Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Quadraturas Löıc Cerf 1 Quadratura de Newton-Cotes Algoritmo 1 Newton-Cotes Entrada: a ∈ R, b ∈ R, f ∈ R[a;b], n ∈ {1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 8}, m ∈ N \ {0} Sáıda: Integral ∈ R, Erro ∈ {verdadeiro; falso} se resto(m,n) 6= 0 então retorne 0, verdadeiro fim se d← ( 2 6 8 90 288 840 17280 28350 ) c← 1 1 4 1 3 7 32 12 19 75 50 41 216 27 272 751 3577 1323 2989 989 5888 −928 10496 −4540 h← (b− a)/m v ← ( 0 · · · 0 ) {vetor de n zeros} para i = 1→ m− 1 faça v[resto(i, n) + 1]← v[resto(i, n) + 1] + f(a+ i× h) fim para Integral ← c[n, 1]× (f(a) + f(b) + 2× v[1]) para i = 2→ quociente(n+ 1, 2) faça Integral ← Integral + c[n, i]× (v[i] + v[n− i+ 2]) fim para se resto(n, 2) = 0 então i← quociente(n, 2) + 1 Integral ← Integral + c[n, i]× v[i] fim se retorne n× h/d[n]×Integral, falso 1 2 Quadratura de Gauss-Legendre 2.1 Demonstração do método Dados dois números reais a e b e uma função real f definida no intervalo [a; b], a quadratura de Gauss-Legendre objetiva aproximar ∫ b a f . Pela substituição de variável x = b−a2 t+ a+b 2 , temos ∫ b a f = b−a2 ∫ 1 −1 F , onde F é a função t 7→ f( b−a2 t + a+b 2 ). Assim, reduzimos o problema da integração no intervalo [a; b] ao problema da integração no intervalo [−1; 1]. O objetivo que guia a demonstração da quadratura de Gauss-Legendre é a integração sem erro de f se f for um polinômio de grau 2n − 1 ou menor, sendo n ∈ N \ {0} quantas vezes f será avaliada. Mais precisamente, queremos calcular as abscissas (t1, . . . , tn) ∈ Rn e os pesos (ω1, . . . , ωn) ∈ Rn tal que∫ 1 −1 F = ∑n i=1 ωiF (ti) se f for um polinômio de grau 2n − 1 ou menor. Por definição, F é também um polinômio de grau 2n− 1 ou menor. Teorema 1. A quadratura de Gauss-Legendre com n ∈ N \ {0} avaliações da função a ser integrada é exata para qualquer polinômio de grau 2n − 1 ou menor se e somente se ela for exata para os polinômios t0, t1, . . . , e t2n−1. Formalmente: ∀F ∈ R[2n− 1], ∫ 1 −1 F = n∑ i=1 ωiF (ti)⇔ ∀k = 0..2n− 1, ∫ 1 −1 tk dt = n∑ i=1 ωit k i . Demonstração 1. A implicação da esquerda para a direita é óbvia: ∀k = 1..2n− 1, tk ∈ R[2n− 1] ⇒ ∫ 1 −1 tk dt = n∑ i=1 ωit k i . (uso da hipótese) A implicação da direita para a esquerda requer mais trabalho. Começamos por escrever F (t) na forma padrão para um polinômio, ou seja, como uma com- binação linear das potências de t: ∀F ∈ R[2n− 1], ∃(c0, . . . , c2n−1) ∈ R2n | F (t) = 2n−1∑ k=0 ckt k . 2 Logo,∫ 1 −1 F = ∫ 1 −1 2n−1∑ k=0 ckt k dt = 2n−1∑ k=0 ck ∫ 1 −1 tk dt (linearidade de ∫ 1 −1 ) = 2n−1∑ k=0 ck n∑ i=1 ωit k i (uso da hipótese) = 2n−1∑ k=0 n∑ i=1 ckωit k i (distributividade de × em relação a +) = n∑ i=1 2n−1∑ k=0 ckωit k i (comutatividade de +) = n∑ i=1 ωi 2n−1∑ k=0 ckt k i (distributividade de × em relação a +) = n∑ i=1 ωiF (ti) . (definição de F ) Por Teorema 1, a integração sem erro de qualquer polinômio de grau 2n− 1 ou menor equivale a este sistema de 2n equações não lineares: ∀k = 0..2n− 1, n∑ i=1 ωit k i = ∫ 1 −1 tk dt = [ tk+1 k + 1 ]1 −1 = 1− (−1)k+1 k + 1 . (1) Seja π o polinômio mônico de grau n cujos zeros são t1, t2, . . . , tn, ou seja, π(t) = ∏n i=1(t− ti). Como qualquer polinômio, π(t) se expressa também como uma combinação linear das potências de t: ∃(c0, . . . , cn−1) ∈ Rn | π(t) = n∑ k=0 ckt k, com cn = 1 . Vamos calcular os coeficientes c0, c1, . . . , cn−1 para conhecer π e assim poder calcular seus zeros t1, t2, . . . , tn. Para isso, consideramos combinações lineares de n+ 1 equações sucessivas do sistema (1), ou seja, das suas equações com k = 0..n, k = 1..n + 1, . . . , k = n − 1..2n − 1. Os coeficientes usados em 3 qualquer uma dessas n combinações são c0, c1, . . . , cn: ∀j = 0..n− 1, n∑ k=0 ck 1− (−1)k+j+1 k + j + 1 = n∑ k=0 ck n∑ i=1 ωit k+j i = n∑ k=0 n∑ i=1 ckωit k+j i (distributividade) = n∑ i=1 n∑ k=0 ckωit k+j i (comutatividade) = n∑ i=1 ωit j i n∑ k=0 ckt k i (distributividade) = n∑ i=1 ωit j iπ(ti) (definição de π) = 0 (∀i = 1..n, π(ti) = 0) Resolvendo esse sistema linear de n equações e n variáveis, obtemos os coe- ficientes c0, c1, . . . , cn−1, ou seja, conhecemos π 1. Calculamos numericamente os zeros de π, ou seja, as abscissas t1, t2, . . . , tn. Falta o cálculo dos pesos ω1, ω2, . . . , ωn. As abscissas t1, t2, . . . , tn sendo agora conhecidas, o sistema (1) é um sistema de 2n equações lineares e n varáveis. Porém calculamos os coeficientes c0, c1, . . . , cn−1 e, em seguida, as abscissas t1, t2, . . . , tn de tal forma que: ∀j = 0..n− 1, n∑ k=0 ck n∑ i=1 ωit k+j i = n∑ k=0 ck 1− (−1)k+j+1 k + j + 1 = 0 . Em outros termos, existe uma dependência linear entre quaisquer n + 1 equações sucessivas do sistema (1). Por isso, obtemos um sistema equivalente ao remover de cada dependência linear uma equação multiplicada por um coe- ficiente não nulo. Removendo a última equação, multiplicada por cn = 1 6= 0, de cada dependência linear, sobram as n primeiras equações do sistema (1): ∀k = 0..n− 1, n∑ i=1 ωit k i = 1− (−1)k+1 k + 1 . Resolvendo esse sistema linear de n equações e n variáveis, obtemos os pesos ω1, ω2, . . . , ωn. Notando Pn−1 o polinômio de grau n − 1 que interpola os pontos da curva de f de abscissas b−a2 t1 + a+b 2 , b−a 2 t2 + a+b 2 , . . . , b−a 2 tn + a+b 2 , a quadratura de Gauss-Legendre com n pontos calcula ∫ b a Pn−1:∫ b a Pn−1 = b− a 2 n∑ i=1 ωiPn−1( b−a 2 ti + a+b 2 ) (Pn−1 tem grau n− 1 ≤ 2n− 1) = b− a 2 n∑ i=1 ωif( b−a 2 ti + a+b 2 ) (Pn−1 interpola f em b−a 2 ti + a+b 2 ) 1Ele é o polinômio de Legendre de grau n vezes um escalar, o inverso do coeficiente ĺıder do polinômio de Legendre de grau n (que não é 1 como escolhemos arbitrariamente para π). 4 2.2 Algoritmo Desconsiderando o cálculo das ráızes não negativas t1, t2, . . . , tdn2 e do polinômio de Legendre de grau n e dos pesos ω1, ω2, . . . , ωdn2 e associados, a quadratura de Gauss-Legendre com n pontos, b−a2 ∑n i=1 ωif( b−a 2 ti + a+b 2 ), é calculada em um tempo que é o das n avaliações de f mais O(n) operações aritméticas. Algoritmo 2 Gauss-Legendre Entrada: a ∈ R, b ∈ R, f ∈ R[a;b], n ∈ N \ {0} Sáıda: Integral ∈ R (T,W )← Gauss-Legendre-AbsPes(n) Integral ← 0 ba2← (b− a)/2 ab2← (a+ b)/2 impar ← resto(n, 2) se impar = 1 então Integral ←W [1]× f(ab2) fim se para i = 1 + impar → quociente(n, 2) + impar faça z ← ba2× T [i] Integral ← Integral + W [i]× (f(ab2− z) + f(ab2 + z)) fim para retorne ba2×Integral 2.3 Ausência do fenômeno de Runge Teorema 2. ∀n ∈ N \ {0}, os pesos da quadratura de Gauss-Legendre com n pontos são positivos. Demonstração 2. ∀n ∈ N \ {0}, ∀k = 1..n, seja Fk o seguinte polinômio: Fk(t) = n∏ j = 1 j 6= k t− tj tk − tj 2 com t1, t2, . . . , tn as abscissas da quadratura de Gauss-Legendre com n pontos. Ela calcula ∫ 1 −1 Fk de forma exata, ou seja, ∫ 1 −1 Fk = ∑n i=1 ωiFk(ti), já que o grau de Fk é 2(n − 1) ≤ 2n − 1. Por definição de Fk, temos Fk(tk) = 1 e ∀i ∈ {1, . . . , n} \ {k}, Fk(ti) = 0. Logo, ∫ 1 −1 Fk = ωk. Também por definição, Fk ≥ 0, o que implica ∫ 1 −1 Fk ≥ 0 e, usando a igualidade anterior, ωk ≥ 0. 5 Teorema 3. Dada qualquer função real f cont́ınua no intervalo [a; b], a qua- dratura de Gauss-Legendre com n pontos, In(f) = b−a 2 ∑n i=1 ωif( b−a 2 ti + a+b 2 ), converge para ∫ b a f quando n→ +∞. Demonstração 3. Seja En(f) = ∫ b a f − In(f). Por definição do limite, quer- emos provar que ∀ε > 0, ∃N ∈ N tal que ∀n > N , |En(f)| < ε. A função f sendo cont́ınua em [a; b], o teorema da aproximação de Weierstrass garante a existência de um polinômio p tal que: ∀x ∈ [a; b], |(f − p)(x)| < ε 2|b− a| . (2) Adicionando a En(f) os termos ∫ b a p, In(p) e os opostos deles, temos: En(f) = ∫ b a f − ∫ b a p+ ∫ b a p− In(p) + In(p)− In(f) . Por linearidade de ∫ b a e de ∑n i=1 respectivamente, ∫ b af − ∫ b a p = ∫ b a (f − p) e In(p)− In(f) = b−a2 ∑n i=1 ωi(p− f)( b−a 2 ti + a+b 2 ). Logo: En(f) = ∫ b a (f − p) + ∫ b a p− In(p) + b− a 2 n∑ i=1 ωi(p− f)( b−a2 ti + a+b 2 ) . Por desigualidade triangular de |.|: |En(f)| ≤ ∣∣∣∣∣ ∫ b a (f − p) ∣∣∣∣∣+ ∣∣∣∣∣ ∫ b a p− In(p) ∣∣∣∣∣+ |b− a|2 n∑ i=1 |ωi| ∣∣(p− f)( b−a2 ti + a+b2 )∣∣ . Por (2), ∣∣∣∫ ba (f − p)∣∣∣ < |b−a| ε2|b−a| = ε2 . Qualquer que seja o grau g de p, defin- imos N = ⌊ g 2 ⌋ . Assim, ∀n > N , a quadratura de Gauss-Legendre In(p) fornece o valor exato, ∫ b a p, pois g ≤ 2n− 1. Logo, ∣∣∣∫ ba p− In(p)∣∣∣ = 0. Finalmente: |b− a| 2 n∑ i=1 |ωi| ∣∣(p− f)( b−a2 ti + a+b2 )∣∣ < |b− a| 2 n∑ i=1 ( |ωi| ε 2|b− a| ) ( b−a2 ti + a+b 2 ∈ [a; b] e (2)) = ε 4 n∑ i=1 |ωi| (distributividade) = ε 4 n∑ i=1 ωi (Teorema 2) = ε 2 ( n∑ i=1 ωi = ∫ 1 −1 1 dt = 2) Somando: ∀n > N , |En(f)| < ε 2 + 0 + ε 2 = ε . 6 Essa demonstração não se aplica à integração por Newton-Cotes, pois qual- quer fórmula baseada em um polinômio interpolador de grau 10 ou maior tem pelo menos um peso negativo. Em outros termos, para a integração por Newton- Cotes, não existe um Teorema 2, usado perto do final da Demonstração 3. Por avaliarem a função a ser integrada em abscissas igualmente espaçadas, as fórmulas de Newton-Cotes baseadas em polinômios de graus elevados podem sofrer do fenômeno de Runge: precisa compor as fórmulas para melhorar a ex- atidão. Pelo contrário, a quadratura de Gauss-Legendre, que avalia preponder- adamente a função a ser integrada perto dos extremos do intervalo de integração, nunca sofre do fenômeno de Runge (Teorema 3) e não precisa ser composta. Este documento está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional. 7
Compartilhar