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U N O PA R C IRC U ITO S ELÉTRICO S E IN STRU M EN TA Ç Ã O ELETRÔ N IC A Circuitos elétricos e instrumentação eletrônica Fernando Alves Negrão Daniele Aparecida Maia Cleto Charles William Polizelli Pereira Giancarlo Michelino Gaeta Lopes Circuitos elétricos e instrumentação eletrônica Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Negrão, Fernando Alves ISBN 978-85-8482-971-2 1. Aparelhos e materiais eletrônicos. 2. Circuitos elétricos. I. Cleto, Daniele Aparecida Maia. II. Pereira, Charles William Polizelli. III. Lopes, Giancarlo Michelino Gaeta. IV. Título. CDD 621.3815 Fernando Alves Negrão, Daniele Aparecida Maia Cleto, Charles William Polizelli Pereira, Giancarlo Michelino Gaeta Lopes. – Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017. 240 p. N385c Circuitos elétricos e instrumentação eletrônica / © 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente Acadêmico de Graduação Mário Ghio Júnior Conselho Acadêmico Alberto S. Santana Ana Lucia Jankovic Barduchi Camila Cardoso Rotella Cristiane Lisandra Danna Danielly Nunes Andrade Noé Emanuel Santana Grasiele Aparecida Lourenço Lidiane Cristina Vivaldini Olo Paulo Heraldo Costa do Valle Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro Revisão Técnica Hugo Tanzarella Teixeira Editorial Adilson Braga Fontes André Augusto de Andrade Ramos Cristiane Lisandra Danna Diogo Ribeiro Garcia Emanuel Santana Erick Silva Griep Lidiane Cristina Vivaldini Olo 2017 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Unidade 1 | Circuitos elétricos Seção 1 - Capacitores e indutores 1.1 | Unidades de medida 1.2 | Corrente e carga elétricas 1.2.1 | Sentido da corrente 1.2.2 | Corrente contínua e corrente alternada 1.3 | Tensão (diferença de potencial V) 1.4 | Potência 1.5 | Energia elétrica 1.6 | Resistência elétrica 1.6.1 | Primeira Lei de Ohm 1.6.2 | Segunda Lei de Ohm 1.7 | Primeira Lei de Kirchhoff (Lei dos nós) 1.7.1 | Segunda Lei de Kirchhoff (Lei das malhas) 1.8 | Método da análise de malhas (Leis de Kirchhoff) 1.9 | Método de Maxwell 1.10 | Teorema da superposição 1.11 | Teoremas de Thévenin 1.12 | Teoremas de Norton Unidade 2 | Circuitos armazenadores de energia Seção 1 - Capacitores e indutores 1.1 | Capacitor 1.1.1 | Capacitância 1.2 | Indutores 1.2.1 | Indutância Seção 2 - Circuitos de primeira ordem 2.1 | Circuito RC de primeira ordem sem fonte 2.2 | Circuito RL de primeira ordem sem fonte Seção 3 - Circuitos magnéticos e eletromagnetismo 3.1 | Circuitos magnéticos e eletromagnetismo Unidade 3 | Circuitos eletrônicos Seção 1 - Circuitos com diodos 1.1 | Semicondutores 1.2 | Dopagem 1.2.1 | Material Tipo n 1.2.2 | Material Tipo p 1.3 | Diodo semicondutor 1.3.1 | Polarização direta (VD>0) 1.3.2 | Polarização reversa (VD<0) 1.3.3 | Gráfico do diodo 1.3.4 | Circuito equivalente do diodo 1.3.5 | Diodos em tensão contínua 1.3.6 | Diodo em corrente alternada (C.A.) 1.4 | Retificadores Sumário 9 12 12 14 15 16 16 17 18 18 21 22 24 25 26 28 29 32 36 45 48 48 50 56 59 65 65 69 82 82 99 103 103 105 105 105 106 107 108 109 110 112 113 115 U1 - Circuitos elétricos4 1.4.1 | Retificador de meia onda 1.4.2 | Retificador de onda completa 1.4.3 | Retificador de Onda Completa em Ponte 1.5 | Filtragem 1.5.1 | Corrente de surto 1.6 | Diodo zener 1.6.1 | Funcionamento do diodo zener 1.6.2 | Regulador de tensão utilizando diodo zener 1.7 | Circuitos limitadores ou ceifadores 1.8 | Circuitos grampeadores 1.8.1 | Circuitos detectores de pico Seção 2 - Transistores bipolares de junção 2.1 | Polarizando o transistor 2.2 | Variáveis importantes 2.2.1 | Alfa CC 2.2.2 | Beta CC 2.2.3 | Tensões de ruptura 2.3 | Configurações básicas 2.3.1 | Configuração emissor comum 2.3.2 | Gráficos de entrada e de saída 2.3.3 | Ponto quiescente ou ponto de operação 2.3.4 | Transistor como chave 2.3.5 | Transistor como fonte de corrente Seção 3 - Circuitos de polarização de transistores 3.1 | Polarização da base 3.2 | Polarização com realimentação do emissor 3.3 | Polarização com realimentação do coletor 3.4 | Polarização por divisão de tensão 3.5 | Polarização do emissor Seção 4 - Amplificadores de pequenos sinais 4.1 | Capacitor de acoplamento 4.2 | Capacitor de derivação 4.2 | Análise CA da polarização do transistor 4.2.1 | Ganho de corrente e de tensão CA 4.2.2 | Amplificador com emissor aterrado 4.2.3 | Modelo CA de um emissor comum 4.2.4 | Amplificador com realimentação parcial da resistência do emissor Unidade 4 | Aplicação de circuitos eletrônicos Seção 1 - Amplificadores operacionais 1.1 | Amplificadores operacionais 1.1.1 | Amplificador inversor 1.1.2 | Amplificador não inversor 1.1.3 | Amplificador somador não inversor 1.1.4 | Amplificador somador inversor 1.1.5 | Amplificador subtrator 1.1.6 | Amplificador integrador 1.1.7 | Amplificador diferenciador Seção 2 - Osciladores 2.1 | Oscilador com ponte de Wien 2.2 | Osciladores Colpitts 2.1 | Oscilador a cristal 2.4 | Temporizador 555 2.4.1 | Operação monoestável 2.5 | Operação astável 116 117 119 121 123 126 127 129 132 137 139 142 143 145 145 146 146 147 147 149 151 151 153 156 156 157 159 160 161 165 165 166 167 171 171 173 175 185 188 188 189 191 193 194 195 196 198 200 200 202 204 206 206 207 U1 - Circuitos elétricos 5 Seção 3 - Sensores de tensão e corrente 3.1 | Transformadores de instrumentação 3.2 | Sensores de corrente por efeito Hall 3.3 | Sensor de corrente por resistor série Seção 4 - Circuitos condicionadores de sinais de tensão e corrente 4.1 | Amplificador de instrumentação 4.2 | Fonte de corrente constante 4.3 | Fontes de tensão regulada 211 212 214 216 220 221 224 228 U1 - Circuitos elétricos6 Apresentação Este material didático possui a função de apresentar conceitos relacionados a circuitos elétricos e instrumentação eletrônica. Assim, é possível dizer que este material condensa fundamentos que permitirão a análise e a elaboração de circuitos elétricos e eletrônicos básicos. Para isso, serão abordados temas que são fundamentais a qualquer engenheiro, seja ele da área elétrica ou não, aumentando a abrangência da formação em engenharia. É esperado que ao final do estudo deste material você seja capaz de identificar, compreender e analisar circuitos elétricos e conhecer os princípios magnéticos e eletromagnéticos que são utilizados em diversas aplicações. Espera-se também que conheça os circuitos eletrônicos básicos, bem como os componentes eletrônicos que fazem parte destes circuitos e como eles funcionam. Assim, você será capaz de entender o funcionamento de diversos tipos de sensores e transdutores, e também projetar circuitos de condicionamento que venham a ser necessários para o funcionamento devido de tais circuitos. Um diferencial deste material é o fato dele condensar os principais conceitos da área eletrônica, apresentando somente os temas pertinentes e que serão utilizados na prática da engenharia. Com isso, é possível dizer que o material tem o objetivo de desenvolver conceitos que são utilizados de fato durante a carreira de um engenheiro. Para tanto, apresenta exemplos e exercícios que transcrevem situações práticas que podem ser encontradas no dia a dia do profissional de engenharia.Na Unidade 1, você está convidado a estudar conceitos de circuitos elétricos, conhecendo os componentes básicos, leis e métodos de análise. Aprenderá também conceitos relacionados aos teoremas de Thevenin e Norton, que permitem a análise dos mais diversos tipos de circuitos elétricos. A Unidade 2 apresenta assuntos relacionados a circuitos com componentes armazenadores de energia, tornando-o capaz de trabalhar na análise de capacitores e indutores. Assim, será possível o aprendizado das equações que regem o funcionamento de tais componentes dentro de um circuito e também suas características de carregamento e descarregamento. Os conceitos base que dizem respeito aos circuitos eletrônicos estão apresentados na Unidade 3. Nesta unidade, você estudará os dois componentes eletrônicos mais básicos que existem, o diodo e o transistor. Também estudará os circuitos que são utilizados para a polarização destes componentes e como eles podem ser utilizados. Por fim, na Unidade 4, você é convidado a trabalhar em uma área dentro da engenharia que é chamada de instrumentação eletrônica. Para isso, são apresentados conceitos básicos de amplificadores operacionais, seguido das aplicações destes circuitos. Com isso, o aluno será capaz de projetar e analisar circuitos de condicionamento de sinais e também conhecer diversos tipos de sensores e como utilizá-los em diversas aplicações. Desta forma, vamos estudar estes assuntos que são de grande importância para sua formação, aprofundando seus conhecimentos em circuitos elétricos e eletrônicos. Bons estudos! Unidade 1 Circuitos elétricos Olá aluno, bem-vindo! Nesta unidade curricular, você será apresentado aos principais tópicos de circuitos elétricos, tais como: circuitos elétricos, circuitos armazenadores de energia, circuitos eletrônicos e aplicação de circuitos eletrônicos. O seu material é composto pelo livro didático, que apresenta os principais temas que deverão ser estudados; além deste, você também pode contar com a orientação das atividades apresentadas nas webaulas e ainda, os momentos de orientação, mediação, explicação e interação que ocorrem no decorrer das aulas. Participe ativamente das atividades! A estrutura de seu livro didático contempla 4 (quatro) unidades de ensino. São elas: Circuitos elétricos: apresentam o estudo de introdução e conceitos básicos, leis básicas, métodos de análise e teoremas de circuitos. Nesta seção serão apresentadas as unidades de medidas, as duas quantidades que acompanham em circuitos elétricos e eletrônicos: voltagem e corrente, os modelos que descrevem os principais componentes dos circuitos elétricos e os conceitos a eles associados, bem como as leis fundamentais que governam tais circuitos. Na parte final, estudos de casos são apresentados a fim de ilustrar a aplicação dos conceitos e leis. Circuitos Armazenadores de energia: apresenta o estudo de capacitores e indutores, circuitos de primeira ordem, circuitos de segunda ordem, circuitos magnéticos e eletromagnetismo. Nesta seção serão estudados elementos armazenadores de Objetivos de aprendizagem Daniele Aparecida Maia Cleto energia conhecidos como indutor e capacitor. O primeiro consiste em um elemento que armazena energia em campo magnético e o segundo armazena energia em campo elétrico. Será visto equações e conceitos que envolvem o funcionamento desses elementos que são utilizados com freqüência em rádios, televisões, radares, transformadores, microondas e uma porção de outros equipamentos eletroeletrônicos. Porém, antes de apresentar esses elementos, faz-se uma sucinta explicação de alguns conceitos físicos relevantes como lei de Coulomb, campo elétrico e magnético, efeito Oersted e lei de Faraday. Circuitos Eletrônicos: apresenta o estudo de circuitos com diodo, fontes de tensão reguladas, transistores de junção bipolar e circuitos de polarização de transistores. Aplicação de circuitos eletrônicos: apresenta o estudo de amplificadores de pequenos sinais, osciladores, amplificadores operacionais, sensores de tensão e corrente e circuitos condicionadores de sinais de tensão e corrente. Prezado Estudante, mantenha uma rotina de estudos que o possibilite dedicar-se aos processos de leitura, participação e realização das atividades propostas. E de extrema importância para que você obtenha sucesso tanto em construção e desenvolvimento de aprendizagem, quanto em sua aplicação. Desde já desejo a você bons estudos! Introdução à unidade Esta unidade serve como livro-texto para o curso inicial de análise de circuitos elétricos. Nesta unidade há uma ênfase especial às unidades de medidas, conceitos básicos, leis básicas, métodos de análise e teoremas de circuitos. Nesta seção, o aluno aprenderá a resolver circuitos elétricos por três métodos: Método da análise de malhas e nós (Leis de Kirchhoff) e Método da análise de malhas por Maxwell. A melhor técnica de análise e uso para resolver um circuito vai depender de sua complexidade, dessa forma, iremos aperfeiçoar o estudo com algumas ferramentas apropriadas para facilitar o trabalho algébrico. Nesse item, vamos aprender sobre os seguintes teoremas: Teorema da superposição, de Thevenin e Norton. U1 - Circuitos elétricos12 Seção 1 Capacitores e indutores 1.1 Unidades de medida Introdução à seção Esta unidade serve como livro-texto para o curso inicial de análise de circuitos elétricos. Nesta unidade há uma ênfase especial às unidades de medidas, conceitos básicos, leis básicas, métodos de análise e teoremas de circuitos. Nesta seção, o aluno aprenderá a resolver circuitos elétricos por três métodos: método da análise de malhas e nós (Leis de Kirchhoff) e método da análise de malhas por Maxwell. A melhor técnica de análise e uso para resolver um circuito dependerá de sua complexidade, dessa forma, aperfeiçoaremos o estudo com algumas ferramentas apropriadas para facilitar o trabalho algébrico. Nesse item, vamos aprender sobre os seguintes teoremas: Teorema da superposição, de Thevenin e Norton. A conversão de medidas é importante para resolver questões que envolvem cálculos matemáticos, assim como de física e química. Quando um problema apresenta diferentes unidades de medida, a conversão é necessária para que seja possível compreendê-la e solucioná-la. O Sistema Internacional de Unidades (SI) será adotado em todo o livro e está formado por sete unidades básicas e dezesseis unidades derivadas, como apresentam as Tabelas 1.1 e 1.2. Para saber mais Para saber mais sobre o Teorema de superposição de Thevenin e Norton, consulte a obra a seguir: BOYLESTAD, Robert L. Introdução à análise de circuitos. 10. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. U1 - Circuitos elétricos 13 Fonte: Inmetro (2012, p. 30). Fonte: Inmetro (2012, p. 30). Tabela 1.1 | Unidades básicas Tabela 1.2 | Unidades derivadas Grandeza Unidades Básicas Nome Símbolo Comprimento metro m Massa quilograma kg Tempo segundo s Corrente elétrica ampère A Temperatura termodinâmica kelvin K Quantidade de matéria mole mol Intensidade luminosa candela cd Grandeza Unidades SI Derivadas Nome Símbolo Unidades Capacitância farad F m kg s A− −⋅ ⋅ ⋅2 1 4 2 Carga elétrica coulomb S A s⋅ Condutância siemens C m Kg s A− −⋅ ⋅ ⋅2 1 3 2 Energia joule J m Kg s2 2⋅ ⋅ − Fluxo luminoso lúmen Im cd Fluxo magnético weber Wb m Kg s A2 2 1⋅ ⋅ ⋅− − Força newton N kg m s⋅ ⋅ −2 Frequência hertz Hz s−1 Indutância henry H m Kg s A2 2 2⋅ ⋅ ⋅− − Intensidade de campo magnético tesla T Kg s A⋅ ⋅− −2 1 Luminosidade lux Ix cd m⋅ −2 Potência watt W m Kg s2 3⋅ ⋅ − Pressão pascal Pa m Kg s− −⋅ ⋅1 2 Resistência elétrica ohm Ω m Kg s A2 3 2⋅ ⋅ ⋅− − Tensão elétrica volt V m Kg s A2 3 1⋅ ⋅ ⋅− − U1 - Circuitos elétricos14 Fonte: Inmetro (2012, p. 34) Tabela 1.3 | Prefixos oficiais do SI Prefixo Símbolo Fator yotta Y 1024 zetta Z 1021 exa E 1018 peta P 1015 tera T 1012 giga G 109 mega M 106 quilo k 103 hecto h 102 deca da 101 PrefixoSímbolo Fator nenhum 100 centi d 10−1 centi c 10−2 miali m 10−3 micro µ 10−6 nano n 10−9 pico p 10−12 femto f 10−15 atto a 10−18 zepto z 10−21 yocto y 10-24 Múltiplos e submúltiplos decimais são frequentemente encontrados na prática científica. Para facilitar a manipulação dos números, utilizam-se potências de dez. Os símbolos e os prefixos dados na Tabela 1.3 permitem que se reconheça facilmente as potências de dez envolvidas nas representações simplificadas de um número em notação científica. 1.2 Corrente e carga elétricas A corrente elétrica é o fluxo ordenado de partículas portadoras de carga elétrica, sendo a taxa de variação da carga elétrica que passa em um determinado ponto de um circuito. A intensidade da corrente elétrica é definida como a quantidade de carga elétrica que atravessa a seção transversal de um condutor em um intervalo de tempo. A carga elétrica é uma propriedade que está relacionada com as partículas elementares que formam os átomos, sendo os prótons positivos, os elétrons negativos e os nêutrons neutros. “A forma derivada de carga, o coulomb (C) é equivalente a um ampère por segundo: 1 1 1A C s= ⋅ − ou 1 1C A s= ⋅ ” (EDMINISTER, 1985, p. 3). A corrente elétrica é dada em C/s que é o ampère (A), mas é comum expressar em miliampères (mA) ou microampères ( ∝A). A carga elétrica é proporcional ao número de elétrons: U1 - Circuitos elétricos 15 (1.1) (1.3) (1.2) Q N e= ⋅ Carga Celétron = = × = × −Qe 1 6 242 10 1 6 1018 19 , , i Q t = i Q t = = = corrente elétrica em ampère (A) carga em coulomb (C) , tempo em segundos (s) Para calcular a intensidade da corrente elétrica i na seção reta circular de um condutor, considera-se a carga que passa por ele em um intervalo de tempo, ou seja: Um coulomb equivale à aproximadamente a carga de elétrons. A carga associada a um elétron pode, então, ser determinada a partir da equação 1.1: Em que: 1.2.1 Sentido da corrente A corrente elétrica é tradicionalmente representada como o movimento de cargas positivas. Essa convenção foi criada por Benjamin Franklin, o primeiro grande cientista americano a estudar a eletricidade. Naturalmente, hoje sabemos que o movimento de carga nos condutores metálicos é o resultado do movimento de elétrons que possuem carga negativa. Mesmo assim, descrevemos a corrente como um movimento de cargas positivas, de acordo com a convenção adotada no passado. A Figura 1.1 ilustra o esquema do sentido das correntes: real e convencional. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.1 | Esquema do sentido das correntes U1 - Circuitos elétricos16 V V V E QA B AB AB− = = V E AB AB = = diferençaa de potencial em (V) energia em joule (J) QQ = carga em coulomb (C) 1.2.2 Corrente contínua e corrente alternada Corrente contínua (CC) é aquela que não altera seu sentido, ou seja, é sempre negativa ou positiva, esse tipo de corrente é gerado por pilhas, baterias de automóveis ou motos, entre outros. Corrente Alternada (CA) ocorre quando o fluxo de elétrons dentro do condutor realiza movimentos de vai e vem em seu interior, ou seja, o sentido da corrente varia com o tempo. 1.3 Tensão (diferença de potencial V) Tensão elétrica (V), também conhecida como diferença de potencial (ddp), é uma grandeza física que está relacionada ao conceito de corrente elétrica. Falamos sobre corrente elétrica anteriormente, porém para existir corrente elétrica entre dois terminais é necessário que haja uma diferença de potencial entre eles. A unidade de medida é o volt, em homenagem ao físico italiano Alessandro Volta. A ddp entre dois terminais é medida pelo trabalho (energia) realizado por unidade de carga de um terminal para o outro. O volt é a diferença de potencial (ddp) entre dois terminais, quando é necessário o trabalho de 1 joule para transferência de uma carga de 1 coulomb de um terminal ao outro: 1 volt = 1 joule/coulomb (EDMINISTER, 1991). A tensão elétrica entre dois terminais é dada pela equação 1.4. Em que: Em circuitos elétricos, a diferença de potencial é fornecida por fontes de tensão que podem ser divididas em duas categorias: alternada e contínua. A Figura 1.2 apresenta os símbolos de fontes de tensão contínua e alternada. O traço maior do símbolo, terminal positivo (+), indica o ponto de maior potencial. (1.4) U1 - Circuitos elétricos 17 Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.2 | Símbolo para fonte de tensão contínua e tensão alternada 1.4 Potência Potência elétrica ( )P é a taxa com a qual o trabalho ou energia ( )E é realizado em um intervalo de tempo ( )∆t ,como apresenta a equação 1.5, ou a potência também pode ser calculada pelo produto da tensão aplicada ( )V pela corrente ( )i , como apresenta a equação 1.6. Em que: Ou, em termos de grandezas elétricas: Através da Lei de Ohm, a equação para o cálculo de potência pode ser reescrita como mostram as equações: ou P E t = ∆ P E t = = = potÍ ncia em watt (W) energia em joule (J) intervalo d∆ ee tempo em segundos (s) P V i= ⋅ P R i i P R i = ⋅ ⋅ = ⋅ 2 P V i V V R P V R = ⋅ = ⋅ = 2 (1.6) (1.7) (1.8) (1.5) U1 - Circuitos elétricos18 1.5 Energia elétrica A energia elétrica é a capacidade de uma corrente elétrica realizar trabalho, devido a isso, podemos rearranjar a equação 1.5 e obter a energia elétrica, conforme a equação 1.9, ou seja: A unidade da energia elétrica pode ser dada por watt-segundo (W s)⋅ ou por joule ( )J , porém a unidade mais utilizada para a energia elétrica é o quilowatt-hora (kWh) , que corresponde a 3 6 106, × J . E P t= ⋅ ∆ 1 3 6 106 kWh J= ×, P V i i i A = ⋅ = ⋅ = = 2400 110 2400 110 21 8, E P t E = ⋅ = ⋅ ⋅ = = ∆ 2400 0 33 30 23760 23 76( , ) , Wh kWh V i V i ∝ = constante Exemplo 1 Um chuveiro tem as especificações 2400W/110V, calcule: a) A corrente consumida pelo chuveiro: b) A energia consumida (em KWh) durante 1 mês (30 dias), se todos os dias o chuveiro é ligado por 20 minutos: Se em 1 hora temos 60 minutos, então, em 20 minutos teremos 0,33 horas. 1.6 Resistência elétrica Resistência é a propriedade física de um componente ou dispositivo que se opõe à passagem de corrente elétrica, é representada pelo símbolo R. Um componente que possui uma resistência R é chamado de resistor. Quando a Lei de Ohm, Eq. 1.10, é obedecida, a relação entre i e V é linear (DORF; SVOBODA, 2012). (1.09) U1 - Circuitos elétricos 19 R V i = R V i = = = Resistência elétrica em Ohm(©) tensão em volts (V) corrrente elétrica em ampères (A) Ou seja, Em que: O resistor é utilizado na elétrica e eletrônica com a finalidade de transformar energia elétrica em energia térmica por meio do efeito joule, ou com a finalidade de limitar a corrente elétrica em um circuito, a Figura 1.3(b) mostra um resistor. Trata-se de um componente físico cuja característica principal é oferecer uma oposição à passagem de corrente elétrica, através de seu material. Comercialmente, esses componentes são chamados de resistência elétrica, mas lembre-se, resistência elétrica é uma propriedade e não um componente. Em um circuito, o resistor é representado por um dos símbolos mostrados na Figura 1.3(a). Alguns resistores indicam os valores de resistência e potência impresso no próprio componente, outros utilizam apenas um código de cor para indicar seus valores, como mostra a Figura 1.4. Para resistores de quatro faixas é utilizada a Figura 1.4, conforme as seguintes orientações: • 1ª Faixa: mostra o primeiro algarismo do valor da resistência. • 2ª Faixa: mostra o segundo algarismo da resistência. • 3ª Faixa: mostra quantos zeros devem ser adicionados à resistência. • 4ª Faixa: mostra a tolerância que o componente terá. Fonte: (a) elaborada pela autora. (b) < http://www.arduino-tutorials.com/ee101-resistors>. Acesso em: 20 abr. 2017. Figura 1.3 | Representação gráfica de um resistor (a) e resistor comercial com código de cores (b). (1.10) U1 - Circuitos elétricos20 Fonte: <https://goo.gl/2CMOYu>.Acesso em: 17 abr. 2017. Figura 1.4 | Códigos de cores dos resistores Para resistores de cinco faixas é utilizada a Figura 1.4, de acordo com as seguintes orientações: • 1ª Faixa: mostra o primeiro algarismo do valor da resistência. • 2ª Faixa: mostra o segundo algarismo da resistência. • 3ª Faixa: mostra o terceiro algarismo da resistência. • 4ª Faixa: mostra quantos zeros devem ser adicionados à resistência. • 5ª Faixa: mostra a tolerância que o componente terá. U1 - Circuitos elétricos 21 1.6.1 Primeira Lei de Ohm O físico alemão Georg Simon Ohm, em 1826, verificou experimentalmente a relação entre tensão, corrente e resistência elétrica em resistores. Das inúmeras experiências realizadas com diversos tipos de condutores, Ohm verificou que a tensão aplicada nos terminais de um condutor é proporcional à corrente elétrica que o percorre, ou seja, rearranjando a equação 1.10, temos: A equação 1.11 é válida somente para resistores ôhmicos. Em resistores não ôhmicos R não é uma constante. Ao plotar um gráfico que envolve V i× para resistores ôhmicos, podemos verificar que a inclinação da reta no gráfico fornece o valor constante da resistência, como apresenta a Figura 1.5. Para condutores não ôhmicos, verificamos que o gráfico de V i× não é linear, conforme os dois exemplos de possíveis formas de curvas para condutores não ôhmicos representados na Figura 1.6. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.5 | Gráfico referente à diferença de potencial (V) versus a intensidade de corrente (i), para condutores ôhmicos V R i= ⋅ (1.11) U1 - Circuitos elétricos22 1.6.2 Segunda Lei de Ohm Ohm também verificou que a resistência elétrica de um condutor depende do comprimento do objeto, das características do material de que ele é composto e de sua espessura. Segundo Ohm, a resistência elétrica ( )R é diretamente proporcional ao seu comprimento ( )L e a resistividade ( )ρ é inversamente proporcional à área da seção transversal ( )A do condutor homogêneo, ou seja: Em que: A resistividade é uma característica de cada material que define o quanto ele se opõe à passagem do fluxo de uma corrente elétrica. Quanto maior a resistividade do material, maior a resistência do condutor. A Tabela 1.4 apresenta a resistividade e coeficiente térmico de alguns materiais. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.6 | Gráfico referente à diferença de potencial (V) versus a intensidade de corrente (i), para condutores não ôhmicos R L A = ρ R = = resistência em Ohm (Ω) resitividade em Ohm por metro (Ωρ x ) comprimento em metro (m) Área da seção transversal L A = = eem metro quadrado (m )2 m (1.12) U1 - Circuitos elétricos 23 Quando há um aumento de temperatura, a resistência elétrica também é elevada, isso ocorre devido à agitação térmica das partículas, ocasionando colisões no interior do condutor. Tal fato, obedece à relação da equação 1.13. Em que: Fonte: Boylestad (2004, p. 7). Tabela 1.4 | Tabela referente a valores de resistividade e coeficiente térmico de alguns materiais Material Resistividade (Ω.m) Coeficiente Térmico α = −C 1 Temperatura ºC Alumínio 2 9 10 8, × − 0,0038 0 Bronze 6 7 10 8, × − 0,00200 20 Borracha 1013 - Cobre , 10 8 × −1 7 0,00430 0 Estanho 1 2 10 7, × − 0,00420 20 Grafite 1 3 10 5, × − 0,00050 20 Latão 6 7 10 8, × − 0,00200 20 Mercúrio 9 6 10 7, x − 0,00089 20 Níquel 8 7 10 8, x − 0,00600 20 Ouro 2 4 10 8, x − 0,00340 20 Platina 11 10 7, x − 0,00250 20 Prata 1 6, 10 8 × − 0,00380 20 Silício 2 5 102, x -0,07000 20 Tungstênio 5 5 10 8, x − 0,00450 20 Vidro 1010 a 1014 - Zinco 5 6 10 8, x − 0,00380 20 ρ ρ α θ= +0 1( )∆ ( ) ( )ρ É a resistividade do material na temperatura final em Cell C θ É a resistividade do material na temperat f ρ0 uura inicial em Celsius ºC θ É a variação da temperat 0 ∆θ uura sius º (1.13) U1 - Circuitos elétricos24 1.7 Primeira Lei de Kirchhoff (Lei dos nós) Para analisar um circuito elétrico, podemos escrever e resolver um sistema de equações que relaciona as correntes e as tensões em todos os componentes do circuito aos valores desses componentes. Algumas dessas equações são obtidas aplicando ao circuito as Leis de Kirchhoff para tensões e para correntes, outras são obtidas aplicando equações constitutivas, como a Lei de Ohm, a componentes isolados. Os valores das tensões e correntes nos componentes, que são as incógnitas, são obtidos resolvendo o sistema de equações. Um nó é identificado através de um ponto de ligação no circuito elétrico em que são ligados três ou mais condutores, a Figura 1.7 apresenta um esquema dos nós. Em qualquer nó, a soma algébrica das correntes é sempre igual a zero, ou seja, em qualquer nó a soma das correntes que entram é igual a soma das correntes que saem. Ramo ou braço é um trecho do circuito elétrico compreendido entre dois nós principais consecutivos, ou seja: Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.7 | Esquema representativo da Lei dos nós ouii i n = = ∑ 0 1 i ii i n j j m chega saem = = = ∑ ∑ 1 1 U1 - Circuitos elétricos 25 • Nós: B e E. • Ramo ou braço: BADE, BCFE e BE. 1.7.1 Segunda Lei de Kirchhoff (Lei das malhas) A segunda Lei de Kirchhoff (Lei das malhas ou tensões) relata que a soma algébrica das forças eletromotrizes (f.e.m) que têm o mesmo sentido do percurso é igual à soma das (f.e.m) que têm sentido contrário. Isso quer dizer que a soma das tensões em uma malha ou laço é nula. Laço é qualquer caminho fechado no circuito que não repete os nós (exceto o nó inicial e final). Malha é o caminho fechado pelo qual uma corrente elétrica pode percorrer, ou seja, laço que não contém outro laço dentro. Analisando a Figura 1.9, nota-se que há três malhas: ABEDA, BCFEB e ABCFEDA. Fonte: elaborada pela autora. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.8 | Circuito elétrico com dois nós Figura 1.9 | Circuito elétrico com dois nós e três malhas U1 - Circuitos elétricos26 1.8 Método da análise de malhas (Leis de Kirchhoff) Para resolver um circuito elétrico, é necessário determinar as correntes de todos os seus ramos. Para tal finalidade, a aplicação dos métodos das malhas baseia-se em alguns passos principais, como apresenta o exemplo 2. • Identificar os nós, ramos, malhas ou laços do circuito elétrico. • Para cada ramo do circuito atribuir um sentido para a corrente elétrica. • Orientar as tensões do circuito, tomando como referência essas correntes. • Havendo nós, montar equações utilizando as Leis de Kirchhoff, em número igual ao de correntes de ramo (incógnitas) existentes. Obtendo-se: = nnú = nnúnúmero mero meroequações de malhas malhas nós • Resolução dos sistemas de equações. Exemplo 2 Determine as correntes do circuito da Figura 1.10, utilizando o Método de Kirchhoff. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.10 | Circuito elétrico U1 - Circuitos elétricos 27 Seguindo os passos do Método de Kirchhoff, temos: 1° Identificar 2 nós B e E, 3 ramos BADE, BCFE e BE, 2 malhas internas ABEDA e BCFEB e 1 malha externa ABCFEDA. 2° Orientar as correntes. 3° Orientar as tensões. 4° Montar as equações através da Lei dos nós. i i i1 2 3 0+ + = Vamos aplicar a segunda Lei de Kirchhoff para as malhas internas. Malha M1 Malha M2 10 15 25 2 3 5 2 3 5 1 2 1 2 1 2 i i i i i i = + = + − = 10 15 45 2 3 9 2 3 9 3 2 3 2 3 2 i i i i i i = + = + − = O próximo passo é resolver o sistema de 3 equações e 3 incógnitas. i i i i i i i 1 2 3 1 2 3 2 0 2 3 5 2 3 9 + + = − = − = Isolando i1 e i3 da segunda e terceira equações. i i i i 1 2 3 2 3 5 2 3 10 2 = + = + Substituindo na primeira equação, temos i1 , i2 e i3 : Podemos concluir que a corrente negativa i i2 1 e significa que o sentido da corrente proposta no esquema da figura está invertido. Analisando os resultados obtidos, conclui-se que o gerador de 45 V prevalece sobre o de 25 V, por causa da orientação de ambos. A parcela de i1 devida ao gerador de 45V é maior que a do gerador 3 5 2 3 9 2 0 4 7 7 4 1 75 2 2 2 2 2 2 i i i i i i A + + + + = = − = − = − , i i i i A 1 2 1 1 3 5 2 3 1 75 5 2 0 125 = + = ⋅ − + = − ( , ) , i i i i A 3 2 3 3 3 10 3 1 75 9 2 1 875 = + = ⋅ − + = ( , ) , U1 - Circuitos elétricos28 de 25 V (o que pode ser analisado pelo Método da superposição de efeitos, que será estudado no item 1.10). 1.9 Método de Maxwell Para utilizar o Método de Maxwell, é necessário que tenha compreendido o Método de Kirchhoff. O Método de Maxwell é utilizado quando há um número muito grande de malhas, pois ele diminui a quantidade de incógnitas. Verifique os passos para resolução com o Método de Maxwell: • Adota-se um sentido para cada corrente fictícia de malha interna existente no circuito. Para diferenciar as correntes de ramo das correntes de malha, representam-se estas últimas por letras gregas (a, b etc.). Então, deixam-se de lado as correntes de ramo, que serão utilizadas apenas na análise final da solução. • Montam-se, com base na segunda Lei de Kirchhoff, equações de tensões para as malhas internas do circuito. O sentido dessas tensões segue a orientação das correntes de malha adotadas (fictícias). • Oriente as tensões em cada malha e escreva suas equações. Utilize a equação: V R i R= ⋅ −∑∑∑ malha ramo Exemplo 3 Determine as correntes do circuito a seguir, utilizando o Método de Maxwell. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.11 | Circuito elétrico com duas malhas M1 e M2 U1 - Circuitos elétricos 29 1º Oriente a corrente das duas malhas, veja figura. 2° Oriente as tensões e escreva as equações. Malha M1 Malha M2 25 15 10 15 25 25 15 = + − = − α α β α β − = + − − = − 45 15 10 15 45 25 15 β β α β α Dividindo ambos os valores das malhas por 5, temos: Malha M1 Malha M2 5 5 3= −α β − = −9 5 3β α Com essas duas equações têm um sistema. 5 5 3 9 3 5 = − − = − + α β α β ← ⋅ ← ⋅ 3 5 15 15 9 45 15 25 = − − = − + α β α β Agora, somaremos as equações e descobrir os valores de α β e − = = − = − 30 16 30 16 1 875 β β , A 15 15 9 1 875 15 15 16 875 15 15 16 875 15 1 875 0 12 = − ⋅ − = + = − = − = − α α α α α , , , , , 55 Substituindo os valores nas equações de ramo, temos: i A i A i A 1 2 3 0 125 1 75 1 875 = = − = − + = − = − = α α β β , , , Conclui-se que a corrente negativa para α β e mostra que o sentido da corrente proposta no esquema da figura está invertido ao adotado. Os resultados obtidos são os mesmos da solução pelo Método de Kirchhoff, porém com trabalho matemático menor. 1.10 Teorema da superposição O Teorema da superposição para circuitos elétricos consiste em afirmar que a corrente elétrica total em qualquer ramo de um circuito bilateral linear é igual à soma algébrica das correntes produzidas por cada fonte atuando separadamente no circuito. Este teorema deve ser utilizado quando um circuito obtiver várias fontes de corrente ou tensão independentes que não estejam em série ou paralelo. U1 - Circuitos elétricos30 Exemplo 4 Determine as correntes do circuito da figura a seguir, utilizando o Método da superposição. Escolhendo para análise o gerador 1 de 25 V, o gerador 2 nesse caso, passa a ser representado como um curto-circuito, como mostra a figura: No circuito novo, com um único gerador, orientam-se as correntes de ramo existentes, lembrando que a corrente “sai” do polo positivo do gerador. Fonte: elaborada pela autora Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.12 | Circuito elétrico Figura 1.13 | Circuito com gerador retirado U1 - Circuitos elétricos 31 Utilizando qualquer método para solução de circuito conhecido (Kirchhoff, Maxwell etc.), determinam-se as correntes de ramo para o gerador escolhido. Repetindo os passos anteriores para o gerador de 45 V, temos o seguinte circuito. Fonte: elaborada pela autora. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.14 | Circuito simplificado Figura 1.15 | Circuito simplificado R i A V R i V i a a a ' ' ' , , , = ⋅ + = = + = = ⋅ = ⋅ = = 15 10 15 10 6 25 10 6 1 56 1 56 6 9 36 1 1 2 Ω VV A i V Aa ' ' , , , , 15 9 36 15 0 624 10 9 36 10 0 9363 = = = = = U1 - Circuitos elétricos32 Agora, vamos encontrar as correntes i 1 , i 2 e i 3 . O valor encontrado das correntes foi igual aos métodos anteriores. 1.11 Teoremas de Thévenin O Teorema de Thévenin é usado para simplificar e resolver um circuito, este teorema afirma que podemos substituir todo o circuito, com exceção ao bipolo em questão, por um circuito equivalente, contendo uma fonte de tensão em série com um resistor, como apresenta a Figura 1.16. Exemplo 5 Determine a corrente que percorre a resistência de 8 Ω no circuito da Figura 1.17, utilizando o Teorema de Thévenin. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.16 | Esquema representativo do circuito equivalente de Thévenin R i A V V i V b b '' , '' , , '' = ⋅ + = = + = = ⋅ = = 10 15 10 15 6 45 10 6 2 81 2 81 6 16 86 1 3 2 Ω 55 16 86 15 112 10 16 86 10 1 681 = = = = = , , '' , , A i V Ab i i i i i i i a b a b 1 1 1 2 2 2 3 1 56 1 68 0 125 0 624 112 1 75 = − = − = − = − − = − − = − , , , , , , == − + = − + =i ia b3 3 0 936 2 81 1 875, , , U1 - Circuitos elétricos 33 Retirando a resistência de 8 Ω, obtém-se o circuito da Figura 1.18. Substitua os geradores de tensão por curto-circuito, como na Figura 1.19. Fonte: elaborada pela autora. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.17 | Circuito elétrico Figura 1.18 | Circuito simplificado aberto U1 - Circuitos elétricos34 A partir da Figura 1.19, podemos encontrar RTh R Th = ⋅ + + = 15 10 15 10 2 8 Ω Como o circuito está aberto entre os pontos A e B, não circula corrente pela resistência de 2 Ω, logo, não há tensão sobre ela. Portanto, para efeitos de tensão, pode-se eliminar a resistência de 2 Ω, Figura 1.20. Para facilitar a solução, deixa-se de lado, temporariamente, o gerador de 45 V e determina-se a tensão entre os pontos C e B, como mostra a Figura 1.21. Fonte: elaborada pela autora. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.19 | Circuito com geradores substituídos por curto-circuito Figura 1.20 | Circuito com resistência em aberto eliminada U U VCB R= = ⋅ + = 15 25 15 15 10 15 U1 - Circuitos elétricos 35 A Figura 1.22 mostra o circuito representado apenas pelas tensões. Como o gerador de 45 V, prevalece o de 15 V E U VTh BA= = − =45 15 30 Portanto, o gerador de Thévenin entre os pontos A e B será o da Figura 1.23: Fonte: elaborada pela autora. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.21 | Circuito parcial, sem o gerador de 45 V Figura 1.22 | Simplificação do circuito U1 - Circuitos elétricos36 Recolocando no circuito a resistência de 10 Ω (ver Figura 1.24), pode-se calcular a corrente que a atravessa. i = + = 30 8 8 1 875, A O valor da corrente foi de 1,875 A. 1.12 Teoremas de Norton O Teorema de Norton é mais uma dentre as inúmeras opções que temos para cálculos de grandezas pertinentes a circuitos elétricos. Ele se assemelha ao Teorema de Thèvenin e tem a mesma aplicabilidade. A diferença fundamental é que o circuito equivalente consta de uma fonte de corrente em paralelo com uma resistência, como apresenta a Figura 1.25. Fonte: elaborada pela autora. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.23 | Gerador equivalente de Thévenin Figura 1.24 | Gerador de Thévenin conectado à resistência U1 - Circuitos elétricos 37 Exemplo 6 Determine a corrente que percorre a resistência de 8 Ω no circuito da Figura 1.26, utilizando o Teorema de Norton. Este circuito foi resolvido pelo Teorema de Thévenin, para resolver pelo Teorema de Norton, teremos que determinar a corrente de ramo do circuito. Escolhidos dois pontos do circuito elétrico, os efeitos do circuito sobre esses dois pontos (em vazio, sem carga) podem ser representados por um gerador de corrente, com uma resistência em paralelo, chamado gerador equivalente de Norton(Figura 1.27). Fonte: elaborada pela autora. Fonte: elaborada pela autora. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.25 | Esquema representativo do circuito equivalente de Norton Figura 1.26 | Circuito elétrico Figura 1.27 | Gerador equivalente de Norton U1 - Circuitos elétricos38 Da mesma forma que no gerador de Thévenin, escolhem-se dois pontos A e B entre os quais se pretende determinar a corrente. Nesse caso, é como se ambos os pontos fossem colocados em curto-circuito por um amperímetro, ver Figura 1.28. A resistência do gerador de Norton é a mesma do gerador de Thévenin. Logo, pela dualidade entre os geradores de tensão e corrente, temos: R R E R Th N Th N N = = ⋅ i O uso de geradores de corrente não é muito comum. Sugere- se a utilização da dualidade entre os geradores e consequente solução por Thévenin e depois nova conversão por dualidade para o gerador de corrente de Norton. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.28 | Gerador de Norton, os pontos A e B estão em curto-circuito Questão para reflexão Quais são as relações entre os componentes de um circuito? U1 - Circuitos elétricos 39 Atividades de aprendizagem 1. Qual é o número de elétrons retirado de um corpo cuja carga elétrica é Q C= 34µ . 2. Um fio condutor foi ligado a um gerador ideal, que mantém entre seus terminais uma tensão V = 14 volts. Determine o valor da resistência desse fio. 3. A potência elétrica de um chuveiro elétrico de uma residência é de 5500 W. a) Qual é a energia elétrica consumida durante um banho de 10 minutos? Dê a resposta em kWh. b) Considerando-se que 1 kWh custa R$ 0,30, qual é o custo da energia elétrica consumida pelo chuveiro, durante um mês (30 dias), sabendo-se que a residência tem 3 moradores que tomam um banho diário, cada um de 10 minutos? 4. Um resistor de forma cilíndrica tem resistência elétrica de 20 W. Determine a resistência elétrica de outro resistor de forma cilíndrica, de mesmo material, com o dobro do comprimento e com o dobro do raio de seção reta. U1 - Circuitos elétricos40 Para concluir o estudo da unidade Fique ligado Caro aluno, nesta unidade, vimos os principais conceitos sobre introdução a circuitos e métodos de análises de circuitos elétricos. A unidade está estruturada de forma que seus tópicos e exercícios propostos correlatos facilitem o planejamento do processo ensino-aprendizagem. O estudo dessa unidade não esgotou todo o conteúdo a respeito dos tópicos abordados, esse estudo deve servir como base para o seu aprofundamento, pois ele não termina com o fim da unidade. Nunca deixe de estudar, é o segredo para o crescimento e a evolução constante. Bons estudos! Nessa unidade foram estudados vários elementos importantes sobre elétrica e eletrônica, entre eles: - Introdução a circuitos. - Conceitos básicos. - Leis básicas. - Métodos de análise. - Teoremas de circuitos. Todos esses itens são importantes para a formação do engenheiro, pois estão presentes na composição das máquinas e de produtos eletrônicos e serão necessários em outras disciplinas e durante a vida profissional. U1 - Circuitos elétricos 41 Atividades de aprendizagem da unidade 1. Expresse os números a seguir como potência de dez: a) 10.000 b) 100 c) 0,00001 d) 0,0001 e) 10 / 1000 f) 100 / 0,001 g) (50.000)(0,002) h) 0,003 / 30,0000 i) 2000 / 0,0004 2. Preencha as lacunas nas seguintes conversões: a) 4 · 103 = · 106 b) 6 · 10-4 = · 10-6 c) 50 · 105 = · 103 = · 106 = · 109 3. Em um dia chuvoso, um trovão descarrega um total de n elétrons durante apenas 0,0000001 segundo, com intensidade de corrente elétrica igual a 7 52 1026, ⋅ A. Qual a quantidade de elétrons medido no ponto onde o raio caiu? 4. Em uma lâmpada está escrito 500W/220V. Calcule a corrente consumida pela lâmpada. 5. Determine a corrente elétrica resultante quando conectamos uma bateria de 9 V aos terminais de um circuito cuja a resistência é de 2,2Ω. U1 - Circuitos elétricos42 6. Observe a Figura 1.29 e verifique o valor correspondente de sua resistência. 7. No circuito dado a seguir, calcule suas correntes de ramo existentes, utilizando a Lei de Kirchhoff. 8. No circuito a seguir, indique a quantidade de nós, ramos e calcule suas correntes de ramos existentes, utilizando a Lei de Maxwell. Fonte: <http://www.arduino-tutorials.com/ee101-resistors>. Acesso em: 20 abr. 2017. Fonte: elaborada pela autora. Fonte: elaborada pela autora. Figura 1.29 | Resistor Figura 1.30 | Circuito elétrico utilizando a Lei de Kirchhoff Figura 1.31 | Circuito elétrico utilizando a Lei de Maxwell U1 - Circuitos elétricos 43 Referências ALEXANDER, Charles K.; SADIKU, Matthew N. O. Fundamentos de circuitos elétricos. Porto Alegre: Bookman, 2003. BOYLESTAD, Robert L. Introdução à análise de circuitos. 10. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. DORF, Richard C.; SVOBODA, James A. Introdução aos circuitos elétricos. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2012. EDMINISTER, Joseph A. Circuitos elétricos. Reedição da edição clássica. São Paulo: McGraw-Hill Ltda., 1991. . Circuitos elétricos. 2. ed. São Paulo: McGraw-Hill Ltda., 1985. INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E TECNOLOGIA (INMETRO). Sistema Internacional de Unidades: SI. 1. ed. Duque de Caxias - RJ: INMETRO, 2012. 94 p. Traduzido de: Le Système international d’unités - The International System of Units 8. ed. 2006. Disponível em: <http://www.inmetro. gov.br/inovacao/publicacoes/si_versao_final.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2017. JOHNSON, David E.; HILBURN, John L.; JOHNSON, Johnny R. Fundamentos de análise de circuitos elétricos. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. SVOBODA, James A., Richard C. Dorf. Introdução aos circuitos elétricos. Tradução Ronaldo Sérgio de Biasi. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. DORF, Richard C.; SVOBODA, James A. Introdução aos circuitos elétricos. Tradução Ronaldo Sérgio de Biasi. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. WALKER, Halliday R. Fundamentos de física. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. U1 - Circuitos elétricos44 Unidade 2 Circuitos armazenadores de energia Nesta unidade, você conhecerá os elementos armazenadores de energia mais comumente usados em circuitos elétricos e eletrônicos, os capacitores e os indutores, e suas aplicações. Além disso, você aprenderá sobre a construção básica e os fatores que determinam a capacidade de armazenamento de cada elemento, como também a aplicação desses elementos em circuitos elétricos e eletrônicos. Ao final da unidade, você será introduzido aos conceitos de circuitos magnéticos e de transformadores. Objetivos de aprendizagem Nesta seção, você aprenderá sobre os conceitos de capacitores e indutores, características construtivas e a associação série e paralelo. Seção 1 | Capacitores e indutores Nesta seção, você estudará o comportamento de dois tipos de circuitos, primeiramente, formados por resistores e capacitores e outro formado por resistores e indutores, conhecidos como os circuitos RC e RL, respectivamente. Aprenderá sobre o comportamento no tempo desses circuitos, quando apesentam condições de carga inicial e também quando excitados por fontes de tensão independente. Seção 2 | Circuitos de primeira ordem Nesta seção, você tomará conhecimento da similaridade entre circuitos magnéticos e circuitos elétricos. Desenvolverá uma compreensão dos Seção 3 | Circuitos magnéticos e eletromagnetismo Fernando Alves Negrão parâmetros importantes do circuito magnético e aprenderá os conceitos do transformador elétrico. Introdução à unidade Nesta unidade, serão abordados os elementos armazenadores de energia, como o capacitor e o indutor. Serão tratadas as equações e as características desses elementos, assim como a análise do comportamento de circuitos compostos por esses elementos. Os circuitos estudados serão os de primeira ordem, RC e RL, como também os de segunda ordem, RLC. Para cada circuito serão estudadas duas situações, primeiro considerando os elementos com valores iniciais e o segundoconsiderando a utilização de fontes independentes. Após a análise dos elementos armazenadores de energia e seus circuitos, será estudado o circuito magnético, considerando a sua similaridade com a análise de circuitos elétricos. U2 - Circuitos armazenadores de energia48 Seção 1 Capacitores e indutores 1.1 Capacitor Introdução à seção Nesta seção, abordaremos as características de dois importantes elementos de circuitos elétricos, o capacitor e o indutor. Será apresentada uma breve revisão sobre os conceitos e as teorias que descrevem o comportamento desses elementos. Inicialmente, estudaremos o capacitor e veremos como associá-lo em série e paralelo, na sequência, faremos o mesmo com os indutores. Por esses elementos terem a capacidade de armazenar energia, são largamente utilizados em circuitos elétricos e eletrônicos, como veremos ao final desta seção. O capacitor é um componente elétrico constituído por dois elementos condutores, normalmente representados por placas, dispostas em paralelo e separadas por um material isolante (dielétrico). Em algumas aplicações práticas, as placas são normalmente folhas de alumínio e o dielétrico pode ser ar, cerâmica, papel ou mica (NILSON; RIEDEL, 2009); (ALEXANDER; SADIKU, 2013). A Figura 2.1 mostra um exemplo de capacitor comum. Fonte: Alexandre e Sadiku (2013). Figura 2.1 | Capacitor comum U2 - Circuitos armazenadores de energia 49 Na Figura 2.1, pode-se ver as duas placas, o dielétrico com permissividade ε 1 , e a separação entre as placas, distância d. Existe uma grande variedade de modelos de capacitores disponíveis no mercado, entre eles os cerâmicos, o poliéster, os eletrolíticos, o tântalo etc. A Figura 2.2 mostra essa variedade de modelos. Figura 2.2 | Tipos de capacitores Fonte: adaptada de: <http://marinenotes.blogspot.com.br/2012/09/identify-various-capacitors-and.html>. Acesso em: 14 fev. 2017. U2 - Circuitos armazenadores de energia50 A Figura 2.2 mostra apenas uma parte da variedade de capacitores existentes no mercado. Utilizando-se de uma ferramenta de busca na internet, pode-se encontrar uma infinidade de outros modelos e aplicações dos capacitores, não só como elementos armazenadores de energia, mas também utilizados para supressão de ruídos, correção de fator de potência, redução da interferência eletromagnética, filtros de fontes CC, filtros para sistema de áudio, partida de motores, osciladores, controles de sistemas eletrônicos, temporizadores, entre outras aplicações. 1.1.1 Capacitância Quando se aplica uma fonte de tensão entre as placas do capacitor, forma-se um campo elétrico entre as placas, acumulando carga positiva sobre uma placa e carga negativa sobre a outra, conforme mostra a Figura 2.3. Para saber mais Devido à grande variedade de capacitores disponíveis no mercado, os fabricantes disponibilizam tabelas de seleção de componentes para ajudar os projetistas a encontrarem o modelo adequado à aplicação. Para conhecer sobre capacitores comerciais, acesse os sites: Disponível em: • <https://www.mundodaeletrica.com.br/tipos-de-capacitores/>. Acesso em: 12 abr. 2017. • <http://www.sabereletrica.com.br/entenda-o-funcionamento- dos-capacitores/>. Acesso em: 12 abr. 2017. Para um material mais completo, acesse o guia do fabricante TDK®, em inglês, para ajudar na escolha de capacitores cerâmicos multicamadas (MLCC – Multilayer Ceramic Chip Capacitor). Disponível em: <https://product.tdk.com/info/en/products/capacitor/ ceramic/mlcc/productguide/index.html>. Acesso em: 12 abr. 2017. Além de capacitores MLCC, a TDK® também fornece outros modelos de capacitores, como pode ser conferido no link: <https://product.tdk. com/info/en/products/capacitor/index.html>. Acesso em: 12 abr. 2017. U2 - Circuitos armazenadores de energia 51 A Figura 2.3 mostra uma tensão v aplicada ao capacitor e as cargas q+ e q- acumuladas nas respectivas placas. Dessa forma, o capacitor armazena energia em forma de carga elétrica, e a quantidade de carga armazenada é representada pela equação (2.1) Em que q é a carga armazenada no capacitor em coulombs (C), v é tensão aplicada aos terminais do capacitor em volts (V) e é uma constante de proporcionalidade, chamada de capacitância, em farad (F). Essa unidade é uma homenagem ao químico e físico inglês Michel Faraday (1791 - 1867) (ALEXANDER; SADIKU, 2013). q = C · v Para saber mais O cientista experimental Michel Faraday nunca recebeu uma educação formal e, ainda assim, fez importantes descobertas e contribuições para a ciência nas áreas de física, química e engenharia. Entre suas contribuições estão a interação entre campos elétricos e magnéticos, as correntes autoinduzidas e introduziu os conceitos de linhas de campo de força magnética (BOYLESTAD, 2012). Acesse o texto sobre Michael Faraday. Disponível em: <www.famousscientists. org/michael-faraday/>. Acesso em: 15 fev. 2017. Figura 2.3 | Capacitor com tensão aplicada Fonte: Alexander e Sadiku (2013). U2 - Circuitos armazenadores de energia52 A capacitância C de um capacitor é devido às suas características físicas, ou seja, é proporcional ao tamanho das placas (área), à distância de separação entre elas e ao tipo de dielétrico utilizado entre as placas. A equação de cálculo de capacitância do capacitor é dada pela equação (2.2). Em que C é a capacitância em farad (F), A é a área em m2, d é a distância em metros e ε é a permissividade dielétrica do material entre as placas. Um fator importante para a determinação do valor da capacitância é o material utilizado como dielétrico (ε). No entanto, todos os materiais utilizados como dielétricos para a construção de capacitores devem ser materiais isolantes e ter a capacidade de estabelecer um campo elétrico em seu interior (BOYLESTAD, 2012). A Tabela 2.1 apresenta uma lista de materiais comuns, utilizados como isolantes elétricos. O termo permissividade é aplicado como medida de quão facilmente se forma o campo elétrico no interior Questão para reflexão No mercado, encontram-se capacitores de diversos modelos e matérias de fabricação. Os valores desses capacitores variam de unidades de pF (pico farad) a milhares de µF (micro farad). Segundo a equação 2.2, quanto maior a área do capacitor e menor a distância entre as placas, maior será o valor da capacitância. Assim, em capacitores comerciais, os componentes de maiores capacitâncias são geralmente para aplicações de tensões mais baixas, assim como os componentes de tensões mais altas são de valores de capacitância mais baixa. Por exemplo, os capacitores de poliéster, que podem ser utilizados em tensões de 220 V, estão na faixa de nF, enquanto capacitores eletrolíticos para utilização em 50 V podem chegar a 4700µF. Quando é necessário que capacitores para aplicações em altas tensões tenham valores de capacitância elevados, estes se tornam de volume elevado. Reflita as causas dessa relação entre a tensão x capacitância x volume nos capacitores comerciais. C A d = ε U2 - Circuitos armazenadores de energia 53 do material (BOYLESTAD, 2012). Assim, a permissividade relativa é a comparação da permissividade do material com a permissividade do vácuo (ε0), e é dada pela equação (2.3). Na equação (2.3), ε0 é a permissividade do vácuo e vale 8,85x10-12 F/m, ε r é a permissividade relativa do material e ε é a permissividade do material. Substituindo a equação 2.3, na equação 2.2, obtém-se a equação do cálculo de capacitância (equação 2.4), utilizando a permissividade relativa da Tabela 2.1. Tabela 2.1 | Permissividade relativa de várias substâncias Fonte: Boylestad (2012). ε ε εr = 0 C A dr = ε ε0 U2 - Circuitos armazenadores de energia54 Capacitores, assim como resistores, podem ser associados em série ou em paralelo, e obter valores de capacitâncias diferentes. A Figura 2.5 mostra a associação em série de capacitores. Quando há capacitores conectados em série, a carga q é a mesma em todos os capacitores, ou seja,q=q 1 =q 2 =q 3 =q n . Aplicando a Lei de Kirchhoff das tensões ao longo da malha mostrada na Figura 2.5, obtém-se a equação (2.5). Considerando v=q/C, e substituindo em (2.5), tem-se: Para a utilização do capacitor em circuitos elétricos, deve-se utilizar o símbolo mostrado na Figura 2.4. Figura 2.4 | Símbolo do capacitor Figura 2.5 | Associação de capacitores em série Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. v v v v vn= + + +1 2 3 q C q C q C q C q Ct n n = + + +1 1 2 2 3 3 U2 - Circuitos armazenadores de energia 55 Dividindo os dois lados da equação (2.6) pela carga q, obtém-se a equação (2.7). A equação (2.7) fornece o cálculo da capacitância equivalente para associação em série de capacitores, ou seja, o inverso do valor de capacitância equivalente será a soma dos inversos dos valores de capacitância dos capacitores associados em série (BOYLESTAD, 2012). A Figura 2.6 mostra um circuito com associação de capacitores em paralelo. Quando se tem capacitores associados em paralelo, a carga total é a soma das cargas individuais dos capacitores do circuito, q=q 1 +q 2 +q 3 +q n . Se Q=C.V, pode-se, então, escrever a equação (2.8). Sabendo que no circuito da Figura 2.6 as tensões em todos os capacitores têm o mesmo valor, que é igual ao valor da tensão da fonte (v), divide-se os dois lados da equação (2.8) por v e obtém-se a equação (2.9): A equação (2.9) fornece o cálculo da capacitância total para associação de capacitores em paralelo, ou seja, o valor da capacitância total é o valor da soma dos capacitores individuais. Assim, quando for necessário aumentar o valor da capacitância do circuito, deve-se associar capacitores em paralelo, conforme a equação (2.9). Já quando é necessário trabalhar valores de tensão no circuito superiores ao valor de tensão nominal do capacitor, Figura 2.6 | Associação em paralelo de capacitores Fonte: elaborada pelo autor. 1 1 1 1 1 1 2 3C C C C Ct n = + + + C v C v C v C v C vt n n= + + +1 1 2 2 3 3 C C C C Ct n= + + +1 2 3 U2 - Circuitos armazenadores de energia56 deve-se associar capacitores em série, lembrando que o valor da capacitância total será sempre menor que a capacitância do capacitor de menor valor associado, conforme a equação (2.7). 1.2 Indutores O indutor é um dos três componentes básicos (os outros dois são os resistores e os capacitores) mais encontrados em circuitos eletroeletrônicos (BOYLESTAD, 2012) e é projetado para armazenar energia em seu campo magnético (ALEXANDER; SADIKU, 2013). Um indutor é formado por uma bobina cilíndrica, com várias espiras de fio condutor e um núcleo, que pode ser magnético ou não. Resumidamente, qualquer bobina de fio pode se comportar como um indutor. A Figura 2.7 mostra um indutor típico. A Figura 2.7 mostra a construção de um indutor típico, que está montado sobre um núcleo cilíndrico de área transversal A, comprimento l e um número de espiras N. Indutores podem ser construídos utilizando-se uma grande variedade de núcleos. Além do núcleo cilíndrico mostrado na Figura 2.7, pode-se usar também núcleos toroidais, núcleos EE, núcleos EI, de materiais como ferrites, chapas de aço-silício de grãos orientados (GO) ou não (GNO), ou mesmo o ar. A Figura 2.8 mostra uma variedade de núcleos e peças de ferrites, enquanto a Figura 2.9, mostra chapas de aço-silício GO para utilização em núcleos de indutores e transformadores. Figura 2.7 | Indutor Fonte: Alexander e Sadiku (2013). U2 - Circuitos armazenadores de energia 57 Figura 2.8 | Núcleos e peças de ferrites Figura 2.9 | Núcleos de chapas de aço-silício (GO) Fonte: <http://www.thornton.com.br/produtos.htm>. Acesso em: 16 fev. 2017. Fonte: <https://goo.gl/91dTdQ>. Acesso em: 16 fev. 2017. U2 - Circuitos armazenadores de energia58 Núcleos de ferrites são utilizados em aplicações em que é necessário a utilização em altas frequências, por exemplo, fontes chaveadas como as de computadores e adaptadores CA/CC usados em notebooks. Já as chapas de aço-silício são utilizadas em aplicações de baixa frequência, como a frequência da rede elétrica (60Hz), exemplos de utilização dessas chapas em indutores são os reatores utilizados em iluminação pública. Os indutores, por serem de construção relativamente fácil, comparados com a construção do capacitor, podem ser adquiridos prontos de algum fabricante, ou montados, adquirindo os núcleos, como os mostrados nas Figuras 2.8 e 2.9. A Figura 2.10 mostra uma variedade de indutores comerciais utilizados em circuitos eletrônicos de baixa tensão. Figura 2.10 | Exemplo de indutores comerciais Fonte: <http://www.hicoelectronics.in/electronicscomponents.php>. Acesso em: 16 fev. 2017. Indutores comerciais, assim com os capacitores, podem ser encontrados para diversas aplicações, em diferentes formatos, valores e capacidade de correntes. O fabricante de origem japonesa Murata® <www.murata.com> é um exemplo de fabricante que fornece indutores encapsulados para circuitos de montagem de Para saber mais U2 - Circuitos armazenadores de energia 59 1.2.1 Indutância Quando uma corrente flui através dos terminais do indutor, gera-se um campo magnético no interior da bobina, proporcional ao valor da indutância. A indutância de um indutor depende de suas dimensões físicas e do material da bobina (ALEXANDER; SADIKU, 2013). Para o indutor da Figura 2.7, o cálculo da indutância é dado pela equação (2.10). Em que L é a indutância em henries (H), N é o número de espiras, A é a área da seção transversal (m2) do núcleo e l é o comprimento do núcleo em m e µ é a permeabilidade do material do núcleo em Wb/A.m. Assim como na permissividade (ε) utilizada para o cálculo do capacitor, a permeabilidade (µ) pode ser expressa em relação à permeabilidade absoluta. O valor da permeabilidade no vácuo é de 4π x 10-7 Wb/A.m (BOYLESTAD, 2012) e a permeabilidade relativa µr é dada pela equação (2.11). Para saber mais superfície (SMD). Mais informações sobre os indutores fornecidos por esse fabricante podem ser encontradas no seguinte link. Disponível em:<http://www.murata-ps.com/en/products/magnetics/inductors. html>. Acesso em: 12 abr. 2017. Outro fabricante importante, que vale a pena conhecer, é a Ferroxcube, com sede em Taiwan. Disponível em: <http://www. ferroxcube.com/>. Acesso em: 12 abr. 2017. No Brasil, encontram-se fabricantes como a Toroide do Brasil® <http://toroid.com.br/site/produtos/id/1/categoria/26>, a Magmattec <http://magmattec.com/>, Multitrafos <http://www.multitrafos.com. br/indutores.html>, MGS Eletrônica Ltda. <http://www.mgsel.com. br/>, entre outras. Acessos em: 12 abr. 2017. L N A= µ 2 l µ µ µr = 0 U2 - Circuitos armazenadores de energia60 Substituindo µ da equação (2.11) na equação (2.10), obtém-se a equação de cálculo de indutância em função da permeabilidade relativa µ r . A Tabela 2.2 traz alguns valores de permeabilidade relativa (µr) para alguns materiais conhecidos e a Tabela 2.3 traz alguns valores comerciais para núcleos de ferrites da fabricante nacional Thornton. Material Composição (%p) Permeabilidade Relativa inicial (µ r ) Lingote de ferro comercial 99,95 Fe 150 Ferro-silício (orientado) 97 Fe, 3 Si 1.400 Permalói 45 55 Fe, 45 Ni 2.500 Supermalói 79 Ni, 15 Fe, 5 Mo, 0,5 Mn 75.000 Ferroxcube A 48 MnFe2O4, 52 ZnFe2O4 1.400 Ferroxcube B 36 NiFe2O4, 64 ZnFe2O4 650 Tabela 2.2 | Permeabilidade de vários materiais magnéticos Tabela 2.3 | Permeabilidade de núcleos de ferrite do fabricante Thornton® Fonte: Callister e Rethwisch (2016). Fonte: Thornton Eletrônica Ltda. (2015). L N Ar= µ µ0 2 l U2 - Circuitos armazenadores de energia 61 O símbolo elétrico mostrado na Figura 2.11 é a representação do indutor para utilização em circuitos elétricos. Assim como nos resistores e capacitores, os indutores podem ser associados em série ou paralelo, e obter valores diferentes dos disponíveis. A Figura 2.12 mostra a associação de indutores em série.Assim como para os resistores, para os indutores em série da Figura 2.12, a indutância total é a soma das indutâncias individuais, conforme mostra a equação (2.13). Já a Figura 2.13 mostra uma associação de indutores em paralelos. Figura 2.11 | Símbolo de indutor Fonte: elaborada pelo autor. Figura 2.12 | Associação de indutores em série Figura 2.13 | Associação de indutores em paralelo Fonte: Alexander e Sadiku (2013). Fonte: Alexandere e Sadiku (2013). L L L L Lt N= + + +1 2 3 U2 - Circuitos armazenadores de energia62 No caso da Figura 2.13, associação de indutores em paralelo, a forma de se encontrar a indutância total é a mesma utilizada para associação de resistores em paralelo, ou seja, o inverso da indutância equivalente é a soma dos inversos das indutâncias conectadas em paralelo, conforme mostrado na equação (2.14). Segundo as equações (2.13) e (2.14), quando se deseja um valor maior da indutância, deve-se associar indutores em série, já quando a necessidade for a redução do valor da indutância total, deve-se conectar os indutores disponíveis em paralelo. Vale lembrar que no caso de associação em paralelo de indutores, assim como na associação de resistores, o valor equivalente será sempre menor que o valor da menor indutância conectada em paralelo. Questão para reflexão Você já reparou que a maioria dos circuitos eletrônicos utiliza indutores de núcleos de ferrites? Reflita sobre por que esses indutores são feitos com núcleos de ferrites, que possuem um custo relativamente alto, e não com núcleos de ar ou ferro, que os deixariam muito mais baratos, se comparados com os indutores de núcleo de ferrite. Atividades de aprendizagem 1. (ALEXANDER; SADIKU, 2013) Qual a carga em um capacitor de 5 F quando ele é conectado a uma fonte de 120 V? a) 600 C. b) 300 C. c) 24 C. d) 12 C. 1 1 1 1 1 1 2 3L L L L Lt N = + + + U2 - Circuitos armazenadores de energia 63 2. (BOYLESTAD, 2012) Determine a capacitância de um capacitor de placas paralelas se 1.200µC de carga se acumulam em suas placas quando a tensão aplicada é de 24 V. 3. (BOYLESTAD, 2012) A capacitância de um capacitor cujo dielétrico é o ar, é 1360pF. Quando inserimos um novo dielétrico entre as placas, a capacitância aumenta para 6,8nF. De que material é feito o dielétrico? 4. (ALEXANDER; SADIKU, 2013) Capacitores de 20 pF e 60 pF conectados em série são associados em paralelo com capacitores de 30pF e 70pF conectados em série. Determine a capacitância equivalente. 5. (ALEXANDER; SADIKU, 2013) A capacitância equivalente nos terminais a-b no circuito da Figura 2.14 é 30µF. Calcule o valor de C. Figura 2.14 | Exercício 5 Fonte: Alexander e Sadiku (2013). U2 - Circuitos armazenadores de energia64 6. (BOYLESTAD, 2012) Para um indutor cilíndrico, igual ao da Figura 2.7, com 200 espiras, 2,5cm de comprimento, diâmetro do núcleo de ar de 0,5 cm, calcule a indutância L. 7. Se for utilizado um núcleo cilíndrico de material IP6 da Thornton, qual será o valor da nova indutância? 8. (ALEXANDER; SADIKU, 2013) Determina a indutância total do circuito da Figura 2.15. Considere que todos os indutores são de 10mH. 9. (ALEXANDER; SADIKU, 2013) Um circuito armazenador de energia é formado por indutores conectados em série de 16 mH e 14 mH associados em paralelo com indutores conectados em série de 24 mH e 36 mH. Calcule a indutância equivalente. Figura 2.15 | Exercício 8 Fonte: Alexander e Sadiku (2013). U2 - Circuitos armazenadores de energia 65 Seção 2 Circuitos de primeira ordem 2.1 Circuito RC de primeira ordem sem fonte Introdução à seção Nesta seção, abordaremos as características de resposta de circuitos de primeira ordem, que são os circuitos nos quais suas respostas são representadas por uma equação diferencial de primeira ordem. Serão vistos dois tipos de circuitos simples, um formado por um resistor e um capacitor (RC) e o outro por um resistor e um indutor (RL). Esses circuitos podem ser utilizados com fontes independentes ou sem fontes, nesse último caso, utilizando apenas a energia armazenada nos elementos armazenadores de energia (capacitor e indutor). Circuitos RC de primeira ordem sem fonte são os que têm a energia armazenada no capacitor no início da análise. Essa condição pode ser obtida quando, após carregado o circuito utilizando-se de uma fonte, essa fonte é retirada e a energia no capacitor começa a se dissipar no resistor, gerando uma resposta transitória (ALEXANDER; SADIKU, 2013). A relação de corrente e tensão em um capacitor, é dada pela equação (2.15). A equação (2.15) mostra que a corrente no capacitor só existe quando se tem variação da tensão sobre o capacitor. Em caso de não ocorrer variação da tensão, após o período transitório, a corrente tende a ser zero, com isso o capacitor passa a ser um circuito aberto. Integrando dois lados da equação (2.15), pode-se obter a relação de tensão-corrente no capacitor, expressa pela equação (2.16). i t C dv dt ( ) = v t C i d v t t t ( ) ( ) ( )= +∫ 1 0 0τ τ U2 - Circuitos armazenadores de energia66 A equação (2.16) mostra que o valor da tensão no capacitor depende do histórico da corrente. Considere o circuito RC da Figura 2.16. O capacitor da Figura 2.16 está carregado e no instante t = 0 possui tensão igual a V0, ou seja, v(0) = V 0 . Então, é conectada a resistência R ao capacitor e a corrente i(t) começa a existir para t>0. Considerando que a corrente no capacitor é igual à corrente do resistor, aplicando a Lei de Kirchhoff das correntes no circuito, pode-se escrever a equação (2.17). Em que i c é a corrente no capacitor e i R é a corrente no resistor (i R =V/R). Sabendo que a corrente no capacitor é dada em (2.15), pode-se reescrever a equação (2.17) na equação (2.18): Dividindo-se os dois lados da equação por C, obtém-se (2.19): A equação (2.19) é uma equação diferencial de primeira ordem, uma vez que somente a primeira derivada de v está envolvida. Resolvendo a equação (2.19), pode-se encontrar a resposta natural do circuito, já que a equação (2.20) representa a resposta do Figura 2.16 | Circuito RC sem fonte Fonte: elaborada pelo autor. i iC R+ = 0 C dv dt v R + = 0 dv dt v RC + = 0 U2 - Circuitos armazenadores de energia 67 circuito, devida unicamente às suas características sem influência de fontes de tensão ou corrente externa (JOHNSON; HILBURN; JOHNSON, 1994). Em que V 0 é a condição de tensão inicial do capacitor, e a resposta para t>0 será uma queda exponencial desse valor. A Figura 2.17 mostra a resposta de tensão do circuito RC sem fonte. Na Figura 2.17, pode-se ver que em t=0, a tensão no circuito é igual a V 0 e para t>0, a tensão sobre o circuito começa a decair exponencialmente até ser muito próximo de zero. A constante τ = RC é chamada constante de tempo do circuito, é medida em unidade de tempo e equivale ao tempo em que a tensão decaiu 36,8% do valor de V 0 (BOYLESTAD, 2012), ou seja, para cada tempo igual a τ, a tensão reduz em 36,8%. Na prática, a partir de cinco vezes o valor de τ, a tensão no circuito pode ser considerada nula, ou seja, esse é o tempo considerado como fase transitória do circuito, tanto para a carga como para a descarga do capacitor. Exemplo 1: (ALEXANDER; SADIKU, 2013) Considere o circuito da Figura 2.18, se v c (0)=15V, determine vc, v x e i x para t>0; Figura 2.17 | Resposta do circuito RC Fonte: Alexander e Sadiku (2013). v t V e t RC( ) = −0 U2 - Circuitos armazenadores de energia68 Inicialmente, é necessário encontrar o circuito equivalente, para que fique conforme o circuito da Figura 2.16, ou seja, com apenas uma resistência e uma capacitância. Nele, tem-se os resistores de 8Ω e de 12Ω em série, que são equivalentes a 20Ω. O resistor de 5Ω está em paralelo com o capacitor e com o resistor equivalente de 20Ω, então, calcula-se o equivalente como segue: Do circuito da Figura 2.19, pode-se encontrar a constante de tempo τ: Então, se a tensãoinicial do capacitor for 15 V, tem-se: Redefinindo o circuito da Figura 2.18, tem-se: Figura 2.18 | Circuito RC do exemplo 1 Figura 2.19 | Circuito RC equivalente Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. R xt = + = 20 5 20 5 4Ω τ = = =R C x seq 4 0 1 0 4, , v t e e Vc t t( ) , ,= = − −15 150 4 2 5 U2 - Circuitos armazenadores de energia 69 Para encontrar v x que é a tensão sobre o resistor de 12Ω, deve- se fazer uso do cálculo do divisor resistivo, portanto: Por último, o cálculo de i x : 2.2 Circuito RL de primeira ordem sem fonte Assim como no circuito RC de primeira ordem sem fonte, o circuito RL de primeira ordem sem filtro armazena no indutor a energia inicial do circuito. A energia no indutor é armazenada em forma de campo magnético e é proporcional à corrente que passa pelo indutor. A Figura 2.20 mostra um circuito RL sem fonte. Para a análise do circuito com indutor, adota-se como variável a corrente no indutor. A relação entre a tensão e a corrente no indutor é dada pela equação (2.25). Figura 2.20 | Circuito RL sem fonte Fonte: elaborada pelo autor. A equação mostra que para existir tensão sobre o indutor, deve-se variar a corrente que passa sobre ele. Caso a correte seja contínua e sem variação sobre o indutor, não haverá tensão, e o indutor se comportará como um curto-circuito. Integrando ambos v v e V e Vx c t t= + = =− − 12 12 8 0 6 15 92 5 2 5, ( ), , i v R e e Ax x t t= = = − − 12 2 5 2 59 12 0 75 Ω , ,, v t L di dt ( ) = U2 - Circuitos armazenadores de energia70 os lados da equação (2.25), obtém-se a relação de corrente-tensão no indutor, mostrada na equação (2.26). A equação (2.26) mostra que a corrente no indutor depende do histórico da tensão. Aplicando a Lei de Kirchhoff da tensão no circuito da Figura 2.20, encontra-se: Em que v L é a corrente no capacitor e v R é a corrente no resistor (v r =R.i). Como a tensão no indutor é dada em (2.25), pode-se reescrever a equação (2.27) na equação (2.28): Assim como ocorreu com o circuito RC, a equação (2.29) também é uma equação diferencial de primeira ordem, uma vez que somente a primeira derivada de i está envolvida. Resolvendo a equação (2.29), encontra-se a resposta natural do circuito, dado em (2.30): A resposta natural do circuito RL é uma queda exponencial da corrente inicial do indutor, conforme pode-se ver na Figura 2.21 Simplificando, tem-se (2.29): i t L v d i t t t ( ) ( ) ( )= +∫ 1 0 0τ τ v vL R+ = 0 L di dt R i+ =. 0 di dt R L i+ = 0 i t i e tR L( ) = −0 U2 - Circuitos armazenadores de energia 71 Para o circuito RL de primeira ordem, a constante de tempo é dada por: Em que a constante do circuito τ é dada em segundos. Exemplo 2: (JOHNSON; HILBURN; JOHNSON, 1994) Determinar i e v no circuito da Figura 2.22, assumir que antes da chave se abrir, o circuito está em regime permanente. Inicialmente, deve-se determinar a corrente inicial, i(t=0) do indutor, para t<0. Como em regime permanente, o indutor comporta-se como um curto-circuito, a corrente antes da abertura da chave do circuito é limitada apenas pelo resistor de 50Ω. Figura 2.21 | Resposta do circuito RL Figura 2.22 | Circuito do exemplo 2 Fonte: Alexander e Sadiku (2013). Fonte: Johnson, Hilburn e Johnson (1994). τ = L R U2 - Circuitos armazenadores de energia72 Então, em t=0 a corrente do indutor será 2A. Para o cálculo da corrente e da tensão, é necessário encontrar o circuito equivalente com apenas um resistor e um indutor. Analisando o circuito da Figura 2.22, encontra-se que o resistor de 50Ω está em série com o indutor e os outros dois (150Ω e 75Ω) estão em paralelo. Assim, o cálculo da resistência equivalente é: Com a resistência determinada em 2.33, pode-se calcular a constante de tempo do circuito: Assim, através da equação 2.35 encontra-se a corrente em função do tempo. A tensão v é a soma da tensão sobre o indutor e o resistor de 50Ω, mas também é a tensão sobre o equivalente paralelo entre os resistores de 150Ω e 75Ω. Conforme mostra a Figura 2.22, a corrente que sai do indutor entra no resistor de 50Ω pelo terminal marcado como negativo (-), assim, deve-se considerar o sinal de negativo para o cálculo da tensão, conforme (2.36). 2.5 Resposta ao degrau de circuito RC e RL de primeira ordem Quando se liga uma chave de alimentação, conecta-se uma fonte a um circuito, ou até mesmo quando um circuito comuta uma linha, energizando-a, esses circuitos estão recebendo um degrau de tensão ou corrente. Pode-se dizer também que é quando se aplica repentinamente uma tensão CC em um circuito RC ou RL. A resposta a um degrau é a do circuito decorrente de uma aplicação súbita de uma fonte de tensão ou de corrente (ALEXANDER; SADIKU, 2013). i V A( )0 100 50 2= = Ω Req = + + =50 75 150 75 150 100( )( ) Ω τ = = = L R s10 100 0 1, i t i e e A tR L t( ) = =− −0 102 v t i t R e e Vt t( ) ( ) ( ) ( )( )/ /= − = − + = −− −150 75 10 102 75 150 75 150 100 U2 - Circuitos armazenadores de energia 73 Para estudo do comportamento de uma chave fechando sobre um circuito RC (resposta ao degrau de tensão), considere os circuitos da Figura 2.23 (a) e (b). Para análise do circuito, adota-se a tensão sobre o capacitor. Antes do fechamento (t<0), ou seja, antes da aplicação do degrau de tensão, a tensão no capacitor será considerada como V 0 , Figura 2.23(a). Pode se representar o circuito pela Figura 2.23(b) na qual a função u(t) representa o degrau unitário. A partir dessa nova condição, pode-se encontra a tensão sobre o capacitor aplicando a Lei de Kirchhoff da corrente, para t>0: Em que v é a tensão no capacitor, Vs é a tensão da fonte, R é a resistência e C é a capacitância. Manipulando a equação, tem-se: Resolvendo a equação (2.37), obtém-se a resposta ao degrau de um circuito RC. Ou pode-se reescrever a resposta completa ao degrau de um circuito RC: Figura 2.23 | Circuito RC com degrau de tensão Fonte: Alexander e Sadiku (2013). C dv dt v Vs R + − = 0 dv dt v Vs RC = − − v t V V V e ts s t ( ) ( ) ,= + − >−0 0τ v t V t V V V e ts s t( ) , ( ) , = < + − > − 0 0 0 0τ U2 - Circuitos armazenadores de energia74 A Figura 2.24 mostra a resposta ao degrau, considerando a tensão inicial no capacitor igual a V 0 . Exemplo 3: Calcule a tensão no capacitor para a resposta ao degrau causado pelo fechamento da chave em t=0. Considere que a chave está na posição A tempo suficiente para atingir a estabilidade. Encontre o valor da tensão no capacitor para t=1s e t=4s. Figura 2.24 | Resposta ao degrau de um Circuito RC Figura 2.25 | Circuito do exemplo 3 Fonte: Alexander e Sadiku (2013). Fonte: Alexander e Sadiku (2013). U2 - Circuitos armazenadores de energia 75 Agora, é só substituir os valores encontrados na equação (2.40). Primeiro, deve-se encontrar a tensão V 0 no capacitor. Como a chave está na posição já há bastante tempo, pode-se considerar que nessa condição o capacitor está totalmente carregado e comporta-se como circuito aberto, assim, a tensão V 0 é resultado do divisor resistivo, produzido pelos resistores de 3kΩ e 5kΩ. Dessa forma, a condição inicial de tensão é 15 V. Ao fechar a chave, apenas o resistor de 4kΩ está presente entre a fonte e o capacitor, afinal todos os outros resistores foram desconectados do capacitor. Assim, pode-se calcular a constante de tempo do circuito para t>0: Para encontrar o valor da tensão no capacitor para os instantes t=1s e t=4s, basta substituir na equação encontrada, mostrada em (2.43). Assim, tem-se as respostas do exemplo: v k k k V( )0 24 5 5 3 15= + = τ = = =RC k m s( )( , )4 0 5 2 v t V t e tt ( ) , ( ),, = < − > − 15 0 30 15 00 5 v e V v e V ( ) ( ) , ( ) ( ) , , ( ) , ( ) 1 30 15 20 9 4 30 15 27 97 0 5 1 0 5 4 = − = = − = − − A Figura 2.26 mostra um circuito RL com uma chave que se fecha no instante t=0, provocando o degrau de corrente no indutor. U2 -Circuitos armazenadores de energia76 Figura 2.26 | Circuito RL com degrau de corrente Fonte: Alexander e Sadiku (2013). Conforme examina-se a equação (2.40) e a resposta do exemplo 3, equação (2.43), pode-se reescrever essas equações em funções dos estados iniciais e finais da resposta do circuito, ou seja, pode- se reescrever a resposta em função de um estado transitório e um estado final em regime permanente (BOYLESTAD, 2012). Assim, pode-se reescrever a equação (2.40) da seguinte forma, para t>0: (a) (b) Em que V f é a tensão após a estabilização do circuito e V i é o valor inicial da tensão. Para o cálculo da corrente no indutor, é necessário determinar os valores iniciais e finais de sua corrente. Como a corrente não pode mudar instantaneamente, o valor inicial da corrente depende dos parâmetros do circuito antes do fechamento da chave (t<0). Após a fase transitória (5τ), o indutor passa a comportar-se como um curto-circuito e a corrente é determinada através desse elemento (BOYLESTAD, 2012). Dessa forma, pode-se determinar a corrente para o circuito RL: v t V V V e tf i f t ( ) ( ) ,= + − >− τ 0 i t I I I e tf i f t ( ) ( ) ,= + − >− τ 0 U2 - Circuitos armazenadores de energia 77 Na equação, I f é a corrente após o estado transitório e I i é o valor inicial da corrente. A corrente do indutor em regime estacionário, é dada por: Considerando o circuito já com uma condição inicial de corrente, I 0 , pode-se reescrever a equação da resposta do indutor ao degrau como: A Figura 2.27 mostra a resposta ao degrau do circuito RL, com I 0 =0. Exemplo 4: (ALEXANDER; SADIKU, 2013) Determine a corrente i(t) para t>0; para o circuito da Figura 2.28. Figura 2.27 | Resposta ao degrau do circuito RL Fonte: Alexander e Sadiku (2013). I V Rf s= i t V R I V R e ts s t ( ) ,= + − > − 0 0τ U2 - Circuitos armazenadores de energia78 Para resolver esse exercício, faz-se necessário que se encontre o valor de corrente inicial do indutor. Como no instante t<0, a chave está fechada e considerando que o indutor se encontra totalmente carregado e comporta-se como um curto-circuito, a corrente será: Já para o instante quando a chave é aberta, os resistores de 3Ω e 2Ω passam a ficar em série, assim, para se calcular o valor final da corrente, faz-se: Assim, a corrente do indutor passa de 5A, condição inicial (I0), para condição final (If) de 2A. Substituindo os valores de corrente e da constante de tempo na equação (2.48), encontra-se a resposta ao degrau do circuito RL da Figura 2.28. Para cálculo da constante de tempo do circuito, usa-se a resistência equivalente de 5Ω e a indutância. Figura 2.28 | Circuito do exemplo 4 Fonte: Alexander e Sadiku (2013). I V R As0 2 10 2 5= = = Ω I V R Af s t = = + = 10 2 3 2 τ = = = L R s 1 3 5 1 15 i t e A tt( ) ( ) ,= + >−2 3 015 U2 - Circuitos armazenadores de energia 79 Questão para reflexão Modelos de linhas de transmissão de dados, como trilhas de placas de circuito impresso, placas de computadores, transferências de dados, cabos de sinais, conexão entre impressoras e computadores, cabos USB, RS232, entre outros, são modelados como circuitos compostos de resistências, capacitores e indutores. Reflita sobre a importância do conhecimento da resposta ao degrau de circuitos RC e RL em linhas de transmissão de dados. Para saber mais Existe uma infinidade de aplicações para os circuitos de RC de primeira ordem, como temporizadores e flash de máquinas fotográficas, você pode encontrar mais aplicações e exemplos resolvidos dos circuitos de primeira ordem nos livros. ALEXANDER, C. K.; SADIKU, M. N. O. Fundamentos de circuitos elétricos. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. BOYLESTAD, R. L. Introdução à análise de circuitos. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. JOHNSON, D. E.; HILBURN, J. R.; JOHNSON, J. R. Fundamentos de análise de circuitos elétricos. 4. ed. [s.l.] Prentice Hall, 1994. U2 - Circuitos armazenadores de energia80 Figura 2.29 | Circuito do exercício 1 Figura 2.30 | Circuito do exercício 2 Figura 2.31 | Circuito do exercício 3 Fonte: Johnson, Hilburn e Johnson (1994). Fonte: Johnson, Hilburn e Johnson (1994). Fonte: Johnson, Hilburn e Johnson (1994). Atividades de aprendizagem 1. (JOHNSON; HILBURN; JOHNSON, 1994) Calcule v(t) para t>0, se v(0) =10V. 2. (JOHNSON; HILBURN; JOHNSON, 1994) Se o circuito está em regime permanente em t=0, calcule v(t) para t>0. 3. (JOHNSON; HILBURN; JOHNSON, 1994) Se o circuito está em regime permanente em t=0-, calcule i para t>0. U2 - Circuitos armazenadores de energia 81 Figura 2.32 | Circuito do exercício 4 Fonte: Alexander e Sadiku (2013). 4. (ALEXANDER; SADIKU, 2013) No circuito da Figura 2.32 supondo que a chave já se encontre na posição a por um longo período, determine: a) i 1 (0), i 2 (0), e v o (0). b) i L (t). c) i 1 (∞), i2(∞), e v o (∞). U2 - Circuitos armazenadores de energia82 Seção 3 Circuitos magnéticos e eletromagnetismo 3.1 Circuitos magnéticos e eletromagnetismo Introdução à seção Nesta seção será estudada a similaridade entre circuitos magnéticos e circuitos elétricos, os parâmetros importantes do circuito magnético e os conceitos do transformador elétrico. Há uma grande semelhança entre análise de circuitos magnéticos e circuitos elétricos, por exemplo, a semelhança entre o fluxo magnético e o fluxo de elétrons, a corrente elétrica. Os efeitos magnéticos estão presentes no cotidiano das pessoas, desde aparelhos de áudio, como autofalantes, até nas indústrias, como nos motores elétricos, de um simples ímã de geladeira aos grandes ímãs usados para levitação magnética de trens (BOYLESTAD, 2012), como apresentado na Figura 2.33. Fonte: <http://chc.org.br/desafio-a-gravidade/>. Acesso em: 19 fev. 2017. Figura 2.33 | Protótipo de trem de levitação magnética desenvolvido pela Coppe U2 - Circuitos armazenadores de energia 83 O início do estudo de circuitos magnéticos inicia-se pela revisão de alguns conceitos já estudados nas disciplinas do ciclo básico do curso de Engenharia. O primeiro é o campo magnético, no qual a densidade de fluxo é definida conforme a equação (2.53) Em que B é a densidade de fluxo magnético em Wb/m2, Φ é o fluxo magnético em weber (Wb) e A é a área em m2. Outra relação importante é a que a força magnetomotriz aplica com a corrente e do número de espira da bobina magnetizante. Em que, F é a força magnetomotriz em ampere-espira (Ae), N é o número de espiras e I a corrente (A). O fluxo magnético no interior de um núcleo de material ferromagnético é função direta da permeabilidade. Materiais ferromagnéticos já foram estudados na seção sobre indutores, mas vale lembrar a equação de permeabilidade relativa, considerando como base a permeabilidade do vácuo. Em que µ r é permeabilidade relativa, µ é a permeabilidade do material e µ 0 é a permeabilidade do vácuo e vale 4π x10-7Wb/A.m. Na seção sobre indutores, foram fornecidas as permeabilidades em forma de tabela para valores iniciais da permeabilidade relativa. Como outras quantidades do circuito magnético influenciam na permeabilidade, os valores de µr não serão tabelados nesta seção. Para saber mais O Maglev-Cobra é um trem de levitação magnética desenvolvido no Brasil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, que pode mover-se até setenta quilômetros por hora e totalmente elétrico. Disponível em: <http://www.coppe.ufrj.br/pt-br/a-coppe/coppe-produtos/maglev -cobra>. Acesso em: 17 abr. 2017. B A = φ F = NI µ µ µr = 0 U2 - Circuitos armazenadores de energia84 Assim como a resistência em um circuito elétrico resiste ao estabelecimento de um fluxo de cargas elétricas, a relutância de um material atua contra a tentativa do material estabelecer um fluxo magnético, e é dada por: Em que ℜ é a relutância medida em Ae/Wb, l é o comprimento do circuito magnético e A é a área da seção transversal. Assim como na resistência, ao aumentara área, reduz-se o valor da resistência, o mesmo ocorre com a relutância. A Lei de Ohm é válida também para os circuitos magnéticos, a relação entre efeito, oposição e causa aqui também é verdadeira. No caso dos circuitos magnéticos, a causa do efeito esperado é a força magnetomotriz, assim como para o circuito elétrico é a tensão. Já a oposição ao efeito, no circuito magnético, é a relutância, assim como a resistência é no circuito elétrico. O efeito esperado no circuito elétrico é a corrente, já no circuito magnético o equivalente é o fluxo magnético. A Lei de Ohm para os circuitos magnéticos está apresentada na equação (2.57). Levando em consideração a equação (2.54), conclui-se que o aumento de espiras ou da corrente gera um aumento no fluxo magnético. A força magnetomotriz quando dividida pela unidade de comprimento l é chamada de força magnetizante (H), e é dada por (2.58). Ou em função das espiras e da corrente: ℜ = l µA φ = ℜ F H = F l H NI= l U2 - Circuitos armazenadores de energia 85 A força magnetizante H é independente do material utilizado, depende apenas das variáveis do circuito, como corrente, número de espiras e comprimento do núcleo (BOYLESTAD, 2012). A permeabilidade magnética é influenciada pela força magnética, à medida que a força magnetizante aumenta, a permeabilidade aumenta, até um valor máximo, depois decresce (BOYLESTAD, 2012). A relação entre força magnetizante (H), densidade de fluxo (B) e permeabilidade magnética (µ) é dada na equação (2.60) e tem o formato do gráfico apresentado na Figura 2.34. A Figura 2.34 descreve a trajetória de um material magnético qualquer. Na curva, pode-se ver que ao aumentar a força magnetizante H, a densidade de fluxo B aumenta, proporcionalmente, até atingir um valor máximo (ponto A1). A partir desse ponto, um incremento na força magnetizante, por exemplo, um aumento na corrente da bobina magnetizante, não gera um aumento na densidade de fluxo. Ao reduzir a força magnetizante H, a curva vai do ponto A1 para o ponto A2, até a inversão do sentido de H, faz-se isso invertendo o sentido da corrente. No ponto A2, pode-se ver uma densidade de fluxo residual (B r ), característico de cada material. Aqui nesse caso, se a força magnetizante for totalmente retirada, o material permanecerá magnetizado, formando um ímã permanente. Se a corrente continuar aumentado negativamente, levará a curva até Figura 2.34 | Curva de magnetização BxH Fonte: Ulaby (2011). B H= µ U2 - Circuitos armazenadores de energia86 o ponto A4, que é o ponto de saturação de B negativo, a partir desse momento um incremento na corrente não gera incremento na densidade magnética B. Se a corrente na bobina inverter o sentido, a curva segue pela parte de baixo, até recomeçar o ciclo de histerese novamente. Continuando com o desenvolvimento das teorias de circuitos magnéticos e a comparação dessas com as teorias de circuitos elétricos, tem-se a Tabela 2.4 Por analogia com a Lei de Kirchhoff das tensões, pode-se deduzir a relação da Lei Circuital de Ampere, mostrada na equação (2.61) Ou seja, a soma das forças magnetomotrizes dentro de um circuito magnético será zero, semelhante a LKT. A Figura 2.35 mostra um exemplo de utilização das equações em circuito magnético. Tabela 2.4 | Comparação entre circuitos elétricos e magnéticos Fonte: Boylestad (2012). Figura 2.35 | Circuito magnético Fonte: Boylestad (2012). F∑ = 0 U2 - Circuitos armazenadores de energia 87 Para o equacionamento desse circuito, deve-se considerar que no trecho construído de ferro há uma elevação da força magnetomotriz (NI) causada pela bobina, nos outros trechos tem-se quedas da força magnetomotriz (HI), então: O termo NI representa a elevação da força magnetomotriz e os termos Hl são as quedas de força magnetomotriz no circuito magnético. Para circuitos que possuem nó, aplica-se a lei análoga à Lei de Kirchhoff da corrente para o fluxo magnético, ou seja, a soma dos fluxos que entram em um nó é igual a soma dos que saem. Exemplo 1: (BOYLESTAD, 2012) Considere o circuito em série na Figura 2.36, (a) calcule o valor de I necessário para gerar um fluxo magnético Φ = 4x10-4Wb. (b) calcule o valor de µ e µ r para o material. O circuito magnético pode ser representado como um circuito equivalente, conforme a Figura 2.37: Figura 2.36 | Circuito magnético série Fonte: Boylestad (2012). F∑ = 0 +NI - Hablab - Hbclbc - Hcalca =0 +NI = Hablab +Hbclbc +Hcalca U2 - Circuitos armazenadores de energia88 A análise da Figura 2.37 mostra que se tem disponível o fluxo (Φ), a área A e o comprimento l. Assim, é necessário, para o item (a), inicialmente, encontrar a densidade de fluxo B através da equação (2.63) Para o material especificado no exemplo e com a densidade de fluxo em mãos, deve-se consultar o gráfico BxH (final do texto) e encontrar o valor da força magnetomotriz (H), que para esse exemplo, tem-se H=170Ae/m (BOYLESTAD, 2012). Assim, é possível aplicar a Lei circuital de ampere: Exemplo 2: esse exemplo explora o conceito de circuito série- paralelo, igual aos circuitos elétricos. Determine a corrente I necessária para gerar um fluxo de 1,5x10-4 Wb, no trecho indicado na Figura 2.39. A área de seção do núcleo é 6x10-4m2, o comprimento é l bcde =l efab =0,2m e lbe=0,05m. Figura 2.37 | Circuito magnético em série Fonte: elaborada pelo autor. B A x x T= = = − − φ 4 10 2 10 0 2 4 3 , H NI I H N mA l l = = = = ( )( , )170 0 16 400 68 U2 - Circuitos armazenadores de energia 89 Pode-se gerar o circuito magnético equivalente, conforme mostra a Figura 2.38. Com o valor de B2, pode-se consultar a curva BxH (Figura 2.38) do material aço laminado conforme especificado, e assim, encontra- se H bcde =40Ae/m. Utilizando a Lei circuital de ampere à malha 2, formada pelos pontos bcde, tem-se: Com o valor de Hbe, consultando a curva BxH, encontra-se B1=0,97T. Agora, já estão determinadas as variáveis dos trechos bcde e be, faltando apenas as variáveis do trecho efab, assim utiliza-se a LKT para o fluxo. Figura 2.39 | Circuito magnético Fonte: Boylestad (2012). B A x x T2 2 4 4 1 5 10 6 10 0 25= = = − − φ , , F∑ = 0 8 0 0 Hbelbe - Hbcdelbcde =0 Hbe(0,05m) - (40Ae / m)(0,2m)= 0 Hbe = , 55 160= Ae m/ φ1 1 4 2 40 97 6 10 5 82 10= = =− −B A T x m x Wb( , )( ) , φ φ φ φ t r x x x Wb B A x = + = + = = = − − − − 1 2 4 4 4 4 5 82 10 1 5 10 7 53 10 7 53 10 ( , ) ( , ) , , 66 10 1 224x T− = , U2 - Circuitos armazenadores de energia90 Com o valor de B, encontra-se H consultando o gráfico e H efab = 400Ae. Utiliza-se da Lei circuital de ampere e tem-se o valor da corrente I. Questão para reflexão Analisando o que foi aprendido reflita sobre as aplicações de circuitos magnéticos. Você consegue relacionar algum setor produtivo que não tenha pelo menos uma aplicação magnética? Atividades de aprendizagem 1. Determine a relutância de um circuito magnético se um fluxo Φ = 4,2x10 -4 Wb é estabelecido por uma fmm de 400Ae. 2. Para um núcleo toroidal de ferro fundido, comprimento médio de 0,2 m, área constante em toda a seção de 3x10-3m2, com um enrolamento de 75 espiras, e apresentando um fluxo de Φ = 10,0x10-4 Wb, determine a força magnetizante (H) e a corrente I necessária para estabelecer o fluxo. Dica: utilize o gráfico da Figura 2.39 para encontrar a densidade de fluxo (H). +NI - Hefbalefba - Hbelbe =0 NI =(400)(0,2m) - (160Ae / m)(0,05m)= 0 I = 888 50 176= , A U2 - Circuitos armazenadores de energia 91 Figura 2.40 | Grafico BxH normalizado Fonte: Boylestad (2012). Fique ligado Nesta unidade foram estudados vários elementos importantes sobre elétrica e eletrônica, entre eles: - Capacitor e suas aplicações. - Indutores e suas aplicações. - Respostas naturais de circuitos de RC e RL. - Respostas dos circuitos RC e RL ao degrau. - Circuitos magnéticos. Todos esses itens são importantes para a formação do engenheiro, pois estão presentesna composição das máquinas e de produtos eletrônicos e serão necessários em outras disciplinas e durante a vida profissional. U2 - Circuitos armazenadores de energia92 Para concluir o estudo da unidade Caro estudante, nesta unidade, vimos vários elementos armazenadores de energia, aprendemos que eles possuem esse nome por armazenarem energia e disponibilizarem-na para o uso. Inicialmente, aprendemos sobre a construção desses elementos e na sequência estudamos algumas aplicações em circuitos. O estudo desta unidade não esgotou todo o conteúdo a respeito dos elementos armazenadores de energia, esse estudo deve servir como base para o seu aprofundamento, pois ele não termina com o fim da unidade. Procure mais informações em livros, artigos e na internet. Durante o desenvolver da Unidade 2, foram apresentados a você vários links em sites de fabricantes de componentes, não deixe de acessá-los e conhecê-los, pois serão úteis um dia, além do fato de que existem muitas informações disponibilizadas nesses sites que contribuirão com a sua formação profissional. Nunca deixe de estudar, é o segredo para o crescimento e a evolução constante. Bons estudos! Atividades de aprendizagem da unidade 1. (adaptado da prova do ENADE – Física 2011) Um circuito do tipo R-C possui os componentes: fonte de tensão elétrica, resistor e capacitor, todos ligados em série. Tanto a carga do capacitor como a corrente elétrica i são funções que variam exponencialmente com o tempo. A constante de tempo ou tempo de relaxação do circuito R-C representa o intervalo de tempo no qual a corrente no circuito R-C cai a um valor 1/e vezes o seu valor inicial. Um circuito do tipo R-L é constituído de: fonte de tensão elétrica, resistor e indutor, sendo que esses dois últimos estão ligados em série. A existência de um indutor L no circuito mantém mais estável a corrente elétrica no circuito. A constante de tempo do circuito R-L dá uma medida do tempo no qual a corrente i atinge cerca de 63% do seu valor final. Em um experimento para se analisar o comportamento da corrente elétrica i em função do tempo em dois circuitos distintos, um do tipo R-C e outro do tipo R-L, utilizou-se uma fonte de tensão elétrica E = 10 V, um capacitor com capacitância igual a C = 1 µF e um indutor de indutância L = 0,1 mH. Os gráficos I e II a seguir ilustram o comportamento da corrente elétrica i em função do tempo. U2 - Circuitos armazenadores de energia 93 Com base, nas informações, é correto afirmar que: a) O gráfico I ilustra a variação da corrente elétrica i em função do tempo para um circuito R-C em carga, enquanto o gráfico II ilustra a variação de i em função do tempo para um circuito R-L. A constante de tempo do circuito R-L vale: τL = 0,10 s. O tempo de relaxação do circuito R-C vale: τC = 1,0 s. b) O gráfico I ilustra a variação da corrente elétrica i em função do tempo para um circuito R-C em carga, enquanto o gráfico II ilustra a variação de i em função do tempo para um circuito R-L. A constante de tempo do circuito R-L vale: τL = 0,10×105 s. O tempo de relaxação do R-C capacitor vale: τC = 1,0×10-5 s. c) O gráfico I ilustra a variação da corrente elétrica i em função do tempo para um circuito R-L, enquanto o gráfico II ilustra a variação de i em função do tempo para um circuito R-C em carga. A constante de tempo do circuito R-L vale: τ L =0,10 s. O tempo de relaxação do circuito R-C vale: τ C = 1,0 s. d) O gráfico I ilustra a variação da corrente elétrica i em função do tempo para um circuito R-L, enquanto o gráfico II ilustra a variação de i em função do tempo para um circuito R-C em carga. A constante de tempo do circuito R-L vale: τ L = 1,0×106 s. O tempo de relaxação do circuito R-C vale: τ C = 1,0×10-5 s. e) O gráfico I ilustra a variação da corrente elétrica i em função do tempo para um circuito R-C em carga, enquanto o gráfico II ilustra a variação de i em função do tempo para um circuito R-L. A constante de tempo do circuito R-L vale: τ L = 3,5 s. O tempo de relaxação do circuito R-C vale: τ C = 0,45 s. U2 - Circuitos armazenadores de energia94 2. Capacitores são elementos armazenadores de energia e não aceitam variações abruptas de tensão diretamente sobre seus terminais. Sabendo-se que a corrente no capacitor de 5mF é relacionada à variação de tensão sobre ele, foi aplicada uma tensão conforme mostra a figura a seguir: 3. Capacitores podem ser associados em série e em paralelo. Cada associação gera um valor distinto de capacitância, que pode ser maior ou menor que os valores originais. Considere 4 capacitores de 4µF cada e assinale a afirmação correta: a) A associação dos 4 capacitores em série, gera um capacitor equivalente de 16µF. b) A associação de 3 capacitores em série e um em paralelo gera um capacitor equivalente a 5,33µF. c) A associação dos 3 capacitores em paralelo e um em série gera um capacitor equivalente a 5,33µF d) A associação dos 3 capacitores em paralelo gera um capacitor equivalente a 1,33µF. e) A associação dos 4 capacitores em paralelo gera um capacitor equivalente a 1uF. A respeito da tensão aplicada ao capacitor, é correto afirmar: a) A corrente do capacitor continua subindo até o instante 4s. b) A corrente do capacitor no instante de 0-1s é 16A. c) A corrente do capacitor no instante de 3-4s é 3,2A. d) A corrente do capacitor no instante de 3-4s é 80mA. e) A corrente do capacitor no instante de 1-3s constante é diferente de zero. Fonte: Alexander e Sadiku (2013). Figura 2.40: Figura do exercício 2 U2 - Circuitos armazenadores de energia 95 4. Indutores são bobinas magnéticas que armazenam energia em forma de campo magnético. Sabendo que a tensão do indutor está relacionada com a variação de corrente no indutor, e que o indutor não aceita mudanças abruptas da corrente sobre ele, análise a imagem a seguir. Considere que a corrente é aplicada diretamente sobre um indutor de 5 mH. Assinale a alternativa correta: a) A tensão sobre o indutor é nula em todo o tempo. b) Entre o tempo 2 e 6 segundos o indutor comporta-se como um curto- circuito. c) A tensão nos terminais do indutor entre os tempos 0 e 2 s é crescente. d) A tensão nos terminais do indutor entre os tempos 4 e 6 s é decrescente. e) A tensão nos terminais do indutor entre os tempos 4 e 6 s é constante. Fonte: Alexander e Sadiku (2013). Figura 2.41: Figura do exercício 4 U2 - Circuitos armazenadores de energia96 5. Existe uma grande semelhança entre as análises de circuitos elétricos e dos circuitos magnéticos. A respeito dessa semelhança, algumas grandezas podem ser comparadas, como as que estão nas colunas 1 e 2. Assinale a alternativa que contém a associação correta entre as colunas: a) I–5; II–1; III–4. b) I–1; II–5; III–4. c) I–2; II–1; III–3. d) I–2; II–3; III–2. e) I–5; II–2; III–3. Coluna a Coluna b I E 1 φ II I 2 H III R 3 B 4 ℜ 5 F U2 - Circuitos armazenadores de energia 97 Referências ALEXANDER, C. K.; SADIKU, M. N. O. Fundamentos de Circuitos Elétricos. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. BOYLESTAD, R. L. Introdução à análise de circuitos. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. CALLISTER, W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e engenharia de materiais: uma Introdução. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. JOHNSON, D. E.; HILBURN, J. R.; JOHNSON, J. R. Fundamentos de análise de circuitos elétricos. 4. ed. São Paulo: Prentice Hall, 1994. NILSON, J. W.; RIEDEL, S. A. Circuitos elétricos. 8. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2009. THORNTON ELETRÔNICA LTDA. Catálogo de ferrite. 2015. Disponível em: <www. thornton.com.br>. Acesso em: 5 maio 2017. ULABY, F. T. Eletromagnetismo para engenheiros. Porto Alegre: Bookman, 2011. U3 - Circuitos eletrônicos 98 U3 - Circuitos eletrônicos 99 Unidade 3 Circuitos eletrônicos Após o estudo desta unidade, você será capaz de: • Entender a diferença entre condutor, isolante e semicondutor e o funcionamento de componentes semicondutores. • Compreender a aplicação de diodos semicondutorese diodos zener em circuitos e o seu resultado nos mais diversos tipos de sinais. • Entender o funcionamento do transistor e suas aplicações como chave e como fonte de corrente. • Compreender as diversas topologias de polarização dos transistores utilizados em circuitos eletrônicos. • Projetar circuitos utilizando diodos e transistores. • Analisar e compreender a amplificação de pequenos sinais, com circuitos estáveis e com ganhos altos de tensão. Objetivos de aprendizagem Charles William Polizelli Pereira Na Seção 1, será explorado circuitos que utilizam diodos em diversas aplicações, como retificadores de onda, grampeadores e limitadores de sinais, além de um diodo com uma operação diferenciada, que é o diodo zener. Seção 1 | Circuitos com diodos Já na Seção 2, será explorado o conceito do transistor TBJ, componente que revolucionou os computadores e o processamento de informações, devido à sua velocidade de operação e seu pequeno tamanho. O transistor tem duas aplicações, a sua operação como chave e a sua operação como fonte de corrente. Nessa seção, é explicado como ler os gráficos de saída do transistor e localizar o melhor ponto de operação, ou ponto quiescente Seção 2 | Transistores bipolares de junção U3 - Circuitos eletrônicos 100 Na Seção 3, são discutidos os circuitos de polarização de transistores, suas várias topologias e as vantagens e desvantagens na utilização da polarização de emissor-comum. Também é visto que a melhor topologia é a polarização por divisor de tensão. Seção 3 | Circuitos de polarização de transistores Por último, na Seção 4, é discutido sobre os amplificadores de pequenos sinais e a sua análise em corrente alternada (CA) e em corrente contínua (CC), bem como é mostrada a simplificação que pode ser feita para ajudar na análise da operação do amplificador. Além disso, são apresentadas duas propostas para aumentar o ganho sem gerar distorção, que são os estágios em cascata e a realimentação do emissor com terra CA. Seção 4 | Amplificadores de pequenos sinais U3 - Circuitos eletrônicos 101 Introdução à unidade Esta unidade tem como objetivo explorar os conceitos de semicondutores, a grande invenção que proporcionou um avanço considerável na eletrônica que conhecemos hoje. Você já se perguntou por que se encostarmos em uma tomada tomamos choque e se encostarmos em uma placa de computador não sofremos descarga elétrica? Como convertemos tensão alternada da tomada na mesma tensão fornecida por uma saída USB de um computador? Como obtemos chaveamentos ultrarrápidos em computadores? Por que usamos amplificadores de som e, dependendo do volume, a música pode sofrer distorção? Para responder a essas dúvidas, nesta unidade será exposto o conceito de semicondutor e como melhorar sua eficiência em diversas aplicações. Na Seção 1, serão explorados circuitos que utilizam diodos em diversas aplicações, como retificadores de onda, grampeadores e limitadores de sinais, além de um diodo com uma operação diferenciada, que é o diodo zener. Já na Seção 2, será explorado o conceito do transistor TBJ, componente que revolucionou os computadores e o processamento de informações, devido à sua velocidade de operação e seu pequeno tamanho. O transistor tem duas aplicações, a sua operação como chave e a sua operação como fonte de corrente. Nesta seção, é explicado como ler os gráficos de saída do transistor e localizar o melhor ponto de operação, ou ponto quiescente. Na Seção 3, serão discutidos os circuitos de polarização de transistores, suas várias topologias e as vantagens e as desvantagens na utilização da polarização de emissor-comum. Também é visto que a melhor topologia é a polarização por divisor de tensão. Por último, na Seção 4, será discutido sobre os amplificadores de pequenos sinais e a sua análise em corrente alternada (CA) e em corrente contínua (CC), bem como é mostrada a simplificação que pode ser feita para ajudar na análise da operação do amplificador. Além disso, são apresentadas duas propostas para aumentar o U3 - Circuitos eletrônicos 102 ganho sem gerar distorção, que são os estágios em cascata e a realimentação do emissor com terra CA. Esperamos que você, aluno, faça bom proveito dos conceitos apresentados e que eles possam auxiliá-lo nos projetos de eletrônica e análise crítica na localização de defeitos. U3 - Circuitos eletrônicos 103 Seção 1 Circuitos com diodos 1.1 Semicondutores Introdução à seção O primeiro dispositivo eletrônico a ser apresentado é o diodo, ele é o dispositivo semicondutor mais simples, no entanto, exerce um papel fundamental em sistemas eletrônicos e equipamentos das mais diversas aplicações. Um pequeno componente que tem inúmeras aplicações. É utilizado em retificação de sinais, limitador de tensão, medição de tensão, proteção contra sobretensão, regulação de tensão, instrumentação, proteger motores, entre muitas outras. Como será possível ter tantas aplicações em diversas áreas? Isso se deve ao fato do diodo ser um semicondutor. E o que é um semicondutor? Um material semicondutor é aquele que não é classificado nem como isolante e nem como condutor, ou seja, não é um ótimo condutor de energia, como os materiais condutores, e nem um péssimo condutor, como os isolantes. O que define quanto um material pode conduzir ou não é a sua resistividade, conhecida pela letra grega ρ (rho) e a sua unidade é dada em Ω ⋅m ou Ω ⋅cm. A resistividade é inversamente proporcional à condutibilidade, enquanto um material condutor tem a sua resistividade baixa, um material isolante tem a sua resistividade alta, e de acordo com o material e suas dimensões se obtém a resistência por: R L A = ⋅ρ . Em que L é comprimento do material e A é a área de secção transversal desse material. Os materiais semicondutores mais utilizados na eletrônica são o silício (Si) e o germânio (Ge), e para exemplificar a diferença entre U3 - Circuitos eletrônicos 104 os condutores e os isolantes, no Quadro 3.1 são apresentados os valores aproximados de resistividade. Como pode ser visto, os valores de resistividade dessas três classes de materiais (condutor, semicondutor e isolante) são muito distantes umas das outras o que permite uma condutibilidade de energia “controlada” dos materiais semicondutores. Para um material condutor começar a conduzir energia, pelo fluxo de elétrons, é necessário aplicar uma fonte com pequena energia entre seus terminais, como um fio que transporta corrente, ao se aplicar uma tensão, por menor que seja, aparecerá uma corrente nesse fio. Já para o material isolante, ao aplicar uma fonte de energia, ele não conduzirá essa energia. No entanto, há um limite para essa não condução, por exemplo, os eletricistas de concessionárias de energia usam luvas isolantes para realizar manutenção nos fios energizados, e cada luva tem uma classe de isolamento, algumas de 15 mil Volts, outras 25 mil Volts. Se a luva de classe de 15 mil Volts for usada para manutenção nos fios de 25 mil Volts, certamente o material isolante romperá e conduzirá energia. No material semicondutor é possível controlar, com um nível baixo de tensão, a sua condução ou não, como será visto nos diodos semicondutores e transistores, mais adiante. Fonte: elaborado pelo autor. Quadro 3.1 | Valores de resistividade de alguns materiais Material Resistividade Cobre (condutor) ρ ≅ × ⋅−1 7 10 6, Ω cm Alumínio (condutor) ρ ≅ × ⋅−3 0 10 6, Ω cm Germânio (semicondutor) ρ ≅ ⋅ ⋅101 Ω cm Silício (semicondutor) ρ ≅ × ⋅50 103Ω cm Mica (isolante) ρ ≅ ⋅1012Ω cm Vidro (isolante) ρ ≅ ⋅1014Ω cm U3 - Circuitos eletrônicos 105 1.2 Dopagem Devido à posição do silício e do germânio na tabela periódica, eles detêm a característica de formarem cristais com alto nível de pureza e por isso são muito utilizados na fabricação de semicondutores. Essa característica facilita o fluxo de elétrons por causa da sua forma cristalina, ficando conhecido como semicondutorintrínseco. Apesar dessa estrutura de cristalina ter boas características para a movimentação dos elétrons, em algumas aplicações o semicondutor intrínseco não tem elétrons livres suficientes para produzir uma corrente que seja utilizável. Para aumentar a disposição de cargas para se movimentarem dentro do semicondutor, é realizado o processo de dopagem, que consiste em adicionar impurezas na sua estrutura interna, liberando cargas na banda de valência, passando a ser conhecido como semicondutor extrínseco. Há dois tipos de semicondutores extrínsecos, o material do Tipo n e o material do Tipo p. 1.2.1 Material Tipo n A dopagem é uma técnica que tem o intuito de colocar impurezas na estrutura cristalina do semicondutor extrínseco para aumentar, no caso do tipo n, os elétrons livres. Ao se colocar um átomo de um elemento com um elétron que não faz ligação covalente na estrutura, sobra essa carga com mobilidade para se movimentar pela estrutura, a dopagem é realizada de modo controlado para introduzir um número predeterminado de átomos, no caso do silício é 1 átomo de dopagem para 1012 átomos de silício. Para o material tipo n são acrescentados átomos pentavalentes (com cinco elétrons de valência), produzindo assim um elétron livre, fazendo com que o material fique levemente negativo (tipo n). Os elementos mais comuns usados na dopagem são o arsênio, o antimônio e o fósforo. 1.2.2 Material Tipo p No caso dos materiais do tipo p, são acrescentados átomos trivalentes, com três átomos de valência, deixando um espaço U3 - Circuitos eletrônicos 106 vazio na estrutura, conhecido como lacuna, fazendo com que o material tenha uma pequena carga positiva (tipo p). Os elementos mais utilizados na dopagem do tipo p são o alumínio, o boro, o gálio e o índio. 1.3 Diodo semicondutor Ao se juntar um material do tipo n e outro do tipo p em uma pastilha, por um processo de fabricação específico, surge o diodo semicondutor. Ele possui algumas características que permitem a sua utilização em diversas aplicações, como conversão de corrente alternada (C.A.) em corrente contínua (C.C.), isolação de pequenos sinais (fotodiodos), conversão de energia elétrica em luminosa e vice-versa (LED e células fotocondutivas), entre outras. O símbolo do diodo e seus terminais são apresentados na Figura 3.1. O diodo é composto por dois terminais, o ânodo e o cátodo. Em linhas gerais, o diodo age como uma chave fechada quando a corrente circula do ânodo para o cátodo e se comporta como uma chave aberta quando a corrente circula do cátodo para o ânodo. Esse controle entre condução ou não é dado pela região de depleção do diodo, que aparece na junção dos dois materiais (tipo n e tipo p), como mostra a Figura 3.2. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.1 | Símbolo do diodo e sua equivalência de região p e n U3 - Circuitos eletrônicos 107 Na região p e n, os átomos estão eletricamente neutros, fazendo com que as cargas livres caminhem até a junção, não atravessando-a, surgindo a camada de depleção. A região, ou camada de depleção, é formada pelas cargas que não se recombinaram. Ela serve como uma barreira que impede o fluxo contínuo de elétrons pelo diodo. Quando o diodo é polarizado diretamente, as cargas começam a se recombinar e a partir de um certo valor de tensão começam a conduzir. Esse valor de tensão produz uma queda de 0,7 V para o silício e de 0,3 V para o germânio. Há duas formas de polarizar um diodo, a polarização direta e a polarização reversa. 1.3.1 Polarização direta (V D >0) Ao polarizarmos o diodo com uma fonte de tensão, como na Figura 3.3, em que o terminal positivo da fonte está ligado ao material do tipo p do diodo e o terminal negativo da fonte está ligado ao material do tipo n do diodo. Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.2 | Junção dos materiais n e p Figura 3.3 | Polarização direta de um diodo U3 - Circuitos eletrônicos 108 As cargas positivas, ou lacunas, caminham até a camada de depleção e se recombinam com os elétrons e as cargas negativas, elétrons, caminham do terminal negativo da fonte e se recombinam com as lacunas na camada de depleção. A recombinação ocorre até um certo nível de tensão e a partir dessa tensão o diodo se comporta como uma chave fechada, conduzindo corrente do ânodo para o cátodo. Essa tensão é a barreira de potencial, conhecida também como tensão de polarização do diodo. Abaixo dessa tensão nada ocorre com o diodo, pois não há elétrons e lacunas suficientes para se recombinarem. 1.3.2 Polarização reversa (V D <0) Ao invertermos a polaridade da fonte de tensão em relação à polarização direta, fazendo com que V D seja negativo, como mostra a Figura 3.4, o diodo estará polarizado reversamente. Nessa condição, as cargas positivas caminharão e se acumularão na camada de depleção do lado n e os elétrons irão se acumularão no lado p, ampliando a camada de depleção e se comportando como um circuito aberto. Esse aumento da tensão reversa pode chegar até um valor máximo. Ao passar esse valor, a camada de depleção se rompe, Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.4 | Polarização reversa do diodo U3 - Circuitos eletrônicos 109 Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.5 | Circuito de operação do diodo Figura 3.6 | Gráfico do Diodo L D em função de V D acontecendo o chamado efeito avalanche, em que o diodo permite a condução de corrente elétrica mesmo polarizado reversamente, isso é considerado na prática como a queima do diodo. O limite para essa tensão reversa é chamado de tensão de ruptura e acima do valor de tensão de ruptura, o diodo pode vir a queimar em aberto ou em curto, sendo necessário que o diodo opere abaixo dessa tensão. 1.3.3 Gráfico do diodo Ao estudar a polarização e montar um circuito com uma fonte de tensão variável, um diodo e um resistor em série, como a Figura 3.5, é possível construir o gráfico de operação do diodo. Ao variar a tensão da fonte de valores negativos até valores positivos, e medindo a corrente que passa pelo diodo, é possível construir um gráfico da corrente em função da tensão, mostrado na Figura 3.6. U3 - Circuitos eletrônicos 110 Na região de polarização direta, a partir de uma certa tensão, conhecida como Tensão de Joelho ou Tensão de Polarização (VD), a corrente começa a subir, mostrando a condução do diodo. Para tensões negativas, região da polarização reversa, surge uma pequena corrente reversa, conhecida como corrente de fuga. No momento em que o diodo atinge a tensão de ruptura, a sua corrente aumenta indefinidamente, levando à queima, por isso, ao se utilizar um diodo em um projeto é necessário que ele opere entre a tensão de ruptura e a tensão de joelho. Para a maioria das aplicações é considerado que a corrente de fuga no diodo é inexistente devido ao seu valor extremamente pequeno. 1.3.4 Circuito equivalente do diodo Pelo fato do diodo não ser um elemento linear, o seu comportamento depende de muitos fatores, os quais são difíceis de serem modelados matematicamente. Para circuitos com diodos são realizadas aproximações que, de acordo com a sua aplicação, o resultado fica próximo do seu verdadeiro comportamento. Na eletrônica há três aproximações para os diodos. 1. Primeira aproximação: diodo ideal O diodo real conduz corrente muito bem no sentido de sua polarização direta, do ânodo para o cátodo, e conduz corrente precariamente no sentido reverso. Esse comportamento pode ser aproximado para um diodo ideal, em que ele age como chave fechada, conduzindo corrente na polarização direta e como uma chave aberta na polarização reversa, como mostra a Figura 3.7. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.7 | Primeira aproximação do diodo U3 - Circuitos eletrônicos 111 Essa aproximação é ideal para a compreensão do funcionamento de circuitos com diodos e identificar o comportamento esperado do circuito. 2. Segunda aproximação: diodo simplificado Emanálises de sinais de pequenas amplitudes, o diodo ideal pode inserir uma distorção no resultado, cabendo uma segunda aproximação que consiste em se modelar junto ao diodo uma fonte de tensão que simboliza a queda de tensão da camada de depleção (VD), como mostra a Figura 3.8. No sentido da polarização direta há uma queda de tensão de VD (para o diodo de silício V D =0,7 V e para o de germânio V D =0,3 V), em que a corrente só circula quando a tensão aplicada no ânodo for maior que a tensão da camada de depleção. No sentido da polarização reversa, o diodo continua se comportando como uma chave aberta. 3. Terceira aproximação: diodo linear por partes Ao fazer a linearização ponto a ponto do gráfico do diodo da corrente em função da tensão (Figura 3.6), é obtido o modelo do circuito dado pela Figura 3.9. Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.8 | Segunda aproximação do diodo Figura 3.9 | Terceira aproximação do diodo U3 - Circuitos eletrônicos 112 O valor da resistência R av , intrínseca ao diodo, é representada pela resistência de corpo e resistência externa dos contatos. Em muitos casos esse valor de resistência pode ser desprezado devido ao seu baixo valor. Na eletrônica, a segunda aproximação é a mais utilizada, e é a que será utilizada ao longo das nossas análises com diodo, a menos que seja feita alguma indicação em contrário. 1.3.5 Diodos em tensão contínua Para resolver circuitos com diodos em tensão contínua, é necessário verificar qual o caminho que a corrente segue, de acordo com a polarização do diodo e assim considerar a queda de tensão no diodo V D . Para exemplificar, observe o circuito da Figura 3.10. Analisando o circuito da primeira malha, que passa por D 1 e R 1 , como mostrado no circuito da Figura 3.11(a) é gerado a corrente I 1 . Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.10 | Exemplo de circuito com diodo em corrente contínua Figura 3.11 | (a) Corrente passando pela primeira malha e (b) corrente passando pela segunda malha U3 - Circuitos eletrônicos 113 Para a corrente existir no circuito, é necessário que ela comece pela fonte de tensão no terminal positivo (barra maior de V IN ) e termine o seu percurso no terminal negativo (barra menor de V IN ). Na Figura 3.11(a), a corrente I 1 passa pelo diodo D 1 e pelo resistor R 1 retornando à fonte de tensão V IN , completando o circuito. Na Figura 3.11(b), a corrente I 2 chegaria no cátodo do diodo e não passaria por D 2 , pois ele se comporta como uma chave aberta, não terminando o caminho do circuito. Então no circuito da Figura 3.11 só há corrente na resistência R 1 , e não há circulação de corrente em R 2 . Então da primeira malha, a análise do circuito pelas quedas de tensão é dada por: V V R IIN D− − ⋅ =1 1 0 I V V R IN D 1 1 = − 1.3.6 Diodo em corrente alternada (C.A.) Até esse ponto, foi estudado o comportamento do diodo com alimentação de uma fonte de tensão contínua. Uma das formas de fornecimento de tensão contínua é através de baterias de processo químico, como as baterias de ácido-chumbo dos carros. No entanto, a energia elétrica que chega em nossas casas advém das concessionárias de energia, no formato conhecido como tensão alternada, ou tensão CA. Nesse caso, a tensão tem o formato de uma onda senoidal, a qual possui meio ciclo positivo (+) e meio ciclo negativo (–) e a frequência (inverso do período T) é de 60 Hz. Isso quer dizer que esse formato de onda se repete por 60 vezes em um segundo, como mostra a Figura 3.12. U3 - Circuitos eletrônicos 114 Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.12 | Formato de onda senoidal Figura 3.13 | Circuito com transformador A tensão nominal obtida da tomada varia de 115 V até 254 V, dependendo da região do Brasil. Você sabia que essa tensão não é a tensão de pico? A tensão que é fornecida da rede elétrica é dada em seu valor de Tensão RMS, e a relação da tensão RMS e a de pico é dada pela equação (3.1). V Vpico RMS= ⋅ 2 (3.1) Então, para uma tensão de 127 V RMS , a tensão de pico é de V = 179 V PICO . Como esse nível de tensão é muito alto para ser usado na eletrônica, é necessário fazer a conversão desses valores para valores de extra-baixa tensão que não oferece perigo aos usuários. Os valores mais usuais na eletrônica são de 24 V, 18 V, 12 V, 9 V e 6 V. Para fazer esse abaixamento de tensão são utilizados transformadores, que convertem tensão de baixa tensão em extra-baixa tensão. O símbolo de um transformador é mostrado na Figura 3.13. U3 - Circuitos eletrônicos 115 O transformador faz essa conversão, de uma tensão mais alta para uma tensão mais baixa pela relação de transformação das espiras enroladas no seu núcleo de ferrite, no entanto, o transformador não altera o formato de onda da entrada, ou seja, se é aplicado uma onda senoidal na entrada, na saída será uma onda também senoidal de mesma frequência, só com a amplitude menor do que da entrada. O primário é o terminal ligado na fonte de tensão vinda da tomada e o secundário é o terminal ligado nos circuitos eletrônicos. Essa conversão é realizada por um circuito retificador com filtragem e regulagem. A primeira etapa dessa conversão é a retificação de sinais, usada também em outras aplicações de tratamento de sinais. 1.4 Retificadores Os diodos são amplamente utilizados na conversão de energia de corrente alternada (sistema de transmissão de energia elétrica) para corrente contínua (utilizada em quase todos os equipamentos de nossas casas), e isso é realizado por um processo que é chamado de Retificação de Sinais. Há três processos de retificação, a Retificação de Meia Onda, de Onda Completa com tap central e de Onda Completa em Ponte. Para a simplificação das análises será considerado o diodo ideal nos gráficos de tensão de saída. Questão para reflexão Se a tensão que chega em nossas residências é alternada, como é feita essa conversão em tensão contínua? U3 - Circuitos eletrônicos 116 Quando a tensão da fonte do circuito da Figura 3.14(a) está no semiciclo positivo, o diodo age como uma chave fechada fazendo com que a corrente circule pela carga, replicando a onda da tensão da entrada na carga, mostrado na Figura 3.14(b). No semiciclo negativo, o diodo bloqueia a corrente, não permitindo que a corrente termine o circuito, deixando o circuito em aberto, e a tensão na carga é igual a zero. Uma das medidas importantes a serem realizadas nos circuitos de retificação é a tensão média, para os retificadores de meia onda a tensão média (VCC ) é dada pela equação (3.2). V VCC pico= ⋅0 318 2, ( ) (3.2) Em que V2(pico) é a tensão de pico do secundário do transformador. Essa tensão é chamada de CC porque é o valor que o voltímetro CC indica, medindo a tensão contínua sobre a carga, que é obtida pelo deslocamento vertical da onda senoidal retificada, em que para cada formato de onda tem um valor. (a) (b) Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.14 | (a) Retificador de meia onda e (b) seu gráfico da entrada e da carga 1.4.1 Retificador de meia onda A retificação de meia onda é dada pela conversão da tensão alternada (positiva e negativa) em uma tensão CC pulsante, que dependendo do ciclo pode ser positiva ou zero, sobre uma certa carga, como mostra a Figura 3.14. U3 - Circuitos eletrônicos 117 Para um diodo simplificado (segunda aproximação), a tensão média seria dada pela equação (3.3), onde é descontado o valor da tensão de condução do diodo. V V VCC pico D= ⋅ −0 318 2, ( )( ) (3.3) Em que VD é a queda de tensão do diodo quando polarizado diretamente. Uma limitação do diodo é a corrente média que o diodo pode aguentar ao passar por ele, conhecida como ICC. Esse valor é obtido pela Lei de Ohm, da equação (3.4). I V RC CC L = (3.4) Em que R L é ovalor da resistência da carga do circuito. No retificador de meia onda, toda a corrente ICC passa pelo diodo, sendo necessário em um projeto escolher o diodo adequado com as necessidades do projeto, consultando a corrente máxima que ele suporta. A tensão CC é diferente da tensão R MS , que no caso do retificador de meia onda é dada pela equação (3.5). V VRMS pico= ⋅0 5 2, ( ) (3.5) Uma outra limitação dos diodos é a Tensão de Pico Inversa (PIV ou PRV), que é a tensão que ele pode suportar até a sua ruptura, lembrando que após a tensão de ruptura ele pode queimar e perder suas características. A tensão negativa de pico da fonte tem que ser menor do que a tensão PIV que o diodo pode suportar. Como esse retificador tem apenas um diodo, então na inversão da polarização a tensão PIV é igual a tensão de alimentação do secundário do transformador, ou seja, PIV V pico= 2( ) Essas informações de limitação podem ser consultadas, para cada diodo, na sua folha de dados conhecida também como datasheet. 1.4.2 Retificador de onda completa Ao usar o TAP central do secundário de um transformador é possível construir um retificador de onda completa, como mostrado na Figura 3.15. U3 - Circuitos eletrônicos 118 A tensão entre os terminais A e B, nas pontas do secundário do transformador, é a tensão total V 2(pico) , agora como se está usando o TAP central, cada circuito com diodo recebe metade da tensão do transformador, como mostra a equação (3.6). V V Vc a pico pico AB picoarg ( ) ( ) ( ), ,= ⋅ = ⋅0 5 0 52 (3.6) No semiciclo positivo a tensão passa pelo diodo D1, é bloqueado pelo diodo D2, passando por R CARGA e terminando o circuito, sendo que a corrente entrou pelo lado positivo da carga. Já no semiciclo negativo, a tensão passa agora pelo diodo D2, é bloqueado por D1 e termina o circuito passando pela carga e entrando também pelo lado positivo da carga. Pelo fato de, em ambos os ciclos, a corrente entrar na carga pela mesma polaridade, os dois semiciclos de saída têm a mesma posição, no caso, positivos, só que a tensão máxima da carga é a metade da tensão de pico do secundário, como mostra a Figura 3.15(b). Na equação (3.7) é mostrada a tensão CC do retificador de onda completa com TAP central. V V VCC c a pico pico= ⋅ = ⋅0 636 0 318 2, ,arg ( ) ( ) (3.7) Lembre-se de que a tensão de pico de saída é a metade do valor da tensão de pico do secundário do transformador, devido à ligação do tap central como referência de terra. A corrente média CC é a tensão média do retificador de onda completa sobre a resistência de carga, como cada diodo tem metade da tensão, então, a corrente CC sobre cada diodo é a metade da corrente CC total. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.15| (a) Retificador de onda completa e (b) seu gráfico da entrada e da carga (a) (b) U3 - Circuitos eletrônicos 119 A tensão RMS do retificador de onda completa é dada pela equação (3.8). V V VRMS c a pico pico= ⋅ = ⋅0 707 0 354 2, ,arg ( ) ( ) (3.8) A PIV será a tensão de pico do secundário, considerando a tensão total do transformador, ou seja: PIV V pico= 2( ) Para um diodo simplificado, é só considerar a queda de tensão de VD na carga. Como no caso do retificador de onda completa só um diodo é usado em cada semiciclo, então, é descontado somente uma vez a tensão de polarização do diodo. 1.4.3 Retificador de Onda Completa em Ponte Chamado por alguns autores apenas de Retificador em Ponte, ele usa quatro diodos para a retificação do sinal alternado. É a topologia mais utilizada, pois alcança a tensão de pico de um retificador de meia onda e o valor médio mais alto de um retificador de TAP central. A topologia do retificador em ponte é mostrada na Figura 3.16. Para analisar o funcionamento dessa topologia deve ser lembrado que o diodo conduz quando a tensão no ânodo é maior que a do cátodo. No período da onda senoidal de entrada positiva, a polaridade do circuito é mostrada na Figura 3.17(a). Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.16 | (a) Retificador em ponte e (b) seu gráfico da entrada e da carga (a) (b) U3 - Circuitos eletrônicos 120 Em nossa análise se adotará o diodo ideal. Com a polaridade da Figura 3.17(a), a corrente segue pelo diodo D3, sendo bloqueada pelo diodo D4, entrando na carga, e terminando o caminho por D2, fechando o circuito, como mostrado na linha pontilhada. Agora no semiciclo negativo da senoidal de entrada, o circuito adota a polaridade como mostrada na Figura 3.17(b). Seguindo a mesma lógica, a corrente primeiramente passa por D4, entra pela carga e termina o circuito passando por D1. Como pode ser visto, a corrente nos dois casos entrou pela mesma polaridade da carga, gerando o gráfico de saída, como mostrado na Figura 3.16(b). Para um diodo ideal, a tensão da entrada é a mesma da saída. Para o caso do diodo simplificado, como que em cada semiciclo, a corrente passou por dois diodos, então, a tensão da saída será a tensão da entrada menos a queda de tensão de dois diodos (equação 3.9), que para o diodo de silício a tensão de saída será a tensão de entrada descontada de 1,4 V. V V VCARGA D= − ⋅2 2 (3.9) A tensão CC é dada pela equação (3.10): V V VCC c a pico pico= ⋅ = ⋅0 636 0 636 2, ,arg ( ) ( ) (3.10) Em que a tensão de pico é a tensão total do secundário do transformador. A tensão RMS da carga no retificador em ponte é dada pela equação (3.11). Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.17 | (a) Circulação de corrente no semiciclo positivo e (b) de corrente no semiciclo negativo (a) (b) U3 - Circuitos eletrônicos 121 V VRMS pico= ⋅0 707 2, ( ) (3.11) A tensão que cada diodo terá que suportar na polaridade reversa será a mesma tensão de entrada, como mostra a equação que segue: PIV V pico= 2( ) Devido à grande utilização do retificador em ponte, há alguns circuitos com quatro diodos em um único módulo, selados hermeticamente interligados e encapsulados em um único invólucro, tendo apenas dois pinos para entrada do secundário de um transformador e dois pinos para a saída da carga. A onda senoidal possui uma certa frequência, que no Brasil é a frequência de 60 Hertz (Hz). Como visto nos gráficos dos três retificadores, o retificador de meia onda tem em sua saída uma onda na mesma frequência da entrada, já para os retificadores de onda completa, enquanto o ciclo da entrada aconteceu uma única vez, a saída acontece duas vezes, dobrando a frequência da entrada. Para facilitar, é apresentado no Quadro 3.2 as principais características de cada retificador. 1.5 Filtragem Até aqui foi vista a tensão pulsada retificada, essa tensão pulsada poderia ser utilizada em um carregador de baterias, mas para ligar um rádio, um computador, uma TV, ainda não seria suficiente. Fonte: elaborado pelo autor. Quadro 3.2 | Principais características dos três retificadores Meia Onda Onda Completa Ponte Número de diodos 1 2 4 Tensão de pico de saída V pico2( ) 0 5 2, ( )⋅V pico V pico2( ) Tensão CC de saída 0 318 2, ( )⋅V pico 0 318 2, ( )⋅V pico 0 636 2, ( )⋅V pico Tensão RMS V VRMS pico= ⋅0 5 2, ( ) V VRMS pico= ⋅0 354 2, ( ) V VRMS pico= ⋅0 707 2, ( ) Corrente CC do diodo ICC 0 5, ⋅ ICC 0 5, ⋅ ICC Tensão de pico reversa (PIV) V pico2( ) 0 5 2, ( )⋅V pico 0 5 2, ( )⋅V pico Frequência da ondulação fENT 2 ⋅ fENT 2 ⋅ fENT U3 - Circuitos eletrônicos 122 Para eliminar essa onda pulsante de tensão, dada nas saídas dos retificadores, é necessário armazenar a energia de alguma forma para que quando a tensão comece a diminuir, a energia armazenada fosse descarregada na carga, procurando manter uma tensão de saída constante. O elemento que faz isso são os filtros, como o capacitor que armazena cargas elétricas e quando a tensão de entrada diminui, ele se descarrega sobre a carga, como mostra a Figura 3.18, em que a tensão pulsante Vin está em tracejado e a tensão após o capacitorVout está em linha contínua. Na Figura 3.18(a) é apresentada a tensão de saída de um retificador de meia onda e na Figura 3.18(b) é apresentada a saída dos retificadores de onda completa, que depois de ter atingido o nível de +Vp, a sua tensão começa a cair, e é então que o capacitor entra em ação. Como o capacitor começa a perder a sua carga, a tensão nos seus terminais começa a cair até que a tensão da fonte volte a ser maior que a tensão do capacitor e carregue o capacitor novamente, repetindo o ciclo. No caso exemplificado, o capacitor não descarrega totalmente porque a constante de tempo de descarregamento é muito maior que o período T da senoidal. Essa constante de tempo é dada pela equação (3.12). T C RC CARGA= ⋅ (3.12) Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.18 | Tensão de saída do retificador de meia onda. (b) Saída do retificador de onda completa (a) (b) Questão para reflexão Como fazer para obter uma onda contínua, ou que se aproxime de um sinal contínuo? A ideia é armazenar carga e fornecer essa carga quando a tensão começar diminuir, você consegue imaginar como fazer isso? U3 - Circuitos eletrônicos 123 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.19 | Retificador de onda completa em ponte com filtro capacitivo Para se obter um tempo de descarregamento grande, o produto da equação (3.12) mostra que o valor da capacitância tem que ser alto, no entanto, isso pode implicar em corrente de surto na carga, o que pode ocasionar estragos na filtragem do sinal. A tensão da carga nesse ponto é quase uma onda contínua, só que há uma pequena oscilação que é causada pela descarga e carga do capacitor. Essa oscilação é conhecida como Tensão de Ripple e é dada pela equação (3.13). V I f CRIPPLE CC= ⋅ (3.13) Em que I CC é a corrente que a carga drena da fonte, f é a frequência dos pulsos e C é a capacitância do capacitor do filtro. Lembrando que para os retificadores de onda completa, a frequência é o dobro quando comparado ao sinal senoidal e do retificador de meia onda. Por exemplo, para a frequência da onda senoidal de 60 Hz, a frequência dos pulsos de um retificador de meia onda será também 60 Hz e nos retificadores de onda completa será de 120 Hz. A retificação em ponte, da Figura 3.19, é a mais utilizada em projetos. Quanto maior a capacitância do capacitor, maior será a constante de tempo de carregamento, e isso pode gerar uma correte excessiva chamada de corrente de surto. 1.5.1 Corrente de surto No instante que o circuito é energizado, o capacitor está descarregado e se comporta como um curto, fazendo com que U3 - Circuitos eletrônicos 124 a corrente inicial seja muito grande, conhecida como corrente de surto. A corrente de surto depende do valor da tensão de pico do secundário, das resistências internas do diodo e do enrolamento do transformador vista pelos terminais do capacitor, obtida pela resistência de Thevenin (RTH), que é dada pela equação (3.14). I V RSURTO pico TH = 2( ) (3.14) A corrente de surto começa a diminuir com o carregamento do capacitor, e os diodos, dentro de certo limite, são fabricados para aguentar essa corrente sendo que os seus limites são dados nos datasheets, apresentado como I SURTO , I FM(surto) ou I FSM . O maior problema está no fato do capacitor ter uma capacitância muito grande e demorar muito para se carregar, fazendo com que essa corrente de surto permaneça alta por alguns ciclos, podendo danificar o diodo. Para resolver esse problema de corrente de surto, coloca-se um resistor de surto, geralmente de resistência ôhmica baixa e potência alta, como mostrado na Figura 3.20. Para os casos em que é necessária uma alta corrente na carga, a ondulação de descarregamento do capacitor varia bastante, e para resolver esse problema de alta corrente de surto são realizados filtros RC e LC em seções, como mostra a Figura 3.21(a) e (b). Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.20 | Retificador de onda completa com resistência de surto U3 - Circuitos eletrônicos 125 No Filtro RC, da Figura 3.21(a), o resistor R é pelo menos 10 vezes maior que a impedância capacitiva X c na frequência de ondulação, fazendo com que a ondulação seja atenuada por R ao invés de ser atenuada pela carga. A desvantagem desse filtro é a perda de tensão através de cada resistor R, sendo adequada a sua utilização apenas para resistência de carga alta. Já o filtro LC, da Figura 3.21(b) é utilizado quando a corrente de carga é muito alta e o indutor é usado para suprir essa corrente alta para a carga. Isso é conseguido fazendo X L muito maior que X c na frequência de ondulação. Atualmente, o filtro LC é pouco utilizado, tornando-se obsoleto devido às grandes dimensões e ao custo dos indutores. Nas fontes de alimentação de baixa tensão, o filtro LC vem sendo substituído por reguladores de tensão e filtros ativos que reduzem a ondulação e mantêm a tensão CC constante na saída. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.21 | (a) Filtro RC. (b) Filtro LC (a) (b) U3 - Circuitos eletrônicos 126 Para saber mais Diodos retificadores - O que são e como utilizar O vídeo apresenta de forma divertida as características gerais e principais aplicações dos diodos. São dados exemplos práticos de funcionamento do dispositivo, em que os circuitos de exemplo são montados em protoboard, expondo o que é possível ser feito com os diodos mais simples, os retificadores. Disponível em: <https:// youtu.be/HHryJ1K5ppA>. Acesso em: 2 abr. 2017. 1.6 Diodo zener Como mostrado no gráfico da Figura 3.6, o diodo possui uma tensão de ruptura, conhecida também como tensão zener, e como visto, não é bom o diodo semicondutor operar nessa região, pois ele pode danificar-se. No entanto, foi criado um outro componente que opera somente nessa região, conhecido como diodo zener. O diodo zener é um diodo otimizado para trabalhar na região de ruptura, usado em reguladores de tensão, pois mantém a tensão da carga praticamente constante, apesar das variações na tensão de entrada e da resistência da carga. O símbolo do diodo zener é dado pela Figura 3.22(a) e é diferenciado do diodo semicondutor pelo fato do terminal cátodo lembrar a letra “z”, representando zener. É possível produzir diodos com valores de tensão zener de 2 V até 200 V, e isso se consegue aumentando o nível de dopagem. U3 - Circuitos eletrônicos 127 1.6.1 Funcionamento do diodo zener O diodo zener opera em estado ligado ou desligado. Para a operação no estado ligado, a tensão em seus terminais tem que ser maior que a sua tensão zener, fazendo com que ele se comporte como uma fonte de tensão contínua, fixando o valor de sua tensão de saída no valor de tensão zener. No estado desligado, quando a tensão em seus terminais é menor que sua tensão zener, ele se comporta como um circuito aberto, como mostrado na Figura 3.22(c). As Figuras 3.22(b) e (c) consideram o diodo zener como ideal, no entanto, o modelo real dele tem uma resistência associada em série com o diodo zener. A potência dissipada no diodo zener é dada no seu datasheet e é obtida da equação (3.15). P V IZ Z Z= ⋅ (3.15) Como a tensão é fixa, pois é uma característica do próprio diodo zener, a potência é limitada pela corrente máxima que ele pode suportar. Os diodos zener têm potências que variam de ¼ W até mais de 50 W. Para explicar melhor o funcionamento do diodo zener, observe o circuito da Figura 3.23. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.22 | (a) Símbolo do diodo zener. (b) Diodo zener operando em estado ligado. (c) Diodo zener operando em estado desligado U3 - Circuitos eletrônicos 128 Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.23 | Regulador zener básico Figura 3.24 | (a) Diodo zener ligado. (b) Diodo zener desligado Nesse circuito a tensão de entrada V IN e a carga R L são fixas, e é necessáriodividir em duas etapas a análise. 1. Determinar o estado de funcionamento do diodo zener Para se verificar o estado do diodo zener, é preciso saber a tensão sobre o seus terminais, que é a mesma tensão da carga. Ao fazer um divisor de tensão, obtém-se a equação, V V R R R VL L L IN= = + ⋅ Se V VZ≥ o diodo zener está ligado e o circuito é mostrado na Figura 3.24(a), no entanto, se V VZ< o diodo zener está desligado, estado equivalente dado pela Figura 3.24(b). 2. Substituir o circuito equivalente e determinar as variáveis do circuito Para o circuito da Figura 3.24(b), não há interação com o diodo zener, não sendo necessária a análise desse caso. Já para o circuito da Figura 3.24(a), o zener está ligado e a tensão na carga é igual a U3 - Circuitos eletrônicos 129 Fonte: Marques (2012, p. 89). Figura 3.25 | Esquema de retificação do sinal alternado para contínuo Para estudar os reguladores de tensão, serão analisados dois casos, um em que a tensão de entrada V IN é fixa e a carga R L variável, e outro em que a carga R L é fixa e a tensão de entrada V IN variável. tensão zener, ou seja, V VL Z= . A corrente no diodo zener é achada pela Lei de Kirchhoff para correntes, ou seja, a corrente sobre o resistor R se divide na carga e no zener (equação 3.16), ou: I I IR Z CARGA= + , ou I I IZ R CARGA= − (3.16) Em que, I V RCARGA CARGA L = e I V R V V RR R IN CARGA= = − . Como dito, a variável mais importante é a potência que o diodo pode dissipar, e o valor achado deve ser menor que a potência especificada do diodo zener, dada na sua folha de dados por PZM. Os diodos zener são usados em aplicações como reguladores de tensão e como tensão de referência. 1.6.2 Regulador de tensão utilizando diodo zener Para tensões maiores que a necessária para ligar o diodo zener, a tensão na carga se mantém fixa em V Z , e isso chamamos de regulação de tensão ou estabilização de tensão, mais uma etapa da fonte de tensão linear, como mostrado no esquema da Figura 3.25. U3 - Circuitos eletrônicos 130 1. V IN fixa e R L variável Se a resistência de carga for muito pequena, para um certo valor de tensão de entrada, o diodo zener pode operar como desligado. Nesse caso, é necessário projetar o circuito limitado pelo valor mínimo da resistência de carga, do circuito da Figura 3.24(a). Usando a equação (3.17) que determina a tensão da carga, e isolando a resistência da carga, é possível calcular a resistência de carga mínima, como mostrado na equação (3.17) e (3.18). V V R R R VZ L L L IN= = + ⋅ (3.17) R R V V VL Z IN Z (min) = ⋅ − (3.18) Para qualquer valor maior que R L(min) o diodo zener entra em operação e a saída pode ser substituída por uma fonte V Z . Para o caso de uma R L muito pequena, a corrente suportada pelo zener pode ficar acima das suas especificações, para isso se calcula a corrente máxima para a carga dada, pela equação (3.19). I V R V RL L L Z L (max) (min) = = (3.19) Quando o zener está no estado ligado, a tensão e a corrente sobre ele continuam fixas, como mostram as equações (3.20) e (3.21). V V VR IN Z= − (3.20) I V RR R= (3.21) Como a corrente na resistência R é fixa, a corrente do diodo, dada pela equação (3.22), varia de acordo com a corrente da carga, e como a corrente no zener é limitada por um valor, dado pela sua folha de dados, a resistência de carga tem um valor máximo que pode ser adotada como mostrado na equação (3.23), ou seja: I I IL R Z(min) (max)= − (3.22) R V IL Z L (max) (min) = (3.23) U3 - Circuitos eletrônicos 131 E a partir desses dados é possível determinar a potência dissipada no diodo zener. O outro caso é quando se tem na entrada, do circuito do diodo zener, uma tensão variável para uma resistência de carga fixa. 2. R L fixa e V IN variável Quando o valor da resistência da carga é fixo e a tensão de entrada é variável, é preciso determinar a tensão mínima que liga o diodo, que é dada pela equação (3.24) em que se isola a tensão de entrada. V R R R VIN L L Z(min) ( ) = + ⋅ (3.24) Já a tensão máxima de entrada é limitada ao valor da corrente máxima do zener, ou seja: I I IR Z L(max) (max)= − . Como a tensão de entrada é a soma da tensão no resistor R e a tensão do zener, tem-se que a tensão máxima de entrada é dada pela equação (3.25). V I R VIN R Z(max) (max)= ⋅ + (3.25) Esse caso é utilizado quando se tem uma tensão obtida da filtragem de um retificador, como mostra a Figura 3.26, em que o objetivo é manter uma tensão CC constante e estável. Fonte: Boylestad (2004, p. 70). Figura 3.26 | Forma de onda gerada por um sinal retificado e filtrado U3 - Circuitos eletrônicos 132 Apesar do diodo zener ter as características de manter uma tensão fixa na saída, ainda há uma certa ondulação dada pela variação da corrente I D do gráfico, e para manter uma boa estabilidade algumas condições de projetos precisam ser satisfeitas, ou seja: R RZ L≤ ⋅0 01, Em que o R Z é a resistência zener e é dada pela folha de dados (datasheet). Se não for possível satisfazer essas duas condições, ou se implementa um pré-regulador zener, como na Figura 3.27, ou se usa um transistor, que será visto mais adiante, para se obter um regulador de tensão mais estável. Uma outra característica do diodo zener é o coeficiente de temperatura, em que a variação da temperatura da vizinhança do diodo zener traz uma variação na tensão zener. O coeficiente de temperatura de cada diodo zener é dado na sua folha de dados, e para aplicações em que é necessária uma tensão firme ao longo de uma extensa faixa de temperatura, o melhor é trabalhar com coeficientes mais próximos de zero. 1.7 Circuitos limitadores ou ceifadores Os circuitos limitadores, às vezes conhecidos como ceifadores, são utilizados para retirar tensões do sinal de entrada acima ou abaixo de um certo valor. Devido à essa característica, eles servem também para proteger circuitos de análise de sinais. Um exemplo de circuito ceifador é o retificador de meia onda, visto em retificação de sinais. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.27 | Pré-regulador zener alimentando o regulador de saída U3 - Circuitos eletrônicos 133 Como mostra a Figura 3.28, ao colocar uma onda quadrada na entrada, com valores negativos e positivos, na saída passará apenas a parte positiva do sinal, e, da mesma forma, ao colocar uma onda triangular positiva e negativa, na saída aparecerá somente o sinal positivo. Os circuitos que “ceifam” a parte positiva do sinal de entrada são chamados de ceifadores positivos, e os que “ceifam” a parte negativa são chamados de ceifadores negativos. Os ceifadores são divididos em duas categorias, de acordo com a sua topologia, que são os ceifadores em série, que possuem o diodo em série com a carga, e os em paralelo, que possuem o diodo em paralelo com a carga. Os ceifadores em série simples são divididos em dois tipos, o positivo e o negativo, têm a mesma topologia que os retificadores de meia onda e seu funcionamento segue a mesma lógica que dos retificadores de meia onda, observando que ao inverter o diodo (ceifador em série simples negativo), a onda de saída será pulso negativo. Há também os ceifadores em série polarizados nos quais é adicionado um sinal contínuo V, deslocando a onda de tensão de saída na direção vertical. Fonte: Boylestad (2004, p. 58). Figura 3.28 | (a) Circuito ceifador em série. (b) Sinal de entrada e de saída do ceifador em série (a) (b) U3 - Circuitos eletrônicos 134 Os ceifadores, considerando os diodos ideais, são apresentados na Figura 3.29. Os ceifadores em série simples têm o mesmo funcionamento que um retificador de meia onda, em que umdos semiciclos é eliminado. Agora para verificar o funcionamento de um ceifador polarizado, considere a Figura 3.30. No circuito da Figura 3.30(b), a princípio suponha que a tensão V = 0V e considerando que o diodo seja ideal, o funcionamento é o mesmo para os ceifadores não polarizados, em que só passa para a saída o semiciclo positivo. Ao aumentar a tensão V em 1 V, o diodo começará a conduzir quando a tensão de entrada for de -1 V, Fonte: Boylestad (2004, p. 62). Fonte: Boylestad (2004, p. 60). Figura 3.29 | Circuitos ceifadores em série simples e polarizados Figura 3.30 | (a) Sinal de entrada. (b) Ceifador em série polarizado. (c) Onda de saída= U3 - Circuitos eletrônicos 135 Fonte: Boylestad (2004, p. 63). Figura 3.31 | Circuitos ceifadores paralelos simples e polarizados pois para o diodo, a tensão que chega no seu ânodo é a soma da tensão de entrada VIN e da fonte V, e ele por ser ideal começará a conduzir quando a tensão no seu anôdo for 0 V. Isso faz com que seja deslocada a onda da tensão de saída para cima. Imaginando que a tensão de pico de entrada for de VIN = 20 V e a fonte V = 5 V, o diodo vai conduzir a partir de -5 V até a tensão de pico da entrada, deixando apenas de conduzir quando a tensão de entrada for menor que 5V negativo. Se o diodo for invertido, a análise do funcionamento segue a mesma lógica, invertendo apenas o sinal dos valores limitantes, ou seja, no exemplo da Figura 3.30 com diodo invertido, a saída será no semiciclo negativo e a tensão de pico da saída será a tensão de pico da entrada, descontando a tensão da fonte V. Os ceifadores em paralelo consistem em colocar em curto a saída, ou seja, quando a tensão for maior que a tensão do diodo na polarização direta, o diodo começa a conduzir e a saída será a tensão sobre os terminais do diodo, que no caso ideal é igual a zero. Os ceifadores em paralelo são mostrados na Figura 3.31. U3 - Circuitos eletrônicos 136 Analisando o ceifador paralelo simples positivo da Figura 3.32(a), quando a tensão é positiva, o diodo entra em condução, colocando o potencial terra na saída. Quando a entrada está no semiciclo negativo, o diodo bloqueia a tensão e na saída aparece o formato de onda do semiciclo negativo. Esses circuitos ceifadores necessitam que a resistência R afete o mínimo possível a tensão de saída, necessitando que seu valor de resistência seja cem vezes menor que a resistência da carga, garantindo uma fonte estável na entrada. Ao inverter o diodo, o resultado será o inverso do discutido, como pode ser acompanhado na Figura 3.31 que mostra todos os circuitos ceifadores. Nos ceifadores em paralelo polarizado, o ponto é verificar a condução do diodo, e o funcionamento segue a mesma lógica que o ceifador em série. É possível fazer associações de ceifadores em paralelo, limitando a tensão entre dois valores de tensão. Essa aplicação é muito utilizada em conversores de sinais analógicos- digitais e em microprocessadores para proteger contra queimas os componentes internos por sobretensão. Para analisar os circuitos ceifadores com diodos no modelo simplificado, aproximando-se mais da realidade, a análise é equivalente aos ceifadores polarizados, em que é colocado uma fonte de tensão VD com a polaridade da Figura 3.33. Fonte: Boylestad (2004, p. 61). Figura 3.32 | (a) Circuito ceifador em paralelo. (b) Sinal de entrada e de saída do ceifador em paralelo U3 - Circuitos eletrônicos 137 Como a implementação da fonte de tensão em série com o diodo não é prático, pois exigiria uma alimentação externa, então é utilizado em muitas aplicações diodos de silício em série (que cada diodo dá uma tensão de 0,7 V), ou diodos zener para se conseguir a tensão V que limitará a saída. Não há um limite para o número de diodos utilizados nos projetos para adquirir tensões desejadas, como mostra a Figura 3.34. Fonte: Boylestad (2004, p. 61). Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.33 | (a) Circuito ceifador considerando o diodo com a segunda aproximação. (b) Onda de entrada e saída Figura 3.34 | Circuito de compensadação com dois diodos 1.8 Circuitos grampeadores Como foi visto, o capacitor é um elemento que se carrega e armazena cargas, e quando necessário libera essa energia na forma de tensão. Os circuitos grampeadores têm o intuito de justamente armazenar carga em um capacitor e em um momento propício liberar essa energia, dependendo do controle do diodo. U3 - Circuitos eletrônicos 138 Os circuitos grampeadores podem ser divididos em dois tipos, o grampeador positivo e o grampeador negativo. Suponha que o tempo de carregamento do capacitor seja pequeno, ou seja, ele se carrega rapidamente, e o tempo de descarregamento seja muito grande, não dando tempo do capacitor perder sua carga totalmente. A Figura 3.35 mostra um grampeador positivo, em que no primeiro semiciclo negativo da tensão de entrada o diodo conduz, carregando o capacitor até o pico da tensão de entrada e colocando a saída em curto. Quando a tensão de entrada passa para o semiciclo positivo, o diodo deixa de conduzir, e a tensão da entrada aparece na saída, somada com a tensão de carregamento do capacitor. O capacitor se comporta como uma fonte de tensão quando o diodo está bloqueado, fazendo com que a mesma excursão de entrada (valor de pico a pico) seja transferida para a saída a partir do eixo zero, dando como valor máximo de V VSAÍDA pico= ⋅2 2( ) . No grampeador negativo, a lógica de funcionamento é a mesma do grampeador positivo. Em algumas aplicações é adicionada uma fonte de tensão com o diodo, fazendo com que na saída apareça uma tensão contínua, como mostra a Figura 3.36 com todos os circuitos grampeadores e seus efeitos. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.35 | Grampeador positivo U3 - Circuitos eletrônicos 139 Os circuitos grampeadores são amplamente utilizados em sinal de vídeo, em que é necessário somar uma tensão contínua ao sinal que sofreu um desacoplamento capacitivo, aplicação chamada de restaurador cc. 1.8.1 Circuitos detectores de pico Há dois tipos de circuitos detectores de pico, um que detecta apenas o pico de uma tensão e outro que detecta o valor de pico a pico. O circuito que detecta o valor de pico de tensão é mostrado na Figura 3.37. Fonte: Boylestad (2004, p. 66). Figura 3.36 | Cicuitos Grampeadores com entrada de onda quadrada U3 - Circuitos eletrônicos 140 Quando a tensão de entrada é positiva o diodo conduz, carregando o capacitor com o valor máximo da tensão de entrada. Quando a tensão de entrada sofre uma diminuição no seu valor, o diodo entrará em corte, pois a tensão do capacitor é maior que a tensão de entrada, e a tensão na saída será o pico da tensão do capacitor, mostrando o valor de saída do último pico de tensão atingido. Para isso, é necessário que o tempo de descarregamento seja muito grande. A Figura 3.38 mostra um detector de pico a pico, que é formado por um circuito grampeador e um detector de pico. Como o sinal de entrada é grampeado positivamente, a entrada do detector de pico terá o valor de pico de 2 2 ⋅V pico( ) 2.V2(PICO) com uma pequena ondulação, devido à descarga do capacitor. Esse circuito de detector de pico a pico funciona como um voltímetro de sinal alternado, em que ele faz a leitura de toda a excursão do sinal. Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.37 | Circuito detector de pico Figura 3.38 | Circuito detector de pico a pico U3 - Circuitos eletrônicos 141 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.39 | Retificador em Ponte com resistor de surto Atividades de aprendizagem 1. Calcule a tensão de saída mínima e máxima (considerando a ondulação dada pelo capacitor) e a corrente de saída do circuito a seguir, para uma tensão RMS do secundário do transformador de 22,7 V, RSURTO = 5Ω, C = 1700 µF e RL = 30 Ω, para diodos de silício. 2. Considerando a saída do circuito do exercício anterior, para uma carga fixa e uma tensão de entrada variável,projete o regulador com diodo zener para ter uma saída de 20 V estável para uma carga de 1kΩ. Dados do zener: VZ = 20 V e IZM = 60 mA. U3 - Circuitos eletrônicos 142 Seção 2 Transistores bipolares de junção Introdução à seção Antes dos anos 1950, os equipamentos eletrônicos utilizavam grandes válvulas com bulbo de baixo brilho, consumindo muita potência com o seu aquecimento. Por isso, esses equipamentos à válvula exigiam fontes de tensão robustas e criavam grande quantidade de calor. Naquela época, os computadores ocupavam uma sala inteira e custavam milhões de dólares. Com a invenção do transistor, nos laboratórios da Bell Telephone, pelos doutores Shockley, Bardeen e Brattain, nos anos de 1950, foi revolucionado o conceito de eletrônica que conhecemos hoje em dia. O maior exemplo dessa mudança são os computadores, que além de custar, nos dias atuais, algumas centenas de dólares e, cabem em uma mochila, muito diferente dos computadores à válvula. A abreviação TBJ, Transistor Bipolar de Junção (em inglês, Bipolar Junction Transistor – BJT) é aplicada à um dispositivo de três terminais: coletor, base e emissor, que pode ser dopado como NPN ou PNP, como mostrado na Figura 3.40. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.40 | (a) Símbolo do diodo. (b) Esquema de um diodo NPN (a) (b) U3 - Circuitos eletrônicos 143 O transistor possui duas junções, uma entre o emissor e a base e outra entre a base e o coletor, e isso faz com que um transistor se assemelhe a dois diodos, os quais chamamos o diodo da esquerda (Figura 3.40(a)) de diodo emissor e o diodo da direita é o diodo coletor. No entanto, se forem ligados dois diodos discretos, um de costas para o outro, não se obtém um transistor porque cada diodo tem duas regiões dopadas, de modo que o circuito possui quatro regiões dopadas. Além disso, o emissor, a base e o coletor têm diferentes níveis de dopagem e tamanho, em que o coletor tem o maior tamanho em relação às outras partes do transistor, pois é nesse terminal que o calor gerado será dissipado. Como dito, há dois tipos de transistores, o NPN e o PNP que é complemento do NPN. A diferença do transistor PNP consiste em dizer que as correntes e as tensões envolvidas são opostas ao funcionamento de um transistor NPN, e para facilitar a explicação em nossos estudos nos concentraremos apenas no transistor NPN durante o decorrer desse capítulo. Assim como o diodo, os transistores mais utilizados são os de silício, pois fornecem especificações de tensão e correntes mais altas e menor sensibilidade à temperatura, mas há também o transistor de germânio. A diferença na análise do funcionamento está no fato de que as camadas de depleção formadas pela junção emissor-base e base-coletor para o silício à 25 °C é de 0,7 V e para o germânio é de 0,3 V. No decorrer dos nossos estudos adotaremos apenas o transistor de silício. 2.1 Polarizando o transistor Há três formas de se polarizar um transistor, e cada forma apresenta um comportamento distinto. Questão para reflexão Como há duas camadas de depleção, poderíamos substituir as regiões por dois diodos, um de costas para o outro. Se fizermos isso, os diodos se comportarão como um transistor? U3 - Circuitos eletrônicos 144 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.41 | (a) Polarização direta nas duas junções. (b) Polarização reversa nas duas junções (a) (b) Na Figura 3.41(a), a fonte de tensão V EE polariza diretamente o diodo emissor e a fonte de tensão V CC polariza diretamente o diodo coletor, com isso os elétrons livres entram no emissor e no coletor do transistor e juntam-se na base, fluindo através do terminal comum das duas fontes de tensão, fazendo com que as correntes do emissor e do coletor sejam grandes. Já na Figura 3.41(b) está outra forma de se polarizar o transistor, que é colocando os dois diodos reversamente polarizados, surgindo correntes reversas produzidas por causa da temperatura e por fuga superficial, com valores tão pequenos que são desprezíveis. Essas duas primeiras formas de polarização são raramente utilizadas nos circuitos lineares, pois não têm nenhuma característica incomum. Agora, se polarizarmos o transistor da forma mostrada pela Figura 3.42, polarizando o diodo emissor diretamente e o diodo coletor reversamente, acontece algo inesperado. Espera-se que haja uma grande corrente no emissor, e isso acontece, mas no coletor se espera que não haja corrente, no entanto, a corrente do coletor é tão grande quanto a corrente no emissor. U3 - Circuitos eletrônicos 145 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.42 | Diodo emissor polarizado diretamente e diodo coletor reversamente Isso acontece porque no instante em que o diodo emissor é polarizado diretamente, os elétrons do emissor ainda não penetraram na região da base. Quando V EE é maior que o potencial da barreira de depleção (0,7 V para os de silício), os elétrons penetram na região da base e podem fluir em qualquer uma das duas direções: descendo pela base que é fina, surgindo a corrente de recombinação, ou passando para a região do coletor, fluindo pelo terminal externo do coletor, chegando no terminal positivo da fonte de tensão V CC . Na maioria dos transistores, mais de 95% dos elétrons injetados pelo emissor fluem para o coletor e apenas 5% preenchem as lacunas da base e fluem através do terminal externo da base. 2.2 Variáveis importantes 2.2.1 Alfa CC Por causa do fato de 95% dos elétrons injetados pelo emissor fluírem para o coletor, isso implica que a corrente do emissor seja aproximadamente igual a corrente do coletor. O alfa cc de um transistor é a variável que indica o quanto essas duas correntes se aproximam uma da outra, sendo definido de acordo com a equação 3.26. αCC C E I I = (3.26) U3 - Circuitos eletrônicos 146 Quanto mais fina for a base, mais o αCC se aproximará da unidade. Praticamente todos os transistores têm um αCC maior que 0,95 e por essa razão a corrente de emissor pode ser dita que é igual a corrente de coletor. 2.2.2 Beta CC Os transistores são utilizados como circuitos amplificadores, em que a entrada é amplificada na saída, e esse ganho é dado pela relação entre as correntes de coletor e da base, como mostrado na equação (3.27). βCC C B I I = (3.27) O valor de βCC pode variar de 50 a mais de 400, podendo chegar em alguns transistores na ordem de 1000. Nas folhas de dados, o βCC é lido como hFE em que o índice FE significa, respectivamente, amplificação de corrente direta (forward) e da configuração emissor-comum, que será apresentada mais adiante. 2.2.3 Tensões de ruptura Uma outra variável a ser considerada nos projetos é a tensão de ruptura nas polarizações do transistor. Como o transistor é formado por dois diodos (lembrando que não produz o mesmo efeito que dois diodos discretos em um circuito), a tensão reversa tem um limite de ruptura, que depende da largura da camada de depleção e dos níveis de dopagem. Devido ao alto nível de dopagem do emissor, a tensão β ⋅VBE é baixa, já como o coletor é menos densamente dopado, a tensão de ruptura é mais alta. Essas tensões são dadas na folha de dados do transistor. Para a maioria das aplicações, o diodo coletor é polarizado reversamente, e quando a tensão coletor-base V CB é grande demais, o diodo coletor pode ser danificado por dissipação excessiva de potência, que é uma outra variável obtida das folhas de dados dos transistores, de acordo com o seu fabricante. U3 - Circuitos eletrônicos 147 2.3 Configurações básicas Há três polarizações em que os transistores podem ser utilizados, que são Base Comum (BC), Emissor Comum (EC) e Coletor Comum (CC), nos quais o termo comum se refere ao terminal que é comum tanto na entrada quanto na saída, como mostrado na Figura 3.43, com os três tipos de polarizações. Devido ao fato da polarização de emissor comum ser a mais utilizada emaplicações, os fabricantes apresentam as curvas relacionadas a esse tipo de polarização, e a partir dessa polarização serão explorados os gráficos de operação. 2.3.1 Configuração emissor comum A polarização do transistor mais utilizada é a configuração emissor comum, sendo o terminal emissor comum em relação aos Para saber mais Como usar a folha de dados (datasheet) Saber ler um datasheet é algo primordial a um engenheiro, assim como conhecer os seus pormenores e saber extrair deles a informação necessária. Acompanhe na web um artigo que mostra a forma que deve ser lido um datasheet e os locais onde ele pode ser encontrado. Ao final do artigo são listados outros três artigos que dão mais informações de como deve ser feita a leitura de uma folha de dados e os principais pontos que se deve ter atenção. Disponível em: <http://www.newtoncbraga.com.br/index.php/ ingles-para-eletronica/548-datasheet-como-usar-o-quadro-de- busca>. Acesso em: 2 abr. 2017. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.43 | (a) Polarização de Base Comum. (b) Polarização de Emissor Comum. (c) Polariação de Coletor Comum U3 - Circuitos eletrônicos 148 terminais de entrada (base) e de saída (coletor), como mostrado na Figura 3.44. O funcionamento desse circuito se dá quando V BB for maior do que 0,7 V, o emissor injeta elétrons na base, e como a base é fina os elétrons passam para o coletor, fluindo para a fonte externa V CC . Como o fluxo de corrente é contrário ao fluxo de elétrons, pela Lei de Kirchhoff, a corrente segue a equação (3.28), I I IE C B= + (3.28) Há três relações de correntes importantes que sempre devem ser lembradas quando se fala em transistores: 1. A corrente de emissor é a soma das correntes de coletor e da base. I I IE C B= + 2. A corrente do coletor é aproximadamente igual à corrente do emissor. I IC E≅ 3. A corrente da base é muito menor que as correntes de emissor e de coletor. I IB E<< I IB C<< Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.44 | Circuito na configuração emissor comum (a) (b) U3 - Circuitos eletrônicos 149 Fonte: Boylestad (2004, p. 102). Figura 3.45 | Curva devido ao efeito Early 2.3.2 Gráficos de entrada e de saída O transistor é um componente em que a saída de tensão e corrente dependem da excitação da corrente de entrada. Na polarização emissor comum (EC), a base é a entrada e o coletor é a saída. A curva da base é dada por um gráfico de I B em função de V BE , como mostra a Figura 3.45. Ao aumentar a tensão V BB do circuito da Figura 3.44, até atingir a tensão de polarização do diodo emissor (no caso do silício é 0,7 V), a corrente de I B se mantém em zero, só que a partir da polarização do diodo, para V BE = 0,7 V, a corrente I B aumenta indefinidamente. Se aumentarmos a tensão V CC , a tensão V CE sofrerá um aumento, mas o gráfico da Figura 3.45 mostra que V BE se alterará muito pouco em função do aumento de V CE . Esse fenômeno é conhecido como efeito Early e na maioria das aplicações pode ser ignorado. U3 - Circuitos eletrônicos 150 Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: Boylestad (2004. p. 102). Figura 3.46 | Circuito para medir a corrente e a tensão do coletor do transistor Figura 3.47 | Curva carcaterística do transistor na configuração emissor comum Já a curva da saída, conhecida como curva do coletor, é obtida ao analisar o circuito da Figura 3.46, e para montar o gráfico da corrente do coletor I C em função da tensão V CE , é necessário fixar um valor para a corrente da base I B e analisar o aumento na tensão V CE . Depois de V CE atingir a tensão de joelho, que é aproximadamente 1 V, a corrente IC permanece constante para uma dada corrente de base I B , até atingir a tensão de ruptura. Fazendo isso para diversos valores de corrente de entrada, obtém-se o gráfico da Figura 3.47. U3 - Circuitos eletrônicos 151 Fonte: Marques (2012, p. 135). Figura 3.48 | Reta de carga CC É importante que a tensão de ruptura do transistor nunca seja atingida, pois ela pode danificá-lo. Esse gráfico nos mostra que o transistor pode operar em três situações, em corte, em saturação ou de forma ativa. 2.3.3 Ponto quiescente ou ponto de operação Polarizar um transistor significa fixar o seu funcionamento em um ponto de operação, conhecido como ponto quiescente, em corrente contínua de acordo com suas curvas características. Para se utilizar esse gráfico, é necessário desenhar a reta de carga do transistor, pois ela apresenta todos os pontos quiescentes possíveis para uma polarização. O transistor pode ser utilizado de duas formas: transistor como chave e transistor como fonte de corrente. Para cada utilização há uma forma de se obter a reta de carga. 2.3.4 Transistor como chave Essa é a forma mais simples de se utilizar um transistor, em que o transistor opera em corte ou em saturação. Quando o transistor está em saturação, é como uma chave fechada do coletor para o emissor e em corte é como uma chave aberta do emissor para o coletor, e a base é quem realiza o controle dessa chave. U3 - Circuitos eletrônicos 152 Dado o circuito e o gráfico da Figura 3.49, pode ser feita a análise e estabelecer os valores para os resistores que façam o transistor operar como chave. Primeiramente, é estabelecida a corrente de saída (corrente do coletor) que se deseja na aplicação. Com isso, a soma das tensões de saída (no coletor) do transistor é dada por: V R I VCC C C CE− ⋅ − = 0 I V V RC CC CE C = − (3.29) De acordo com a equação (3.29), isolando I C , fazendo a combinação da fonte V CC e R C , é possível estabelecer o ponto de saturação do transistor. Observe que V CE é zero quando a corrente do coletor atingir o seu maior valor, surgindo a corrente de saturação do coletor, I V RC saturação CC C ( ) = Como mostrado na equação (3.30), a corrente de base que controla a operação do transistor é dada por: I IB C CC = β (3.30) Fonte: Marques (2012, p. 164). Figura 3.49 | (a) Circuito de chaveamento do transistor. (b) Curva característica do transistor como chave (a) (b) U3 - Circuitos eletrônicos 153 Fonte: Marques (2012, p. 149). Figura 3.50 | (a) Transistor usado como fonte de corrente. (b) Curva característica do transistor como fonte de corrente Como o ganho βCC varia para cada transistor e devido à temperatura, faz-se necessário escolher um valor que faça com que o transistor sempre entre em saturação, independentemente do valor do ganho. Em projetos, é utilizada uma ferramenta chamada saturação forte, que consiste em adotar o valor de ganho igual a 10, pois no pior caso de corrente e temperatura, o transistor com βCC maior que 10 sempre garantirá a saturação forte. E, por último, depois de calcular um valor de I B para o ganho de 10 do transistor, fazendo a soma das tensões da entrada, podem ser definidos os valores para R B e V BB , como mostra a equação (3.31). V R I VBB B B BE− ⋅ − = 0 I V V R V RB BB BE B BB B = − = − 0 7, (3.31) O circuito da Figura 3.49(a) é muito sensível à variação da corrente de entrada, trabalhando ou em corte ou em saturação. Para trabalhar com o transistor como fonte de corrente, é necessário fazer uma pequena alteração. 2.3.5 Transistor como fonte de corrente Para se usar um transistor como fonte de corrente, é necessário que o βCC não afete a polarização do transistor. Para isso, é colocado um resistor no emissor, tirando o resistor da base, como mostra a Figura 3.50(a). (a) (b) U3 - Circuitos eletrônicos 154 Fazendo a soma das tensões da saída e isolando a corrente do coletor, surge a equação (3.32). V R I V R ICC C C CE E E− ⋅ − − ⋅ = 0 I V V R RC CC CE C E = − + (3.32) Como a corrente IC é aproximadamente a mesma que passa no emissor IE, a equação (3.32) mostra a reta no gráfico da Figura 3.53(b). Essa é a equaçãoda reta de carga CC, com esse circuito é possível estabelecer uma corrente do coletor imune às variações de βCC . Fazendo a soma das tensões de entrada, é possível achar a relação das variáveis do circuito, isolando a corrente do emissor, obtendo a equação (3.33). V V R IBB BE E E− − ⋅ = 0 I V V RE BB BE E = − (3.33) Como a corrente do emissor pode ser arredondada para o mesmo valor que a corrente do coletor I C , é possível escolher adequadamente o valor de RE ao substituirmos as variáveis conhecidas da equação (3.33). U3 - Circuitos eletrônicos 155 Atividades de aprendizagem 1. Calcule o valor para a resistência de base RB de forma que o transistor da figura opere como chave, com R C = 1,5kΩ, V CC = 25 V e V BB = 5 V, considerando a saturação forte. 2. Uma das aplicações do transistor como fonte de corrente é o acionamento de um LED. Sabemos que a queda de tensão do LED quando polarizado é de 2,4 V e a máxima corrente que pode passar pelo LED é de 20 mA. Calcule o valor da resistência do emissor do circuito para que não passe mais do que a corrente permitida no LED e da queda de tensão do coletor-emissor para saber se o transistor está operando na região ativa, para V BB = 5 V e V CC = 20 V. Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.51 | Circuito com transistor operando como chave Figura 3.52 | Aplicação do Transistor como Fonte de Corrente para acionar um LED U3 - Circuitos eletrônicos 156 Seção 3 Circuitos de polarização de transistores 3.1 Polarização da base Introdução à seção Os transistores na configuração como chave são utilizados em circuitos digitais, pois são polarizados de forma a operar somente em corte ou saturação. Agora, os circuitos lineares são utilizados em fonte de corrente ou amplificador de sinais, pois operam em um ponto quiescente próximo ao meio da reta de carga CC, podendo um sinal alternado produzir flutuações acima e abaixo desse ponto quiescente e não levar o transistor nem ao corte e nem à saturação. Esta seção apresentará formas de se polarizar um transistor para trabalhar de forma linear, próximo ao meio da reta de carga. Para isso, serão apresentados circuitos e as características principais para cada tipo de polarização. Para se obter as variáveis do circuito, é importante fazer a análise pela malha de entrada e pela malha de saída, obtendo sempre duas equações que relacionam todas as correntes e tensões dos circuitos de polarização. O circuito de polarização da base, também chamado de base fixa, é apresentado na Figura 3.53. Na polarização da base com emissor comum da Figura 3.53(a) é possível verificar que a base e o coletor são alimentados por fonte de tensão distintas, no entanto, em circuitos eletrônicos, dificilmente há duas ou mais fontes de tensão, então, na prática, a base é alimentada pela mesma tensão do coletor, como mostra a Figura 3.53(b). U3 - Circuitos eletrônicos 157 Esse circuito apresenta um ponto de operação instável, não sendo usado em circuitos lineares. Sua utilização se dá nos circuitos digitais, usando a saturação forte para suprimir os efeitos de βCC . 3.2 Polarização com realimentação do emissor Na realimentação do emissor, a intenção é usar a tensão no resistor do emissor para suprimir as variações de βCC , como no circuito da Figura 3.54. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.53 | (a) Polarização da base. (b) Circuito simplificado (a) (b) Questão para reflexão Você consegue equacionar e achar as equações do circuito de polarização da base? Tente fazer o equacionamento pela malha de entrada, que passa pela base e depois pela malha de saída, que passa por V CE e isole nas duas equações o valor de I C . Você conseguiu ver a dependência do ganho nas equações? Em qual delas? U3 - Circuitos eletrônicos 158 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.54 | Polarização com realimentação do emissor Como visto, a fonte de alimentação do coletor e da base são as mesmas, por praticidade de circuito, mas a análise vale também para fontes de alimentações do coletor e da base diferentes. Na utilização prática desse circuito, o funcionamento não é como esperado, pois é necessário um resistor do emissor com o maior valor possível para que o efeito da realimentação compense o aumento da corrente do coletor, no entanto, é preciso um valor de resistência do emissor RE pequeno para não levar o transistor à saturação devido à variação de βCC . Somando as tensões ao longo da malha do coletor do circuito da Figura 3.54, e substituindo IE = IC tem-se: V R I V R ICC C C CE E E− ⋅ − − ⋅ = 0 V R I V R ICC C C CE E C− ⋅ − − ⋅ = 0 I R R V VC C E CC CE⋅ + = −( ) I V V R RC CC CE C E ≅ − + (3.34) Fazendo a análise pela malha da base e substituindo I IB C= β (equação 3.30) e I IE C= , gera-se o equacionamento a seguir: U3 - Circuitos eletrônicos 159 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.55 | Polarização com realimentação do coletor V R I V R ICC B B BE E E− ⋅ − − ⋅ = 0 V R I V R ICC B C BE E C− ⋅ − − ⋅ = β 0 I R R V VC B E CC BE⋅ + = −β I V V R R C CC BE B E ≅ − + β (3.35) Para ignorar o efeito de βCC na equação (3.35), o valor de RE tem que ser muito maior que a relação RB CCβ , mas isso não é possível porque pela equação (3.34), o resistor RE alto anularia a função de RC. 3.3 Polarização com realimentação do coletor Conhecida também como autopolarização, o circuito com realimentação do coletor é mostrado na Figura 3.55. Em um primeiro momento, fazendo a soma da malha de tensão, passando por VCE e como IB é muito pequeno, podemos considerar IB = 0 , obtendo a equação (3.36): U3 - Circuitos eletrônicos 160 V R I I VCC C C B CE− ⋅ + − =( ) 0 I V V RC CC CE C ≅ − (3.36) Fazendo a análise pela malha da base, obtém-se a equação (3.37): V R I I R I VCC C C B B B BE− ⋅ + − ⋅ − =( ) 0 V R I R I VCC C C B B BE− ⋅ − ⋅ − = 0 I V V R RC CC BE C B CC ≅ − + β (3.37) Apesar de ainda depender do valor de βCC , a polarização com realimentação do coletor é usada na prática, pelo fato de ser simples e apresentar uma boa resposta em frequência dos sinais alternados. Com relação ao circuito de polarização com realimentação do emissor da Figura 3.54, o circuito da polarização com realimentação do coletor é mais estável em relação às variações de βCC , e apesar de ainda não apresentar um ponto Q fixo e estável, esse circuito é bastante utilizado para circuitos de pequenos sinais. 3.4 Polarização por divisão de tensão Conhecida como polarização universal, é a polarização mais usada em circuitos lineares, e o circuito é mostrado na Figura 3.56. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.56 | Polarização por divisão de tensão U3 - Circuitos eletrônicos 161 A tensão da base é dada pelo divisor de tensão em R2, ou seja: V R R R VTH CC= + ⋅2 1 2 Nessa configuração, o transistor age como uma fonte de corrente que não depende do valor de βCC , como mostra o equacionamento da malha da base (equação 3.38). V V R IB BE E E− − ⋅ = 0 I I V V RC E B BE E ≅ = − (3.38) Fazendo a análise da malha de saída, passando por VCE, lembrando que a corrente IE do emissor é igual à corrente do coletor IC, temos a equação (3.39). V R I V R ICC C C CE E E− ⋅ − − ⋅ = 0 I V V R RC CC CE C E = − + (3.39) Como em nenhuma das equações (3.38 e 3.39) relaciona o ganho βCC , essa polarização é imune às variações do ganho, podendo ser usado qualquer transistor para as aplicações. Para que a utilização do transistor seja estável e firme, é necessário que o divisor de tensão esteja estabilizado e, para isso, deve ser cumprida a relação, R RCC E2 0 1≤ ⋅ ⋅, β 3.5 Polarização do emissor Quando se dispõe de fontes de alimentações separadas, sendo uma negativa e outra positiva, o circuito mais utilizado é a polarização do emissor, comona Figura 3.57. U3 - Circuitos eletrônicos 162 Fazendo a soma das tensões da malha da base e do emissor, e considerando RB pequeno o suficiente e que a queda de tensão sobre ele é zero, começando do terminal de terra da resistência de base, obtém-se a equação (3.40). 0 0− ⋅ − − ⋅ + =R I V R I VB B BE E E EE I I V V R I RC E EE BE B B E ≅ = − − ⋅ (3.40) Fazendo a análise pela malha do coletor, passando por VCE, temos a equação (3.41). V R I V R I VCC C C CE E E EE− ⋅ − − ⋅ + = 0 I V V V R RC CC EE CE C E ≅ + − + (3.41) Esse tipo de configuração é utilizado em alguns amplificadores operacionais, o que explica o fato de alguns modelos necessitarem de duas fontes de tensão simétricas, como será visto mais adiante. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.57 | Polarização do emissor U3 - Circuitos eletrônicos 163 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.58 | Circuito com realimentação do emissor Para saber mais Transistor de efeito de campo – FET Nesse vídeo será visto o transistor de efeito de campo, que tem características parecidas com o transistor bipolar, mas aplicações um pouco diferentes, que o TBJ não atende. Será visto o funcionamento do FET e também analisadas as correntes e as tensões de circuito utilizando os FETs. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=_jIOS7YqdcY>. Acesso em: 4 abr. 2017. Atividades de aprendizagem 1. Para o circuito de polarização com realimentação do emissor, calcule a corrente de saturação do coletor e depois a corrente do coletor para os valores de βCC =150 e depois para βCC = 450 , e compare os resultados, com RC = 870Ω, RE = 100Ω, RB = 450kΩ e VCC = 20 V. U3 - Circuitos eletrônicos 164 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.59 | Circuito com polarização por divisor de tensão 2. O circuito de polarização por divisor de tensão, possui um divisor de tensão de entrada estável. Calcule as coordenadas do ponto quiescente de operação, com os limites de corte e saturação, com RC = 3250Ω, RE = 500Ω, R1 = 1kΩ, R2 = 6,8kΩ e VCC = 30 V. U3 - Circuitos eletrônicos 165 Seção 4 Amplificadores de pequenos sinais 4.1 Capacitor de acoplamento Introdução à seção Até agora foi mostrada a polarização CC, que apresenta como fazer o transistor começar a funcionar, buscando o melhor ponto de operação. Foi apresentado o transistor atuando como chave e amplificador de sinais. Agora, imagine um sinal de áudio que precisa ser amplificado. Apenas com a polarização CC e com a análise feita até agora não é possível fazer a amplificação desse sinal. Para a amplificação de um sinal, é necessário fazer esse sinal passar pelo transistor na configuração de amplificador de modo que ele não atinja nem o corte e nem a saturação. Esse sinal a ser amplificado precisa ser pequeno para que o transistor utilize apenas uma parcela da linha de carga, fazendo com que a operação seja linear e que o sinal alternado não influencie na polarização CC já estabelecida, para isso é utilizado um capacitor conhecido por capacitor de acoplamento. Serão apresentados os amplificadores de emissor comum por serem mais utilizados, mas ainda existem os amplificadores de base comum e de coletor comum, que não serão abordados nesse livro. Como já visto, a impedância capacitiva é dada por: X f CC = ⋅ ⋅ ⋅ 1 2 π Matematicamente, para um sinal contínuo de frequência igual a zero, a reatância capacitiva tende ao infinito, mostrando que para os sinais contínuos, o capacitor se comporta como uma chave aberta. Já para um sinal alternado, em qualquer frequência, o capacitor se comporta como uma impedância que tende a zero com o aumento da frequência. Esse fenômeno faz com que todo sinal alternado passe por ele e o sinal contínuo seja bloqueado. U3 - Circuitos eletrônicos 166 Essa característica do capacitor tem o intuito de filtrar a parte CC de um sinal, deixando passar por ele somente o sinal CA, para que o transistor não sature e não altere sua polarização CC, como mostra a Figura 3.60. Para que haja um acoplamento estabilizado, é necessário que a corrente do circuito da figura 3.61 seja a mais resistiva possível, ou seja, o valor de XC não pode influenciar no resultado da corrente. I V R XC = +2 2 É possível verificar que XC tem que ser menor que R em uma razão de 10:1 na menor frequência do sinal alternado a ser amplificado. Por exemplo, o nosso ouvido pode captar frequências de 20Hz a 20kHz e em uma aplicação é necessário projetar um amplificador de áudio com uma resistência total em série de 15kΩ. Para um valor de resistividade capacitiva estável, no máximo X C tem que ser de 1,5kΩ e o capacitor de acoplamento tem que estar projetado para o menor valor de frequência, ou seja: C Hz k F= ⋅ ⋅ ⋅ Ω = 1 2 20 1 5 5 31 π µ , , 4.2 Capacitor de derivação Em alguns tipos de polarizações, é preciso obter um “terra CA” que consiste em acoplar um ponto desaterrado a um ponto Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.60 | Capacitor de acoplamento entre a fonte e a carga U3 - Circuitos eletrônicos 167 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.61 | Capacitor de derivação aterrado, comportando-se como um curto para um sinal CA e circuito aberto para um sinal CC, como a Figura 3.61. A maneira de obter o valor da capacitância de derivação é a mesma do capacitor de acoplamento, de forma que a derivação seja estabilizada, seguindo a regra de: X R RC G L≤ ⋅0 1, || 4.2 Análise CA da polarização do transistor Para se analisar qualquer circuito considerando os sinais CC e CA ao mesmo tempo é muito difícil, no entanto, de acordo com a Teoria de análise de circuitos, em todos os circuitos podem ser usados o Teorema da superposição, que consiste em analisar separadamente os circuitos CA e CC e depois somar os seus efeitos. Tomamos como exemplo a polarização com emissor comum, como mostra a Figura 3.62. U3 - Circuitos eletrônicos 168 Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.62 | Circuito completo na configuração de emissor comum na polarização por divisão de tensão Figura 3.63 | (a) Circuito equivalente CC. (b) Circuito equivalente CA As etapas a serem seguidas são: 1) Aterrar as fontes de tensão CA e abrir as fontes de corrente CA (quando houver), abrir também todos os capacitores, restando apenas o circuito CC equivalente, obtendo os valores de tensão e corrente da polarização do transistor, como mostra a Figura 3.63(a). (a) (b) 2) Depois de calcular as variáveis do circuito CC, aterre as fontes de tensão CC e abra as fontes de corrente CC, quando houver, U3 - Circuitos eletrônicos 169 Fonte: elaborado pelo autor. Fonte: elaborado pelo autor. Quadro 3.3 | Variáveis de sinais contínuos Quadro 3.4 | Variáveis de sinais alternados coloque os capacitores de acoplamento e derivação em curto, restando apenas o circuito equivalente CA, como mostra a Figura 3.63(b), e calcule as correntes e tensões necessárias. 3) A tensão e a corrente total em cada parte do circuito é a soma dos dois circuitos equivalentes. Como pode ser visto, a polarização CC tem efeito somente sobre o estágio de amplificação e o sinal CA tem efeito sobre a entrada e a saída do estágio de amplificação. Antes de começar as análises CA e CC, é preciso adotar notações que diferenciem as correntes e as tensões CA e CC. Para as variáveis em CC, comumente usa-se letras maiúsculas com seu respectivo índice em maiúsculo também. Para as variáveis em CA são utilizadas letras minúsculas e índices maiúsculos, como segue: Quando se faz a análise do transistor, usa-se o modelo dado pela Figura 3.64(b). Esse modelo é conhecido como modelo de Ebers-Moll em que o terminal da base e do emissor são substituídos por um diodo. I I IE C B, , Para as correntes CC. V V VE C B, , Para as tensões CC em relação à terra. V V VBE CE CB, , Para tensões CC entre os terminais. i i iE C B, , Para as correntes CA. v v vE C B, , Para as tensões CA em relação à terra. v v vBE CE CB, , Para tensõesCA entre os terminais. U3 - Circuitos eletrônicos 170 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.64 | (a) Ligação do transistor. (b) Modelo CC de Ebers-Moll Como o diodo é um componente não linear, na análise CA quando um sinal alternado aciona um transistor, a corrente e a tensão no emissor variam, então, para aproximação na análise, o diodo base-emissor é substituído por uma resistência, conhecida como resistência CA do diodo emissor (r ’E ), como mostra a Figura 3.65. (a) (b) Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.65 | Modelo CA de Ebers-Moll U3 - Circuitos eletrônicos 171 O valor dessa resistência é dado pela equação (3.42), obtido da relação da tensão VBE e da corrente I E . Essa relação surge do gráfico de polarização do transistor e a variação ocorre em torno do ponto Q de polarização. Devido às características do diodo base-emissor, uma boa aproximação é fazer Vbe = 25mV. r mV IE E ' = 25 (3.42) 4.2.1 Ganho de corrente e de tensão CA Como no caso da polarização CC, na análise CA se leva em consideração o ganho CA, dado pela equação (3.43). β = i i C B (3.43) Nas folhas de dados (datasheet) o ganho β é representado como hFE . Com a corrente passando pela resistência da saída, há uma queda de tensão na saída que é proporcional à tensão de entrada e é dada por: A v v SAÍDA ENTRADA = (3.44) A equação (3.44) mostra o ganho de tensão que o amplificador fornece e com essas informações agora é possível analisar os transistores aplicados em circuitos de amplificadores. 4.2.2 Amplificador com emissor aterrado A topologia mais utilizada como amplificador é a polarização por divisão de tensão do emissor comum, como discutido anteriormente. U3 - Circuitos eletrônicos 172 Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.66 | Amplificador com emissor aterrado e os formatos de onda Figura 3.67 | (a) Circuito CA equivalente de amplificador com emissor aterrado. (b) Modelo de Ebers-Moll usado para os transistores Na Figura 3.66 é apresentado o circuito com todos os componentes para seu funcionamento real, considerando a polarização CC e a operação CA. Ao colocar um pequeno sinal na base, são produzidas variações na corrente da base e, devido ao ganho de corrente, há uma variação na corrente do coletor de mesma frequência. Essa corrente passa através da resistência do coletor e produz uma tensão de saída amplificada. No amplificador com emissor comum, a tensão de saída é invertida em relação à entrada, ou seja, no caso senoidal a saída está 180° defasada em relação à entrada. Isso é causado pelo fato de o sentido da corrente iC ser invertida em relação à tensão de saída, como mostra o modelo de Ebers-Moll para transistores, da Figura 3.67(b). U3 - Circuitos eletrônicos 173 A Figura 3.67(a) representa o circuito CA equivalente de amplificador com emissor aterrado. A tensão de entrada vENT é colocada integralmente na base, e pode ser simplificado pelo modelo de Ebers-Moll como mostrado na Figura 3.67(b). Como a tensão de entrada vENT está sobre o resistor rE ' , a corrente do emissor é dada por: i v rE ENT E = ' Já a corrente do coletor que flui pelo resistor RC produz uma tensão de saída dada por: v i RSAÍDA E C≅ − ⋅ Como a corrente do coletor pode ser aproximada pela corrente do emissor, e ao substituir a corrente do emissor na tensão de saída, é possível chegar no resultado da equação (3.45). i iC E≅ DAv v R rSAÍ ENT C E ≅ − ⋅ ' SA DA= ≅A v v R r Í ENT C E − ' (3.45) Esse ganho de tensão significa que ao colocar um sinal CA na entrada, o valor na saída será a tensão de entrada multiplicada pelo ganho, lembrando que o sinal de entrada tem que ser pequeno o suficiente para não levar o transistor à saturação. O sinal negativo mostra que a tensão de saída é invertida em relação à entrada. 4.2.3 Modelo CA de um emissor comum Quando fazemos a análise CA de um amplificador, é preciso conhecer quatro variáveis, a impedância de entrada, impedância de saída, a tensão de entrada e a tensão de saída. Utilizando o amplificador emissor comum, discutiremos essas variáveis e definiremos um modelo simplificado para análise CA. O modelo CA do emissor comum é dado pela Figura 3.67(a), em que a fonte de entrada vê os resistores de polarização em paralelo com o diodo base-emissor ( zENT BASE( ) ). U3 - Circuitos eletrônicos 174 A impedância da base é dada pela Lei de Ohm, como mostra a equação (3.46). z v iENT BASE ENT B ( ) = (3.46) A tensão de entrada é dada também por: v i rENT E E= ⋅ ' Como i i iE C B≅ ≅ ⋅β , rearranjando os termos da equação, é possível obter a impedância de entrada da base, na equação (3.47). z i r i rENT BASE B E B E( ) ' '= ⋅ ⋅ = ⋅ β β (3.47) Não se pode esquecer o efeito dos resistores de polarização do emissor comum, sendo que a impedância total de entrada, visto pela fonte de tensão de entrada (V G e R G ), é dada pela associação em paralelo das resistências, como mostrado na equação (3.48) e na Figura 3.68. z R R rENT E= ⋅1 2|| || 'β (3.48) A impedância de saída, vista no circuito da Figura 3.67(b) é obtida ao fazer a impedância de Thevenin dos terminais da saída, como mostra a equação (3.49). z RSAÍDA C= (3.49) A tensão de entrada é dada pela fonte que aciona a base do transistor, e a tensão de saída é obtida ao fazer a tensão de Thevenin dos terminais de saída, como dado na equação (3.50). Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.68 | Modelo CA de um amplificador com emissor aterrado U3 - Circuitos eletrônicos 175 4.2.4 Amplificador com realimentação parcial da resistência do emissor Em algumas aplicações, é necessário obter um amplificador o mais estável possível em relação à temperatura. O ganho do transistor pode variar de acordo com a temperatura, podendo até dobrar o ganho em altas temperaturas. Com o intuito de minimizar essa instabilidade, em alguns projetos se faz a realimentação parcial da resistência do emissor, como mostrado na Figura 3.70. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.69 | (a) Amplificador de dois estágios com emissor aterrado. (b) Circuito CA equivalente v A vSAÍDA ENT= ⋅ (3.50) Como visto, o circuito da Figura 3.68 é mais simplificado e facilita a análise. Como a ideia é amplificar pequenos sinais para não levar o transistor à saturação, pode-se usar vários estágios em cascata, e analisar para cada estágio as variáveis, obtendo assim o ganho total, como mostra a Figura 3.69. U3 - Circuitos eletrônicos 176 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.70 | (a) Amplificador com realimentação parcial. (b) Circuito CA equivalente (a) (b) O resistor r’ E depende da temperatura e do tipo de junção do diodo emissor, podendo variar de um para outro transistor e essa variação pode fazer com que o ganho seja alterado. A Figura 3.70 mostra uma solução para esse efeito, que faz com que RE seja aterrado na análise CA e faz minimizar o efeito de rE ' , fazendo com que o emissor não esteja mais ligado ao terra CA. Realimentar parcialmente o diodo emissor significa fazer rE pelo menos dez vezes maior que o maior valor possível de rE ' , pois pela equação (3.51) o efeito de rE ' fica insignificante em relação a rE . i v r rE ENT E E = + ' (3.51) E fazendo o rearranjo na equação do ganho de tensão, é possível obter a equação (3.52). A R r r C E E = − + ' (3.52) A grande vantagem da realimentação parcial do emissor é a redução da distorção, pois a maior parte do sinal alternado aparece no resistor de realimentação, e esse, por ser linear, é usado toda a linha de carga com uma distorção pequena. U3 - Circuitos eletrônicos 177 Fonte: elaboradapelo autor. Figura 3.71 | Modelo CA do amplificador com realimentação parcial O modelo CA para um amplificador com realimentação parcial do resistor de emissor é dado pelo circuito da Figura 3.71. A redução do ganho pode ser compensado ao se associar amplificadores em cascata, como foi visto anteriormente. Para saber mais Como fazer placa de circuito de modo profissional Você já se perguntou como foi feita aquela placa eletrônica de circuito? Esse vídeo mostra o passo a passo de como fazer em casa aquela placa que vai parecer profissional. Lógico, se você não tem interesse na estética e sim na utilização, alguns passos podem ser pulados, mas nada melhor do que aprender a fazer bem feito. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=NtVEvFsT46I>. Acesso em: 4 abr. 2017. Questão para reflexão Você consegue identificar que a desvantagem da polarização com realimentação parcial do resistor do emissor é a redução do ganho? E qual seria a alternativa para compensar essa redução de ganho? U3 - Circuitos eletrônicos 178 Atividades de Aprendizagem 1. Para o amplificador em cascata, calcule a tensão da saída de acordo com a tensão de entrada de 1mV, com R G = 1kΩ, R 1 = 10Ω, R 2 = 2,2kΩ, R C = 3,6kΩ, R E = 1kΩ, R L = 1,5kΩ e V CC = 10V, qual o ganho final obtido desse estágio em cascata? 2. Usando o circuito da questão anterior, dividindo a resistência do emissor e fazendo um terra CA com uma parte do resistor como mostrado na figura a seguir, calcule a tensão de saída, com RG = 1kΩ, R 1 = 10Ω, R 2 = 2,2kΩ, R C = 3,6kΩ, r ‘e = 180Ω, r E = 820Ω, V G = 10 mV e V CC = 10 V. Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 3.72 | Circuito em cascata para aumentar o ganho Figura 3.73 | Amplificador com realimentação parcial do emissor U3 - Circuitos eletrônicos 179 Fique ligado Nesta unidade foram apresentados os semicondutores. Os semicondutores foram a grande invenção do século XX, pois toda a revolução tecnológica veio da invenção desse componente menor do que a cabeça de um alfinete e que nos proporciona o conforto que os equipamentos eletrônicos puderam trazer. Nesta unidade, você acompanhou um pouco da história do semicondutor, aplicação como diodo e a infinidade de utilidades que podem ser realizadas com eles na questão de tratamento de sinais. Além disso, foi apresentada boa parte da teoria que envolve o transistor, conhecida como chave eletrônica de altas velocidades, a sua aplicação e como calcular variáveis de projetos de circuitos, utilizando topologias de emissor comum. Para concluir o estudo da unidade Esperamos que essa unidade possa lhe auxiliar em projetos envolvendo diodos e transistores, que você consiga, com a teoria apresentada, projetar, entender e corrigir falhas em sistemas de eletrônica analógica. Devido à sensibilidade dos componentes eletrônicos, a maioria dos defeitos de placas eletrônicas acontece nesses componentes, ou porque foram mal projetados ou porque estiveram sujeitos a uma grande variação de energia. Essa unidade trouxe para o leitor uma visão crítica e de projeto para as aplicações com diodos e transistores. Bons estudos e continue pesquisando e implementando os mais diversos circuitos, disponíveis na internet e em livros de circuitos. U3 - Circuitos eletrônicos 180 Atividades de aprendizagem da unidade 1. “Na polarização do diodo, a corrente circula do para o , se comportando como uma chave fechada, enquanto que na polarização não há corrente circulando pelo circuito, se comportando como uma chave aberta”. Assinale a alternativa que preencha as lacunas do texto, na ordem correta: a) Reversa – ânodo – cátodo – direta. b) Reversa – cátodo – ânodo – direta. c) Direta – ânodo – cátodo – reversa. d) Direta – cátodo – ânodo –reversa. e) Direta – ânodo – cátodo – direta. 2. Sabe-se que o diodo pode ser usado como chave em certas aplicações. Dado um lote de diodos, com alguns funcionando normalmente e outros com defeito, usando-se uma técnica de medição de resistência entre os seus terminais, elaborou-se o quadro 3.5 a seguir: Assinale a alternativa que apresenta somente os diodos com defeito: a) Os diodos A e B estão com defeitos. b) Os diodos C e D estão com defeitos. c) Os diodos A, B e D estão com defeitos. d) O diodo A está com defeito. e) O diodo C está com defeito. Fonte: elaborado pelo autor. Quadro 3.5 | Impedância em polarização direta e reversa de diodos sem falhas e com falhas Diodos Polarização Direta Polarização Reversa A R = 270 kΩ R = 302 kΩ B R = 32 Ω R = 27 Ω C R = 3 MΩ R = 30 Ω D R = 3 MΩ R = 3 MΩ U3 - Circuitos eletrônicos 181 4. Os microprocessadores estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano, no entanto, eles são muito sensíveis a variações de tensão. Para proteger de sobretensões em suas entradas, os projetistas colocam diodos zener e diodos semicondutores para que a tensão de entrada não ultrapasse um valor limite e não leve à queima o microprocessador. A entrada digital de um microprocessador tem a excursão de 0 a 5,7 V. Para a implementação desse circuito de proteção, verificou-se as opções de fazer combinação entre diodos zener, diodos de germânio e diodos de silícios. É necessário utilizar no mínimo um diodo de cada categoria e o quadro 3.6 de diodo zener está disponível a seguir: 3. Analise as afirmações a seguir: I. Transistor polarizado como fonte de corrente é usado em circuitos digitais. II. Transistor polarizado como chave é usado em circuitos digitais. III. Os circuitos multiplicadores de tensão são utilizados em retificadores de tensão. Assinale a alternativa que apresenta somente as afirmações verdadeiras: a) Somente a afirmação I é verdadeira. b) Somente as afirmações I e II são verdadeiras. c) Somente as afirmações II e III são verdadeiras. d) Somente a afirmação II é verdadeira. e) Nenhuma das afirmações é verdadeira. Assinale a alternativa que apresenta corretamente a combinação para atingir o valor de 5,7 V na entrada do microcontrolador. a) Combinação de 1 diodo zener 1N750 com 1 diodo de silício e 1 diodo de germânio. b) Combinação de 1 diodo zener 1N751 com 1 diodo de silício e 1 diodo de germânio. Fonte: elaborado pelo autor. Quadro 3.6 | Relação de alguns diodos zener Código Tensão zener 1N749 4,3 V 1N750 4,7 V 1N751 5,1 V 1N752 5,6 V U3 - Circuitos eletrônicos 182 c) Combinação de 1 diodo zener 1N749 com 2 diodos de silício e 1 diodo de germânio. d) Combinação de 1 diodo zener 1N752 com 1 diodo de silício e 1 diodo de germânio. e) Combinação de 1 diodo zener 1N749 com 3 diodos de silício e 1 diodo de germânio. 5. O transistor é usado em muitas aplicações que vão desde circuitos de bancada de ensaios até a aplicações aeroespaciais. Analise as asserções a seguir e assinale a alternativa correta: I. A topologia de polarização do transistor em emissor comum com realimentação parcial do emissor é usada para estabilizar o ganho de tensão. II. Devido a algumas aplicações em ambientes agressivos, com altas variações de temperaturas, o transistor altera o seu ganho. a) As asserções I e II são verdadeiras e a II justifica a I. b) A asserção I é verdadeira e a II é falsa. c) As asserções I e II são verdadeiras e a II não justifica a I. d) A asserção II é verdadeira e a I é falsa. e) As asserções I e II são falsas. U3 - Circuitos eletrônicos 183 Referências BOYLESTAD, R. L. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 8. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. BRAGA, N. C. Entendendo as folhas de dados (ING003), 2014. Disponível em: <http://www.newtoncbraga.com.br/index.php/ingles-para-eletronica/547- entendendo-as-folhas-de-dados-ing003>. Acesso em: 17 out. 2016. CIPELLI, A. M. V. Teoria e desenvolvimento de projetos de circuitos eletrônicos. 23. ed. São Paulo: Érica, 2007. CRUZ, E. C. A. Eletrônica analógica básica. 2. ed. São Paulo: Érica, 2014. . Eletrônica aplicada. 2. ed. São Paulo: Érica, 2008. GARCIA, G. A. Sistemas eletroeletrônicos:dispositivos e aplicações. São Paulo: Érica, 2014. HART, D. W. Eletrônica de potência. Porto Alegre: AMGH, 2011. MALVINO, A.; BATES, D. J. Eletrônica. 7. ed. vol. 1. Porto Alegre: AMGH, 2011. MARQUES, A. E. B. Dispositivos semicondutores: diodos e transistores. 13. ed. ver. São Paulo: Érica, 2012. SCHULER, C. Eletrônica I. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. SEDRA, A. S.; SMITH, K. Microeletrônica. 5. ed. São Paulo: Pearson, 2010. U3 - Circuitos eletrônicos 184 Unidade 4 Aplicação de circuitos eletrônicos Esta unidade tem como objetivo permitir que você tome conhecimento de diversos tipos de circuitos que são utilizados na instrumentação eletrônica, permitindo que seja capaz de entender e projetar tais circuitos que são muito utilizados na prática. Existe ainda o objetivo de conhecer alguns sensores e transdutores eletrônicos, que são utilizados para a medição das grandezas de tensão de corrente elétrica. Objetivos de aprendizagem Esta seção apresenta conceitos que o levarão a conhecer o funcionamento dos amplificadores operacionais. Além disso, você será capaz de fazer a análise de várias montagens feitas com amplificadores operacionais, que são utilizados no condicionamento de sinais para placas de aquisição de dados. Seção 1 | Amplificadores operacionais Nesta seção, apresentaremos conceitos que o levarão a conhecer vários circuitos osciladores, que são utilizados para gerar sinais alternados. Serão apresentados também circuitos, tendo como elementos base transistores, amplificadores operacionais ou CI dedicado. Estes circuitos são utilizados normalmente para a geração de sinais de referência de áudio e radiofrequência. Seção 2 | Osciladores A terceira seção desta unidade apresenta os sensores e os circuitos que são utilizados na medição de tensão e corrente contínua ou alternada. A medição de tensão é feita somente adequando-se o seu nível, o que pode Seção 3 | Sensores de tensão e corrente Giancarlo Michelino Gaeta Lopes A Seção 4 apresenta a forma como são elaborados circuitos condicionadores de sinais, permitindo que você se torne apto a projetar circuitos para a interface com sensores analógicos. São apresentados exemplos de circuitos de condicionamento que ilustram o modo como esses circuitos são projetados. Também são objeto de estudo da seção os reguladores de tensão. Seção 4 | Circuitos condicionadores de sinais de tensão e corrente ser feito por meio de circuitos resistivos ou transformadores. Já para a medição de corrente, existem alguns tipos de sensores que são indicados conforme a aplicação. Assim, é importante que você os conheça, para que quando utilizar algum deles, seja capaz de selecionar o modelo ideal. Introdução à unidade Nas outras unidades do livro, você foi convidado a estudar os componentes elétricos e eletrônicos básicos, como resistores, capacitores, indutores, transistores e diodos. Nesta unidade, serão apresentados circuitos eletrônicos que fazem a utilização destes componentes em sua composição. Assim, é recomendado que, caso tenha dúvidas sobre o funcionamento de algum destes componentes básicos, retorne às unidades anteriores e faça o seu estudo novamente. Isso pode ser dito, pois todos os conceitos que já foram apresentados no decorrer do livro servirão como base para o estudo. Esta unidade também apresenta um novo componente eletrônico que é largamente utilizado na eletrônica analógica, o amplificador operacional. Com este elemento, o projetista de eletrônica é capaz de elaborar os mais diversos tipos de circuitos eletrônicos de condicionamento de sinais, que são a base da instrumentação eletrônica. O estudo de circuitos que são utilizados na prática da instrumentação eletrônica é o objetivo principal desta unidade. Com isso, no decorrer das seções, são apresentados alguns circuitos eletrônicos que podem ser utilizados em diversas aplicações. Assim, ao fim da unidade, você será capaz de projetar os mais variados tipos de circuitos eletrônicos analógicos utilizados no condicionamento de sinais advindos de diversos tipos de sensores. A Seção 1 deste livro apresenta os amplificadores operacionais, servindo como base para as outras seções. Na Seção 2 são apresentados os circuitos osciladores, a Seção 3 apresenta os sensores de tensão e corrente e a Seção 4 os circuitos condicionadores de sinais. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos188 Seção 1 Amplificadores operacionais 1.1 Amplificadores operacionais Introdução à seção O amplificador operacional é um componente eletrônico que possui em sua estrutura interna uma junção de resistores, capacitores e transistores. Ele é amplamente utilizado para a realização de operações matemáticas, como soma, subtração e integração e para amplificação de sinais de baixa amplitude. Com isso, pode-se dizer que o amplificador operacional é um ótimo aliado do projetista de sistemas eletrônicos. Idealmente, ele tem algumas características que são diferentes das encontradas na prática. Assim, na dedução dos equacionamentos, nesta seção será considerado sempre o amplificador ideal. Para saber mais Conheça as características dos amplificadores operacionais ideais acessando o link a seguir. Nele, é possível encontrar os principais conceitos que são utilizados nas deduções presentes nesta seção. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=3EaXRKBMqiM>. Acesso em: 13 mar. 2017. O amplificador operacional possui duas entradas denominadas inversora, representada pelo símbolo “–”, e não inversora, representada pelo símbolo “+”, e uma saída, como pode ser observado pela Figura 4.1. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 189 A saída deste componente tem o objetivo de multiplicar por um ganho a diferença das duas entradas, com isso, a equação básica do amplificador operacional pode ser escrita como sendo, Em que Av representa o ganho do amplificador operacional, que varia conforme o modelo escolhido. Uma consideração prática importante é que existem dois tipos de amplificadores operacionais: aqueles que são alimentados com tensão simples (Ex.: 12 V e GND) e com tensão simétrica (Ex.: +12 V e -12 V). Desta forma, cabe ao projetista selecionar o modelo que se adéqua melhor ao seu projeto. Usualmente, é dada a preferência para a utilização de amplificadores com alimentação simples, dispensando o uso de uma fonte simétrica no circuito, algo que na maioria dos casos não é simples de se obter. Nas seções a seguir estão apresentadas algumas das principais montagens possíveis para o amplificador operacional, mostrando a sua versatilidade e capacidade de adaptação às mais diversas necessidades. 1.1.1 Amplificador inversor A montagem do amplificador operacional como um amplificador inversor pode ser observada na Figura 4.2. Neste tipo de circuito a tensão de entrada é amplificada e a polaridade é invertida. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.1 | Amplificador operacional V V V Ao v= −( ) ⋅+ − U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos190 Algumas das características do amplificador ideal são: impedância de entrada infinita, impedância de saída nula, ganho de tensão infinito e ausência de qualquer limitação em frequência e em amplitude do sinal de saída. Assim, como a impedância de entrada do amplificador é muito grande, não haverá corrente sendo drenada pelas entradas. Desta forma, não haverá diferença de potencial entre elas, ou seja, a tensão da entrada inversora será a mesma da entrada não inversora, caracterizando o chamado “curto-circuito virtual”. Observando o circuito da Figura 4.2, verifica-se que um resistor está fazendo a ligação entre a entrada inversora e a saída do amplificador operacional, havendo assim o que pode ser chamado de realimentação negativa, que faz com que o ganho do circuito seja controlado. Unindo isso às características do “curto-circuito virtual”, pode-se aplicar técnicas de análise de circuitos elétricos e deduzir a equação que rege o funcionamentodo amplificador inversor. Desta forma, pode-se dizer que I I1 2= e com o “curto-circuito virtual” presente no circuito, afirma-se que a tensão na entrada inversora é zero volts, pois essa tensão é a mesma da entrada não inversora para a montagem da Figura 4.2, que se encontra ligada ao terra. Assim, a partir da Lei de Ohm, é possível realizar a análise do circuito escrevendo as equações das correntes que passam por cada um dos resistores. Inicialmente para R1, percebe-se que o seu terminal direito está aterrado (ligado ao terra virtual). Dessa forma, qualquer tensão que for aplicada à entrada, proporcionará a circulação de corrente por ele, portanto: Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.2 | Amplificador inversor U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 191 I V R i 1 1 = � V R Ii = ⋅1 1 I V R o 2 2 = − � V R Io = − ⋅2 2 A V V R I R Iv o i = = − ⋅ ⋅ 2 2 1 1 A R Rv = − 2 1 De forma análoga, considerando agora R2, qualquer sinal da saída provocará circulação de corrente sobre ele, assim: Em que o ganho do circuito é obtido pela relação entre a tensão de saída e a tensão de entrada: Como já citado anteriormente, para este caso I I 1 2 = . Desta forma, o ganho do amplificador inversor pode ser obtido: 1.1.2 Amplificador não inversor A montagem do amplificador operacional como um amplificador não inversor pode ser observada na Figura 4.3. Neste tipo de circuito, a tensão de entrada é amplificada e a polaridade do sinal é mantida. Questão para reflexão É possível haver alguma montagem com amplificador operacional em que a tensão em uma das entradas seja a mesma da saída? U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos192 A partir do conceito de “curto-circuito virtual”, afirma-se que a tensão na entrada inversora é igual à tensão na entrada não inversora e também que as correntes I1 e I2 são iguais. Com base nestas considerações, faz-se então a análise do circuito, partindo da afirmação de que as correntes são iguais: A partir deste ponto, é possível obter o ganho do circuito: Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.3 | Amplificador não inversor I I1 2= V V V R R i o i− = −0 1 2 V V V R R R i o i 1 2 2 = − V V V R R R o i i 2 1 2 = + V V V R R R o i i 2 1 2 = + V V V R Ro i i= ⋅ + 1 2 A V V R RV o i = = +1 2 1 U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 193 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.4 | Amplificador somador não inversor Conforme a análise apresentada, percebe-se que o ganho deste amplificador deve sempre ser maior que 1. Assim, quando se deseja aplicar uma atenuação em algum sinal, ou seja, aplicar um ganho menor que 1, deve-se optar pela utilização do amplificador inversor. 1.1.3 Amplificador somador não inversor A montagem somadora não inversora com amplificadores operacionais realiza a soma de dois sinais ou níveis de tensão e também permite a amplificação desta soma. Esta configuração está apresentada pela Figura 4.4. Para saber mais Conheça mais uma montagem com amplificador operacional conhecida como buffer. Essa montagem é utilizada comumente para desacoplar sinais, separando diferentes circuitos. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=0YwJDUyolcM>. Acesso em: 13 mar. 2017. Utilizando o conceito do “curto-circuito virtual” e sabendo que não há entrada de corrente no amplificador operacional, torna- se possível a análise do circuito. Nomeando a tensão presente na entrada inversora como V ' , que é igual à tensão presente na entrada não inversora, tem-se: U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos194 ′ ⋅= + V R V R R o1 1 2 ′ ⋅ ⋅ ⋅ = −( ) + + = −( ) + + +( )V R V V R R V R V V R R V R R R i i i i i i4 1 2 3 4 2 4 1 2 3 4 2 3 4 33 4 4 1 3 4 3 2 3 4+ = + + + ⋅ ⋅ R R V R R R V R R i i Igualando as equações: E, então, isolando-se Vo , tem-se: Analisando a equação de Vo obtida, verifica-se que para a obtenção da soma dos sinais de entrada, deve-se fazer todos os resistores iguais, mantendo o ganho unitário no circuito. 1.1.4 Amplificador somador inversor A montagem somadora inversora com amplificadores operacionais, assim como a somadora não inversora, realiza a soma de dois sinais ou níveis de tensão e também permite a amplificação desta soma, porém, inverte a polaridade da soma. Esta configuração está apresentada na Figura 4.5. R V R R R V R R R V R R o i i1 1 2 4 1 3 4 3 2 3 4 ⋅ ⋅ ⋅ + = + + + V R R R V R R R V R Ro i i= + ⋅ + + + ⋅ ⋅1 2 1 4 1 3 4 3 2 3 4 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.5 | Amplificador somador inversor U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 195 Utilizando o conceito do “curto-circuito virtual” e sabendo que não há entrada de corrente no amplificador operacional, é possível fazer a análise do circuito. Considerando que a corrente que passa por R é igual à corrente que passa R1 � mais a corrente que passa por R2 , sendo todas as correntes no sentido da esquerda para a direita, tem-se: Isolando Vo , é obtida a relação: Observando a equação obtida, percebe-se o sinal negativo, indicando que o resultado da soma das tensões é invertido. Pode- se dizer também que caso seja necessário montar um sistema sem ganho, que apenas some os sinais de entrada e inverta a polaridade da soma, todos os resistores da montagem devem possuir o mesmo valor. 1.1.5 Amplificador subtrator A montagem subtratora com amplificadores operacionais realiza a subtração de dois sinais ou níveis de tensão e também permite a amplificação desta subtração. Esta configuração, que subtrai o valor de tensão presente na entrada inversora da tensão presente na entrada não inversora, está apresentada pela Figura 4.6. − = + V R V R V R i i0 1 1 2 2 V V R V R i i 0 1 1 2 2 = − ⋅ + R Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.6 | Amplificador subtrator U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos196 Utilizando o conceito do “curto-circuito virtual” e sabendo que não há entrada de corrente no amplificador operacional, torna-se possível a análise do circuito. Nomeando a tensão na entrada inversora, que é igual à tensão da entrada não inversora, como V ' , têm-se as equações: Igualando as equações: Isolando Vo , tem-se: Analisando a resposta obtida, verifica-se que para a obtenção da simples subtração dos sinais de entrada, ou seja, a sua diferença, deve-se utilizar os resistores com valores iguais, mantendo o ganho unitário no circuito. 1.1.6 Amplificador integrador O circuito integrador montado com amplificador operacional é responsável por realizar a operação matemática de integração do sinal de entrada. A montagem do integrador pode ser vista na Figura 4.7. ′ ⋅= + V R V R R i4 2 3 4 ′ ⋅ ⋅ ⋅ = −( ) + + = −( ) + + +( ) + V R V V R R V R V V R R V R R R i i i i1 0 1 1 2 1 1 0 1 1 2 1 1 2 1 RR R V R R R V R R i 2 1 0 1 2 2 1 1 2 = + + + ⋅ ⋅ R V R R R V R R R V R R i i4 2 3 4 1 0 1 2 2 1 1 2 ⋅ ⋅ ⋅ + = + + + V R R R V R R R V R Ro i i= + ⋅ + − + ⋅ ⋅1 2 1 4 2 3 4 2 1 1 2 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.7 | Amplificador integrador U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 197 Este circuito é muito utilizado para a conversão de sinais oscilantes, por exemplo, ao se aplicar uma onda quadrada em sua entrada, será obtida em sua saída uma onda triangular. O integrador como aparece na Figura 4.7 possui um ganho praticamente infinito em corrente contínua, já que o capacitor nesta condição funciona como um circuito aberto. Assim, o ganho desta montagem é dado pelo valor do ganho do amplificador operacional em malha aberta. Desta forma, é possível escrever a relação entre tensão de entrada e saída, para o capacitor inicialmente descarregado, como sendo: V C R V t dtto i( ) ( )= ⋅ ⋅∫- 1 R C f ⋅ ≥ 10 Portanto, o circuito integrador fornece em sua saída uma tensão que é proporcional à integral da tensão de entrada em relação ao tempo, em que CR é a constante de tempo deintegração. Para montagens práticas é comum colocar um resistor em paralelo com o capacitor do circuito, com valor ao menos dez vezes maior que o resistor ligado entre a entrada do circuito e a entrada inversora do amplificador operacional. Esta medida faz com que o ganho seja limitado, evitando a saturação do amplificador operacional. Com isso, a montagem passa a ter um ganho em corrente contínua igual ao de um amplificador inversor, no caso, limitado em dez vezes. Com o mesmo objetivo, de não saturar o amplificador operacional, quando se trabalha com ondas alternadas aplicadas na entrada, busca-se satisfazer a relação: Para saber mais Encontre mais informações sobre o amplificador integrador e como é obtida a relação entre entrada e saída no Capítulo 2.8.2 do livro Microeletrônica. Fonte: SEDRA, S.; SMITH, K. Microeletrônica. 4. ed. São Paulo: Pearson Makron Books, 2005. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos198 1.1.7 Amplificador diferenciador O amplificador diferenciador é responsável por realizar função matemática da diferenciação, ou seja, fazer a derivada do sinal de entrada. A sua montagem é feita invertendo a posição do capacitor e resistor em relação à montagem do integrador, como está apresentada na Figura 4.8. Portanto, a equação que relaciona a entrada com a saída do circuito diferenciador é: V V t dt to i( ) ( ) = ⋅ ⋅R d-C Para saber mais Para saber mais Encontre mais informações sobre o amplificador diferenciador e como é obtida a relação entre entrada e saída no Capítulo 2.8.3 do livro Microeletrônica. Fonte: SEDRA, S.; SMITH, K. Microeletrônica. 4. ed. São Paulo: Pearson Makron Books, 2005. Conheça as características dos amplificadores operacionais reais (não ideais) acessando o link a seguir. Lá é possível encontrar os principais parâmetros que são utilizados na escolha de um amplificador. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=sHGa8k7KZKA>. Acesso em: 13 mar. 2017. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.8 | Amplificador diferenciador U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 199 Atividades de aprendizagem 1. Para o circuito apresentado na Figura 4.9, identifique a topologia utilizada, calcule a tensão VOUT e o Ganho = VOUT/VIN. Considere que o amplificador operacional é ideal. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.9 | Circuito da questão 1 2. Calcule o valor da tensão de saída VOUT do circuito apresentado na Figura 4.10. Considere que o amplificador operacional é ideal. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.10 | Circuito da questão 2 U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos200 Seção 2 Osciladores 2.1 Oscilador com ponte de Wien Introdução à seção Esta seção convida você a estudar os circuitos osciladores. Estes circuitos são utilizados para gerar sinais de tensão alternada, seja senoidal, triangular ou quadrada. Eles podem ser montados utilizando como base os amplificadores operacionais, transistores ou circuitos dedicados, como CI 555. Assim, nesta seção, serão apresentados alguns dos circuitos osciladores mais utilizados na prática. O oscilador em ponte de Wien é um dos circuitos mais utilizados por projetistas de eletrônica quando se deseja gerar uma onda senoidal. Com isso, ele é considerado o oscilador padrão para frequências baixas e médias, entre 5 Hz e 1 MHz, sendo largamente utilizado em equipamentos em que é necessária a geração de sinais de áudio, como sirenes e alarmes. Este oscilador é montado tendo como base um amplificador operacional, ao qual são ligados resistores e capacitores em formato de ponte, como pode ser visto na Figura 4.11. Os capacitores (C) e resistores (R) do circuito são responsáveis por determinar a frequência de oscilação e, consequentemente, da onda de saída. Já os resistores R’ e 2R’ formam o caminho para o ganho da realimentação. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 201 Para saber mais Faça uma pesquisa sobre o que é um circuito de avanço-atraso. Recomenda-se a consulta do capítulo 23.2 do livro Eletrônica. Fonte: MALVINO, Albert Paul. Eletrônica. v. 2. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2007. No circuito oscilador com ponte de Wien existe tanto a realimentação positiva quanto a negativa. No caminho da realimentação positiva entre a saída e a entrada não inversora, existe um circuito de avanço-atraso. Já o caminho da realimentação negativa é feito por meio de um divisor de tensão. Estas realimentações permitem que o circuito se torne um oscilador e gere uma onda senoidal em sua saída. Quando o circuito em questão é ligado, existe uma maior realimentação positiva do que negativa, fazendo com que as oscilações cresçam. O crescimento ocorre até o ponto em que a saída alcança o nível desejado, momento em que o ganho da realimentação negativa se torna unitário. A partir do circuito apresentado na Figura 4.11, é possível determinar a frequência de oscilação do circuito como sendo: Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.11 | Oscilador com ponte de Wien f R Co = ⋅ ⋅ ⋅ 1 2 π . U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos202 Para saber mais Encontre como é obtida a fórmula da frequência de oscilação do circuito oscilador com ponte de Wien no Capítulo 13.2.1 do livro Microeletrônica. Fonte: SEDRA, S.; SMITH, K. Microeletrônica. 4. ed. São Paulo: Pearson Makron Books, 2005. Com isso, deve-se saber que os resistores e os capacitores indicados com as mesmas letras devem possuir os mesmos valores. Além de manter a relação entre as resistências na malha de realimentação negativa, em que um resistor (2R’) deve possuir o dobro do valor do outro (R’). 2.2 Osciladores Colpitts Diferentemente do oscilador ponte de Wien, o oscilador Colpitts tem a capacidade de funcionar em altas frequências, podendo gerar sinais senoidais de poucos Hertz a até 500 MHz. Isso ocorre quando ele é montado tendo como elemento base um transistor, que não possui a mesma limitação em relação à largura de banda que ocorre no amplificador operacional. Contudo, ele pode também ser montado com esse componente, assim como com FETs. A Figura 4.12 mostra a montagem do oscilador Colpitts com transistor e com amplificador operacional. Todos eles geram em sua saída uma onda senoidal e seguem a mesma equação que determina a sua frequência de oscilação: Em que: f L Co eq = ⋅ ⋅ ⋅ 1 2 π C C C C Ceq = ⋅ + 1 2 1 2 U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 203 Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.12 | Oscilador Colpitts com transistor Figura 4.13 | Oscilador Colpitts com amplificador operacional U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos204 2.1 Oscilador a cristal Um oscilador a cristal é simplesmente um oscilador sintonizado por meio de um cristal piezoelétrico. O cristal tem uma estabilidade maior que os capacitores, resistores e indutores. Com isso, a frequência de oscilação se mantém fixa e praticamente invariável. Assim, este tipo de oscilador é utilizado quando é necessária uma grande estabilidade de frequência, como em sistemas de comunicação por radiofrequência. Diferentemente do apresentado nos outros tipos de osciladores, na saída deste circuito é gerada uma onda quadrada e não senoidal. A Figura 4.14 apresenta uma das possíveis montagens do oscilador a cristal, tendo como elemento ativo o transistor. Neste circuito, o cristal é ligado na forma paralelo ressonante, em que sua impedância é máxima e sua conexão é feita em paralelo. Desta forma, o cristal apresenta a máxima reatância indutiva possível. Devido a isso, o circuito apresentado se assemelha ao oscilador Colpitts, substituindo-se apenas o indutor pelo cristal. O oscilador a cristal também pode ser montado utilizando-se um amplificador operacional, como pode ser visto na Figura 4.15. Neste circuito, o cristal é conectado no modo série ressonante, operando na frequência relativa a este. Devido ao alto ganho do circuito (100 vezes), o sinal de saída é uma onda quadrada, com frequência igual à de oscilação nominal do cristal. A amplitudedesta onda é determinada pelo par de diodos zener colocados na saída, que fazem com que as amplitudes máxima e mínima sejam exatamente a tensão de zener. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 205 Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.14 | Oscilador a cristal com transistor Figura 4.15 | Oscilador a cristal com amplificador operacional U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos206 2.4 Temporizador 555 Devido à sua simplicidade, o temporizador 555 é um circuito integrado largamente utilizado quando se deseja gerar ondas quadradas de baixas e médias frequências. Para se gerar um sinal com este CI, basta ligar apenas um capacitor e um ou dois resistores em determinados pinos, o que facilita o projeto do circuito. Uma outra vantagem é o fato desse componente não necessitar de fonte simétrica para seu funcionamento, facilitando ainda mais o seu uso em diversas aplicações. O CI 555 pode operar basicamente em dois modos: monoestável, em que um dos estados da oscilação é estável, ou astável, em que nenhum dos estados é estável. O modo monoestável permite que o componente gere em sua saída atrasos de tempo precisos, que podem variar de microssegundos até horas. Já o modo astável possibilita a geração de ondas retangulares em sua saída, com ciclo de trabalho variável, conforme a seleção dos componentes. 2.4.1 Operação monoestável Na operação monoestável, o temporizador 555 possui inicialmente sua saída em nível baixo. Assim, quando ele recebe um disparo em seu respectivo pino, a tensão de saída comuta do nível baixo para o nível lógico alto, permanecendo nesse estado durante certo período de tempo. Então, a saída retorna para nível baixo, ficando neste estado até o momento em que outro pulso de disparo seja recebido. A Figura 4.16 exibe a montagem do 555 em seu modo monoestável. Como pode-se perceber pela imagem, o circuito possui poucos componentes externos ao 555, sendo dois capacitores e um resistor. O capacitor C e o resistor R são responsáveis por determinar a largura do pulso de saída, de modo que quanto maior for o tempo de carregamento deste capacitor pela resistência, maior será a largura do pulso de saída. Questão para reflexão Por que se procura montar circuitos que não utilizem alimentação simétrica (Ex.: +12 V e -12 V)? U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 207 W R C= ⋅ ⋅11, Com isso, levando em consideração as características internas de funcionamento do 555 e a equação de carga do capacitor, é possível determinar a equação da largura do pulso de saída, em segundos, como sendo: Para se gerar um sinal de disparo válido para o 555, deve ser aplicado ao pino 2 uma tensão inferior a 1/3 de Vcc. Assim, comumente, coloca-se um resistor de pull-up neste pino, para que sua tensão esteja sempre igual a Vcc. Desta forma, quando se deseja ativar o monoestável, o pino em questão é conectado ao terra, por meio de uma chave mecânica ou eletrônica. 2.5 Operação astável Na operação como oscilador astável, o temporizador 555 tem a função de gerar em sua saída uma onda quadrada, com frequência e largura de pulso variáveis, conforme os componentes externos selecionados. Este circuito se torna uma alternativa simples em relação a outros osciladores com mesma característica, como Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.16 | Temporizador 555 monoestável U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos208 aqueles montados com amplificadores operacionais, de saída devido à necessidade de poucos componentes. A Figura 4.17 apresenta o temporizador 555 montado como oscilador astável. A partir do funcionamento interno do 555 e dos resistores e capacitores externos ao componente, é possível escrever as equações pertinentes ao circuito apresentado. Como foi exposto, o circuito gera em sua saída uma onda quadrada, que possui período igual a: Com isso, a frequência pode ser escrita como sendo: Um outro parâmetro da onda de saída que pode ser definido é a largura do pulso em nível alto: Assim, dividindo a largura de pulso em nível alto, pelo período total da onda, é possível determinar o ciclo de trabalho da onda: Uma consideração a ser feita sobre o projeto deste tipo de circuito é sempre estar atento à razão cíclica obtida. Assim, é importante que o projetista escolha os valores de resistores de modo que a razão cíclica seja próxima a 0,5. Desta forma, a onda de saída terá metade do seu período em nível alto e metade em nível baixo, o que aumenta a quantidade de aplicações possíveis. T R R C= ⋅ + ⋅ ⋅0 693 1 2 2, ( ) f R R C = + ⋅ ⋅ 1 44 1 2 2 , ( ) W R R C= ⋅ + ⋅0 693 1 2, ( ) D R R R R = + + ⋅ 1 2 1 2 2 U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 209 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.17 | Temporizador 555 astável Para saber mais Conheça as características e o circuito interno do temporizador 555. Neste link é possível encontrar também uma explicação sobre os seus pinos e o funcionamento interno, além dos principais circuitos que podem ser montados com ele. Disponível em: <https://youtu.be/zeFs8LXmxZQ>. Acesso em: 27 mar. 2017. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos210 Atividades de aprendizagem 1. Faça o projeto de um oscilador ponte de Wien que gere em sua saída uma onda senoidal com frequência de 1 kHz. 2. Projete um circuito que gere um pulso com duração de 30 minutos quando um push button for acionado. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 211 Seção 3 Sensores de tensão e corrente Introdução à seção Existem diversas aplicações em que se é importante monitorar a tensão e a corrente que estão sendo utilizadas para alimentar determinado circuito, seja em corrente contínua ou alternada. Assim, esta seção vem apresentar diversos circuitos e sensores que são utilizados para amostrar a tensão e a corrente, e também condicioná-las de forma que seja possível a sua leitura por algum dispositivo digital, como um microcontrolador. Os sensores são elementos que são capazes de converter uma medida não elétrica, por exemplo, temperatura, pressão, campo magnético, entre outras, em uma grandeza elétrica. Esta relação entre grandezas normalmente pode ser descrita por meio de uma equação, seja ela linear ou não. Nesta seção, são apresentados sensores que são utilizados para medir tensão e corrente, de forma indireta ou circuitos que apenas condicionam os sinais de modo que eles possam ser lidos pelo dispositivo que processará estes sinais. Em sistemas embarcados, o elemento mais utilizado para o processamento de dados e controle é o microcontrolador. Assim, os circuitos apresentados nesta seção têm por objetivo gerar em suas saídas sinais que são possíveis de serem lidos pelos microcontroladores, como níveis de tensão ou ondas quadradas. Lembrando que a grande maioria dos microcontroladores possui alimentação de 3,3 V ou 5 V. Desta forma, os sinais em questão não podem ultrapassar estes níveis de tensão. Os sensores de tensão e corrente podem ser divididos basicamente em dois tipos: os de corrente contínua e os de corrente alternada. Quando se trata de corrente contínua, a medição é mais simples, pois, na maioria dos casos, estão envolvidos valores baixos de tensão e corrente. Com isso, para a medição de tensão, na maioria das vezes, basta aplicar um divisor resistivo ou um circuito de ganho para atenuação do sinal. Para a corrente existem diversos tipos de medição, os mais utilizados são por efeito Hall ou resistor em série. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos212 As medições em corrente alternada normalmente estão relacionadas a grandes valores de tensão e corrente. Assim, além dos circuitos utilizados para corrente contínua, são utilizados transformadores, para adequar os níveis de tensão e isolar os circuitos, os chamados transformadores de instrumentação. 3.1 Transformadores de instrumentação Os transformadores de instrumentação são elementos utilizados em subestações geradoras, transmissoras e distribuidoras de energia elétrica para aadequação e isolação dos níveis de tensão para que as medidas possam ser feitas por equipamentos de baixa tensão. Existem dois tipos desses transformadores: o transformador de potencial (TP), utilizado para medir a tensão (Figura 4.18) e o transformador de corrente (TC), ilustrado na Figura 4.19. O transformador de potencial possui a função de abaixar a tensão a ser medida, convertendo valores da casa de centenas de quilovolts para poucos volts. Já o transformador de corrente é responsável por gerar uma corrente elétrica equivalente à corrente que está passando no condutor a ser medido. Fonte: <https://goo.gl/IQMj8Q>. Acesso em: 2 maio 2017. Figura 4.18 | Transformador de potencial de alta tensão U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 213 Tomando como exemplo uma linha de transmissão de uma subestação qualquer que opera em 13,8 kV, é necessário que haja equipamentos capazes de adequar e isolar a alta tensão dos condutores em níveis proporcionais, capazes de serem medidos pelos instrumentos de monitoramento. Assim, essa situação é um exemplo de aplicação dos transformadores de tensão e corrente citados anteriormente. O transformador de corrente pode possuir uma montagem diferente do que é ilustrado na Figura 4.19. No caso, é apresentada uma montagem em que existe um núcleo ferromagnético sob o qual são colocados enrolamentos. Assim, a corrente que passa no condutor que se deseja medir a corrente, e que está alocado dentro do núcleo, gera um campo magnético, que por sua vez induz a circulação de corrente nos enrolamentos e, consequentemente, um nível de tensão. Existem casos de transformadores de corrente que o condutor não passa por dentro do núcleo, mas dá algumas voltas no núcleo, assim como os enrolamentos. Os modelos de transformadores de instrumentação apresentados até este ponto são utilizados em média e alta tensão. No entanto, também existem os seus equivalentes para baixa tensão, utilizados para se amostrar a tensão da rede, em conversores DC-DC e AC- DC, entre outras aplicações. A Figura 4.20 ilustra um exemplo de Fonte: <https://goo.gl/Z5p6gF>. Acesso em: 2 maio 2017. Figura 4.19 | Transformador de corrente de alta tensão U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos214 Fonte: <https://goo.gl/FdX3Wj>. Acesso em: 2 maio 2017. Figura 4.20 | Transformador para eletrônica 3.2 Sensores de corrente por efeito Hall Supondo um pedaço de material semicondutor pelo qual passa uma corrente elétrica no sentido longitudinal e é colocado um voltímetro no sentido transversal, caso não haja um campo magnético externo sendo aplicado no material, a corrente fluirá de forma uniforme e a tensão observada será nula. Quando é aplicado um campo magnético neste material, a corrente que circula por ele tende a se acumular nas suas faces laterais. Essa distribuição não uniforme dos portadores de carga faz com que seja obtida uma tensão no voltímetro. Esse processo, chamado de efeito Hall, que está relacionado com a força de Lorentz, está ilustrado na Figura 4.21. Desta forma, a tensão que é medida pelo voltímetro é chamada de tensão de Hall. transformador utilizado em eletrônica, que além de servir como um condicionador e isolador do sinal de tensão, pode ser utilizado em fontes de alimentação. Os transformadores de corrente para baixos níveis de tensão possuem as mesmas características daquele apresentado na Figura 4.19, contudo, com dimensões menores. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 215 Fonte: <http://www.eletrica.ufpr.br/edu/Sensores/2000/neis/fig2.gif>. Acesso em: 2 maio 2017. Fonte: <https://goo.gl/EPkmV2>. Acesso em: 2 maio 2017. Figura 4.21 | Funcionamento interno do sensor de corrente por efeito Hall de até 50 A Figura 4.22 | Funcionamento interno do sensor de corrente por efeito Hall para corrente entre 50 A e 200 A Assim, existem componentes integrados que fazem a leitura da corrente que passa por ele utilizando o princípio do efeito Hall. Esses componentes possuem um sensor de efeito Hall interno a seu encapsulamento, que é responsável em medir o campo magnético gerado pelo fluxo de corrente elétrica que passa por ele. Assim, a corrente a ser medida simplesmente passa por dentro do componente, que fica responsável em disponibilizar em um de seus pinos uma tensão proporcional à corrente que circula por ele. Essa metodologia de medição está ilustrada na Figura 4.22, que exibe o funcionamento interno de um componente eletrônico com as características citadas, indicado para medição de corrente de até 50 A. A Figura 4.23, ilustra também um componente que realiza a medição de corrente por efeito Hall, contudo para uma faixa de corrente mais alta, entre 50 A e 200 A. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos216 Os componentes citados são fabricados pela Allegro e entre os dois tipos existem vários modelos. A diferença entre os modelos está relacionada à faixa otimizada de medição, sensibilidade, encapsulamento e capacidade de medição de corrente bidirecional ou unidirecional, ou seja, corrente contínua e alternada ou somente contínua. Para exemplificar, pode ser feita a análise do componente mais utilizado da linha, o ACS712. Ele é capaz de medir correntes bidirecionais e possui sensibilidade de até 185 mV/A, ou seja, a cada 1 A que passa pelo componente, a sua saída variará em ±185 mV, dependendo do sentido da corrente. Este modelo deve ser alimentado com 5 V e sua saída possui um offset de 2,5 V. Assim, considerando este modelo como exemplo, caso esteja passando por ele uma corrente de 2 A, a saída será de 2,870 V (0,185·2 + 2,5). Já quando esteja passando uma corrente de -3 A, a saída será 1,945 V (0,185·-3 + 2,5). Desta forma, esse valor de tensão pode ser amostrado por um conversor A/D e processado por um microcontrolador. 3.3 Sensor de corrente por resistor série A medição com a colocação de resistor em série é a forma mais simples de se medir corrente. Ela se baseia na Lei de Ohm, em que a medição é feita por meio da inserção de um resistor de valor conhecido em série com o circuito que se deseja medir a corrente. Dessa forma, haverá uma queda de tensão sobre o resistor proporcional à corrente que passa por ele. Avaliando essa tensão, consegue-se obter o valor da corrente. O maior problema relacionado a este tipo de medição é a queda de tensão que o resistor vai causar. Quanto maior essa Para saber mais Conheça mais das características e funcionamento do ACS712 acessando o link a seguir. Este vídeo foi feito pela própria fabricante e explica por meio de animações a forma em que a corrente circula pelo componente e como o sensor de efeito Hall gera a tensão proporcional a essa corrente. Disponível em: <https://youtu. be/7XIXOHnmOSo>. Acesso em: 27 mar. 2017. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 217 queda, maior a interferência da medição no circuito em que se deseja monitorar a tensão. Assim, quando se trabalha com circuitos eletrônicos que devem ter a sua tensão de alimentação estável, esta forma de medição não é a mais indicada. Por outro lado, quando se deseja monitorar o consumo de corrente de motores, por exemplo, esse método de medição é o mais utilizado devido a seu baixo custo. Normalmente é utilizado um resistor do tipo shunt para a medição da corrente. Este resistor possui uma resistência inferior a 1 Ω, alta capacidade de dissipar calor e é estável a variações de temperatura. Assim, o maior problema deste tipo de medição é atenuado, fazendo com que a influência dos instrumentos de medição seja a mínima possível. Como já foi dito, a medida da corrente é feita por meio da avaliação da queda de tensão sobre o resistor. Essa tensão pode ser medida por meio de montagens com amplificadores operacionais ou circuitos integrados específicos. Atualmente, a solução mais utilizada são os circuitos integrados monitores de corrente shunt. Estes componentes possuem toda a instrumentação eletrônica necessária para a medição, bastando apenas ao projetista ligaro resistor shunt nos pinos corretos e selecionar o ganho do circuito. O ganho é um parâmetro importante, pois a queda de tensão na maioria das vezes é da casa dos milivolts. Assim, quanto maior a sensibilidade dentro da faixa de medição, maior será a resolução na amostragem posterior desses dados pelo microcontrolador. A Figura 4.23 apresenta um exemplo de um circuito monitor de corrente montado utilizando o CI INA138. Nessa montagem, o ganho do circuito é ajustado conforme a seleção do valor do resistor RL. Assim, ele pode ser utilizado em diversas aplicações, sendo capaz de medir diversas faixas de corrente. Como pode-se perceber pela imagem, este componente possui aplicação em uma configuração conhecida como high-side, em que o resistor shunt é colocado logo após alimentação. Existem outros modelos de CI que necessitam que o resistor shunt seja colocado ligado ao terra, sendo chamados de low-side. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos218 Fonte: <https://goo.gl/72M3f9>. Acesso em: 2 maio 2017. Figura 4.23 | Circuito monitor de corrente shunt montado com o INA138 Questão para reflexão Para saber mais Dentre os tipos de sensores de corrente que foram apresentados, qual é capaz de medir a corrente com maior exatidão? Qual é o mais indicado para medir a corrente em sistemas eletrônicos embarcados? Consulte o datasheet (em inglês) do CI INA138 para saber sobre este componente que é largamente utilizado para o monitoramento de corrente nas mais diversas aplicações. Disponível em: <http:// www.ti.com/lit/ds/symlink/ina138.pdf>. Acesso em: 27 mar. 2017. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 219 Atividades de aprendizagem 1. Que tipo de instrumento é utilizado para medir a corrente elétrica em redes de distribuição? Por quê? 2. Qual a principal vantagem existente entre os sensores de corrente por efeito Hall e por resistor em série? U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos220 Seção 4 Circuitos condicionadores de sinais de tensão e corrente Introdução à seção Dentro da instrumentação eletrônica, quando se aborda o tópico de circuitos condicionadores de sinais de tensão e corrente, trata-se de circuitos que fazem o ajuste de um determinado sinal advindo de um sensor. Isso possibilita que este sinal possa ser amostrado por sistemas de aquisição de dados ou por um microntrolador. Existem vários tipos de sensores e transdutores que são capazes de converter grandezas físicas variadas em sinais elétricos de tensão ou corrente. No entanto, na maioria das vezes, estes sinais possuem amplitude muito baixa ou são ruidosos, impossibilitando que possam ser amostrados. Assim, torna-se necessário condicionar tais sinais para que possam ser amostrados e posteriormente processados. Os sensores podem ser divididos em dois tipos, analógicos e digitais. Os sensores digitais são aqueles que sua saída é dada por meio de um protocolo de comunicação digital. Nesse caso, os dados são processados de forma embarcada pelo próprio sensor e não é necessário nenhum circuito de condicionamento. Alguns exemplos de sensores desse tipo são os sensores de temperatura TMP275, LM92 e DB18B20 e os sensores de umidade e temperatura SHT75 e Si7005. Os sensores analógicos são aqueles que apenas realizam a conversão de grandezas e, na maioria das vezes, necessitam de circuitos de condicionamento. Alguns exemplos de sensores analógicos são os termistores, potenciômetros, sliders, fotorresistores, fotodiodos, strain gauges, sensores piezoelétricos e transdutores de ultrassom. Cada tipo de sensor necessita de um tipo de condicionamento diferente, fazendo com que após o condicionamento exista um nível de tensão ou sinal digital que possa ser lido pelo sistema de aquisição de dados. Um fator importante é o formato em que o condicionamento deve ser feito. Usualmente, utiliza-se um microcontrolador para amostrar os dados. Assim, é necessário que o sinal varie dentro U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 221 V R R VOUT P = + ⋅ ⋅ −1 2 1 2(V ) 4.1 Amplificador de instrumentação da faixa de tensão do microcontrolador. Tomando como exemplo um microcontrolador que opera em 5 V, os sinais que ele pode ler em seu conversor A/D devem estar na faixa de 0 a 5 V. Desta forma, o primeiro passo de um circuito de condicionamento é fazer com que o sinal esteja dentro dessa faixa. Após isso, deve-se amplificar o sinal o máximo possível, de forma que ele excursione por toda essa faixa, o que faz com que o processo de conversão A/D tenha a maior precisão possível. A maioria dos circuitos de condicionamento faz uso das montagens com amplificadores operacionais, apresentadas na Seção 4.1, seja apenas uma delas, ou uma montagem com vários amplificadores em sequência. Com isso, estão apresentados nesta seção, circuitos que são utilizados para condicionar os sinais de alguns sensores. O amplificador de instrumentação é um circuito montado tendo como base os amplificadores operacionais. Este circuito gera uma saída baseada na diferença entre suas duas entradas, multiplicada por um ganho, que é selecionado por meio da seleção dos resistores em sua montagem. A Figura 4.24 ilustra o amplificador de instrumentação. Levando em consideração as montagens que compõem o circuito, é possível determinar o valor da tensão que será encontrada na sua saída como sendo: U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos222 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.24 | Amplificador de instrumentação G k RG = + 1 50 Além da montagem com a utilização de três amplificadores operacionais, pode-se empregar um circuito integrado que possui essa montagem interna. Dessa forma, basta ao projetista selecionar o valor do ganho por meio de um resistor externo. Um exemplo de circuito integrado de amplificador de instrumentação é o INA121, que possui seu diagrama interno apresentado na Figura 4.25. Além dos pinos de alimentação, entrada, saída e para colocação do resistor de ganho, possui ainda o pino “Ref”, em que pode ser aplicada uma tensão a ser somada com o sinal de saída. Conforme dados do datasheet deste CI, o ganho pode ser calculado por: U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 223 Fonte: <http://www.ti.com/lit/ds/symlink/ina121.pdf>. Acesso em: 3 maio 2017. Figura 4.25 | Amplificador de instrumentação O amplificador de instrumentação é muito utilizado quando se deseja amplificar pequenos valores de tensão diferenciais, como em sensores em que as variações de tensão a serem medidas são muito pequenas. Um exemplo de aplicação é a medição de deformações por meio de extensômetros. O extensômetro, conhecido também como strain gage, é um elemento que quando deformado sofre variação de sua resistência e está ilustrado na Figura 4.26. Cada modelo de extensômetro possui um sentido de deformação ótimo, no caso do modelo apresentado, a deformação deve acontecer no sentido longitudinal, onde as linhas de resistência são mais longas. Este componente é muito utilizado em máquinas, equipamentos e estruturas para medir a sua deformação quando é aplicada uma tensão mecânica. Para se medir a variação de resistência de um extensômetro é utilizado um circuito conhecido como ponte de Wheatstone em conjunto com um amplificador de instrumentação, como está apresentado na Figura 4.27. Neste circuito, os resistores indicados como R possuem o mesmo valor, o que proporciona uma variação de tensão nos pontos internos da ponte, conforme a variação de resistência do strain gage. O potenciômetro POT em conjunto com o U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos224 resistor R0, são utilizados para o ajuste de zero da ponte, caso haja um desbalanceamento devido a possíveis diferenças entre as resistências. O ganho do amplificador de instrumentação, dado pelo resistor RG, deve ser ajustado conforme a sensibilidade do strain gage. Como o valor de RG pode variar muito conforme a aplicação do extensômetro, usualmente é colocado um trimpot (resistor variável deprecisão) em substituição a um resistor de valor fixo. 4.2 Fonte de corrente constante Existem alguns tipos de sensores e aplicações que necessitam de uma fonte de corrente constante, ou seja, um circuito que mantenha o fornecimento de corrente sempre o mesmo, independentemente da carga que é ligada a ele. Como a maioria Fonte: <http://br.omega.com/pressure/images/SGD_EXTRA-LONG_l.jpg>. Acesso em: 3 maio 2017. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.26 | Exemplo de extensômetro Figura 4.27 | Circuito de condicionamento para extensômetro (strain gage) U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 225 V R V R RREF CC= ⋅ + 2 1 2 V V VR CC REF3 = − DASAÍI V R V V R R CC REF= = −3 3 3 das fontes de energia elétrica são fontes de tensão, é necessário um circuito que, a partir de uma fonte de tensão, possa gerar essa corrente constante. A Figura 4.28 ilustra um circuito fonte de corrente constante montado, tendo como base um amplificador operacional e um transistor PNP. Neste circuito, o divisor resistivo montado com R1 e R2 é responsável por gerar uma tensão de referência, que é aplicada na entrada não inversora do amplificador operacional e pode ser escrita como sendo: O amplificador operacional está montado em realimentação negativa, formada pelo emissor do transistor. Com isso, a tensão da porta inversora é igual à tensão da porta não inversora. Portanto, a tensão sobre o resistor R3 é: Nesse circuito, fica claro que a tensão sobre a carga varia conforme a sua impedância. Como a tensão no emissor do transistor é fixa devido ao amplificador operacional, a variação de tensão que a carga pode causar é absorvida pelo transistor. Assim, pode-se dizer que a tensão VCE do transistor varia conforme a carga aplicada. Como a corrente na base do transistor é muito pequena em comparação com a corrente no coletor, pode-se dizer que a corrente no emissor será igual à corrente no coletor. Assim, a corrente de saída do circuito será a mesma que passa por R3. Desta forma: U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos226 Um ponto importante relacionado ao circuito da Figura 4.28 está na estabilidade que a fonte de alimentação deve ter. Observando o circuito, caso o valor de VCC venha a variar, o valor da tensão VREF também variará. Consequentemente, a tensão sobre o resistor também sofrerá variações, fazendo com que a corrente gerada pelo circuito venha a variar. Assim, recomenda-se que seja utilizada uma fonte de tensão estável, que pode ser obtida por meio da utilização de um regulador de precisão, como será apresentado nas seções subsequentes. Outro parâmetro relevante é que a tensão de referência do circuito, gerada por um divisor de tensão resistivo, pode ser gerada de outra forma, como por um diodo zener ou conversor D/A. Uma das possíveis aplicações do circuito fonte de corrente constante é na medição de temperatura por meio de termistores. Os termistores são componentes que variam a sua resistência conforme a temperatura, em que o modelo mais conhecido e utilizado é o NTC, em que a sua resistência diminui com o aumento da temperatura. Assim, como o circuito apresentado nessa seção mantém a corrente constante, utilizando a Lei de Ohm, é possível determinar a resistência do termistor ao se avaliar a tensão sobre ele. Desta forma, é possível encontrar uma relação entre temperatura e tensão. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.28 | Circuito fonte de corrente constante U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 227 Considerando, ainda, o exemplo do termistor, existe a possibilidade da variação de tensão com a temperatura ser muito pequena. Sendo assim, faz-se necessária a utilização de um circuito de condicionamento, que permita uma maior variação de tensão dentro de uma faixa de temperatura determinada. Para isso, pode-se utilizar uma das montagens com amplificadores operacionais já apresentada nessa unidade, como o amplificador inversor ou o não inversor. Em alguns casos, também é necessária a utilização de um subtrator, que permita a subtração da tensão de início de escala do termistor antes da amplificação e também de um buffer, para desacoplar o sinal de tensão gerado pelo termistor. Levando em consideração o que foi dito, um possível circuito de condicionamento para um termistor está apresentado na Figura 4.29. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.29 | Circuito de condicionamento para termistor Para saber mais Para conhecer um pouco mais sobre os termistores NTC, assista ao vídeo do link a seguir. No vídeo são apresentadas várias informações sobre os NTCs, é feita uma comparação entre modelos e um teste de funcionamento. Disponível em: <https:// youtu.be/Eaq6ToaoojA>. Acesso em: 27 mar. 2017. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos228 Questão para reflexão Existe uma outra forma de se realizar o condicionamento do sinal de tensão de um termistor? Como seria o circuito? É possível aplicar outro circuito para se medir a temperatura? 4.3 Fontes de tensão regulada Para o funcionamento de todo e qualquer circuito eletrônico, é necessário que haja uma fonte de energia, permitindo que os diferentes componentes desempenhem seus papéis dentro do circuito. Entre os tipos de fonte de alimentação existem as fontes de tensão e corrente, podendo ser contínuas ou alternadas. Esta seção se limita a abordar somente as fontes de tensão contínua, apresentando como elas podem desenvolvidas e utilizadas. Quando se trata das fontes de tensão, elas podem ser divididas em dois tipos: reguladas e não reguladas. As fontes reguladas são aquelas que possuem um ou vários componentes eletrônicos responsáveis por manter a tensão de saída regulada, sem variações de tensão conforme a variação da carga. Já na fonte de tensão não regulada, acontecem variações na sua tensão de saída conforme a carga aplicada varia. De modo geral, em uma fonte de tensão não regulada ou com regulação defeituosa, a tensão da fonte tende a diminuir com o aumento da carga, e consequentemente a exigência de uma maior corrente. A forma mais simples de se obter uma tensão regulada é por meio dos reguladores lineares. Estes reguladores são componentes que internamente possuem uma montagem baseada em transistores, permitindo que uma tensão não regulada aplicada em sua entrada seja regulada. O CIs mais conhecidos que desempenham essa função são os da linha 78XX. Cada um dos modelos realiza a regulagem de tensão para determinado nível. Tomando como exemplo o 7805, ilustrado na Figura 4.30, ele disponibiliza em sua saída uma tensão regulada em 5 V. Um circuito exemplo de aplicação está apresentado na Figura 4.31. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 229 Existem aplicações que necessitam de uma regulação de tensão mais precisa que a encontrada nos reguladores mais comuns como os da linha 78XX, em que a saída pode variar em até 5 %. Tais reguladores são chamados de reguladores de precisão e utilizados na maioria das vezes para se gerar uma tensão de referência. Um exemplo de CI com essa característica é o LT1461, que possui uma variação máxima de sua saída em 0,04%. Fonte: <https://goo.gl/z0c0hY>. Acesso em: 3 maio 2017. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.30 | Circuito integrado 7805 Figura 4.31 | Exemplo de circuito com o CI 7805 U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos230 Atividades de aprendizagem 1. Projete um circuito fonte de corrente que gere uma corrente constante de 20 mA para excitar um termistor NTC. A única tensão de alimentação disponível para a utilização é de 12 V. Procure utilizar uma tensão de referência de 5 V. 2. Qual a vantagem da utilização de um regulador de tensão convencional para um de precisão? Fique ligado Nesta unidade foram apresentados os seguintes tópicos: • Conceitos gerais sobre o funcionamento dos amplificadores operacionais. • Circuitos de condicionamento com amplificadores operacionais. • Diferenças entre o amplificador operacional ideal e o real. • Circuitos osciladores com transistorese amplificadores operacionais utilizando capacitores e indutores. • Circuitos osciladores com cristais. • Circuitos e funcionamento do temporizador 555. • Métodos de medição de corrente e tensão. • Transformadores de potencial e de corrente. • Sensores de corrente por efeito Hall. • Medidores de corrente por resistor shunt. • Circuitos de condicionamento de sinais de tensão e corrente. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 231 • Circuito e funcionamento do amplificador de instrumentação. • Circuito de condicionamento para extensômetro. • Circuito fonte de corrente constante. • Circuito de condicionamento para termistor. • Fontes de tensão regulada. • Reguladores de tensão convencionais e de precisão. Para concluir o estudo da unidade Ao final do estudo desta unidade, é esperado que você tenha conhecimento e seja capaz de projetar circuitos de condicionamento montados com amplificadores operacionais. Além disso, deve ser capaz de selecionar e projetar o melhor tipo de oscilador, conforme a aplicação. Espera-se também que saiba realizar a medição de corrente nos mais diversos tipos de sistema e circuitos, bem como seja capaz de trabalhar com os mais diversos tipos de sensores analógicos, sabendo realizar o condicionamento necessário para que a leitura desse sensor possa ser feita por um sistema de aquisição de dados. Por fim, deve ser capaz de utilizar os mais diversos tipos de reguladores de tensão, conforme a aplicação. Esta unidade apresenta os conceitos básicos da instrumentação eletrônica de forma resumida. Para que o aprendizado seja completo, é importante que você acesse todos os links apresentados no material, pois eles servem como complemento a aquilo que não está documentado no texto. Bons estudos! Para saber mais Dois livros que podem ser utilizados no complemento dos estudos são Eletrônica e Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. Fonte: MALVINO, Albert Paul. Eletrônica. v. 2. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2007. U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos232 BOYLESTAD, R.; NASHELESKY, L. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 11. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. Estes livros são muito empregados no desenvolvimento de circuitos analógicos de condicionamento, pois apresentam uma grande quantidade de circuitos práticos, que podem ser utilizados nas mais diversas aplicações. Atividades de aprendizagem da unidade 1. Os circuitos osciladores são muito utilizados para a geração de sinais elétricos alternados, de modo em que existem vários tipos de montagens que podem ser feitas para se gerar um mesmo sinal. A forma mais simples de se gerar uma onda quadrada é com a utilização do temporizador 555. Tomando o circuito apresentado na Figura 4.32, calcule o valor da frequência e a razão cíclica da onda de saída. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.32 | Circuito para a questão 1 U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 233 2. Os extensômetros, também conhecidos como strain gage, são elementos utilizados para medir a deformação de estruturas e objetos variados. Em determinada aplicação, um extensômetro de resistência nominal de 10 kΩ sofreu uma deformação que causou um aumento de 0,5% de sua resistência. Calcule o valor de tensão encontrado na saída do circuito de condicionamento apresentado na Figura 4.33 para a deformação citada. O amplificador de instrumentação utilizado é o INA121 que possui ganho igual a G k RG = + 1 50 . 3. Os circuitos osciladores são muito utilizados para a geração de sinais elétricos alternados, de modo em que existem vários tipos de montagens que podem ser feitas para se gerar um mesmo sinal. Considerando o circuito oscilador ponte de Wien apresentado na Figura 4.34, calcule o valor de frequência da onda senoidal de saída. Fonte: elaborada pelo autor. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.33 | Circuito para a questão 2 Figura 4.34 | Circuito para a questão 3 U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos234 4. Existem aplicações que devem possuir uma fonte de corrente constante, por exemplo, na medição de sinais gerados por sensores resistivos. Considerando o circuito fonte de corrente apresentado na Figura 4.35, calcule o valor da corrente que estará passando sobre o resistor de RI. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.35 | Circuito para a questão 4 U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos 235 5. Os circuitos de condicionamento são muito utilizados para o condicionamento de sinais de sensores. Um exemplo de sensor é o termistor, que uma variação de temperatura causa a variação de sua resistência. O circuito da Figura 4.36 ilustra um exemplo de condicionamento para um termistor. A partir do circuito apresentado, calcule o valor da tensão de saída Vout. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.36 | Circuito para a questão 5 U4 - Aplicação de circuitos eletrônicos236 Referências ALEXANDER, C. K.; SADIKU, M. N. O. Fundamentos de circuitos elétricos. Porto Alegre: Bookman, 2003. ALLEGRO MicroSystems, LCC. ACS712 datasheet. [s.d.]. Disponível em: <http:// www.allegromicro.com/~/media/files/datasheets/acs712-datasheet.ashx>. Acesso em: 29 mar. 2017. BOYLESTAD, R.; NASHELESKY, L. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 11. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. BRAGA, Newton C. Como funcionam os sensores de efeito Hall. 2014. Disponível em: <http://www.newtoncbraga.com.br/index.php/como-funciona/6640-como- funcionam-os-sensores-de-efeito-hall-art1050>. Acesso em: 29 mar. 2017. BURR-BROWN. INA121 datasheet. 1998. Disponível em: <http://www.ti.com/lit/ ds/symlink/ina121.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2017. LINEAR TECNOLOGY. LT1461 datasheet. [s.d.]. Disponível em: <http://cds.linear. com/docs/en/datasheet/1461fb.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2017. MALVINO, Albert Paul. Eletrônica. v. 1 e 2. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2007. SEDRA, S.; SMITH, K. Microeletrônica. 4. ed. São Paulo: Pearson Makron Books, 2005. TEXAS INSTRUMENTS. INA138, INA168 datasheet. 2003. Disponível em: <https:// www.sparkfun.com/datasheets/Components/LM7805.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2017. Anotações Anotações Anotações Anotações U N O PA R C IRC U ITO S ELÉTRICO S E IN STRU M EN TA Ç Ã O ELETRÔ N IC A Circuitos elétricos e instrumentação eletrônica