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W BA 09 07 _V 1. 0 HIDRATAÇÃO E SUPLEMENTAÇÃO HIDROELETROLÍTICA 2 Camila Taise Tavares Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2021 HIDRATAÇÃO E SUPLEMENTAÇÃO HIDROELETROLÍTICA 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Henrique Salustiano Silva Juliana Caramigo Gennarini Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Camila Braga de Oliveria Higa Revisor Tais Moala Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)__________________________________________________________________________________________ Tavares, Camila Taise T231h Hidratação e suplementação hidroeletrolítica / Camila Taise Tavares, – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 41 p. ISBN 978-65-89881-20-9 1. Nutrição esportiva. 2. Hidratação. 3. Suplementação hidroeletrolítica. I. Título. CDD 613.2 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB 010289/O © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Água e o mecanismo de termorregulação ____________________ 05 Desidratação, hiponatremia e os eletrólitos __________________ 20 Estratégias de hidratação e reposição hidroeletrolítica _______ 35 Taxa de sudorese e recomendações práticas ________________ 50 HIDRATAÇÃO E SUPLEMENTAÇÃO HIDROELETROLÍTICA 5 Água e o mecanismo de termorregulação Autoria: Camila Taise Tavares Leitura crítica: Tais Moala Objetivos • Apresentar o papel da água no organismo humano. • Conceituar o mecanismo de termorregulação. • Entender os riscos da desidratação para a saúde e o desempenho esportivo. 6 1. Água A massa celular corporal humana tem como constituinte principal a água. Um adulto de 70kg, por exemplo, pode apresentar de 70 a 75% de água em sua massa magra corporal. Já nas células de gordura, a quantidade de água estimada é de 0 a 10% (PASCHOAL; NAVES, 2014). A quantidade total de água é superior em atletas em relação aos não atletas e tende a ser menor com o passar da idade e com a perda de massa muscular. Além disso, em indivíduos obesos a quantidade de água é menor (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015; MAHAN; RAYMOND, 2018). Esse constituinte é o meio de transporte de nutrientes, gases e produtos do metabolismo. É nas superfícies umedecidas pela água que se dá o transporte de gases, os nutrientes também são transportados em solução aquosa, os produtos do metabolismo são excretados do corpo pela água presente nas fezes e urina. A associação de água e proteínas mantém a lubrificação das articulações. Além disso, a água também ajuda a proteger coração, pulmões, intestinos e olhos contra choques, além de conferir estrutura e formato ao corpo, por ser incompressível e conferir turgescência aos tecidos corporais (PASCHOAL; NAVES, 2014; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Para que as reações químicas ocorram dentro das células, a água é essencial e contribui para a manutenção do volume sanguíneo e, consequentemente, para a saúde cardiovascular (PASCHOAL; NAVES, 2014). Além disso, torna disponíveis os solutos para as reações celulares, regula a temperatura corporal e está envolvida em processos de digestão, absorção e excreção (MAHAN; RAYMOND, 2018). Sendo assim, é fundamental que a água e os eletrólitos estejam em equilíbrio para o adequado funcionamento de todos os órgãos e manutenção geral da saúde humana (PASCHOAL; NAVES, 2014). 7 O consumo de água é contabilizado pela soma da água ingerida pelos líquidos e alimentos, que representam cerca de dois litros por dia e a que é produzida pelo metabolismo dos nutrientes, que representa aproximadamente 250ml ao dia (PASCHOAL; NAVES, 2014). Conforme mostra o Quadro 1, alimentos como alface, aipo, pepino, repolho cru, melancia, espinafre, leite desnatado, brócolis, entre outros, são compostos de mais de 90% por água e, por isso, são considerados fontes desse líquido (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015; MAHAN; RAYMOND, 2018). Quadro 1 – Percentual de água nos alimentos Alimento % água Alface. 96. Aipo. 95. Pepino. 95. Repolho cru. 92. Melancia. 92. Espinafre. 91. Leite desnatado. 91. Brócolis cozido. 91. Fonte: adaptado de Mahan e Raymond (2018, p. 355). 8 Adultos saudáveis conseguem sobreviver até dez dias sem água e crianças até cinco dias, enquanto sem comida conseguem sobreviver várias semanas. Essa informação demonstra a importância da ingestão de água para a vitalidade humana (MAHAN; RAYMOND, 2018). 1.1 Distribuição da água corporal Dois terços (aproximadamente 62%) da água corporal total estão distribuídos no líquido intracelular e estão contidos dentro das células. Enquanto um terço (cerca de 38%) corresponde ao líquido extracelular, que está no líquido intersticial, contido nos espaços microscópicos entre as células, e na saliva, linfa, líquido presente nos olhos, líquidos secretados pelas glândulas e pelo sistema digestório, líquor e líquido secretado pela pele e rins, além do plasma sanguíneo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015; MAHAN; RAYMOND, 2018). O transporte da água entre os meios intra e extracelular não se dá de forma ativa, ou seja, ocorre sem o gasto de energia. Entretanto, há três maneiras pelas quais a água atravessa as membranas celulares. Uma delas é pela bicamada lipídica, a outra pelos canais de membrana específicos para as moléculas de água, chamados aquaporinas ou, ainda, acoplada ao transporte de solutos por canais específicos como o de glicose (COZZOLINO; COMINETTI, 2013). A Figura 1 ilustra a passagem de água os compartimentos intra e extracelular pelas aquaporinas. 9 Figura 1 – Passagem de água entre os compartimentos intra e extracelular pelas aquaporinas da membrana celular Fonte: adaptada de Ladanifer/ iStock.com. De três a quatro litros, cerca de 20% do líquido extracelular, compõem o plasma sanguíneo, que é responsável pela maior quantidade de líquido perdido com a transpiração (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). O exercício físico de nível moderado a intenso pode elevar o conteúdo de água intracelular, pois a massa muscular aumenta com seu maior conteúdo de água. Por outro lado, após uma sessão intensa de exercício, há aumento da pressão hídrica dentro do sistema circulatório, que provoca o desvio temporário do líquido do plasma para os espaços intersticial e intracelular (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). A água se move entre os líquidos intra e extracelular, com base na osmolaridade. A osmolaridade é o número de moléculas em solução por kg de água e é proporcional à quantidade de partículas na solução (PASCHOAL; NAVES, 2014; MAHAN; RAYMOND, 2018). Em exercícios prolongados no calor, pode ocorrer diminuição do volume plasmático e aumento da osmolaridade plasmática. Por esse motivo, a reposição Membrana cellular. Canal de água 10 de água durante e após o exercício físico precisam ser adequadas (PASCHOAL; NAVES, 2014). De 30 a 50% da perda hídrica pelo suor, geralmente,é do líquido intracelular, enquanto os fluidos intersticiais contribuem com 40 a 60% para essa perda e o plasma com 10%. A principal via de perda de água quando o indivíduo está eu-hidratado, ou seja, hidratado adequadamente, é o fluido extracelular. Entretanto, quando o grau de hidratação cai, há também a contribuição do fluido intracelular nessa perda hídrica (PASCHOAL; NAVES, 2014). 1.2 Equilíbrio hídrico O equilíbrio hídrico é definido como o resultado da subtração da quantidade de água ingerida da quantidade de água perdida. (PASCHOAL; NAVES, 2014; MAHAN; RAYMOND, 2018). Para ser transferida ao plasma sanguíneo, a água precisa ser absorvida e isso ocorre, principalmente, no trato gastrointestinal (COZZOLINO; COMINETTI, 2013). Mecanismos de redução da excreção urinária de água e sódio estimulam a sede e controlam a ingestão e eliminação de água e eletrólitos (PASCHOAL; NAVES, 2014; MAHAN; RAYMOND, 2018). A água ingerida é aquela presente nos líquidos e alimentos e a que resulta dos processos metabólicos dos nutrientes, enquanto a perdida é aquela presente na excreção urinária e fecal, suor e respiração (PASCHOAL; NAVES, 2014). Em indivíduos em exercício físico de alta intensidade, a perda de água no suor e respiração correspondente a 2,5% da massa corporal, pode reduzir o desempenho em 35% (PASCHOAL; NAVES, 2014). 11 Em caso de déficit de 200 a 300 ml de água corporal, o volume sanguíneo é reduzido e a osmolaridade dos fluidos corporais aumentada, permitindo a ativação de centros no hipotálamo, onde originam-se a sensação de sede e ocorre a liberação do hormônio antidiurético (conhecido como ADH ou vasopressina) (PASCHOAL; NAVES, 2014). A partir do equilíbrio osmótico entre os meios intra e extracelular é que esses mecanismos de regulação funcionam. Dessa forma, a quantidade de água corporal será determinada pela quantidade de solutos osmoticamente ativos, que são o sódio (Na+) e o potássio (K+) (PASCHOAL; NAVES, 2014). O ADH é um hormônio produzido pelos núcleos do hipotálamo, seus axônios alcançam a neuro-hipófise, onde liberam vesículas com ADH. Essas vesículas são estocadas em sua forma madura para serem liberadas, em outro momento, sobre os capilares hipofisários da neuro- hipófise (COZZOLINO; COMINETTI, 2013). O papel do ADH é de aumentar a reabsorção de água nos rins, nas células da região dos túbulos coletores dos néfrons, fazendo com que haja redução do volume de urina produzido. Esse hormônio atua também nos hepatócitos e células vasculares, aumentando a gliconeogênese hepática e a vasoconstrição (COZZOLINO; COMINETTI, 2013; PASCHOAL; NAVES, 2014). Caso o corpo possua quantidade excessiva de água, há a inibição da sede, com consequente redução da ingestão hídrica e o ADH não é liberado, fazendo com que a reabsorção de água pelos túbulos renais diminua, consequentemente, aumentando a diurese (PASCHOAL; NAVES, 2014). 12 Além do ADH, diversos outros hormônios trabalham para manter o equilíbrio da água, como a angiotensina II, cortisona, norepinefrina e epinefrina (MAHAN; RAYMOND, 2018). A aldosterona faz parte do sistema fisiológico conhecido como sistema renina-angiotensina-aldosterona e também é um hormônio que participa do equilíbrio de água corporal, agindo sobre os rins para manter o equilíbrio dos eletrólitos, especialmente do Na+. Quando o Na+ está reduzido nos fluidos extracelulares e, consequentemente, na pressão sanguínea, há estímulo da produção do sistema renina- angiotensina-aldosterona. A produção de aldosterona é estimulada pelo córtex adrenal, que estimula a reabsorção de Na+ pelo túbulo distal dos néfrons, o mesmo ocorre com a água, que é reabsorvida e, consequentemente, há o aumento da pressão sanguínea (COZZOLINO; COMINETTI, 2013; PASCHOAL; NAVES, 2014). A liberação do ADH, o aumento da sensação de sede e a vasoconstrição arterial também se dão por estímulo da angiotensina II (PASCHOAL; NAVES, 2014). É necessária a perda de um litro e meio a dois litros de líquido para ativar o mecanismo da sede. Os homens costumam ter taxas de suor mais elevadas que a das mulheres, levando-os a uma maior perda de líquidos durante o exercício (MAHAN; RAYMOND, 2018). 1.3 Recomendações de ingestão de água A quantidade de água ingerida diariamente varia de acordo com o tamanho corporal, grau de atividade física e condições ambientais. O Institute of Medicine recomenda a ingestão diária de 3,7 litros de água (cerca de 16 copos) para homens e 2,7 litros de água (aproximadamente 12 copos ao dia) para mulheres (MAHAN; RAYMOND, 2018). 13 Cerca de 20% da água necessária diariamente é fornecida pelas frutas e vegetais e 80% nas bebidas, incluindo água pura, sucos, chás, leite, sopas e isotônicos (MAHAN; RAYMOND, 2018). Em indivíduos em exercício físico, é necessário observar também a ingestão adequada de líquidos antes, para iniciar o exercício bem hidratado, evitar desidratação maior que 2% do peso durante e reestabelecer o balanço após o exercício (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). Em condições de estresse, como no exercício, o mecanismo de sede pode não ser suficiente para manter a hidratação adequada e, por isso, o atleta precisa estar atento e buscar ingerir líquido mesmo sem sentir vontade. É comum que durante o exercício físico, o atleta consiga repor apenas 2/3 das necessidades de forma voluntária, o que representa risco para sua saúde e para o desempenho (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). 1.4 Intoxicação por água Quando a ingestão de água é maior que a capacidade do corpo de excretá-la, ocorre a intoxicação por água, situação conhecida por hiponatremia, o que faz com que o volume de líquido intracelular aumente. Esse aumento de líquido intracelular pode levar ao edema das células cerebrais e provocar sintomas como cefaleia, náuseas, vômitos, entre outros. Se não tratada, pode levar a óbito (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015; MAHAN; RAYMOND, 2018). 2. Termorregulação O organismo humano possui baixa eficiência mecânica. Sendo assim, 25% da energia química proveniente da oxidação dos nutrientes são responsáveis pelo movimento ao se transformar em energia mecânica. 14 Os outros 75% transformam-se em energia térmica, apesar de que até mesmo a energia mecânica, após o movimento, também se transforma em energia térmica. Logo, toda a energia se transforma em calor. Durante a prática de exercícios físicos, a energia térmica acumulada é dissipada por meio de mecanismos termorregulatórios (CARVALHO; MARA, 2010). A termorregulação é um mecanismo fisiológico para ajuste da temperatura corporal, a fim de que esta se mantenha entre 36,5ºC e 38,5ºC. Variações de temperatura para baixo de 33,5ºC ou acima de 41,5ºC podem prejudicar o funcionamento do organismo e até mesmo levar o indivíduo a óbito (PASCHOAL; NAVES, 2014; MAHAN; RAYMOND, 2018). A água é fundamental nesse processo por atuar como termoestabilizadora, absorvendo muito calor com pouca alteração na temperatura, o que combinado ao seu alto ponto de evaporação, auxilia na manutenção de uma temperatura corporal estável durante o estresse térmico ambiental e a maior carga térmica provocada pela prática de exercício físico (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). A fim de manter a temperatura corporal dentro dos níveis adequados, o corpo humano utiliza-se da radiação, condução, convecção, respiração e evaporação como vias de troca de calor com o ambiente. Por limitar-se à perda de calor, a evaporação do suor é considerada a via mais eficiente de termorregulação, porém, essa via é dependente da umidade relativa do ar (MELO-MARINS et al., 2017). A umidade relativa do ar é o conteúdo de água presente no ar ambiente. Quando a umidade relativa está em 100%, a superfície cutânea não consegue evaporar líquido, dificultando o mecanismo de resfriamento corporal. Em caso de umidade alta há a formação de gotas de suor sobre a pele, mas que escorregam e caem sem atingir o efeito de resfriamento. Por outro lado, em dias mais secos, o ar podereceber mais umidade e 15 causar uma aceleração da evaporação de líquidos na pele (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Em geral, devido à grande perda de água, juntamente com uma menor evaporação de água que ocorre em ambiente úmido, a necessidade de reposição de água nesse ambiente torna-se maior que em ambiente seco (PASCHOAL; NAVES, 2014). 2.1 Termorregulação no exercício físico O hipotálamo é a região cerebral responsável pela regulação da temperatura corporal, funcionando como um termostato, a fim de manter a temperatura central dentro de uma variação normal. O aquecimento estimula mecanismos de dissipação do calor e o resfriamento ativa processos de ativação e conservação do calor (PASCHOAL; NAVES, 2014). Indivíduos em exercício físico aumentam a produção de calor metabólico, produzido pelas contrações musculares, o que aumenta a temperatura interna do organismo, necessitando dissipar o calor para o meio ambiente, por meio da transferência de calor para a pele. Essa troca de calor depende de fatores como temperatura, umidade, radiação e vestimentas (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). A produção de calor aumenta conforme a intensidade do exercício aumenta. Embora a temperatura ambiental esteja mais fria, a prática de exercícios intensos faz com que haja aumento da temperatura corporal (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). A dissipação do calor pela pele durante o exercício ocorre, principalmente, por meio da evaporação. Isso aumenta a tendência à perda de líquidos, que, caso não seja reposta adequadamente, pode levar à desidratação, que pode resultar em consequências negativas ao 16 desempenho do atleta (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015; MELO-MARINS et al., 2017). Há duas formas de ativar os mecanismos corporais de regulação do calor. Uma é por meio dos receptores térmicos presentes na pele, que proporcionam influxo para a área de controle central. A outra é pelas modificações na temperatura sanguínea que, ao atravessar o hipotálamo, o estimulam diretamente (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Para atletas que realizam competições em ambientes de clima diferente do que estão habituados, especialmente os que mudam para ambientes de altas temperaturas para as provas, é necessária a realização e pelo menos duas semanas de aclimatação ao calor, para que os processos de termorregulação ocorram eficientemente e sua saúde e desempenho não sejam afetadas (PASCHOAL; NAVES, 2014). 2.1 Termorregulação no calor versus no frio Dificilmente ocorre sobrecarga fisiológica para a regulação da temperatura corporal. Entretanto, no frio extremo, somado ao repouso, pode haver perda excessiva de calor, o que faz com que haja aumento da produção de calor pelo corpo e, ao mesmo tempo, a perda de calor é diminuída, a fim de minimizar qualquer declínio na temperatura central (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Impulsos nervosos de sensação de frio ou calor são enviados pelos termorreceptores para a medula espinhal, que os conduz até o hipotálamo. O calor estimula mecanismos de perda de calor, por meio da sudorese e da vasodilatação, onde o calor é perdido do centro do corpo para a periferia. O frio, por sua vez, estimula a vasoconstrição, tremores e piloereção, para produção e conservação do calor. No frio, também a parte posterior do hipotálamo estimula a liberação de norepinefrina, para aumento do calor metabólico, além de aumento da mobilização de ácidos graxos (PASCHOAL; NAVES, 2014). 17 Ajustes vasculares, nos quais ocorre vasoconstrição periférica, e redirecionamento do fluxo sanguíneo das regiões mais frias em direção às mais quentes; atividade muscular, que mantém a temperatura central constante em um ambiente com até -30ºC sem a necessidade de roupas pesadas; e a produção hormonal de epinefrina e norepinefrina pela medula suprarrenal, que elevam a produção de calor durante a exposição ao frio, são mecanismos de termorregulação no estresse induzido pelo frio (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Já no calor, o corpo tende a se proteger do superaquecimento. Há quatro processos físicos para a perda de calor corporal: radiação, condução, convecção e evaporação (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). A Figura 2 ilustra as diferenças nos mecanismos de termorregulação no frio e no calor, observadas próximo à superfície da pele. A perda de calor por radiação não se dá por contato molecular entre objetos e sim pelo ar para os objetos sólidos mais frios do meio ambiente. A perda de calor por condução é a transferência direta de calor entre moléculas, por intermédio de um líquido, sólido ou gás, sendo que no corpo humano a maior parte do corpo é transportada pelo sangue para a superfície (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). 18 Figura 2 – Diferença entre termorregulação no calor e no frio, observada próximo à superfície da pele Fonte: ttsz/ iStock.com. A perda de calor por convecção depende da velocidade com que o ar ou a água, que estão junto ao corpo, são trocados após serem aquecidos. Já a perda de calor por evaporação se dá quando a água passa pelas vias respiratórias e superfície da pele e, com isso, transfere calor para o meio ambiente. É por meio da sudorese que o corpo fisiologicamente procura limitar o aumento da temperatura interna eliminando água pela pele por evaporação (PASCHOAL; NAVES, 2014; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Somente quando o suor evapora, ou seja, quando muda de estado físico, é que o corpo resfria eficientemente. Do contrário, o calor permanece na pele. A cada 1g de suor evaporado, o corpo perde 0,58 kcal. Sendo assim, se durante o exercício, o atleta não sua e, portanto, não dissipa o calor adequadamente, a temperatura corporal aumenta em 0,2º C por minuto, podendo, em 15 a 20 min de exercício moderado, levar a um quadro de hipertermia (PASCHOAL; NAVES, 2014). 19 Em geral, as roupas podem amenizar o ganho de calor em ambiente quente ou postergar a perda de calor no frio. Por esse motivo, para cada tipo de esporte existem roupas mais recomendadas (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Referências BIESEK, Simone; ALVES, Leticia A.; GUERRA, Isabela. Estratégias de nutrição e suplementação no esporte. 3. ed. São Paulo: Manole, 2015. CARVALHO, Tales de; MARA, Lourenço Sampaio de. Hidratação e nutrição no esporte. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 16, n. 2, p. 144-148, 2010. COZZOLINO, Silvia Maria Franciscato; COMINETTI, Cristiane. Bases bioquímicas e fisiológicas da nutrição: nas diferentes fases da vida, na saúde e na doença. São Paulo: Manole, 2013. MAHAN, L. Kathleen; RAYMOND, Janice L. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 14. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. MCARDLE, William D.; KATCH, Frank I.; KATCH, Victor L. Fisiologia do exercício. Wolters Kluwer Health, 2015. MELO-MARINS, Denise; SOUZA-SILVA, Ana A.; SILAMI-GARCIA, Emerson; LAITANO, Orlando. Termorregulação e equilíbrio hídrico no exercício: aspectos atuais e recomendações. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 25, n. 3, p. 181, 2017. PASCHOAL, Valeria; NAVES Andrea. Tratado de Nutrição Esportiva Funcional. 1. ed. São Paulo: Roca, 2014. 20 Desidratação, hiponatremia e os eletrólitos Autoria: Camila Taise Tavares Leitura crítica: Tais Moala Objetivos • Entender o conceito de desidratação. • Conhecer o conceito de hiponatremia e suas consequências para o corpo humano. • Correlacionar a importância dos eletrólitos com a hidratação no exercício. 21 1. Desidratação Desidratação é um processo de perda de água, no qual ocorre a passagem de água de um estado de hiperidratação (estado em que há maior conteúdo de água) para eu-hidratação (estado de hidratação adequado) ou de eu-hidratação para hipo-hidratação (estado em que há menor conteúdo de água) (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015), conforme pode ser observado na Figura 1. A desidratação pode ser relacionada à perda de peso antes e após o exercício e, dessa forma, pode ocorrer em diversos níveis. Perdas de 1 a 2% são classificadas como leves, enquanto perdas de 3% estão relacionadasà redução do desempenho esportivo, de 4 a 6% pode resultar em fadiga e acima de 6% pode resultar em morte, devido a choque térmico (PASCHINI et al., 2018). Existem sinais e sintomas que aparecem quando há perda de 25% ou mais do volume do líquido extracelular. Esses sinais e sintomas auxiliam no diagnóstico do quadro clínico dessa deficiência de água, como pele seca, língua pastosa, órbitas oculares escavadas, perda de peso recente, cefaleia, taquicardia entre outros (COZZOLINO; COMINETTI, 2013; MAHAN; RAYMOND, 2018). Além disso, menos de 500 ml de excreção urinária em 24 horas, densidade urinária maior que 1,03 e urina acentuadamente mais escura também caracterizam o quadro de desidratação (COZZOLINO; COMINETTI, 2013; MAHAN; RAYMOND, 2018). As consequências da desidratação para o corpo humano são a redução do fluxo sanguíneo, que compromete a distribuição de substrato e oxigênio para os músculos, o aumento da frequência cardíaca, onde a cada 1% de perda de peso corporal provoca aumento de cinco a oito batimentos por minuto, o aumento de problemas gastrointestinais, a maior degradação e utilização do glicogênio muscular e a queda da performance, entre outros (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). O indivíduo 22 também pode apresentar delírios, convulsão ou coma, por isso, a desidratação se torna um risco (COZZOLINO;e COMINETTI, 2013). A desregulação de água pode estar associada com outros distúrbios, como o desequilíbrio eletrolítico. Por esse motivo, a avaliação do estado de hidratação torna-se vital (MAHAN; RAYMOND, 2018). Figura 1 – Processo de perda de água, caracterizando desidratação Fonte: adaptada de Mcardle, Katch, Katch (2015, p. 187). Em geral, a perda de água excessiva ocorre entre outros motivos por vômito, diarreia, uso de diuréticos, ingestão reduzida causada por anorexia, náuseas, depressão, acesso limitado a líquidos (MAHAN; RAYMOND, 2018). O exercício físico somado ao estresse térmico e a uma reposição inadequada de água e eletrólitos pode levar atletas e esportistas à desidratação (PASCHOAL; NAVES, 2014). Essa ingestão inadequada de água e eletrólitos durante a prática de exercício em ambientes quentes, pode levar um indivíduo que inicia o exercício eu-hidratado a um estado de hipo-hidratação ao longo 23 do tempo. A hipo-hidratação prejudica o desempenho esportivo e os mecanismos termorregulatórios (PASCHOAL; NAVES, 2014). O impacto da desidratação no sistema fisiológico e no desempenho esportivo é proporcional ao grau de desidratação do atleta, ou seja, quanto mais desidratado, maior esse impacto (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). Há situações que aumentam os riscos de desidratação durante o exercício, como sua intensidade, ou seja, quanto mais intenso, maior o risco de desidratação, as condições ambientais, o tipo de roupas utilizadas pelo atleta e a frequência diária de treinos, onde quanto mais sessões de treinamento no dia, maior o risco de desidratação (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). É comum encontrar um consumo excessivo de proteínas (acima de duas gramas por quilograma de peso corporal) para obtenção de energia em atletas e esportistas, e isso é um fator que pode acelerar a desidratação durante o exercício. Isso ocorre porque as proteínas geram ureia como metabólito, e esta precisa ser dissolvida em água para ser excretada pela urina, aumentando a diurese (MCARDLE, KATCH, KATCH, 2015). É necessário que o atleta, durante o exercício físico, tenha consciência de suas perdas hídricas em diversas situações climáticas e de treinamento. Existem diversos instrumentos que podem ser utilizados para a avaliação do estado de hidratação em atletas e praticantes de atividade física (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). No Quadro 1 são apresentados alguns desses instrumentos. Embora o tipo de instrumento utilizado na avaliação dependa das condições de trabalho e da praticidade de aplicação, é indicado associar mais de um tipo para tornar o resultado da avaliação o mais fidedigno possível (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). 24 Quadro 1 – Instrumentos de avaliação do estado de hidratação de atletas e praticantes de atividade física Parâmetro Precisão Tipo de mudanças observadas Densidade da urina. Alta. Crônicas. Osmolalidade da urina. Alta. Crônicas. Osmolalidade do plasma. Média. Crônicas e agudas. Peso corporal. Alta. Crônicas e agudas. Fonte: adaptado de Biesek, Alves e Guerra (2015, p. 108). 2. Hiponatremia Hiponatremia é uma condição clínica também conhecida como intoxicação por água, descrita pela primeira vez na literatura médica em 1985. Essa condição ocorre quando a perda de sais é excessiva em relação à perda de água ou quando há retenção hídrica em excesso em relação ao conteúdo de sal (PASCHOAL; NAVES, 2014; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). A hiponatremia é considerada potencialmente séria, pois as baixas concentrações plasmáticas de sódio, de maneira persistente, podem levar ao desequilíbrio osmótico ao longo da barreira hematoencefálica. Esse desequilíbrio pode resultar em um aporte rápido de água ao encéfalo. O edema do tecido cerebral reflete em sintomas que podem ser leves, como cefaleia, confusão mental, mal-estar, náuseas e cãibras, mas também podem resultar em sintomas graves, como convulsões, coma, edema pulmonar, parada cardíaca e morte (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Na Figura 2 podem ser observadas as causas e consequências da hiponatremia. 25 Além desses sintomas, relata-se desconforto gastrointestinal, náuseas e vômitos, cefaleia latejante, inquietação, edema de mãos e pés como sintomas de hiponatremia (INÁCIO et al., 2010). A literatura descreve mais de sessenta possíveis causas para o desenvolvimento do quadro de hiponatremia, porém, em atletas e praticantes de atividade física, as principais são a ingestão excessiva de fluidos, a prática de exercício extenuante, a alta taxa de sudorese e a reposição inadequada de sódio durante o exercício. O esforço físico provoca perda da homeostasia corporal e a reposição de água pura pode não ser suficiente para manter o atleta ou esportista em equilíbrio hidroeletrolítico (INÁCIO et al., 2010; PASCHOAL; NAVES, 2014). Pelo fato de se diluir mais facilmente e aumentar a diurese durante o exercício, a hiperidratação com bebidas à base de glicerol pode elevar o risco de desenvolvimento de hiponatremia (INÁCIO et al., 2010). 26 Figura 2 – Hiponatremia, causas e consequências Fonte: elaborada pela autora. O excesso de ingestão hídrica e de outros líquidos antes, durante e após o exercício, também podem aumentar o risco de hiponatremia. 27 Quando causado pelo exercício físico, esse quadro pode ocorrer durante ou até vinte e quatro horas após o término do exercício prolongado (PASCHOAL; NAVES, 2014). Essa condição é comum em atletas inexperientes em provas de longa duração, como maratona, triatlon, nos que possuem maior percentual de gordura corporal e nos que correm em velocidade mais lenta (COZZOLINO; COMINETTI, 2013). As concentrações plasmáticas ou séricas de sódio (Na+) abaixo de 135 mmol por litro caracterizam a hiponatremia associada ao exercício (PASCHOAL; NAVES, 2014). Em provas de endurance, a hiponatremia pode provocar um colapso, que pode ser definido como a incapacidade de caminhar sem auxílio, com ou sem exaustão, náuseas, vômitos ou câimbras (INÁCIO et al., 2010). Essa situação é incomum em provas com duração inferior a quatro horas. No entanto, é comum em exercícios de longa duração, acima de oito horas e com reposição de grandes quantidades de líquidos pobres em sódio e se essa condição for associada à desidratação, pode necessitar de atendimento médico que com auxílio de reidratação oral é capaz de amenizar os sintomas (INÁCIO et al., 2010). Como prevenção, recomenda-se o uso de bebidas reidratantes, com sódio durante o exercício. Como essas bebidas possuem carboidratos, a absorção de água e sódio é aumentada, uma vez que o transporte de glicose na mucosa do enterócito é associada ao transportedo sódio (INÁCIO et al., 2010). 28 3. Eletrólitos Eletrólitos são substâncias que pela adição de solventes ou por aquecimento, são dissociadas ou ionizadas originando os cátions, que são íons positivos e os ânions, que são íons negativos (COZZOLINO; COMINETTI, 2013). Entre os espaços intra e extracelular, os eletrólitos apresentam-se em diferentes concentrações. Enquanto sódio, cloreto e bicarbonato são extracelulares, potássio, magnésio, fosfato e sulfato estão presentes no espaço intracelular. Sódio, cloreto e potássio são os principais íons de seus respectivos meios (COZZOLINO; COMINETTI, 2013). O consumo de água e eletrólitos é fundamental para o funcionamento de todos os órgãos e manutenção da saúde humana. Os eletrólitos estão presentes em cada compartimento de água corporal e sua composição e concentração são determinantes para o movimento de fluidos entre os compartimentos intra e extracelular (PASCHOAL; NAVES, 2014). O sódio (Na+), o potássio (K+) e o cloreto (Cl-) são eletrólitos monovalentes, envolvidos por moléculas de água, sendo mantidos em solução com sua carga ativa. Esses íons são responsáveis pela osmolaridade dos fluidos corporais, que é a quantidade de moléculas em solução por quilograma de água (COZZOLINO; COMINETTI, 2013; PASCHOAL; NAVES, 2014). O Na+ e o Cl- são perdidos no suor, o que provoca o aumento de suas necessidades. Em alguns atletas, essa perda faz com que a necessidade seja superior ao limite superior tolerável (UL) de 2,3 gramas de Na+ ao dia e de 3,6 gramas de Cl- ao dia (COZZOLINO; COMINETTI, 2013). A perda de eletrólitos pela transpiração durante a exposição prolongada ao calor é comum, e n Quadro 2 são apresentadas as concentrações de sódio, cloreto e outros eletrólitos no suor. Dessa forma, se não 29 repostos adequadamente, esses minerais deficientes podem resultar em cãibras, dores e espasmos musculares, principalmente, no abdômen e membros superiores e inferiores. Indivíduos com câimbras costumam apresentar altas concentrações de Na+ no suor. A ingestão diária de sal nos dias que antecedem o estresse térmico, juntamente com a ingestão adequada de água previne os problemas ocasionados pelo calor (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Quadro 2 – Concentração de eletrólitos no suor Eletrólito Concentração (mmol/L) Sódio. 20-80. Potássio. 4-8. Cloreto. 20-60. Cálcio. 01. Magnésio. <0,2. Bicarbonato. 0-35. Fosfato. 0,1-0,2. Sulfato. 0,1-0,2. Fonte: adaptado de Biesek, Alves e Guerra (2015, p.108). 3.1 Sódio O sódio ajuda a evitar a hiponatremia e a maior concentração desse íon está nas células envolvidas em sua secreção ou absorção, como nos túbulos renais, trato gastrointestinal, glândulas sudoríparas e lacrimais. Aproximadamente, metade da quantidade total de Na+ corporal está 30 dentro dos ossos, como parte da matriz óssea, porém, esse Na+ não é trocado com o meio extracelular nem em situações críticas de depleção ou hiponatremia (PASCHOAL; NAVES, 2014; MAHAN; RAYMOND, 2018). A aldosterona tem papel na conservação do Na+ nos rins em situações de baixa a moderada ingestão dietética e, em caso de alta ingestão pela dieta, a liberação desse hormônio é reduzida e o excesso de sódio é liberado pela urina (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Em exercícios de longa duração, comumente ocorrem perdas hídricas que não são repostas adequadamente, levando à redução do volume sanguíneo e aumento da osmolaridade do plasma. O sistema nervoso central e os receptores periféricos detectam o aumento da osmolaridade e estimulam a liberação do hormônio antidiurético (ADH), cuja função é aumentar a reabsorção de água nos túbulos coletores e distais nos rins. Assim, há redução do cloreto de sódio extracelular e a pressão arterial estimula o sistema renina-angiotensina-aldosterona. No córtex adrenal, a produção de aldosterona é estimulada pela angiotensina II, e a reabsorção de sódio pelos rins é aumentada. Dessa forma, há aumento da retenção de água e sal e consequente elevação da pressão arterial (PASQUINI et al., 2018), conforme ilustra a Figura 3. 31 Figura 3 – Mecanismo de retenção de sódio e água nos rins Fonte: elaborada pela autora. O sódio é ingerido na alimentação na forma de cloreto de sódio (NaCl), conhecido como sal de cozinha. Um grama (1g) de sal de cozinha é composto de 600 miligramas de cloro e 400 miligramas de sódio. Aproximadamente 95% do sódio ingerido via alimentação é absorvido no intestino delgado e cólon, e os outros 5% são excretados nas fezes (PASQUINI et al., 2018). 32 3.2 Potássio O potássio (K+) atua no balanço hidroeletrolítico, na transmissão nervosa, nos mecanismos de transporte ativo e na regulação da síntese proteica e de glicogênio (COZZOLINO; COMINETTI, 2013; PASQUINI et al., 2018). No exercício físico, a concentração de K+ não diminui tanto quanto a do Na+, porém, como, normalmente, está presente nas bebidas esportivas, auxilia na hidratação intracelular (COZZOLINO; COMINETTI, 2013). Embora a perda desse íon no exercício físico seja comumente associada a câimbras musculares, a causa das câimbras ainda não está bem definida e a suplementação de potássio pode não ser a solução para redução desse sintoma (PASQUINI et al., 2018). Em geral, o consumo regular de frutas, verduras, oleaginosas, laticínios, carnes magras e cereais integrais é suficiente para suprir as necessidades diárias, uma vez que cerca de 85% do K+ ingerido é absorvido, em indivíduos saudáveis (COZZOLINO; COMINETTI, 2013). Durante a prática de exercício físico, normalmente, o K+ é liberado das células musculares, ocasionado pelo desacoplamento entre sua saída durante a despolarização e posterior entrada na célula pela bomba de sódio/ potássio (Na/K ATPase). Os níveis de potássio podem ser melhorados pelo exercício, pois este faz com que haja melhora na atividade da bomba de sódio/ potássio, fazendo com que haja menor liberação de K+ durante o exercício (PASQUINI et al., 2018). O equilíbrio calêmico, como é chamado o equilíbrio de potássio, é regulado pelo hormônio aldosterona de maneira precisa. Embora haja pouca perda de potássio pelo suor, essa perda pode resultar em fadiga durante eventos esportivos e, por isso, sua reposição pela dieta é fundamental (MAHAN; RAYMOND, 2018). 33 3.3 Cloreto O Cl- é um íon localizado no meio extracelular e que tem grande importância nos eritrócitos e no transporte de dióxido de carbono (CO2) dos tecidos muscular e hepático para os pulmões (PASCHOAL; NAVES, 2014). A respiração dos tecidos gera CO2 para o plasma sanguíneo e que, ao entrar no eritrócito, é convertido pela enzima anidrase carbônica em bicarbonato (HCO3). O HCO3- volta ao plasma sanguíneo, de onde será transportado aos pulmões. O HCO3- é muito mais solúvel no plasma que o CO2 e isso aumenta a capacidade do sangue em transportar CO2 dos tecidos para os pulmões. Nos pulmões, o bicarbonato volta ao eritrócito, onde é convertido novamente em CO2, que é exalado. A permeabilidade da membrana ao eritrócito é aumentada pelo transportador cloreto- bicarbonato, que faz com que para cada HCO3- movido em uma direção, haja um íon Cl- se movendo na direção oposta. É obrigatório o acoplamento entre Cl- e HCO3-, pois na ausência de Cl- não há transporte de HCO3- (PASCHOAL; NAVES, 2014). 3.4 Magnésio O magnésio (Mg2+) atua como cofator de mais de trezentas reações enzimáticas no corpo. As reações mais importantes referentes ao exercício estão relacionadas ao metabolismo energético nas células. Ele tem papel central na utilização e no metabolismo da glicose e, por esse motivo, pode auxiliar no aumento do desempenho esportivo. No entanto, o exercício pode provocar aumento da excreção de Mg2+ devido ao aumento de sua excreção da urina e no suor (PASCHINI et al., 2018). 34 3.5 Outros eletrólitos Embora presentes em menores concentrações, cálcio (Ca2+), bicarbonato (HCO3-), fosfato (PO43-) e sulfato (SO42-) também são eletrólitos essenciais à saúde e que podem serexcretados pelo suor. A composição do suor pode sofrer influência de variáveis como dieta, taxa de suor, nível de hidratação e aclimatação do atleta (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). Referências BIESEK, Simone; ALVES, Leticia A.; GUERRA, Isabela. Estratégias de nutrição e suplementação no esporte. 3. ed. São Paulo: Manole, 2015. COZZOLINO, Silvia Maria Franciscato; COMINETTI, Cristiane. Bases bioquímicas e fisiológicas da nutrição: nas diferentes fases da vida, na saúde e na doença. São Paulo: Manole, 2013. INÁCIO, Glaucy S. et al. Hiponatremia e o esporte. Revista Digital EFDesportes. com, v. 15, n. 149, 2010 MAHAN, L. Kathleen; RAYMOND, Janice L. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 14. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018 MCARDLE, William D.; KATCH, Frank I.; KATCH, Victor L. Fisiologia do exercício. Wolters Kluwer Health, 2015. PASCHOAL, Valeria; NAVES Andrea. Tratado de nutrição esportiva funcional. 1. ed. São Paulo: Roca 2014. PASQUINI, Thaisa A. et al. Monitoramento de eletrólitos antes e pós-treino (Mg, K e Na). e-RAC, v. 8, n. 1, 2018. 35 Estratégias de hidratação e reposição hidroeletrolítica Autoria: Camila Taise Tavares Leitura crítica: Tais Moala Objetivos • Conhecer as principais recomendações de hidratação no esporte. • Diferenciar estratégias de hidratação antes, durante e após o exercício. • Compreender os requisitos mínimos para que as bebidas esportivas sejam consideradas como repositores hidroeletrolíticos. 36 1. Recomendações de hidratação É informação conhecida, na área esportiva, que a melhora da performance física durante a prática de exercícios prolongados sob altas temperaturas se dá com a ingestão adequada de água (PASCHOAL; NAVES, 2014). Entretanto, de maneira geral, os atletas repõem de 30 a 70% dos líquidos perdidos durante o exercício (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015) e os motivos para essa baixa reposição estão descritos no Quadro 1. Quadro 1 – Motivos para a baixa reposição de líquidos durante o exercício físico Motivos para o baixo consumo de líquidos durante o exercício Variabilidade individual. Alta taxa de sudorese. Falta de conhecimento sobre os benefícios da boa hidratação. Aguardam sentir sede para começar a se hidratar. Regras do esporte que não permitem a ingestão de líquidos. Sabor, temperatura e conteúdo de sódio interferem na palatabilidade. Disponibilidade de líquido oferecido. Desconforto gastrointestinal. Medo de aumentar a necessidade de urinar durante o exercício. Problemas com ganho de peso. Fonte: adaptado de Biesek, Alves e Guerra (2015, p. 112). Sabe-se que atletas que iniciam competições eu-hidratados tendem a ter respostas fisiológicas e de desempenho melhores que os hipo- hidratados (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). Além disso, o carboidrato estocado endogenamente é substrato essencial durante exercício de longa duração e sua ingestão é positiva para atletas de endurance. O carboidrato ainda promove um sabor mais agradável à bebida e estimula a absorção de líquidos no intestino. A partir do reconhecimento desses benefícios, foram desenvolvidas as bebidas esportivas, nas quais carboidratos são diluídos com eletrólitos, 37 perdidos no suor (PASCHOAL; NAVES, 2014; BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). A Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBME), como recomendação geral, propõe a ingestão de líquidos nos quinze minutos iniciais e a cada quinze a vinte minutos. Enquanto para atividades com duração maior que uma hora ou for menor que uma hora, mas intensa, do tipo intermitente, recomenda a reposição de 30 a 60 gramas de carboidratos por hora e de 0,5 a 0,7 gramas de sódio por litro de bebida. Após o exercício, a recomendação é de pelo menos 450 a 675 ml de líquidos para cada 0,5 kg de peso perdido durante o exercício (COZZOLINO; COMINETTI, 2013). 1.1 Hidratação antes do exercício A termorregulação em indivíduos engajados em treinamento regular na próxima sessão de exercício pode ser comprometida, se houver qualquer déficit prévio de fluidos. Isso significa que a hidratação posterior à uma sessão de exercício pode ser a hidratação anterior à próxima sessão (PASCHOAL; NAVES, 2014). Garantir a boa hidratação antes do início de uma atividade física garante melhores respostas fisiológicas e de desempenho. Além da função fisiológica, a desidratação pode afetar a termorregulação, uma vez que leva à redução do volume plasmático, do fluxo sanguíneo periférico e à redução do ritmo da transpiração. Assim, há aumento da frequência cardíaca, da percepção de esforço, da temperatura corporal e da fadiga prematura (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). O American College of Sports Medicine (ACMS) recomenda a ingestão de 400 a 600 mililitros de água, duas horas antes do exercício físico, permitindo intervalo de tempo suficiente para prevenir os efeitos negativos da desidratação durante o exercício (PASCHOAL; NAVES, 2014). Esse é um tempo satisfatório para assegurar a hidratação 38 e para excreção do excesso pela urina e o ideal é que os líquidos ingeridos contenham sódio. Em dias com temperaturas mais elevadas, a recomendação é de que se adicione 250 a 500ml de água, 30 a 60 minutos antes da atividade (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). 1.2 Hidratação durante o exercício A ingestão hídrica adequada durante o exercício contribui para manutenção da hidratação e do mecanismo de termorregulação, previne a desidratação e ajuda na manutenção das concentrações ideais do volume plasmático (PASCHOAL; NAVES, 2014). Durante o exercício, é recomendado que os atletas iniciem a ingestão de líquidos o mais breve possível e em intervalos regulares, a fim de que a reposição do que foi perdido pelo suor seja garantida e a quantidade máxima tolerada seja consumida, evitando a desidratação (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). A quantidade recomendada de líquidos a serem ingeridos durante o exercício deve ser mensurada a partir da taxa de sudorese, na intensidade do exercício, duração e condição ambiental na qual o exercício é praticado. O recomendado é que se inicie, nos primeiros quinze minutos e se repita a ingestão a cada quinze a vinte minutos. Em geral, as quantidades recomendadas são de 500 a 2000 ml, por hora, ou de 150 a 250ml a cada quinze a vinte minutos de exercício (PASCHOAL; NAVES, 2014; BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). Além disso, o ACMS recomenda que a temperatura da bebida esteja em torno de 15ºC, para que os atletas a consumam rapidamente e em grandes quantidades. Sugere-se ainda que as bebidas sejam aromatizadas com sabor doce para melhorar a palatabilidade e a ingestão voluntária, e que sejam compostas por carboidratos e cloreto de sódio para promover a reidratação adequada (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). 39 A concentração ideal de carboidratos nessa bebida é de 4 a 8% e de sódio de 10 a 35 mmol/L (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). 1.3 Hidratação após o exercício A desidratação involuntária já é fato consolidado no meio esportivo, uma vez que muitos atletas não conseguem restabelecer o balanço hídrico após o exercício, por não sentirem vontade de se reidratar. Isso se torna ainda mais difícil quando a desidratação durante o exercício é maior que 2% do peso corporal e quando o intervalo entre os treinos é inferior a seis a oito horas (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). A reidratação insuficiente após o exercício afeta a capacidade de realização de exercícios e promove modificações no balanço hídrico e na temperatura corporal. Dessa forma, torna-se imprescindível a reposição de eletrólitos e água perdidos no suor (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). A reidratação após o exercício é influenciada pelo volume e composição do fluído consumido. Diversos fatores têm influência no volume ingerido, como a palatabilidade do líquido e os seus efeitos sobre a sede (PASCHOAL; NAVES, 2014). A reposição hidroeletrolítica pós-exercício também sofre influência do volume perdido pela sudorese, seu conteúdo de eletrólitos e tempo disponível entre as sessões de exercício. Geralmente,a adequada reidratação ocorre de doze a vinte e quatro horas após o término do exercício, pois as bebidas e os alimentos ingeridos nesse tempo fornecem água e cloreto de sódio suficientes para a hidratação (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). Nesse momento pós-exercício, a quantidade ideal de sódio é de 25 a 50 mmol/L. Uma quantidade maior que essa, além de deixar a bebida com sabor desagradável, não promove benefícios adicionais. O consumo de alimentos que contenham sódio e a adição de sal de cozinha às 40 refeições também auxilia no aumento da ingestão hídrica (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). A oferta de água pura nesse período pode provocar a queda da osmolalidade sérica e aumento da diurese, por isso, essa prática não é recomendável (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). 2. Reposição hidroeletrolítica Para uma rápida e completa recuperação da hidratação pós-exercício, a água não é a bebida mais indicada (PASCHOAL; NAVES, 2014). A adição de sódio nas bebidas esportivas é essencial, pois estimula a absorção de glicose no intestino delgado e ajuda na prevenção do quadro de hiponatremia (PASCHOAL; NAVES, 2014). O Quadro 2 ilustra as diferenças de recomendações de reposição hidroetrolítica em esportes com diferentes tempos de duração. 41 Quadro 2 – Recomendações de reposição hidroeletrolítica em esportes com diferentes tempos de duração Duração do exercício Finalidade da reposição Formulação proposta Frequência e volume de ingestão Justificativa ≤1 hora. Reposição de fluidos para amenizar aumento agudo da temperatura interna durante o exercício intenso, realizado em ambientes quentes. Pré-exercício: 30 a 50g de CHO e água. Durante o exercício: água. Pré-exercício: 300 a 500ml. Durante o exercício: 500 a 1000ml. Pré-exercício: CHO – fornecer fonte exógena de glicose para prevenir a depleção de glicogênio. Fluido–atenuar efeitos da desidratação ocorrida durante o exercício. Durante o exercício: Fluido – ingestão de água auxilia na reposição do fluido perdido no suor e na amenização do aumento da temperatura interna. 42 Entre 1 e 3 horas. Fornecimento de fluidos e carboidratos. Pré-exercício: água. Durante o exercício: Sódio – 20 a 30 mEq. Cloreto – 10 a 20 mEq. CHO – 6 a 8%. Pré-exercício: 300 a 500ml. Durante o exercício: 500 a 1000ml/h para suprir necessidades de CHO e de 800 a 1600ml/h para suprir necessidade de fluidos. Pré-exercício: Beber apenas água para amenizar efeitos da desidratação ocorrida durante o exercício. Durante o exercício: CHO – exercício de alta intensidade pode depletar estoques de glicogênio muscular e levar à hipoglicemia. Fluidos – taxa de sudorese é variável e dependente da temperatura ambiente, intensidade do exercício, nível de treinamento, aclimatação ao calor e diferenças individuais. Sódio – melhora absorção de CHO e fluidos, aumenta palatabilidade e auxilia na manutenção do volume no espaço extracelular. Cloreto – melhora a absorção dos fluidos. 43 >3 horas. Fornecimento de fluidos, carboidratos e sódio. Pré-exercício: água. Durante o exercício: Sódio – 20 a 30 mEq. Cloreto – 20 a 30 mEq. CHO – 6 a 8%. Pré-exercício: 300 a 500ml. Durante o exercício: 500 a 1000ml/h para suprir necessidades de CHO e fluidos. Pré-exercício: Beber apenas água para amenizar efeitos da desidratação ocorrida durante o exercício. Durante o exercício: CHO – exercício com duração maior que 3 horas depleta o glicogênio muscular. Fluidos – esse tipo de exercício apresenta intensidade e taxa de sudorese menores que naqueles que duram de 1 a 3 horas. Sódio – melhora absorção de CHO e fluidos, aumenta palatabilidade e previne a hiponatremia. Cloreto – melhora a absorção dos fluidos. Fonte: adaptado de Paschoal e Naves (2014, p. 272-273). Além de prevenir a desidratação, a adequada reidratação após o exercício físico visa prevenir a hiponatremia. A recomendação geral para reduzir o risco de super-hidratação ou hiponatremia é composta de seis etapas (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015), que podem ser observadas n Quadro 3. 44 Quadro 3 – Etapas de prevenção à hiponatremia 1. Ingestão de 400 a 600 ml de líquidos, de duas a três horas antes do exercício. 2. Ingestão de 150 a 300 ml de líquidos, nos 30 minutos que antecedem o exercício. 3. Ingestão de, no máximo, 1000ml/hora de água a cada quinze minutos durante ou após o exercício. 4. Acrescentar de ¼ a ½ colher de chá de sódio a cada 900ml de líquido ingerido. 5. Evitar a restrição de sal de cozinha na alimentação. 6. Acrescentar glicose na bebida esportiva, na proporção de 5 a 8% de solução, com a finalidade de facilitar a absorção intestinal de água, por meio do mecanismo de transporte de glicosídeo. Fonte: adaptado de McArdle, Katch e Katch (2015, p.191). 2.1 Reposição para exercícios com duração menor que uma hora Com a finalidade de repor os fluidos e amenizar a elevação aguda da temperatura interna e amenizar as consequências da desidratação durante exercícios de alta intensidade em ambientes quentes, sugere-se a ingestão de 300 a 500 ml água pré-exercício. Recomenda-se ainda, a ingestão de 30 a 50g de carboidrato pré-exercício para fornecimento de glicose e aumento da performance em eventos com menos de uma hora de duração e que levam à depleção de glicogênio (PASCHOAL; NAVES, 2014). 45 Durante o exercício, a recomendação é de 500 a 1000 ml de água para repor o fluido perdido no suor e atenuar o aumento da temperatura interna (PASCHOAL; NAVES, 2014). 2.2 Reposição para exercícios com duração de uma a três horas Para exercícios com duração superior a uma hora e menor que três horas, é indicado apenas o consumo de água antes para amenizar os efeitos deletérios da desidratação durante o exercício. Durante, é recomendável a ingestão de 6 a 8% de carboidratos, uma vez que o exercício de alta intensidade pode levar à depleção de glicogênio muscular e à hipoglicemia, 10 a 20 mEq de sódio para melhorar absorção dos carboidratos ingeridos, aumentar a palatabilidade e promover a manutenção do volume extracelular. Além disso, sugere-se o consumo de 10 a 20 mEq de cloreto para ajudar a promover a absorção de fluidos (PASCHOAL; NAVES, 2014). Quanto à ingestão de fluidos, a recomendação é de 300 a 500 ml de água pré-exercício e de 500 a 1000 ml, por hora, de bebida esportiva durante o exercício para reposição de carboidratos e de 800 a 1600 ml, por hora, para reposição de fluidos (PASCHOAL; NAVES, 2014). 2.3 Reposição para exercícios com duração superior a três horas Exercícios com duração superior a três horas exigem: água antes do evento e, durante, a reposição de carboidratos na concentração de 6 a 8%, para atenuar a depleção do glicogênio muscular; reposição de fluidos, ainda que esse tipo de exercício tenha intensidade e taxa de sudorese menores que aqueles que duram de uma a três horas; reposição de 20 a 30 mEq de sódio, para tornar a absorção de carboidratos e fluidos melhor e aumentar a palatabilidade, e prevenir a 46 hiponatremia; e reposição de 20 a 30 mEq de cloreto, a fim de promover a absorção de fluidos (PASCHOAL; NAVES, 2014). A recomendação de água para esse tipo de exercício é de 300 a 500 ml antes, e 500 a 1000 ml/h de bebidas esportivas durante o exercício para reposição de carboidratos e fluidos (PASCHOAL; NAVES, 2014). 3. Características das bebidas esportivas Apesar de mais vantajoso que o consumo de água para a reidratação durante o exercício, o consumo de bebidas esportivas necessita de cuidados. Esses cuidados incluem a quantidade de líquido ingerida, para evitar desconforto gastrointestinal, o tempo demandado para que o líquido seja esvaziado do estômago e o tempo que leva para ser absorvido no intestino (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). A taxa de esvaziamento gástrico e a absorção intestinal podem influenciar a disponibilidade dos líquidos ingeridos. Alguns fatores regulam o esvaziamento gástrico,sendo os mais relevantes: o volume do conteúdo gástrico, a densidade energética e a osmolaridade da bebida ingerida. O retardamento pode ocorrer pelo aumento do conteúdo de carboidratos da bebida e o tipo de carboidrato influencia na absorção (PASCHOAL; NAVES, 2014). Bebidas compostas por sacarose e glicose auxiliam na absorção de água e sódio, mas promovem o estímulo da absorção de pequena quantidade de carboidratos. Por outro lado, aquelas compostas por glicose e frutose aumentam absorção de carboidratos, absorção moderada de água e pequena de sódio (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). Dessa forma, bebidas que contenham diferentes tipos de carboidratos, contribuem para tornar a absorção intestinal de água e sódio mais rápida (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015; GLASER et al., 2018). 47 Em relação à quantidade de carboidratos, de maneira geral, de 30 a 60g por hora de exercício, na forma de polímeros de glicose em exercícios de até duas horas de duração são bem tolerados. Até 90g de carboidratos, por hora, para exercícios com duração superior a 120 minutos (GLASER et al., 2018). Apesar de auxiliar na absorção de glicose e água no intestino delgado e na manutenção do volume extracelular, as quantidades de sódio presentes nas bebidas esportivas disponíveis no mercado são pequenas e tem efeito praticamente nulo na absorção intestinal (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). No Quadro 4 observam-se os fatores que tem influência na absorção intestinal de fluidos. Quadro 4 – Fatores que contribuem para a absorção intestinal de fluidos ingeridos Fator Contribuição Concentração de carboidrato. Concentrações de carboidratos iguais ou maiores que 8% levam à saturação dos transportadores, e o carboidrato disponível no lúmen intestinal influencia na absorção de fluidos. Tipo de carboidrato. Polímeros de glicose não são mais vantajosos que glicose livre quando ingeridos na mesma porcentagem de carboidratos. Presença de sódio. Promove pressão osmótica que permite a absorção de água. Osmolaridade. Quando diversos substratos estão presentes no fluido, a osmolaridade tem menor impacto se comparada à quando há apenas um substrato presente. Fonte: adaptado de Paschoal e Naves (2014, p. 268). É recomendável que a temperatura das bebidas seja menor que a ambiente, ficando em torno de 15ºC para que se tornem atraentes para 48 os atletas. Entretanto, as preferências individuais devem ser respeitadas para favorecer a adesão (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015; NASCIMENTO; COSTA, 2017). Um estudo transversal descritivo analisou os rótulos de dezenove marcas comerciais de maltodextrina nacionais e importadas e comparou as recomendações de carboidratos e sódio do produto final, elaborado de acordo com as instruções do fabricante e as indicações de uso antes, durante e após o exercício entre elas, e sua adequação com as diretrizes de nutrição esportiva. Os resultados mostraram que, das dezenove marcas, dezessete apresentavam alto conteúdo de carboidratos no produto final, o que pode provocar desconforto gastrointestinal se preparadas conforme o rótulo. Além disso, mostrou que nenhuma delas apresentou a quantidade ideal de sódio para ingestão durante o exercício, mostrando-se inadequadas à prevenção da hiponatremia. Ainda, apenas uma das marcas apresentou recomendações de preparação distintas para uso no pré, durante e pós-exercício (GLASER et al., 2018). Com esse estudo, pode-se concluir que para garantir a segurança dos atletas e o seu bom desempenho durante treinamentos e competições, o uso dessas bebidas esportivas deve ser feito somente após a prescrição e orientações de um profissional nutricionista (GLASER et al., 2018). Referências BIESEK, Simone; ALVES, Leticia A.; GUERRA, Isabela. Estratégias de nutrição e suplementação no esporte. 3. ed. São Paulo: Manole, 2015. COZZOLINO, Silvia Maria Franciscato; COMINETTI, Cristiane. Bases bioquímicas e fisiológicas da nutrição: nas diferentes fases da vida, na saúde e na doença. São Paulo: Manole, 2013. GLASER, Yana B.; BERNARDI, Bernardo R. B.; SMOLARECK, André C. et al. Análise de bebidas esportivas preparadas a partir de maltodextrinas comerciais e sua 49 adequação com as diretrizes de nutrição esportiva. RBNE-Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 12, n. 70, p. 222-228, 2018. MCARDLE, William D.; KATCH, Frank I.; KATCH, Victor L. Fisiologia do exercício. Wolters Kluwer Health, 2015. NASCIMENTO, Angélica Valenti; COSTA, Roberto Fernandes. Efeitos da perda de peso e desidratação no desempenho de atletas de artes marciais. Nutrição Brasil, v. 16, n. 3, p. 172-181, 2017. PASCHOAL, Valeria; NAVES Andrea. Tratado de nutrição esportiva funcional. 1. ed. São Paulo: Roca 2014. 50 Taxa de sudorese e recomendações práticas Autoria: Camila Taise Tavares Leitura crítica: Tais Moala Objetivos • Entender as ferramentas existentes para mensuração do estado de hidratação e/ou desidratação de atletas. • Aprender a calcular a taxa de sudorese de atletas. • Conhecer os fatores que influenciam a taxa de suor. • Estabelecer recomendações para as práticas de reidratação a partir da taxa de sudorese. 51 1. Ferramentas para mensuração do estado de hidratação de atletas A prática de exercício físico pode elevar a temperatura corporal de quinze a vinte vezes em relação à temperatura de repouso, devido à baixa eficiência corporal em utilizar a energia para realização do movimento. Sendo assim, para promover o equilíbrio entre a termogênese e a dissipação do calor, alguns mecanismos termorregulatórios são ativados, a fim de proteger o corpo do superaquecimento. Dessa forma, a elevação da temperatura corporal eleva a taxa de suor e aumenta a perda de fluidos corporais durante o exercício (MACHADO et al., 2018). É fundamental que, durante o exercício, o atleta conheça suas perdas hídricas em diferentes situações climáticas e de treinamento. Existem diversas ferramentas para avaliar o estado de hidratação de atletas e praticantes de exercício físico, como a densidade e a osmolalidade da urina, a osmolalidade do plasma e o peso corporal (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). O método de densidade urinária avalia a hidratação por meio da densidade da urina em relação à densidade da água sob a mesma temperatura. É aplicado com a utilização de um refratômetro, que projeta um feixe de luz na amostra e permite mensurar a densidade da urina. Assim, atletas com densidade urinária menor ou igual a 1,020 são considerados eu-hidratados (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015; ALMEIDA, 2019). A osmolalidade plasmática reflete a quantidade de partículas dissolvidas em uma solução. Dessa forma, avalia as concentrações de sódio, potássio, cloreto, glicose e ureia presentes em uma amostra de sangue. É um método que apresenta elevada precisão nos resultados e é a 52 principal ferramenta utilizada em situações laboratoriais, segundo Almeida (2019). Já o peso corporal pode ser utilizado para mensurar a taxa de suor. A taxa de suor pode ser expressa em litros ou mililitros, por hora, e significa a quantidade de suor que o atleta é capaz de perder por unidade de tempo, ou seja, é o volume de água perdido pelas glândulas sudoríparas, por meio do suor, a cada hora de atividade física (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015; ALMEIDA, 2019). Dessa forma, considera-se que quanto maior a taxa de sudorese, menor o peso corporal após o exercício (MACHADO et al., 2018). A partir dos resultados obtidos nos cálculos de taxa de sudorese, é possível classificar o estado de hidratação do atleta, segundo Almeida (2019). O Quadro 1 traz as classificações do estado de hidratação de acordo com o percentual de perda de peso corporal. Quadro 1 – Classificação do estado de hidratação a partir do percentual de perda de peso corporal Estado de hidratação. %Δ peso corporal. Eu-hidratação. +1 a -1. Desidratação mínima. -1 a -3. Desidratação significativa. -3 a -5. Desidratação grave. >-5. Fonte: adaptado de Almeida (2019, p. 15). Legenda: %Δ:percentual de variação do peso corporal. Outro método acessível e de fácil aplicação é a coloração da urina, que consiste em uma escala, que é comparada à coloração da urina do atleta e permite avaliar seu estado de hidratação. Essa escala é constituída de níveis de 1 a 8, na qual se a urina do atleta corresponder aos níveis de 1 a 3, é considerado hidratado, se for classificado de 4 a 6 é considerado 53 moderadamente desidratado e nos níveis 7 ou 8 ou se apresentar coloração ainda mais escura, é considerado desidratado, de acordo com Almeida (2019). A escala de coloração da urina possui grande correlação com a densidade e osmolalidade urinária e com a osmolalidade plasmática, segundo Almeida (2019). A Figura 1 apresenta a escala de coloração da urina. Figura 1 – Escala de coloração da urina Fonte: adaptada de Almeida (2019, p. 16). Para obter um resultado o mais fidedigno possível, é indicado que sempre sejam utilizadas mais de uma ferramenta de avaliação do estado de hidratação do atleta. A escolha da ferramenta utilizada nessa avaliação depende das condições de trabalho e da praticidade de aplicação (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). 1.1 Fórmulas para cálculo da taxa de sudorese As fórmulas podem ser utilizadas para calcular a taxa de suor e grau de desidratação do atleta e são ferramentas simples e acessíveis, pois 54 basta uma balança digital, copo medidor e calculadora para ser utilizada (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015), conforme demonstrado na Figura 2. Figura 2 – Fórmulas para cálculo da taxa de sudorese e grau de desidratação Fonte: adaptada de Biesek, Alves e Guerra (2015, p. 109). Legenda: ΔP: variação do peso; mL= mililitros Outra fórmula muito utilizada em estudos científicos e de fácil aplicação para mensuração da taxa de sudorese, é a que é representada na Figura 3. Figura 3 – Fórmula para mensuração da taxa de sudorese Fonte: adaptada de Almeida (2019, p. 25). Legenda: Ts = taxa de sudorese; mL = mililitros; h = hora; T = tempo de exercício. 55 Uma taxa de sudorese acima de 1,5 L/h pode ocasionar uma perda de peso acima de 2% da massa corporal, considerada significativa pelo American College of Sports Medicine. Isso representa um desafio prático e fisiológico, pois pode influenciar negativamente as funções fisiológicas e, consequentemente, o desempenho esportivo (FERREIRA et al., 2015; ALMEIDA, 2019). Altas taxas de sudorese dificultam a reposição hídrica em modalidades esportivas, como o tênis, por exemplo. Assim, é necessário o planejamento para que a hidratação ocorra desde o início das sessões de treinamento e que sejam reestabelecidos os níveis normais ao seu fim (FERREIRA et al., 2015). Sendo assim, com o objetivo de minimizar a possibilidade de redução do desempenho esportivo decorrente de desajustes fisiológicos, causados pela hipo ou hiper-hidratação, o conhecimento da taxa de sudorese produzida individualmente é necessário. Conhecendo essa taxa, será possível ao atleta identificar o volume de líquido que perde ao se exercitar e, a partir dessa informação, estabelecer as melhores estratégias de reidratação (FERREIRA et al., 2015). 1.2 Fatores que influenciam a taxa de sudorese A taxa de suor entre os atletas é muito variável por diversos fatores que a influenciam, como a temperatura ambiente, a umidade, o peso corporal, a genética, a aclimatação ao calor e a eficiência metabólica. Dessa forma, essa taxa pode apresentar grande variação intra e entre indivíduos (COZZOLINO; COMINETTI, 2013; PASCHOAL; NAVES, 2014; BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). No Quadro 2 podem ser observadas algumas varáveis que interferem na taxa de suor e seu mecanismo de ação. 56 Quadro 2 – Variáveis que interferem na taxa de suor Fatores Mecanismo de ação Área corporal. O número de glândulas ativadas pelo suor por unidade de área é um grande determinante da taxa de sudorese. Gênero. Homens possuem taxas de sudorese maiores que a das mulheres. No entanto, mulheres têm mais glândulas ativadas pelo suor por área corporal. Tipo de atividade. Sob condição ambiental padrão, quanto maior a intensidade do exercício, maior a produção de calor e taxa de suor. Já em atividades intermitentes, em que a intensidade é variada, as taxas de suor podem ser baixas, pois as pausas existentes nessas atividades permitem que a produção de suor diminua momentaneamente. Condições ambientais. Temperaturas altas, sob intensidade constante, aumentam as taxas de suor. As altas umidades, sob intensidade constante, também promovem maiores taxas de suor. 57 Status físico. Indivíduos que passam pelo processo de aclimatação ao calor iniciam a sudorese em temperaturas corporais mais baixas e podem se exercitar por logos períodos. Indivíduos mais condicionados tendem a responder ao suor de maneira mais eficiente, com a elevação da temperatura durante o exercício e pode contribuir para uma maior perda total de suor. O nível de hidratação também é fator que influencia a taxa de suor, uma vez que a desidratação contribui para redução da capacidade de suor. Fonte: adaptado de Biesek, Alves e Guerra (2015, p. 109). Mulheres, em geral, suam menos que os homens em condições padronizadas, mesmo após um período de aclimatação ao calor. Quanto à idade, em crianças a taxa de sudorese é menor que em adultos, e em adultos é maior do que em idosos (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). A modalidade esportiva também influencia a taxa de sudorese. Jovens atletas tendem a possuir taxa de sudorese próxima a 510 mililitros por hora, enquanto que em tenistas pode chegar a 2,5 litros por hora. Em uma partida de futebol americano, devido à utilização de equipamentos e vestimentas pesados, a sudorese pode chegar a 3,6 litros (PASCHOAL; NAVES, 2014). 58 A intensidade do exercício também é outra variável, pois enquanto a realização de exercício leve pode levar a perda de um a dois litros por hora de atividade, em exercícios mais intensos no calor, a perda pode chegar a 2,5 litros por hora (PASCHOAL; NAVES, 2014; FERREIRA et al., 2015). Um estudo avaliou a taxa de sudorese de indivíduos praticantes de treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT). Todos os participantes do estudo receberam 500 ml de água, 120 minutos antes do exercício e foram divididos em dois grupos: indivíduos ativos e inativos. Os indivíduos foram submetidos a uma única sessão de HIIT e a taxa de sudorese foi mensurada a partir da pesagem dos participantes, antes e após a sessão de treinamento. Os autores puderam concluir que a taxa de sudorese é influenciada pela intensidade do exercício e não pelo nível de atividade física dos indivíduos (MACHADO et al., 2018). O estado de hidratação do atleta influencia a taxa de sudorese, ou seja, a sudorese pode diminuir de acordo com o aumento da desidratação. Isso se dá por um mecanismo de compensação,, no qual o corpo se adapta, reduzindo a produção de urina, com o objetivo de compensar as perdas pela sudorese no exercício (PASCHOAL; NAVES, 2014; ALMEIDA, 2019). Em relação à quantidade de água ingerida, percebe-se que quanto mais água o atleta ingere durante o treino, menor é a quantidade de água perdida pelo mecanismo de suor, segundo Almeida (2019). Em relação às condições ambientais, quanto maior a temperatura do ambiente, maior tende a ser a taxa de sudorese (PASHCOAL; NAVES, 2014). Essa correlação direta entre temperatura ambiente e taxa de sudorese pode ser observada na Figura 4. 59 Figura 4 – Taxa de sudorese versus temperatura ambiente Fonte: adaptada de Paschoal e Naves (2014, p. 262). 2. Recomendações práticas A restauração completa do balanço hídrico após o exercício é fundamental na recuperação após o exercício, especialmente em esportes realizados em ambientes quentes e úmidos. Se o atleta tiver várias provas no mesmo dia, a reidratação tem importância ainda maior (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). Durante o exercício, alguns posicionamentos de organizações internacionais envolvidascom o esporte colocam que o ideal é a ingestão de líquidos ad libitum, ou seja, de acordo com a sede, de maneira voluntária, mas não mais que 400 a 800 ml/h. Além disso, é recomendável que esse consumo esteja de acordo com o peso corporal, a intensidade do esforço e a temperatura ambiente. Entretanto, sabe- se que esse tipo de reidratação voluntária é capaz de repor apenas de 25 a 35% do volume perdido no suor. Na tentativa de manter o balanço 60 hídrico e compensar as perdas pela sudorese, o corpo se adapta, reduzindo a diurese (PASCHOAL; NAVES, 2014). A partir do conhecimento da taxa de sudorese individual, é possível elaborar um planejamento de reposição hídrica adequada a cada atleta. A recomendação é de que o volume de líquido, ingerido após o exercício, seja de 20 a 50% superior à perda de suor ocorrida no exercício (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). O American College of Sports Medicine (ACSM) recomenda que após o exercício sejam ingeridos de 450 a 675 ml de líquidos para cada 0,5 kg de peso perdido durante o exercício (COZZOLINO; COMINETTI, 2013; PASCHOAL; NAVES, 2014). O Quadro 3 representa os valores mínimo e máximo de líquidos a serem repostos após o exercício, de acordo com as recomendações do ACSM. Quadro 3 – Valores mínimo e máximo de líquidos a serem repostos a cada 0,5 kg de peso perdido no exercício, de acordo com recomendações do ACSM Peso perdido Quantidade mínima de líquidos a ser reposta Quantidade máxima de líquidos a ser reposta 0,50 kg 450 ml 675 ml 0,75 kg 675 ml 1012,5 ml 1,00 kg 900 ml 1350 ml 1,25 kg 1125 ml 1687,5 ml 1,50 kg 1350 ml 2025 ml 61 1,75 kg 1575 ml 2362,5 ml 2,00 kg 1800 ml 2700 ml Fonte: elaborado pela autora. Vale reforçar que as recomendações do Quadro 3 devem ser individualizadas de acordo com a modalidade praticada, tempo de duração do exercício, peso corporal do atleta, peso perdido durante o exercício, temperatura ambiente, entre outras variáveis. Outra recomendação é a de repor as perdas de água em uma taxa próxima ou igual à de sudorese. Isso pode ser realizado pesando o atleta antes e após o treinamento. Considera-se que cada 450g de peso perdido representa uma desidratação de 450 ml (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Dessa forma, recomenda-se a reposição hídrica em volumes semelhantes ao das perdas de água pelo suor, pois isso pode evitar a redução do volume de ejeção ventricular, que prejudica o sistema cardiovascular e também para a manutenção da termorregulação, facilitando a transferência de calor interno para a periferia corporal (PASCHOAL; NAVES, 2014). Para evitar o comprometimento do desempenho na próxima sessão de exercício, a promoção da reidratação após o exercício é fundamental. Para isso, o atleta deve acompanhar suas próprias mudanças no peso corporal antes e depois do exercício, para verificar se a reposição hídrica durante o exercício foi realizada adequadamente. Na prática, deve-se considerar que cada quilograma de peso perdido equivale a um litro de líquido perdido (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). Deve-se considerar que as perdas hídricas continuam a acontecer pela urina e pelo suor durante o período de recuperação, por isso, é importante que o atleta reponha de 125 a 150% do volume perdido, em 62 um intervalo de tempo de duas a quatro horas (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). Por outro lado, é importante destacar que o excesso de ingestão hídrica antes, durante e/ou após o treinamento deve ser evitado, uma vez que pode levar à diluição dos eletrólitos plasmáticos e, como consequência, causar a condição conhecida como hiponatremia (FERREIRA et al., 2015). Assim, a fim de evitar tanto a desidratação como as complicações decorrentes de uma reposição hídrica excessiva, verifica-se a importância não só da reposição hídrica, como também da reposição de carboidratos e eletrólitos, como sódio, potássio e cloreto para adequada reidratação pós-exercício (PASCHOAL; NAVES, 2014; BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). Dessa forma, o consumo de bebidas esportivas deve ser encorajado, individualmente, pois estas apresentam além de água, carboidratos e eletrólitos e tendem a ser mais palatáveis que a água pura, apresentando vantagens para utilização por atletas e praticantes de exercício físico (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). A educação de pessoas próximas e que exercem certa influência sobre os atletas, como técnicos, treinadores, pais, além da educação dos próprios atletas sobre os benefícios da hidratação para a saúde e o desempenho esportivo, auxilia na adequada reposição hídrica (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). O estudo de Ferreira et al. (2015) reafirma essa necessidade de fornecimento de maiores informações aos atletas quanto à importância da hidratação, a fim de evitar a possibilidade de queda no desempenho (FERREIRA et al., 2015). 63 Referências ALMEIDA, Ana Rita Carrão. Ingestão de água, estado de hidratação, frequência cardíaca, tempo de reação e recuperação em atletas de natação de competição. Tese de Doutorado, Instituto Universitário Egas Moniz. Portugal, 2019. BIESEK, Simone; ALVES, Leticia A.; GUERRA, Isabela. Estratégias de nutrição e suplementação no esporte. 3. ed. São Paulo: Manole, 2015. COZZOLINO, Silvia Maria Franciscato; COMINETTI, Cristiane. Bases bioquímicas e fisiológicas da nutrição: nas diferentes fases da vida, na saúde e na doença. São Paulo: Manole, 2013. FERREIRA, Fabrícia G.; SECCATO, Alex S.; LIMA, Alan S. et al. Taxa de sudorese, consumo de líquido e nível de hidratação de tenistas amadores em etapa do campeonato brasileiro. RBPFEX–Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, v. 9, n. 51, p. 11-16, 2015. MACHADO, Alexandre F.; EVANGELISTA, Alexandre L.; MIRANDA, João M. Q. et al. Sweat rate measurements after high intensity interval training using body weight. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 24, n. 3, p. 197-201, 2018. MCARDLE, William D.; KATCH, Frank I.; KATCH, Victor L. Fisiologia do exercício. Wolters Kluwer Health, 2015. PASCHOAL, Valeria; NAVES Andrea. Tratado de nutrição esportiva funcional. 1. ed. São Paulo: Roca 2014. 64 BONS ESTUDOS! Sumário Água e o mecanismo de termorregulação Objetivos 1. Água 2. Termorregulação Referências Desidratação, hiponatremia e os eletrólitos Objetivos 1. Desidratação 2. Hiponatremia 3. Eletrólitos Referências Estratégias de hidratação e reposição hidroeletrolítica Objetivos 1. Recomendações de hidratação 2. Reposição hidroeletrolítica 3. Características das bebidas esportivas Referências Taxa de sudorese e recomendações práticas Objetivos 1. Ferramentas para mensuração do estado de hidratação de atletas 2. Recomendações práticas Referências
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