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Delirium O delirium é caracterizado como um declínio da consciência e da cognição, atrelado a sintomas como anormalidades da percepção, alterações psicomotoras e distúrbios do ciclo sono-vigília. Seu inicio é agudo, horas ou dias, seu quadro é instável e sua melhora é súbita ao tratamento da etiologia. Outras nomenclaturas: estado confusional aguda Epidemiologia O delirium aparece em 5-10% nos pacientes em pronto-socorro. Para cirurgias, até 50% de incidência de delirium pode ser verificada. Para doenças terminais e pacientes em UTI o delirium alcança até 83%. Fatores predisponentes: - Sexo e idade: homem e mais de 65 anos; - Estado cognitivo: demência, depressão, história prévia de delirium; - Estado funcional: pacientes com imobilidade, dependentes, baixo nível de atividade; - Redução da ingesta: desnutrição, desidratação; - Fármacos: psicoativos, álcool - Condições clínicas: perturbações metabólicas, fraturas, doenças terminais, doença neurológica. Fatores precipitantes: - Fármacos: sedativos, hipnóticos, abstinência, narcóticos; - Doença neurológica: meningite, encefalite, AVC; - Doenças intercorrentes: infecções, hipoxia, choque, anemia, hipotermia, desidratação, desnutrição; - Cirurgia: ortopédica, cardíaca, gerais; - Ambientais: internação em UTI, contenções físicas, dor, privação de sono prolongada, cateter urinário. Delirium pode estar associado a um mau prognóstico, cerca de 20-70% dos pacientes que o apresentam em internações vão a óbito. Etiologia - Distúrbios do sistema nervoso central - Distúrbios metabólicos - Doença sistêmica - Medicamentoso - Drogas e abusos de toxinas; As principais etiologias envolvem distúrbios do sistema nervoso central, distúrbios sistêmicos, metabólicos e intoxicação ou abstinência de substâncias. Diagnóstico Conforme o DSM-5: 1) Perturbação da atenção e da consciência. 2) Perturbação da cognição 3) A instalação é súbita, diferente da basal e sua gravidade oscila ao longo do dia. 4) A causa vem de uma origem fisiológica de outra condição médica, intoxicação, abstinência. 5) As perturbações cognitivas, de consciência e de atenção não são por outros distúrbios neurocognitivos pre- existentes, e não são em níveis graves como no coma. O uso de baterias de cognição podem ser usados como o MoCA ou o MEEM, sempre levanto em conta o nível de escolaridade. Características fundamentais: consciência alterada (percepção do eu, do ambiente, responsividade ao meio e memória), atenção alterada, cognição alterada (lembre-se dos 6 domínios da cognição – memória, linguagem, sensomotor, cognição social, atenção, função executiva), memória alterada. Início rápido, curta duração, oscilação de gravidade. Características associadas: desorganização de pensamento, perturbação da sensopercepção, alteração psicomotora, distúrbio do ciclo sono-vigilia, alteração do humor. Exames laboratoriais O diagnóstico de delirium geralmente é à beira do leito, mas a causa deve ser buscada por exames padrão e um EEG pode ajudar, destacando um padrão de ondas lentas, ou alguns focos de hiperatividade. Exames complementares Busca-se etiologia: hemograma, urina, enzimas hepáticas, LCR, bacterioscopia, glicemia, sódio, potássio, fósforo. Fisiopatologia Vários pesquisadores sugerem que o principal neurotransmissor envolvido é a acetilcolina e que a formação reticular (Sistema reticular ascendente) em sua via tegmentar dorsal passando pelo teto do mesencéfalo até o tálamo seja o responsável, isso associado à piora com anticolinérgicos. Para o delirium tremens foi relacionado à hiperatividade do locus ceruleus e seus neurônios noradrenérgicos. Os principais alvos são o córtex cingulado anterior (manejo da atenção), o córtex pré-frontal (manutenção da atenção), junção parietotemporal (atrair e mudar o foco da atenção), e o tálamo. Principalmente, o córtex direito. Diagnóstico Diferencial Delirium x Demência No delirium as instalações dos sintomas são súbitas, enquanto na maior parte das demências os sintomas são graduais. Outro ponto seria o distúrbio de atenção, muito mais proeminente nos deliriuns. Algumas demências vêm acompanhadas de deliriuns, chamadas de demências nebulosas. Delirium x Delírio Delirio é um sintoma, delirium é uma síndrome. Delírio é uma crença falsa, irracional e persistente em algo que não é real. Delirium x Esquizofrenia x Psicose Na esquizofrenia, o paciente não tem tantos distúrbios de consciência nem orientação, e os episódios de sensopercepção são mais organizados e contínuos. Na psicose é um pouco mais complicado, mas a diferença pode estar nos exames de estado mental e no EEG, um pouco alterado no delirium. Prognóstico Após o controle da causa, geralmente o delirium regride em uma semana, podendo atingir até duas semanas. A mortalidade no próximo ano após o delirium é relativamente alta, 2,9x, em virtude dos fatores que o precipitam. Tratamento O paciente deve obter amparo físico, sensorial e ambiental. Físico para que não haja risco de acidentes; sensorial, pois ele não pode ser exposto nem de menos nem demais a estímulos; e ambientais, para que ele se sinta mais a vontade, oferecendo relógios, calendários, orientações. As vezes o delirium do tapa-olho pode ser causado por falta de estimulação sensorial, então retirar de tempo em tempo pode ser útil. Farmacoterapia O tratamento farmacoterápico está associado a psicose e insônia. O haloperidol antagonista de receptor dopaminérgico pode ser utilizado, mas sempre monitorando com eletrocardiograma, pois pode provocar prolongamento da onda QT. Para a insônia é preferível um benzodiazepínico de meia vida curta ou intermediaria, como o lorazepam. Delirium Tremens É a mais grave síndrome de abstinência. Relaciona-se com o cessamento ou a diminuição do consumo de álcool após uma semana, em pacientes que eram dependentes de 5 a 15 anos de altas doses etílicas. A sua mortalidade é de 20%, e aflige pacientes de 30-40 anos. É um grande risco em pacientes que são internados e que podem desenvolver esse tipo de condição após 3 dias de abstinência alcoólica. Os sintomas clínicos envolvem irritação, agressividade, suicídio, hiperatividade autonômica (febre, taquicardia, sudorese excessiva). O paciente geralmente não deve ser contido em maca, por risco de exaustão. Deve-se submeter um soro fisiológico pra repor o limiar hidroeletrolítico e administrar benzodiazepínico, o lorazepam IV por exemplo. O benzodiazepínico é importante pra conter e pra inibir convulsões. Nas síndromes de abstinência, medicamentos anticonvulsivantes não- benzodiazepínicos são ineficazes pras convulsões, e antipsicóticos agravam o quadro de delirium tremens, pois podem reduzir o limiar convulsivante.
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