedade. Os grupos mais susceptíveis tanto em frequência como em magnitude das lesões são invariavelmente os grupos sociais em desvantagem socioeconômica. Em saúde pública é consensual o reconhecimento de que os grupos com piores condições socioeconômicas têm uma maior carga de doença, tanto crônicas como agudas, maior carga de incapacidades físicas e mentais em idade mais precoce, sofrem maior número de acidentes domiciliares ou urbanos, têm menor acesso aos cuidados de saúde em todos os níveis e esses cuidados quando prestados têm menor qualidade. Desta forma, conceituaríamos vulnerabilidade em saúde pública como o estado de sujeitos e comunidades nos quais a estrutura de vida cotidiana, determinada por fatores históricos ou circunstanciais momentâneos tem influência negativa sobre os fatores determinantes e condicionantes de saúde. Independente da natureza e extensão das políticas públicas, todas pressupõem, ao menos, quatro fases para seu desenvolvimento: 1) reconhecimento de uma demanda social; 2) tomada de decisão para execução de uma política pública dirigida àquela demanda; 3) planejamento das ações e cálculo de custo; 4) implementação, manutenção e supervisão da política em curso. É evidente que quanto mais significativa for a parcela da população em situação de vulnerabilidade em saúde pública, mais difíceis se tornarão as possibilidades de suas necessidades serem atendidas a curto ou médio prazo por meio das políticas públicas de saúde. A dificuldade de organização dos grupos vulneráveis para reivindicar o atendimento às suas demandas traz implicações consideráveis para as políticas públicas de saúde, pois impõe aos planejadores e gestores o desenvolvimento de estratégias de busca ativa de demandas. Para isso as instituições governamentais ou não governamentais devem contratar especialistas para elaborar ações e discursos adequados visando organizar a produção do conhecimento, o acesso a serviços e o fornecimento de informações sobre saúde aos grupos vulneráveis, alvos dessas políticas. O Bem-Estar Social é um somatório de bem-estar individual. Desta forma, a diversidade cultural dos grupos alvos potencializa os impactos da vulnerabilidade e torna necessário o desenvolvimento de metodologias de formulação e implementação, nas quais essa diversidade seja não apenas levada em conta, mas considerada como elemento indispensável para o desenvolvimento do potencial de eficiência das políticas. As implicações da vulnerabilidade para as políticas públicas de saúde precisam ser consideradas tanto pelo viés quantitativo da identificação de grupos vulneráveis e seus déficits de bens, serviços, oportunidades e escolhas, quanto pelo viés qualitativo da interação com os universos simbólicos e subjetividades envolvidas na geração de demandas. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Saúde da população LGBTQIA+ Antecedentes históricos 1975: CID-9: 302.1 – Desvios e transtornos sexuais: Homossexualismo. 1990: OMS retirou a homossexualidade da lista de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a saúde (CID-10). Porém: CID-10: F.66.1 Orientação sexual egodistônica: desconforto e sofrimento psíquico em decorrência de questões sobre a aceitação da homossexualidade. - CID-11: Incongruência de gênero na adolescência e vida adulta. Contexto histórico no Brasil 2002: Resolução CFM: liberação ética da cirurgia para mulher trans (a cirurgia para homem trans exige uma tecnologia maior, que não estava disponível em 2002, por isso foi liberada apenas para mulheres trans). 2008: Diretrizes Nacionais para o Processo Transexualizador no SUS. 2010: Resolução CFM: autorização da cirurgia para homem trans (já havia condições médicas, científicas e sociais para a cirurgia no homem trans). VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C 2011: Política Nacional de Saúde Integral da população LGBT (é um documento norteador de um problema e uma solução, que fazer recomendações/ coloca diretrizes, mas não é uma lei). 2013: Parecer CFM 08/2013 – regulamenta a hormonioterapia para pessoas com “TIG” (transtorno de incongruência de gênero). 2013: Portaria 2.803: Redefine e amplia o Processo Transexualizador no Sistema Único de Saúde (SUS). 2019: Resolução CFM (vigente): ampliação do acesso ao atendimento a essa população na rede pública; critérios para maior segurança na realização de hormonioterapia e cirurgias de adequação sexual. Alguns conceitos fundamentais Gênero e Saúde - Questionamentos desde meados do século XX: “O processo de atribuição de sentido ou o ato de interpretar socialmente a diferença sexual instaurada nos corpos de homens e mulheres(Laqueur, 2001) dá margens para uma classificação social dos atributos quer como femininos ou como masculinos, como se a “ordem natural” imanada dos corpos, assim produzidos e demarcados, fosse o sustentáculo da “ordem social”, hierarquicamente organizada com predominância do valor positivo ao masculino.” Associa o sexo a uma posição social. A associação positiva está para o masculino e a negativa para o feminino. Tendência a pensar o social derivado do biológico. Hoje, a discussão sobre gênero avançou e está pautada sobretudo na autodeterminação das identidades (o que eu me entendo com base nas minhas referências – eu defino como eu quero me identificar e parecer no mundo): “novas experiências subjetivas, novos desejos e novas mutações corporais, rompendo com a compreensão binária antes prevalente”. (Brandão e Alzuguir, 2019). Questiona o binarismo entre FEMININO e MASCULINO, e a associação automática entre SEXO BIOLÓGICO e GÊNERO. Identidade de gênero: Cisgeneridade e Transgeneridade “A identidade de gênero de uma pessoa é autodeterminada a partir de suas próprias referências, independentemente do gênero designado ao nascimento [...] Uma pessoa cisgênero se reconhece com o gênero designado ao nascimento [...] Uma pessoa transexual passa por esse processo de questionar o gênero atribuído ao nascimento e de não se reconhecer nele.” (São Paulo, SMS-SP, 2020). Mulher transexual é toda pessoa que reivindica o reconhecimento social e legal como mulher. Homem transexual é toda pessoa que reivindica o reconhecimento social e legal como homem. Orientação sexual “Orientação sexual é a atração afetiva e/ou sexual que uma pessoa sente pela outra. A orientação sexual existe num continuum que varia desde a homossexualidade exclusiva até a heterossexualidade exclusiva”. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C ORIENTAÇÃO SEXUAL é diferente de GÊNERO. Pessoas transgênero são como as cisgênero, podem ter qualquer orientação sexual. Ex: Pessoa nasceu mulher, mas se reconhece como homem e se interessa por mulheres, então essa pessoa é um homem trans heterossexual. POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS Instituída pela Portaria nº 2.836, de 1º dez de 2011 Dec. 80 e 90: Movimento civil de gays, travestis, lésbicas e bissexuais no enfrentamento da epidemia do HIV/Aids. 2004: “Brasil sem Homofobia – Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLTB e de Promoção da Cidadania Homossexual” (Presidência da República). 2006: conquista de representação no Conselho Nacional de Saúde (CNS). 2007: na 13ª Conferência Nacional de Saúde, a orientação sexual e a identidade de gênero são incluídas na análise da determinação social da saúde. 2008: 1ª Conferência Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. 2009: Discussões legitimadas em uma política voltada à saúde LGBT. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Objetivos específicos selecionados I - instituir mecanismos de gestão para atingir maior equidade no SUS, com especial atenção às demandas e necessidades em saúde da população LGBT, incluídas as especificidades de raça, cor, etnia, territorial e outras congêneres; IV - qualificar a informação em saúde no que tange à coleta, ao processamento e à análise dos dados específicos sobre a saúde da população LGBT, incluindo os recortes étnico-racial e territorial; VI - garantir acesso ao processo transexualizador na rede do SUS, nos moldes regulamentados; VIII - reduzir danos à saúde da população LGBT no que diz respeito ao uso excessivo de medicamentos, drogas e fármacos, especialmente para travestis e transexuais; IX - definir estratégias setoriais e intersetoriais que visem reduzir a morbidade e a mortalidade de travestis; X - oferecer atenção e cuidado à saúde de adolescentes e idosos que façam parte da população LGBT; XI - oferecer atenção integral na rede de serviços do SUS para a população LGBT nas Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), especialmente com relação ao HIV, à AIDS e às hepatites virais; XII - prevenir novos casos de cânceres ginecológicos (cérvico uterino e de mamas) entre lésbicas e mulheres bissexuais e ampliar o acesso ao tratamento qualificado; XIII - prevenir novos casos de câncer de próstata entre gays, homens bissexuais, travestis e transexuais e ampliar acesso ao tratamento; XVII - garantir o uso do nome social de travestis e transexuais, de acordo com a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde; XX - reduzir os problemas relacionados à saúde mental, drogadição, alcoolismo, depressão e suicídio entre lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, atuando na prevenção, promoção e recuperação da saúde; XXI - incluir ações educativas nas rotinas dos serviços de saúde voltadas à promoção da autoestima entre lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais e à eliminação do preconceito por orientação sexual, identidade de gênero, raça, cor e território, para a sociedade em geral. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Saúde da população LGBTQIA+ (leitura complementar) Nos últimos anos o Brasil avançou no combate às desigualdades, com redução significativa da população em situação de miséria por meio das políticas públicas voltadas para as pessoas que vivem em condições de vulnerabilidades. No campo da saúde coletiva, as condições de desigualdade persistentes embora sujeitas à mudança são chamadas de iniquidades. Para combatê-las, o Ministério da Saúde e as demais esferas de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) vêm implementando as políticas de promoção da equidade, com o objetivo de diminuir as vulnerabilidades a que certos grupos populacionais estão mais expostos, e que resultam de determinantes sociais da saúde como os níveis de escolaridade e de renda, as condições de habitação, acesso à água e saneamento, à segurança alimentar e nutricional, a participação da política local, os conflitos interculturais e preconceitos com o racismo, as homofobias e o machismo, entre outros. Na prática as políticas de promoção de equidade em saúde formam um conjunto de ações e serviços de saúde priorizados em função da gravidade da doença, e ajudarão a alcançar, de forma igualitária e universal, o desafio maior do SUS: a garantia de acesso resolutivo, em tempo oportuno e com qualidade, às ações e serviços de saúde. O Ministério da Saúde, considerando a orientação sexual e a identidade de gênero como determinantes sociais da saúde e as desfavoráveis condições de saúde de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), e visando a redução das iniquidades e desigualdades em saúde neste grupo populacional, elaborou a Política Nacional de Saúde Integral de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Visa a redução das desigualdades por orientação sexual e identidade de gênero, assim como o combate à homofobia, lesbofobia e transfobia, e a discriminação nas instituições e serviços do Sistema Único de Saúde. O Plano Operativo da Política tem como objetivo apresentar estratégias para as gestões federal, estadual e municipal, no processo de enfrentamento das iniquidades e desigualdades em saúde desta população. A violência contra pessoas LGBTQI+ no Brasil é um fenômeno histórico. Na dimensão simbólica, a violência opera ora pelo recurso ao holofote lançado sobre a ideia de um modelo único e compulsório de família nuclear, cis, heterossexual e biparental, que apaga as diversidades sexuais e de gênero, ora pelo recurso aos estereótipos e estigmas que marcam LGBTQI+ como agentes desviantes, de contaminação e degeneração, recorrendo a discursos morais, sociais, biológicos, religiosos e médicos. Na dimensão corporal, a violência se materializa na forma de abandono, estupros “corretivos”, assassinatos e espancamentos. Ainda que diferentes, as violênciascorporais e simbólicas se sobrepõem, visando aniquilação, apagamento e silenciamento de sexualidades e expressões de gênero dissidentes do modelo único cis hétero historicamente imposto no Brasil, que ganhou força recentemente com a ascensão de movimentos moralistas anti-LGBTQI+ operados pela narrativa de suposta priorização da infância e da família. O Programa Brasil Sem Homofobia possui como princípios: A inclusão da perspectiva da não-discriminação por orientação sexual e de promoção dos direitos humanos de gays, lésbicas, transgêneros e bissexuais, nas políticas públicas e estratégias do Governo Federal, a serem implantadas (parcial ou integralmente) por seus diferentes Ministérios e Secretarias. A produção de conhecimento para subsidiar a elaboração, implantação e avaliação das políticas públicas voltadas para o combate à violência e à discriminação por orientação sexual, garantindo que o Governo Brasileiro inclua o recorte de orientação sexual e o segmento GLTB em pesquisas nacionais a serem realizadas por instâncias governamentais da administração pública direta e indireta. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C A reafirmação de que a defesa, a garantia e a promoção dos direitos humanos incluem o combate a todas as formas de discriminação e de violência e que, portanto, o combate à homofobia e a promoção dos direitos humanos de homossexuais é um compromisso do Estado e de toda a sociedade brasileira. Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Política Nacional de Saúde Integral LGBT) VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Orientação sexual é a atração afetiva e/ou sexual que uma pessoa sente pela outra. A orientação sexual existe num continuum que varia desde a homossexualidade exclusiva até a heterossexualidade exclusiva, passando pelas diversas formas de bissexualidade. Embora tenhamos a possibilidade de escolher se vamos demonstrar, ou não, os nossos sentimentos, os psicólogos não consideram que a orientação sexual seja uma opção consciente que possa ser modificada por um ato da vontade. A homossexualidade é a atração afetiva e sexual por uma pessoa do mesmo sexo. Da mesma forma que a heterossexualidade (atração por uma pessoa do sexo oposto) não tem explicação, a homossexualidade também não tem. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Política Nacional de Saúde Integral da População Negra - PNSIPN Por que saúde da população negra? PNSIPN faz parte das políticas de equidade (justiça social) Necessidade de estratégias/políticas que ampliem o acesso, uma vez que se trata de uma população com menor poder socioeconômico e historicamente marginalizada. O Ministério da Saúde reconhece que as condições de vida da população negra são resultados de injustos processos sociais, culturais e econômicos, presentes na história do Brasil, contribuindo para o desigual acesso a direitos e oportunidades, inclusive na saúde, é refletido no quadro epidemiológico, evidenciando as condições de vulnerabilidade desta população. É consenso na literatura científica a existência de doenças de maior prevalência na população negra em virtude do condicionamento de fatores genéticos, que atuariam em conjunto com fatores sociais e ambientais, e que teriam efeito direto na morbidade e mortalidade. Entre as doenças genéticas e hereditárias mais comuns, destacam-se: - Hipertensão arterial sistêmica; - Diabete mellitus tipo II; - HIV/IST; - Doença falciforme. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DA POPULAÇÃO NEGRA – PNSIPN A partir da publicação dessa Política, o Ministério da Saúde reconhece e assume a necessidade da instituição de mecanismos de promoção da saúde integral da população negra e do enfrentamento ao racismo institucional no SUS, com vistas à superação das barreiras estruturais e cotidianas que incide negativamente nos indicadores de saúde dessa população – precocidade dos óbitos, altas taxas de mortalidade materna e infantil, maior prevalência de doenças crônicas e infecciosas e altos índices de violência. MARCA Reconhecimento do racismo, das desigualdades étnico-raciais e do racismo institucional como determinantes sociais das condições de saúde, com vistas à promoção da equidade em saúde. OBJETIVO GERAL Promover a saúde integral da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnico- raciais, o combate ao racismo e à discriminação nas instituições e serviços do SUS. DIRETRIZES GERAIS da PNSIPN Incluir os temas racismo e saúde na formação e educação permanente dos trabalhadores e controle social da saúde; Ampliar e fortalecer a participação do movimento negro nas instâncias de controle social; Incentivar a produção do conhecimento científico e tecnológico em saúde da população negra; Promover o reconhecimento dos saberes e práticas populares de saúde, incluindo os das religiões de matriz africana; Implementar monitoramento e avaliação das ações de combate ao racismo e à redução das desigualdades étnico- raciais na saúde; Desenvolver processos de informação, comunicação e educação que reduzam vulnerabilidades, desconstrua estigmas, preconceitos e fortaleça uma identidade negra positiva. DESAFIOS PARA A OPERACIONALIZAÇÃO DA PNSIPN PROBLEMA: Dificuldade de acesso da população negra à atenção à saúde 1. Acesso da população negra nas redes de atenção à saúde; 2. Promoção e vigilância em saúde; 3. Educação Permanente em saúde e produção do conhecimento em saúde da população negra; 4. Fortalecimento da participação e do controle social; 5. Monitoramento e avaliação das ações de saúde para a população negra. PRECONCEITO: É a ideia ou opinião preconcebida, formada sem maior conhecimento, sem consideração dos argumentos ou dos sentimentos das pessoas que sofrem o preconceito. No caso do preconceito racial no Brasil, ele pode ser exteriorizado como suspeita, desconfiança, intolerância, medo, aversão, às vezes ódio a pessoas ou coletivos, sob pretexto do aspecto ou das marcas físicas e/ou culturais, os identificam como de uma raça ou etnia. DISCRIMINAÇÃO: Refere a atitude e/ou conduta, por pessoas pelo julgamento e explicitação de estereótipos de raça, sexo, idade, religião, ascendência nacional, origem social, opinião política, entre outros motivos. Significa “distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública”. INTOLERÂNCIA: É o não reconhecimento da possibilidade de outra verdade, outros valores, outras preferências, sentimentos, gostos, expressões, (religiosas, artísticas, culinárias...), formas de falar, de se vestir que não sejam iguais ou similares aos próprios. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C RAÇA: Para Almeida (2018), raça como classificação dos seres humanos é uma noção construída pela modernidade quando o homem se torna objeto científico da Biologia e da Física. Essas duas grandes áreas constroem uma explicação que a partir das características biológicas e geográficas das pessoas, definem-se as capacidades intelectuais, morais e psicológicas existentes entre as diferentes raças. Embora a inexistência de raças humanas tenha sido comprovada, raça continua sendo uma categoria política utilizada para justificar as desigualdades existentes. RACISMO: Para conceituar racismo, o autor recorre à categoria de discriminação racial que se refere aos diferentes modos de tratamentos de pessoas pertencentes a grupos raciais específicos. A prática da discriminaçãoracial é fundamentada nas relações de poder que determinados grupos detêm, usufruindo das vantagens que a categoria racial oferece. O racismo é efetivado através da discriminação racial estruturada, constituindo-se como um processo pelo qual as circunstâncias de privilégios se difundem entre os grupos raciais e se manifestam pelos espaços econômicos, políticos e institucionais. Almeida (2018) classifica o conceito de racismo em individual, institucional e estrutural de modo a tornar sua compreensão didática. A concepção individual do racismo é considerada mediante uma ideia de “patologia” de cunho individual ou coletivo atribuído a determinadas pessoas. O racismo individual ocorre por meio da discriminação racial, considerado pelo autor como uma concepção frágil e limitada, tendo em vista suas análises ausentes de contextos históricos e reflexões sobre os reais efeitos para a sociedade. Racismo individual: Patologia social, desarranjo individual (não é o Estado racista). A concepção institucional de racismo é considerada por Almeida (2018) como um avanço para os estudos das relações raciais, pois amplia a ideia existente de racismo como comportamento individual. O racismo institucional diz respeito aos efeitos causados pelos modos de funcionamento das instituições que concede privilégios a determinados grupos de acordo com a raça. Para o autor, as instituições estabelecem e regulamentam as normas e os padrões que devem conduzir as práticas dos sujeitos, conformando seus comportamentos, seus modos de pensar, suas concepções e preferências. Com base nessa ideia, “as instituições são a materialização das determinações formais na vida social” e derivam das relações de poder, conflitos e disputas entre os grupos que desejam admitir o domínio da instituição (ALMEIDA, 2018, p. 30). - Instituição: família, estado, governo, escola, igreja. Concepção estrutural de racismo que está intrinsecamente ligado ao racismo institucional que determina suas regras a partir de uma ordem social estabelecida. O racismo é uma decorrência da estrutura da sociedade que normaliza e concebe como verdade padrões e regras baseadas em princípios discriminatórios de raça. O racismo é parte de um processo social, histórico e político que elabora mecanismos para que pessoas ou grupos sejam discriminados de maneira sistemática. - Estrutural: processo sócio-histórico, tempo, espaço colonização mediada pela escravidão, o que estruturou o Brasil. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Política Nacional de Saúde Integral da População Negra - PNSIPN (leitura complementar) O racismo é uma das expressões mais fortes de desigualdade e atinge uma grande parcela da população brasileira. O racismo constitui todo um complexo imaginário social que a todo momento é reforçado pelos meios de comunicação, pela indústria cultural e pelo sistema educacional. Após anos vendo telenovelas brasileiras, um indivíduo vai acabar se convencendo de que mulheres negras têm uma vocação natural para o trabalho doméstico, que a personalidade de homens negros oscila invariavelmente entre criminosos e pessoas profundamente ingênuas, ou que homens brancos sempre tem personalidades complexas e são líderes natos, meticulosos e racionais em suas ações (ALMEIDA, 2020, p. 65). Quando falamos de racismo e economia, estamos falando de desigualdade, pois ser negro acaba sendo um determinante da desigualdade econômica e social. Em geral o salário da população negra é menor quando comparado à população branca, dentre outras desigualdades existentes. O Racismo Institucional coloca as pessoas de determinados grupos raciais ou étnicos em situação de desvantagem no acesso aos benefícios gerados pela ação das instituições e organizações Racismo estrutural seria, então, segundo o Portal de Brasil de Direitos, “a naturalização de ações, hábitos, situações, falas e pensamentos que já fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro, e que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial”. Na saúde, as desigualdades se refletem nos dados epidemiológicos que evidenciam a diminuição da qualidade e da expectativa de vida da população negra, tanto pelas altas taxas de morte materna e neonatal, como pela violência vivenciada de forma mais intensa por esse grupo populacional, sobretudo os homens jovens negros. A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN - Portaria nº 992 de 13 de maio de 2009) visa garantir a equidade na efetivação do direito humano à saúde da população negra em seus aspectos de promoção, prevenção, atenção, tratamento e recuperação de doenças e agravos transmissíveis e não-transmissíveis, incluindo aqueles de maior prevalência nesse segmento populacional. A construção da PNSIPN expressa o compromisso de governo com a diminuição das desigualdades e reafirma as responsabilidades de cada esfera de gestão do SUS na implementação de suas ações e na articulação com outros setores do governo e da sociedade civil, em especial com os movimentos sociais que representam a população negra. Dentre as principais diretrizes da política estão: a inclusão do tema "racismo e saúde" nos programas de educação permanente dos trabalhadores e do controle social da saúde; a ampliação da participação do movimento social negro nas instâncias de controle social; e o desenvolvimento de processos de informação, comunicação e educação que desconstruam os estigmas e preconceitos, reduzam as vulnerabilidades e fortaleçam os laços de solidariedade e respeito mútuo entre os diversos segmentos da população brasileira. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C O racismo causa impactos danosos que afetam significativamente os níveis psicológicos e psicossociais de qualquer pessoa. A prática do racismo e da discriminação racial é uma violação de direitos, condenável em todos os países. No Brasil, é um crime inafiançável, previsto em lei. Os impactos do racismo geram efeitos que incidem diretamente no comportamento das pessoas negras que normalmente estão associados à humilhação racial e à negação de si, que podem levar a diversas consequências inclusive às práticas de suicídio. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Indicadores da PNSIPN VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Indicadores da PNSIPN – Leitura complementar A intensa concentração de um viés racial entre as mortes violentas ocorridas no Brasil não constituiu uma novidade ou mesmo um fenômeno recente. Pelo menos desde a década de 1980, quando as taxas de homicídios começam a crescer no país, vê-se também crescer os homicídios entre a população negra, especialmente na sua parcela mais jovem. A desigualdade racial se perpetua nos indicadores sociais da violência ao longo do tempo e parece não dar sinais de melhora, mesmo quando os números mais gerais apresentam queda. Em 2019, os negros (soma dos pretos e pardos da classificação do IBGE) representaram 77% das vítimas de homicídios. A taxa de violência letal contra pessoas negras foi 162% maior que entre não negras. Os dados apontam, dessa forma, que a redução geral das taxas de homicídios se concentrou muito mais sobre a população não negra do que entre a população negra. As razões para isso são diversas: a associação de variáveis socioeconômicas e demográficas, que definem um lugar social mais vulnerável aos negros na hierarquia social e que limitam o seu acesso e usufruto às condições de vida melhores; a reprodução de estereótipos raciais pelas instituições do sistema de justiça criminal, sobretudo as polícias, que operam estratégias de policiamento baseadas em critérios raciais e em preconceitos sociais,tornando a população negra o alvo preferencial de suas ações; e a ausência de políticas públicas específicas que combatam as desigualdades vividas por essa parcela da população. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Ao analisarmos as proporções por raça/cor entre as vítimas de homicídios em 2019, podemos visualizar de forma mais evidente os níveis de desigualdade racial entre as UFs, especialmente porque em estados como Alagoas, o exemplo mais representativo, quase a totalidade das vítimas de violência letal são negras, mesmo com os negros constituindo uma proporção bem inferior a isso, 73,7% da população total. Em quase todos os estados brasileiros, um negro tem mais chances de ser morto do que um não negro, com exceção do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul que em 2019 apresentaram taxa de homicídios de não negros superior à de negros. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Povos Indígenas e o direito a saúde População Indígena do Brasil No século XVI – Estima-se 5 milhões de pessoas (entre 1 a 10 milhões), mais de mil etnias. Darcy Ribeiro, 1970, considerava que esses povos iam desaparecer, pelas altas mortalidades ou pela “assimilação” na sociedade nacional. - Assimilação: apagamento de uma cultura por conta de outra, “morrer” uma cultura. - Aculturação: processo de troca e adaptação cultural, sem desaparecer os traços culturais originários. Em 2000, eram 306.849, e em 2008, 538.154, em 2010 eram 896.900 (0,4% da população). VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Relação Estado e Povos Indígenas Relação dos indígenas com o Estado é de não existência. As etnias indígenas não trabalham com a figura do Estado. Do ponto de vista do indígena, o Estado é uma estrutura sem sentido, que não faz parte de sua cosmovisão. Poder Tutelar ou a “proteção dos indígenas” Década de 1920. Definido como o exercício do tipo de poder de Estado que incide sobre os povos indígenas: base da política indigenista brasileira. Regime de Tutela: proteção a um ser que não pode participar da vida civil. Envolveu a criação de administrações para definir e controlar essas populações. Segregação social. Insuficiência para a vida cívica. Vínculo de submissão/proteção. Tutor é quem tem a autoridade e o tutelado tem seu pensamento desautorizado. Sua base está na desigualdade entre sujeitos/grupos sociais. Final dos anos 1980: Processo de redemocratização O movimento da reforma sanitária se fortalece e converge com as pautas indigenistas: - 8ª. Conferência Nacional de Saúde, em 1986. - 1ª. Conferência de Proteção á Saúde do Índio, em 1986. - Revista Saúde em Debate (CEBES): Saúde do Índio, 1988. Assembleia Constituinte em 1987 - Constituição Cidadã em 1988: - Povos indígenas e União das Nações indígenas participam ativamente da emenda popular que vai desdobrar no capítulo dos direitos dos Índios: direitos socioculturais e territoriais. - Aprovado o direito a saúde e a criação do SUS. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C EQUIDADE: “As pessoas e os grupos sociais têm o direito a ser iguais quando a diferença os inferioriza, e o direito a ser diferentes quando a igualdade os descaracteriza”. 1ª Conferência Nacional de Proteção à Saúde do Índio: – União das Nações Indígenas – “A saúde das populações indígenas é resultante de alguns elementos fundamentais: acesso à posse da terra; grau de contato com a sociedade nacional; liberdade para viver a sua singularidade (padrões alimentares, de educação, de moradia e de trabalho); acesso à vacinação e serviços de saúde” (UNI, 1988). Lei Arouca - Lei Nº 9.836, de 23/09/1999 – Cria o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SASI) – Art. 19-F. Dever-se-á obrigatoriamente levar em consideração a realidade local e as especificidades da cultura dos povos indígenas e o modelo a ser adotado para a atenção à saúde indígena, que se deve pautar por uma abordagem diferenciada e global, contemplando os aspectos de assistência à saúde, saneamento básico, nutrição, habitação, meio ambiente, demarcação de terras, educação sanitária e integração institucional. - DSEI: Não respeita a divisão dos distritos/ estados; a divisão leva em conta a continuidade territorial da etnia. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas 2002. Garantir aos povos indígenas o acesso à atenção integral à saúde, de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde, contemplando a diversidade social, cultural, geográfica, histórica e política, de modo a favorecer a superação dos fatores que tornam essa população mais vulnerável aos agravos à saúde de maior magnitude e transcendência entre os brasileiros, reconhecendo a eficácia de sua medicina e o direito desses povos à sua cultura. Diretrizes do subsistema de saúde indígena: – Organização na forma de 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas; – Preparação de recursos humanos para a atuação em contexto intercultural; – Monitoramento das ações de saúde; – Articulação com sistemas tradicionais indígenas de saúde; – Promoção do uso adequado e racional de medicamentos; – Promoção da ética na pesquisa e nas ações; – Promoção de ambientes saudáveis e proteção da saúde indígena; – Controle Social. Atenção Diferenciada Diretriz para organizar o modelo de atenção: – Levar “em consideração as especificidades culturais, epidemiológicas e operacionais desses povos (PNASPI, 2002: 6)”, o que seria realizado mediante o desenvolvimento e uso de “tecnologias apropriadas por meio da adequação das formas ocidentais convencionais de organização de serviços (PNASPI, 2002:6)”; – Considerar “os sistemas de representações, valores e práticas relativas ao adoecer e buscar tratamento dos povos indígenas, bem como seus próprios especialistas” (PNASPI, 2002:8), dessa forma, aparecem como diretrizes a VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C preparação dos profissionais de saúde para a atuação em contexto intercultural e a articulação com os sistemas tradicionais de saúde indígenas. – A importância da participação dos indígenas na formulação, gestão e execução do sistema de saúde para garantir essa adequação e especificidade cultural. Estudos epidemiológicos e antropológicos - insucesso de políticas públicas de programação em saúde por não considerarem a “construção de sentido”, essas representações sociais sobre o processo de adoecimento entre os povos tradicionais (RODRIGUES et al, 2015). Articulação entre os serviços de saúde e as práticas de autoatenção realizadas por uma comunidade particular. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Saúde do Índio – Leitura complementar A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas dispõe sobre as condições de assistência à saúde dos povos indígenas. Com o propósito de garantir participação indígena em todas as etapas de formulação, implantação, avaliação e aperfeiçoamento da Política, a elaboração desta proposta contou com a participação de representante das organizações indígenas, com experiência de execução de projetos no campo da atenção à saúde junto a seu povo. A implementação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas requer a adoção de um modelo complementar e diferenciado de organização dos serviços, voltados para a proteção, promoção e recuperação da saúde e que garanta aos índios o exercício de sua cidadania nesse campo. Para sua efetivação, deverá ser criada uma rede de serviços nas terras indígenas, de forma a superar as deficiências de cobertura, acesso e aceitabilidade do Sistema Único de Saúde para essa população. Para que esses princípios possam ser efetivados, é necessário que a atenção à saúde se dê de forma diferenciada, levando-se em consideração as especificidades culturais, epidemiológicas e operacionais desses povos. Assim, dever-se-á desenvolver e fazer uso de tecnologias apropriadas por meio da adequação das formas ocidentais convencionais de organização de serviços. Durante a colonização portuguesa Uma política indigenista começou a se esboçar com inspiração positivista, em que os índios, considerados num estágio infantil da humanidade, passaram a ser vistos como passíveis de "evolução" e integração na sociedade nacional por meio de projetos educacionais e agrícolas. A assistência à saúde dos povos indígenas, no entanto, continuou desorganizada e esporádica. Década de 50 Criação do Serviço de Unidades Sanitárias Aéreas (SUSA), no Ministério da Saúde, com o objetivo de levar ações básicas de saúde às populações indígena e rural em áreas de difícil acesso. Essas ações eram essencialmente voltadas para a vacinação, atendimento odontológico, controle de tuberculose e outras doenças transmissíveis. Em 1967 Criação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que, baseando-se no modelo de atenção do SUSA, criou as Equipes Volantes de Saúde (EVS). Essas equipes realizavam atendimentos esporádicos às comunidades indígenas de sua área de atuação, prestando assistência médica, aplicando vacinas e supervisionando o trabalho do pessoal de saúde local, geralmente auxiliares ou atendentes de enfermagem. Em 1988 A Constituição Federal estipulou o reconhecimento e respeito das organizações socioculturais dos povos indígenas, assegurando-lhes a capacidade civil plena - tornando obsoleta a instituição da tutela - e estabeleceu a competência privativa da União para legislar e tratar sobre a questão indígena. Para debater a saúde indígena, especificamente, foram realizadas, em 1986 e 1993, a I Conferência Nacional de Proteção à Saúde do Índio e a II Conferência Nacional de Saúde para os Povos Indígenas. Ambas propuseram a estruturação de um modelo de atenção diferenciada, baseado na estratégia de Distritos Sanitários Especiais Indígenas, como forma de garantir aos povos indígenas o direito ao acesso universal e integral à saúde, atendendo às necessidades percebidas pelas comunidades e envolvendo a população indígena em todas as etapas do processo de planejamento, execução e avaliação das ações. A população indígena brasileira é estimada em, aproximadamente, 370.000 pessoas, pertencentes a cerca de 210 povos, falantes de mais de 170 línguas identificadas. Cada um destes povos tem sua própria maneira de entender e se organizar diante do mundo, que se manifesta nas suas diferentes formas de organização social, política, econômica e de relação com o meio ambiente e ocupação de seu território. Os povos indígenas enfrentam situações distintas de tensão social, ameaças e vulnerabilidade. A expansão das frentes econômicas (extrativismo, trabalho assalariado temporário, projetos de desenvolvimento) vem ameaçando a integridade do ambiente nos seus territórios e também os seus saberes, sistemas econômicos e organização social. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Embora precários, os dados disponíveis indicam, em diversas situações, taxas de morbidade e mortalidade três a quatro vezes maiores que aquelas encontradas na população brasileira em geral. A tuberculose é um dos agravos que acometem com maior frequência e severidade as comunidades indígenas. A infecção pelo HIV/Aids também é um agravo que tem ameaçado um grande número de comunidades. Para a definição e organização dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas deverão ser realizadas discussões e debates com a participação de lideranças e organizações indígenas, do órgão indigenista oficial, de antropólogos, universidades e instituições governamentais e não-governamentais que prestam serviços às comunidades indígenas, além de secretarias municipais e estaduais de Saúde. Cada distrito organizará uma rede de serviços de atenção básica de saúde dentro das áreas indígenas, integrada e hierarquizada com complexidade crescente e articulada com a rede do Sistema Único de Saúde. As Comissões Intergestores Bipartites são importantes espaços de articulação para o eficaz funcionamento dos distritos. As equipes de saúde dos distritos deverão ser compostas por médicos, enfermeiros, odontólogos, auxiliares de enfermagem e agentes indígenas de saúde, contando com a participação sistemática de antropólogos, educadores, engenheiros sanitaristas e outros especialistas e técnicos considerados necessários. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Com o objetivo de garantir o acesso à atenção de média e alta complexidades, deverão ser definidos procedimentos de referência, contra-referência e incentivo a unidades de saúde pela oferta de serviços diferenciados com influência sobre o processo de recuperação e cura dos pacientes indígenas (como os relativos a restrições/prescrições alimentares, acompanhamento por parentes e/ou intérprete, visita de terapeutas tradicionais, instalação de redes, entre outros) quando considerados necessários pelos próprios usuários e negociados com o prestador de serviço. A formação e a capacitação de indígenas como agentes de saúde é uma estratégia que visa favorecer a apropriação, pelos povos indígenas, de conhecimentos e recursos técnicos da medicina ocidental, não de modo a substituir, mas de somar ao acervo de terapias e outras práticas culturais próprias, tradicionais ou não. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Epidemiologia da Saúde Indígena VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C - Mortalidade infantil: < 1 ano. - Mortalidade na infância: < 5 anos. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Epidemiologia da Saúde Indígena – Leitura complementar Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS) no âmbito do Sistema Único de Saúde é uma conquista dos povos indígenas e essa população é a única que conta com um subsistema de atenção à saúde dentro do SUS. As ações de atenção primária à saúde indígena e de saneamento básico são realizadas nas terras e territórios onde vivem os povos indígenas e são desenvolvidas respeitando os saberes e as práticas tradicionais de saúde, mediante a organização da rede de atenção integral, hierarquizada e articulada com o SUS. Os territórios sob a responsabilidade de cada Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) podem abranger mais de um município e/ou Estado. Além disso, contempla ações de articulação com os serviços de média e alta complexidades, de modo a atender integralmente as necessidades de saúde dos indígenas, assim como o apoio para o acesso desses povos à referida rede de serviços. Pirâmide etária dos povos indígenas: alta taxa de natalidade, o que garante uma base larga à pirâmide, demonstrando uma população em pleno crescimento. A atenção à saúde da criança indígena é um desafio prioritário para a SESAI, considerando os indicadores de morbimortalidade entre as crianças menores de cinco anos que se mantêm superiores à média nacional, influenciado pelas condições socioeconômicas, como renda, educação, saneamento básico e água tratada. A ampliação do número de consultas de pré-natal por gestante continua sendo um desafio, considerando que essa estratégia é prioritária para reduzir ou evitar complicações durante a gravidez, parto e pós-parto, tanto para a mãe quanto para o filho. O risco nutricional tanto materno quanto nas crianças menores de cinco anos é um fator de vulnerabilidade a comorbidades que podem levar ao adoecimento e a mortalidade, considerada alta na população indígena. A análise de atendimentos por categoria profissional demonstra que, para todos os anos, as categorias de técnicos ou auxiliares de enfermagem apresentam a maior média de atendimentos realizados por habitante. De modo geral, pode-se observar que as coberturas vêm aumentando ao longo dos anos, apesar de ainda não estar, para a maioria das vacinas, nos patamares preconizados pelo PNI. A análise por grupo prioritário demonstra que a maior dificuldade tem sido em conseguir alcançar as coberturas preconizadas nas crianças menores de um ano de idade. Outros aspectos que interferem diretamente na melhoria da cobertura vacinal, além das dificuldades logísticas são: limitação na oferta de alguns imunobiológicos pelo PNI, devido a problemas de produção dos laboratórios; liberação em quantidade insuficiente de doses por parte de alguns municípios, principalmente nas regiões Norte e Centro- Oeste, além de questões culturais relativas ao período de resguardo da criança após o seu nascimento, que deve ser respeitado. Regime de tutela Podemos considerar a tutela de indígenas uma parte fundamental do “DNA” de uma política estatal pensada para, legal e institucionalmente, subjugar os povos indígenas a uma espécie de ostracismo tanto como sujeitos de direitos, quanto como agentes políticos, abrindo campo para todo o tipo de ingerência estatal contra a autonomia e seus modos de ser, mesmo que lhes fossem reconhecidos direitos territoriais. Os pensamentos tutelares dificultam a exata compreensão da autodeterminação dos povos indígenas enquanto critério político, limitativo do poder estatal e vinculado à livre-determinação. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Panorama epidemiológico da população em situação de rua Optou-se pela utilização da expressão população em situação de rua que é atualmente a mais utilizada no Brasil para se referir a esse segmento populacional. Essa expressão é adotada pelo Decreto 7.053 de 3 de dezembro de 2009 que define: “(...) considera-se população em situação de rua o grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória (grifo nosso).” O aumento da população de rua acompanha o aumento da população em insegurança alimentar porém, não é toda população em insegurança alimentar que se encontra em situação de rua. Quase metade da população em situação de rua encontra-se na faixa etária 31 a 49 anos (população economicamente ativa - PEA). VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Programas para atendimento dessa população Consultório de Rua = década 1990 = Síndrome Mental - atendimento extramuros - dirigida aos usuários de drogas - vulnerabilidade social - distanciados da rede de serviços de saúde e intersetorial. - Sua característica mais importante é oferecer cuidados no próprio espaço da rua, preservando o respeito ao contexto sociocultural da população. - Escopo de atuação menor. Consultório na Rua = 2011 = RAPS / PNAB - amplia o raio de ação das equipes - assume algumas das funções previstas pela equipe de saúde da família ao olhar a saúde para além da saúde mental e do uso de drogas, efetivando os direitos à saúde da população em situação de rua. - Escopo de atuação maior. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Obs.: pode haver subnotificação na população de rua. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Panorama epidemiológico da população em situação de rua: Leitura complementar A definição de população de rua é complexa, sendo sintetizada principalmente pela ausência de moradia. Todavia, o conceito de moradia vai além da estrutura física e inclui a identidade, a segurança e o pertencimento. A expressão “pessoas em situação de rua” abrange a compreensão da transitoriedade da condição de viver/estar na rua. As características majoritárias das pessoas que constituem a população em situação de rua são: sexo masculino, adultos jovens (25 e 44 anos), exerciam atividade remunerada, passavam a maior parte do tempo nas áreas comerciais das cidades. Os fatores que influenciam a vivência na rua são diversos, mas os principais foram: uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, desemprego e conflitos familiares. A situação de rua implica maior vulnerabilidade para o adoecimento por vários motivos – pelos riscos de estar na rua, pela dificuldade de aderir em tempo oportuno aos tratamentos adequados e de acessá-los, entre outros. A estigmatização da população em situação de rua é outro fator que a vulnerabiliza e a torna mais exposta às diversas formas de violência. Em três anos (2015-2017), foram notificados mais de 17 mil casos de violência cuja motivação foi a vítima estar em situação de rua. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C As notificações de violência motivada por situação de rua foram mais frequentes em indivíduos do sexo feminino (50,8%), e entre as pessoas da raça/cor da pele negra (pretos e pardos), com 9.522 (54,8%), no período de 2015 a 2017 A violência contra as pessoas negras em situação de rua é impulsionada pelo preconceito racial. A maior proporção de notificações foi registrada entre os heterossexuais (65,2%), no período estudado, seguida da que se registrou entre os homossexuais (2,9%). Quanto ao tipo de violência sofrido pelas vítimas notificadas em situação de rua, destacaram-se os seguintes tipos: física (16.149; 92,9%), psicológica/moral (4.025; 23,2%), sexual (673; 3,9%), tortura (655; 3,8%) e negligência/abandono (460; 2,7%). Sobre o provável autor da agressão motivada pela situação de rua ser um desconhecido, a hipótese é de que a sociedade percebe a pessoa em situação de rua como indesejável, perigosa e incômoda, e por isso não a vê como sujeito de direitos. Esta percepção pode ser manifestada tanto por meio da violência simbólica nos discursos proferidos e propagados até mesmo na mídia, quanto na prática da violência física contra os indivíduos em situação de rua. A violência de repetição pode ser entendida dentro do mesmo arcabouço de representações sociais depreciativas a respeito da população em situação de rua que podem se concretizar em ações violentas. O uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, o desemprego, as ameaças e violências, assim como a fragilidade das redes de apoio, podem predispor esta população ao adoecimento mental e ao sofrimento psíquico – fatores de risco para morte autoprovocada. Dessa forma, são essenciais a garantia do acesso a serviços de saúde e estratégias que fortaleçam a prevenção e os fatores protetivos para esta população. O SUS tem o desafio não apenas de proporcionar o acesso para a população em situação de rua, mas também de oferecer o serviço com equidade e qualidade, rompendo a construção social estigmatizada a respeito deste grupo e avançando no reconhecimento do protagonismo e da autonomia das pessoas em situação de rua, assim contribuindo para o enfrentamento da exclusão e discriminação socioinstitucional. O estabelecimento de uma rede de atenção intersetorial é fundamental para que o acesso aos serviços de saúde ocorra de maneira integral e efetive a rede de proteção a esta população. Por fim, compreender as violências que afetam as pessoas em situação de rua e trabalhar o setor saúde para além dos estigmas não apenas contribui para dimensionar o problema e lançar luz sobre soluções pontuais e individuais, mas também coopera para a criação de espaços de discussão a respeito da cidade, dos direitos, das desigualdades, da justiça e da própria sociedade. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C População em situação de rua – Equidade em Saúde População estigmatizada: medo, repulsa, muitas vezes são visto como loucos/ drogados. Grupo vulnerável que necessita de uma política de equidade necessidade de combater o preconceito e lidar com o julgamento. Tecnologias da produção do cuidado: - Duras: equipamentos, maquinários, exames complexos. - Leve-duras: desde a construção de protocolos assistenciais até a ciência/ tecnologias. - Leves: redução de danos, projeto terapêutico singular, educação permanente em saúde, vínculo, comunicação, acolhimento, relacionamentos, confiança. Complexidade assistencial: realidade complexa de uma população ou de uma situação, quando não há uma solução simples para um dado problema. Densidade tecnológica: maquinário, equipamentos, insumos. População em situação de rua: alta complexidade assistencial, com baixa densidade tecnológica. Conceito de População em situação de Rua “Grupo populacional heterogêneo constituído por pessoas que possuem em comum a garantia da sobrevivência por meio de atividades produtivas desenvolvidas nas ruas, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a não referência de moradia regular”. O que é a Situação de Rua? Segundo o relatório do Conselho dos Direitos Humanos da ONU “ a situação de rua é uma crise global de direitos humanos que requer uma resposta global e urgente”, e continua “Ao mesmo tempo, a situação de rua é uma experiência individual de alguns dos membros mais vulneráveis da sociedade, caracterizada pelo abandono, desespero, baixa autoestima e negação da dignidade, com consequências graves para a saúde e para a vida. O termo ‘situação de rua’ não só descreve a carência de moradia, como também identifica um grupo social. Os moradores de rua são uma população “flutuante” que por muitos motivos acabam pernoitando em logradouros públicos, e que, em muitos sentidos, são considerados moradores em situação de rua. Diversidade, muito grande de pessoas que pernoitam nas ruas. Comumente, a moradia e, muitas vezes, o emprego são apontados como os grandes determinantes da flutuação no número de moradores de rua. “Por que” um indivíduo ou mesmo uma família acabam por se encontrar numa “situação de rua”? Quatro grandes grupos de fatores 1. A violência Casos, por exemplo, relativos à violência doméstica (em suas várias formas, psicológica, física, preconceitos...), considerando, principalmente, mulheres, idosos, jovens e crianças de baixa renda. 2. As drogas Muitos dependentes químicos e ou dependentes do álcool encontram nos logradouros públicos as formas e a liberdade necessária para manter o vício. 3. O desemprego Existe a situação daqueles que não conseguem gerar renda suficiente para atender à suas necessidades básicas de moradia. Papel dos que temporariamente migram e não são bem sucedidos. Papel dos ex- detentos. 4. A saúde Neste grupo inclui-se uma gama considerável de doenças e deficiências que acabam por ser determinantes para a permanência das pessoas nas ruas. Sem dúvida, o maior número de indivíduos com problemas VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C de saúde nas ruas são aqueles que apresentam algum tipo de sofrimento/doença mental; Porém são comuns problemas com o preconceito: Deficientes, Hanseníase, Aids por parte da família que muitas vezes também não tem condições de cuidar destas pessoas. - PNAB 2011: Consultório na Rua e Equipes de Consultório na Rua. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Redução de danos é uma estratégia do Ministério da Saúde que tem como foco principal de suas ações a oferta de cuidado integral à saúde do usuário, reduzindo prejuízos agregados em função do uso de drogas e prevenindo aqueles ainda não instalados, sem necessariamente interferir no uso de drogas. Vale ressaltar que, nesse sentido, a redução de danos é uma estratégia desenvolvida para pessoas que não desejam ou não conseguem diminuir/cessar o uso de drogas, bem como para os demais usuários com dificuldade para acessar serviços de saúde ou aderir ao cuidado integral à saúde ex: ofertar seringas individuais para os usuários de drogas injetáveis. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Problemas comuns desta população: problemas nos pés, infestações, tuberculose, DST, HIV, AIDS, gravidez de alto risco, doenças crônicas (inclusive mentais), abuso de álcool e outras drogas, saúde bucal. Atuação da equipe hoje em Osasco Rastreamento, diagnóstico e tratamento para: ISTs – HIV, Sífilis, Hepatite C e B, Tuberculose. Acompanhamento de gestantes (sempre será alto risco) em conjunto com Obstetra de alto risco. Acompanhamento de paciente com doenças crônicas. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Curativos complexos. Apoio às casas de acolhida. Coleta de exames bioquímicos. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C População imigrante e refugiada Imigração no Brasil Há um mito de que o Brasil sempre foi uma nação cordial. O racismo esteve presente a toda hora na história do nosso País A primeira entrada de imigrantes no Brasil, foi por meio da escravidão (status de mercadoria). Historicamente, os imigrantes foram representados como cidadãos indesejáveis, um pensamento nocivo que persiste até os dias de hoje. Durante a ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945) e a ditadura militar (1964-1985), o Estado brasileiro assumiu uma postura rígida perante a entrada de imigrantes no País. Houve a tentativa histórica de branqueamento racial da população através da recepção apenas de imigrantes europeus. Racismo e xenofobia andam juntos, pois no Brasil não há uma questão patriótica envolvida: o imigrante não sofre preconceito porque ele não é brasileiro, mas sim porque fluxos migratórios acabaram sendo direcionados à trabalhos precários, que comumente são exercidos pela população negra. Compreendendo conceitos IMIGRANTES: Pessoa que se desloca, em geral, de forma voluntária, de seu país de origem para outro, com intenção de se estabelecer por algum tempo no Estado de acolhida. ASILADOS POLÍTICOS: Pessoa que esteja sendo perseguida por motivos políticos em seu país de origem (não pode ter cometido crime ou estar em aguardo de julgamento relacionado a um crime). O País anfitrião é quem precisa decidir se aceita ou não a solicitação. REFUGIADOS (relação com o coletivo): Pode ter relação com diferentes tipos de perseguição: de etnia, religião, nacionalidade, grupo social, convicção política. Inclui guerra e conflitos internos. ACOLHIDA HUMANITÁRIA: Vítimas de crise econômica ou ambiental (ex: terremoto no Haiti). Observação: Todas as pessoas das três categorias não podem ou não querem viver em seu país de origem. Entretanto, as razões que levam o refugiado, imigrante e asilado a se mudarem são completamente diferentes. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C - “Não vamos facilitar o acesso, porque senão a imigração aumenta”. - Medo sanitário: não dar vacinas ou condições de saúde para evitar um grande fluxo de imigrantes. Falta de informação e dificuldades com o idioma dificultam o acesso aos serviços. Recorrem ao SUS em caso de emergência ou doença em estágio avançado. Postos de trabalho pesados, mal remunerados e pouco reconhecidos socialmente. Não seguimento de normas de segurança do trabalho. Falta de suporte social formal e informal. Isolamento social e aculturação, com sofrimento psicológico decorrente. Habitação precária e insalubre em regiões desfavorecidas e sujeitas a catástrofes naturais e violência. Deficiência alimentar. Uso de drogas e álcool (válvula de escape de vulnerabilidades e dificuldades). VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C - Tecnologia Leve: encontros, relações afetivas, escuta ativa predomina na atenção básica. - Tecnologia Leve-dura: protocolos de atendimento estruturados (ex: IAM coletar ECG, enzimas cardíacas). As tecnologias leves sãoaquelas que conferem vida sobre as outras tecnologias. São as nossas ações sobre elas, fazendo-as funcionar efetivamente. É uma ação no processo de estabelecer a relação com os outros. É um campo tecnológico que só existe quando atuamos. (Emerson Merhy, 2020). Sabedoria prática: a utilização de determinadas tecnologias, ou não, o desenvolvimento ou combinação de outras, e assim por diante, dependerão de um ‘juízo prático’. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Que tipo de influência pode exercer, no processo saúde-doença, a ruptura com o lugar de origem de pessoas e populações? A ruptura do local de origem é um DSS, pois ser imigrante não é uma questão biológica, mas sim um processo social que causa iniquidade no acesso aos serviços de saúde. Saúde mental. Adaptação social e econômica. Exposição a fatores de risco específicos para a saúde. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Promoção epidemiológica: imigrantes e refugiados Imigrantes: proporção menor de crianças e aumento do número de pessoas a medida que a faixa etária sobe justificativa para essa inversão é que a maior parte da população migra em busca de melhores condições de trabalho. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C 50% estava em emprego formal na Venezuela antes de migrar VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Saúde dos povos ciganos Política de equidade população vulnerável e estigmatizada, que necessita de uma política especial. Povos ciganos: nômades (dificuldade de criar vínculo, longitudinalidade do cuidado, acesso, assistência precisa levar com conta a competência cultural, adesão ao tratamento), “leitura das mãos”, vestimenta característica. Portaria nº 940, de 28 de abril de 2011 DECRETO de 25 de MAIO de 2006 - Dia Nacional do Cigano Portaria Nº 4.384 de 28 de Dezembro de 2018 – Institui Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Povo Cigano/Romani Art. 8º Compete à gestão municipal de saúde: I - promover a implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Povo Cigano/Romani no âmbito municipal; II - implementar as ações de combate ao racismo institucional nas ações e serviços de saúde em relação ao Povo Cigano/Romani, para redução das iniquidades em saúde; III - implementar as Políticas de Promoção da Equidade em Saúde para o Povo Cigano/Romani; VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C IV - definir e gerir recursos orçamentários e financeiros para a implementação desta Política, pactuada na Comissão Intergestores Bipartite – CIB (pactuação para uso de recurso entre Municípios e Estados); V - promover a inclusão desta Política no Plano Municipal de Saúde, em consonância com as realidades e a necessidades locais, e no Plano Plurianual - PPA setorial, quando envolver despesas relativas aos programas de duração continuada, nos termos do § 1º do art. 165 da Constituição; VI - coordenar, monitorar e avaliar a implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Povo Cigano/Romani em consonância com o Pacto pela Saúde; VII - identificar as necessidades de saúde desta população no âmbito municipal, considerando as oportunidades e os recursos; VIII - produzir dados estratificados sobre o Povo Cigano/Romani e manter atualizados os sistemas nacionais de informação em saúde; IX - estabelecer instrumentos e indicadores para o acompanhamento e avaliação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Povo Cigano/Romani; X - desenvolver ações de educação permanente para os trabalhos de saúde voltados para as especificidades do Povo Cigano/Romani; XI - promover ações de educação em saúde para os usuários e movimentos sociais voltadas para as especificidades de saúde voltadas para o Povo Cigano/Romani, com base nos princípios da Política Nacional de Educação Popular em Saúde no âmbito do SUS; XII - adotar ações de divulgação, visando à socialização da informação e das ações de saúde para a promoção da saúde integral do Povo Cigano/Romani, com destaque para a produção dos conhecimentos sobre racismo institucional e seu impacto na atenção à saúde do Povo Cigano/Romani; XIII - estimular e fortalecer a representação do Povo Cigano/Romani no Conselho Municipal de Saúde e nas Conferências de Saúde; XIV - instituir de mecanismos de fomento à produção dos conhecimentos sobre racismo e saúde do Povo Cigano/Romani; XV - fomentar a saúde integral e propiciar uma melhor condição de vida para o Povo Cigano/Romani, por meio da Políticas de Saneamento Básico para promoção, prevenção e controle de doenças e agravos; XVI - articular de forma intersetorial, incluindo parcerias com instituições governamentais e não governamentais, com vistas a contribuir no processo de implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Povo Cigano/Romani. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Panorama epidemiológico da população cigana VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C