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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO Ressocialização e a Responsabilidade Política Social do Estado MIQUÉIAS RAFAEL DA SILVA SANTOS São Paulo 2022 2 MIQUÉIAS RAFAEL DA SILVA SANTOS SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO Ressocialização e a Responsabilidade Política Social do Estado Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, pelo Curso de Direito da Universidade Cruzeiro do Sul, sob a orientação da Profº. Tercius Zychan São Paulo 2022 3 MIQUÉIAS RAFAEL DA SILVA SANTOS SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO Ressocialização e a Responsabilidade Política Social do Estado Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, pelo Curso de Direito da Universidade Cruzeiro do Sul, sob orientação da Profº. Tercius Zychan Aprovado em / / BANCA EXAMINADORA Componente da Banca Examinadora Componente da Banca Examinadora Componente da Banca Examinadora 4 RESUMO O presente trabalho visa analisar sucintamente o Sistema Prisional Brasileiro, utilizando-se das metodologias históricas da Lei Penal Brasileira e suas punições, bem como o sistema progressivo para efetivar os objetivos da pena no Brasil. Veremos uma breve caracterização dos sistemas prisionais existentes, bem como as principais características de cada um deles, enfatizaremos o sistema adotado no Brasil, sendo o progressivo, que buscar a evolução do preso prometendo-lhe benefícios por bom comportamento, e visaremos discorrer sobre as duas teorias de finalidade, sendo elas a absoluta e relativa. No mais veremos a abordagem da Lei de Execuções Penais, e o papel dos Direitos Humanos na aplicação das penas.Compreenderemos o atual cenário prisional brasileiro e a finalidade de mostrar a real responsabilidade política social do Estado e as consequências de sua inercia. Palavras-Chave: Sistema Prisional, Ressocialização e Sistema progressivo. 5 Sumário 1. INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................6 2. SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO ..............................................................................................................8 2.1 História Dos Sistemas Prisionais ................................................................................................................. 8 2.2 História Da Legislação Penal Brasileira ....................................................................................................... 9 3. SISTEMA PROGRESSIVO NO BRASIL ........................................................................................................ 11 3.1 Regime De Progressão .............................................................................................................................. 11 3.2 Regime Fechado ....................................................................................................................................... 12 3.3 Regime Semi Aberto ................................................................................................................................. 13 3.4 Regime Aberto .......................................................................................................................................... 13 4. FINALIDADE DO SISTEMA PENITÊNCIARIO BRASILEIRO........................................................................... 15 4.1 Teoria Absoluta ........................................................................................................................................ 15 4.2 Teoria Relativa .......................................................................................................................................... 16 4.3 Teoria Adotada No Brasil .......................................................................................................................... 16 5. A LEI DE EXECUÇÕES PENAIS ................................................................................................................... 17 6. REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO ................................................................................... 18 6.1 Custo Do Presso ........................................................................................................................................ 18 6.2 Direitos Humanos ..................................................................................................................................... 19 6.3 Reabilitação .............................................................................................................................................. 20 6.4 A Reincidência No Brasil ........................................................................................................................... 20 7. REPROVAÇÃO E PREVENÇÃO .................................................................................................................. 22 7.1 Ressocialização E A Responsabilidade Política Social Do Estado .............................................................. 22 7.2 O Trabalho Como Possibilidade De Reabilitação E Reincersão Social ...................................................... 23 CONCLUSÃO.................................................................................................................................................... 26 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................. 28 6 1. INTRODUÇÃO Desde a antiguidade, a humanidade utiliza-se de meios de encarceramento humano, entretanto, com o passar dos anos houve uma consequente mudança, tanto na forma quanto na finalidade com que tais prisões ocorreram e continuam a ocorrer. Segundo Cezar Roberto Bitencourt (2009), na antiguidade, a prisão tinha como escopo a contestação e custódia dos réus, a fim de possibilitar a coleta de provas por meio de tortura e preservar a integridade física até seu julgamento, ou no pior dos casos, execução. Esse período foi marcado pelas penas de morte, corporal e infame. Segundo o mesmo raciocínio, as penas também eram vistas como instrumento de terror, nas diversas formas de tortura física e espiritual dos condenados, bem como a pena de morte precedida de rituais de expiação e as mais diversas formas de punição. Neste interim, verificamos que nos tenros tempos, a população carcerária não atingia um grau de superlotação por conta das diversas formas de punição, sendo, na maioria das vezes, a pena de morte. Entretanto, verificamos, de acordo com alguns sites de pesquisas e informações fornecidas por estudos, que houve um aumento significativo da população carcerária brasileira. Depois de adotado o código penal brasileiro, onde as penas foram mais intensificados em favor de reabilitação e a melhoria do ser humano quanto pessoa, houve também a taxa de reicidência, fazendo com que as penitenciaria se tornassem fluxo da criminalização organizada. Atualmente podemos observar claramente a superlotação da população prisional brasileira, de acordo com os dados mais recentes divulgados pelo SISDEPEN (Sistema de Informação do Departamento Penintenciário Nacional) excluindo os presos que estão sob custódia das Policias Judiciárias, Batalhões de Policias e Bombeiros Militares, de Julho a dezembro de 2021, o encarceramento humano atingiu o patamar de 670.741 presos, destes, 326.243 estão em regime fechado, 124.481 em regime semiaberto, 20.241 em regime aberto, 196.830 provisórios, 891 emtratamento ambulatorial e 2.028 em medidas de segurança¹. 7 Em 2019, um estudo feito pelo CNMP (Conselho Nacional do Ministério Publico) desencadeou a capacidade máxima de encarceramento em presidios brasileiros. Conforme dados elencados pelo estudo, o Brasil, no ano de 2019 possuia cerca de 1.397 estabelecimentos penais, sendo cadeias publicas, casa do albergado, Centro de observação criminológica/Remanejamento,Colônia Agrícola, Industrial ou similar, hospital de custódia e tratamento psiquiátrico e penintenciárias.2 Indiferente de sexo, cor, credo e de acordo com o estudo, o encarceramento, no ano de 2019 tinha aproximadamente um total de 448.599, porém, no mesmo ano, de acordo com os estudos, a ocupação desses números superou a quantidade máxima de carceres, tendo uma porcentagem de 161,39%, passando para um total, em números concretos de 723.989 detentos.³ A ressocialização é uma questão sociopolítica do Estado, portanto, para ofender esses números extremamente ridículos, precisamos conectar um sistema complexo, mas eficaz, que condena as ações do indivíduo criminoso e lhe dá a chance de se reintegrar à sociedade. Então, se o maior percentual da população carcerária atual for composta por reincidentes, e se tentarmos reduzir isso, conseguiremos uma melhora significativa no sistema carcerário brasileiro. _________________________________________ 1SISDEPEN, disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiOWYwMDdlNmItMDNkOC00Y2RmLWEyNjQtMmQ0OTUwYTUwNDk5IiwidCI6ImViMDkw NDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 acessado em 25/10/2022. 2CNMP, disponível em: < https://www.cnmp.mp.br/portal/relatoriosbi/sistema-prisional-em-numeros > acessado em 25/10/2022 3CNPM, disponível em: < https://www.cnmp.mp.br/portal/relatoriosbi/sistema-prisional-em-numeros > acessado em 25/10/2022. https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiOWYwMDdlNmItMDNkOC00Y2RmLWEyNjQtMmQ0OTUwYTUwNDk5IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiOWYwMDdlNmItMDNkOC00Y2RmLWEyNjQtMmQ0OTUwYTUwNDk5IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 https://www.cnmp.mp.br/portal/relatoriosbi/sistema-prisional-em-numeros https://www.cnmp.mp.br/portal/relatoriosbi/sistema-prisional-em-numeros 8 2. SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO 2.1 História Dos Sistemas Prisionais Desde os tempos primórdios a humanidade utiliza-se de meios de encarceramento humano, contudo, em virtude do passar dos anos houve uma consequente mudança tanto na forma, quanto na finalidade pela qual tais prisões ocorreram e continuam ocorrendo. De acordo com Cezar Roberto Bitencourt (2009), na antiguidade a prisão tinha o escopo de contestação e guarda dos réus, afim de possibilitar a colheita de provas mediante tortura e preservar a integridade física até seu julgamento, ou na pior das hipóteses execução. Tal período foi marcado pelas penas de morte, corporais e infamantes. Conforme René Ariel Dotti (1998), a pena servia como instrumento espiritual de castigo na Idade Média, onde dominavam as penas corporais, onde as afrontas ensejavam “vingança de sangue”4 , que aos poucos foram sendo substituídas pela composição das partes de forma voluntária, até se tornarem impostas por lei. Explica o autor que: “O cárcere, como instrumento espiritual de castigo, foi introduzido pelo Direito Canônico, posto que, pelo sofrimento e na solidão, a alma do homem se depura e purga do pecado”5 Segundo o mesmo raciocínio, as penas também eram vistas como instrumento de terror, em diversas formas de tortura física, e espiritual dos condenados, bem como a pena de morte precedida por rituais de expiação e as mais diversas formas de castigo A penitenciaria que tinha por escopo a privação da liberdade só surgiu por volta do século XVI, quando a doutrina da igreja previu que posteriormente iria subsidiar as “bases da ciência penitenciaria”6 __________________ 4René Ariel Dotti, 1998, pág. 33 5René Ariel Dotti, 1998, pág. 33 6 René Ariel Dotti, 1998, pág. 36 9 Entre os anos de 1757 e 1759 surgiram as prisões celulares, também conhecida como sistema pensilvânico. Em meados de 1827, erigiu o estabelecimento de Auburn, dando inicio ao sistema auburniano, e por volta do século XIX, surgiu o sistema progressivo, o qual conquistou maior espaço entre as culturas e povos e prevalece sobre os demais até os dias atuais 2.2 História da Legislação Penal Brasileira Em meados de 1830 não existia de fato um Código Penal para satisfazer a justiça e designar crimes e suas respectivas penas, entretanto, por ser ainda uma colônia portuguesa, submetia-se a às Ordenações Filipinas. Para se ter uma idéia, as aplicações penais pertinentes ao Brasil encontrava-se no rol dos artigos escritos no livro V. Entre as penas previstas neste rol de crimes, existia as penas dignas de morte, confisco de bens, multas e determinadas penas publicas, como humilhação do Réu. Naquela época longinqua não existia as penas previstas no ordenamento jurídico recentes, muito menos as suas diferenciações, como Prissão Privativa de Liberdade ou Restrições de Direito.7 Em 1603 a 1830 a lei em vigor era retratado com uma justiça de barbaridades, a qual só veio reformular após 8 anos da indepência do Brasil, em 7 de setembro de 1822. Somente após a separação de Portugal do Brasil houve a abertura de novos caminhos para uma nova legislação penal, incluindo idéias mais humanizadas. Com a nova constituinte, de 1824, inicia-se uma reforma no sistema de punição, extinguindo-se todas as penas concideradas cruéis, determina que as cadeias devem ser limpas, seguras, bem arejadas e contendo diversas divisões para a separação dos réus, conforme a natureza dos crimes. Interessante mencionar que, as abolições das penas cruéis não alcançavam os escravos. ___________________________________ 7POLETIZE, disponível em: < https://www.politize.com.br/sistema-carcerario-brasileiro/ > acessado em 27/10/2022 https://www.politize.com.br/sistema-carcerario-brasileiro/ 10 Já em 1830 cria-se o Código Penal do Império. Neste novo ordenamento, as penas de prissões são introduzidas no Brasil em duas circunstância: Prissão Simples e Prissão com trabalho (podendo ser perpetua) Com o novo Código Criminal, a pena de prisão passa a ter um papel predominante no rol das penas, mas ainda se mantinha a pena de morte. Com a instauração do Estado Novo, o Ministro Francisco Campos incubiu o Prof. Alcantâra Machado para elaborar um anteprojeto do código penal . Em 1940, foi sancionado o atual código penal brasileiro 11 3. SISTEMA PROGRESSIVO NO BRASIL Conforme o art. 33, § 2º, do Código Penal, as penas privativas de liberdade deverão ocorrer em regime de progressão, para Rógerio Grecco: “A progressão é um misto de tempo mínimo de cumprimento de pena (critério objetivo) com o mérito do condenado (critério subjetivo). A progressão é uma medida politica criminal que serve de estimulo ao condenado durante o cumprimento de sua pena [...]”. RÓGERIO GRECCO, 2012, pág. 494-495. De acordo com Rogério Grecco (2012), no Brasil após um extenso e arrastado desenvolvimento: “[...] a Constituição Federal, visando proteger os direitos de todos aqueles que, temporariamente ou não, estão em território nacional, proibiu a cominação de uma série de penas, por entender que todas elas, em sentido amplo, ofendiam a dignidade da pessoa humana, além de fugir, em algumas hipóteses, à sua função preventiva, como veremos mais adiante. O inciso XLVII do art. 5º da Constituição Federal diz, portanto, que não haverá penas: a) de morte, salvo no caso de guerra declarada, nos termos do seu art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis.” GRECCO ROGÉRIO,2012, pag. 33. Pautando-se nesse conceito o referido autor ainda afirma que o Estado deve estabelecer limites à sua prerrogativa de castigar, devendo preservar os direitos daqueles que habitam em seu território. 3.1 REGIME DE PROGRESSÃO Atualmente no Brasil o sistema prisional adotado é o progressivo, como já vimos anteriormente, o sistema progressivo é dividido por etapas de cumprimento da pena, iniciando-se do mais rigoroso, em rumo ao mais brando. Inicialmente cumpre salientar que existem critérios para o enquadramento do condenado em cada fase da execução, podendo ser aplicado três regimes de cumprimento de 12 pena: o regime fechado, o regime semiaberto e o regime aberto. Cabe ao juízo “a quo”, julgar em qual regime será iniciada a pena, e ao juízo de execução zelar para que se dê a regular progressão dos condenados. Tal método busca estimular o sujeito ao bom comportamento, para que ao final da pena esteja preparado para viver em sociedade, a ideia é que ao cumprir as normas ele será bem tratado e ao descumprir penalizado. 3.2 REGIME FECHADO Tal método busca estimular o sujeito ao bom comportamento, para que ao final da pena esteja preparado para viver em sociedade, a ideia é que ao cumprir as normas ele será bem tratado e ao descumprir penalizado. No mais, deverá cumprir as regras do regime, quais sejam; “Art. 34 - O condenado será submetido, no início do cumprimento da pena, a exame criminológico de classificação para individualização da execução. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - O condenado fica sujeito a trabalho no período diurno e a isolamento durante o repouso noturno. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - O trabalho será em comum dentro do estabelecimento, na conformidade das aptidões ou ocupações anteriores do condenado, desde que compatíveis com a execução da pena.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 3º - O trabalho externo é admissível, no regime fechado, em serviços ou obras públicas. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”8 8PLANALTO, disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm > artigo 33, alínea §1º, alínea “a”, visto em 27/10/2022. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art34 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art34 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art34 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art34 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art34 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art34 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art34 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art34 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art34 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm 13 3.3 REGIME SEMI ABERTO Em consonância com o artigo 33 do Código Penal Brasileiro o Regime Semi Aberto aplica-se “ao condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito) anos11”. Devendo a pena ser cumprida em “colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar”. Em regras próprias disciplinadas pelo artigo 35 e parágrafos do Código Penal Brasileiro: “Art. 35 - Aplica-se a norma do art. 34 deste Código, caput, ao condenado que inicie o cumprimento da pena em regime semi-aberto. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - O condenado fica sujeito a trabalho em comum durante o período diurno, em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - O trabalho externo é admissível, bem como a freqüência a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”9 3.4 REGIME ABERTO Conforme disciplinado pelo artigo 33 do Código Penal Brasileiro, o Regime Aberto de cumprimento de pena destina-se ao “o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos”. Devendo ser cumprido “em casa de albergado ou estabelecimento adequado15”, contudo, na pratica, na maioria dos casos por falta de estabelecimentos adequados é permitido que o indivíduo fique em sua residência. ____________________________________ 9PLANALTO, disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm > visto em 27/10/2022. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art35 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art35 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art35 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art35 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art35 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art35 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm 14 Por fim, as regras do regime aberto são: “Art. 36 - O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)” § 1º - O condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - O condenado será transferido do regime aberto, se praticar fato definido como crime doloso, se frustrar os fins da execução ou se, podendo, não pagar a multa cumulativamente aplicada. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”.10 _____________________________________________________________________________ 10PLANALTO, disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm > visto em 27/10/2022. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art36 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art36 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art36 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art36 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art36 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art36 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm 15 4. FINALIDADE DO SISTEMA PENITÊNCIARIO BRASILEIRO No sistema penitenciário brasileiro a finalidade das sanções penais cumpre oportunizar dois objetivos, um deles é a reprovação das condutas criminosas e o outro a reabilitação do indivíduo condenado, tal qual, podemos encontrar positivado no artigo 59 do Código Penal Brasileiro que a fixação da pena será “conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”. Existem, porém, teorias absolutas e relativas, conforme aponta Rogério Grecco (2012), “as teorias tidas como absolutas advogam a tese da retribuição, e as teorias relativas apregoam a prevenção”.11 4.1 Teoria Absoluta Na teoria absoluta defende-se que a pena deve ser retributiva, com o escopo de punir o individuo pelo mal praticado, afim de corresponder com a condenação ao mal que a ensejou, aduz Roxin que: “[...] a teoria da retribuição não encontra o sentido da pena na perspectiva de algum fim socialmente útil, senão em que mediante a imposição de um mal merecidamente se retribui, equilibra e expia a culpabilidade do autor pelo fato cometido. Se fala aqui de uma teoria ‘absoluta’ porque para ela o fim da pena é independente, ‘desvinculação’ de seu efeito social. A concepção da pena como retribuição compensatória realmente já é conhecida desde a antiguidade e permanece vira na consciência dos profanos com uma certa naturalidade: a pena deve ser justae isso pressupões que se corresponda sua duração e intensidade com a gravidade do delito, que compense”.12 Acredita Rogério Grecco (2012), que o corpo social se satisfaz com esse propósito, por se tratar de uma modalidade de pagamento para criminoso, desde que, a pena seja composta pela privação de liberdade. ___________________________ 11GRECCO ROGÉRIO, 2012, Pág. 472. 12ROXIN, Claus. Decreto penal – parte geral, t. l, p.81-82. 16 4.2 Teoria Relativa No que tange a teoria relativa, podemos dizer que ela se apoia no preceito de prevenção, que se biparte em prevenção geral, positiva e negativa, e prevenção especial, negativa e positiva, como explica Rogério Grecco: A prevenção geral pode ser estudada por dois aspectos. Pela prevenção geral negativa, conhecida também pela expressão prevenção por intimidação, a pena aplicada ao autor da infração penal tende a refletir na sociedade, evitando-se, assim que as demais pessoas, que se encontram com os olhos voltados na condenação de um de seus pares, reflitam antes de praticar qualquer infração penal. [...] A prevenção especial, a seu turno, também pode ser concebida em seus dois sentidos. Pela prevenção especial negativa, existe uma neutralização que ocorre com sua segregação no cárcere. A retirada momentânea do agente do convívio social o impede de praticar novas infrações penais, pelo menos na sociedade da qual foi retirado.13 4.3 Teoria Adotada No Brasil Dentre as teorias citadas acima, pode-se dizer que o Brasil adotou uma “teoria mista ou unificadora da pena”, assim, compreendido por Rogerio Greco, “as teorias absoluta e relativa que se pautam, respectivamente pelos critérios da retribuição e da prevenção”.14 Por consequência, resta reafirmar que a finalidade supra do sistema penitenciário brasileiro busca inibir novas condutas criminosas e reprovar condutas já praticadas. Para tanto, foi desenvolvida a Lei de Execuções Penais, que visa, doutrinar a forma com que a execução deverá ser aplicada para atingir os objetivos estipulados pelo proposito da pena. ____________________________________________________ 13GRECCO, Rogério, Curso de Direito Penal Parte Geral, 2012, p. 473-474 14 GRECCO, Rogério, Curso de Direito Penal Parte Geral, 2012, p. 475. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210compilado.htm, art. 1º “caput”, visto em 27/10/2022 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210compilado.htm 17 5. A LEI DE EXECUÇÕES PENAIS A Lei de Execuções Penais foi sancionada em 11 de julho de 1984, com o intuito de “efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”.15 Além de disciplinar a fase executória, a LEP também conta com uma série de exigências para o devido cumprimento da pena, bem como impõe por meio de suas normas diversas assistências, quais sejam: material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa. Muito embora a LEP comtemple inúmeros meios que possibilitem a reprovação e a prevenção, muitas de suas medidas ainda são uma utopia para a realidade do atual cenário do cárcere brasileiro, pois diante do imposto quadro fático, pouco se vê efetivamente aplicado ao caso concreto do condenado, tornando-se um valioso instrumento sem uso nas mãos do Estado. A LEP nos trouxe uma riqueza de direitos quanto à reinserção do individuo na sociedade, contudo, a realidade não nos permite viver uma fase de ascensão prisional, onde possamos ver uma expressa queda no numero de presos, justamente pela falta de meios de executar com eficiência o que o legislativo já nos deu o aval. ____________________________________________________ 15PLANALTO disponivel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210compilado.htm, visto em 27/10/2022 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210compilado.htm 18 6. REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO O quadro fático prisional atual no Brasil é lamentável, de acordo com a SISDEPEN (Sistema de informações do sistema penintenciário nacional), órgão responsável pelo levantamento nacional de informações penitenciarias, em 2021 a população prisional brasileira superou 670 mil presos. Desses 670 mil presos, cerca de 320 mil estão em regime fechado, 124 mil estão regime semiaberto, 20 mil estão em regime aberto, 196 mil estão presos provisoriamente. Não obsta, cerca de 891 detentos estão em tratamento ambulatorial, e um pouco mais de 2 mil detentos estão em medidas de segurança.16 Deve-se a ter que os números supramencionados contabilizam apenas presos em celas fisicas e em presidios estaduais. De acordo com o SISDEPEN, além dos números mencionados acima, cerca de 156 mil detentos enquadram-se em prissão domiciliar. Não obsta, em concideração ao número de detentos em Presidios Federais contabilizam um total de 510 presos. 6.1 CUSTO DO PRESSO De acordo com os critérios abordados pelo sistema de informações do Departamento Penintenciário Nacional, até meados de junho de 2022, o gasto com um presso poderia ultrapassar a faixa de R$2.000,00 (dois mil reais) por mês. Verifica-se um montante de R$ 1.295.956.556,83 gastos somento no mês de junho. Esses valores englobam toda a parte administrativa penintenciária, prestadores de serviços, material de expediente, e estágio remunerado de estudante. ________________________________________________________ 16SISDEPEN disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiOWYwMDdlNmItMDNkOC00Y2RmLWEyNjQtMmQ0OTUwYTUwNDk5IiwidCI6ImViMDk wNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 visto em 27/10/22 https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiOWYwMDdlNmItMDNkOC00Y2RmLWEyNjQtMmQ0OTUwYTUwNDk5IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiOWYwMDdlNmItMDNkOC00Y2RmLWEyNjQtMmQ0OTUwYTUwNDk5IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 19 6.2 Direitos Humanos O individuo na situação de prisioneiro deve perder tão somente sua liberdade, não podendo o Estado se quer cogitar a possibilidade de lhe tirar sua dignidade como pessoa humana, em consonância com o art. 5º, XLIX da Constituição Federal da Republica de 1988. De acordo com René Ariel Dotti: Uma reforma do sistema de penas não poderá se efetivar sem as bases que delimitem os seus contornos e fundamentem os seus destinos: desde a consagração e a garantia dos direitos humanos até o reconhecimento de que a comunidade é o centro de irradiação dos valores que devem ser preservadas. Dentro deste horizonte, abrem-se maiores possibilidades para aviventar os rumos e as relações entre o Direito Penal e a Criminologia e fazer da política um ponto de arranque para a crítica e o exercício de uma dogmática realista. As exigências da culpa, da legalidade estrita e da retribuição proporcionada ao grau de reprovabilidade são princípios caros a um Estado social democrático de Direito que declara e protege os ideais da personalidade e da humanização das sanções penais. Sanções que não podem ser caracterizadas exclusivamente pelo sentido pragmático de mero contragolpe à lesão. Sem a adoção de uma visão euforiante ou expediente mirífico a conceber o projeto da metamorfose do delinquente – qual esperança de doutrinas totalitárias que recorrem à lavagem do cérebro para manipulação da consciência individual – ‘a pena deve ser também, um projeto finalístico de melhoria das pessoas em suas interações e não só a relação de causalidade mecânica entre a ofensa e a resposta’”. Além do mais, conforme afirma René Ariel Dotti, foi introduzida por nossa Constituição alguns limites penais e processuais de segurança individual. No art. 5º, XLVII e alíneas, da Constituição Federal, “não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos doart. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis.” 17 _______________________________________________________________ 17http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm, art. 5º, XLVII e alíneas, visto em 27/10/2022 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm 20 Muito embora seja assegurado aos presos os direitos humanos, e a Lei de Execuções Penais dê ao Estado a autorização necessária para implementação de medidas que são necessárias para o mantimento da dignidade humana, é observando o atual sistema prisional, que vemos que ainda há um longo trabalho pela frente para que os objetivos de humanização da pena sejam atingidos. 6.3 Reabilitação A reabilitação criminal trata-se da possibilidade do indivíduo que já cumpriu a pena conservar em segredo os dados da condenação, a mesma está prevista nos artigos 93 e 95 do Código Penal Brasileiro, assegurando sua aplicação em quaisquer penas aplicadas, podendo atingir inclusive os efeitos da condenação. Entretanto, tendo em vista o contexto atual, é diminuta a aplicação prática da reabilitação portada nos artigos anteriormente referidos, aduz Jair Leonardo Lopes que: “A nós parece que nem os efeitos acrescidos a condenação pelo art. 92 merecem aplausos, nem a reabilitação, que tal como disciplinada no Código (arts. 93 a 95), não tem qualquer alcance prático. Quanto a esta, o seu mais importante efeito, que seria o de assegurar ao condenado o sigilo dos registros sobre seu processo e condenação, é obtido, atualmente, de modo imediato e eficaz, por aplicação do art. 202 da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal - LEP), desde que tenha sido cumprida ou extinta a pena.”18 6.4 A Reincidência No Brasil A reincidência é disciplinada pelo artigo 63 e 64 do Código Penal Brasileiro, para Rogerio Greco, trata-se de “um marco interruptivo da prescrição da pretensão executória, tem o poder de gerar tal efeito a partir da data do transito em julgado da sentença que condenou o agente pela pratica de novo crime”.19 _________________________________________ 18LOPES, Jair Leonardo, Curso de Direito Penal – Parte Geral, p. 243. 19GRECCO, Rogerio, Curso de Direito Penal Parte Geral, 2012, pag. 737. 21 Conforme Aduz Zaffaroni e Pierangeli: “[...] a prescrição da pretensão executória é interrompida na data do transito em julgado de nova sentença condenatória, ou seja, como sentença condenatória por um segundo crime e não na data do cometimento desse crime, muito embora parte da jurisprudência se oriente em sentido contrário, ora pela data da prática de novo crime, ora pela data da instauração de nova ação penal.”20 Porém, conforme artigo 64, inciso I, para que se caracterize a reincidência, é necessário que não haja um lapso temporal maior de 5 anos, para um novo crime, após o transito em julgado da sentença ou acordão que condenou o indivíduo. 20ZAFFARONI, Eugênio Rául; PIERANGELI, José Henrique, Manual de Direito Penal Brasileiro – Parte Geral O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DE DETENTOS, disponível em < https://www.scielo.br/j/ean/a/bJMFCBDQy9c4PwDkqg7tYFx/#:~:text=A%20sociedade%20deveria%20ser%20a,com%20os%20 papel%2C%20v%C3%A3o%20olhar. > visto em 27/10/2022 http://www.scielo.br/pdf/ean/v10n4/v10n4a09.pdf http://www.scielo.br/pdf/ean/v10n4/v10n4a09.pdf 22 7. REPROVAÇÃO E PREVENÇÃO É louvável ao Estado se preocupar com a reprovação e a prevenção como meio de atingir uma sociedade mais justa, porém, não basta que belas ideologias sejam apregoadas, e nada seja feito a respeito. É imprescindível que o Estado em sua posição de soberano adote meios eficazes de ressocialização. Medida esta que asseguraria a solução de diversos problemas enfrentados nos dias que correm. Aduz o coordenador do departamento de monitoramento e fiscalização do sistema carcerário e do sistema de execução e medidas sócio educativas do CNJ, juiz auxiliar Luis Geraldo Assim, podemos dizer que a pena que vai além, ou deixa a desejar seu ensejo torna-se o meio de conduta de novos problemas sociais. 7.1 Ressocialização E A Responsabilidade Política Social Do Estado A ressocialização consiste em devolver o indivíduo, após sua convivência no sistema carcerário, a oportunidade de conviver socialmente novamente, e como vimos anteriormente é uma das finalidades do cumprimento de pena, ou deveria ser, pois embora haja previsão legal, no artigo 59 do Código Penal Brasileiro, não há aplicação pratica efetiva desta medida. O Estado, por sua vez, deveria entra como coadjuvante principal para esse cenário precário, pois é dever do Estado zelar pelo cumprimento das leis vigentes, bem como oportunizar a perfeita aplicação da Lei de Execuções Penais. A sua não aplicação gera a sociedade prejuízos irreparáveis. De forma clara, efetivamente o que observamos é o inverso do que deveria ocorrer. No momento atual o indivíduo, ao recuperar sua liberdade, se depara com uma situação pior que a de antes, além de ter que arcar com todos os problemas que ele tinha antes, lhe é acrescido a descriminalização da sociedade que o joga as margens do convívio, o fazendo recorrer a formas ilícitas de ganhar a vida, e o levando a prisão, da qual, se tivesse saído reeducado, ficaria livre. 23 Em virtude disso, com os índices de criminalização elevados a sociedade sofre. Sofre por ser vitima da conduta criminosa, sofre pelo déficit no orçamento que poderia ser destinado a outros investimentos, sofre tendo que recorrer ao medo de andar pelas ruas sem a devida despreocupação com o crime, e sofre por ver o ciclo se repetindo e aumentando ano, após ano. De acordo com Guaraci Pinto e Alice Hirdes (2006): “A sociedade deveria ser a primeira interessada em providenciar espaço e êxito social para o preso, já que o próprio público tem muito a perder com a prática de novos delitos, quando da reincidência do preso. [...] A sociedade não conhece a realidade das cadeias. Ela possui uma opinião negativa formada e influenciada pelos meios de comunicação, que fornecem uma visão coletiva e generalista, sem considerar suas particularidades. Quando esse retorno à sociedade acontece sem uma reciprocidade de aceitação, resta a esses indivíduos, como única opção, o retorno à criminalidade como forma de sustento e identificação21 7.2 O Trabalho Como Possibilidade De Reabilitação E Reincersão Social Já dizia o filosofo Marx, que “o trabalho dignifica o homem”, não obstante dessa realidade o afazer é capaz regenerar o indivíduo, lhe possibilitando novos caminhos, e lhe assegurando meios legítimos para sobrevivência em sociedade. Afirmam Guaraci Pinto e Alice Hirdes (2006): ________________________________________ 21O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DE DETENTOS, disponível em < https://www.scielo.br/j/ean/a/bJMFCBDQy9c4PwDkqg7tYFx/#:~:text=A%20sociedade%20deveria%20ser%20a,com%20os%20 papel%2C%20v%C3%A3o%20olhar. > visto em 27/10/2022 http://www.scielo.br/pdf/ean/v10n4/v10n4a09.pdf http://www.scielo.br/pdf/ean/v10n4/v10n4a09.pdf 24 “O trabalho faz a requalificação do ladrão para operário dócil. Para que esse processo aconteça, é indispensável a utilização de uma retribuição pelo trabalho penal, que impõe ao detento a forma “moral” de salário como condição de sua existência. O salário faz com que se adquira “amor e hábito” ao trabalho, carregando com esta prática uma forma válida de avaliação do detento quanto ao progresso de sua regeneração22.” Em consonância com os referidos autores, a prisão permite um momento de reflexão falho, pois direciona o individuo a volta de novas infrações penais, de forma que o trabalho prisional gera uma apropriação do tempo o conduzindo a novas perspectivas devida. Portanto: “O trabalho na prisão pode não fugir e, certamente, não foge às características que assolam o mundo do trabalho no Brasil, de uma maneira geral. Mas, o que acaba se descortinando é um quadro que se assemelha a uma ética do trabalho, porque ali o trabalho aparece no nível das representações coletivas, como um valor universal que distingue todos os homens de bem, porque o trabalho é sinônimo de decência, de organização e marca da honestidade atemporal, um escudo contra a corrupção.”23 É imprescindível que no Brasil tal medida cresça mais e mais, afim de possibilitar um maior numero de reinserção de indivíduos reabilitados ao convívio social. Além do mais, o Estado poderia adotar projetos que intermedeiem os ex- presidiários as empresas. Tais como parcerias estatais que beneficiem de alguma maneira empresas adeptas a estes programas, com redução de impostos, ou auxilio socioeconômico para viabilizar a diminuição da marginalização desses individuos, e colaborar para a recuperação da dignidade e do respeito social, dos que antes eram desprezados e excluídos. _________________________________________________________ 22O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DE DETENTOS disponivel https://www.scielo.br/j/ean/a/bJMFCBDQy9c4PwDkqg7tYFx/?format=pdf&lang=pt 23O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DE DETENTOS, disponível em http://www.scielo.br/pdf/ean/v10n4/v10n4a09.pdf visto em 04/11/2022 https://www.scielo.br/j/ean/a/bJMFCBDQy9c4PwDkqg7tYFx/?format=pdf&lang=pt http://www.scielo.br/pdf/ean/v10n4/v10n4a09.pdf 25 Destarte, com a efetivação de tal medida, é aceitável dizer que oportunamente se compreende uma possível solução para uma observação de Guaraci Pinto e Alice Hirdes (2006) que cita um inconveniente do trabalho pós liberdade, qual seja: “Percebe-se que os detentos identificam os pontos positivos do trabalho e todos os benefícios que advêm com ele. Porém, ao mesmo tempo, percebem a dificuldade que irão enfrentar no mercado de trabalho extrapresídio, devido a valores de julgamento já constituídos em relação aos presos e que os levam ao descrédito e à exclusão, contribuindo para o retorno a meios ilícitos de ganhar a vida. Assim, o trabalho na prisão é um trabalho protegido em razão de os demais detentos estarem na mesma condição, ao passo que, em um trabalho fora do contexto do presídio, o ex-preso terá que se confrontar com o estigma e o preconceito”24 Portanto, reafirma-se a necessidade de pensar, não somente no trabalho durante a prisão, mas também, como defendido acima, em formar de proteger a oportunidade de emprego pós liberdade, contribuindo para a efetiva ressocialização do sujeito antes marginalizado, e contribuindo para cada vez menos números de reincidências. O que consequentemente contribuirá para uma sociedade mais segura, e um Estado cada vez mais protetor, não somente dos que andam conforme as regras, mas acolhedor e transformador dos que por algum motivo as transgrediram. ________________________________ 24O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DE DETENTOS, disponível em http://www.scielo.br/pdf/ean/v10n4/v10n4a09.pdf visto em 04/11/2022 http://www.scielo.br/pdf/ean/v10n4/v10n4a09.pdf 26 CONCLUSÃO Em virtude do que foi estudado neste trabalho, pode-se observar a evolução das penas desde a antiguidade até os dias de hoje, bem como a desenvolvimento dos sistemas prisionais brasileiros. No Brasil o sistema adotado é o Progressivo, e em relação aos demais é o que enquadra aos objetivos adotados por nosso código penal, que é de reprovar e prevenir novas condutas criminosas, é mister destacar que a progressão incentiva o individuo a ter bom comportamento, a medida que conforme bom comportamento adquire benéficos durante o cumprimento da pena. No tocante ao sistema prisional, cumpre a Lei de Execuções Penais disciplinar medidas hábeis para a execução da pena, afim de oportunizar uma efetiva reprovação da conduta, culminada com a posterior ressocialização do sujeito transgressor. Muito embora o legislativo tenho dado através da LEP, o aval para o eficaz cumprimento do artigo 59 do Código Penal Brasileiro, o qual diz que “a pena deve ser suficiente para reprovação e prevenção do crime”, a realidade das penitenciarias ainda se encontram distante do real objetivo, infelizmente, sendo meio unicamente punitivo, sem nada ter de ressocializador. No atual cenário do sistema prisional brasileiro é clara a preocupação com os índices da população prisional que ultrapassa em cerca da metade de sua capacidade, gerando um dos problemas mais evidentes do composto, qual seja, a superlotação. Numa análise aprofundada, é límpido o entendimento que a superlotação ocorre por falhas do próprio sistema, ou seja, do total dos encarcerados, 70% são reincidentes, logo, houve primordialmente uma falha na primeira prisão desses indivíduos, pois se o Estado cumprisse com o dever de reabilitar o citado, não haveria necessidade de se preocupar com uma relação tão alta de reincidência. Por sua vez, o lapso continua quando ocorre o entiquetamento social do sujeito criminalizado, o jogando a marginalidade, e o submetendo a transgredir novamente, como meio de sobrevivência. 27 Lapso este, que poderia ser quebrado com a intervenção estatal, provendo trabalho aos ex-presidiários através de programas e parcerias com empresas, possibilitando de forma eficaz a ressocialização do cidadão e permitindo-lhe ter uma melhor perspectiva de futuro. Em contrapartida, os índices de reincidência diminuiriam, e por sua vez seria sanada a superlotação, causando a economia dos recursos dispensados ao sistema prisional e consequentemente quebrar-se-ia o ciclo vicioso de criminalidade, que atualmente encarcera o transgressor, o puni severamente, o liberta impossibilitado de conviver em sociedade e o joga novamente para o cárcere. Portando, é de inteira responsabilidade do Estado promover por meios de políticas sociais a verdadeira ressocialização do indivíduo que fora coadjuvante do crime, vislumbrando todos os benefícios efetivos que tal progresso trará ao pais como um todo. Pois todos ganhamos, com menos crimes e mais cidadania! 28 BIBLIOGRAFIA ✓ BITENCOURT, Cezar Roberto, Falência da Pena de Prisão Causas e Alternativas, 3ª Edição, Saraiva; ✓ SISDEPEN, disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiOWYwMDdlNmItMDNkOC00Y2RmLWEyNjQt MmQ0OTUwYTUwNDk5IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRi OGRhNmJmZThlMSJ9 acessado em 25/10/2022. ✓ CNMP, disponível em: < https://www.cnmp.mp.br/portal/relatoriosbi/sistema-prisional- em-numeros > acessado em 25/10/2022 ✓ POLETIZE, disponível em: https://www.politize.com.br/sistema-carcerario-brasileiro/ acessado em 27/10/2022 ✓ DOTTI, René Ariel, Bases e Alternativas Para o Sistema de Penas, 1998, Revista dos Tribunais; ✓ GRECCO, Rogério, Curso de Direito Penal, Parte Geral, 14ª edição, 2012, Impetus; ✓ LOPES, Jair Leonardo, Curso de Direito Penal – Parte Geral, p. 243. ✓ LINS E SILVA, EVANDRO. O Salão de Passos Perdidos. 1998. ✓ NETO, Cândido Furtado Maia Neto, Direitos Humanos do Preso, 1998, Forense; ✓ OLIVEIRA, Edmundo, Política Criminal e Alternativas a Prisão, 1998, Forense; ✓ PLANALTO, disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/Del2848compilado.htm visto em 27/10/2022 ✓ PLANALTO, disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/Del2848compilado.htm visto em 27/10/2022 ✓ PLANALTO, disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm visto em 27/10/2022. ✓ PLANALTO, disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/Del2848compilado.htm visto em 27/10/2022 ✓ ROXIN, Claus. Decreto penal – parte geral, t. l, p.81-82. ✓ ZAFFARONI, Eugênio Rául; PIERANGELI, José Henrique, Manual de Direito Penal Brasileiro– Parte Geral, p. 760 ✓ O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DE DETENTOS, disponível em https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiOWYwMDdlNmItMDNkOC00Y2RmLWEyNjQtMmQ0OTUwYTUwNDk5IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiOWYwMDdlNmItMDNkOC00Y2RmLWEyNjQtMmQ0OTUwYTUwNDk5IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiOWYwMDdlNmItMDNkOC00Y2RmLWEyNjQtMmQ0OTUwYTUwNDk5IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 https://www.cnmp.mp.br/portal/relatoriosbi/sistema-prisional-em-numeros https://www.cnmp.mp.br/portal/relatoriosbi/sistema-prisional-em-numeros https://www.politize.com.br/sistema-carcerario-brasileiro/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-%20lei/Del2848compilado.htm http://www.scielo.br/pdf/ean/v10n4/v10n4a09.pdf visto em 04/11/2022 http://www.scielo.br/pdf/ean/v10n4/v10n4a09.pdf
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