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Como redigir petição inicial

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******ebook converter DEMO Watermarks*******
******ebook converter DEMO Watermarks*******
ISBN 9788553607600
Campestrini, Hildebrando
Como redigir petição inicial / Hildebrando Campestrini, Ruy Celso Barbosa
Florence. – 5. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2019.
1. Petição inicial (Processo civil) - Brasil 2. Redação forense - Brasil I. Título II.
Florence, Ruy Celso Barbosa.
18-1419 CDU 347.91
Índices para catálogo sistemático:
1. Petição inicial (Processo civil) - Brasil 347.91
Diretoria executiva Flávia Alves Bravin
Diretoria editorial Renata Pascoal Müller
Gerência Editorial Roberto Navarro
Consultoria acadêmica Murilo Angeli
Edição Eveline Gonçalves Denardi (coord.) | Daniel Pavani Naveira
Produção editorial Ana Cristina Garcia (coord.) | Luciana Cordeiro Shirakawa |
Rosana Peroni Fazolari
Arte e digital Mônica Landi (coord.) | Claudirene de Moura Santos Silva | Fernanda
Matajs | Guilherme H. M. Salvador | Tiago Dela Rosa | Verônica Pivisan Reis
Planejamento e processos Clarissa Boraschi Maria (coord.) | Juliana Bojczuk
Fermino | Kelli Priscila Pinto | Marília Cordeiro | Fernando Penteado | Mônica
Gonçalves Dias | Tatiana dos Santos Romão
Novos projetos Fernando Alves
Diagramação (Livro Físico) Muiraquitã Editoração Gráfica
Revisão Albertina Piva
Capa Ana Dobon
Livro digital (E-pub)
Produção do e-pub Verônica Pivisan Reis
Data de fechamento da edição: 1-10-2018
Dúvidas?
Acesse www.editorasaraiva.com.br/direito
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http://www.editorasaraiva.com.br/direito
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem
a prévia autorização da Editora Saraiva.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
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ÍNDICE
Apresentação
Capítulo I - Petição inicial
1.1. Conceito.
1.2. Responsabilidade.
Capítulo II - A linguagem na petição inicial
2.1. Conceitos.
2.2. Linguagem e língua.
2.2.1. A língua.
2.2.2. Linguagem jurídica.
2.3. Características.
2.3.1. Impessoalidade.
2.3.2. Concisão.
2.3.3. Objetividade.
2.3.4. Vernaculidade.
2.3.5. Clareza.
2.3.6. Lógica.
2.3.7. Cortesia.
2.3.8. Ética.
Capítulo III - Aspectos materiais da petição inicial
3.1. Impressão do texto.
3.1.1. Cor.
3.1.2. Verso da folha.
3.1.3. Lembretes.
3.2. Papel.
3.2.1. Espessura.
3.2.2. Cor.
3.2.3. Tamanho.
3.2.4. Timbre.
3.2.5. Tipo.
3.3. Margens.
3.4. Fonte.
3.5. Parágrafo.
3.6. Citações bibliográficas.
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3.6.1. Orientações básicas.
3.6.2. Citação integral.
3.6.3. Citação parcial.
3.6.4. Supressão de parte.
3.6.5. Citação de legislação.
3.6.6. Citação de jurisprudência.
3.6.7. Citação de página eletrônica.
3.6.8. Notas de rodapé.
3.7. Títulos e subtítulos.
3.8. Epígrafes.
3.9. Extensão.
Capítulo IV - As partes da petição inicial
Capítulo V - Como pensar a petição inicial
Capítulo VI - O endereçamento na petição inicial
Capítulo VII - O preâmbulo na petição inicial
Capítulo VIII - O fato na petição inicial
8.3. Observação.
Capítulo IX - O Direito na petição inicial
9.1. Finalidade.
9.2. Método indutivo.
9.3. Método dedutivo.
9.4. Premissa maior.
9.5. Premissa menor.
9.6. Linha do convencimento.
9.7. Citações de jurisprudência e doutrina.
Capítulo X - Pedido ou requerimento na petição inicial
Capítulo XI - O pedido na petição inicial
Capítulo XII - O requerimento na petição inicial
Capítulo XIII - O encerramento na petição inicial
13.1. O protesto pelas provas.
13.2. O valor da causa.
13.3. O pedido de deferimento.
13.4. Lugar e data.
13.5. Assinatura.
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13.6. Anexos.
Exercícios
Anexos
I – A essência humana
II – Pós-modernidade
III – Linguagem como transação
IV – Parecer
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Hildebrando Campestrini
Professor na Escola Superior de Magistratura de Mato Grosso do Sul Autor de Como
redigir ementas
Ruy Celso Barbosa Florence
Desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul
Professor na Escola Superior de Magistratura de Mato Grosso do Sul
Mestre e Doutor em Direito pela PUC-SP
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O homem é a sua
linguagem.
O saber começa
com a consciência
da palavra.
A petição bem
elaborada é o
primeiro passo para
o sucesso.
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APRESENTAÇÃO
Este trabalho nasceu da necessidade de se propor,
principalmente ao acadêmico de Direito, um roteiro para elaborar
(pensar, ordenar e escrever)1 a petição inicial, alforriando-o dos
modelos, lamentavelmente fortalecidos com o advento da
informática.
1. O ensino universitário do Direito está, infelizmente, se afastando do
raciocínio e do saber para privilegiar a prática.
Houve, na obra, a preocupação de privilegiar a linguagem e a
lógica, cada vez mais necessárias no mundo atual.
A linguagem, como se verá (em 2.1. a), é a própria essência
humana e, na afirmação de Juvenal Arduíni2, “o homem é
essencialmente verbo”. Por outra, nas últimas cinco décadas,
segundo Battista Mondin3, a linguagem “ascendeu na hierarquia
dos interesses dos filósofos, até ocupar o primeiro lugar”, o qual,
mais adiante, afirma: “Hoje, a importância da linguagem em si, e
por conseguinte também como argumento de reflexão filosófica, é
universalmente reconhecida. Não há nenhum aspecto da realidade e
nenhum problema filosófico que não se ache possível resolver
abordando-o do ponto de vista linguístico”.
2. DESTINAÇÃO ANTROPOLÓGICA, São Paulo, Paulinas, 1989, p. 116.
3. O HOMEM, QUEM É ELE?, 2. ed., São Paulo, Paulinas, 1980, p. 134.
A lógica tem sido desprestigiada, no Brasil, nas sucessivas
reformas da educação, dando-se ênfase à criatividade, resultando
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daí uma geração com dificuldade para refletir, para organizar
minimamente bem suas ideias. Há, felizmente, movimento de
retomada do estudo da Filosofia e os concursos e vestibulares
(como anunciam) exigem dos candidatos raciocínio e atenção.
O estudante constatará, ainda, que houve, ao longo do texto, o
cuidado de conciliar o tradicional com o novo, com as normas da
correspondência oficial civil4, com as da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) e as do Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa5.
4. A obra mais recente e oficial sobre o assunto é MANUAL DE REDAÇÃO DA
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, de Gilmar Ferreira Mendes et al., editada pelo
governo federal em 1991.
5. O Vocabulário Ortográfico, resultado do acordo entre os países de
língua portuguesa, entraria plenamente em vigor no dia 1.º de janeiro de
2013. É que o Decreto n. 6.583, de 29-9-2008, que promulgou “o Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de
dezembro de 1990”, e que estabelecia, no parágrafo único do art. 2.º: “A
implementação do Acordo obedecerá ao período de transição de 1.º de
janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012, durante o qual coexistirão a
norma ortográfica atualmente em vigor e a nova norma estabelecida”.
Entretanto, em razão de divergências apresentadas por linguistas houve
um atraso, com encerramento do período de transição no último dia de
2015.
Esta obra não é impositiva, é propositiva. O que se busca é
mostrar caminhos mais simples e eficientes, partindo sempre do
conceito para a prática, superando-se a linguagem empolada e a
falta de lógica – que redundam inevitavelmente em trabalhos
prolixos, obscuros e entediantes.
Não encontrará o leitor questões de direito ou de processo. Às
vezes, alguma chamada, por necessidade do assunto.
Nos numerosos exemplos, o interesse ficará centrado no assunto
que está sendo explicado; por isso, às vezes não se apontam neles
outros desvios ou incoerências.
Embora seja destinada a trabalhos rotineiros, esta obra se aplica,
por extensão, a trabalhos mais complexos. Mesmo os específicos6
aproveitarão estas orientações.
6. A apelação é, em verdade, uma inicial. O parecertem a mesma lógica
da inicial, substituindo-se o fato pelo relatório e o pedido, pela conclusão.
A denúncia, no crime, também é inicial.
Os exemplos apresentados nesta obra foram fielmente transcritos
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de processos que tramitaram na justiça federal e na justiça de
vários Estados, substituindo-se, por motivos óbvios, as datas, o
nome de pessoas (físicas e jurídicas) e de lugares que neles
aparecem.
Em momento algum houve qualquer intenção de criticar ou
diminuir esses trabalhos. Ao contrário: figuram aqui com a
finalidade superior de aperfeiçoar o aprendizado de milhares e
milhares de acadêmicos e profissionais do Direito. Esta a nobre
contribuição desses exemplos.
Após a parte teórica, há uma série de exercícios, para aplicar as
informações expostas ao longo destas páginas. No anexo,
colocaram-se alguns textos sobre assuntos bem atuais para quem
trabalha com a palavra, destinados à análise e reflexão.
Cabe, por fim, informar que esta quinta edição, revista,
incorpora (como as anteriores) sugestões de professores e
acadêmicos (a quem os autores agradecem), que permitiram tornar
mais eficiente e didático o trabalho.
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Capítulo I
PETIÇÃO INICIAL
1.1. Conceito.
Petição inicial é o documento utilizado pela pessoa para
reivindicar, na justiça, um direito.
Se recebida pelo juiz, a petição dará início, na jurisdição
contenciosa, a um processo, com a citação, convocando o réu, o
executado ou o interessado para integrar a relação processual (art.
238 do CPC).
1.2. Responsabilidade.
A petição inicial deve ser bem elaborada7 porque:
a) o êxito do processo dependerá fundamentalmente dela;
b) embora possa o autor aditá-la, antes da citação, correm à sua
conta as custas acrescidas em razão dessa iniciativa (art. 329 do
CPC);
c) depois de citado o réu, até o saneamento do processo, só pode
ser modificada com o consentimento deste (art. 329, II, do CPC);
d) o juiz, na sentença, só pode apreciar o que foi pleiteado pelas
partes, especialmente quanto ao conteúdo da inicial.
7. A petição inicial deve ser bem-elaborada não só pelas razões acima
alineadas, mas também porque é dever do advogado (aqui a questão é
ética) empenhar-se para produzir um trabalho no mínimo razoável. O
profissional do direito não pode ser motivo de chacota, comprometendo a
própria classe, como se vê dos incontáveis exemplos que circulam pela
internet, com o título (eufemístico, naturalmente) de Pérolas Jurídicas.
Lamentável.
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Capítulo II
A LINGUAGEM NA PETIÇÃO INICIAL
2.1. Conceitos.
O termo linguagem apresenta vários conceitos.
a) É a linguagem, principalmente para os filósofos mais
recentes, a essência humana, entendida (aquela) como a capacidade
de lidar com significados. Neste sentido, a linguagem diferencia o
homem dos outros seres8, porque só o humano consegue reelaborar
significados complexos, tanto que inventou a invenção, que nada
mais é do que combinação de significados.
8. Aqui não se pretende negar a linguagem dos animais nem discutir se
são, ou não, racionais. A diferença entre humanos e não humanos está no
grau de evolução da linguagem (ou na consciência das coisas), verificado
no presente. Juvenal Arduíni (ob. cit., p. 15) esclarece: “O homem
trabalha com sinais e símbolos. Os sinais são apreendidos também pelos
animais, porque possuem conotação concreta imediata. Já o símbolo é
típico do homem, porque aglutina significados com elementos
refinadamente abstratos. O homem cria associação de significados
complexos com sistemas de signos inventados pelo pensamento. É capaz
de se libertar das fronteiras físicas para ingressar no universo simbólico-
expressivo traduzido em formas de linguagem.” O texto “A essência
humana” (anexo I) discorre sobre o que representa para o homem a
linguagem.
Impõe-se instalar no ser humano a responsabilidade de ele
entender (e assumir) que a linguagem é sua essência, sua natureza,
o que o torna único. Para tanto, deve desenvolver a consciência da
palavra, ou seja, debruçar-se sobre esta para capturar-lhe o
significado original, mais exato e mais universal possível9. E, na
atualidade, não é tão fácil, em face da relativização apregoada pela
pós-modernidade10. Mais: por constituir a linguagem uma
verdadeira transação entre pessoas, interferem, nessa relação,
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diversos fatores pessoais (como pré-julgamentos, narcisismo, entre
outros), impedindo que a comunicação se transforme numa
operação bem-sucedida11.
9. Na oração “Os casos de dengue se proliferam na cidade”, observa-se
que o autor não domina o significado original do verbo proliferar,
formado pelos radicais latinos proles (descendência) e ferre (produzir,
gerar). Significando gerar descendência, o verbo proliferar não pode ser
reflexivo, como no exemplo citado.
10. O texto “Pós-modernidade” (anexo II) analisa valores do tempo em que
vivemos.
11. O texto “Linguagem como transação” (anexo III) explica como estes fatores
podem causar verdadeiros estragos na comunicação interpessoal.
Cabem aqui quatro exemplos, entre tantos, desta falta de
consciência, de reflexão sobre a palavra escrita.
1.º – “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.” (Constituição Federal, 1988, art. 225)
Na expressão “sadia qualidade de vida”, sadia (por ser adjetivo)
já indica qualidade; na sentença “preservá-lo para as presentes e
futuras gerações”, o verbo preservar já pressupõe que é para o
presente e para o futuro (ninguém vai, e não pode, preservar para o
passado); a expressão “presentes gerações” leva a concluir que, no
presente, há mais de uma geração – o que não é verdadeiro; o
aposto “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida” não é afirmação óbvia? Por fim, é necessário colocar “do
povo”, se o uso é comum?
2.º – “Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a
lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança.”
(Constituição Federal, 1988, art. 5.º, LXVI)
Tome-se a sentença “Ninguém será levado à prisão”, aqui na voz
passiva. Para facilitar a compreensão, acrescente-se “por alguém”
(agente da passiva). Colocando-se a sentença na voz ativa, resulta:
Alguém levará ninguém à prisão. É possível?
3.º – “A superveniência de lei federal sobre normas gerais
suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.”
(Constituição Federal, 1988, art. 24, § 4.º)
O sujeito do verbo suspende é a superveniência de lei federal
sobre normas gerais; seu núcleo é superveniência. Em verdade, o
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que suspende a eficácia (da lei estadual) não é a superveniência (a
chegada posterior) e, sim, a lei federal que vem depois. Aqui
colocou-se, impropriamente, como núcleo do sujeito o elemento
restritivo.
4.º – “As Convenções e os Acordos de trabalho entrarão em
vigor 3 (três) dias após a data de entrega dos mesmos no órgão
competente.” (CLT, art. 614, § 1.º)
Nesta citação há duas sentenças: as convenções coletivas de
trabalho devem ser entregues no órgão competente (principal) e
para, assim, entrarem em vigor (subordinada adverbial final). A
melhor lógica é: As convenções coletivas de trabalho entram em
vigor 3 (três) dias após entregues no órgão competente.
b) Linguagem é, do ser humano, a segunda pessoa, que permite
conhecer a primeira. Paulo é entendido pelo conjunto de
significados que emite, como se constituíssem sua segunda pessoa
ou, na linguagem bíblica, o logos, que desvenda o outro. Ao
telefonar para Genésio (morador no Rio de Janeiro), Paulo (de
Goiás) faz chegar até ele a sua linguagem (sua segunda pessoa), e
Genésio o atende como se fosse o próprio Paulo. Nada absurdo
pensar que a linguagem é um clone vir​tual que cada ser constrói.
Conclui-seque, nessa interação, só se pode formular conceito do
outro a partir de sua linguagem (sua representação) por meio da
palavra, gestos, conduta, texto, que, bem (ou mal) colocados,
levarão o receptor a construir uma imagem positiva (ou negativa)
do emissor. Para tanto, leia-se o seguinte:
“Os réus, na tentativa de procrastinar a justiça e
confundir o julgador, juntaram a certidão de
casamento e o termo de audiência de separação
consensual (f. 94–96). Acontece que não está em
questionamento o estado civil dos réus e, sim, a sua
conduta ilegal; portanto, não está sub judice como e
com quem cada um vive mas a proteção da lei, como
se pode constatar nas jurisprudências trazidas aos
autos (...).
Fazem os réus alusão à Lei da Usura, na tentativa
de provar (f. 30, 7.º §) que o não pagamento tem
origem na má-fé do autor, pois o imóvel tinha mais
donos.Todavia, se necessário, comprovar-se-á (com a
juntada de documentos) a idoneidade do autor”.
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O texto acima (cujos segmentos não apresentam a lógica
desejada) está (naquilo a que se propõe) correto, entendível,
passando a impressão de que seu autor teve um mínimo de cuidado
para deixar inquestionável o que pretende provar. Não seria esta,
contudo, a impressão, se o leitor tivesse conhecido antes a peça
acima como foi lançada no processo, assim:
“Ínclito Julgador, os Réus na tentativa desesperada
de procrastinar a Justiça e confundir o julgador fez a
juntada de certidão de casamento e Termo de
Audiên​cia de Separação Consensual em fls. (94, 95 e
96). Acontece Excelência que não está em
questionamento o estado civil dos Réus, e sim a
conduta ao arrepio da lei, dos elementos, portanto
não está sobre júdice como e com quem vive, e sim a
proteção da lei como podemos constatar nas
jurisprudências trazidas aos autos.
(...).
Faz os Réus uma alusão à Lei da Usura, na tentativa
de dizer, às fls. 30 no 7.º parágrafo, que o não
pagamento, tem origem na má-fé do Autor, pois
existiria outras pessoas donas do imóvel, caso Vossa
Excelência entenda ser necessário faremos a juntada
de documentos que comprova a idoneidade do autor.
Há na verdade a aplicação de um golpe, que é
praticado por homem sem o brio e a vergonha, que
fere a moral e os bons costumes, já que usa de meios
ardis e se esquiva de honrar os seus compromissos”.
Se tivesse tido contato antes com a segunda redação do texto, o
leitor poderia imaginar um profissional limitado no pensar e no
escrever, despreocupado com a imagem que está passando –
despreocupação que pode representar o sério risco de essa imagem
transformar-se em preconceito, levando o leitor a, por exemplo,
não dar, a partir daí, a devida atenção a textos desse profissional ou
até a não os ler.
Quando, ao contrário, o texto está bem escrito, bem colocado,
bem organizado, bem formatado, sem ser necessariamente erudito,
fica no leitor a imagem de alguém responsável, que respeita o
outro, nascendo daí a simpatia, que levará o receptor a ler com
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atenção este e outros textos daquele autor.
Vale ressaltar que hoje, num mundo em que a concorrência é
acirrada, é fundamental aperfeiçoar a própria imagem
(principalmente no comunicar-se), porque esta é elemento essencial
do marketing pessoal, como se observou no caso analisado,
gerando simpatias ou antipatias; aproximando ou afastando
possíveis clientes; criando, no mínimo, alguma reserva ou
desconfiança.
Cabe acrescentar que cada ser humano está constantemente
enviando mensagens, por meio de gestos, atitudes, conduta, fala,
vestuário, vivendo autêntica “verbalização antropológica”:
significando como homem, como mulher, criança, pai, motorista,
falante, ouvinte, interlocutor, funcionário e assim por diante. O
profissional empenhado no próprio aperfeiçoamento deve estar
atento a todos os detalhes que compõem seu perfil.
É imperativo, pois, que o advogado se conscientize de que é, ao
mesmo tempo, vendedor e produto: nesta transação, a linguagem
desempenha papel fundamental, porquanto é ela que desvenda ao
outro o ser humano e, no caso, o profissional que é.
c) Toda ciência é linguagem, ou seja, leitura sistematizada de um
objeto (ou parte dele), reproduzível em suas leis. O homem é
objeto de várias ciências: é estudado (lido) pela Medicina,
Psicologia, Sociologia, Direito e tantas outras. Também Direito é
linguagem.
Estudar linguagem não é estudar apenas a gramática da língua
portuguesa; aliás, isto representa muito pouco. Estudar e
desenvolver a linguagem é muitíssimo mais: começa-se pela
consciência da palavra e do texto12, seguida pela reelaboração do
que foi escrito.
12. Sem a consciência da palavra e do texto é praticamente inútil estudar
gramática. É comum encontrar equívocos de concordância verbal –
indicando que o emissor não tem consciência da relação do sujeito com o
verbo (ou seja, não automatizou esta relação). Aliás, estudam-se dezenas
de regras de concordância verbal, reduzidas todas a o verbo concorda com
o sujeito. E não se estuda (não se desenvolve) a percepção do sujeito, para
que esta fique automatizada. Logo, tudo com resultados muito modestos.
2.2. Linguagem e língua.
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2.2.1. A língua.
A linguagem operacionaliza o mundo das ideias13; é, portanto,
abstrata; a língua (para nós, a portuguesa) coloca no mundo
concreto a linguagem.
13. Quem pensa, em verdade, é emissor e receptor ao mesmo tempo; e,
como domina o contexto e o código linguístico, não tem, em princípio,
dificuldade para se entender. Quando passado para o exterior, este
discurso pode não ser entendido, porque o receptor eventualmente não
conhece o contexto e/ou o código do emissor. Daí a imperiosidade de a
pessoa pensar como se estivesse falando com outra.
No mundo jurídico, os atos processuais são realizados por meio
da língua, entre nós a portuguesa, que, como outras, possui níveis
distintos (ou funções – ver nota 20), cada um com suas normas.
Nos últimos anos, as escolas não têm tido a preocupação de
exercitar o aluno no padrão formal (aquele que segue as regras da
gramática, com a reelaboração14 do texto); ao contrário, deixa-o
trabalhar, na escrita, o coloquial (escrevendo como se estivesse
falando, ao fluxo da consciência, incorporando as características
deste nível, principalmente a redundância e a colocação espontânea
das palavras15).
14. A reelaboração consiste na organização das ideias dentro da lógica,
colocando-se na oração principal o enunciado básico e nas subordinadas o
que gira em torno dele (circunstâncias e adjuntos), superando-se, assim, a
coordenação (que indica certo primitivismo), com a adequada colocação
das palavras e, por fim, com o refinamento, pelo estudo da gramática.
Na Constituição da República Federativa do Brasil há uns tantos
exemplos de falta de reelaboração do texto. Aqui, só quatro exemplos:
1.º – Art. 17, § 4.º: “É vedada a utilização pelos partidos políticos de
organização paramilitar”. Melhor: É vedado aos partidos políticos utilizar
organização paramilitar.
2.º – Art. 36, § 1.º: “O decreto de intervenção, que especificará a
amplitude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará
o interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da
Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas”. Pelo
texto é o decreto que nomeia o interventor, quando, na realidade, o
interventor é nomeado (por alguém) por meio de decreto. Trocou-se o
agente pelo instrumento.
3.º – Art. 20. “São bens da União: I – os que atualmente lhe pertencem e
os que lhe vierem a ser atribuídos; (...)”. Ora, se lhe pertencem,
certamente os bens são da União. E não são os que lhe vierem a ser
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atribuídos.
15. Um exemplo de linguagem coloquial: “Informo a V. Ex.ª que em face
ao acidente o requerido encontra-se em uma cadeira de rodas por
aproximadamente 01 ano e irá assim ficar já que quebrou a perna em
três lugares e está com todos aqueles ferros na sua perna. Dou fé. Data
supra.”Note-se que profissionais de todas as áreas (não poucos), por não
conhecerem bem o vernáculo, acabam menosprezando-o16, sob a
alegação de que diferenças, significados, regras, construções são
caprichos da língua portuguesa, que é muito complicada17.
16. Desprezar determinados conhecimentos é próprio dos que não os
dominam (ou se negam a dominar). Horácio (65-8 a.C.), na Arte poética,
já denunciava essas pessoas, ao perguntar, referindo-se às características
da obra: “Qual a razão por que prefiro, com falso pudor, desconhecê-las a
aprendê-las?”.
17. A língua portuguesa não é complicada; é mal estudada. Por ser a
língua mais evoluída das neolatinas, natural que seja mais complexa. E
também mais rica de recursos.
O Direito, como ciência, é linguagem; por esta ele se realiza.
Impõe-se conhecer primeiro esta e, depois, aquele. O inverso é
impossível. Sem o domínio da linguagem (entendida como
capacidade de lidar com significados e como comunicação) não há
aprendizagem de qualquer ciência e, sem o conhecimento do
vernáculo, não se concretiza qualquer linguagem.
2.2.2. Linguagem jurídica.
A petição inicial é redigida no padrão formal, empregando-se,
quando necessária, a terminologia jurídica18, que não pode
obscurecê-la nem complicá-la, porque, embora endereçada ao juiz,
a inicial se destina também à outra parte.
18. É comum encontrar professores, articulistas, magistrados e outros
sugerindo a simplificação do texto jurídico. Louvável a iniciativa. Não se
pode, todavia, descaracterizar a linguagem jurídica – é ela a expressão de
uma ciência. O que se deve condenar são os pedantismos (peça vestibular
por petição inicial; ou vem à ínclita presença de Vossa Excelência); as
expressões cheirando a mofo (se por al não estiver no ergástulo ou ao
arrepio da lei); palavras e expressões estrangeiras (expert, por perito,
parquet, por Ministério Público, ex positis, ex vi legis, custos legis e
tantas outras); a falta de objetividade, clareza e lógica. Certo magistrado
iniciou a decisão anotando que “o punctum pruriens da questão era o
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domínio do imóvel”. Ocorre que punctum pruriens significa, literalmente,
o ponto (local) que está com coceira – expressão no mínimo estranha.
Não é demais repetir: texto que exige releitura ou consulta sistemática a
dicionários não está bem escrito.
Observe-se que, tradicionalmente, a linguagem jurídica foi
retórica. Até hoje quantos profissionais escrevem como se
estivessem na tribuna discursando, gesticulando, defendendo ou
acusando – o que pode, no entusiasmo, levar a deslizes
imperdoáveis, como nesta ementa:
“É impenhorável o imóvel residencial próprio do
casal, ou da entidade familiar. A família recebe
proteção especial do Estado. Não pode a Fazenda
Pública, na sua fúria desenfreada de arrecadar
impostos e de receber as suas dívidas, levar desgraça
a quem deve receber inalienável proteção.
O Judiciário não pode permitir vingar o
entendimento de que o art. 30 da Lei 6.830/80, mal
redigido e contraditório, permite a penhora de bem
impenhorável e inalienável.”
O texto seguinte, extraído de contrarrazões, ilustra os riscos
apontados: o autor, empolgado com recursos retóricos (sem dúvida
tímidos), discorreu sobre o inútil e omitiu o necessário, cometendo
ainda equívocos gramaticais elementares:
“O apelante principia invocando: ‘A DECISÃO
FOI UMA VERGONHA’ – ‘DISSERAM
ALGUNS’.
Ora, quem? Quem alguns? Que se desse ‘nome aos
bois’! Ou isso é ‘força de expressão’, apenas? O que
não está nos Autos não está no mundo do processo!
Ou será, ainda, que tal afirmação somente se passa
na cabeça do advogado constituído pelo apelante?
Ora, poder-se-ia até pensar, porque o Ministério
Público se preocupa em rebater as despropositadas
afirmativas nas razões, porque desnecessárias... Não!
Achamos que o advogado merece consideração, e
vamos enfrentá-lo corpo a corpo na matéria! (...).
Mas, chega de enfrentar um tema tão desagradável
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e que beira ao irritante! As afirmações são tão vazias
de senso e distantes da realidade que exigem se pare
por aqui! Aliás, há nesse augusto Sodalíco
distintíssimos Desembargadores que aqui militaram
quando Juízes de 1.ª ou 2.ª Entrância, e conhecem a
verve deste povo, desta gente trabalhadora, vinda de
todas as partes do grande Brasil, e aqui constróem,
mantêm família e sabem respeitar os ditamos da Lei
dos homens e de Deus!”
Tudo isto pode valer, não nas peças do processo. Atualmente, o
profissional deve ter como objetivo único convencer o juiz (e, não,
comovê-lo), empregando o padrão formal, com exposição lógica,
acessível na primeira leitura. Lembra um autor19 que a linguagem
deve ser “funcional, despojada de inúteis adornos” e que “nada
existe mais classicamente literário do que a linguagem direta e
precisa”. Não significa que esta exposição deva ser ingênua.
Ingenuidade não é sinônimo de simplicidade. Simplicidade é o
grau máximo da perfeição.
19. Ver Cesáreo Rodrígues-Aguilera, em El lenguaje jurídico, Barcelona,
Bosch, 1969, p. 18 e 33.
2.3. Características.
2.3.1. Impessoalidade.
A Constituição Federal coloca, como uma das carac​terísticas da
administração pública, a impessoalidade. Isto impõe, entre outras
situações, que qualquer expediente destinado a órgão público seja
endereçado a seu preposto. Destarte, o ofício é dirigido ao diretor,
ao presidente, ao delegado, ao juiz – nunca ao sr. Antônio dos
Passos, ao dr. José da Silva.
Isto exige que o expediente seja escrito na função20 referencial,
desaparecendo, por isso, a relação primeira e segunda pessoa ou, na
petição inicial, a relação terceira pessoa (a parte) e segunda (juiz).
20. As funções da linguagem, segundo diversos linguistas, são: emotiva
(centrada no sujeito, 1.ª pessoa), apelativa (no receptor, 2.ª pessoa),
referencial (no objeto, 3.ª pessoa), fática (no canal utilizado) e poética (na
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mensagem, isto é, no material usado para a comunicação).
Não sejam usados, portanto, vocativos (que caracterizam a
função apelativa), pelo texto afora, para chamar a atenção do juiz,
como nos seguintes exemplos:
1.º – “Ocorre, Meritíssimo, que na ocasião em que os apelantes
chegaram ao local, nada encontraram.”
Melhor (eliminando Meritíssimo): Ocorre que, quando
chegaram ao local, os apelantes nada encontraram.
2.º – “Vem, à ínclita presença de Vossa Excelência interpor a
presente.”
Melhor (vai-se ao juízo ou ao tribunal e não a S. Ex.ª): Vem a
esse juízo (ou tribunal) interpor a presente.
3.º – “Excelências, a cláusula 01.00 do contrato prevê a cobrança
de um adicional de 2%.”
Melhor (eliminando Excelências): A cláusula 01.00 do contrato
prevê a cobrança de um adicional de 2%.
4.º – “Esta alusão, Culto Magistrado, somente fora colocada por
amor ao debate jurídico.”
Melhor (eliminando Culto Magistrado): Esta alusão fora
colocada somente por amor ao debate jurídico.
5.º – “Douto Magistrado, pelas razões acima aludidas, o autor
passa a Requerer o seguinte:”
Melhor (eliminando Douto Magistrado): Pelas razões acima
aludidas, o autor passa a requerer o seguinte:
6.º – “Ressalte-se, emérita julgadora, que os equívocos contidos
nas alegações derradeiras são estarrecedores.”
Melhor (eliminando emérita julgadora): Ressalte-se que os
equívocos contidos nas alegações derradeiras são estarrecedores.
Frise-se, por fim, que a impessoalidade existe também em
relação à outra parte. O que se discute é se houve, com o fato,
ameaça ou lesão a direito. Só.
2.3.2. Concisão.
Concisão não é sinônimo de síntese. Aquela se opõe a
prolixidade; esta, a análise. A concisão trabalha com o necessário;
a síntese, com o essencial. Assim, na inicial estará o necessário
(reduzir o texto ao essencial é, no mínimo, perigoso). O texto
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conciso não admite palavras ou expressões redundantes, inúteis.
A prolixidade vai, infelizmente, dos exemplos mais simples aos
mais complexos. Como os seguintes:
1.º – “Determinar, ainda, a expediçãodo competente mandado
para efetivação da averbação no Registro Civil competente, nos
termos requeridos.”
Melhor (não há mandado ou registro civil competente ou
incompetente): Determinar, ainda, a expedição, para o Registro
Civil, para averbação do mandado, nos termos requeridos.
2.º – “Todos os três acusados estão no setor de custódia.”
Melhor (Todos é desnecessário): Os três acusados estão no setor
de custódia.
3.º – “Requer a intervenção do ilustre e culto representante do
Ministério Público diante da natureza da causa, que traz incito em
seu bojo a prática de crime de improbidade administrativa.”
Melhor (ínsito significa dentro, inserido; fica, pois, redundante a
expressão em seu bojo): Requer a intervenção do representante do
Ministério Público diante da natureza da causa, que traz ínsita a
prática de crime de improbidade administrativa.
4.º – “O juiz, ao sentenciar, não foi ao centro do âmago da
questão.”
Melhor (âmago já é centro, essência): O juiz, ao sentenciar, não
foi ao âmago da questão.
5.º – “As alegações inseridas no item 02 da pretendida apelação,
são fatos verdadeiros.”
Melhor (é dispensável a palavra inseridas): As alegações do item
02 da apelação são fatos verdadeiros.
6.º – “Na constância do casamento, resultou em uma gravidez no
ano de 19..., que durou (09) nove meses, vindo a ser dado à luz o
primeiro filho.”
Melhor (anormal é a gravidez com menos de nove meses): Na
constância do casamento, deu à luz o primeiro filho em 19....
7.º – “Por fim, sofreu histerectomia radical de útero (retirada do
útero – 4/.../19...) na Santa Casa, sob anestesia geral.”
Melhor (histerectomia já indica a retirada de útero): Por fim, em
4 de ...... de 19...., na Santa Casa, A. A. foi submetida à
histerectomia, sob anestesia geral.
8.º – “Ex Positis e tendo em vista que o réu, por ser revel, não
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contestou a inicial, onde foram requeridos o principal, as custas e
honorários advocatícios, acrescidos de juros e correção monetária;
e tendo em vista, ainda, que o autor não está conseguindo fazer
frente aos seus débitos, principalmente para com a empresa que
instalou e que dá assistência aos elevadores, porque a correção
monetária e realinhamento de peças superam em muito as
contribuições pagas pelo grande número de condôminos que só
saldam seus débitos sob pressão, (...).”
Este exemplo (o 8.º) foi extraído de uma manifestação sobre o
cálculo (reivindicando que fosse refeito para incluir multa e
correção monetária). Pergunta-se: se o cálculo, para a parte, foi
realizado sem considerar algumas determinações legais, que tem a
ver, com isto, o fato de o réu não conseguir fazer frente aos seus
débitos? Inevitável a conclusão de que o período inteiro é
totalmente desnecessário. Não há, pois, concisão.
9.º – “Pagando o estabelecimento bancário cheque fruto de uma
procuração falsa, porque não autorizada pela pessoa que figura
como outorgante, sem tomar os cuidados necessários e comuns
para casos desta natureza, agiu negligentemente a impor sua
responsabilidade pelos danos causados à parte prejudicada.”
O texto acima (é ementa de acórdão) peca pela falta de concisão.
Melhor: É responsável pelos danos o banco que, negligentemente,
paga cheque emitido com amparo em procuração falsa.
10 – “O impetrante, nascido aos 13 dias de ..... de 19.... (Certidão
de Nascimento em anexo) é legítimo e inconteste aluno da escola
M.M.M., (....) há mais de dois anos consecutivos, tendo cursado
regular e assiduamente a fase inicial, conforme cabalmente
comprova o anexo requerimento de matrícula do Núcleo
Educacional (doc. em anexo).”
Melhor: O impetrante, nascido em 13 de ..... de 19.... (doc. ....) é,
há mais de dois anos, aluno da Escola M.M.M. (....), tendo cursado
regularmente a fase inicial (doc. ....).
Observe-se, nesse exemplo, que são redundantes: dias, legítimo
e inconteste, consecutivos, assiduamente, cabalmente. Também
não há necessidade de se colocar certidão de nascimento em anexo
– é suficiente colocar (doc. ....); não há por que escrever conforme
cabalmente comprova o anexo requerimento de matrícula do
Núcleo Educacional (doc. em anexo). Bastaria substituir o
enunciado por (doc. .....). E ainda: atente-se para a repetição inútil
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do adjetivo anexo21: anexo requerimento e documento em anexo.
21. Anexo pode ser substantivo ou adjetivo. Como substantivo, significa a
parte que aparece após o documento, quase sempre integrante deste.
Exemplos: o Anexo II da Lei n. 0.000/75; o anexo do decreto prevê esta
categoria. Como adjetivo, anexo significa juntado, aposto. Exemplo: As
atas anexas comprovam a presença dos candidatos. Não se escreverá,
portanto, em anexo para significar juntado. Ainda: como adjetivo, anexo é
flexionado em gênero e número, concordando com o substantivo que
qualifica; como substantivo, por óbvio, só pode ter plural. A expressão em
anexo poderá aparecer corretamente empregada, como em a vantagem
está prevista em diversos anexos.
2.3.3. Objetividade.
a) A linguagem objetiva não admite palavras ou expressões
subjetivas, gratuitas, amplas ou genéricas, como em a sala se
apresentava espaçosa (melhor: a sala tinha 84 m²) ou fazia muito
frio (melhor: a temperatura estava em 6 ºC). Observem-se os
seguintes exemplos:
1.º – “A genitora do autor não passa de simples professora, ao
passo que o réu possui uma boa condição econômico-financeira.”
Verifique-se a subjetividade dos adjetivos simples e boa. Melhor
seria fornecer a informação objetiva, ou seja, o ganho da professora
e do réu, porque é isto que interessa ao juiz.
2.º – “A inventariante é uma pessoa com idade muito avançada,
muito doente.”
Melhor é colocar, em vez de com idade muito avançada, quantos
anos a inventariante tem; e, no lugar de muito doente, descrever a
situação de saúde em que ela se encontra.
3.º – “Naqueles fatídicos dias dos meses de setembro e outubro
de 19..., perdeu seu único filho, num atentado violento e que ainda
não foi elucidado pela polícia.”
Melhor é substituir Naqueles fatídicos dias dos meses de
setembro e outubro de 19... pelo dia em que ocorreu o evento e
eliminar o adjetivo fatídicos. É óbvio que, para a mãe, a perda de
filho único, de morte violenta, é fatídica.
4.º – “E muito embora toda a ‘gang’ tenha sido ouvida em Juízo,
após um tremendo esforço da Justiça local, que teve que ameaçá-
los de condução coercitiva (...).”
Repare-se a impropriedade do adjetivo tremendo.
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5.º – “A testemunha R.R., também arrolada pelo réu, foi uma
lástima.”
Que pretende o autor dizer com lástima? Melhor seria descrever
a conduta da testemunha; aí, sim, a informação se tornaria objetiva.
b) A linguagem objetiva exige isenção de ânimo. Con​vence-se o
juiz com exposição lógica, coerente, segura, com serenidade e
firmeza22 (que não se confunde com exaltação ou destempero),
sem preconceitos ou tendenciosidade.
22. Encontra-se, com alguma frequência, quem defenda que o advogado
deve dramatizar, carregar nas tintas, para comover o juiz. Isto não tem
sentido. É preciso convencer o juiz e, não, comovê-lo, como se tentou,
numa ação de reparação de danos (porquanto o dedo operado ficou menor
e torto): “A requerente com seu dedo aleijado tem experimentado uma
enorme tristeza moral, cada vez que contempla sua mão, ou necessita dos
seus dedos para suas obrigações de rotina, cada vez que vê crianças e
adultos olharem para sua mão com surpresa, se não com arrepio e asco, a
requerente é nova, tinha 21 anos de idade por ocasião da cirurgia, muito
jovem e época bonita na vida de qualquer pessoa que sonha, tem
expectativas, e a requerente viu (...)”. Registre-se, por fim, que parte das
Faculdades de Direito continua preparando o acadêmico para litigar. Em
verdade, o advogado existe para garantir o devido processo legal. Mais: o
século 21 exige conciliadores e advocacia preventiva.
c) A linguagem objetiva proíbe qualquer destaque gráfico.
Ocorre que o destaque (como negrito23, itálico24,sublinha25,
versal26) não previsto nas normas acaba por insinuar algo mais,
sempre subjetivo. Quem encerra a petição escrevendo por ser de
verdadeira JUSTIÇA (às vezes em tamanho escandaloso e em cor
berrante) pode insinuar que há justiça tendenciosa, justiça enorme e
justiça pequena. Essa conduta não é adequada.
23. Não há qualquer previsão legal para o emprego do negrito. A tradição
o aceita em títulos. Na petição inicial poderá ser empregado, como se verá
adiante, para destacar, principalmente no preâmbulo, o nome das partes.
De qualquer forma, o negrito mancha o texto (manchar, termo da gíria
gráfica, indica que algum elemento compromete o equilíbrio estético do
impresso).
24. O emprego do itálico é previsto basicamente para as citações
bibliográficas ou transcrições, para palavras estran​geiras e para aquelas
empregadas em sentido diferente. Cuidado: quando se faz uma citação e
nela já existe itálico, a parte em itálico passa para caracteres normais.
25. A sublinha pode ser usada na falta do itálico. Não é própria para
textos impressos.
26. A versal, conhecida também por caixa-alta (todas as letras em
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maiúsculas, como em ANTÔNIO DE CASTRO), mancha o texto. Foi
muito empregado, e é ainda encontrado até em obras jurídicas, o
versalete, em que todas as letras são maiúsculas: a primeira, no tamanho
utilizado no texto; as demais, em corpo menor), como em Antônio de
Castro. O versalete mancha menos que a caixa-alta. No Word está na
caixa Fonte, no quadrículo versalete.
O mesmo risco existe quando se negritam (ou se sublinham)
palavras ou expressões, para destacar determinada informação. No
exemplo seguinte, os trechos pagou aquela prestação (a do registro
junto ao SPC) diretamente, através da empresa A. A. e 17 dias
antes de se efetuar o registro junto ao SPC estão, no original, além
de negritados e sublinhados, na fonte 30. Ainda: praticamente o
período inteiro, no original, aparece sublinhado. Para quê?
“Relatou, ainda, o ora apelante em sua exordial (§
5.º) que ‘pagou aquela prestação (a do registro junto
ao SPC) diretamente, através da empresa A. A.
agência de cobrança, contratada da ora requerida,
como faz prova o recibo, em anexo, (fls. 12) emitido
em data do dia 04 de agosto de 19.... (17 dias antes
de se efetuar o registro junto ao SPC)’.”
Há quem argumente que tais destaques facilitam, ao juiz, captar
a ideia ou o mais importante. O perigo é que, ao fixar-se em alguns
elementos, o juiz pode deixar escapar outros, tão ou mais
importantes. Evitem-se, portanto, tais atalhos. Se necessário realçar
alguma passagem, que se faça, discursivamente, no parágrafo
seguinte.
d) A linguagem objetiva não permite o emprego do padrão
literário (utilizado, às vezes, por meio da forma poética ou mesmo
romanceada) e de citações literárias27.
27. Citações literárias até para demonstrar que o autor está lendo este ou
aquele livro. O desembargador Jesus de Oliveira Sobrinho (do Tribunal
de Justiça de Mato Grosso do Sul) intrigava pelo fato de não fazer
qualquer citação bibliográfica nos seus votos. Certo dia, ao ser
interrogado por que assim procedia, respondeu: – Ninguém precisa saber
que livro estou lendo.
Veja-se, no texto seguinte, como é inadequado o padrão literário
(aqui, numa defesa prévia).
“Eram mais ou menos 22 horas do dia 6 de julho de
1974. A lua, com sua cara de prata e seu imenso
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vestido salpicado de estrelas, lançava na terra o seu
olhar sonhador.
Aqui, uma grande polia fazia girar dezenas de
outras polias menores e estas por sua vez, giraram
enormes engrenagens que mastigavam as canas
produzindo o precioso nectar... era época de
moagem. Caminhões descarregavam toneladas e
toneladas de canas que iam escorregando até o local
da moagem, fazendo roncar os seus possantes
motores. Um ronca daqui, outro ronca dali, acrescido
pelo barulho infernal produzido por tôda Usina em
funcionamento. Tudo gira, tudo vibra, tudo
movimenta-se, dando uma sensação de muita vida.
Foi exatamente neste momento de tanta vida é que
acabou perdendo a vida o desditoso P. F.
O trabalho da vítima era fazer limpeza das canas
que caiam por trás dos caminhões. O barulho era
tanto que a infeliz vítima não percebendo que o
veículo estava funcionando, entrou por detrás das
rodas para apanhar algumas canas que ali cairam,
sendo massacrado.
O motorista não teve mínima possibilidade de evitar
o acidente, posto que, não tinha condições de
enxergar atrás das rodas. Não houve imprudência,
não houve negligência, nem imperícia, foi uma
fatalidade dessas quem vem do além.
A vítima foi imediatamente socorrida, levada ao
hospital. P. F. não ressistindo ao ferimentos, acabou
transpondo os umbrais da eternidade, baixando seu
corpo inerte ao bangalô subterranio das células
conçadas, deixando, nos seus familiares, uma eterna
saudade que nem os tempos não consomem.
ASSIM, com devido respeito, discorda dos termos
da Denuncia, arrogando a si, o direito de rebatê-la na
instrução criminal, arrolando as testemunhas abaixo
para deporem na audiência, devendo elas serem
intimadas com as formalidades legais.
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E. deferimento.”
e) A linguagem objetiva exige sentido preciso, exato
(dicionarizado) das palavras: hábeas-córpus28 não se ajuíza,
impetra-se; mandado de segurança não é deferido, é concedido
(está na Constituição).
28. O Vocabulário Ortográfico registra (na parte Palavras estrangeiras, p.
861) a forma habeas corpus, como é em latim. No entanto, no vocabulário
aparece hábeas, aportuguesado. Neste trabalho preferiu-se aportuguesar a
expressão toda. Acrescente-se, mais a título de curiosidade, que o hábeas-
córpus foi usado em situações no mínimo originais. Em 1913, em Campo
Grande (MS), o vigário nomeado apresentou-se ao titular, solicitando-lhe
as chaves da igreja. Este deu de ombros. O nomeado foi ao juiz impetrar
um hábeas-córpus para arrombar a porta da igreja. E foi concedido. Em
2008, havia, no STJ, a discussão sobre se chimpanzés “podiam conseguir
habeas corpus” (como a imprensa noticiou).
Na língua portuguesa são raríssimos os casos em que dois termos
têm exatamente o mesmo sentido. Observe-se este trecho: “Requer
ainda, as benesses do artigo 98 do Código de Processo Civil”.
Aqui, benesse está por benefício (também impróprio). Benesse
significa lucro gratuito, vantagem não esperada. Certamente não é
o que está sendo requerido.
Outro exemplo: “Os requerentes são respectivamente filhos
(menores representados) e mãe (requerente representante) de P. F.,
vítima fatal de acidente de trânsito”. Não existe vítima fatal. Fatal
(aquilo que mata) é o acidente.
f) A linguagem objetiva não aconselha palavras ou expressões
que mostram insegurança, subjetividade, como opino, acho, salvo
melhor juízo.
g) A objetividade exige que no processo se trate só do que diz
respeito a ele. Nada mais. O que não ocorreu quando o advogado,
numa “ação ordinária de abatimento de preço”, em requerimento,
escreveu ao juiz: “Vem à honrosa presença de V. Excia. a fim de
deixar consignado, em mencionados autos, votos de profundo pesar
pelo passamento da sogra de V. Excia., ocorrido na data de ontem.”
2.3.4. Vernaculidade.
a) Todos os atos processuais devem ser praticados no vernáculo.
É o que determinam a Constituição29 e o Código de Processo
Civil30.
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29. Art. 13: “A língua portuguesa é o idioma oficial da República
Federativa do Brasil.”
30. Art. 156: “Em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso
do vernáculo.”
Não podem, portanto, ser empregadas palavras e expressões em
outra língua. Se for necessária determinada palavra, que se coloque
o respectivo significado entre parênteses. As expressões latinas
serão usadas somente quando indicam conceitos comuns,
facilmente encontráveis em dicionários. Observe-se: “Transforma-
se, pelo strepitum iudicii, um processo criminal sério, onde está em
jogo a sorte de quatro jovens, num verdadeiro circo armado.”Pergunta-se: é facilmente encontrado o significado de strepitum
iudicii? A expressão significa: o estrépito, o barulho ensurdecedor
do juízo (por extensão, do processo). Tem sentido? É apropriado?
Evitem-se neologismos31, palavras arcaicas (como serôdio, suso,
dessorte, antanho) ou esdrúxulas (como cônjuge varoa32,
meirinho). Por que sinalagmático se pode ser bilateral? Por que o
mandado de segurança deve ser remédio heroico?
31. Há casos em que é inevitável o emprego de certos neologismos,
principalmente de termos técnicos e de seus derivados. Mas somente
quando não há palavra portuguesa correspondente. Por que usar software
se há programa? Aceitam-se, todavia, formatar, negritar, deletar, entre
outros, já absorvidos pelo linguajar comum. O tempo se encarregará de
consolidar ou substituir tais palavras, como aconteceu com o vocabulário
do futebol: córner foi substituído por escanteio; golquíper (goal-keeper,
em inglês), por goleiro; beque (back), por zagueiro; center-half, por
cabeça de área. Fixou-se, todavia, gol, por mais que se trabalhasse pela
palavra tento.
Cuidado com a proliferação (verdadeira calamidade!) de verbos
terminados em -izar. Embora dicionarizadas, são estranhas à índole da
língua portuguesa as formas protocolizar e obstaculizar. Ocorre que, em
princípio, o sufixo -izar, empregado no português moderno, indica tornar:
agilizar = tornar ágil; canalizar = tornar canal (adjetivo); perenizar =
tornar perene. A regra prática é: a) quando o primitivo é substantivo, usa-
se o sufixo -ar: protocolar, obstacular (melhor é obstar), formatar, ajuizar;
b) quando o primitivo é adjetivo, emprega-se o sufixo -izar: sintetizar,
formalizar, fragilizar.
Ainda: há quem argumente que deve ser protocolizar para distinguir do
adjetivo protocolar (= de acordo com o ritual estabelecido).
Absolutamente sem qualquer fundamento a afirmação.
É relevante registrar que alguns verbos terminados em -izar (em tese
derivados de substantivo) vieram assim do grego (através do latim):
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escandalizar, profetizar, batizar.
Cuidado também com o seguinte: não se pode transformar o
complemento nominal (e certos adjuntos) em adjetivo: não há crime
ecológico – há crime contra o meio ambiente; não há tinta automotiva
(que se move por si) – há tinta para automóvel. Desobediência judicial é
do juiz e não ao juiz. Orçamento de participação e não participativo
(participativo = que toma parte. Orçamento toma parte?).
Na Constituição Federal está (art. 215): “O Estado garantirá a todos o
pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura
nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais.” Existem direitos culturais? Não seria melhor
escrever direitos à cultura? Na expressão manifestações culturais, o
adjetivo está adequado.
Outro abuso é o emprego indiscriminado do sufixo -mente, utilizado, por
norma, para formar advérbios de modo. É bem verdade que alguns desses
advérbios deixaram de ser de modo, como diariamente (de tempo, embora
tenha ainda a ideia original). Em economicamente falando, pretende-se
que economicamente signifique sobre economia, o que não acontece; em
verdade significa de modo econômico, parcimonioso. Compare-se com
economicamente vivendo, em que o advérbio está no sentido original.
Observe-se a inadequação de meritoriamente em “Isto posto, a
Recorrida, pugna pela manutenção da sentença originária, esperando, de
parte da Colenda Turma desse Egrégio Tribunal, o conhecimento das
peças para, meritoriamente negar provimento a todos os pedidos do
Recorrente.” Meritoriamente significa: negar de modo louvável (com
méritos). O que se pretendeu dizer foi: a parte espera (pede) que, no
mérito, seja negado provimento a todos os pedidos do recorrente.
32. Varão é homem do sexo masculino (homem como pertencente ao
gênero humano). Não existe, no sentido próprio, o feminino varoa. Se
existisse, significaria: mulher do sexo masculino.
Esteja o texto escrito unicamente na língua portuguesa. Petição
não é área para erudição literária. O juiz pode mandar emendar33
qualquer inicial que contenha estrangeirismos ou mesmo
expressões estranhas (como hemígamo = casado pela metade,
concubino).
33. A petição inicial deve ser facilmente entendida, porque é, via de regra,
expediente entre as partes e não apenas entre o advogado e o juiz
(excetuando-se alguns casos, como os de jurisdição voluntária – arts. 719
e s. do CPC, em que a relação se dá apenas entre a parte, seu advogado e
o juiz).
E, quando se entende necessário empregar determinada
expressão, cuide-se do significado. Vejam-se os seguintes
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exemplos:
1.º – “Ex positis, requer seja determinada a citação da executada,
qualificada ab initio, para que pague o aluguel.”
Melhor: Ex positis, requer a citação da executada, qualificada
in initio, para que pague o aluguel.
Ab initio significa desde o início, a partir do início (dando a ideia
de origem). No exemplo, o autor pretende informar que a
executada foi qualificada no início (adjunto adverbial de lugar
onde, que, em latim, é in initio).
2.º – “Requer ainda os benefícios da justiça gratuita, eis que os
sucessores do de cujos não dispõe de recurso para custear as
despesas processuais, devendo serem considerados pobres na
forma da lei.”
A expressão latina é de cujus (e não de cujos). Lamentem-se, de
passagem, os equívocos de concordância verbal em os sucessores
não dispõe e em devendo serem.
3.º – “Concessa máxima vênia, a respeitável decisão singular
deve ser reformado, porque prolatada em contrariedade com os
entendimentos jurisprudênciais e doutrinários, além de
desprestigiar a própria Lei e a Carta Política em vigor, a saber: (...)
Por consequência deste fato, data-vênia, tem-se como impossível o
decreto de prisão.”
Em latim não há acentos gráficos, portanto, o correto é: concessa
maxima venia e data venia (expressões, aliás, que, pela secular e
exaustiva repetição, já deviam estar abolidas). De lamentar, ainda,
os erros: reformado por reformada; jurisprudênciais por
jurisprudenciais; Lei por lei. Ainda: a expressão concessa máxima
vênia estava (no original) negritada. Para quê?
4.º – “Portanto não está sobre júdice como e com quem vive.”
Em latim é sub judice ou sub iudice34.
34. Em latim, a semivogal i, antes de outra vogal, passou a ser grafada
também com j. Por isso, a mesma palavra pode aparecer com i ou com j.
5.º – “Em face dos argumentos expostos e com base na farta
prova documental anexada, requer a V. Exa., nos termos que
estabelecem os artigos 1.º e 7.º, inciso II, da Lei 1533/51, a
CONSCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR ‘INALDITA ALTERA
PARS’, COM A EXPEDIÇÃO DO MANDADO ‘INITIO LITIS’
contra a impetrada coatora.” (atual Lei n. 12.016/09)
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A expressão latina é inaudita altera parte (= sem ser ouvida a
outra parte – oração subordinada adverbial condicional). Corrija-se,
ainda, ao menos: concessão (e não conscessão). Não se justifica,
também, a escrita em maiúsculas.
6.º – “Motivou o ato abusivo e ilegal ora atacado através do
presente ‘Write’, sendo que referido entendimento culminou com o
indeferimento do requerimento da matrícula.”
Não é Write, é writ.
b) Atenção para as abreviaturas e siglas.
A abreviatura precisa ser econômica e clara: m. i. (mandato
incluso), embora econômica, é clara? Cinem. (cinema – está no
Vocabulário Ortográfico) é econômica?
A tradição consagrou o emprego de ponto no lugar da parte
suprimida: se no final da palavra a supressão, o ponto abreviativo
fica normalmente após uma consoante e no lugar de uma vogal:
cap. (não capi. – capitão), aritm. (aritmética); se no meio da
palavra a supressão, a parte posterior (ao ponto abreviativo) é
colocada em sobrescrito: Ex.ª (Excelência), S.ª (Senhoria), Il.mo
(Ilustríssimo) ap.to (apartamento), entre outros exemplos.
O Vocabulário Ortográfico (que tem força de lei), na parte das
abreviaturas (em Reduções mais correntes, p. 865), não mantém
qualquernorma, registrando casos assim: a.s. ou a.-s. (anglo-
saxão), aa (assinados), abis. ou abissín. (abissínio), am.a (amiga),
com.dor (comendador), d.e (deve), d.r ou dr. (doutor), d.ra, dr.a ou
dra. (doutora), eng. ou eng.º (engenheiro), ap., apto, apt.º
(apartamento), desemb. (desembargador ou desembocadura);
des.dor, des.or (desembargador), dez. ou dez.º (dezembro), dr.o
(dinheiro), s.or, Sr. ou S.r (sênior), s.r, snr. ou sr. (senhor), t.te c.el
ou t.te-c.el (tenente-coronel), pág., págs., págg. (página, páginas),
S. Ex.a Rv.ma (Sua Excelência Reverendíssima), segs. ou segg.
(seguintes); adm. (administração ou administrativo), admdor
(administrador), admirdor, admor ou admrdor (admirador),
admstrdor (administrador).
Uma surpreendente babel. E afirmam ostensivamente, seus
defensores, que o Vocabulário Ortográfico veio para unificar, para
simplificar...
Há abreviaturas já consagradas pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT): f. (folha, folhas), p. (página, páginas),
n. (número); e pela praxe forense: r. (respeitável), c.c. (combinado
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com).
Tomem-se como norma geral estas orientações (com especial
atenção para o que está no terceiro parágrafo da letra b, acima):
– a abreviatura, quando no plural, não recebe s (ou es): p. – tanto
página como páginas; f. – tanto folha como folhas;
– permanece na abreviatura o acento do vocábulo original: séc.
(século ou séculos), círc. (círculo ou círculos);
– as unidades de medida são escritas em minúsculas (há algumas
exceções), sem ponto abreviativo e são invariáveis: m (metro ou
metros), dal (decalitro), t (tonelada), w (watt), W (watt
internacional).
A sigla pode ser:
– articulada (chamada de siglema pelo Voc. Ort.), quando é lida
como uma palavra: Petrobras, Funai, Sudene. Neste caso, a sigla é
escrita em minúsculas, só a inicial maiúscula. O Voc. Ort. admite
que figure em maiúsculas: UNESCO;
– soletrada (chamada de sigloide pelo Voc. Ort.), quando tem
suas letras pronunciadas uma a uma: URSS, FGTS, DNOS, DST
(doença sexualmente transmissível).
As siglas de unidades da federação são escritas com duas letras
maiúsculas, sem ponto abreviativo: AM, DF, MG, MT.
c) O nome de órgãos, entidades, empresas e assemelhados
escreve-se, ao aparecer pela primeira vez, por extenso, seguido pela
sigla entre parênteses. Daí em diante, só a sigla. Exemplo: Pleiteia
a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em sua manifestação,
(....). No restante do texto, basta OAB.
d) O numeral é escrito normalmente por extenso; é, todavia,
grafado com algarismo:
1.º – no dia e ano das datas (o mês é por extenso): Belo
Horizonte, 5 de setembro de 2008;
2.º – em valores: o carro vale R$ 28.000,00;
3.º – no número de atos (leis, decretos, portarias e outros) e de
séries: o Decreto n. 55/1987; exemplar n. 3.937.
Não há por que escrever o algarismo seguido do extenso entre
parênteses. Isto só vale para o preenchimento de valores,
manuscrito, em títulos, como cheque e promissória, quando, para
evitar possíveis adulterações, se pode (também e só aí) escrever:
hum, treis, deiz.
e) Como se exagera no emprego das maiúsculas! Na língua
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portuguesa, a norma é o emprego da letra minúscula. A maiúscula
só pode ser empregada se for inicial e nos casos previstos no
Vocabulário Ortográfico35.
35. No Pequeno Vocabulário Ortográfico, as normas do emprego das
iniciais maiúsculas estão no título XVI, estabelecendo os casos em que se
deve empregá-las. O Acordo Ortográfico repete (na Base XIX), em tese e
em outra ordem, as normas da ortografia anterior (ver nota 5).
f) Quanto aos nomes próprios, o seguinte:
1.º – Os nomes próprios36 de qualquer natureza, portugueses ou
aportuguesados, seguem as regras dos nomes comuns ​– é a regra
tradicional.
36. Incluem-se, nessa norma, os apelidos. Observe-se o texto: “Já ouviu
comentários que ‘buguinho’ é dado a brigas, que não conhece a vítima
S.T., vulgo ‘neguinho’, que não sabe informar se havia rixa entre as
vítimas ‘buguinho’ e o acusado, ou entre o ‘espeto’ e o acusado.”
Os apelidos Buguinho, Neguinho, Espeto – com inicial
maiúscula e sem aspas.
2.º – Para evitar aborrecimentos, consagrou-se, todavia, o uso de
se grafar o nome próprio de pessoa como consta no respectivo
registro de nascimento37 (assim Luiz, Waldir, Therezinha, Ruy;
depois Luís, Valdir, Teresa). Até porque, não sendo assim, ter-se-ia
que escrever, ainda hoje, Ruy Barbosa, Athayde, Jesus Christo,
Paraguassú, para não mencionar nomes próprios de lugar como
Piauhy, Sant’Anna do Paranahyba e Minas Geraes.
37. O Vocabulário Ortográfico estabelece (Base XXI):
a) “Para ressalva de direitos, cada qual poderá manter a escrita que, por
costume ou registro legal, adote na assinatura do seu nome.” Fica claro
que o portador não é, em tese, obrigado a adotar a grafia do registro.
b) “Com o mesmo fim, pode manter-se a grafia original de quaisquer
firmas comerciais, nomes de sociedades, marcas e títulos que estejam
inscritos em registo público.”
3.º– Os nomes próprios de lugar são sempre escritos por extenso
(sem qualquer parte abreviada) e de acordo com as normas
ortográficas38, seguidos, quando necessário, da sigla do Estado ou
do Distrito Federal entre parênteses: Rio Verde de Mato Grosso
(MS), São João da Boa Vista (SP), Porto Velho (RO), Rio dos
Cedros (SC). Havendo para o topônimo forma aportuguesada,
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empregue-se esta: Bordéus (por Bordeaux), Conceição (por
Concepción), Nova Iorque (por New York); condenável misturar
os idiomas como em Nova York.
38. A única exceção (está no Voc. Ort.) é Bahia, que continua com h; seus
derivados, como baiano, se grafam sem h.
4.º – No texto jurídico, as palavras autor, réu, requerente,
requerido e semelhantes não são nomes próprios; portanto, com
inicial minúscula. Muito menos AA. (autores), RR. (réus) e outras
– sempre, escritas por extenso.
g) A barra (/) significa corte, seção. Está bem empregada quando
indica, por exemplo, gênero e espécie, como na referência de
volume e página: RT 59/55 (em que 59 indica o volume; 55, a
página). Não estará bem em f. 25/34 – aqui é adequado o uso do
hífen, que, para o Voc. Ort. (Base XV, 7.º), indica extremos39,
como em f. 25-34.
39. Neste sentido é ainda empregada a preposição latina usque, que
significa até. Evite-se, por ser de mau gosto e não econômica.
h) Não é demais insistir: concluída a redação, é indispensável
revisão cuidadosa. Assim não aparecerão surpresas como em:
1.º – “Consequentemente inverter-se-á o ônus da suculência.”
Inadmissível confundir suculência com sucumbência.
2.º – “Que, após o nascimento do menor, começou a enviar
cartas e ordens de pagamento, para costeio das despesas com a
criança, não existindo respaldo juridico, as alegações infundadas
no ítem 9º da pretendida Apelação.”
Não é costeio (= lida com o gado) e, sim, custeio; jurídico, com
acento agudo; item, sem acento; apelação, com inicial minúscula.
Há, ainda, falta de nexo na segunda parte do exemplo.
Fica a redação bem melhor assim: Após o nascimento do menor,
começou a enviar cartas e ordens de pagamento para as despesas
com a criança. As alegações do item 9.º da apelação, além de
infundadas, não têm respaldo jurídico.
3.º – “Pergunta-se? Se o ‘de cujus’ faleceu em .... de .... de 19....,
como pode tirar FOTOGRAFIA JUNTAMENTE COM A MÃE
DO APELADO EM ..../..../19....! isto é, após 10 (dez) anos de seu
passamento, sendo uma locura tal afirmativa.”
Melhor: Pergunta-se: se o de cujus faleceu em ..... de ..... de
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19...., como pôde tirar fotografia juntamente com a mãe do
apelado em ..../..../19...., ou seja, dez anos depois de seu
passamento? Estranho, muito estranho, sem qualquer dúvida.
4.º – “Pelo exposto, a Apelada requer aos Ilustres
Desembargadores que compõem a Turma a que este recurso for
distruido seja mantida a r. sentença de primeiro grau.”
Não é distruido e, sim, distribuído. Bastaria: Pelo exposto, a
apelada pedeque seja mantida a sentença de primeiro grau.
5.º – “Os nossos Pretórios têm entendimento unisso-no (sic) a
respeito da materia em discussão.”
Melhor: Os nossos tribunais têm entendimento uniforme a
respeito da matéria em discussão.
6.º – “A imobiliária exige uma dessas três formas de garantia: o
cheque calção, o seguro fiança e a apresentação do fiador.”
Em português só existe cheque caução. Lamentabilíssima (e
cada mais frequente) a confusão entre a semivogal u e a consoante
l: a dívida foi saldada (e não saudada); a cauda do cometa e não a
calda do cometa; alto-falante e não auto-falante.
7.º – “Em comunidade pequena como Porongo os jurados
conhece todos os fatos e como se deram na maioria das vezes,
conhecem os locais do crime, as pessoas envolvidas e até mesmo
as testemunhas, sabem que está falando a verdade, conhecem
acusados e vitimas, sabendo inclusive suas pessonalidades e a
piricrosidade dos acusados este exemplo tivemos nos ultimos
julgamentos nos mêses de Maio e Junho do corrente ano, onde foi
levado a julgamento seis pessoas só dois foram absolvidos, será
que os que foram condenados o juri também votou contra as provas
dos autos?”
Deplorável, sob todos os aspectos, o texto acima. Melhor: Numa
comunidade pequena, como Porongo, os jurados conhecem todos
os fatos e, na maioria das vezes, como se deram; os acusados e
vítimas, inclusive sua personalidade e periculosidade; o local do
crime; as pessoas nele envolvidas e até as testemunhas; e sabem
quem está falando a verdade. Exemplo disto ocorreu nos últimos
julgamentos, em maio e junho últimos, quando, das seis pessoas
levadas a julgamento, só duas foram absolvidas. Nessas
condenações, será que os jurados também votaram contra as
provas dos autos?
8.º – “Mas uma coisa e certa e ningem pode negar a arma foi
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apreêndida com treis cartuchos detonados e duas balas em tacta
conforme laudo de apreênsão, e a vitima foi corredo até sua casa e
o acusado não saiu disparando contra a vitima após ter se livrado
do mesmo.”
Melhor: Mas duas coisas são certas e ninguém pode negar: a
arma foi apreendida com três cartuchos detonados e duas balas
intactas, conforme laudo de apreensão; a vítima foi correndo até
sua casa, contra quem o acusado não saiu disparando após ter-se
dela livrado.
9.º – “O que difere apena em alguns detales que impossivel as
pessoas lebrarem de tudo na hora em que está prestando um
depoimento na frente do magistrado, que na maioria das veses os
leigos em materia de justiça tremem; Outro detale que especifica as
razões é de uma fala que os fatos se deram na porta e a outra diz
ser na sargeta, Ora como esplicar, a porta fica em frente a sargeta e
calçada que naquele local é de dois metros.”
Melhor: Há realmente diferença em alguns detalhes, pois é
impossível as pessoas se lembrarem de tudo na hora em que estão
prestando depoimento ao magistrado (quando, na maioria das
vezes, os leigos em matéria de justiça tremem). Outro detalhe que
especifica as razões é que uma testemunha fala que os fatos se
deram na porta e outra, na sarjeta. É fácil explicar: a porta fica
em frente à sarjeta e calçada, que tem dois metros de largura.
10 – “Inclitos apreceadores da questão ora apreciada, os fatos se
deram quando a vitima foi até o bar do acusado.”
Melhor (suprima-se o vocativo, por inoportuno, não sem antes
verificar os equívocos gramaticais): Os fatos se deram quando a
vítima foi até o bar do acusado.
11 – “A decisão dos Srs. Jurados merece ser mantida, porque
eles fizeram o melhor para a nossa sociedade, que inteligêntemente
Absolveu o apelado.
Pelo acima exposto
Considerando que descisão do júri não está divorciada da prova
dos Autos; Considerando que o Órgão do MP. não Logrou trazer
prova robusta, mas sim alegações duvidosas em seu recurso” (...).
Melhor:
A decisão dos Jurados merece ser mantida, porque, absolvendo
o apelado, fez o melhor para a nossa sociedade.
Pelo acima exposto e considerando que a decisão do Júri não
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está divorciada da prova dos autos; que o Ministério Público não
logrou, em seu recurso, trazer prova robusta mas, sim, alegações
duvidosas (...).
12 – “Procede culposamente o motorista que, em via pública,
dotada de iluminação, no perímetro urbano, estaciona o veículo
para, em seguida, passar sobre a vítima embriagada e caída na rua,
causando-lhe lesões gravíssimas.”
Nesta ementa, o fato de o motorista estacionar para passar sobre
a vítima caracterizaria (em tese) dolo e não culpa (observe-se a
impropriedade do verbo estacionar).
Lamentável constatar, como ficou demonstrado, que ainda
existam profissionais que escrevem sem o mínimo zelo (exemplo
8.º em diante).
Importantíssimo, por fim, lembrar que, na revisão, haja muito
cuidado também com a pontuação40. Anda mal a pon​tuação em:
“Artigo este, secundado pelo Código de Proteção e Defesa do
Consumidor, (art. 51, X) que declara nula, cláusulas contratuais
que permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente a variação do
preço unilateralmente.”
Melhor: Artigo este, secundado pelo Código de Proteção e
Defesa do Consumidor (art. 51, X), que declara nulas cláusulas
contratuais que permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente,
variar unilateralmente o preço.
40. Os exemplos, ao longo desta obra, patenteiam a deficiência na
pontuação. Ressalte-se que a finalidade da pontuação não é marcar a
pausa para respirar, mas, sim, estabelecer a clareza do texto.
2.3.5. Clareza.
A clareza, que se opõe à ambiguidade e à obscuridade, é
fundamental. A petição inicial mal elaborada, confusa, deve ser
indeferida. Tanto que o CPC, no inciso III § 1.º do art. 330,
considera inepta a petição inicial, “quando da narração dos fatos
não decorrer logicamente a conclusão”.
Patente também que a clareza do texto está intimamente ligada à
lógica, nascendo aquela também da coerência das ideias. O mal
pensado será certamente mal escrito. O claramente pensado será
claramente escrito. Como se viu, texto claro, em princípio, não
exige releitura.
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Tornou-se antológica a decisão no Agravo Regimental no
Agravo de Instrumento n. 48.034-SP (Recurso Extraordinário),
nestes termos:
“I – Interceptado pelo em. Min. Relator o agravo de
instrumento, foi interposto agravo regimental
desprovido pela eg. Turma julgadora.
II – Rejeitados os embargos de declaração, os
agravantes trazem agora recurso extraordinário,
fundado na alínea ‘a’ do autorizativo constitucional,
alegando vulneração de vários dispositivos do texto
constitucional, de legislação infraconstitucional e de
julgados que menciona.
III – Não vejo como possa dar seguimento a
recurso, cuja petição de interposição (apresentada em
cópia carbono) acha-se lavrada nos seguintes termos,
‘ipsis litteris, ipsis verbis’:
‘Renove-se e ratifique os requerimentos, provas,
declarações de pobrezas, procurações, dispositivos
legais e constitucionais e da lei, n.º 4. 12/62 e
jurisprudências contidas nesta e nos autos. Requer-se
o supracitado, façam partes integrantes desta
interposição e das razões recursais ab initio.
Requer-se os benefícios de justiça nos termos da
declaração de pobreza iserta no processo e nos
termos do Artigo 5º, LXXIV da CF/88.
Requer-se, ainda, se necessário processar o recurso
pelo princípio da fungibilidade dos recursos, ab ovo.
Requer-se a uniformização e unificação e o
prequestionamento de todas as jurisprudências
contidas nesta e nos autos e nos conformes das
jurisprudências inclusas, ab ovo’ (fls. 142, 143).
IV – Como se não bastasse, após confusa e
incompreensível argumentação, o agravante conclui,
‘verbis’:
‘EX POSITIS, e pelo todo alegado nesta e nos
autos, requer-se a V. Exa., se digne processar e dar
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provimento ao competente recurso extraordinário nos
conformes dos artigos, supracitados e c/c
requerimentos; provas, procurações, dispositivos
legais e constitucionais e legais e jurisprudências
contidas nesta e no processo einclusas, ab ovo, para
que, sejam, afastadas todas as irregularidades
indicadas nos pareceres, decisões, despachos e v.
acórdãos e v. acórdão de (espaço em branco).
Prossiga-se o feito como de direito e como de estilo,
ab ovo’ (fl. 146).
V – A impugnação recursal agride, a um só tempo,
a técnica recursal, as regras de processo civil, o
vernáculo, a gramática, a lógica e a estética. Incide,
na espécie, com total adequação, o enunciado do
verbete 284 da jurisprudência sumulada do Supremo
Tribunal Federal: ‘É inadmissível o recurso
extraordinário, quando a deficiência na sua
fundamentação não permitir a exata compreensão da
controvérsia’.
Não admito o recurso extraordinário.”
O exemplo acima dispensa qualquer comentário. Infelizmente
não é o único. Outros:
1.º – “Requer a V. Exa. a citação do requerido para contes-tar, se
quizer, no endereço acima referido.”
Melhor: Requer a V. Ex.ª a citação, no endereço acima, da
requerida para, se quiser, contestar.
A ambiguidade, no original, está no fato de a expressão no
endereço acima referido poder referir-se à citação (isto é, citar no
endereço acima referido) ou a para contestar (isto é, contestar no
endereço acima referido).
2.º – “Nos pontos em que foram atacados pelas razões recursais
a douta decisão não merece reparo, por simples razão jurídica, o
autor não é parte legítima para opor Embargos de terceiro, tem-se
que o mesmo é carecedor de ação, por seus próprios e jurídicos
fundamentos jurídico.”
Melhor: Não merece reparo a decisão nos pontos em que foi
atacada pelas razões recursais. Se não bastasse, o autor, por não
ser parte legítima para opor embargos de terceiro, é carecedor da
ação.
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Comparando-se as duas redações, salta óbvia, cristalina, a falta
de clareza do original.
3.º – “Como também é evasiva o argumento, por serem pessoas
idosas tem o costume de dirigir a todas as crianças de meu
‘netinho’, inclusive esta. Porque se esta afirmativa fosse
verdadeira, teria juntado carta endereçada a outros netos com o
mesmo tratamento.”
Melhor (possível?): É também evasivo o argumento de
chamarem o requerente de netinho, porque os idosos têm o
costume de dirigir-se às crianças com esta palavra. Se esta
afirmativa fosse verdadeira, a parte teria juntado carta
endereçada a outros netos, confirmando o mesmo tratamento.
4.º – “Postula o Requerente, buscando o mérito de sua pretensão
inicial perante o egrégio Tribunal de Justiça de LL.
Entretanto, segundo as normas regenciais da espécie em testilha,
não bastante o inconformismo, sendo necessário o seu
perfilhamento, a modulação adequada da súplica, ou seja, se é de
somenos importância pelo princípio da fungibilidade o nome que
se empreste ao recurso, não o é o fator temporal. É que a
admissibilidade do recurso encontra as suas balizas no prazo que a
lei estabelece.
No caso em mira, tem-se que a decisão de fls. 19/21 não tem
caráter de sentença, pois que se trata de simples despacho proferido
de permeio ao feito de embargos à execução.
Como se explicitou, logo no limiar do prefalado decisório, este
apêndice encontra seu fundamento na necessidade de se estabelecer
a forma procedimental, evitativa, claro, do tumulto em que se
transmudaria o processo de embargos, posto já definidos os seus
lindes, pelas partes, antes mesmo do advento da benesse
constitucional.
Estou que tal fato não se erige em motivo para se mudar o
caráter do decisório. É, de fato, interlocutório, e desafia, por
conseguinte, recurso de agravo de instrumento.
Como me referi alhures, em abraçando o princípio da
fungibilidade dos recursos, subsistente este, não obstante
desmenção no diploma instrumental vigorante, não merece ser
contrariado, observada, porém, a sua colocação adequada. Os
limites temporais devem ser observados no recurso.
No caso em tela o recurso cabível é o de agravo de instrumento,
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mas, a sua interposição foi intempestiva, eis que, publicada a
decisão em data de 12-6-19XX e, circulação nesta Comarca em 13
deste mesmo mês, sendo o dia 18, domingo, o dia derradeiro, 19
p.p. e, o recurso, protocolado em 20 refugiu ao comando das
normas pertinentes.
Mas, o art. 528 do diploma instrumental excede em clareza, diz
que o juiz não poderá negar seguimento ao agravo, ainda que
interposto fora do prazo legal, por esta razão o recebo e lhe dou
seguimento.
Forme-se o instrumento na forma legal, intimando-se o
agravante para indicar as peças que devam ser transladadas. Prazo
de cinco dias.”
Neste último exemplo, além da absoluta falta de concisão, a
clareza anda a desejar. Bastaria ter, o juiz, escrito o seguinte
(observando-se o procedimento do recurso de agravo de
instrumento antes das Leis n. 9.139/95, n. 10.352/2001 e n.
11.187/2005): Tendo em vista a fungibilidade dos recursos, recebo
este como agravo. Acatando o art. 528 do CPC, dou-lhe
seguimento. Forme-se o instrumento. Intime-se o agravante para,
no prazo de cinco dias, indicar as peças que devam ser
trasladadas. (Decisão anterior ao novo CPC.)
Uma das causas da falta de clareza é a colocação das palavras.
Na linguagem coloquial aceita-se que os elementos do enunciado
apareçam sem muita lógica, como em Vendem-se colchões para
solteiro de espuma ou meias p/senhoras brancas. No texto escrito,
ao contrário, a ordem é fundamental para a clareza do significado.
Exemplos (ex​traídos de jornais):
1.º – “Homenagem às mães de vinte artistas plásticos.”
Melhor: Homenagem de vinte artistas plásticos às mães.
No original, pode-se entender que a homenagem foi às mães de
vinte artistas plásticos.
2.º – “Devemos servir com dedicação ao país.”
Melhor: Devemos servir ao país com dedicação.
No original pode-se entender: com dedicação ao país ou servir
com dedicação.
3.º – “Macacos são treinados para fazer compras na Tailândia.”
Melhor: Na Tailândia, macacos são treinados para fazer
compras.
No texto original, na Tailândia são feitas as compras e não
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necessariamente efetuado o treinamento.
4.º – “Os deputados estaduais retornam hoje do recesso de 32
dias sem pauta de votação.”
Melhor: Os deputados estaduais retornam hoje, sem pauta de
votação, do recesso de 32 dias.
Como está no original, pode-se entender que o recesso de 32 dias
não previa pauta de votação.
5.º – “Passado o susto de domingo à noite, ao mesmo tempo em
que João colocava móveis, eletrodomésticos, roupas e colchões no
sol, para secar, juntamente com esposa e filhos, disse que o
prejuízo somente não foi maior, pois foi auxiliado por vizinhos.”
Melhor: Passado o susto de domingo à noite, ao mesmo tempo
que João, juntamente com esposa e filhos, colocava móveis,
eletrodomésticos, roupas e colchões ao sol, para secar, disse que o
prejuízo somente não foi maior, pois foi auxiliado por vizinhos.
No original, pode-se entender que esposa e filhos também foram
colocados ao sol para secar.
6.º – “Governo proíbe compensação de crédito por liminar.”
Melhor: Governo proíbe compensação de crédito por meio de
liminar.
No original pode-se entender que o governo proíbe trocar
(substituir) liminar por crédito.
7.º – “O contraventor guardava as armas que fabricava embaixo
do colchão.”
Melhor: O contraventor guardava embaixo do colchão as armas
que fabricava.
No original, pode-se entender que as armas eram fabricadas
embaixo do colchão.
8.º – “Sobem para 360 os intoxicados por beber água benta
poluída na Rússia.”
A expressão na Rússia modifica, pela proximidade, o adjetivo
poluída. Melhor: Na Rússia, sobem para 360 os intoxicados por
beber água benta poluída.
9.º – “O juiz só ouviu quatro testemunhas.”
As palavras denotativas de inclusão ou exclusão (como só,
apenas) merecem cuidado. No enunciado acima, só exclui qualquer
ação que não seja ouvir, quando, em verdade, se pretende excluir
qualquer número de testemunhas que não seja quatro. Neste caso, a
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redação é: O juiz ouviu só quatro testemunhas.
Observem-se os seguintes exemplos:

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