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TREMATÓDEOS Os trematódeos são helmintos e são conhecidos desde a Antiguidade. A origem do nome trematódeos vem do grego trematodes que significa furado e faz referência a estruturas conspícuas da superfície do corpo, as ventosas. Em sua maioria os parasitas são hermafroditas (com exceção do Schistosoma ), dotados de simetria bilateral, corpo em geral achatado dorsoventralmente, alongados e de aspecto foliáceo; outras vezes são piriformes, ou longos e delgados, chegando as fêmeas de Schistosoma a serem cilíndricas e filiformes. Schistosoma mansoni Esta espécie, única de interesse médico e sanitário nas Américas, desenvolve sua fase adulta como parasito da luz dos vasos sanguíneos do homem e de outros mamíferos, habitando preferentemente as vênulas do plexo hemorroidário superior e as ramificações mais finas das veias mesentéricas, particularmente da mesentérica inferior que drena a parede do intestino grosso, especialmente o reto e o cólon sigmóide. Em seu estágio adulto o macho mede cerca de 1 cm de comprimento (0,6 a 1,4 cm) por 0,11 cm de largura e é de cor branca, apresentando uma citomembrana revestida na superfície exterior com glicocálix, rico em carboidratos. Na extremidade anterior apresenta uma ventosa oral e em uma pequena distância desta uma segunda ventosa, comprimida denominada de acetábulo. Possui também o canal ginecóforo, pois nele costuma estar alojada uma fêmea e a maturação sexual ocorre primeiramente nos machos. O aparelho genital masculino compreende 6 a 8 massas testiculares pequenas. Entretanto a fêmea tem o corpo cilíndrico, mais longo e mais fino que o do macho (1,2 a 1,6 cm por 0,016 cm de diâmetro, em média) aparenta ser mais escura e acinzentada devido a conter em seu tubo digestivo um pigmento derivado da digestão do sangue (a hemozoína) com relação a suas ventosas elas são pequenas e o ovário é oblongo, ligeiramente lobado, e fica na metade anterior do corpo. O ovo de S.mansoni mede 110 a 180 μm de comprimento (média: 150 μm) por 45 a 70 μm de largura, a casca do ovo é bastante rígida e também porosa, o que possibilita a liberação de substâncias produzidas pelo embrião em formação em seu interior e a entrada de nutrientes. Esses ovos exibem caracteristicamente uma espícula lateral grande (Figura 19). Tendo sido os ovos eliminados, são viáveis por 2 a 5 dias em fezes formadas e possuindo o ambiente agradável (temperatura, ph da água doce, luz, etc) para eles se desenvolve uma larva no interior do ovo denominada miracídio que mede 160 a 180 μm por 60 μm, está revestida por pequeno número de células epiteliais pavimentosas, são ciliadas e dispostas em ordem regular que são capazes de movimentar-se ativamente e romper a casca do ovo transversalmente .Na extremidade anterior do miracídio, encontra-se uma estrutura conhecida como papila apical ou terebratório, onde se situam as terminações das glândulas adesivas e da glândula de penetração (Figura 20). Ao penetrar o hospedeiro intermediário o miracídio perde seu revestimento epitelial ciliado, assim o parasito transforma-se em uma estrutura sacular alongada conhecida como esporocisto primário, sendo estruturalmente simples. A parede do corpo compreende, externamente, uma membrana plasmática e, internamente, uma camada sincicial e cada esporocisto primário dará origem a uma estrutura semelhante, o esporocisto secundário, com cerca de 250 μm de comprimento. Cerca de 4 a 7 semanas após a penetração, originam-se, a partir de esporocistos secundários, numerosas formas larvárias, conhecidas como cercárias. A cercária tem cerca de 500 μm de comprimento, dos quais três quintos correspondem à cauda com extremidade bifurcada, com cerca de 230 μm de comprimento, também apresenta ventosas: ventosa oral e uma ventosa ventral (Figura 21), é crucial para a fixação na pele do hospedeiro definitivo durante o processo de penetração. Após a cercária entrar em contato com o hospedeiro definitivo irá ocorrer a penetração no qual a cercária irá perder a sua cauda e transforma-se em esquistossômulo que atravessa a epiderme e a derme e chega aos vasos sanguíneos e linfáticos da pele e do tecido subcutâneo. (FERREIRA 2021; REY 2008) Figura 19: Ovo de Schistosoma mansoni . Observa-se a espícula lateral (seta) Figura 20: Representação esquemática de miracídio Figura 21 : Cercária de Schistosoma mansoni : esquema (A) e fotografia (B). Figura 22: Casal de Schistosoma mansoni, vendo-se a extremidade anterior da fêmea (com sua ventosa oral) alojada no canal ginecóforo do macho, cujo segmento anterior exibe as duas ventosas. Cestoides Os cestoides ou cestódeos são helmintos parasitas da classe Cestoda, pertencente ao subfilo Neodermata do filo Platelminto, esses parasitas são achatados dorsoventralmente, em forma de fita, desprovidos de trato digestório e de sistema circulatório. O corpo dos vermes adultos é dividido em três porções: na extremidade anterior, localiza-se o escólex (cabeça), que apresenta, na sua porção apical (rostelo), estruturas de fixação, como ventosas e pequenos ganchos, conhecidos como acúleos, ao decorrer do corpo do parasita, segue-se uma porção delgada chamada de colo, que corresponde à região de crescimento. O estróbilo, que compreende toda a parte posterior do animal, consiste em uma cadeia de segmentos, denominados proglotes ou proglótides, com níveis crescentes de maturidade e nas proglotes terminais ou grávidas caracterizam-se por um tubo uterino com milhares de ovos, essa reprodução geralmente é mediante autofertilização. Taenia solium e Taenia saginata As espécies T. solium e T. saginata são os principais agentes etiológicos das teníases, doenças causadas pelo estágio adulto de parasitos cestoides do gênero Taenia. Em seu ciclo biológico a T. solium tem como hospedeiro intermediário os suínos e geralmente possui o homem como hospedeiro intermediário acidental, que leva a doença denominada cisticercose, enquanto a T. saginata possui apenas os bovinos como hospedeiros intermediários. Os vermes adultos de T. solium e T. saginata são similares, mas diferem em alguns aspectos morfológicos (Figura 23), sendo que a Taenia solium possui 800 a 1.000 proglotes e mede de 1,5 a 4 m, podendo chegar até 8 a 9 m. O escólex de T. solium contém quatro ventosas e um rostro típico, circundado por uma fileira de acúleos (escólex armado) por conseguinte o útero grávido, na proglote terminal, tem de 7 a 12 ramificações principais de cada lado da haste uterina, que se ramificam distalmente em um padrão dendrítico. Já a Taenia saginata possui de 1.000 a 2.000 proglotes e atinge um comprimento total de 4 a 12 m, mas podendo chegar a 25 m; Em seu escólex conta também com quatro ventosas, mas não apresenta um rostro nem os acúleos (escólex desarmado) e em suas ramificações uterinas há de 15 a 30 ramificações uterinas de cada lado da haste uterina, que se ramificam distalmente de modo dicotômico. O nome conhecido como “solitária” vem pelo fato do verme adulto fixar-se, por meio do escólex, à mucosa do jejuno do hospedeiro humano, que normalmente alberga uma única tênia. Ao chegar ao estágio de maturação das proglotes grávidas, elas se romperem elas liberam os ovos, morfologicamente idênticos em ambas as espécies. São embrionados – ou seja, contêm uma oncosfera – e caracterizam-se por um envoltório espesso, conhecido como embrióforo, com estrias radiadas (Figura 24). Os ovos ao serem eliminados nas fezes de indivíduos infectados, encontram-se no solo e na vegetação e uma vez ingeridos pelos hospedeiros intermediários os infectam e migram para os sítios mais comuns (muscular e nervoso) para o desenvolvimento das formas larvárias, os cisticercos que são cheios de fluido, contém no seu interior um único escólex e além de medirem aproximadamente 5 mm de diâmetro (Figura25) (FERREIRA, 2021) Figura 23 : Aspectos morfológicos diferenciais entre adultos de T. solium (A) e T. saginata (B). Figura 24 : Microfoto de ovos de Taenia solium Figura 25: Cisticerco de T . solium Hymenolepis nana Hymenolepis nana é um helminto que é o agente causador da himenolepíase que é uma infecção intestinal. São também chamados de “tênia anã”, em comparação a adultos de Taenia por sua morfologia muito semelhante e apenas possuírem uma diferença no tamanho. Hymenolepis nana (Figura 26) mede, na sua forma adulta, de 15 a 40 mm de comprimento e o verme adulto pode ter até 200 proglotes. Seu escólex apresenta um rostelo retrátil, com uma única fileira de 20 a 30 acúleos, e quatro ventosas. Também possui em seu ciclo sua fase larval (cisticerco) e o ovo (FERREIRA, 2021). Figura 26: Representação de Hymenolepis nana. .(A) Esquema do verme adulto completo de H. nana . (B) Escólex de H. nana , com ventosas e um rostelo com uma fileira de acúleos. (C e D) Ovo de H. nana . NEMATÓDEOS Os nematódeos são helmintos cilíndricos e alongados e geralmente com simetria bilateral, pertencentes ao filo Nematoda. Os principais nematódeos que parasitam o trato digestório de populações humanas e de interesse médico agrupam-se na classe Rhabditea, que inclui as ordens Ascaridida (onde se encontra o gênero Ascaris ), Strongylida (gêneros Ancylostoma e Necator ), Rhabditida (gênero Strongyloides ) e Oxyurida ( Enterobius ). A segunda classe de importância médica chama-se Enoplea, e inclui a ordem Trichurida (gênero Trichuris ). A estrutura básica é composta por tubo exterior e interior que respectivamente representam: o tubo exterior é uma membrana externa recoberta por um tegumento ou cutícula elástica, acelular. Atrelado há uma parede uma hipoderme delgada e a musculatura somática, composta por uma única camada de células musculares lisas que são inervadas por extensões de troncos nervosos originados de células ganglionares localizadas em torno da porção média do esôfago. O tubo interno corresponde ao trato digestório, que nos nematódeos compreende uma cavidade bucal, seguida do esôfago e de um longo intestino, estrutura tubular revestida por uma única camada de epitélio colunar com microvilos proeminentes, que termina em uma cloaca. Entre os tubos há um pseudoceloma, cavidade geral que não é revestida por uma camada mesotelial. No pseudoceloma, preenchido por líquido, encontra-se o trato reprodutivo e uma glândula excretória e um polo excretor localizado ventralmente ( Figura 27) (FERREIRA, 2021). Figura 27: Representação da morfologia de um nematódeo (A) macho e (B) fêmea. Ancylostoma duodenale e Necator americanus Ancylostoma duodenale e Necator americanus são os causadores da ancilostomíase que se desenvolvem e infectam o tubo digestório humano. Ambas espécies são parecidas morfologicamente, mas A. duodenale é geralmente maior que N. americanus (Figura 28) e também distingue em sua cápsula bucal em que A. duodenale encontram-se dois pares de dentes, enquanto na cápsula bucal de N. americanus são duas lâminas de bordas cortantes (Figura 29). A bolsa copuladora de A. duodenale também apresenta ser mais alargada que a de N. americanus . Os ovos, ao serem eliminados, têm casca fina e hialina e formato ovoide (para ambas espécies). Em contato com o solo e também nas condições favoráveis para seu desenvolvimento esse ovo produz larvas rabditóides (L1), ao eclodirem liberam larvas L1 de cerca de 275 μm de comprimento e 17 μm de diâmetro. Possuem como proteção a cutícula ou bainha que reveste a larva que forma uma camada protetora em volta do verme jovem, distinguem- se em seu estágio infectante As larvas filarióides L3, com cerca de 600 μm de comprimento. Ao penetrar o tecido do hospedeiro humano que teve contato com o solo contaminado essas larvas se distinguem em L4 no organismo e chegam a maturação dos vermes adultos ficam aderidos à mucosa do intestino delgado, com auxílio dos dentes ou lâminas presentes na cápsula bucal alimentando-se de sangue (FERREIRA, 2021). Figura 28 : Morfologia esquemática de vermes adultos de ancilostomídeos: macho (A) e fêmea (B). As diferenças encontradas na cápsula bucal de Ancylostoma duodenale (C) e Necator americanus (D) são também representada Figura 29 : Cápsula bucal de Ancylostoma duodenale (A) e de Necator americanus (B) e bolsa copulatória do verme adulto macho de A. duodenale (C). Enterobius vermicularis Esse helminto foi descrito pela primeira vez por Lineu, em 1758 e um dos habitat do E. vermicularis é o ceco e os segmentos adjacentes do intestino delgado e grosso, incluindo o apêndice ileocecal. A fêmea adulta mede 8 a 13 mm de comprimento e 0,3 a 0,5 mm de diâmetro, enquanto os machos possuem 2 a 5 mm de comprimento e 0,1 a 0,2 mm de diâmetro. Os ovos (Figura 30) medem cerca de 50 a 60 μm por 20 a 30 μm; um lado de sua casca é achatado assimetricamente e é relativamente espessa e incolor. Em sua fase infectante os ovos liberam as larvas L1 no duodeno, de 150 a 154 μm de comprimento. A larva rabditóide sofre duas mudas, provavelmente nas criptas da mucosa, antes de chegar ao jejuno e ao íleo superior (Figura 31). Figura 30 : Ovos de Enterobius vermicularis aderidos a uma fita de celofane, transferida para uma lâmina de microscopia. Figura 31 : Ovos e exemplares adultos de Enterobius vermicularis . Na representação esquemática de ovo (A), macho adulto (B) e fêmea adulta (C). Ovo de Enterobius vermicularis eliminado nas fezes (D) Trichuris trichiura Trichuris trichiura é um parasito humano, Na grande maioria dos casos, o parasitismo ocorre silenciosamente; mas os pacientes que,em vista de suas condições físicas ou das condições gerais de vida,contraem elevado número de vermes passam a sofrer de perturbações intestinais cuja gravidade chega inclusive a provocar a morte. Os vermes adultos medem entre 30 e 50 mm de comprimento; as fêmeas são, em média, cerca de 5 mm maiores do que os machos e possui um aspecto de chicote, proporcionado por uma porção cefálica afilada e uma porção caudal mais larga. São vermes que habitam o lúmen do cólon humano, preferencialmente do ceco; ocasionalmente também são encontrados no apêndice e no reto. Os ovos quando depositados são ovos elipsoides, em forma de barril, medindo 50 a 54 μm por 22 a 23 μm, com proeminências polares típicas em forma de rolha. O desenvolvimento embrionário, que compreende uma única muda e quando entram em contato com o hospedeiro liberam larvas L2 que abrigam nas vilosidades intestinais,, onde sofrem uma muda. A última muda ocorre no ceco, onde são preferencialmente encontrados os adultos (Figura 32) (FERREIRA, 2021). Figura 32 : Ovos e vermes adultos de Trichuris trichiura . Em (A e B) são ilustrados vermes adultos; fêmea (A) e macho (B). Em (C) são representados três ovos recém-eliminados, e em (D), um ovo embrionado. Ascaris lumbricoides Ascaris lumbricoides , foi classificado originalmente por Lineu, em 1758, é o maior nematódeo do trato digestório humano. Os vermes adultos são cilíndricos, afilando-se gradualmente nas extremidades anterior e posterior. As fêmeas adultas podem chegar a mais de 40 cm de comprimento (porém, geralmente têm 20 a 35 cm) e 3 a 6 mm de diâmetro; os machos maduros medem 15 a 31 cm de comprimento e 2 a 4 mm de diâmetro (Figura 33) que habitam o lúmen do intestino delgado humano, onde se alimentam e copulam. Os ovos férteis recém-eliminados são ovóides e medem 45 a 75 μm por 35 a 50 μm e o que garante a resistência ao meio externo é o fato de serem recobertos por uma casca externa albuminosa espessa, uma camada intermediária também espessa e uma membrana vitelina interna. Em seu desenvolvimento embrionário alcançam o desenvolvimento de duas mudase quando ingeridos, os ovos liberam uma larva L3 de 200 a 300 μm (média, 260 μm) de comprimento e 14 μm de diâmetro e ao completarem o ciclo pulmonar e caírem no lúmen alveolar, medem 1.200 a 1.600 μm de comprimento e 36 a 39 μm de diâmetro. Durante o trajeto para o intestino delgado alcançam 1.700 μm de comprimento e 60 μm de diâmetro. A terceira muda ocorre na mucosa intestinal, originando larvas L4 com 2 mm ou mais de comprimento. E apenas no lúmen intestinal, transformam-se em adultos com sexos separados (Figura 34) (FERREIRA, 2021). Figura 33 : Morfologia de exemplares adultos de Ascaris lumbricoides . A fêmea (A) apresenta extremidade posterior retilínea, enquanto o macho (B), um pouco menor, apresenta extremidade posterior curva, com uma espícula Figura 34 : Corte histológico de pulmão mostrando duas larvas de Ascaris lumbricoides , seccionadas transversalmente, no interior de alvéolo (setas). Coloração de hematoxilina-eosina
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