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1 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 Osteoporose Osteoporose é uma doença osteometabolica progressiva caracterizada por baixa densidade mineral óssea e deteriorização da microestrutura do tecido ósseo. Ambas alterações resultam em fragilidade óssea e consequentemente aumento de suscetibilidade à ocorrência de fraturas. FATORES DE RISCO: Idade avançada Sexo feminino Raça branca Menarca tardia ou menopausa precoce (baixa exposição ao estrogênio) Baixa DMO História de fratura previa História familiar de fratura no quadril Tabagismo Baixa peso (<57kg) Uso de glicocorticoide (≥ 5 mg de prednisona/dia, ou outro glicocorticoide em dose equivalente, por pelo menos 3 meses); Sedentarismo Sarcopenia FATORES QUE AUMENTAM O RISCO DE QUEDA: Doença de Parkinson Demência Redução da acuidade visual Perda auditiva Sarcopenia Sedativos e hipnóticos Fatores ambientais: má iluminação, escadas, pisos escorregadios. FISIOPATOGENIA O osso possui três tipos celulares: Osteoclastos: são as células que reabsorvem o osso. Osteoblastos: são as células que secretam matriz óssea na cratera deixada pelo osteoclasto. Osteócitos: são os osteoblastos aposentados. Após terminar de secretar matriz óssea, parte dos osteoblastos transformam-se em osteócitos e permanece mergulhados na matriz óssea secretada. Os osteoblastos e os osteócitos expressam e secretam duas proteínas cujos nomes você deve guardar: Ligante do RANK (RANKL) – o pré- osteoclasto possui um receptor chamado RANK e é a ligação do RANKL com o RANK que estimula o osteoclasto a diferenciar-se e a começar o processo de reabsorção óssea. Osteoprotegerina (OPG) - quando a OPG se liga ao RANKL, esse não consegue mais se ligar ao RANK e ativar o pré-osteoclasto. Portanto, “a osteoprotegerina protege o osso”. ETIOLOGIA 1. Primária – é a forma mais prevalente e decorre das alterações hormonais características do período da pós- menopausa. 2. Senil – decorrente do envelhecimento fisiológico. 3. Secundária – decorrente de alguma doença, condição ou medicação que influencie negativamente o processo de formação e/ou reabsorção ósseas. APRESENTAÇÃO CLÍNICA As principais manifestações clinicas da osteoporose são as FRATURAS POR FRAGILIDADE, ou seja, rupturas ósseas decorrentes de traumas de mínima a baixa intensidade (como queda da própria altura). Os principais sítios propensos a esse tipo de fratura são: Radio distal (Punho), Coluna Vertebral e Fêmur proximal (quadril) AVALIAÇÃO DO RISCO DE FRATURA E DIAGNÓSTICO 1. QUANDO SOLICITAR A DENSITOMETRIA ÓSSEA Esse exame é utilizado para diagnostico, monitorização e investigação clínica do paciente. 2 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 É recomendado para: Mulher > 65 anos e Homens > 70 anos. Mulheres na transição menopausal ou pós- menopausa com menos de 65 anos; Homens entre 50 e 70 anos com pelo menos 1 fator de risco (baixo peso, fratura anterior, medicamentos que induz osteoporose ou doença associada a perda óssea). Adultos com fratura por fragilidade Adultos em uso de medicações associadas a perda óssea. Monitorização do tratamento da osteoporose. A avaliação da quantidade de massa óssea é feita pela medida de densidade mineral óssea (DMO); Os locais avaliados são: Coluna Lombar (L1 a L4) e colo do fêmur. Para cada sitio avaliado, o laudo fornecerá 3 informações: DMO em g/cm3 T-score (diferença entre o DMO do paciente e uma média de indivíduos jovens); Normal ≥ - 1.0 Baixa massa óssea (osteopenia) - 1.0 a - 2.5 Osteoporose ≤ -2.5 Osteoporose grave ≤ -2.5 + fratura por fragilidade Z-score (diferença entre a DMO do paciente e uma média da população com mesma idade e sexo do paciente); O Z-score não se presta ao diagnóstico de osteoporose, mas indica se o indivíduo se encontra com uma DMO compatível com sua faixa etária. DMO dentro da faixa esperada para a idade > - 2.0 DMO abaixo da faixa esperada para a idade ≤ - 2.0 Uma vez iniciado o tratamento da osteoporose, a DXA deve ser repetida após 1 – 2 anos; Caso o paciente seja usuário crônico de glicocorticoides, a reavaliação poderá ser feita após 6 meses de tratamento, AVALIAÇÃO DO RISCO DE FRATURA Apenas a DMO isolada não é suficiente para avaliar o risco de fratura dos indivíduos. Para resolver isso, a OMS criou a FRAX. Trata-se de uma ferramenta que leva em consideração o valor da DMO e a presença dos fatores de risco para o desenvolvimento de fraturas. O objetivo da FRAX é identificar os pacientes que ainda não estão na categoria de osteoporose, mas que possuem elevado risco de evoluir com fraturas. INVESTIGAÇÃO DE CAUSAS SECUNDÁRIAS: 1. EXAMES LABORATORIAIS: Hemograma completo Glicemia VHS Cálcio, fosforo e fosfatase alcalina (agregação de cálcio) Função tireoidiana (TSH, PTH, T4 LIVRE) Vitamina D (25-OH) Calciuria e creatina de 24 horas; 2. EXAMES DE IMAGEM: Pesquisa de fratura vertebral oculta; Está indicada quando o T-score for < -1 e pelo menos um dos fatores (mulher > 70 anos, homens > 80 anos, perda histórica de altura > 4cm, terapia com glicorticoide). RX lateral de coluna lombar e torácica. 3 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO A abordagem não medicamentosa do paciente com osteoporose consiste em tentar neutralizar, ou ao menos amenizar, os fatores passíveis de modificação; 1. Prevenção de quedas 2. Abandono ao tabagismo e abuso de álcool 3. Consumo dietético adequado de cálcio e vitamina D. 4. Atividade física: o paciente com osteoporose deve realizar exercícios resistidos (principalmente de fortalecimento de quadríceps) e que envolvam suporte do próprio peso. SUPLEMENTAÇÃO DE CÁLCIO: Adultos > 50 tem que tem uma ingestão de cálcio diária de 1200mg. Idealmente a carga diária deve ser alcançada por meio da alimentação e na impossibilidade disso por meio da suplementação de cálcio. O carbonato de cálcio é o mais indicado. SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINA D Nos pacientes com osteoporose, a diretriz brasileira recomenda que os níveis séricos de 25(OH) sejam mantidos acima de 30 ng/mL e que a ingestão diária desse micronutriente seja de 1000 a 2000 UI; < 20 ng/Ml: 50.000 UI a cada 7 dias, por 6 – 8 semanas >30 ng/ml: 1000 A 2000 UI diárias TRATAMENTO FARMACOLOGICO: Se quisermos tratar a osteoporose só temos duas opções: diminuir a reabsorção óssea ou estimular a formação óssea. É por isso que vamos dividir o arsenal terapêutico da osteoporose em duas categorias: 1. BIFOSFONATOS Os bifosfonatos ligam-se aos cristais de hidroxiapatita e impregnam os ossos. Quando os osteoclastos reabsorve esse osso envenenado com bifosfonato ele não consegue concluir o processo de reabsorção óssea. Além disso, esses medicamentos promovem a apoptose de osteoclastos. São a primeira escolha terapêutica. Tomar o medicamento em jejum e ficar em pé pelo menos 30 minutos após a ingestão. Efeitos adversos dos bifosfonatos orais: doença do refluxo gastroesofagico, esofagite erosiva, ulceras esofágicas. Contraindicação: hipocalemia, TFG <30-35. 2. DENOSUMABE O denosumabe é um anticorpo monoclonal com afinidade pelo RANKL e, portanto, impede a ligação RANKL- RANK, essencial ao processo de osteoclastogênese. Está indicado para pacientes que possuem intolerância ou contraindicação aos bifosfonatos. É aplicado na dosagem de 60mg, via SC, a cada 6 meses, continuo. Efeitos adversos: relativamente bem tolerada. Contraindicação: hipocalemia preexistente ou gravidez. 4 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 3. MODULADORES SELETIVOS DOS RECEPTORES DE ESTROGÊNIO (SERMS)Possui estrutura semelhante à dos estrógenos, tendo ações agonistas ou antagonistas sobre os receptores estrogênicos. As duas medicações dessa classe disponíveis no brasil são: Raloxifeno e Tamoxifeno. É uma excelente escolha para mulheres na pós- menopausa sem sintomas climatéricos. Efeitos adversos: tromboembolismo venoso e acidente vascular cerebral fatal. Contraindicação: história de tromboembolismo venoso, gravidez, antes da menopausa. 4. TERAPIA HORMONAL DA MENOPAUSA A TH reduz o risco de fraturas vertebrais clinicas e fratura do quadril. Como tratamento da osteoporose pode ser considerado em mulheres menopausadas com menos de 60 anos, que estejam há menos de 10 anos na pós- menopausa. É uma boa escolha para mulheres com osteoporose com alto risco de fraturas, apresentando sintomas de climatério. Mulheres não submetidas a histerectomia devem associar com progesterona. Contraindicada: eventos tromboembólicos, CA de mama ou de endométrio. 5. TERIPAPATIDA A teriparatida é uma forma recombinante de PTH e a abaloparatida (ainda não disponível no Brasil) é um análogo sintético do PTHrP (proteína relacionada ao hormônio da paratireoide). A exposição crônica ao PTH ou PTHrP (como observamos no hiperparatireoidismo ou na hipercalcemia maligna, respectivamente) resulta em aumento da reabsorção óssea. Pelo fato de serem medicações injetáveis de elevado custo, não são consideradas medicações de primeira linha. Podem ser escolhidas quando osteoporose grave, intolerância aos bifosfonatos ou falha terapêutica de outras classes. Teriparatida 20 mcg: 01 aplicação. Via subcutânea, uma vez ao dia, por 2 anos. 6. ROMOSOZUMABE O romosozumabe é um anticorpo monoclonal antiesclerostina. Ou seja, bloqueia um fator que prejudica a diferenciação dos osteoblastos e, dessa forma, estimula a formação óssea. Pode ser considerado nas seguintes situações: Pacientes com múltiplas fraturas por fragilidade; Pacientes com elevado risco de fratura que não toleram nenhuma outra terapia para osteoporose; Falha terapêutica de outras terapias para osteoporose
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