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AULA_6_-_PROCESSO_PENAL_APLICADO

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AULA 6 – PROCESSO PENAL APLICADO
Procedimento do Tribunal do Júri 
O Tribunal do Júri tem fundamento na Constituição Federal, no art. 5º, XXXVIII, estando assegurado ao acusado a plenitude de defesa, pois no Tribunal do Júri o julgamento é realizado por juízes leigos.
Também é assegurado ao acusado o sigilo das votações, sendo certo que a partir da vigência da Lei nº 11.689/08 a resposta negativa ou afirmativa de quatro jurados condena ou absolve o acusado, não necessitando continuar a votação com os demais jurados (art. 483, CPP).
No Júri há soberania dos veredictos, ou seja, na hipótese de sentença de mérito e eventual recurso de apelação, o Tribunal de Justiça acolhendo a pretensão recursal, somente poderá cassar a sentença e determinar que o réu seja novamente julgado pelo Tribunal do Júri. A soberania dos veredictos é garantia constitucional do Tribunal do Júri, sendo a única instância exauriente na apreciação dos fatos e das provas do processo. Nesse sentido, há impossibilidade de suas decisões serem materialmente substituídas por decisões proferidas por juízes ou Tribunais togados.
ATENÇÃO: nos termos da orientação do STJ a anulação da decisão absolutória do Conselho de Sentença, manifestamente contrária à prova dos autos, pelo Tribunal de Justiça, por ocasião do exame do recurso de apelação interposto pelo Ministério Público (art. 593, III, ‘d’, do Código de Processo Penal), não viola a soberania dos veredictos (AgRg no AgRg no AREsp nº 727.893/MS, QUINTA TURMA).
O Tribunal do Júri tem competência para julgar os crimes dolosos contra a vida, ou seja, os crimes dos arts. 121 a 127 do Código Penal, existindo Tribunal do Júri na Justiça Estadual e na Justiça Federal. Com relação ao julgamento na Justiça Federal o aspecto procedimental em nada difere do Júri Estadual. Assim, por exemplo, quando um funcionário público for morto em razões de suas funções a competência é do Tribunal do Júri na Justiça Federal (Súmula nº 147 do STJ: compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função).
INFORMATIVO nº 748, STF, SEGUNDA TURMA
Crime doloso contra a vida e vara especializada
A 2ª Turma conheceu, em parte, de “habeas corpus” e, na parte conhecida, denegou a ordem para assentar a legalidade de distribuição, e posterior redistribuição, de processo alusivo a crime doloso contra a vida. Na espécie, o paciente fora denunciado pela suposta prática de homicídio, perante vara especializada de violência doméstica e familiar contra a mulher. Após a pronúncia, os autos foram redistribuídos para vara do tribunal do júri. De início, a Turma anotou que, com o advento da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), o tribunal local criara os juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher, inclusive na comarca em que processado o paciente. Destacou resolução do mesmo tribunal, segundo a qual, na hipótese de crimes dolosos contra a vida, a competência dos aludidos juizados estender-se-ia até a fase do art. 421 do CPP, ou seja, até a conclusão da instrução preliminar e a pronúncia. Frisou que, nos casos de crimes dolosos contra a vida, a instrução e a pronúncia não seriam privativas do presidente do tribunal do júri, e a lei poderia atribuir a prática desses atos a outros juízes. Sublinhou que somente após a pronúncia a competência seria deslocada para a vara do júri, onde ocorreria o julgamento. Reputou que a distribuição da ação penal em análise ocorrera nos termos da legislação vigente à época da prática do ato. Não haveria razão, portanto, para que o feito fosse inicialmente distribuído à vara do júri. Enfatizou que tanto a criação das varas especializadas de violência doméstica e familiar contra a mulher, quanto a instalação da vara do tribunal do júri, teriam sido realizadas dentro dos limites constitucionais (CF, art. 96, I, a). A Turma rememorou, ainda, jurisprudência da Corte no sentido de que a alteração da competência dos órgãos do Poder Judiciário, por deliberação dos tribunais, não feriria os princípios constitucionais do devido processo legal, do juiz natural e da “perpetuatio jurisdictionis”. Por fim, no que concerne a alegações referentes à atuação da promotoria no processo em que pronunciado o paciente, a Turma não conheceu do pedido, sob pena de supressão de instância. HC 102150/SC, rel. Min. Teori Zavascki, 27.5.2014. (HC-102150)
ATENÇÃO: o art. 122 do CP (com a redação da Lei nº 13.968/19) tipificou a conduta de induzimento, instigação ou auxílio a automutilação. A conduta de participação em automutilação não é crime doloso contra a vida e, nesse sentido, em que pese no capítulo do Código Penal dos crimes dolosos contra a vida, não pode ser da competência do Tribunal do Júri (art. 74, § 1º, CPP), ou seja, a competência é do juízo singular. A hipótese prevista no art. 122, § 7º, do CP, a morte é culposa (pois o dolo do agente é induzir, instigar ou auxiliar materialmente a prática de automutilação), não sendo, portanto, competência do Tribunal do Júri. O incapaz, na verdade, é um instrumento nas mãos do autor da conduta e, portanto, esse agente (autor da conduta) não participa de automutilação (que pressupõe capacidade do automutilado). Neste caso, deve o agente responder por lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º, CP), que é crime preterdoloso, da competência do juízo singular.  
ATENÇÃO: Súmula nº 603 do STF: A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do tribunal do júri.
AgRg nos EDcl no AREsp nº 1.525.846/PR, STJ, QUINTA TURMA
PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO PRATICADO POR POLICIAL MILITAR CONTRA CIVIL EM HORÁRIO DE SERVIÇO. INDÍCIOS QUE APONTAM PARA O DOLO DO POLICIAL MILITAR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. INQUÉRITO POLICIAL INSTAURADO PELA POLÍCIA CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A Lei n. 9.299/1996 alterou o art. 9º, parágrafo único, do Código Penal Militar e o art. 82, § 2º, do Código de Processo Penal Militar, para dispor que os crimes militares, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça comum e que, nesses casos, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum.
2. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça tem decidido que, a interpretação conforme a Constituição Federal do artigo 82, § 2º, do Código de Processo Penal Militar compele à remessa imediata dos autos de inquérito policial quando em trâmite sob o crivo da justiça militar, assim que constatada a possibilidade de prática de crime doloso contra a vida praticado por militar em face de civil", pois, "aplicada a teoria dos poderes implícitos, emerge da competência de processar e julgar, o poder/dever de conduzir administrativamente inquéritos policiais (CC n. 144.919/SP, Rel. Ministro FÉLIX FISCHER, Terceira Seção, julgado em 22/6/2016, DJe 1º/7/2016).
3. Portanto, havendo nítidos indícios de que o homicídio foi cometido com dolo, é de se reconhecer a competência da Justiça Comum estadual para o processamento e julgamento tanto do Inquérito Policial quanto da eventual ação penal dele originada. 
ATENÇÃO: é do juízo criminal singular a competência para julgar o crime de remoção ilegal de órgãos, praticado em pessoa viva e que resulta morte, previsto no art. 14, § 4º, da Lei nº 9.434/97 (Lei de Transplantes). O objeto jurídico tutelado pelo tipo penal em questão é a incolumidade pública, a ética e a moralidade, no contexto da doação e do transplante de órgãos e tecidos, e a preservação da integridade física das pessoas e respeito à memória dos mortos. A proteção da vida apresenta-se como objeto de tutela do tipo penal de forma mediata, não se podendo estabelecer que se cuida de crime doloso contra a vida a fixar a competência do Júri, tal como posto no art. 5º, XXXVIII, d, da Constituição Federal (RE nº 1.313.494/MG, STF, Primeira Turma).Procedimento do Tribunal do Júri na primeira fase
Juízo de admissibilidade da acusação
Ocorrendo crime doloso contra a vida, o Ministério Público oferecendo denúncia, o juiz verifica se é caso de rejeição da peça acusatória, nos termos do art. 395 do CPP.
Não sendo caso de rejeição, o juiz recebe a denúncia e ordena a citação do acusado para responder à acusação, no prazo de 10 dias, conforme art. 406, caput, do CPP.
Na resposta à acusação, a defesa observa o que determina os arts. 406, § 3º e 407 do CPP.
Na resposta à acusação a defesa alegando preliminares ou juntar documentos o juiz deverá abrir vista ao Ministério Público para se manifestar em réplica, conforme art. 409, do CPP. Se a defesa não arguir preliminares ou não juntar documentos o Ministério Público não se manifesta em réplica.
ATENÇÃO: em qualquer procedimento de 1ª instância, com exceção do Procedimento Sumaríssimo, após a resposta à acusação, o juiz verifica a possibilidade de absolvição sumária, nos termos do art. 397, do CPP. Existe controvérsia doutrinária sobre a aplicação ou não do art. 397 do CPP na primeira fase do Tribunal do Júri. Para o professor Gustavo Badaró é perfeitamente possível aplicar o art. 397 do CPP, sob pena de prolongamento desnecessário do procedimento. Porém, para o professor Norberto Avena não é possível aplicar o art. 397 do CPP, pois na primeira fase do Tribunal do Júri a absolvição sumária é regulada pelo art. 415 do CPP, sendo certo que este último entendimento já foi acolhido pelo STJ.
RECURSO EM HABEAS CORPUS nº 68.765/ES, STJ, QUINTA TURMA
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME DE HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO. NULIDADES. PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI. 1. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA APÓS A APRESENTAÇÃO DE RESPOSTA ESCRITA. INAPLICABILIDADE DA REGRA. 2. CITAÇÃO POR EDITAL. NÃO ESGOTAMENTO DOS MEIOS PARA CITAR O RECORRENTE. TENTATIVAS INFRUTÍFERAS. PROCESSO E PRAZO PRESCRICIONAL SUSPENSOS. PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. 3. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO. RISCO DE REITERAÇÃO. NECESSIDADE DE GARANTIR A ORDEM PÚBLICA. FUGA. ASSEGURAR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 4. RECURSO IMPROVIDO. 1. Caso em que não se aplica a regra do art. 397 do CPP. Nos processos que tramitam pelo rito do Tribunal do Júri, a avaliação acerca da absolvição é regulada pelo art. 415 do Código de Processo Penal. Precedentes. 
Apresentada a resposta à acusação, com ou sem a manifestação em réplica do Ministério Público, o juiz designa audiência de instrução e julgamento, nos termos do art. 411 do CPP e, encerrado os debates conforme o § 9° do referido artigo, o juiz proferirá uma de 4 decisões possíveis.
Pronúncia
No final da instrução processual o juiz entendendo que existem indícios de autoria e materialidade de crime doloso contra a vida, pronunciará o acusado conforme o art. 413 do CPP. A decisão de pronúncia é uma decisão interlocutória mista onde determina que o réu seja submetido ao julgamento pelo Tribunal do Júri, sendo certo que da decisão de pronúncia cabe recurso em sentindo estrito (RESE), conforme art. 581, IV, do CPP. A decisão de pronúncia encerra simples juízo de admissibilidade da acusação, satisfazendo-se, tão somente, pelo exame da ocorrência do crime e de indícios de sua autoria. Nesse sentido, o juiz, ao pronunciar o acusado, deverá demonstrar provas de existência do fato e indícios de autoria, “de modo sucinto, apresentando mero juízo de admissibilidade, sem incorrer em excesso de linguagem (HC nº 745.358, STJ). De acordo com o STF a primeira fase do procedimento do Júri consolida um filtro processual (função da pronúncia), que busca impedir o envio de casos sem um lastro probatório mínimo da acusação, de modo a se limitar o poder punitivo estatal em respeito aos direitos fundamentais (ARE nº 1.067.393, Segunda Turma). 
Súmula nº 191 do STJ: a pronúncia e causa interruptiva da prescrição, ainda que o tribunal do júri venha a desclassificar o crime.
A pronúncia não demanda juízo de certeza necessário à sentença condenatória, uma vez que as eventuais dúvidas, nessa fase processual, resolvem-se em favor da sociedade – in dubio pro societate, conforme entendeu o STJ no AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL nº 1.726.405/RS, Quinta Turma. A decisão de pronúncia, por ser mero juízo de admissibilidade da acusação, não exige prova incontroversa da autoria do delito, bastando tão somente a presença de indícios suficientes de autoria ou de participação e a certeza quanto à materialidade do crime” (AgRg no HC nº 645.646/RO, STJ, QUINTA TURMA). A pronúncia é uma decisão interlocutória por meio da qual o julgador singular verifica a existência de suporte probatório mínimo da autoria de crime doloso contra a vida. Nessa fase, o dever de fundamentação do magistrado deve ser cumprido dentro de limites estreitos, com linguagem comedida, sob pena de influenciar os jurados, constituindo fundamentação idônea (AgRg no HC nº 701.258/RS, STJ, SEXTA TURMA).
ATENÇÃO: vale ressaltar o recente entendimento adotado pela Sexta Turma do STJ, firmado com observância da atual orientação do Supremo Tribunal Federal, que é de que não se pode admitir a pronúncia do réu, dada a sua carga decisória, sem qualquer lastro probatório produzido em juízo, fundamentada exclusivamente em elementos informativos colhidos na fase inquisitorial (REsp nº 1.932.774/AM, STJ, SEXTA TURMA). Nos termos do artigo 413 do Código de Processo Penal, a decisão de pronúncia configura um juízo de admissibilidade da acusação, aplicável nas situações em que o julgador se mostra convencido (a) da materialidade do delito e (b) da existência de indícios – e não certeza – de autoria ou de participação (HC nº 206.244 AgR, STF, PRIMEIRA TURMA), sendo certo que é amplamente dominante no Superior Tribunal de Justiça que, no rito especial do Júri, na fase de pronúncia, aplica-se a regra probatória do in dubio pro societate, uma vez que compete ao Conselho de Sentença se manifestar sobre o mérito da ação penal dos crimes dolosos contra a vida, limitando-se o Juiz Sumariante à prova da materialidade e aos indícios suficientes de autoria ou participação (AgRg no REsp nº 1.905.653/SP, SEXTA TURMA). Nos termos do art. 413 do CPP, a decisão de pronúncia configura um juízo de admissibilidade da acusação, aplicável nas situações em que o julgador se mostra convencido (a) da materialidade do delito e (b) da existência de indícios – e não certeza – de autoria ou de participação (HC nº 206.244, STF, Primeira Turma).
ATENÇÃO: de acordo com a decisão do STJ no HC nº 673.138/PE (Informativo de Jurisprudência nº 709, Quinta Turma) não é cabível a pronúncia fundada exclusivamente em testemunhos indiretos de “ouvir dizer”, ou seja, "Muito embora a análise aprofundada dos elementos probatórios seja feita somente pelo Tribunal Popular, não se pode admitir, em um Estado Democrático de Direito, a pronúncia baseada, exclusivamente, em testemunho indireto (por ouvir dizer) como prova idônea, de per si, para submeter alguém a julgamento pelo Tribunal Popular"(REsp nº 1.674.198/MG, Sexta Turma).
ATENÇÃO: o Superior Tribunal de Justiça é firme na compreensão de que a decisão de pronúncia deve ser comedida na apreciação das provas, mas deve conter uma mínima fundamentação para o reconhecimento das qualificadoras, deixando o juízo de valor acerca da sua efetiva ocorrência para ser apreciado por quem constitucionalmente competente, o Conselho de Sentença do Tribunal do Júri (RECURSO EM HABEAS CORPUS nº 40.904/SC, SEXTA TURMA). De acordo com o STF diante de um estado de dúvida, em que há uma preponderância de provas no sentido da não participação dos acusados nas agressões e alguns elementos incriminatórios de menor força probatória, impõe-se a impronúncia dos imputados, o que não impede a reabertura do processo em caso de provas novas (art. 414, parágrafo único, CPP), ou seja, entendeu o Pretório Excelso pela inadmissibilidade in dubio pro societate (ARE nº 1.067.392, SEGUNDA TURMA).
ATENÇÃO: A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que a ausência de exame de corpode delito não inviabiliza a pronúncia do réu, quando presentes outros elementos de prova. Ademais, "a falta do exame de corpo de delito não é suficiente para invalidar a sentença de pronúncia, seja porque a materialidade pode se comprovada por outros meios de prova, seja porque essa diligência, até o julgamento, pode ser realizada a qualquer tempo' (HC nº 52.123/RJ, STJ, QUINTA TURMA).
ATENÇÃO: nos termos da jurisprudência do STJ a superveniência de condenação pelo Tribunal do Júri torna prejudicada a apreciação de eventual nulidade na decisão de pronúncia (AgRg no AREsp nº 1.933.513/AP, QUINTA TURMA).
ATENÇÃO: O Código de Processo Penal prevê, em seu art. 413, caput, que o juiz, de maneira fundamentada, pronunciará o acusado, acaso esteja convencido da materialidade e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação. A lei processual penal adverte, no entanto, que a fundamentação da pronúncia ficará limitada à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o magistrado apontar o dispositivo legal no qual o acusado está incurso e especificar as circunstâncias qualificadoras, além das causas de aumento de pena (art. 413, §1º). Eventual desrespeito ao regramento supramencionado ensejará a nulidade da decisão de pronúncia por excesso de linguagem, naquilo que a doutrina convencionou chamar de eloquência acusatória (HC nº 88.514, STF). O Superior Tribunal de Justiça possui entendimentos anuindo com a possibilidade de serem rasurados, em respeito ao princípio da duração razoável do processo, trechos de decisão de pronúncia contendo excesso de linguagem, desde que ínfimos, afastando-se a necessidade de tornar nula toda a decisão (AgRg no AREsp nº 1.452.839/GO, Quinta Turma e HC nº 325.076/RJ, Quinta Turma).
O juiz, ao pronunciar o acusado, deverá demonstrar provas de existência do fato e indícios de autoria, de modo sucinto, apresentando mero juízo de admissibilidade, sem incorrer em excesso de linguagem (HC nº 745.358, STJ). Porém, não incorre em excesso de linguagem a pronúncia que se limita a demonstrar a justa causa para submeter o acusado a julgamento pelo Tribunal do Júri e a existência do crime e dos indícios suficientes de sua autoria (HC nº 626.173/SP, SEXTA TURMA).
SÚMULA nº 21 do STJ: Pronunciado o réu, fica superada a alegação do constrangimento ilegal da prisão por excesso de prazo na instrução. 
Impronúncia
Ao final da instrução processual o juiz não se convencer da materialidade do fato ou da existência de indícios de autoria, impronunciará o réu, nos termos do art. 414 do CPP. A impronúncia é uma sentença terminativa, pois encerra o processo sem julgamento do mérito, sendo certo que cabe recurso de apelação da sentença de impronúncia, conforme art. 416 do CPP. A decisão de impronúncia transitada em julgado não faz coisa julgada material, tendo em vista o que determina o art. 414, Parágrafo Único, do CPP. 
ATENÇÃO: a doutrina fala na expressão DESPRONÚNCIA, isto é, trata-se de uma expressão que não está prevista no CPP. Ocorre a despronúncia quando o juiz pronunciar o acusado e após a interposição do recurso em sentido estrito (RESE - art. 581, IV, do CPP) se retratar dessa decisão, conforme art. 589 do CPP, ou se após a interposição do recurso em sentido estrito, o juiz mantendo essa decisão, o Tribunal de Justiça acolher a pretensão recursal. Em ambas as hipóteses, como já houve decisão de pronúncia, ocorrerá a despronúncia. A despronúncia tem a mesma consequência jurídica da impronúncia.
Absolvição sumária
No final da instrução processual o juiz reconhecer qualquer hipótese do art. 415 do CPP, absolverá sumariamente o acusado. A sentença de absolvição sumária é sentença de mérito e, uma vez transitada em julgado, faz coisa julgada material, sendo certo que dessa sentença cabe recurso de apelação, conforme art. 416 do CPP.
AgRg no HABEAS CORPUS nº 640.863/RJ, STJ, SEXTA TURMA
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. PRONÚNCIA. ABSOLVIÇÃO IMPRÓPRIA. INIMPUTABILIDADE. MATÉRIA CONTROVERTIDA. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. PEDIDO ABSOLUTÓRIO DO ÓRGÃO ACUSATÓRIO. NÃO VINCULAÇÃO DO JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A absolvição sumária, inclusive a de natureza imprópria, é admissível unicamente quando houver prova contundente, cabal, ampla e plena da ocorrência das hipóteses elencadas no art. 415 do CPP. 2. O posicionamento do órgão acusatório nas alegações finais não vincula a decisão proferida na fase de judicium accusationis do Tribunal do Júri, ainda que o Ministério Público estadual haja formulado pedido de absolvição do réu.
Desclassificação
Ao final da instrução processual o juiz entendendo que o fato imputado não é crime doloso contra a vida, irá desclassificar a conduta e, se não for o juiz competente, remeterá os autos ao juiz que o seja, conforme art. 419 do CPP. Da decisão de desclassificação própria cabe recurso em sentido estrito, nos termos do art. 581, II, do CPP, pois com a decisão de desclassificação própria, o juiz reconhece a incompetência do Tribunal do Júri para julgar o caso criminal.
Segunda fase do procedimento do Tribunal do Júri – fase no plenário 
ATENÇÃO – somente ocorre a segunda fase do procedimento quando o juiz PRONUNCIA o acusado, nos termos do art. 413 do CPP e essa decisão de pronúncia estiver PRECLUSA, nos termos do art. 421 do CPP.
Arts. 427 e 428, CPP - desaforamento é o deslocamento da competência territorial de uma comarca para outra, para que nesta seja realizado o julgamento pelo Tribunal do Júri.
INFORMATIVO nº 668, STJ, QUINTA TURMA
 
	PROCESSO
	HC 492.964-MS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 03/03/2020, DJe 23/03/2020
	RAMO DO DIREITO
	DIREITO PROCESSUAL PENAL
	TEMA
	Tribunal do Júri. Pedido de desaforamento. Art. 427 do CPP. Divulgação dos fatos e opinião da mídia. Mera presunção de parcialidade dos jurados. Insuficiência.
	DESTAQUE
	A mera presunção de parcialidade dos jurados do Tribunal do Júri em razão da divulgação dos fatos e da opinião da mídia é insuficiente para o desaforamento do julgamento para outra comarca.
	INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
	No caso o impetrante requereu o desaforamento sob o argumento de que há manifesto comprometimento da imparcialidade do Júri, pela ampla divulgação nos meios de comunicação, por parte da acusação, da condenação do Paciente.
Nos termos do art. 427 do CPP, se o interesse da ordem pública o reclamar, ou se houver dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do assistente, do querelante ou do acusado ou mediante representação do juiz competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento para outra comarca da mesma região, onde não existam aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas.
A mera presunção de parcialidade dos jurados em razão da divulgação dos fatos e da opinião da mídia é insuficiente para o deferimento da medida excepcional do desaforamento da competência.
1 – art. 423, II – Relatório do processo realizado pelo Juiz para inclusão na pauta.
2 – art. 447 c/c 463, caput – Instalação da sessão de julgamento, com um juiz togado e 25 jurados. No mínimo para instalação deve ter presente 15 jurados.
ATENÇÃO: a composição do júri é a seguinte: um juiz togado e sete juízes leigos (pessoas do povo). Esta é a composição de acordo com o modelo puro, adotado no Brasil. A regra é a seguinte: são necessários 25 jurados, mas o juiz presidente pode declarar instalados os trabalhos se presentes ao menos 15 (art. 463, CPP); deste total, 7 (sete) formarão o Conselho de Sentença. Há, no entanto, uma outra forma de composição do júri, denominada de modelo escabinado, composto em número proporcional de leigos e juízes togados, existente, no Brasil, exclusivamente na justiça militar.
Nos termos do art. 125, § 5º, CF compete aos juízes de direito do juízo militar processare julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça (art. 12 do Decreto-Lei nº 925/38), sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares, ou seja, a Justiça Militar desde que foi oficializada no Brasil, em 1808, tem em sua estrutura de primeiro grau a existência do Colegiado denominado Conselho de Justiça, o qual é constituído de um Juiz togado – denominado Juiz Auditor no âmbito da Justiça Militar da União, e Juiz de Direito no âmbito da Justiça Militar Estadual, além de mais quatro Juízes Militares, estes últimos juízes temporários.  
3 – arts. 455 a 457 – Verificação do comparecimento das partes.
4 - art. 460 – Colocação das testemunhas, tanto acusação quanto defesa, em salas próprias onde uma não possa os depoimentos das outras.
5 – art. 466 – Antes da formação do conselho de sentença, o juiz deverá advertir os jurados sobre as causas de impedimento e suspeição, bem como o dever de permanecerem incomunicáveis.
6 – arts. 467 e 468 - Sorteio do conselho de sentença, que será composto por sete jurados. As partes, tanto defesa quanto acusação, podem recusar imotivadamente até 03 três jurados.
7 – art. 472 - Juramento solene, todos deverão ficar em pé.
ATENÇÃO:  no procedimento do Júri, as possíveis impugnações (nulidades) devem ser apresentadas imediatamente, na própria sessão de julgamento, conforme dicção do art. 571, VIII, do Código de Processo Penal.
8 – art. 473 – Colhem-se as declarações do ofendido, se estiver presente.
9 – art. 473 – Ouvem-se as testemunhas de acusação.
10 – art. 473, § 1º - Ouvem-se as testemunhas de defesa.
11 – art. 473, § 3º - Acareações e/ou leitura de peças.
12 – art. 474 – Interrogatório do réu, na forma do 185 e 186. A regra é não utilizar algemas no acusado.
PESQUISA PRONTA do STJ
Tribunal do Júri. Interrogatório por Videoconferência: Possibilidade?
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO CONSUMADO E TENTADO (4X). DETERMINAÇÃO DE INTERROGATÓRIO EM PLENÁRIO POR VIDEOCONFERÊNCIA. ALEGAÇÃO DE AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL E AMPLA DEFESA. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE INCOMPATIBILIDADE EM PROCESSOS DO TRIBUNAL DO JURI. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA PARA A DETERMINAÇÃO DA MEDIDA. INEXISTÊNCIA DE FLAGRANTE ILEGALIDADE. RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO.
I - A realização de interrogatório por meio de videoconferência é medida que objetiva a desburocratização, agilização e economia da justiça, podendo ser determinada excepcionalmente nas hipóteses previstas no rol elencado no §2º do art. 185 do Código de Processo Penal.
II - Assim, deve-se ressaltar que não há qualquer incompatibilidade de realização de interrogatório por videoconferência em sessão plenária do Júri, sendo imprescindível apenas a observância da excepcionalidade da medida e da necessidade de devida fundamentação na sua determinação, em respeito ao disposto no art. 93, inciso IX, da Constituição Federal, bem como aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. 
III - Na hipótese, a alta periculosidade do recorrente, fundamento utilizado pelo magistrado de origem para determinar a realização de interrogatório por videoconferência, encontra amparo em dados concretos extraídos dos autos, constituindo motivação suficiente e idônea para tal providência, com fulcro no inciso IV do §2º do art. 185 do CPP. Recurso ordinário desprovido.
ATENÇÃO: a Lei nº 14.245/21 acrescentou o art. art. 474-A no CPP com a seguinte redação: Durante a instrução em plenário, todas as partes e demais sujeitos processuais presentes no ato deverão respeitar a dignidade da vítima, sob pena de responsabilização civil, penal e administrativa, cabendo ao juiz presidente garantir o cumprimento do disposto neste artigo, vedadas: I - a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto de apuração nos autos; II - a utilização de linguagem, de informações ou de material que ofendam a dignidade da vítima ou de testemunhas.
13 – art. 476 c/c art. 477 – Sustentação oral (acusação) uma hora e meia e depois defesa pelo mesmo período. Réplica (acusação) por uma hora (discricionariedade da acusação). Neste caso, havendo réplica da acusação a defesa pode fazer uso da tréplica pelo mesmo período.
ADPF nº 779/MC, STF
O STF fixou o seguinte entendimento sobre a legítima defesa da honra: 
(i) firmar o entendimento de que a tese da legítima defesa da honra é inconstitucional, por contrariar os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF), da proteção à vida e da igualdade de gênero (art. 5º, caput, da CF); 
(ii) conferir interpretação conforme à Constituição aos arts. 23, inciso II, e 25, caput e parágrafo único, do Código Penal e ao art. 65 do Código de Processo Penal, de modo a excluir a legítima defesa da honra do âmbito do instituto da legítima defesa e, por consequência, 
(iii) obstar à defesa que sustente, direta ou indiretamente, a legítima defesa da honra (ou qualquer argumento que induza à tese) nas fases pré-processual ou processual penais, bem como no julgamento perante o tribunal do júri, sob pena de nulidade do ato e do julgamento.
ATENÇÃO: de acordo com o STJ nada impede que, no início da sessão de julgamento, mediante acordo entre as partes, seja estabelecida uma divisão de tempo que melhor se ajuste às peculiaridades do caso concreto. O Código de Processo Civil de 2015, consagrou a denominada cláusula geral de negociação processual, ao dispor, em seu art. 190, que "Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo". Na hipótese, à luz do disposto no art. 3º do CPP, é viável a aplicação analógica do referido dispositivo (HC nº 703.912/RS, SEXTA TURMA, Informativo nº 719).
14 – art. 478 A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que a leitura, no Plenário do Júri, das peças elencadas no art. 478, I, do Código de Processo Penal, somente configura nulidade quando vier como argumento de autoridade (RECURSO ESPECIAL nº 1.558.124/MT, STJ, SEXTA TURMA).
AgRg no AREsp nº 1.737.903/MS, STJ, QUINTA TURMA
PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO. ART. 478, I, DO CPP. ROL TAXATIVO. EXPOSIÇÃO DOS ANTECEDENTES CRIMINAIS DO RÉU. POSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte Superior entende que o rol de vedações previsto no art. 478, I, do CPP é taxativo, não comportando interpretação ampliativa. 2. É cabível a exposição dos antecedentes criminais do réu perante o plenário do júri, sem que isso implique nulidade. 3. Agravo regimental desprovido. 
15 - art. 480, § 1º - Final dos debates, o juiz deve perguntar aos jurados se estão habilitados a julgar.
16 – arts. 480, § 2º c/c art. 484 – Prestado os eventuais esclarecimentos, passa-se a leitura e explicação dos quesitos, indagando se as partes possuem algum requerimento ou reclamação a fazer.
17 – arts. 482 e seguintes - Na sala especial, reúnem-se para quesitação e votação o juiz, o Ministério Público, o Defensor, os jurados, acompanhados pelo escrivão e oficial de justiça, sendo certo que de acordo com o STJ quesitos complexos, com má redação ou com formulação deficiente, geram a nulidade do julgamento do Tribunal do Júri, por violação ao art. 482, PU, do CPP (AREsp. nº 1.883.043/DF, Quinta Turma, Informativo nº 730).
Consoante a jurisprudência do STJ a melhor exegese dos comandos normativos vertidos nos arts. 483, III, § 2°, e 593, III, “d”, § 3°, do CPP é a de que ser possível a absolvição do acusado, mesmo que haja o reconhecimento da materialidade e da autoria delitiva, ainda que única tese defensiva seja a de negativa de autoria. Entretanto, o referido juízo absolutório é passível de ser questionado pela acusação,que poderá manejar apelo fundado no art. 593, III, “d”, do CPP, sem que o referido recurso signifique desrespeito ou afronta à soberania dos veredictos do Tribunal do Júri. Na hipótese em que os jurados tenham respondido positivamente aos quesitos da autoria e da materialidade, é possível a absolvição do réu amparada em qualquer tese defensiva, ainda que não sustentada em plenário, como decorrência lógica do sistema da íntima convicção e consagrado na norma insculpida no inciso III do art. 483 do Código de Processo Penal. Contudo, os veredictos do Tribunal do Júri não escapam completamente do controle judicial. O art. 593, § 3°, do CPP estabelece a possibilidade de recurso contra decisão do Conselho de Sentença que se divorcia da prova dos autos, mas limita essa supervisão a uma única vez (AgRg no HC nº 717.764/MG, Quinta Turma). 
Nos termos da jurisprudência do STF a introdução do quesito genérico na legislação processual penal (Lei nº 11.689/08) veio claramente com o intuito de simplificar a votação dos jurados – reunindo as teses defensivas em um quesito –, e não para transformar o corpo de jurados em "um poder incontrastável e ilimitado". Em nosso ordenamento jurídico, embora soberana enquanto decisão emanada do Juízo Natural constitucionalmente previsto para os crimes dolosos contra a vida, o específico pronunciamento do Tribunal do Júri não é inatacável, incontrastável ou ilimitado, devendo respeito ao duplo grau de jurisdição (HC nº 199.098, Primeira Turma).
HABEAS CORPUS nº 178.777, STF, PRIMEIRA TURMA
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que não é possível ao Ministério Público recorrer de decisão do Tribunal do Júri que absolveu réu com base em quesito absolutório genérico. A decisão fundamentou-se na soberania dos vereditos, assegurada na Constituição Federal.
A mudança de entendimento se deve à alteração na composição do colegiado, em razão da saída do ministro Luiz Fux para a Presidência da Corte e do ingresso do ministro Dias Toffoli na Primeira Turma. A Turma cassou decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais que havia determinado ao Tribunal do Júri a realização de novo julgamento do acusado de tentar matar a esposa, quando ela saía de um culto religioso, com golpes de faca, por imaginar ter sido traído. Por maioria dos votos, o colegiado aplicou seu novo entendimento sobre o princípio da soberania dos vereditos e concedeu pedido da Defensoria Pública estadual.
INFORMATIVO nº 993, STF, PRIMEIRA TURMA
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Tribunal do Júri: autoria e materialidade e absolvição genérica - 
A absolvição do réu, ante resposta a quesito genérico de absolvição previsto no art. 483, § 2º, do Código de Processo Penal, independe de elementos probatórios ou de teses veiculadas pela defesa, considerada a livre convicção dos jurados. Em razão da norma constitucional que consagra a soberania dos veredictos, a sentença absolutória de Tribunal do Júri, fundada no quesito genérico de absolvição, não implica nulidade da decisão a ensejar apelação da acusação. Os jurados podem absolver o réu com base na livre convicção e independentemente das teses veiculadas, considerados elementos não jurídicos e extraprocessuais. No caso, o paciente foi pronunciado ante a prática de crime previsto no art. 121, § 2º, II, IV e VI, combinado com o art. 14, II (tentativa de homicídio qualificado), do Código Penal (CP). Submetido a julgamento, o Conselho de Sentença respondeu afirmativamente aos quesitos alusivos à materialidade e autoria. Na sequência, indagados os jurados se absolviam o acusado, a resposta foi positiva, encerrando-se a votação. Após, o tribunal de justiça proveu apelação interposta pelo Parquet para determinar a realização de novo Júri, por considerar que a decisão absolutória foi contrária às provas do processo. Com base nesse entendimento, a Primeira Turma, por maioria, deferiu a ordem de habeas corpus, para reestabelecer decisão absolutória. HC 178777/MG, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 29.9.2020. (HC-178777)
18 – arts. 486 e seguintes – Votação e decisão, por maioria de votos, sem a divulgação completa da apuração. 
19 – art. 492 – Sentença do juiz, a ser lida e publicada em plenário e publicada em plenário.
ATENÇÃO: a desclassificação na segunda fase do Tribunal do Júri poderá ser de duas espécies: a) desclassificação própria: ocorre quando, em plenário, os jurados consideram que o crime não é da competência do Tribunal do Júri, sem especificar qual é o delito. Neste caso, o juiz presidente assume TOTAL capacidade decisória para julgar a imputação, podendo inclusive absolver o acusado. Ex.: os jurados negam ter havido intenção de matar (animus necandi). Nesta hipótese o julgamento passa para o juiz presidente, que dará a devida classificação jurídica aos fatos (lesão corporal culposa, perigo de vida etc.); b) desclassificação imprópria: ocorre quando os jurados reconhecem sua incompetência para julgar o crime indicando qual teria sido o delito praticado. Nesta hipótese, o juiz presidente é obrigado a acatar a decisão dos jurados, condenando o acusado pelo delito indicado. Ex.: os jurados desclassificam o crime doloso (contra a vida) para crime culposo (homicídio culposo). Essa desclassificação vincula o juiz, que não pode decidir de forma distinta.
ATENÇÃO: enunciado nº 11 da Edição nº 185 do Jurisprudência em Teses, STJ: apesar da alteração legislativa promovida pela Lei n. 13.964/2019 no art. 492, I, e, do Código de Processo Penal - CPP, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal entende que é ilegal a execução provisória da pena como decorrência automática da condenação proferida pelo Tribunal do Júri, salvo quando demonstrados os fundamentos da prisão preventiva.
ATENÇÃO: o Conselho Federal da OAB propôs uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn nº 6.783) no Supremo Tribunal Federal, com o fim de questionar a alteração que permite a execução provisória da pena igual ou superior a 15 anos, quando proferida pelo Tribunal do Júri (art. 492, I, “e”, CPP). Conforme sustenta a OAB, o tipo legal vai em desencontro com os princípios da coerência, unidade e completude do ordenamento jurídico. Do mesmo modo, também desrespeita o  princípio constitucional da presunção da inocência, disposto no artigo 5º, LVII, da CF/88 que, por sua vez, determina que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.
ATENÇÃO: de acordo com o STJ (HC nº 560.640/ES, SEXTA TURMA) é ilegal a prisão automática ou a execução provisória após condenação no Tribunal do Júri. Cabe salientar que existe precedente posterior da Segunda Turma do STF julgando pela impossibilidade da execução provisória da pena, mesmo em caso de condenação pelo Tribunal do Júri (HC nº 163.814/MG, STF, SEGUNDA TURMA). Em outra oportunidade consignou o STJ que com lastro nos amplos debates e na decisão erga omnes e com efeito vinculante do Supremo Tribunal Federal, apesar da disposição do art. 492, I, "e", do CPP e da discussão ainda pendente de julgamento acerca de sua constitucionalidade (Tema nº 1068 de repercussão geral), a jurisprudência da Quinta e da Sexta Turmas compreendem ser ilegal, conforme a interpretação conferida ao direito fundamental da presunção de inocência, mandar prender o réu solto para execução imediata e provisória de condenação não definitiva lastreada em veredicto do Tribunal do Júri (HC nº 737.749/MG, Sexta Turma, Informativo de Jurisprudência Edição Especial nº 7).
RHC nº 124.377/MS, STJ, SEXTA TURMA
RECURSO EM HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. HOMICÍDIO QUALIFICADO. CUMPRIMENTO IMEDIATO DE SENTENÇA. TRIBUNAL DO JÚRI. FUNDAMENTAÇÃO GENÉRICA. ILEGALIDADE. OCORRÊNCIA. SENTENÇA ANTERIOR À VIGÊNCIA DO ATUAL ART. 492, I, E, DO CPP. PRINCÍPIO DA IMEDIATIDADE DA NORMA PROCESSUAL. NÃO APLICABILIDADE. RECURSO PROVIDO.
1. É pacífica a jurisprudência desta Corte Superior no sentido de ser ilegal a decisão que nega o direito de recorrer em liberdade sem a indicaçãode elementos concretos, fundada apenas na premissa de que deve ser executada prontamente a condenação preferida pelo Tribunal de Júri.
HC nº 557.436/PE, STJ, QUINTA TURMA
HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. NÃO CONHECIMENTO. MÉRITO. PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA NA SENTENÇA APÓS CONDENAÇÃO. ALEGAÇÃO DE INOCÊNCIA. ANÁLISE INVIÁVEL. DEMANDA DILAÇÃO PROBATÓRIA. TRIBUNAL DO JÚRI. CONDENAÇÃO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA. IMPOSSIBILIDADE. FUNDAMENTAÇÃO DA PRISÃO CAUTELAR LEGALIDADE. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PERICULOSIDADE SOCIAL. INSTRUÇÃO CRIMINAL REVELOU TEMOR GERADO NA COMUNIDADE LOCAL. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS. IRRELEVÂNCIA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO, COM RECOMENDAÇÃO.
...
3. A jurisprudência desta Corte Superior não admite a prisão preventiva, ou a execução provisória da pena, em decorrência automática da condenação pelo Conselho de Sentença do Tribunal do Júri. Precedentes.
20 – art. 495 – Elaboração da ata.
21 – art. 497 – Atribuições do juiz-presidente.
Em atenção ao art. 497 do Código de Processo Penal, tem-se que, no procedimento relativo aos processos da competência do Tribunal do Júri, o magistrado presidente não é mero espectador inerte do julgamento, possuindo, não apenas o direito, mas o dever de conduzi-lo de forma eficiente e isenta na busca da verdade real dos fatos, em atenção a eventual abuso de uma das partes durante os debates. Com efeito, não há falar em excesso de linguagem do Juiz presidente, quando, no exercício de suas atribuições na condução do julgamento, intervém tão somente para fazer cessar os excessos e abusos cometidos pela defesa durante a sessão plenária e esclarecer fatos não relacionados com a materialidade ou a autoria dos diversos crimes imputados ao paciente (HC nº 694.450/SC, STJ, QUINTA TURMA, Informativo de Jurisprudência nº 712).
ATENÇÃO: sobre Tribunal do Júri existem as Edições nºs 75 e 78 do Jurisprudência em Teses do STJ.

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