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Isabela G. Campos 1 TUTORIA (UC XV) SP-11 ADENDO SOBRE IVAS... As infecções das vias aéreas superiores (IVAS) são um dos agravos mais corriqueiros em atendimento médico, principalmente no meio pediátrico, mas também com grande importância na população adulta, tanto na atenção primária, como na emergência. Dentre as IVAS, as mais comuns são rinofaringite aguda, sinusite aguda, faringotonsilite e laringite. 1.1 SOBRE IVAS BACTERIANA E VIRAIS - OTITES, ENTENDA: As otites podem afetar 3 regiões distintas da orelha, sendo mais superficial ou não. Ou seja, pode ser externa, média ou interna. As inflamações do ouvido — otite média, aguda ou crônica — ocorrem mais frequentemente em lactentes e crianças. Essas lesões são, normalmente, de natureza viral e levam à produção de um exsudato seroso, mas que pode se tornar supurativo por infecções bacterianas associadas. As bactérias mais comuns em infecções agudas são o Streptococcus pneumoniae, o H. influenzae não tipável e a Moraxella catarrhalis. OTITE EXTERNA é o termo que designa os quadros inflamatórios da orelha externa (ou seja, é inflamação aguda da pele que recobre o conduto auditivo externo). Essas condicõ̧es têm causa predominantemente infecciosa e podem comprometer qualquer um dos tecidos que compõem a estrutura da orelha externa: pele e anexos, tecido subcutâneo, pericôndrio, cartilagem e osso. Na sua etiopatogênese, são importantes fatores predisponentes locais, como traumatismo por manipulação do conduto, umidade e calor, tanto que essa inflamação é mais frequente em nadadores, no verão, nos países tropicais e nas otorreias crônicas. O agente etiológico mais isolado é Pseudomonas aeruginosa. O estágio clińico inicial é denominado pré-inflamatório e caracteriza-se por prurido, edema e sensacã̧o de plenitude. A otalgia é o sintoma mais caracteriśtico do estágio inflamatório agudo, poden- do refletir-se em toda a região periauricular. Pode ocorrer otorreia, que geralmente é clara e inodora. Obs. A otite externa difusa (ou “orelha de nadador”) é uma celulite da pele e do tecido subcutâneo do CAE ocasionada por uma quebra na barreira protetora natural do conduto e facilitada pela presenca̧ de umidade no seu interior. Isabela G. Campos 2 A limpeza meticulosa e frequente do CAE (conduto auditivo externo) é a medida isolada mais importante no manejo terapêutico da otite externa. OTITE INTERNA: A otite interna é uma infecção na região mais profunda do ouvido, onde fica o labirinto, uma estrutura responsável pelo equilíbrio do corpo e audição. Este tipo de inflamação geralmente é provocada por vírus ou bactérias, podendo causar sintomas como tontura, dor no ouvido, problemas de equilíbrio, zumbido ou perda da audição. SOBRE A OTITE MÉDIA, ENTENDA: Define-se otite média aguda (OMA) como o surgimento rápido de sinais e sintomas de inflamação do mucoperiósteo da orelha média de etiologia viral ou bacteriana. Um conceito mais amplo engloba no espectro da OMA o processo inflamatório da fenda auditiva (orelha média, porcã̧o cranial da tuba auditiva e células mastóideas), com base na contiguidade ou comunicacã̧o direta desses espaco̧s aéreos dentro do osso temporal. O osso temporal apresenta espaços pneumatizados contíguos e, portanto, a inflamação da orelha média pode envolver também a mastóide, o ápice petroso e as células perilabirínticas. Assim, toda OMA é, em última análise, uma otomastoidite aguda em potencial – com maior ou menor grau de comprometimento das células mastóideas. ▶ DEFINIÇÕES: Otite média aguda (OMA): é presença de secreção na orelha média associada à instalação rápida de sinais e sintomas (como otalgia, febre e irritabilidade) de infecção aguda da orelha média. Otite média aguda recorrente (OMR): é a ocorrência de três episódios de OMA em um período de 6 meses, ou a ocorrência de quatro episódios de OMA em 12 meses. Otite média com efusão (OME): é uma inflamação crônica da orelha média em que uma coleção de líquido está presente na cavidade timpânica, porém há ausência de sinais e sintomas de infecção aguda. Otite médica crônica (OMC): A definição histopatológica é de um processo inflamatório da orelha média, associado a alterações teciduais irreversíveis. A. EPIDEMIOLOGIA É uma das patologias infecciosas mais prevalentes na prática pediátrica e continua representando um desafio tanto pela necessidade de certeza no seu diagnóstico, quanto pela decisão do tratamento mais adequado. Obs. A condicã̧o afeta adultos e adolescentes também, mas a incidência e ́muito maior na infância. Isabela G. Campos 3 Estima-se que aproximadamente 2/3 de todas as crianças apresentarão pelo menos 1 episódio de otite média aguda (OMA) com 1 ano de vida, e aproximadamente 90% até os 7 anos; 75% terão apresentado 3 ou mais episódios em 7 anos. Sabe-se ainda que a incidência de otite média durante o ano acompanha a de infecção viral das vias aéreas superiores (IVAS), ou seja, é maior nos meses de inverno. O principal pico de incidência de OMA é entre 6 e 11 meses de idade; com um segundo pico entre 4 e 5 anos de idade. Até 2 anos de idade, tanto OMA quanto otite média secretora (OMS) são bilaterais em sua maioria. Após os 2 anos, a maioria dos episódios de OMA e OMS é unilateral. Fatores de Risco: Estes fatores, quando presentes, provavelmente influenciam mecanismos da fisiopatogenia da OMA, aumentando o risco da doença. Didaticamente, são classificados em fatores relacionados ao hospedeiro e fatores relacionados ao ambiente. Fatores Ambientais ■ Infecções de vias aéreas superiores (IVAS): OMA é frequentemente consequência de IVAS, ambas com pico de incidência nos meses frios. ■ Creche/escola: aumentam o risco de OMA pela maior exposição a IVAS. ■ Tabagismo passivo: quando os pais são fumantes, o risco relativo de crianças expostas ao tabaco apresentarem OMAR é de 1,48, quando comparadas a crianças não expostas. Devem-se orientar os pais a parar de fumar e, quando não for possível, devem fumar longe da criança e em ambientes bem ventilados. ■ Uso de chupeta: o uso de chupeta na escola/creche aumenta o risco de OMA e OMAR. Sua interrupção a partir dos 6 meses pode reduzir a incidência de OMA. ■ Aleitamento materno: aleitamento materno exclusivo durante os 6 primeiros meses de vida está associado a 43% na redução de OMA nos primeiros 2 anos de vida. ■ Outros fatores: ordem de nascimento, tamanho da família e condição socioeconômica podem apresentar algum risco para OMA. Fatores do Hospedeiro ■ Idade: primeiro episódio de OMA antes dos 6 meses de idade é um poderoso preditor de OMAR. ■ Anormalidades craniofaciais: fenda palatina não corrigida, síndrome de Down ou com malformações craniofaciais apresentam maior risco para otite média devido à disfunção tubária. ■ Predisposição genética: vem sendo estudada e evidências mostram uma possível associação com a OMAR. ■ Outros fatores: alergia, refluxo gastroesofágico, raça e sexo apresentam dados discordantes quanto ao seu real risco. Sendo a alergia um problema frequente em crianças em um período em que as infecções virais e OMA são prevalentes, é razoável pensar que o uso de tratamentos para alergia tenha um efeito benéfico na diminuição dos episódios nessas crianças. Estudos recentes mostram um mecanismo de refluxo para a Isabela G. Campos 4 rinofaringe e otite média. Apesar do impacto desta forma de refluxo estar em estudo, é prudente fazer recomendações quanto à posição de amamentação em crianças propensas à OMAR (evitar mamar deitado e inclinar a cabeça). Obs. Dentre os fatores de proteção encontramos o aleitamento materno, rico em imunoglobulinas, diminuindo do risco de OMA no primeiro ano de vida. B. ETIOLOGIA A microbiologia da OMA apresenta grande relacã̧o com a microbiologia das vias aéreas superiores comoum todo. Obs. E ́preciso lembrar que a fenda auditiva, especialmente a orelha média, e ́uma extensão anatômica e funcional da faringe. Os principais patógenos bacterianos envolvidos na OMA são o Streptococcus pneumoniae (pneumococo), o Haemophilus influenzae (hemófilo) e a Moraxella catarrhallis (moraxela). Outras bactérias, como o Streptococcus pyogenes e o Staphylococcus aureus, são bem menos frequentes e pouco considerada na prática clińica de escolha de antimicrobianos para o tratamento da OMA. Tanto o pneumococo quando o hemófilo e a mora- xela são patógenos comumente encontrados nas vias aéreas superiores, inclusive como contaminates (portadores assintomáticos) ou como causa de infeccõ̧es bacterianas nasossinusais. O pneumococo está em primeiro lugar em frequência, seguido do hemófilo e da moraxela. Em crianças menores que 6 semanas de idade, S. aureus e bacilos Gram-negativos têm importância notável, causando 20% dos casos de OMA. Mesmo assim, os germes mais freqüentes são os mesmos que em outras faixas etárias. Vale ressaltar que bacteremia na vigência de OMA está freqüentemente associada a estreptococos do grupo B. C. FISIOPATOLOGIA Para a melhor compreensão do desenvolvimento das otites médias, é importante o conhecimento anatômico e funcional da tuba auditiva. A tuba auditiva (TA) é um ducto osteocartilaginoso que comunica a orelha média e a rinofaringe. Apresenta três funções principais em relação à orelha média: Isabela G. Campos 5 Uma tuba auditiva fisiologicamente ideal deve apresentar abertura ativa e intermitente devido apenas à contração do músculo tensor do véu palatino durante a deglutição e bocejo, mantendo a pressão da orelha média próxima à do ambiente. A TA apresenta-se de diferentes maneiras na criança e no adulto, o que facilita a infecção da orelha média nas crianças (quadro 3). O desenvolvimento do tecido glandular diminui acentuadamente com o crescimento da TA, enquanto o desenvolvimento da musculatura palatina aumenta com a idade, otimizando o mecanismo de abertura tubária no adulto. Outro fator importante é a posição supina adotada pela criança para alimentação, que aumenta a possibilidade de refluxo e dessa forma a incidência de otite média. Além do funcionamento adequado da TA, outros fatores podem interferir na fisiopatologia das otites médias agudas (quadro 4). A OMA inicia-se com edema, engurgitamento capilar e infiltrado polimorfonuclear na lâmina própria da mucosa da orelha média formando um exsudato purulento. Ulceração epitelial pode ocorrer, resultando em proliferação de tecido de granulação, que pode manter a infecção, obstruir a drenagem e a ventilação da orelha média e levar à destruição óssea através da ação de enzimas. Com a evolução da inflamação, o edema é substituído por fibrose e as células inflamatórias inicialmente polimorfonucleares serão suplantadas pelos linfócitos. Na evolução de uma OMA, podemos encontrar a OMS (otite média secretora) e, se houver perfuração crônica da membrana timpânica, a apresentação será de uma otite média crônica (OMC). Entendendo melhor... A OMA é mais prevalente no lactente e na criança pequena. Supõe-se que esta predisposição seja decorrente de fatores anatômicos e imunológicos característicos nesta faixa etária. Isabela G. Campos 6 A tuba auditiva (TA) é o órgão responsável pela ventilação da orelha média. Durante o repouso, encontra-se fechada. Sua luz é virtual e abre-se de forma intermitente pela contração do músculo tensor do véu palatino durante a deglutição ou bocejo. Existem diferenças importantes entre a TA da criança e do adulto. As diferenças mais relevantes são a TE mais curta e mais horizontalizada na criança, o que facilitaria a progressão de vírus e bactérias da rinofaringe para a orelha média. Ao nascimento, o sistema imunológico da criança é imaturo. O recém-nascido apresenta altos níveis de imunoglobulina G (IgG) materna, que vão progressivamente diminuindo, tornando-se pouco efetivos por volta dos 5-6 meses de idade. Por outro lado, a criança vai gradualmente produzindo mais IgG, IgA e IgM próprias, atingindo um platô quando a criança está maior. É interessante que estas fases coincidem com a época de início e de desaparecimento dos episódios de OMA na maioria das crianças. A OMA geralmente é desencadeada por um processo infeccioso, associado a um determinado grau de disfunção da TA e do sistema imunológico. Frequentemente é precedida em 3-4 dias por IVAS. Os vírus agiriam como copatógenos, predispondo à infecção bacteriana. Obs. É cada vez mais evidente que a OMA bacteriana seja precedida por IVAS de etiologia viral. Os vírus mais encontrados na OMA são o vírus sincicial respiratório (15%), influenza A e B (5%) e adenovírus (5%). D. QUADRO CLÍNICO Não há um sintoma que seja patognomônico da OMA. Otalgia é um sintoma frequente e específico, embora as crianças comecem a referir dor de ouvido por volta dos 2 anos, sendo difícil de avaliar antes desta idade, fase em que ocorre a maioria dos quadros. Sabe-se que 50% a 75% das crianças apresentarão otalgia na presença de OMA, mas sua ausência não exclui a doença. A febre, que pode estar presente em metade dos casos, não é um bom indicador de OMA bacteriana. Isabela G. Campos 7 Irritabilidade, diminuição do apetite, vômitos, diarreia e fadiga são descritos na literatura associados à OMA. Entretanto, como a maioria dos casos são precedidos por IVAS, estes sintomas podem ser atribuídos ao quadro viral e não devem ser considerados como critério diagnóstico. PORTANTO, Comumente, o paciente relata história de otalgia súbita após estado gripal. A otalgia piora com a deglutição ou o assoar do nariz, podendo ocorrer também hipoacusia, sensação de plenitude auricular e ruídos subjetivos e, ainda, pulsações auriculares sincrônicas com os batimentos cardíacos (sinal de Scheibe) e equivale a um empiema da caixa do tímpano. Algumas vezes acompanha-se de microperfuração pulsátil e a dor diminui à medida que se diminui a pressão na orelha média após perfuração da membrana timpânica. E. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de OMA é eminentemente clińico. O exame fiśico é, sem dúvida, o ponto alto no correto diagnóstico da OMA. A OMA é sempre diagnosticada através da otoscopia. São sinais de alteração da membrana timpânica (MT) encontrados na OMA as mudanças de translucidez, forma, cor, vascularização e integridade. O achado de maior poder prognóstico para OMA é o abaulamento da membrana timpânica, que apresenta uma sensibilidade de 67% e uma especificidade de 97%. Para uma adequada visualizacã̧o da MT, além da boa iluminacã̧o fornecida por um otoscópio de qualidade e do treinamento do examinador, a au- sência de obstáculos no CAE, como cerúmen, e a limpeza de eventuais secrecõ̧es são fundamentais. Os sinais tiṕicos de OMA à otoscopia são: 1. Presenca̧ de liq́uido ou efusão na orelha média; 2. Hipervascularizacã̧o da MT com hiperemia. {O tiḿpano normal tem cor perolada e é semitransparente. Durante os episódios de infeccã̧o viral das vias aéreas superiores, a MT pode parecer hipervascularizada e opacificada, até mesmo apresentando efusões}; 3.Abaulamento da MT, demonstrando o aumento de volume da orelha média devido à presenca̧ de secrecã̧o inflamatória sob pressão; e 4. Presenca̧ de otorreia de inićio recente não causada por otite externa. {As caracteriśticas da otorreia proveniente da orelha média são visualmente diferentes daquela proveniente da orelha externa. A secrecã̧o de uma OMA supurada é tipicamente mucopurulenta, eventualmente sanguinolenta. A presenca̧ do componente mucoide diferencia com boa precisão otite externa de otite média, visto que as células produtoras de muco não estão presentes na orelha externa}. Acrescentando... Em uma fase inicial da OMA, o abaulamento pode ser provocadopela produção de gases das bactérias na orelha média. Com a progressão do quadro, ocorre acúmulo de secreção purulenta, levando à distensão da MT e mantendo o abaulamento. A presença de nível hidroaéreo sugere reabsorção da secreção e pode representar a resolução do quadro. A coloração avermelhada da MT pode ser consequência do reflexo da hiperemia da mucosa do promontório, visualizada através de uma MT normal que pode gerar confusão durante o exame e acentuar-se quando a criança estiver chorando. A cor vermelha em uma MT pode indicar a fase inicial e viral da OMA. Uma MT com alteração de cor (esbranquiçada ou amarelada) pela presença de Isabela G. Campos 8 secreção purulenta na orelha média é mais sugestiva de OMA bacteriana. É preciso ter em mente que em cada otoscopia o médico está observando apenas uma fase de um processo em evolução que pode se modificar continuamente. A perda da translucidez da MT é um sinal importante, mas deve-se tomar cuidado para diferenciar de otite externa. Na MT normal, podem-se observar vasos sanguíneos no cabo do martelo. Isto não deve ser confundido com a vascularização radial da MT sugestiva de um processo inflamatório. A presença de otorreia no conduto auditivo significa a drenagem espontânea do processo da orelha média. Na OMA geralmente é um exsudato pulsátil, associado a uma perfuração puntiforme da MT raramente visualizada, sendo característica a consistência mucoide da secreção. É importante lembrar que a otorreia pode ocorrer também em casos de otite externa. F. COMPLICAÇÃO A definição de uma complicação de otite média é a extensão do processo inflamatório ou de produtos da inflamação além dos espaços pneumatizados do osso temporal e da sua mucosa. Complicações de otites médias agudas ou crônicas ocorrem quando barreiras anatômicas da orelha média são rompidas por algum processo infeccioso, permitindo o acometimento de estruturas adjacentes, ou seja, ocorre uma extensão desta infecção para outras regiões do osso temporal (mastóide, região petrosa) e para o crânio (meninges, espaços meníngeos e parênquima cerebral) por continuidade e, menos frequentemente, por via hematogênica. São subdivididas em intratemporais e intracranianas. ● Intratemporais: - mastoidite com destruição óssea; - abscessos mastoideos; - petrosite com destruição óssea; - paralisia facial; - labirintite. Isabela G. Campos 9 ● Intracranianas: - abscesso extradural; - abscesso subdural; - abscesso cerebral; - abscesso cerebelar; - meningite; - trombose de seio sigmóide (lateral); - hidrocefalia otítica. G. TRATAMENTO O tratamento da OMA envolve o uso de analgési- cos, o acompanhamento da evolucã̧o da doenca̧ e, principalmente, a decisão criteriosa do uso ou não de antibióticos. Essa decisão leva em consideracã̧o a certeza diagnóstica de OMA, a gravidade dos sintomas e sinais e a idade do paciente. A analgesia é de fundamental importância, pois a dor é o principal fator incapacitante. Muitas vezes, com a preocupacã̧o da decisão sobre o uso de antibióticos e sua selecã̧o, o médico coloca a analgesia em segundo plano ou mesmo não orienta tal terapia. O paracetamol, o ibuprofeno e a dipirona são alternativas amplamente disponiv́eis e podem ser utilizadas em associacã̧o se for necessário. Acrescentando... Sintomáticos: Sempre devem ser utilizados (analgésicos, antitérmicos e antiinflamatórios não- hormonais). Antibioticoterapia: A primeira opção é a amoxicilina via oral por 10 dias. Espera-se melhora clínica e remissão da febre após 48 a 72 horas do uso da medicação. Se não houver, pode-se utilizar outros antibióticos como amoxicilina-ácido clavulânico, cloranfenicol, cefaclor e outras cefalosporinas de segunda geração. Atualmente, segundo a “American Academy of Pediatrics and American Academy of Family Physicians” pode-se optar por uma conduta expectante em alguns casos (em pacientes sem critérios de gravidade), contanto que seja feito um seguimento e que a terapia antibiótica possa ser iniciada prontamente se os sintomas persistirem ou piorarem, de acordo com o quadro 7. Os critérios de não- severidade são otalgia discreta com febre < 39°C nas últimas 24 h e os de severidade incluem uma otalgia moderada a severa com febre ≥ 39°C. Timpanocentese e/ou Meringotomia: A perfuração da membrana timpânica, quando realizada, deve ser sempre no quadrante ânteroinferior da MT para evitar lesão da cadeia ossicular ou da janela redonda. Sempre que possível, enviar a amostra da efusão para exame bacterioscópico e cultura. As indicações de timpanocentese podem ser visualizadas no quadro 8. Isabela G. Campos 10 Obs. Muitos pacientes com OMA tratada adequadamente persistem com efusão na orelha média que vai se resolver espontaneamente em até 3 meses (tempo médio é de 40 dias). Na tentativa de abreviar este período pode-se usar: novo tratamento com antibiótico diferente, novo tratamento com o mesmo antibiótico por mais tempo, descongestionantes sistêmicos ou tópicos, corticóide sistêmico e observação. Não há comprovação experimental de que o tratamento medicamentoso é melhor que a observação. Caso a secreção se torne crônica, o paciente deve ser encarado como portador de OMS. ACRESCENTANDO: Isabela G. Campos 11 1.2 SOBRE IVAS BACTERIANA E VIRAIS – LARINGITE, ENTENDA: Laringites são todos os processos inflamatórios que acometem a mucosa laríngea, aos quais se associam congestão e edema, ocasionando uma sintomatologia variável em decorrência da agressão ao aparelho laríngeo e de perturbações nas suas funções. A presença de vasodilatação, edema e infiltrado leucocitário manifesta-se, clinicamente, por exsudato e eritema do epitélio em resposta à agressão aguda da laringe. No aspecto clínico, podem ser classificadas em agudas e crônicas, dependendo do tempo de duração. Se o paciente apresentar os sintomas há mais de 3 meses, será classificada como laringite crônica. As formas agudas e benignas duram em média oito dias, são autolimitadas e, na maioria das vezes, de etiologia viral. Às vezes, podem ser graves, especialmente nas crianças, em que são urgências pediátricas frequentes e mesmo letais, em decorrência da dispneia grave. Considerações Anatômicas: A laringe do adulto é localizada nas porções anterior e média do pescoço, estando, no homem, ao nível do corpo de C6. Sua localização é ligeiramente mais alta na mulher e no recém-nascido. Neste, é próxima da nasofaringe (no nível de C3 e C4), o que explica a respiração puramente nasal nessa idade. Atinge o nível de C6 por volta dos cinco anos de idade e continua descendo gradualmente até atingir o nível de C7 entre 15 e 20 anos. A laringe continua descendo através dos anos de maneira lenta e igualmente em ambos os sexos. Isso faz que o pitch vocal tenda a diminuir com o passar dos anos. Na criança, a porção membranosa ou glote anterior (vibratória) e a porção cartilaginosa ou glote posterior (respiratória) têm o mesmo tamanho; no adulto, a proporção da dimensão anteroposterior entre glote anterior e posterior é de aproximadamente 3:2. Todas essas desproporções anatômicas entre a laringe da criança e a do adulto explicam, em parte, por que pequenas alterações inflamatórias associadas a edema da mucosa laríngea de qualquer etiologia têm repercussão clínica importante na criança, ou seja, em virtude da exiguidade de sua laringe. A. EPIDEMIOLOGIA Estima-se que um adulto tenha cerca de 2 a 5 IVAS por ano, enquanto que na criança esses dados aumentem para 6 a 9 episódios por ano. Acomete com maior frequência lactentes e pré-escolares, com um pico de incidência aos dois anos de idade. As infecções agudas geralmente ocorrem durante um período de até sete dias, com febre e comprometimento das vias aéreas, sendo mais prevalente na infância. A infecção bacteriana aguda ocorre geralmentepor invasão direta ou por contiguidade de processos infecciosos da faringe, sendo raro o acometimento laríngeo isolado. As laringites crônicas persistem durante semanas, sendo a dor e a rouquidão os sintomas predominantes. São mais freqüentes em adultos e a presença de doenças sistêmicas deve ser rotineiramente investigada. Isabela G. Campos 12 B. ETIOLOGIA LARINGITE AGUDA: Laringite Viral A incidência precisa da laringite viral é desconhecida, refletindo a sua familiaridade e associação com a onipresente infecção viral do trato respiratório superior (IVAS). Quando ela ocorre, pode ser uma consequência de vírus típicos do “resfriado comum”, como o rinovírus. Muitos outros vírus foram implicados nos casos de laringite viral aguda, incluindo o herpes- zóster e o coronavírus, bem como agentes menos conhecidos. Uma forma particular de laringite aguda infecciosa é a laringite estridulosa ou subglótica (crupe viral), que acomete crianças e é causada sobretudo pelo vírus parainfluenza do tipo I. Laringite Bacteriana Obs. Entre as laringites agudas, a mais temida pela maior agressividade é a epiglotite, porém, nos anos que se seguiram à introdução da vacina conjugada contra Haemophilus influenzae tipo B, por volta de 1989, sua incidência caiu drasticamente entres as crianças, sendo mais frequente nos adultos. Grande parte dessa discussão reside merecidamente na seção pediátrica. No entanto, a epiglotite, ou mais adequadamente a supraglotite, continua a ser uma infecção das vias aéreas superiores potencialmente fatal também nos adultos. Apesar do grande sucesso da vacina contra o Haemophilus influenzae B, limitando a ocorrência dessa bactéria, a obstrução aguda das vias aéreas superiores em consequência de infecção bacteriana da laringe continua a ocorrer. Frequentemente a apresentação clínica dessa infecção é bem dramática, com um telefonema urgente para o departamento de emergência sobre um paciente babando, febril e em desconforto respiratório. A infecção laríngea com Klebsiella rhinoscleromatis¸ que faz parte de uma afecção conhecida como rinoscleroma, é outra entidade clínica que pode afetar a laringe. A doença pode progredir para obstrução das vias aéreas com envolvimento traqueal, mas também pode se limitar ao envolvimento nasal e das pregas vocais. A doença é diagnosticada a partir da identificação do organismo causador, um cocobacilo Gram-negativo, dentro dos macrófagos obtidos nas amostras de biópsia da mucosa. Essas são as células de Mikulicz, características do rinoscleroma. LARINGITE CRÔNICA: Laringite Bacteriana Embora a maioria dos otorrinolaringologistas associe a infecção bacteriana da laringe com um processo agudo, a doença crônica e até mesmo potencialmente fatal pode surgir nessa situação. A superinfecção da laringe pode complicar as lesões por entubação ou as laringes já danificadas pela recidiva de policondrite, por exemplo. Em dois dos três casos, o patógeno era o Staphylococcus aureus. Os lipopolissacarídeos de origem bacteriana induzem a expressão da citocina (IL-8) pró-inflamatória e alteram a expressão do gene de mucina nas células caliciformes da laringe. Os clínicos devem suspeitar de infecção bacteriana, independentemente de sua relativa raridade, nos pacientes que tenham inflamação crônica persistente da laringe. C- FISIOPATOLOGIA O termo laringite é sinônimo de inflamação laríngea, o que implica uma resposta local a dano tecidual, caracterizado por dilatação capilar e infiltração leucocitária. Pode ser de origem infecciona ou não infecciosa. Isabela G. Campos 13 As infecções agudas da laringe ocorrem como uma evolução de uma infecção das vias aéreas superiores (IVAS), levando a inflamação da mucosa das pregas vocais e consequente aumento da produção de muco. Dentre as causas não infecciosas incluem tensão vocal excessiva, refluxo gastroesofágico e inalação de irritativos. Em geral, não há infecção direta. O traumatismo desencadeado pela tosse ou fonação sob alta pressão comprime a mucosa entre as cartilagens aritenóideas. O refluxo das secreções ácidas danifica os tecidos interaritenóideos. Essa lesão provoca edema dos tecidos interaritenóideos, o que limita o fechamento dos processos vocais. O edema posterior aumenta o esforço necessário à fonação e agrava ainda mais a lesão. D. QUADRO CLÍNICO As manifestações clínicas incluem rouquidão e incapacidade de se comunicar por meio da fala (afonia). A laringite pode ser acompanhada ou precedida por uma infecção do trato respiratório superior. Os sintomas costumam se iniciar com um quadro de infecção das vias aéreas superiores, classicamente descrito por rinorreia, tosse leve, faringite e febre baixa que duram cerca de 1 a 3 dias e evoluem com sinais de obstrução das vias aéreas inferiores. Surgem então rouquidão, tosse ladrante, estridor inspiratório, elevação da temperatura da febre, taquipneia e uso de musculatura acessória. Se houver acometimento brônquico, podem ocorrer sibilos. Os sintomas costumam ser piores a noite e duram cerca de 3 a 7 dias. Os sintomas são causados por edema subglótico e traqueal, levando à obstrução laríngea na via aérea já estreitada da criança. Conforme a criança cresce e o orifício subglótico aumenta de tamanho, o edema gerado pela infecção gera menores complicações nas vias aéreas. Caso o paciente seja maior de 3 anos, outras causas de obstrução devem ser investigadas. ADENDO: SOBRE AS LARINGITES INFECCIOSAS AGUDAS Nos quadros agudos é fundamental diferenciar a laringite viral decorrente de um processo gripal simples da epiglotite e crupe. o Epiglotite: A epiglotite consiste em uma inflamação das estruturas da supraglote, de instalação aguda, que acomete mais frequentemente a face lingual da epiglote, pregas ariepiglóticas, e por isso também denominada supraglotite. Epidemiologicamente, acomete crianças entre 2 a 6 anos de idade, com predominância do sexo masculino e maior frequência no final do inverno e inicio da primavera, tendo o Haemophilus influenza do tipo B como agente mais importante. Obs. Devido a presença da vacina, contra este agente, no calendário vacinal do programa de saúde pública a incidência de epiglotite no grupo pediátrico vem diminuindo e evidenciando outros agentes causais como: Streptococcus pneumonie, Staphylococcus aureus, Pseudomonas, Neisseria meningitidis, Klebsiella pneumoniae, Candida albicans; aumentando a incidência nos adultos, principalmente nos imunodeprimidos. Isabela G. Campos 14 Fisiopatologia: Trata-se de uma celulite bacteriana acometendo todas as estruturas da supraglote (não apenas a epiglote) que pode obstruir completamente a via aérea superior (VAS). Com o aumento do edema supraglótico, a epiglote se curva póstero-inferiormente como resultado da infiltração inflamatória difusa da face lingual da epiglote. Com a VA parcialmente ocluída, o muco e secreções podem facilmente obstruir completamente a VA. O quadro clínico é derivado de uma celulite da supraglote cursando com hiperemia e edema e levando a obstrução da via aérea de evolução rápida. Os três sinais mais comuns de epiglotite são febre, dispnéia e irritabilidade. O pródromo dura poucas horas (2 a 6 horas) e logo a criança apresenta-se toxemiada, com evidências clínicas de obstrução respiratória alta. Respiração lenta, estridor inspiratório, carnagem e salivação. Apresenta dor de garganta severa e disfagia. A linguagem é limitada devido à dor, e a voz pode estar “abafada”. Tosse ou rouquidão geralmente não estão presentes. Estridor inspiratório ocorre mais tardiamente quando a obstrução é quase completa. A movimentação é mínima, e geralmente o paciente se mantém sentado com o corpo tendendo para frente, apoiado sobre os braços, com a boca aberta, protrusão de mandíbula, com salivação e cabeça estendida para maximizar a entrada de ar. A odinofagia que ocorre devido ao processo inflamatóriosupraglótico ajuda no diferencial com a crupe, que geralmente ocorre após um período de pródromo de vários dias, estridor progressivo e tosse seca característica. No adulto, apresenta-se com dor em região anterior do pescoço, adenopatia, febre, odinofagia e disfagia. A dispneia com estridor inspiratório é rara nesta faixa etária, exceto em quadros mais severos da doença. O diagnóstico é realizado após anamnese, exame físico e visibilização das estruturas laríngeas por meio da laringoscopia, ou nasofibrolaringoscopia flexível, com o paciente sentado onde serão observados a hiperemia (vermelho cereja), edema da epiglote e das outras estruturas da supraglote. Nas crianças, às vezes, a condição clínica não permite a realização da laringoscopia indireta, sendo necessária a realização da laringoscopia direta em ambiente de centro cirúrgico com toda estrutura para respiração mecânica. Se não existir no centro de saúde equipamentos para a laringoscopia indireta, a radiografia simples lateral do pescoço mostrará o espessamento da epiglote com o “sinal do polegar = epiglote edemaciada”. A investigação laboratorial complementar é inespecífica. É importante salientar que qualquer manobra diagnóstica que possa aumentar a agitação do paciente deve ser evitada, pois pode desencadear a obstrução respiratória. O tratamento deve ser realizado com prioridade na manutenção da via aérea, monitoramento da saturação de oxigênio por meio do oxímetro e utilização de medidas clínicas como: nebulização com epinefrina (repetida a cada 30 minutos) que leva a vasoconstrição com diminuição do edema e dilatação brônquica (relaxamento da musculatura lisa), hidratação com solução hipotônica. O uso de corticosteroides combinado com as medidas gerais é de grande importância devido ao rápido efeito anti-inflamatório, sendo a dexametasona a eleita devido a meia vida mais longa e efeito anti- inflamatório mais potente que a hidrocortisona. A inalação de corticoide (budesonida) pode ser utilizada. A antibioticoterapia deve ser iniciada assim que o diagnóstico é estabelecido. A existência de vários esquemas terapêuticos facilita o tratamento. A cefalosporina de segunda geração (cefuroxima) é hoje o esquema mais utilizado, podendo-se, também, fazer uso da cefalosporina de terceira geração (ceftriaxona 50 mg/kg/dia) e da combinação de ampicilina com cloranfenicol (50 a 100 mg/kg/ dia a Isabela G. Campos 15 cada 6 horas), assim o sucesso na terapêutica da epiglotite está no rápido diagnóstico e na instalação do suporte clínico e tratamento adequado. o Crupe Espasmódico ou Laringite Estridulosa ou Falso Crupe: A laringotraqueíte aguda (crupe) pode ser definida como uma infecção viral subaguda de vias aéreas altas. É considerada a causa mais comum de estridor agudo na criança. É uma das formas mais frequentes de laringite acompanhada de dispneia que acomete as crianças, de evolução benigna e que se manifesta por um quadro de dispneia de instalação súbita, geralmente à noite, com graus variáveis de intensidade. Em geral, a criança acorda, durante a noite, com um quadro de sufocação, tiragem supraesternal, respiração ruidosa com estridor, tosse rouca, sudorese intensa, agitação e ausência de febre. Essa sintomatologia dura apenas alguns minutos ou poucas horas e declina de maneira progressiva até a normalidade, deixando apenas uma tosse rouca por alguns dias. A recidiva pode ocorrer no mesmo dia ou em dias subsequentes. Ocorre mais freqüentemente no outono e inverno, com crianças de 1 a 3 anos, e duração média de 3 a 7 dias. Pode ser chamada atípica quando ocorre em menores de 1 ano, duração maior que 7 dias, ou quando não responde ao tratamento. Acredita-se que a etiologia dessa afecção é multifatorial, podendo ser atribuída à origem infecciosa viral ou bacteriana, alérgica, refluxo faringolaríngeo, ou obstrutiva. Os agentes mais comuns são os vírus parainfluenza 1 e 2, e influenza tipo A. Quadro clínico: A manifestação clínica inicial costuma ser tosse tipo “latido de cachorro”, febre e estridor, congestão nasal, rinorréia, angina (quadro de IVAS) e alguns dias depois disfonia e tosse não produtiva, em “latido”, pior à noite, sendo geralmente autolimitada. Diagnóstico: É clínico, porém a radiografia cervical pode mostrar o sinal clássico da “torre de igreja”, causado pelo estreitamento subglótico. A radiografia é importante no diagnóstico diferencial com corpo estranho e em casos de crupe recorrente deve-se pensar em estenose subglótica como fator predisponente associado. Tratamento: Consiste em umidificação das vias aéreas, hidratação para facilitar a expectoração de secreção e repouso vocal. Se a dispnéia for severa, pode-se aplicar adrenalina inalatória ou Isabela G. Campos 16 corticosteróide (dexametasona) parenteral para regressão do edema. É importante observar alterações do estado neurológico, diminuição da freqüência respiratória, aumento nos níveis CO2, para eventual necessidade de intubação ou traqueostomia. Antibióticos são indicados apenas no caso de infecções bacterianas secundárias. E. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da laringite é principalmente clínico, porém a radiografia cervical pode mostrar o sinal clássico da “torre de igreja”, causado pelo estreitamento subglótico. A radiografia é importante no diagnóstico diferencial com corpo estranho e em casos de crupe recorrente deve-se pensar em estenose subglótica como fator predisponente associado. O diagnóstico da laringite é feito pelo médico otorrinolaringologista (especialista em otorrinolaringologia), devendo o doente recorrer a esta especialidade sempre que os sintomas se agravam na fase aguda ou quando se prolongam por mais de de 2 a 3 semanas. É comum o especialista examinar o fundo da garganta com um abaixador de língua e espelho ou tubo de visualização fino e flexível que permite observar se há vermelhidão no revestimento da laringe. O médico Otorrinolaringologista irá proceder a exames a fim de efetuar o diagnóstico, sendo os mais comuns: Laringoscopia indireta; Laringoscopia com óptica rígida ou com fibrocópio flexível; Videoestroboscopia laríngea; Biópsia; F. COMPLICAÇÃO Isabela G. Campos 17 Nos casos mais graves, a laringite pode causar uma grave obstrução da via respiratória alta com dispneia (falta de ar), que se não for tratada de forma eficaz e atempada poderá ser fatal (risco de morte). G. TRATAMENTO O primeiro passo no tratamento do paciente é obtenção de via aérea segura, através de intubação orotraqueal. Em seguida, o paciente deve ser encaminhado para unidade de terapia intensiva. Nenhum conhecimento específico sustenta a ideia de que os tratamentos antivirais tenham qualquer impacto previsível no curso clínico da laringite viral. O tratamento de suporte que inclui ingesta hídrica e repouso vocal geralmente é recomendado. Em um estudo duplo-cego controlado por placebo, o flurbiprofeno (anti-inflamatório) se mostrou capaz de reduzir o desconforto em pacientes com laringite viral. O tratamento antimicrobiano deve ser iniciado precocemente e diminui o edema em epiglote em cerca de 12 a 72 horas. Pacientes não imunizados para Hib iniciam tratamento intravenoso com cefalosporinas de segunda ou terceira geração, como cefuroxime 150mg/kg/dia por 10 dias ou ceftriaxone 100mg/kg/dia por 10 dias. Após melhora dos sintomas, pode-se utilizar manutenção do esquema antibiótico por via oral ou intramuscular. Em pacientes não imunizados ou com imunização incompleta menores de 4 anos, está indicado profilaxia de contatos domiciliares com rifampicina. Os contatos escolares devem receber profilaxia se o paciente for menor de 2 anos não imunizado ou com imunização incompleta. Referências: 1. Tratado de otorrinolaringologia / organização Shirley Shizue Nagata Pignatari, Wilma Terezinha Anselmo-Lima. - 3. ed. - Rio de Janeiro: Grupo Editorial Nacional, 2020. 2. GuidelineIVAS. Infecções das Vias Aéreas Superiores. Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico- Facial. Disponível em: https://www.aborlccf.org.br/imageBank/guidelines_completo_07.pdf. 3. Infectologia: Bases clínicas e tratamento / Reinaldo Salomão - 1. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 4. Cummings otorrinolaringologia: cirurgia de cabeça e pescoço / Paul W. Flint ... [et. al.]; 6. ed tradução Cristiana Caldas Osorio, Karina Penedo Carvalho, Luiz Cláudio de Queiroz Faria. - 6. ed. - Rio de Janeiro: Elsevier 5. Bogliolo, patologia/Geraldo Brasileiro Filho. – 9. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 1.3 SOBRE IVAS BACTERIANA E VIRAIS – RINOSSINUSITE, ENTENDA: Sinusite é todo processo inflamatório da mucosa de revestimento da cavidade paranasal. Atualmente, o termo rinossinusite tem sido mais aceito, pois rinite (sintomas originários na cavidade nasal) e sinusite (sintomas originários dos seios paranasais) são doenças em continuidade. Obs. A rinite existe isoladamente, mas a sinusite sem rinite é de ocorrência rara. A rinossinusite é classificada principalmente de acordo com sua duração. É controversa a estipulação de limites precisos, sendo qualquer classificação arbitrária. Desta forma, as classificações devem Isabela G. Campos 18 ser consideradas apenas como dado complementar para nortear a conduta. A tabela 1 resume a classificação das rinossinusites segundo Bailey Outra maneira de se classificar as rinossinusites é em relação à gravidade dos sintomas. Recomenda-se a utilização de uma Escala Analógico-Visual (EVA) que consiste em uma linha de 10 cm. O início é a ausência de incômodo e o final o maior incômodo possível. Pede-se ao paciente que marque na linha em que ponto está sua queixa em relação aos sintomas da rinossinusite. É realizada a medição através de uma régua e considera-se: ■ Leve: 0-3 cm. ■ Moderado: > 3-7 cm. ■ Grave: > 7-10 cm. ■ A partir de 5 cm considera-se que há impacto na qualidade de vida. A. EPIDEMIOLOGIA A rinossinusite ocorre geralmente após uma infecção das vias aéreas superiores (IVAS) viral (causa predisponente de 80% das rinossinusites bacterianas) ou após uma inflamação alérgica (causa predisponente de 20% das rinossinusites bacterianas). Estima-se que 0,5 a 2% das IVAS apresentam evolução para rinossinusite bacteriana. Sendo doença de alta prevalência, gera impacto direta e indiretamente na economia global. Sua prevalência na população geral é de 15% com maior predisposição em crianças com anomalias nasais e problemas imunoalérgicos. B. ETIOLOGIA A etiologia da rinossinusite aguda adquirida na comunidade, é na sua maioria decorrente do rinovírus em 15%, vírus da influenza em 5%, vírus parainfluenza em 3% e adenovírus em 2%. Com relação a rinossinusite bacteriana, os agentes mais comumente relacionados com rinossinusite bacteriana aguda adquirida na comunidade em adultos são: Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae, isolados em cerca de 75% dos casos. C- FISIOPATOLOGIA Os seios frontal, etmoidal, esfeoidal e maxilar são cavidades situadas ao redor das fossas nasais, com as quais se comunicam através de canais e óstio. Embora a infecção dos seios paranasais envolva vários fatores locais, regionais ou sistêmicos, o fator predisponente mais comum da rinossinusite aguda é a infecção viral das vias respiratórias superiores. A inflamação e o edema do Isabela G. Campos 19 complexo ostiomeatal podem levar à obstrução dos óstios de drenagem dos seios paranasais, acarretando diminuição da oxigenação do seio, do movimento dos cílios e, consequentemente, do clearance mucociliar, estase de secreção e infecção. Alguns dos fatores locais causadores de obstrução do complexo ostiomeatal incluem: anormalidade anatômicas (desvio de septo, concha média bolhosa), pólipos nasais, rinite alérgica e corpos estranhos. Fatores regionais incluem as infecções dentárias. Os fatores sistêmicos mais importantes são: desnutrição, diabetes, imunodepressão, hipogamaglobulinemia e uso prolongado de quimioterápicos e corticosteroides. Uma depuração mucociliar ineficiente, resultado de uma infecção viral ou rinite alérgica, pode obstruir o orifício do seio. Dessa forma, o muco se acumula na cavidade do seio. A estase pode levar ao crescimento bacteriano excessivo e a uma superinfecção. A sinusite frequentemente envolve o seio maxilar, uma vez que o óstio do seio se encontra localizado em uma porção superior e a drenagem do muco necessariamente precisa ocorrer na direção oposta à gravidade. A patogênese da rinossinusite é multifatorial e envolve uma complexa interação entre mecanismo de defesa do hospedeiro e o organismo infectante. Existem três fatores fundamentais para a fisiologia normal dos seios paranasais: a patência dos óstios, a função ciliar e a qualidade das secreções nasais. Enquanto a obstrução do óstio do seio na rinossinusite aguda é mais frequente devido ao edema de mucosa, na rinossinusite crônica alguma anormalidade anatômica que interfere na drenagem através do óstio está frequentemente presente. Obstrução do óstio sinusal, parcial ou completa, resulta em estagnação de secreções, queda do pH e da tensão de oxigênio dentro do seio. Estas alterações favorecem o crescimento bacteriano. A tensão de oxigênio dentro do seio pode chegar a zero, promovendo crescimento anaeróbio e de bactérias facultativas, que têm importante implicação na rinossinusite crônica. Isabela G. Campos 20 A interrupção do transporte mucociliar nos seios paranasais é outro fator importante na patogênese da rinossinusite. O batimento ciliar normal frequente é maior que 700 batimentos por minuto. Entretanto, durante rinossinusite, o batimento ciliar decai para menos que 300. A qualidade e o caráter da secreção sinusal também mudam durante a rinossinusite. O muco espesso, que não pode ser efetivamente removido do seio, torna-se um meio de cultura para crescimento bacteriano. Tal secreção espessa obstrui o óstio sinusal podendo perpetuar o problema, causando o ciclo nasal. Este é um particular problema em pacientes com fibrose cística, onde há falha da função das glândulas exócrinas. Resumindo, a completa compreensão dos mecanismos que levam à rinossinusite requer identificação de diversos fatores predisponentes de origem local e sistêmica. Isabela G. Campos 21 O padrão de infecção de vias aéreas superiores, incluindo rinossinusites, envolve várias fases. Geralmente, o primeiro estágio é uma rinossinusite viral, que em geral dura até 10 dias, havendo recuperação completa na maioria dos indivíduos sem antibioticoterapia. Rinovírus, influenza, adenovírus e parainfluenza são os vírus mais comumente encontrados. Em uma pequena parcela de indivíduos com rinossinusite viral (estimativa de 0,5% a 2%), uma infecção bacteriana secundária pode acontecer. Tal infecção geralmente é causada por bactérias aeróbias facultativas (Streptococus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis). Se não houver resolução do processo, bactérias anaeróbias da flora oral podem predominar com o decorrer do tempo. D. QUADRO CLÍNICO A rinossinusite aguda raramente é limitada a um só seio, pois a doença envolve primariamente o Complexo Ostiomeatal (90%). Os aspectos clínicos da rinossinusite aguda em adultos são difíceis de distinguir de um resfriado comum ou ainda de rinite alérgica. Em ordem de importância, os sintoma mais freqüentes são: • Dor: Pode ser nasal, facial ou ainda manifestar-se como cefaléia. Em geral, a intensidade é pior pela manhã, diminuindo ao longo do dia, aparecendo geralmente na região do seio acometido. A rinossinusite do seio etmoidal apresenta-se com dor na parte medial do nariz e na área retrorbitária. A rinossinusite esfenoidal pode se manifestar por dor no vértex, bitemporal, retrorbitária e pode ser irradiada para pescoçoe ombros. Na rinossinusite maxilar aguda pode haver queixa de odontalgia. • Febre: Está presente em 50% dos adultos com rinossinusite aguda. • Obstrução nasal e rinorréia: A secreção é geralmente verde-amarelada, podendo ser uni ou bilateral. O significado da cor e aspecto da secreção é controverso, pois secreção amarelada ou esverdeada não necessariamente implica infecção bacteriana. • Outros: halitose, anosmia e rinorréia posterior com tosse Havendo história prévia de IVAS, o quadro é mais comumente bilateral e associado a sintomas sistêmicos (febre, astenia, letargia). DE MANEIRA GERAL, as manifestações clínicas incluem secreção nasal purulenta (verde- amarelada), congestão nasal, dor facial ou sinusal, diminuição do olfato e febre. Cefaleia e uma respiração malcheirosa também podem estar presentes. E. DIAGNÓSTICO Isabela G. Campos 22 A sinusite é, em geral, diagnosticada com base em um conjunto típico de sintomas e achados clínicos. Os achados do exame físico incluem: • Secreção purulenta: Na região do meato médio, que pode ser secundária a rinossinusite maxilar, etmoidal ou frontal. Pus na região do meato superior implica rinossinusite etmoidal posterior ou esfenoidal. Além disso, a mucosa está difusamente congesta. • Dor à palpação: Os seios paranasais podem ser sensíveis à palpação. Em caso de infecção dentária envolvendo secundariamente o seio maxilar, os dentes acometidos são usualmente sensíveis à percussão. Acrescentando... A rinossinusite é a inflamação do nariz e dos seios paranasais. O diagnóstico é clínico e deve ser considerado quando o paciente apresenta dois ou mais dos seguintes sintomas obrigatoriamente: ■ Bloqueio/obstrução/congestão nasal. ■ Descarga nasal (gotejamento nasal anterior/posterior). ■ Pressão/dor facial. ■ Redução ou perda do olfato. Também podemos confirmar o diagnóstico com alterações endoscópicas: presença de pólipos e/ou rinorreia mucopurulenta, principalmente no meato médio e/ou edema/obstrução de mucosa, também no meato médio. Finalmente, a rinossinusite também pode ser diagnosticada por alterações de tomografia computadorizada dentro do complexo ostiomeatal e/ou seios paranasais. O diagnóstico de rinossinusite aguda portanto deve ser feito quando temos os critérios anteriores por um período inferior a 3 meses. A rinossinusite viral aguda/resfriado comum normalmente apresenta sintomas por tempo inferior a 7 a 10 dias. A rinossinusite aguda pós-viral é definida como persistência dos sintomas após 10 dias. Devido à falta de precisão e praticidade dos métodos de diagnóstico atuais, os profissionais médicos devem se basear nas manifestações clínicas para distinguir uma rinossinusite bacteriana de uma viral. As diretrizes correntes sugerem que uma infecção sinusal seja bacteriana, seguindo os seguintes critérios temporais: ■ Início com sintomas persistentes ou sinais compatíveis com rinossinusite aguda com duração de ≥ 10 dias sem qualquer evidência de melhora clínica; ou Isabela G. Campos 23 ■ Início com sintomas graves ou sinais de febre alta (≥ 39oC) e secreção nasal purulenta ou dor facial com duração de pelo menos 3-4 dias consecutivos no início da doença; ou ■ Recaída (dupla piora) de sintomas ou sinais caracterizados por novo aparecimento de febre, cefaleia ou aumento da secreção nasal após uma infecção viral respiratória superior típica com duração de cerca de 5-6 dias e que já havia melhorado inicialmente. Associados a pelo menos 3 dos critérios a seguir: ■ Qualquer tipo de secreção com predominância unilateral ou francamente purulenta no cavum. ■ Dor intensa localizada/unilateral. ■ Febre > 38oC. ■ Elevação de VHS ou PCR. Classificações: Em 1997, a Rhinosinusitis Task Force da American Academy of Otolaryngology–Head and Neck Surgery3 desenvolveu uma classificação de rinossinusite atualmente bem aceita e que foi descrita por Lanza e Kennedy. Esta classificação baseia-se na identificação de sintomas para se estabelecer um diagnóstico. Os sintomas são divididos em sintomas maiores – drenagem purulenta nasal, congestão nasal, pressão ou dor facial, diminuição do olfato e drenagem purulenta posterior – e vários sintomas menores. Quando um paciente descreve dois dos sintomas maiores ou um maior e dois sintomas menores, a rinossinusite pode ser diagnosticada (Tabela 21-1). -> Para o diagnóstico da rinossinusite são necessários dois sintomas principais ou um principal e dois sintomas secundários. É difícil distinguir as rinossinusites virais de rinussinusites bacterianas através da apresentação clínica. De modo geral, quanto mais prolongados forem os sintomas, maior a chance de se tratar de uma rinossinusite bacteriana. No curso de uma infecção viral de vias aéreas superiores, devemos suspeitar de uma infecção bacteriana sinusal quando a sintomatologia de um resfriado comum persistir por mais de sete a dez dias sem evidência de melhora, ou quando houver piora dos sintomas após o quinto dia, caracterizada por rinorréia purulenta abundante e obstrução nasal de início súbito, podendo haver associação com edema periorbitário ou dor facial. A tabela 3 lista os principais fatores preditivos de sinusite bacteriana. Isabela G. Campos 24 Os exames complementares são indicados quando o processo não se resolve com o tratamento clinico adequado. Endoscopia Nasal – permite ampliação dos dados obtidos com a rinoscopia, embora não seja necessário em casos não complicados. Radiografia dos seios da face – espessamento da mucosa, nível liquido ou opacificação completa, porém é de baixa sensibilidade e especificidade. Tomografia computadorizada - dos seios da face é uma modalidade diagnóstica muito sensível para indicar processos inflamatórios do seio. No entanto, na ausência de destruição óssea, esses achados são inespecíficos, no que diz respeito ao diagnóstico da sinusite clinicamente significativa, requerendo a instituição de uma terapia antibiótica. F. COMPLICAÇÃO Tais complicações podem ser orbitárias, intracranianas ou ósseas. As sinusites agudas parecem são causa mais freqüente de infecções orbitárias, assim como 50-75% dos abscessos intracranianos. As complicações orbitárias apresentavam taxa de mortalidade de até 17% na era pré-antibiótica, além de amaurose em outros 20%. As complicações intracranianas, mesmo atualmente, mantêm uma alta taxa de mortalidade (cerca de 11%) G. TRATAMENTO Se os sintomas são graves, os antibióticos são administrados em conjunto com corticosteroides intranasais, assim como com descongestionantes nasais. O fármaco de escolha para o tratamento é a amoxicilina, no entanto, caso a resistência a antibióticos seja uma preocupação, é utilizada a associação amoxicilina-clavulanato. Nos casos brandos, os antibióticos não são normalmente utilizados, a menos que os sintomas sejam persistentes por um período superior a 10 a 14 dias. Preconiza tanto desobstruir o seio e restabelecer a drenagem quanto erradicar o agente etiológico. Algumas medidas que podem ser úteis na desobstrução do seio são hidratação adequada, umidificação do ambiente e evitar exposição a agentes que causem alergia. Além da lavagem nasal com solução salina, que é importante para todos os pacientes, que pode ser usada solução salina fisiológica ou hipertônica. Para fazer uma lavagem efetiva é necessário Isabela G. Campos 25 colocar a solução na mão e aspirar pela narina até a solução atingir a cavidade oral, uma narina de cada vez e repetir o procedimento várias vezes ao dia. Os descongestionantes podem ser tópicos ou orais, os tópicos devem ser usados por um curto período de tempo, no máximo 3 dias, por causa do efeito rebote e desenvolvimento de rinite medicamentosa com o uso crônico. Exemplos de descongestionantes tópicos incluem: cloridrato de oximetazolina e nitrato de nafazolina. Os descongestionantes orais,como cloridrato de fenilefrina também podem ser utilizados, sendo geralmente disponíveis em apresentações que associam anti-histamínicos orais, pois estes ajudam a diminuir a tosse associada ao quadro gripal. Os fitoterápicos também pode ser extremamente útil em rinossinusites virais. Um fitoterápico que vem tendo grande destaque para o tratamento de rinossinusites virais e demais infecções virais de vias aéreas superiores e o Pelargonium sidoides Extrato EPs 7630. Em geral, o medicamento e utilizado durante um total de 5 a 7 dias. Com relação aos sprays nasais com corticosteroides, segundo o FDA, a partir dos 2 anos de idade a mometasona já pode ser administrada, desde que de forma cautelosa. Feito o diagnóstico de rinossinusite bacteriana aguda, a escolha do antibiótico deve refletir a prevalência de organismos produtores de B-lactamase. Amoxicilina é adequada onde a presença destes microrganismos é baixa, que é o caso do Brasil. Se não houver melhora do quadro clínico em 4 a 5 dias, recomenda-se o uso de outros antibióticos de segunda opção, como amoxicilina com clavulanato de potássio, cefuroximaaxetil ou cefprozil. É recomendado o uso de antibióticos por 10 a 15 dias, porém se a resposta clínica for baixa, a continuação da terapia por uma semana depois da resolução dos sintomas pode ser a melhor escolha. A cirurgia endoscópica funcional dos seios é indicada em pacientes com rinossinusite crônica recorrente que não responderam ao tratamento clínico maximizado, em pacientes com complicações Isabela G. Campos 26 de rinossinusites agu das ou crônicas e em alguns casos selecionados de pacientes com rinosinusite aguda recorrente. Referências: 1. Tratado de otorrinolaringologia / organização Shirley Shizue Nagata Pignatari, Wilma Terezinha Anselmo-Lima. - 3. ed. - Rio de Janeiro: Grupo Editorial Nacional, 2020. 2. Guideline IVAS. Infecções das Vias Aéreas Superiores. Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico- Facial. Disponível em: https://www.aborlccf.org.br/imageBank/guidelines_completo_07.pdf. 3. Infectologia: Bases clínicas e tratamento / Reinaldo Salomão - 1. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 4. Cummings otorrinolaringologia: cirurgia de cabeça e pescoço / Paul W. Flint ... [et. al.]; 6. ed tradução Cristiana Caldas Osorio, Karina Penedo Carvalho, Luiz Cláudio de Queiroz Faria. - 6. ed. - Rio de Janeiro: Elsevier. 1.4 SOBRE IVAS BACTERIANA E VIRAIS – FARINGOAMIGDALITE, ENTENDA: O anel linfático de Waldeyer é constituído por tonsilas palatinas, tonsila faríngea, tecido linfático peritubário, tonsilas linguais e grânulos linfoides laterais ou parafaríngeos. A tonsilas palatinas são massas de tecido linfóide localizadas lateralmente na orofaringe, e representam o maior acúmulo de tecido linfóide do anel de Waldeyer. As tonsilas palatinas (também conhecidas como amígdalas) representam o maior grupamento de tecido linfoide da orofaringe. Normalmente estão confinadas à orofaringe. Se excessivamente grandes, podem alcançar a nasofaringe, gerando insuficiência velofaríngea e obstrução nasal. As principais funcõ̧es das tonsilas são: atuar como tecido imunocompetente local, secretando imunoglobulinas nas criptas (são capazes de produzir as cinco classes de Isabela G. Campos 27 imunoglobulinas – IgA, IgG, IgM, IgD e IgE) e, com isso, impedindo a replicacã̧o bacteriana e viral no trato respiratório superior, o que representa a primeira linha de defesa contra doenca̧s infecciosas na região; e produzir cadeias J, que completarão a estrutura molecular das imunoglobulinas A e que, posteriormente migram para outras áreas do trato respiratório superior. Obs. Cabe ressaltar que estas denominações (amigdalites e adenoidites) são consagradas pelo uso, mas, baseando-se na nômina anatômica atual, deveriam ser chamadas tonsilites, uma vez que se referem às tonsilas palatinas (amígdalas) e à tonsila faríngea (adenoide). As infeccõ̧es das vias aéreas superiores (IVAS) têm prevalência elevada e são causas comuns de consultas médicas. Dor de garganta é a terceira principal queixa entre pacientes que procuram ser- vico̧s de emergência, e as faringotonsilites agudas são responsav́eis por aproximadamente 5% das consultas médicas. As faringotonsilites são IVAS de ocorrência frequente e autolimitadas. Na maio- ria das vezes, as crianca̧s e os adultos se recuperam rapidamente (3 a 4 dias) de uma infeccã̧o faringotonsilar, mas, ocasionalmente, podem desenvolver complicacõ̧es. Faringotonsilites (FT) são infecções autolimitadas que se desenvolvem nas tonsilas, faringe posterior, palato mole, órgãos linfoides, e representam uma das infecções mais frequentes de vias aéreas superiores, principalmente na população infantil. Obs. Elas podem ser popularmente conhecidas como “amigdalites” ou “dor de garganta”. ● Amigdalite, portanto, é a inflamação do tecido linfoide entre os arcos glossopalatino e faringopalatino. ● Amigdalite aguda: pode ser viral ou bacteriana; a infecção tem duração de 3 meses; ● Amigdalite crônica: também pode ser viral ou bacteriana; a infecção dura mais de 3 meses A. EPIDEMIOLOGIA Usualmente afeta crianças a partir dos 3 anos, com pico de incidência entre 5 e 10 anos, podendo acometer qualquer idade. Em crianca̧s e adolescentes, em especial naqueles em que o contato é muito próximo, como nas escolas, a transmissão ocorre por meio de gotićulas de saliva, com periódo de incubacã̧o de 1 a 4 dias. As infeccõ̧es de origem viral correspondem a 75% dos casos em crianca̧s menores de 3 anos e diminuem após a puberdade, tanto nos casos agudos quanto nos de recorrência. Já as ss faringoamigdalites bacterianas correspondem a 20 a 40% dos casos. No Brasil, o EBHGA (estreptococo β-hemolit́ico do grupo A) está presente em 24% das faringotonsilites em crianca̧s entre 2 e 12 anos de idade. Mais frequente no Inverno e Primavera. B. ETIOLOGIA A amigdalite pode ser de etiologia viral ou bacteriana. Os agentes infecciosos mais frequentes nas amigdalites ou faringotonsilites agudas são os vírus (70 a 80% dos casos), sendo os adenovírus os principais causadores. Os vírus da influenza A e B, da parainfluenza 1, 2 e 3, Epstein-Barr, enterovírus e herpes simples também podem causar faringoamigdalites. Isabela G. Campos 28 Quando a etiologia é bacteriana, considerada em crianças > 2 anos, o Streptococcus beta- hemolítico do grupo de A de Lancefield (S. pyogenes) representa o principal patógeno. Sua importância em Saúde Pública decorre não apenas da sua alta frequência, mas também das suas complicações, como febre reumática e glomerulonefrite difusa aguda C- FISIOPATOLOGIA As tonsilas palatinas, como se encontram na entrada dos aparelhos respiratório e digestivo, se constituem nos primeiros tecidos imunocompetentes a entrarem em contato com microrganismos exógenos e outros antígenos presentes no fluxo aéreo-digestivo. Devido a essas características e à função desse segmento dos aparelhos respiratório e digestivo, os processos inflamatórios os acometem com frequência. A patogênese da doença inflamatória/infecciosa das tonsilas palatina e faríngea provavelmente envolve sua localização anatômica e função de processamento de material infeccioso (através da qual, paradoxalmente, tornam-se focos de infecção). Não há certeza em relação ao que determina o início da infecção crônica. Infecção viral com infecção bacteriana associada pode ser um dos mecanismos de desencadeamento da infecção crônica, mas os efeitos do ambiente, fatores próprios do indivíduo, dieta, entre outros, podem também estar envolvidos. Estudos recentes demonstram que inflamação e perda da integridade do epitélio da cripta resulta em criptite crônica e obstrução das criptas, levando a estase de resíduos e persistência de antígenos. A partir daí, mesmo bactérias infrequentes nas criptas poderiamse multiplicar e causar infecção crônica. Isabela G. Campos 29 D. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico das faringoamigdalites se caracteriza por odinofagia, febre alta, calafrios, comprometimento do estado geral, astenia, mialgia, cefaleia e artralgia, podendo haver otalgia reflexa e aumento de linfonodos cervicais. Apresentam-se sob variadas formas clínicas: Nas amigdalites eritematosas, observam-se hiperemia difusa e aspecto congesto de toda a mucosa faríngea, principalmente das tonsilas palatinas. O exsudato pode estar esbranquiçado; se não estiver, é de provável etiologia viral (influenza, adenovírus, parainfluenza). A duração é de 3 a 7 dias e, na maioria dos casos, evolui sem complicações. As amigdalites agudas eritematopultáceas apresentam exsudato esbranquiçado ou purulento localizado nas criptas e na superfície das tonsilas palatinas. Os agentes etiológicos mais frequentemente encontrados são S. pyogenes, H. influenzae, S. aureus e M. catarrhalis. A mononucleose, causada pelo vírus Epstein-Barr, pode se manifestar como forma eritematosa ou eritematopultácea, e às vezes também como estomatite e enantema no palato, acompanhada de adenomegalia cervical bilateral e hepatoesplenomegaila; as tonsilas palatinas podem aumentar extremamente de tamanho. Nas amigdalites agudas pseudomembranosas, há formação de placas mais ou menos aderentes às tonsilas, que frequentemente invadem o palato mole e a úvula. Pseudomembranas brancas brilhantes recobrem inteiramente as tonsilas palatinas, atingindo também os pilares, o palato mole e a úvula; aderem à mucosa e são sangrantes quando se tenta removê-las. As amigdalites agudas ulcerosas subdividem-se de acordo com a profundidade da úlcera: superficiais, quando ocorre erupção vesicular, ou profundas, quando há necrose do tecido. A angina herpética (causada pelo herpes-vírus tipo I) e a herpangina (vírus coxsackie A) são semelhantes, podendo surgir do mesmo modo que na forma eritematosa (início abrupto e aspecto congesto de toda a mucosa faríngea), acometendo crianças de 1 a 5 anos de idade. O tratamento é sintomático e tem duração de 7 a 10 dias. Isabela G. Campos 30 Dentre as amigdalites ulcerosas profundas, destacam-se a angina de Plaut-Vincent e os quadro associados a hematopatias (neutropenia, leucemias agudas, síndromes imunoproliferativas e agranulocitose), além de tuberculose e sífilis. A angina de Plaut-Vincent é causada pela associação de bacilos saprófitas da cavidade oral, que se inicia após lesão da mucosa ou mau estado dentário, apresentando febre baixa, intensa odinofagia, halitose fétida (importante) e amigdalite ulceronecrótica com adenopatia ipsolateral à lesão. As faringotonsilites clinicamente podem ser classificadas em inespecíficas, quando não há especificidade entre o agente etiológico e o quadro clínico; e as específicas, quando há correlação entre a clínica e o agente etiológico. o Faringotonsilites Virais: Pacientes apresentam febre, exsudato na faringe e tonsilas, mialgia, coriza e obstrução nasal. Geralmente têm evolução benigna. Exame físico: hiperemia e edema da mucosa faríngea e das amígdalas, com presença de exsudato (raramente). Ausência de adenopatia Atenção: MONONUCLEOSE INFECCIOSA Pode ser causada por Epstein-Barr vírus (EBV), Citomegalovírus (CMV), toxoplasma, adenovírus ou vírus da hepatite. O principal é o EBV vírus, da família Herpesviriadae, que pode causar tonsilite aguda, recorrente ou hipertrofia tonsilar. Nos países desenvolvidos, a infecção primária por EBV ocorre na segunda ou terceira décadas de vida – nos países pobres ou em desenvolvimento, em crianças menores. Quanto mais jovem a aquisição do vírus, menos severos são os sintomas. A transmissão dos vírus ocorre por meio de troca de saliva durante o beijo ou contato próximo. O EBV infecta preferencialmente linfócitos B humanos. Após a contaminação, há um período de replicação e incubação de duas a sete semanas, com proliferação de células B infectadas. Esse processo é contido por uma consistente resposta celular imune, com aparecimento de linfócitos T citotóxicos “atípicos” no sangue. Em hospedeiro imunossuprimido, essa resposta pelos linfócitos T é limitada, e resulta em proliferação incontrolada de células B. A mononucleose infecciosa é caracterizada por um pródromo de mal-estar e fadiga, seguido de febre e dor de garganta. O exame físico revela tonsilas aumentadas, eritematosas, em muitos casos com exsudato branco-amarelado, edema de úvula e palato. Há adenopatia cervical envolvendo nódulos cervicais posteriores, o que ajuda a diferenciar de outras infecções. Entre a segunda e quarta semanas, cerca de 50% dos pacientes apresenta esplenomegalia, e 30% a 50%, hepatomegalia, rash, petéquias palatais e dor abdominal. A febre e a faringite costumam durar até duas semanas, enquanto adenopatia, hepatoesplenomegalia e mal-estar podem se prolongar por até seis semanas. Isabela G. Campos 31 A infecção por EBV pode ser preditora de futuros episódios de tonsilites recorrentes e abscesso peritonsilar. O vírus pode persistir na faringe por meses ou anos como uma fonte potencial de reinfecções ou transmissão. o Bacterianas Inespecíficas: A FT bacteriana inespecífica pode desencadear sintomatologia com duração de 3 a 6 dias no adulto, e 6 a 10 dias nas crianças e não teria relevância, se não fossem as complicações, que podem advir quando o agente etiológico é o Streptococcus pyogenes do grupo A (GAS), também denominado Streptococcus beta-hemolítico do grupo A (GABHS). O quadro clínico consiste em dor de garganta, disfagia, febre, gânglios submandibulares aumentados de volume e dolorosos à palpação, achados mais frequentes, além de eventualmente, náuseas e vômitos, dor abdominal e cefaleia. O exame físico mostra toda a orofaringe hiperemiada, mucosa edemaciada, tonsilas palatinas com exsudato e criptas com pontos purulentos ou recobertos por secreções. o Faringotonsilites streptocócica: exame físico mostra hiperemia acentuada da faringe, congestão da mucosa, muitas vezes exsudato nas tonsilas, nódulos linfáticos cervicais anteriores dolorosos à palpação, ausência de sinais de infecções virais (coriza, rouquidão, tosse, diarreia). Os sinais e sintomas preditivos são mais confiáveis na criança menor de 15 anos, do que em adultos jovens. E. DIAGNÓSTICO O nível de obstrução causado pelas tonsilas é avaliado pela classificação de Brodsky, variando entre os graus 0 e 4. A classificação de Brodsky avalia o tamanho das tonsilas de acordo com a sua extensão lateral a partir do pilar anterior até sua linha média. É graduado de 0 a 4: Grau 0: Tonsilas não perceptíveis na oroscopia. Grau 1: Tonsilas dentro da loja tonsilar, com obstrução de até 25% da orofaringe. Grau 2: Tonsilas saindo do limite dos pilares, com obstrução entre 25 e 50% da orofaringe. Grau 3: Tonsilas ultrapassam os pilares, com obstrução entre 50 e 75%, ocupando três quartos da luz da orofaringe. Grau 4: Tonsilas atingem a linha média, com obstrução maior que 75%. O diagnóstico da faringotonsilite é basicamente clínico, baseado na história clínica e nos achados de exame físico. No entanto, os achados na doença estreptocócica e na não- estreptocócica são parecidos, dificultando a identificação clara da etiologia. Quando de há dúvida da etiologia, alguns testes podem ser realizados. O hemograma na fase aguda pode sinalizar se a infecção é viral ou bacteriana. Nas infecções bacterianas haverá leucocitose, com desvio à esquerda e neutrofilia. Na infecção pelo Epstein-Barr vírus (Mononucleose infecciosa) se destacam os linfócitos atípicos. O diagnóstico clínico de FT estreptocócica pode ser muito difícil, quando limitado a critérios clínicos. O mesmo é feito com bases clínicas, epidemiológica e confirmado por exames laboratoriais, seja por meio de cultura (padrão ouro) ou por meio de detecção antigênica (teste rápido). Diagnósticoetiologia bacteriana: Isabela G. Campos 32 Apesar do diagnóstico da faringoamigdalite aguda bacteriana ser basicamente clínico, é possível a utilização de métodos diagnósticos para a confirmação da etiologia estreptocócica. A cultura de orofaringe é considerada o padrão ouro, mas apresenta como desvantagem o tempo prolongado (18 a 48 horas) para obtenção do resultado do exame e com isso a espera para a introdução da medicação adequada. Outros testes para detecção do estreptococo, como ELISA, imunoensaios ópticos ou sondas de DNA, apresentam a vantagem do diagnóstico rápido, cerca de 15 minutos. Essas provas se apresentam na forma de kits e podem ser realizadas no consultório. Quando comparados à cultura de orofaringe, apresentam sensibilidade de 30 a 90% e especificidade de 95%, tendo, portanto, um valor elevado de falsos-negativos. Na prática clínica, a solicitação da dosagem dos anticorpos antiestreptolisina O, anti- hialuronidase, anti-DNAse e a antiestreptoquinase é de pouca utilidade, pois seus títulos só se elevam 2 ou 3 semanas após a fase aguda. F. COMPLICAÇÃO • Febre reumática: os sinais e sintomas aparecem de 2 a 3 semanas após a faringoamigdalite estreptocócica, acometem crianças entre os 5 e 15 anos. Para o diagnóstico utilizamos o critério de Jones modificado, sendo confirmado na presença de 2 critérios maiores ou 1 critério maior e 2 menores, associados à evidência de infecção estreptocócica recente. • Escarlatina: decorrente da ação de endotoxinas, apresenta-se com rash cutaneopapular e eritematoso, deixando a pele áspera, linfonodomegalia, vômitos, febre e eritema de orofaringe. Pode manifestar os sinais de Filatov (palidez perioral) e Pastia (presença de petéquias e hiperpigmentação em linhas de flexão. • Glomerulonefrite: ocorre após infecção faríngea ou de pele. Acomete 24% dos pacientes expostos a cepas nefritogênicas (correspondem a 1% do total). O paciente evolui com síndrome nefrítica de 1 ou 2 semanas após a infecção • Síndrome do choque tóxico: pode ocorrer após infecção ou colonização estreptocócica de qualquer sítio (faringe, pele). O paciente apresenta hipotensão associada a pelo menos dois dos seguintes fatores: insuficiência renal, coagulopatia, alterações na função hepática, síndrome da angústia respiratória do adulto, necrose tecidual e rash eritematomacular. • Complicações supurativas: a) abscesso periamigdaliano: a teoria mais aceita para explicar sua formação seria a extensão da infecção localizada na amígdala para estruturas do espaço periamigdaliano, inicialmente como celulite evoluindo para a formação do abscesso. Geralmente causado por flora mista composta por germes aeróbios e anaeróbios, sendo o Streptococcus pyogenes o mais comumente isolado. O paciente no curso da amigdalite aguda apresenta alteração no quadro, evoluindo com odinofagia acentuada e unilateral, piora da disfagia e da halitose, salivação, Isabela G. Campos 33 alteração no timbre da voz e trismo. Ao exame observa-se edema dos tecidos localizados superiormente e lateralmente à amígdala envolvida e deslocamento da úvula. Tratamento com antibioticoterapia (penicilina cristalina + metronidazol; amoxicilina + clavulanato, clindamicina) associada a antiinflamatórios e punção para coleta de material para cultura e drenagem. Não é recomendada a realização de amigdalectomia (“a quente”) durante o processo infeccioso. b) abscesso parafaríngeo: o acometimento desse espaço ocorre por meio da disseminação bacteriana a partir das infecções amigdalianas e faríngeas. Apresenta-se com edema no ângulo da mandíbula, disfagia e dor de garganta. c) infecções do espaço retrofaríngeo. G. TRATAMENTO Para melhor orientar o tratamento, os Critérios Centor modificado podem ser de grande valor. O tratamento clínico das faringoamigdalites virais agudas é realizado de acordo com a sintomatologia: utiliza-se associação de analgésicos, antipiréticos, hidratação, anestésicos tópicos (antes da alimentação) e gargarejos com antissépticos, de acordo com a intensidade do quadro. Além do tratamento sintomático, com analgésico, antitérmico, hidratação, alimentação adequada, o tratamento com antimicrobiano, nos casos de FT estreptocócica, é indicado com o objetivo de melhorar os sintomas da infecção aguda, diminuir o período de contágio e prevenir complicações supurativas, invasivas e não supurativas, principalmente a febre reumática (FR) e a glomerulonefrite. Caso evolua para infecção bacteriana, trata-se com antimicrobianos, de acordo com o agente envolvido. O tratamento empírico com antibiótico deve ser direcionado para o principal patógeno, o SbGA. Estudos mostram que vários antibióticos podem ser utilizados com índices de sucesso semelhantes. A penicilina V oral pode ser uma boa opção de tratamento, podendo também ser utilizada a penicilina benzatina intramuscular em dose única. A amoxicilina e a amoxicilina associada ao ácido clavulânico, tomadas durante 10 dias, demonstram ser tão eficazes quanto as cefalosporinas, utilizadas por 5 dias; porém, estas têm apresentado índice de erradicação do SbGA ligeiramente superior. Em pacientes alérgicos às penicilinas, outras opções são os macrolídeos. Para o tratamento da FT estreptocócica (GAS), a Penicilina é o antibiótico de escolha. Também podem ser utilizados Amoxicilina, Ampicilina, Macrolídeos e até cefalosporinas. Os Isabela G. Campos 34 Macrolídeos têm sido tradicionalmente os fármacos de escolha para os pacientes com alergia à Penicilina. Nas faringoamigdalites agudas com abscesso periamigdaliano, o ideal é realizar a punção e, se houver saída de secreção purulenta, a drenagem do abscesso. Nas faringoamigdalites de repetição, pode ocorrer falha terapêutica com a utilização de penicilinas, em caso de estreptococo resistente, de copatogenicidade de bactérias produtoras de betalactamase, como os estreptococcos alfa-hemolíticos do grupo viridans, e de uso constante de antibióticos. O tratamento tem o objetivo de atingir principalmente as bactérias produtoras de betalactamase; portanto, nas fases de agudização, preferem-se as cefalosporinas de segunda geração, a associação amoxicilina-ácido clavulânico por 10 dias ou, eventualmente, cefalosporinas de terceira geração. Amigdalectomia: A amigdalectomia, conhecida também como cirurgia de retirada das amígdalas, ainda é muito comum, apesar da queda expressiva nos últimos anos e da existência de medicações. Segundo uma pesquisa inglesa, cerca de 90% das cirurgias de amigdalite são desnecessárias, e dentre elas apenas 11% apresentavam os sintomas necessários para a sua realização. Por esta razão, faz-se necessário reconhecer em quais situações elas devem ser realmente removidas: Em casos de amigdalites bacterianas recorrentes; Quando o tratamento com antibióticos não apresenta resultados positivos; Quando as amígdalas aumentam muito de tamanho e acabam obstruindo as vias aéreas, o que resulta em ronco, sono agitado, pausas respiratórias durante o sono e alterações na voz ou na deglutição. Referências: 6. Tratado de otorrinolaringologia / organização Shirley Shizue Nagata Pignatari, Wilma Terezinha Anselmo-Lima. - 3. ed. - Rio de Janeiro: Grupo Editorial Nacional, 2020. 7. Guideline IVAS. Infecções das Vias Aéreas Superiores. Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico- Facial. Disponível em: https://www.aborlccf.org.br/imageBank/guidelines_completo_07.pdf. 8. Rotinas em ortorrinolaringologia [recurso eletrônico] / Organizadores, Otávio B. Piltcher, et al. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2015. 9. Infectologia: Bases clínicas e tratamento / Reinaldo Salomão - 1. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 10. Infectologia pediátrica / editoras Katia Telles Nogueira, Isabel Rey Madeira ; organizadores da série Joel Bressa da Cunha, Adriana Rocha Brito, Anna Tereza Miranda Soares de Moura ; organizadores
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