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AN02FREV001/REV 4.0 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 185 AN02FREV001/REV 4.0 MÓDULO IV 24 IMUNOLOGIA 24.1 PRINCÍPIOS A Imunologia é o ramo da biologia que estuda o sistema imunológico, suas características físicas, químicas e fisiológicas, funções de seus componentes in vitro e in vivo, etc. Estuda o funcionamento fisiopatológico do sistema imune de um indivíduo no estado sadio e em casos de doenças, sejam elas imunológicas ou não (doenças autoimunes, hipersensibilidade, deficiência imune, rejeição pós-enxerto). O conceito de Imunologia foi criado por Elie Metchnikoff, em 1882. As células responsáveis pela imunidade são os linfócitos e os fagócitos (monócito e macrófagos). Os linfócitos podem apresentar-se como linfócitos T ou linfócitos B (estes são responsáveis pela produção de anticorpos, denominados Plasmócitos), os Linfócitos T Citotóxicos destroem células infectadas por vírus e os Linfócitos T Auxiliares coordenam as respostas imunes. Além das defesas internas existem também defesas externas (ex: pele como barreira física, ácidos graxos e microrganismos comensais). As defesas externas são a primeira barreira contra muitos organismos agressores. No entanto, muitos conseguem penetrar, ativando assim as defesas internas do organismo. O sistema imune pode sofrer um desequilíbrio que se apresenta como imunodeficiência, hipersensibilidade ou doença autoimune. As respostas imunes podem ser adaptativas ou inatas: as respostas adaptativas reagem melhor cada vez que encontram um determinado patógeno e a resposta inata, ao contrário da adaptativa, sempre dá a mesma resposta mesmo quando é exposta várias vezes ao patógeno. Os fagócitos coordenam as respostas inatas e os linfócitos coordenam as respostas imunes adaptativas. Os principais 186 AN02FREV001/REV 4.0 componentes do sistema imune são os Linfócitos T, Linfócitos B, Fagócitos Mononucleares, Neutrófilos, Eosinófilos, Basófilos, Plaquetas e células teciduais. Além dos leucócitos, também fazem parte do sistema imune às células do sistema mononuclear fagocitário (SMF), também conhecido por sistema retículo- endotelial e mastócitos. As primeiras são células especializadas em fagocitose e apresentação do antígeno ao sistema imune. São elas: macrófagos alveolares (nos pulmões), micróglia (no tecido nervoso), células de Kuppfer (no fígado) e macrófagos em geral. Os mastócitos são células do tecido conjuntivo, originadas a partir de células mesenquimatosas (células de grande potência de diferenciação que dão origem àquelas do tecido conjuntivo). Possuem citoplasma rico em grânulos basófilos (coram-se por corantes básicos). Sua principal função é armazenar potentes mediadores químicos da inflamação, como a histamina, heparina, ECF-A (fator quimiotáxico – de atração – dos eosinófilos) e fatores quimiotáxicos (de atração) dos neutrófilos. Elas participam de reações alérgicas (de hipersensibilidade), atraindo os leucócitos até o local e proporcionando uma vasodilatação. O nosso organismo possui mecanismos de defesa que podem ser diferenciados quanto à sua especificidade, ou seja, existem os específicos contra o antígeno (“corpo estranho”) e os inespecíficos, que protegem o corpo de qualquer material ou microrganismo estranho, sem que este seja específico. FIGURA 144 - MASTÓCITOS FONTE: Disponível em: <www.afh.bio.br>. Acesso em: 10 fev. 2010. 187 AN02FREV001/REV 4.0 FIGURA 145 - PLASMÓCITOS FONTE: Disponível em: <www.efoa.br>. Acesso em: 10 fev. 2010. O organismo possui barreiras naturais que são obviamente inespecíficas, como a da pele (queratina, lipídios e ácidos graxos), a saliva, o ácido clorídrico do estômago, o pH da vagina, a cera do ouvido externo, muco presente nas mucosas e no trato respiratório, cílios do epitélio respiratório, peristaltismo, flora normal, entre outros. Se as barreiras físicas, químicas e biológicas do corpo forem vencidas, o combate ao agente infeccioso entra em outra fase. Nos tecidos existem células que liberam substâncias vasoativas, capazes de provocar dilatação das arteríolas da região, com aumento da permeabilidade e saída de líquido. Isso causa vermelhidão, inchaço, aumento da temperatura e dor, conjunto de alterações conhecidas como inflamação. Essas substâncias atraem mais células de defesa, como neutrófilos e macrófagos, para a área afetada. 188 AN02FREV001/REV 4.0 FIGURA 146 - REAÇÃO INFLAMATÓRIA NOS TECIDOS FONTE: Arquivo pessoal do autor A vasodilatação aumenta a temperatura no local inflamado, a elevação na temperatura favorece as reações químicas e celulares, estimulando a migração de células de defesa. Algumas das substâncias liberadas no local da inflamação alcançam o centro termorregulador localizado no hipotálamo, originando a febre. Apesar do mal-estar e desconforto, a febre é um importante fator no combate às infecções, pois além de ser desfavorável para a sobrevivência dos microrganismos invasores, também estimula muitos dos mecanismos de defesa de nosso corpo. Por diapedese, neutrófilos e monócitos são atraídos até o local da inflamação, passando a englobar e destruir (fagocitose) os agentes invasores. A diapedese e a fagocitose fazem dos neutrófilos a linha de frente no combate às infecções. 189 AN02FREV001/REV 4.0 FIGURA 147 - ESQUEMA SIMPLIFICADO DO PROCESSO FEBRIL FONTE: Disponível em: <www.afh.bio.br>. Acesso em: 10 fev. 2010. Outras substâncias liberadas no local da infecção chegam pelos vasos sanguíneos até a medula óssea, estimulando a liberação de mais neutrófilos, que ficam aumentados durante a fase aguda da infecção. No plasma também existem proteínas de ação bactericida que ajudam os neutrófilos no combate à infecção. A inflamação determina o acúmulo de fibrina, que forma um envoltório ao redor do local, evitando a progressão da infecção. Caso a resposta inflamatória não seja eficaz na contenção da infecção, o sistema imune passa a depender de mecanismos mais específicos e sofisticados, dos quais tomam parte vários tipos celulares, o que chamamos resposta imune específica. Os linfócitos T e B são responsáveis pelo reconhecimento específico dos antígenos. Cada célula B está geneticamente programada para codificar um receptor de superfície específico para um determinado antígeno. Os linfócitos T constituem várias subpopulações diferentes com uma variedade de funções. 190 AN02FREV001/REV 4.0 Em outras palavras, os Linfócitos T são como soldados pré-programados para combater uma determinada doença, existindo diversos batalhões, cada um direcionado para um antígeno específico. Os linfócitos T são divididos em duas classes, os Linfócitos T Citotóxico e os Linfócitos T Auxiliar: os Linfócitos T Auxiliares são como comandantes que organizam as ações e os Linfócitos T Citotóxicos são como agentes especializados em destruir as células do próprio organismo infectadas pelos agentes estranhos ou mutantes. FIGURA 148 - LINFÓCITO T CITOTÓXICO (AMARELO) ATACANDO CÉLULA TUMORAL(VERMELHO) FONTE: Disponível em: <www.ciencianews.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2010. FIGURA 149 - LINFÓCITO B PRODUZINDO IMUNOGLOBULINAS FONTE: Escola Paulista de Medicina – UNIFESP. 2012 191 AN02FREV001/REV 4.0 24.2 PRINCIPAIS CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE (RESPOSTA CELULAR) 24.2.1 Linfócitos B Os linfócitos B são células que fazem parte de 5 a 15% dos linfócitos circulantes, se originam na medula óssea e se desenvolvem nos órgãos linfoides. O nome linfócito B é devido à sua origem na cloaca das aves, na Bursa de Fabricius. São células de núcleo grande e que possuem o retículo endoplasmático rugoso e o complexo de Golgi extremamente desenvolvidos em seu citoplasma, e especialistas em síntese de anticorpos quando ativadas. Porém, em repouso, estas organelas não estão desenvolvidas. Os linfócitos B têm como função própria a produção de anticorpos contra um determinado agressor. Anticorpos são proteínas denominadas de imunoglobulinas que exercem várias atividades de acordo com o seu isotipo (IgG, IgM, IgA, etc.) Estes anticorpos realizam diversas funções como: opsoninas, ativadores de complemento, neutralizadores de substâncias tóxicas, aglutinação, neutralização de bactérias, etc. Os linfócitos B possuem como principal marcador de superfície a IgM monomérica, que participa do complexo receptor de antígenos. Esta imunoglobulina entra em contato com o antígeno quando lhe é apresentado diretamente ou indiretamente pelos macrófagos. A IgM se ligando ao epítopo (superfície específica de um determinado agente estranho), internaliza o complexo IgM-epítopo. Este complexo realiza diversas modificações na célula, que tem a finalidade de induzi-la a produção de imunoglobulinas. Os linfócitos B em repouso não produzem imunoglobulinas, mas quando estimulados por substâncias químicas como interleucinas (como a IL-4 e a IL-1) vão sofrer expansão clonal e se transformar em uma célula ativa denominada de plasmócito. Os plasmócitos possuem na sua ultraestrutura o Retículo Endoplasmático Rugoso e o Complexo de Golgi desenvolvidos, e o núcleo com 192 AN02FREV001/REV 4.0 aspecto de roda de carroça. Secretam ativamente anticorpos específicos na resposta imune específica. FIGURA 150 - LINFÓCITO B FONTE: Eye Of Science/Science Photo Library. 2012 24.2.2 Linfócitos T Os linfócitos T são células que têm diversas funções no organismo e todas são de extrema importância para o sistema imune. O nome linfócito T é devido ao fato destas células se maturarem no Timo, sendo, então, o T de Timos-dependentes. Funcionalmente os linfócitos são separados em Linfócito T Auxiliar, Linfócito T Citotóxico, Linfócito T Supressor e Linfócito T de Memória. Cada um deles possui receptores característicos, que são identificáveis por técnicas imunológicas e que têm funções específicas. Entretanto, todas as células T possuem os receptores TCR (do inglês T-Cell-Receptor) e o CD3 (do inglês Cluster os Differentiation – 3). O linfócito T Auxiliar possui receptor CD4 na superfície, que tem a função de reconhecer macrófagos ativados. É o principal alvo do vírus HIV. Esta célula é o mensageiro mais importante do sistema imune. Ele envia mensagens de ataque para diversos leucócitos para realizar a guerra imunológica contra o agente 193 AN02FREV001/REV 4.0 agressor. O linfócito T auxiliar é a célula que interage com os macrófagos, reconhecendo o epítopo que lhe é apresentado. A interleucina-1 estimula a expansão clonal de linfócitos T Auxiliares monoclonais. FIGURA 151 - LINFÓCITO T CITOTÓXICO DESTRUINDO UMA CÉLULA TUMORAL FONTE: ASM Microbelibrary©. Disponível em: <http://www.microbelibrary.org>. Acesso em: 10 fev. 2010. Eles vão secretar diversas interleucinas, sendo, portanto, dividido em Linfócitos T Auxiliar (Helper) 1 e Linfócito T Auxiliar (Helper) 2. Esses subtipos de LT Helper secretam interleucinas distintas, cada uma com uma função específica. Algumas funções principais dos linfócitos T-Helper: * Estimulação do crescimento e proliferação de linfócito T Citotóxicos e Supressores contra o antígeno; * Estimulação do crescimento e diferenciação dos Linfócitos B em plasmócitos para produzir anticorpos contra o antígeno; * Ativação dos macrófagos; 194 AN02FREV001/REV 4.0 * Autoestimulação (um linfócito T-Helper pode estimular o crescimento da população de linfócito T-Helpers). Linfócitos T Supressores são linfócitos que têm a função de modular a resposta imune por meio da inibição da mesma. Ainda não se conhece muito a respeito desta célula, mas sabe-se que ele age por intermédio da inativação dos linfócitos T Citotóxicos e Helpers, limitando a ação deles no organismo em uma reação imune. Sabe-se que o linfócito T-Helper ativa o linfócito T Supressor que vai controlar a atividade destes linfócitos Helpers, impedindo que eles exerçam suas atividades excessivamente. Os linfócitos T Supressores também participam da chamada tolerância imunológica, que é o mecanismo por qual o sistema imune usa para impedir que os leucócitos ataquem as próprias células do organismo. Portanto, se houver deficiência na produção ou ativação dos linfócitos T supressores, poderá haver um ataque autoimune ao organismo. O linfócito T Citotóxico apresenta receptores TCR. Especializado para o reconhecimento de antígenos na superfície de outras células. Produz proteínas que matam células estranhas, células infectadas por vírus e algumas células cancerosas. O linfócito T de memória apresenta receptores TCR e é uma célula preparada para responder mais rapidamente e com maior intensidade, diante de nova exposição ao mesmo antígeno. 24.2.3 Células Naturais Killer (NK) Os linfócitos NK (Natural Killer) são células matadoras naturais ou assassinas e fazem parte de 10-15% dos linfócitos do sangue. Elas lisam (destroem) a células tumorais (estranhas) ou infectadas por vírus sem que estas expressem algum antígeno ativador da resposta imune específica. Este tipo de resposta é chamado de resposta imune inespecífica, pois não há reconhecimento de epítopos e nem formação de células monoclonais específicas ou qualquer memória imunológica (que é sempre específica). 195 AN02FREV001/REV 4.0 Estas células costumam expressar receptores CD de superfície, não existindo nenhum marcador específico para os NK. O marcador mais encontrado e usado atualmente para detectá-los é o CD16 ou o CD56. As células NK também lisam células cobertas por IgG. Essa função é denominada de citotoxidade celular dependente de anticorpo. FIGURA 152 - CÉLULA NATURAL KILLER ATACANDO UMA CÉLULA TUMORAL FONTE: Disponível em: <www.paginadigital.com.ar/>. Acesso em: 10 fev. 2010. 24.2.4 Macrófagos Os macrófagos são células de altíssimo poder fagocitário. O Interferon Gama, substância produzida por linfócitos T-Helper estimula a fusão dos lisossomos com o fagossomo para que haja a digestão intracelular. Estes fagócitos possuem diversas enzimas hidrolíticas em seus lisossomos. Não possuem a mieloperoxidase, mas matam bactérias por liberação de radicais derivados do oxigênio, como o superóxido, radical hidroxila e o peróxido de hidrogênio (H2O2). Estes vão oxidar a membrana da célula da bactéria e formar pontes dissulfeto entre os aminoácidos cisteína de diversas proteínas estruturais da bactéria, o que leva à morte da mesma. Possui funções de extrema importância para o sistema imune: 196 AN02FREV001/REV 4.0 * Apresentador de antígenos: os macrófagos são células que vão fagocitar a antígeno e digeri-lo no fagolisossoma. Porém, os seus epítopos são levados até a superfície da célula e apresentado ao linfócito T ou ao linfócito B, que resumidamente irá estimular todo o sistema imune do organismoe “convocar” as células para o ataque. * Limpador: os macrófagos são células que chegam para fazer a limpeza de um tecido que necrosou ou que inflamou. Eles fagocitam restos celulares, células mortas, proteínas estranhas, calo ósseo que se formou numa fratura, tecido de cicatrização exuberante etc. Após esta limpeza, os fibroblastos ativos (no caso de uma necrose) vão ao local e preenchem o espaço com colágeno. * Produtor de interleucinas: o macrófago é o principal produtor da Interleucina I (IL-1). Ele produz a IL-1 quando fagocita organismos invasores (micróbios), que dá o alarme para o sistema imune. Esta citocina estimula linfócitos T-Helper até o local da infecção, onde serão apresentados aos epítopos nos macrófagos. Além disso, a IL-1 estimula a expansão clonal dos linfócitos T-Helper e dos linfócitos B específicos contra os epítopos (são moléculas específicas dos antígenos que é capaz de criar uma população de células específica para combatê- lo). A IL-1 é responsável pela febre nas infecções e inflamações que ocorrem no corpo. Ela vai ao hipotálamo e estimula a produção de prostaglandinas, que ativam o sistema de elevação da temperatura. A IL-1 também aumenta a produção de prostaglandinas pelos leucócitos, que vai contribuir para a inflamação e dor. Além disso, a IL-1 estimula a síntese de proteínas de adesão leucocitária nos endotélios e facilita a adesão dos leucócitos para realizar a diapedese. Os macrófagos são responsáveis pelo sistema monocítico fagocitário (SMF), pois vem da maturação dos monócitos que chegam pelo sangue. Existem células que são morfologicamente diferentes dos macrófagos, mas tem a mesma função, e provém dos monócitos da mesma forma, sendo parte do SMF. São eles: Monócito sanguíneo (circulante no sangue); Micróglia (SNC); Células de Kuppfer (fígado); Macrófagos alveolares (pulmão); Células dendríticas (região subcortical dos linfonodos); Macrófagos sinusais do baço (polpa vermelha do baço); Macrófagos das serosas (peritônio, pericárdio e pleura); Células de Langerhans (pele). 197 AN02FREV001/REV 4.0 FIGURA 153 - QUATRO MACRÓFAGOS E MACRÓFAGO FAGOCITANDO BACTÉRIAS FONTE: Disponível em: <www.aids-info.ch>. Acesso em: 10 fev. 2010. 24.2.5 Mastócitos A principal função dos mastócitos é armazenar potentes mediadores químicos da inflamação, como a histamina, heparina, ECF-A (fator quimiotáxico dos eosinófilos), SRS-A, serotonina e fatores quimiotáxicos dos neutrófilos. Esta célula não tem significado no sangue, sendo uma célula própria do tecido conjuntivo. Ela participa de reações alérgicas (de hipersensibilidade), na qual chama os leucócitos até o local e cria uma vasodilatação. É a principal célula responsável pelo choque anafilático. O processo de ativação da degranulação (exocitose) se baseia na sensibilização destas células (mastócitos). Esta sensibilização ocorre da seguinte forma: o primeiro contato com o alérgeno (substância irritante que causa a alergia) estimula a produção de IgE específicas que se unem aos receptores de superfície dos mastócitos, pois estes são rico em receptores de IgE. No segundo, contanto, as IgE ligadas ao mastócito se ligam ao alérgeno e desencadeia a liberação de todos os mediadores inflamatórios. 198 AN02FREV001/REV 4.0 Com isso a histamina causa uma vasodilatação, a heparina é anticoagulante, o ECF-A chama os eosinófilos e a fator quimiotáxico dos neutrófilos chama os neutrófilos ao local. O SRS-A (slow reacting substance of anaphylaxis) tem como efeito produzir contração lenta da musculatura lisa. Esta contração da musculatura lisa é importante quando essa reação anafilática ocorre no pulmão e leva a uma broncoconstricção (asma alérgica). FIGURA 154 – MASTÓCITO FONTE: Escola Paulista de Medicina – UNIFESP. 2012 24.3 PRINCIPAIS MOLÉCULAS DO SISTEMA IMUNE (RESPOSTA HUMORAL) As moléculas envolvidas no desenvolvimento da resposta imune compreendem os anticorpos e as citosinas, produzidas pelos linfócitos, e uma ampla variedade de outras moléculas conhecidas como proteínas de fase aguda, porque as suas concentrações séricas elevam-se rapidamente durante a infecção. As moléculas que promovem a fagocitose são conhecidas como opsoninas. O sistema complementar (complemento) é um conjunto de aproximadamente 20 proteínas séricas, cuja principal função é o controle do processo inflamatório. As proteínas deste sistema promovem a fagocitose, controlam 199 AN02FREV001/REV 4.0 a inflamação e interagem com os anticorpos na defesa imune. As citosinas são moléculas diversas que fornecem sinais para os linfócitos, fagócitos e outras células do organismo. Todas as citosinas são proteínas ou peptídeos, algumas contendo glicoproteínas. Os principais grupos de citosinas são: Interferons (IFNs, que limitam a propagação de certas infecções virais), Interleucinas (Ils, a maioria delas está envolvida na indução de divisão e diferenciação de outras células), Fatores estimuladores de colônias (CSFs, divisão e diferenciação das células-tronco na medula óssea e dos precursores dos leucócitos sanguíneos), Quimiocinas (direciona a movimentação das células pelo organismo) e outras citosinas (são particularmente importantes nas reações inflamatórias e citotóxicas). 24.3.1 Anticorpos Sem dúvida alguma os anticorpos são as moléculas mais importantes de todo o sistema imune. Além disso, as pesquisas científicas possibilitaram o desenvolvimento em laboratório de anticorpos específicos contra inúmeras doenças, o que possibilitou a utilização destes em ensaios laboratoriais para diagnóstico dessas patologias. Todos os ensaios laboratoriais para detecção específica de doenças, os chamados marcadores, nada mais são que anticorpos produzidos pelo organismo do paciente e estes serão detectados ou não no soro do paciente. O inverso também é realizado em alguns testes, ou seja, utilizamos como reagentes anticorpos específicos contra uma determinada doença e ao reagir com o soro do paciente pode-se detectar a presença ou não do antígeno no soro do paciente. Os anticorpos são um grupo de proteínas séricas produzidas pelos linfócitos B. Eles são a forma solúvel do receptor de antígenos. Os anticorpos ligam-se especificamente aos antígenos e assim promovem efeitos secundários. Enquanto uma parte da molécula do anticorpo se liga ao antígeno, outras regiões interagem com outros elementos do sistema imune, como os fagócitos ou com uma das moléculas do complemento. 200 AN02FREV001/REV 4.0 Antígenos são quaisquer moléculas que possam ser reconhecidas pelo sistema imune adaptativo. O reconhecimento do antígeno é a base principal de todas as respostas imunes adaptativas. O ponto essencial a ser considerado com relação ao antígeno é que a estrutura é a força iniciadora e condutora de todas as respostas imunes. O sistema imune evoluiu com a finalidade de reconhecer os antígenos e destruir e eliminar a sua fonte. Quando o antígeno é eliminado, o sistema imune é desligado. O princípio da vacinação está baseado em dois elementos fundamentais da resposta imune adaptativa: memória e especificidade. O objetivo no desenvolvimento da vacina é alterar o patógeno ou as suas toxinas de tal modo que eles se tornem inócuos, sem perderem a antigenicidade. FIGURA 155 - ESTRUTURA QUATERNÁRIA DE UMA IMUNOGLOBULINA G FIGURA 156 - ESQUEMA DE UMA IMUNOGLOBULINA G FONTE: Genetics Home Reference. Disponível em: <http://ghr.nlm.nih.gov>. Acesso em: 25 fev. 2010. FONTE: Disponível em: <www.bmb.leeds.ac.uk>. Acesso em: 25 fev. 2010. 201 AN02FREV001/REV 4.0 A Resposta Imune Humoral (RIH) é mediada por anticorpos, que são proteínas gamaglobulinas sintetizadas por plasmócitos (linfócitos B diferenciados e capazes de secretar anticorpos ativamente).Os anticorpos são produzidos com a função principal de neutralizar e eliminar o antígeno que estimulou a sua produção. Esse processo de eliminação é feito de diversas formas e, na maioria das vezes, a produção do anticorpo é mantida por longos períodos, sendo responsável pela chamada imunidade. Anticorpos também podem ser chamados de gamaglobulinas ou imunoglobulinas (Ig). Existem basicamente cinco classes de imunoglobulinas que variam na forma e atividade, porém mais de uma classe é produzida durante o processo de infecção, ou seja, duas classes de imunoglobulinas podem ser produzidas contra um mesmo antígeno. As classes de imunoglobulinas são A, M, G, D e E, sendo chamadas Imunoglobulina A (IgA), Imunoglobulina M (IgM), etc. Todo o desenvolvimento das atuais técnicas imunológicas aqui descritas só foi possível com o desenvolvimento da técnica de obtenção de anticorpos monoclonais, uma vez que os anticorpos utilizados em ensaios laboratoriais para detecção de marcadores devem ser específicos para a patologia que se está pesquisando. Os anticorpos são a chave para o diagnóstico e terapêutica de muitas patologias responsáveis por epidemias e por doenças como o cancro. A biotecnologia é um meio de obter e produzir esses anticorpos. A ligação de antígenos aos receptores membranares dos linfócitos que os reconhecem, estimula a sua divisão, originando clones - seleção clonal. Os anticorpos podem ser utilizados para reconhecer moléculas específicas com grande precisão e podem ser produzidos em laboratório por meio da injeção de antígenos em animais. Após a resposta imunitária efetuada pelos animais em contato com o agente infeccioso, recolhem-se os anticorpos do seu plasma sanguíneo. Este processo tem como vantagem a obtenção de uma elevada quantidade de anticorpos. Contudo, nos animais e nos seres humanos, a resposta imunitária é, na maior parte das vezes, policlonal, isto é, desenvolvem-se diferentes populações de linfócitos B perante o mesmo agente patogênico. Este tipo de resposta torna-se menos eficiente porque não é canalizado o esforço para a produção do anticorpo mais apropriado, produzido por um único clone de linfócitos B - monoclonal. 202 AN02FREV001/REV 4.0 Na produção deste tipo de anticorpos, um animal é injetado com um antígeno e, passado algum tempo, é morto. Os linfócitos B são extraídos do baço do animal, incubados in vitro e é feita a fusão com células de mieloma (um tipo de célula tumoral), com o intuito de obter anticorpos monoclonais. FIGURA 157 - PROCEDIMENTO LABORATORIAL PARA A PRODUÇÃO DE ANTICORPOS MONOCLONAIS FONTE: Arquivo pessoal do autor Após a obtenção dos anticorpos monoclonais estes são utilizados nos ensaios laboratoriais de diversas formas, que variam principalmente nas etapas do processo e na forma de visualização da reação. Basicamente as reações imunológicas para detecção de anticorpos ou antígenos utilizando anticorpos monoclonais são realizadas observando a alteração na coloração do meio de reação, que ocorre devido a agentes adicionados para tal. A coloração desenvolvida é medida por espectroscopia, porém a utilização de radiação, turvação, aglutinação, etc. Estas são outras formas de se detectar as reações antígeno-anticorpo. A técnica atualmente mais utilizada para detecção de 203 AN02FREV001/REV 4.0 marcadores de infecções é o ELISA (do inglês Enzyme Linked Immunosorbent Assay) e suas variações. De maneira geral a técnica é realizada de duas maneiras: pesquisa de antígenos e anticorpos. FIGURA 158 - PLACA DE ELISA FONTE: Disponível em: <www.virology-online.com>. Acesso em: 27 fev. 2010. A pesquisa de anticorpos utiliza placas com antígenos adsorvidos nas paredes dos poços de reação e, ao se pipetar o soro do paciente, caso este apresente anticorpos antiantígeno adsorvido na placa, estes ficarão fixos. Em seguida são realizadas várias lavagens para retirada de todo o material que não foi ligado ao antígeno. Uma nova etapa é a adição de anticorpos antirregião Fc de anticorpos. Este reagente é ligado a uma enzima em sua porção Fc e se liga na porção Fc do anticorpo do paciente ligado ao antígeno da placa. Realizam-se novas lavagens e no último processo é adicionado o substrato daquela enzima ligada na porção Fc e esta irá reagir com o substrato, alterando a cor do meio, que será analisada por espectroscopia. 204 AN02FREV001/REV 4.0 FIGURA 159 - ESQUEMA DO TESTE ELISA PARA PESQUISA DE ANTICORPOS FONTE: Arquivo pessoal do autor Na pesquisa de antígenos utiliza-se em cada poço da placa de reação anticorpos adsorvidos na parede contra o antígeno a ser pesquisado e em seguida segue-se por duas maneiras diferentes (sanduíche ou competição) no ELISA por sanduíche, ocorre a adição do soro do paciente contendo o antígeno, em seguida acrescenta-se um reagente contendo anticorpo monoclonal antiantígeno. Lavam-se as placas. No próximo passo é adicionado um reagente contendo anticorpos antirregião Fc de anticorpos e a partir daí a técnica segue como na pesquisa de anticorpos. No ELISA por competição existem também anticorpos adsorvidos na parede do poço contra o antígeno a ser pesquisado, porém, juntamente com a amostra de soro do paciente é adicionado um reagente contendo agora o mesmo antígeno a ser 205 AN02FREV001/REV 4.0 pesquisado, marcado com a mesma enzima. Haverá uma competição para ligar-se aos anticorpos adsorvidos na parede do poço, quanto mais antígeno estiver presente no soro do paciente, menos antígeno do reagente irá se ligar. Percebe-se que neste caso a reação é inversa, ou seja, quanto mais colorido for o meio, menos antígeno estava presente no soro do paciente. FIGURA 160 - ESQUEMA DO TESTE ELISA PARA PESQUISA DE ANTÍGENOS FONTE: Arquivo pessoal do autor Vale lembrar que na pesquisa de anticorpos pode-se pesquisar diferentes classes de anticorpos presentes no soro do paciente e, para tal, deve-se utilizar reagente contendo anticorpos antirregião Fc para cada classe de imunoglobulina e, desta forma, pode-se pesquisar especificamente a classe e contra qual antígeno o anticorpo presente no soro do paciente está direcionado. 206 AN02FREV001/REV 4.0 FIGURA 161 - LEITOR DE PLACAS DE ELISA FONTE: < http://www.passoscientifica.com/page7.php> Acesso: 10 mar. 2010. 24.3.2 Sistema Complemento O sistema complemento (SC) é o principal mediador humoral do processo inflamatório junto aos anticorpos. Está constituído por um conjunto de 20-30 proteínas, tanto solúveis no plasma como expressas na membrana celular, e é ativado por diversos mecanismos por duas vias, a clássica e a alternativa. O SC compreende apenas 2% das imunodeficiências primárias ou genéticas que é de cerca de 1:10.000 crianças, excluindo-se a deficiência seletiva assintomática de IgA. A deficiência de uma ou mais proteínas da cascata do SC, contudo, poderá ser responsável pela suscetibilidade aumentada a várias doenças. As deficiências podem ser genéticas, quando poderão faltar componentes de ativação, de regulação ou mesmo de receptores ou adquiridas. As proteínas do SC são sintetizadas principalmente nos hepatócitos e macrófagos/monócitos, além de outros tecidos. As proteínas reguladoras ligadas à membrana celular são sintetizadas nas células sobre as quais estão expressas. http://www.passoscientifica.com/page7.php 207 AN02FREV001/REV 4.0 O SC constitui-se num dos principais efetores da imunidade humoral, assim como da inflamação. O SC participa dos seguintes processos biológicos: fagocitose, opsonização, quimiotaxia de leucócitos, liberação de histamina dos mastócitos e basófilos e de espécies ativas de oxigênio pelos leucócitos, vasoconstrição, contração da musculatura lisa, aumentoda permeabilidade dos vasos, agregação plaquetária e citólise. O SC é uma cascata proteica com função importante na defesa humoral inespecífica. Para um funcionamento normal do mesmo, todos os componentes da cascata devem estar presentes em níveis plasmáticos normais e com uma função fisiológica adequada. A ativação do SC ocorre por duas vias, o que permite a resposta eficiente a diversos processos agressores. O dano provocado no tecido autólogo é controlado por mecanismos de regulação competentes. Os componentes da via clássica, assim como da via terminal, são designados com o símbolo “C” seguidos com o número correspondente (C1, C3, etc.). Já os componentes da via alternativa, exceto C3, são designados com nomes convencionais ou símbolos diferentes (exemplo: fator D, fator B, properdina). A designação dos componentes ativados é feita por uma barra colocada sobre o símbolo da proteína ou do complexo proteico correspondente (exemplo: C1- C4b2a, fator B, etc.). Os produtos da clivagem enzimática são designados por letras minúsculas que seguem o símbolo de determinado componente (exemplo: C5a, C5b). Quando o componente ou fragmento é inativado, é adicionada a letra "i" (exemplo: C3bi, Bbi). As deficiências de proteínas do SC são incomuns, mas não raras. Por exemplo, a frequência da deficiência heterozigótica de C2 é de cerca de 1:100 nascidos-vivos, enquanto que da homozigótica é de cerca de 1:10.000. A deficiência dos componentes iniciais da via clássica pode estar associada com saúde normal, doenças dos colágenos ou infecções. As deficiências de C3 ou de proteínas reguladoras de C3, frequentemente, levam a infecções severas. As deficiências de componentes da via alternativa ou da via efetora comum podem acarretar infecções, particularmente por Neisseria spp. A deficiência de inibidor de C1 causa angioedema. As deficiências congênitas (primárias) ou adquiridas (secundárias) de proteínas de ativação da cascata do SC predispõem as doenças autoimunes ou infecciosas específicas, em sua maioria por bactérias 208 AN02FREV001/REV 4.0 piogênicas de agressividade considerável, como, por exemplo, o meningococo. As deficiências de proteínas de regulação estão implicadas também em doenças do tipo autoimunes, como é o caso do angioedema e da hemoglobinúria paroxística noturna. FIGURA 162 - NOÇÃO GERAL DO SISTEMA COMPLEMENTO Fonte: ITURRY-YAMAMOTO, G. R.; PORTINHO, C. P. 2012 24.3.3 Citocinas 24.3.3.1 Interferons (IFN) Os interferons são proteínas sintetizadas por células em resposta a estímulos específicos. É a primeira linha de defesa contra infecções virais. Trata-se de uma reação não específica do Sistema Imune e é induzido no primeiro estágio das infecções virais antes da resposta imune específica ser estimulada. A ação dos 209 AN02FREV001/REV 4.0 Interferons na superfície das células-alvo induz a transcrição de aproximadamente 20-30 genes que irão conduzir uma série de ações antivirais. Os interferons induzem um estado de resistência antiviral em células teciduais não infectadas. O vírus, ao replicar-se, vai ativar o gene codificante do interferon. Após a síntese proteica, a proteína sai da célula e entra na corrente sanguínea, até chegar às células vizinhas que ainda não foram atacadas. A proteína liga-se à membrana celular dessas células e ativa o gene codificante de proteínas antivirais. Estas proteínas virais, por sua vez, vão impedir a replicação do vírus, quando este tentar replicar-se nessas células. Os IFN são produzidos na fase inicial da infecção e constituem a primeira linha de resistência a muitas viroses. Existem três tipos de Interferons: * Interferons Alfa (IFNa) é produzido por leucócitos e outras células infectadas por vírus. O Interferon Alpha, sintético, é usado para o combate de muitas doenças virais, como Hepatite C e HIV, porém tem alta toxicidade. A malignidade dessas doenças faz com que os efeitos colaterais sejam suportados. * Interferon Beta (IFNb) é produzido por fibroblastos e células epiteliais infectados por vírus. * Interferon Gama (IFNg) é produzido por alguns linfócitos T ativados e Células NK em resposta a um determinado antígeno (incluindo antígenos virais) ou por mitoses de linfócitos. FIGURA 163 - PRODUÇÃO DE INTERFERONS DURANTE INFECÇÃO VIRAL AGUDA FONTE: Arquivo pessoal do autor 210 AN02FREV001/REV 4.0 24.3.3.2 Interleucinas (IL) As interleucinas compõem um grande grupo de citocinas denominadas por IL-1 a IL-15, produzidas principalmente por células T, embora algumas sejam sintetizadas também por macrófagos e células teciduais. As interleucinas possuem uma variedade de funções, mas a maioria delas está envolvida na indução da divisão de outras células. Cada interleucina atua sobre um grupo limitado e específico de células que expressam receptores adequados para cada interleucina. É importante destacar que a hematopoiese é regulada por mais de uma interleucina. As IL-1 e IL-6 estão envolvidas na ativação do ciclo celular das células-tronco em repouso (ou autorrenováveis). A IL-3 está envolvida no crescimento dos precursores das linhagens hemopoiéticas da mesma forma que o fator estimulador de colônias de granulócitos/macrófagos (GM – CSF). Na medida em que as células se diferenciam, citocinas específicas de linhagens apresentam atividades importantes; a eritropoetina para os eritrócitos, o fator estimulador de colônias de macrófagos (M – CSF) para os macrófagos, o fator estimulador de colônias de granulócitos (G – CSF) para os granulócitos, entre outros. 211 AN02FREV001/REV 4.0 TABELA 4 - TABELA DE INTERLEUCINAS FONTE: NAOUM, Paulo C.: Avanços tecnológicos em hematologia laboratorial. 2012 212 AN02FREV001/REV 4.0 24.3.3.3 Fatores Estimuladores de Colônia (CSF) Os fatores estimuladores de colônias (CSF) estão diretamente relacionados na divisão e diferenciação das células-tronco na medula óssea, bem como dos precursores dos leucócitos sanguíneos. A quantidade de diferentes CSF é parcialmente responsável pelas proporções dos diferentes tipos celulares que serão produzidos. Alguns CSF também promovem a diferenciação extramedular de células. Finalmente outras citocinas além das acima citadas, como são os casos do fator de necrose tumoral - TNFa e TNFb e do fator de transformação de crescimento (TGF b) que, embora possuem várias funções, são particularmente importantes nas reações inflamatórias e citotóxicas. Nesse contexto específico das citocinas, o futuro da análise laboratorial certamente deverá estar direcionado à monitoração quantitativa e na determinação qualitativa das diferentes interleucinas, bem como nas respostas às reações fisiopatológicas causadas por processos inflamatórios e citotóxicos. FIGURA 164 - AÇÕES DAS DIVERSAS CITOCINAS NA DIFERENCIAÇÃO E MATURAÇÃO CELULAR FONTE: Escola Paulista de Medicina – UNIFESP. 2012 213 AN02FREV001/REV 4.0 25 ENSAIOS IMUNOLÓGICOS Os ensaios imunológicos nada mais são que a detecção e quantificação de determinados agentes patológicos (antígenos) ou anticorpos presentes no soro do paciente. De maneira geral os antígenos podem ser vírus, bactérias, parasitas ou proteínas dos mesmos. Os anticorpos podem ser contra agentes estranhos ou mesmo estruturas celulares normais, em que a presença de anticorpos indica doença autoimune. Os ensaios imuno-hematológicos utilizam anticorpos monoclonais ou policlonais e hemácias. Desta forma a determinação do Grupo Sanguíneo, os Testes de Coombs Direto e Indireto são ensaios imuno-hematológicos. A seguir serão discutidos os ensaios imunológicos de maior frequência em laboratórios de análises clínicas e em seguida uma visão geral dos avanços na área. 25.1 FATOR REUMATOIDEO termo fator reumatoide (FR) engloba um grupo de autoanticorpos das classes IgG, IgM e IgA que têm em comum a capacidade de reagir com diferentes epítopos da porção Fc da molécula da imunoglobulina G humana. O FR IgM pode servir como marcador precoce na Artrite Reumatoide (AR), apoiando-se em dados que demonstram que o risco de desenvolvimento da doença aumenta de forma proporcional ao aumento da concentração de FR em indivíduos normais. Os pacientes com artrite que cursam com FR positivo, principalmente quando em concentrações elevadas, correm maiores riscos de apresentar complicações clínicas e uma menor resposta à terapia. O Fator Reumatoide está presente em cerca de 50-90% dos casos de AR clássicos, alguns meses após o início da doença. O FR está aumentado também em 15 a 35% dos casos de lúpus eritematoso sistêmico (LES). 214 AN02FREV001/REV 4.0 Sabe-se hoje que o FR não é produzido apenas sob condições patológicas, e uma pequena parcela da população normal, especialmente os idosos, pode apresentar positividade para FR. Esses percentuais de incidência, tanto nas patologias como nos pacientes normais, assim como a ocorrência de falsos positivos, variam de acordo com a sensibilidade e a especificidade do método utilizado. Os ensaios tradicionais para investigação do FR empregavam partículas de látex revestidas por imunoglobulina G humana (Prova do Látex) ou, na Hemaglutinação Indireta, hemácias de carneiro, revestidas por imunoglobulina de coelho (Reação de Waller-Rose). A prova do látex era considerada mais sensível e a reação de Waller-Rose mais específica. Realizadas em conjunto, fornecem dados complementares. Atualmente, o método de referência para a pesquisa do FR é a nefelometria, que fornece um resultado numérico em UI/mL, em vez dos resultados em títulos, resultantes de diluições fornecidas pelo método anterior (látex), o que permite um melhor acompanhamento dos pacientes. Com a nefelometria podem ser identificadas as três classes de autoanticorpos, ou seja, o FR das classes IgG, IgM e IgA. A identificação e a quantificação da classe do FR que se encontra elevada podem ser realizadas pelo método de ensaio imunoenzimático. A utilidade clínica dessa individualização e quantificação tem sido cada vez mais explorada. Por exemplo, a presença de FR IgA nas manifestações extra-articulares da AR com ausência de FR IgM ou IgG; a predominância na AR de FR IgM, sendo que o FR IgG e IgA estão geralmente presentes, mas em baixa frequência e quantidade. É incomum a detecção concomitante do FR das três classes em outra patologia que não a artrite reumatoide. 215 AN02FREV001/REV 4.0 25.2 VDRL (LUES) A prova do VDRL (Veneral Disease Research Laboratories Test) é um dos testes não treponêmicos utilizados rotineiramente no teste de triagem no imunodiagnóstico da sífilis. Devido ao baixo custo e praticidade quanto à sua realização, vem sendo usado em larga escala na maioria dos laboratórios de unidades de atenção primária de saúde. Apresenta uma técnica rápida de microfloculação, na qual utiliza antígenos extraídos de tecidos como a cardiolipina, um lípide derivado do coração de bovinos. A cardiolipina, quando combinada com lecitina e colesterol, forma sorologicamente um antígeno ativo, capaz de detectar anticorpos humorais presentes no soro durante a infecção sifilítica, uma a quatro semanas após o aparecimento do cancro primário. As dosagens quantitativas do VDRL, expressas em títulos, em geral se elevam até o estágio secundário. A partir do primeiro ano da doença, os títulos tendem a diminuir podendo a reatividade desaparecer mesmo sem tratamento. Com a infecção corretamente tratada, o VDRL tende a se negativar entre 9- 12 meses, embora a reatividade em baixos títulos (< 1:8) possa perdurar por vários anos ou até por toda a vida. Os anticorpos estão presentes nas primeiras semanas da doença e, quando em títulos iguais ou maiores de 1/16, sugerem fortemente casos de sífilis; títulos inferiores, geralmente até 1/8, são encontrados em diferentes patologias, especialmente no lúpus eritematoso sistêmico e como títulos residuais (cicatriz sorológica) de sífilis anteriormente tratada. A pesquisa de anticorpos treponêmicos, que são específicos contra o Treponema pallidum, é indicada como testes confirmatórios e pode ser realizada pela imunofluorescência indireta (FTA-ABS) e pela hemaglutinação passiva (TPHA). 216 AN02FREV001/REV 4.0 FIGURA 165 - TREPONEMA PALLIDUM VISTO EM MICROSCOPIA DE CAMPO ESCURO FONTE: < http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Treponema_pallidum_cropped.png>. Acesso em: 26 mar. 2010 O FTA-ABS (Fluorescent Treponemal Antibody Absorption) é o mais sensível e específico para Sífilis e auxilia no diagnóstico de diferentes estágios da doença. Permite a pesquisa de anticorpos IgG e IgM, fundamental na investigação diagnóstica da sífilis congênita, assim como na avaliação do estágio da doença. Quando positivos, permanecem por toda a vida como cicatriz sorológica. Quando negativos, afastam o diagnóstico de sífilis. Apesar de sua alta especificidade, existem relatos de reações falso-positivas em 2% da população normal em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico, durante a gravidez, na lepra, mononucleose, leptospirose, artrite reumatoide, cirrose biliar primária e doenças associadas à produção de globulinas anormais. A reação de hemaglutinação passiva (TPHA) é, também, considerada teste confirmatório. Resultados falso-positivos são relatados em diferentes patologias. Sua sensibilidade é similar à do FTA-ABS, com exceção da investigação da fase primária, quando é menos sensível. Assim como no FTA-ABS, se positivos, os anticorpos permanecem por toda a vida como cicatriz sorológica. O diagnóstico da http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Treponema_pallidum_cropped.png 217 AN02FREV001/REV 4.0 sífilis congênita baseia-se na presença de anticorpos IgM, sendo o método de escolha a pesquisa do FTA-ABS IgM. Entretanto, um resultado negativo não afasta a possibilidade de infecção, já que a positividade só acontece em cerca de 80% dos casos. A persistência de reações sorológicas positivas, treponêmicas e não treponêmicas, por mais de seis meses após o nascimento é altamente indicativa de sífilis congênita. 25.3 ASLO (ANTIESTREPTOLISINA “O”) Os Streptococcus beta-hemolíticos do grupo A causam infecções clínicas especialmente de orofaringe e pele, endocardites e quadros não supurativos, como febre reumática e glomerulonefrite aguda. A estreptolisina O é uma das toxinas extracelulares liberadas pelo Streptococcus beta-hemolítico do grupo A. Ela é capaz de induzir a síntese de anticorpos específicos, os anticorpos antiestreptolisina O (ASLO), em cerca de 80% das infecções. O uso de antibióticos, corticoides e drogas imunossupressoras podem inibir a produção de ASLO. Os anticorpos elevam-se na primeira semana, atingindo valores máximos em duas a quatro semanas após a infecção estreptocócica e retornando aos valores normais após seis a 12 meses. A manutenção de títulos de elevados ou a sua elevação em amostras seguidas são indicativas de infecção aguda, reinfecção ou lesões pós-estreptocócicas. Apesar de níveis circulantes de ASLO serem encontrados na maioria dos pacientes com febre reumática e glomerulonefrite pós-estreptocócica, sua maior indicação é no seguimento de pacientes com febre reumática, já que nesses casos os títulos se correlacionam melhor com a atividade da doença. Cerca de 80 a 85% dos casos de febre reumática cursam com altos títulos. 218 AN02FREV001/REV 4.0 FIGURA 166 - STREPTOCOCCUS VISUALIZADOS EM MICROSCOPIA ELETRÔNICA FONTE: < http://microbewiki.kenyon.edu/> Acesso em: 26 mar. 2010 FIGURA 167- STREPTOCOCCUS VISUALIZADOS EM MICROSCOPIA ÓPTICA FONTE: <http://www.textbookofbacteriology.net/normalflora.html> Acesso em: 26 mar. 2010 http://microbewiki.kenyon.edu/ http://www.textbookofbacteriology.net/normalflora.html 219 AN02FREV001/REV 4.0 25.4 BRUCELOSE A brucelose é uma zoonose e a forma humana é causada por uma das quatro espécies: Brucella melitensis, a causa mais comum em todo o mundo, adquirida pelo contato com cabras, carneiros e camelos; Brucella abortus, adquirida por contato com bois; Brucella suis, com porcos; e Brucella canis, com cães. O contágio se dá pelo contato com a pele ou por ingestão de secreções contaminadas por esses animais. Tais bactérias mantêm-se viáveis em solo seco por cerca de 40 dias e no caso de solo úmido, esse prazo é ainda maior. São destruídas pela pasteurização e fervura, mas resistem ao congelamento. A contaminação relacionada à ocupação profissional, como é o caso de fazendeiros, veterinários, processadores de carne, são a fonte mais frequente. Na população em geral, a fonte mais comum de contaminação é a ingestão de leite e derivados não pasteurizados e o consumo de carne crua. Pode ser transmitida de pessoa a pessoa, pela placenta e durante a amamentação e são citados casos raros de contaminação por atividade sexual. A infecção pode distribuir-se amplamente pelo organismo, causando lesões praticamente em qualquer órgão, com mais frequência no coração, ossos e articulações, tratos respiratório, gastrointestinal e geniturinário, globo ocular, pele, sistema nervoso central e sistema endócrino. O quadro clínico inicial é comum a outras doenças febris. O período de incubação dura em média de uma a três semanas, podendo, em alguns casos, durar vários meses. A multiplicação intracelular do microrganismo ocorre nos gânglios linfáticos e sistema reticuloendotelial. A gravidade do quadro é variável, podendo apresentar-se com comprometimento leve a grave. O quadro apresenta sintomas comuns como febre, mialgia, cefaleia, anorexia, artralgia e lombalgia. O exame clínico pode ser pouco expressivo ou apresentar linfadenopatia, hepatoesplenomegalia, dor à palpação da coluna vertebral, dor abdominal e outras manifestações. 220 AN02FREV001/REV 4.0 O diagnóstico preciso é feito mediante a associação de história compatível com probabilidade de infecção, sinais clínicos e detecção de anticorpos por reações de aglutinação, visíveis a olho nu. O diagnóstico é de grande importância no período pré-natal, pois pode levar à morte fetal. Os antígenos bacterianos têm a capacidade de induzir a formação de anticorpos específicos, inicialmente da classe IgM e logo após das classes IgG e IgA. Esses anticorpos aparecem a partir da segunda semana da doença, com picos entre a terceira e sexta semanas. Títulos maiores ou iguais a 1/160 são considerados significativos quando encontrados em região não endêmica. Em áreas endêmicas e em profissionais de alto risco de contaminação, são considerados significativos títulos iguais ou acima de 1/320. Altos títulos de IgM indicam infecção aguda; altos títulos de IgG, infecção em atividade; quando mais baixos, podem significar infecção passada. Recomenda-se a análise pareada com intervalo de duas semanas na avaliação dos casos duvidosos: variações de quatro vezes o título anterior são sugestivas de infecção aguda. Reações com títulos baixos podem ser encontradas em pacientes vacinados contra febre tifoide. Podem ser encontradas reações cruzadas por infecção por outras bactérias e após intradermorreação, com antígenos de Brucella. FIGURA 168 - MICROSCOPIA ELETRÔNICA MOSTRANDO BRUCELLA ABORTUS FONTE: Disponível em: <http://pathmicro.med.sc.edu/ghaffar/zoonoses.htm>. Acesso em: 26 mar. 2010. 221 AN02FREV001/REV 4.0 25.5 DOENÇA DE CHAGAS A tripanossomíase americana ou doença de Chagas é uma parasitose endêmica causada pelo Trypanosoma cruzi. Pode cursar com infecções agudas ou crônicas. A forma aguda em geral é uma doença febril discreta. Podem evoluir especialmente em crianças, com um quadro mais exuberante, que se caracteriza por febre, anorexia, edema da face e dos membros inferiores, linfadenopatia e hepatoesplenomegalia discreta. Mais raramente ocorre miocardite. Após a fase aguda, o paciente permanece infectado e passa para uma fase crônica assintomática. A doença crônica sintomática irá se manifestar anos ou mesmo décadas após a fase aguda. As clássicas manifestações crônicas se relacionam com distúrbios de ritmo e condução cardíaca, tromboembolias, miocardiopatia chagásica, megaesôfago e megacólon. Nas situações de imunossupressão pode ocorrer a reativação do quadro, que muitas vezes é fatal. A transmissão ocorre por vetores hematófagos, mas pode se dar por via congênita, transfusional e outras formas menos frequentes, como a inoculação involuntária em laboratório. Os métodos sorológicos para diagnóstico da doença de Chagas apresentam sensibilidade e especificidade elevadas, sendo úteis para o diagnóstico nas fases aguda e crônica da doença. Entretanto, é possível a reação positiva por reatividade cruzada com as leishmanioses, especialmente com a forma visceral e as formas cutâneo-mucosas da leishmaniose tegumentar, e com outros antígenos em comum. Por isso, é recomendável a realização de reações por diferentes métodos como Hemaglutinação (Hemácias de carneiro com antígenos de Tripanosoma cruzi adsorvido nas membranas e com a presença de anticorpos no soro do paciente haverá uma aglutinação visível a olho nu), Imunofluorescência (utilização de placas contendo antígenos de Tripanosoma cruzi e após mistura com soro do paciente são adicionados anticorpos marcados com reagentes fluorescentes que serão posteriormente analisados em microscópios especiais), e Enzima Imunoensaio (ELISA). 222 AN02FREV001/REV 4.0 Devem ser realizados no mínimo dois métodos, para que se controlem mutuamente, visto que, em cada método, são utilizados diferentes antígenos e formas do parasita, o que permite diminuir a possibilidade de resultados falso- positivos. Resultados positivos devem ser encontrados nos dois métodos utilizados para confirmar o diagnóstico. Nos casos de apenas um método apresentar positividade, faz-se necessária a análise clínica da história epidemiológica, achados clínicos e outros exames diagnósticos complementares. Na fase aguda, anticorpos das classes IgM e IgG são detectáveis. Na fase crônica são encontrados anticorpos da classe IgG. Os níveis de reatividade diferem para cada método e de acordo com a finalidade do diagnóstico. Os valores considerados para triagem de doadores de sangue são sempre inferiores aos considerados para o diagnóstico clínico. FIGURA 169 - TRIPANOSOMA CRUZI: AGENTE CAUSADOR DA DOENÇA DE CHAGAS FONTE: < http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Trypanosoma_cruzi_hindgut.jpg> Acesso em: 26 mar. 2010 http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Trypanosoma_cruzi_hindgut.jpg 223 AN02FREV001/REV 4.0 FIGURA 170 – BARBEIRO: AGENTE TRANSMISSOR DA DOENÇA DE CHAGAS FONTE: <http://quiprona.wordpress.com/2009/07/10/doenca-de-chagas-100-anos/. Acesso em: 26 mar. 2010. 25.6 PROTEÍNA C REATIVA A Proteína C Reativa (PCR) é, por vezes, confundida com uma técnica laboratorial denominada PCR (Polimerase Chain Reaction), uma reação que possibilita a amplificação de fragmentos de DNA e em seguida analisá-los. As reações inflamatórias são respostas do organismo aos diferentes tipos de agressão tecidual, como as infecções virais, bacterianas, parasitárias ou fúngicas, e às agressões físicas, químicas e imunológicas. Diante da reação inflamatória, os monócitos secretam substâncias como IL- 6, IL-1 e TNF, que levam ao hepatócito a informação da necessidade de síntese dasdenominadas proteínas de fase aguda. A determinação da concentração plasmática dessas proteínas ajuda, clinicamente, a avaliar a presença, a extensão e a atividade do processo inflamatório e a monitorar a evolução e a resposta terapêutica. A proteína C reativa (PCR) é uma das proteínas plasmáticas de fase aguda. Foi identificada no soro de pacientes com pneumonia pneumocócica, em reação de precipitação do polissacarídeo C da parede do pneumococo (gram-positivo), agente etiológico da patologia. É usada rotineiramente para monitorar a resposta de fase aguda, sendo considerada uma das mais sensíveis, por apresentar algumas http://quiprona.wordpress.com/2009/07/10/doenca-de-chagas-100-anos/ 224 AN02FREV001/REV 4.0 características, como meia-vida curta (entre 8 a 12 horas) e valores normais muito baixos (< 0,5 mg/dL), que, em resposta a estímulos inflamatórios, podem atingir valores até 100 vezes o normal em menos de 24 horas. Além de elevar-se rapidamente após o estímulo inflamatório (4 a 6 horas), na ausência de estímulo crônico, normaliza-se em três a quatro dias. A proteína C reativa deve ser utilizada como auxiliar no diagnóstico, controle terapêutico e acompanhamento de diversas patologias, uma vez que é o mais sensível e precoce indicador de processos inflamatórios resultantes de infecções, carcinomas, necrose tecidual e cirurgias. Depois de 24 horas, a velocidade de hemossedimentação (VHS) é complementar à PCR. Durante muitos anos a PCR foi utilizada apenas no contexto de avaliação de processos inflamatórios, mas, atualmente, vem assumindo outros papéis importantes na clínica devido ao desenvolvimento de técnicas que possibilitam dosar a quantidade desta proteína em valores mínimos; e tal técnica é descrita como PCR Ultrassensível. A dosagem quantitativa, pela técnica de imunonefelometria, utilizando anticorpos monoclonais antiPCR, ao contrário dos métodos tradicionais qualitativos, permite a liberação de resultados quantitativos (mg/dL) que facilitam a interpretação clínica e o acompanhamento laboratorial de cada caso. Por exemplo, podemos citar que, como marcador de mortalidade nos primeiros 24 meses após infarto agudo do miocárdio (IAM), foi de maior valor que as enzimas cardíacas. Além disso, altos níveis séricos de PCR puderam ser considerados fatores preditivos de ruptura cardíaca subaguda pós-IAM. Nove pacientes apresentando esse tipo de complicação foram comparados ao grupo controle de 28 pacientes infartados sem complicações. No grupo com ruptura cardíaca, níveis elevados de PCR, superiores a 20 mg/dL, foram evidenciados no segundo dia pós-IAM. Um marcador tradicional de lesão muscular, a enzima CPK, não mostrou diferença significativa entre os dois grupos. A sensibilidade diagnóstica de altos níveis séricos de PCR, predizendo uma possível ruptura cardíaca pós-IAM, foi de 89%, garantindo o seu uso na prática cardiológica. Com a recente descoberta de componentes inflamatórios na arteriosclerose, a PCR foi proposta como indicador de risco para doença coronariana e acidentes vasculares cerebrais. O risco, revelado pelos altos teores 225 AN02FREV001/REV 4.0 séricos de PCR, é independente de fatores ligados à dislipidemia e pode ser reduzido pelo uso de aspirina como tratamento profilático. Essas novas hipóteses de patogêneses de doenças arterioescleróticas associadas à possibilidade de terapêutica preventiva abrem novas perspectivas, que devem ser consideradas. Da mesma forma, níveis aumentados da PCR parecem estar relacionados a eventos coronarianos em pacientes com angina estável ou instável. Em outras áreas da medicina, como a infectologia e a cirurgia, a importância da PCR também deve ser levada em conta. O uso da dosagem da PCR foi avaliado num estudo envolvendo 193 casos de endocardite infecciosa. Níveis elevados de PCR puderam ser evidenciados em casos que cursaram com complicações, levando à conclusão de que a PCR é um bom marcador prognóstico e pode ser utilizada para monitorar a resposta à terapia antimicrobiana em endocardites infecciosas. Na recuperação cirúrgica, a PCR aumenta nas primeiras quatro a seis horas, revelando picos séricos por volta das 48 a 72 horas de pós-operatório, em concentrações de 2,5 a 3,5 mg/dL. Em cirurgias que cursam com evolução favorável, os níveis de PCR normalizam-se por volta do sétimo dia após o procedimento cirúrgico. Na vigência de complicações, os valores da PCR permanecem elevados e podem atingir níveis superiores a 3,5 mg/dl. Em estados inflamatórios crônicos, as concentrações de PCR podem persistir altas indefinidamente. Em casos de LES e outras doenças do colágeno, colites ulcerativas e leucemia, as concentrações são, geralmente, normais, porém marcadamente mais altas nas infecções bacterianas do que nas virais, auxiliando no diagnóstico diferencial. Na febre reumática, a PCR é um bom parâmetro de reagudização, pois persiste em concentrações elevadas (>4 mg/dl) quando a doença está ativa, embora decaindo a níveis normais durante a remissão. Encontram-se níveis elevados de PCR e de haptoglobina em pacientes com espondilite anquilosante HLA-B27 clinicamente ativa; mas nem a PCR nem a haptoglobulina estão elevadas nos casos ativos com HLA-B27, em que são encontradas concentrações elevadas de IgA. Soros com altas concentrações de PCR contêm normalmente fator de necrose de tumor elevado (FNT). A relação de FNT/PCR poderia ser útil no acompanhamento de rejeição de transplantes renais. O aumento da PCR urinária em associação com baixos níveis de beta-2- macroglobulina em pacientes com transplante renal é indicativo de infecção 226 AN02FREV001/REV 4.0 extrarrenal (sensibilidade 100%, especificidade 99%). A elevação de ambas as proteínas na urina é uma forte indicação de infecção bacteriana ou de rejeição aguda. Aproximadamente 60% de recém-nascidos saudáveis podem apresentar, normalmente, concentrações de PCR acima de 1 mg/dl durante os primeiros 20 dias de vida. Consequentemente, as faixas de referência de adultos não são adequadas para crianças. 25.7 MONONUCLEOSE INFECCIOSA Doença infecciosa aguda causada pelo vírus Epstein-Barr (EBV) apresenta uma maior incidência em crianças, adolescentes e adultos jovens. Durante o curso da doença aparecem anticorpos heterófilos, capazes de aglutinar hemácias de carneiro e de cavalo, que são uma característica dessa infecção. São anticorpos da classe IgM não específicos para mononucleose, podendo estar presentes em outras patologias. O diagnóstico é feito pelo conjunto dos sinais clínicos associados à positividade para anticorpos heterófilos. Diante de um quadro sugestivo que apresente a pesquisa negativa para esses anticorpos, faz-se necessária a pesquisa de anticorpos específicos para EBV, visto que mais de 70% das crianças e cerca de 10% dos adultos não desenvolvem anticorpos heterófilos. Os achados clínicos mais frequentes são: febre, adenomegalia, linfocitose com alto grau de atipia linfocitária (mais de 50%, geralmente com presença de células de Downey), esplenomegalia e hepatomegalia. O monoteste, também conhecido como reação de Hoff e Bauer, é uma reação de hemaglutinação que detecta a presença de anticorpos heterófilos utilizando hemácias de cavalo, sendo útil como teste de triagem para mononucleose. É sensível, positivando logo nas primeiras semanas e mantendo-se positivo por cerca de 12 semanas. O monoteste não é um exame específico para EBV, não sendo útil na avaliação da doença crônica. 227 AN02FREV001/REV 4.0 A reação de Paul-Bunnell pesquisa a presença de anticorpos heterófilos contra hemácias de carneiro. São considerados sugestivos de mononucleose títulos superiores a 1/56. Entretanto, esses anticorpos podem pertencer a outro grupo de anticorpos heterófilos, como os encontrados na doença do soro eno soro normal (anticorpos de Forssman). Como os anticorpos heterófilos que surgem na mononucleose possuem a característica de serem absorvidos pela hemácia de boi e de não serem absorvidos pelo rim de cobaia, a reação de Paul-Bunnell-Davidsohn explora essa característica, permitindo a exclusão de outros anticorpos heterófilos, servindo dessa forma como teste confirmatório. Um pequeno percentual de falso-positivos foi descrito em linfomas, na leucemia linfocítica aguda, na hepatite infecciosa, no carcinoma de pâncreas, na infecção por citomegalovírus, na artrite reumatoide e na rubéola. A pesquisa de anticorpos para o vírus EBV se faz necessária para a confirmação do diagnóstico da mononucleose naqueles casos nos quais os pacientes apresentam alterações clínicas sugestivas, porém sem os achados hematológicos clássicos e os títulos negativos para anticorpos heterófilos. São anticorpos específicos que aparecem ao final do período de incubação, atingindo títulos mais baixos durante a fase de recuperação, que irão persistir por toda a vida como indicadores de imunidade para essa doença. Os anticorpos específicos para EBV devem ser pesquisados também para o diagnóstico diferencial das patologias que podem mimetizar um quadro de mononucleose, como pode acontecer em quadros de hepatites virais agudas, colagenoses, síndrome de soroconversão do HIV-1, infecção por citomegalovírus e toxoplasmose. 228 AN02FREV001/REV 4.0 FIGURA 171 - VÍRUS CAUSADOR DA MONONUCLEOSE FONTE: Disponível em: <www.spaceflight.esa.int>. Acesso em: 26 mar. 2010. 25.8 EPSTEIN-BARR VÍRUS O vírus Epstein-Barr (EBV) é um herpesvírus humano conhecido por causar a mononucleose infecciosa e também por sua provável participação na etiologia de alguns carcinomas (nasofaríngeo), linfomas (linfoma de Burkitt) e desordens linfoproliferativas em pacientes imunossuprimidos. Recentemente foi descrita a síndrome ativa crônica severa, na qual a linfoproliferação continua ativa. Já o papel etiológico do EBV em outras patologias como artrites reumáticas, doença de Hodgkin e síndrome de fadiga crônica ainda não estão bem definidas. Na fase aguda da mononucleose infecciosa, anticorpos IgM e IgG para antígenos precoces do EBV (EA), antígenos do capsídeo viral (VCA) e antígenos nucleares (EBNA) aparecem em sequência. A pesquisa mais utilizada é a de anticorpos IgM contra VCA por enzima imunoensaio. A positividade indica infecção aguda. Entretanto, a presença de anticorpos IgM para VCA ou IgM /IgG para EA, 229 AN02FREV001/REV 4.0 com ausência ou baixa concentração de anticorpos contra EBNA, indica infecção recente ou em curso. A presença de anticorpos contra VCA e a relação IgG/IgM inferior a 1 podem auxiliar no diagnóstico de casos difíceis. A análise da avidez de anticorpos IgG contra VCA do EBV também é útil em casos de reativação ou infecção recente. A persistência de EA e/ou VCA IgG em títulos altos indica infecção crônica pelo EBV. A pesquisa de anticorpos específicos para EBV deve ser realizada nos quadros de mononucleose para confirmação do diagnóstico ou nos casos com suspeita clínica que cursa com anticorpos heterófilos negativos, não sendo diagnosticada pelos métodos tradicionais, e também para o diagnóstico diferencial das patologias que podem mimetizar um quadro de mononucleose (mononucleose-like), como hepatites virais agudas, colagenoses, síndrome de soroconversão do HIV-1, citomegalia e toxoplasmose. FIGURA 172 - VÍRUS EPSTEIN-BARR FONTE: Disponível em: <www.sciencenews.org>. Acesso em: 26 mar. 2010. A comparação de métodos de cultura de células e a amplificação genômica por PCR indicam a maior sensibilidade da técnica molecular (PCR) na detecção de EBV. A infecção crônica por EBV pode ser detectada pela presença do DNA-EBV em sangue periférico por PCR. Em pacientes em tratamento profilático com imunoglobulinas, o diagnóstico sorológico pode acarretar problemas relativos a reações falso-positivas. 230 AN02FREV001/REV 4.0 A técnica de PCR usando células mononucleares de sangue periférico pode ser usada para o diagnóstico preciso e precoce da infecção por EBV em pacientes altamente vulneráveis, com doenças linfoproliferativas, nos quais a PCR apresenta- se altamente sensível, mesmo em amostras de saliva. A PCR é útil em detectar o EBV em outras patologias tais como: pneumonite intersticial, pericardite e miocardites a partir da análise de tecidos ou de líquidos corpóreos. Entretanto, deve-se ter o cuidado de proceder à avaliação qualitativa e quantitativa em amostras coletadas em diferentes datas, além da correlação clínica para a confirmação da relação entre os sintomas e a etiologia viral. 25.9 PPD (PROTEÍNA PURIFICADA DERIVADA) O derivado proteico purificado (PPD) é um antígeno utilizado na realização do teste cutâneo que pode ser usado na avaliação da imunidade celular como auxiliar no diagnóstico de infecção pelo Mycobacterium tuberculosis (MB) e na avaliação após vacinação específica para MB. A avaliação da resposta considera a presença ou não de halo de enduração, que resulta da indução de uma reação de hipersensibilidade mediada por células (tipo IV), causada por linfócitos T sensibilizados após contato com o antígeno. A formação de um halo eritematoso pode acontecer logo após a aplicação intradérmica do antígeno. Não deve ser valorizada por se tratar de uma reação inespecífica. A reação específica ocorre 24 a 72 horas após a aplicação na forma de uma enduração medida e liberada em milímetros. A leitura deve ser realizada 48 horas após a aplicação. A ausência de enduração significa um teste negativo, conforme esperado em pacientes não vacinados, que nunca tiveram contato com o microrganismo ou em situações que levem à alergia cutânea, como por exemplo: sarampo, sarcoidose, uso de corticoide ou de drogas imunossupressoras, lepra lepromatosa, entre outras. A positividade encontrada em pacientes vacinados ou que já tiveram contato prévio com o microrganismo é normalmente entre 5 a 10 mm de enduração, podendo ser encontradas reações superiores geralmente associadas à presença de flictenas. 231 AN02FREV001/REV 4.0 Crianças imunizadas podem necessitar de dose de reforço para apresentar uma reação cutânea positiva. FIGURA 173 - REAÇÃO DE PPD POSITIVA FONTE: Arquivo pessoal do autor 25.10 HIV O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é isolado de casos de síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS), doença que se caracteriza por uma progressiva e fatal deterioração do sistema imune. Associados à infecção HIV ocorrem doenças oportunistas (pneumocistose, toxoplasmose, candidíase), neoplasias (sarcoma de Kaposi, linfomas B) e complexo demencial. O vírus entra no organismo na forma livre ou por meio de células infectadas; é transmitido por via sexual, produtos sanguíneos e aleitamento, dando início ao processo patogênico que resultará em morte em longo prazo do indivíduo. Na viremia inicial, poucas semanas após a infecção, há replicação de vírus com uma só 232 AN02FREV001/REV 4.0 especialidade, embora a população de vírus doador seja antigenicamente heterogênea. Aparecem mutantes e esta população passa a dominar na fase tardia da infecção. A resposta de anticorpos ocorre quando a viremia inicial diminui e o quadro persiste até o aparecimento da doença. Anticorpos são neutralizantes do agente infeccioso, havendo forte correlação entre essa atividade e a habilidade de bloquear a interação entre as glicoproteínas do vírus gp 120/160 e as moléculas CD4 dos linfócitos. O vírus pertence ao gênero Lentivirus, da família Retroviridae. Após a penetração na célula por fusão com a membrana, o core viral se desintegra e o HIV transcreve o seu RNA em DNA por meio da transcriptasereversa. O DNA viral pode permanecer no citoplasma ou integrar-se ao genoma da célula, sob forma de pró-vírus, latente por tempo variável, replicando toda vez que a célula entra em divisão. A acumulação destas partículas no citoplasma tem sido associada à morte celular isolada. FIGURA 174 - PARTÍCULAS VIRAIS DO HIV (AZUL) DEIXANDO UM LINFÓCITO PARA INFECTAR OUTRA CÉLULA FONTE: Disponível em: <www.wellesley.edu>. Acesso em: 26 mar. 2010. 233 AN02FREV001/REV 4.0 A união das proteínas virais e genoma para formação de virion se dá no citoplasma, liberando-se por brotamento por meio de fusão com a membrana celular. Esse nível de interação varia de pessoa para pessoa e pode ser preditivo de um curso clínico de longa duração. Na fase clinicamente estável, indivíduos infectados geralmente apresentam níveis de viremia baixos e persistentes e uma depleção gradual de linfócitos T CD4(+) que pode levar a uma severa imunodeficiência, ao aparecimento de múltiplas infecções oportunistas, a neoplasias e à morte. O diagnóstico laboratorial pode ser feito pela pesquisa de anticorpos contra o HIV-1 por técnicas imunoenzimáticas e Western-blot. Essas técnicas, embora precisas, apresentam limitações em determinados casos, tais como: crianças em idade até 15 meses, nas quais a permanência de anticorpos maternos, adquiridos na fase gestacional por meio da placenta, no momento do parto ou na fase pós-parto, do colostro, pode determinar resultados falso-positivos; casos de infecção recente, em períodos inferiores a dois ou três meses, nos quais não houve, ainda, a soroconversão e casos que apresentam resultados indeterminados ou duvidosos. Sorologia: Os testes sorológicos mais comuns são os imunoenzimáticos como ELISA (Enzyme Linked Immunosorbent Assay) e ELFA (Enzyme Linked Fluorescent Assay); esses testes que pesquisam anticorpos circulantes (anti-HIV) utilizam antígenos, adsorvidos em fases sólidas, que podem ser de origem sintética, peptídeos sintéticos (geralmente gp41 e p24 para o HIV-1 e gp36 para o HIV-2) ou o próprio vírus inativado. 234 AN02FREV001/REV 4.0 FIGURA 175 - ESQUEMA DE UM VÍRUS HIV FONTE: Disponível em: <www.geocities.com/mpennafort/hiv_ciclo.html>. Acesso em: 26 mar. 2010. O método ELFA apresenta uma versão para a detecção simultânea de anti- HIV e antígeno p24 (HIV-DUO), favorecendo o diagnóstico precoce de infecção por HIV, antecipando-o em até sete dias, quando comparado a métodos que detectam apenas anti-HIV. Os métodos enzimáticos são, preferencialmente, utilizados para triagens de diferentes populações, em bancos de sangue e amostras sorológicas de indivíduos com sintomatologia sugestiva ou mesmo assintomáticos e com história de situação de risco. Os testes imunoenzimáticos, licenciados e comercializados atualmente, apresentam sensibilidade e especificidade que ultrapassam 98% a 99%. Segundo recomendações do Ministério da Saúde, a liberação de um teste sorológico anti-HIV positivo só pode ser concretizada se pelo menos dois testes forem realizados em paralelo, com a mesma amostra, por metodologia de diferente procedência (outro fabricante, outro tipo de antígeno ou diferente princípio metodológico). Se os resultados forem positivos ou discordantes (+/ -), necessita-se da realização de um teste confirmatório, sendo o Western-blot o utilizado na rotina da 235 AN02FREV001/REV 4.0 maioria dos laboratórios privados. Caso após estas duas etapas o resultado final se caracterize como positivo, uma segunda amostra clínica deve ser solicitada para a repetição do procedimento realizado na primeira amostra. Havendo discordância entre os resultados da 1ª amostra com os obtidos na 2ª amostra, solicita-se uma nova coleta. O testes confirmatórios da presença de anticorpos anti-HIV indicado em crianças com até dois anos de idade é a reação em cadeia da polimerase (PCR) para a pesquisa do cDNA-HIV. Em indivíduos com alto risco de exposição ao HIV, uma reatividade intensa pelo teste imunoenzimático apresenta um valor preditivo de 99%. Podem ocorrer reatividades falso-positivas em testes imunoenzimáticos, principalmente em pacientes com hepatite alcoólica, outras patologias em que ocorram anormalidades imunológicas, neoplasias, mulheres multíparas e indivíduos politransfundidos, os quais desenvolveram anticorpos contra antígenos HLA classe II, presentes em linhagens de células onde há a replicação do HIV. Os testes imunoenzimáticos para HIV-1 detectam 40% a 90% de infecções causadas por HIV-2 e testes de ELISA licenciados para HIV-2 divulgam a sensibilidade de 99%. A opção mais utilizada atualmente são os testes imunoenzimáticos que detectam, simultaneamente, anticorpos contra HIV-1 e HIV-2. A detecção de antígeno p24 do HIV-1 circulante por teste imunoenzimático é particularmente útil em determinadas situações. Nas primeiras semanas após a infecção, o antígeno p24 está presente no soro, antes da detecção dos anticorpos. Com o aparecimento desses, o antígeno p24 torna-se indetectável, permanecendo assim por meses ou anos. O reaparecimento da antigenemia durante o curso da infecção geralmente está associado a um prognóstico desfavorável. Métodos para a detecção de antígeno p24, principalmente aqueles que utilizam dissociação ácida, também têm sido utilizados para acompanhar pacientes em tratamento antiviral, conforme demonstrado durante ensaios clínicos. Sua eficácia, porém, é comprometida em virtude da baixa sensibilidade dos métodos atualmente disponíveis, sendo substituídos pela detecção da carga viral por metodologias de biologia molecular. 236 AN02FREV001/REV 4.0 Western-Blot: O método de Western-Blot é amplamente utilizado como teste confirmatório dos resultados obtidos em testes imunoenzimáticos. Outros também são indicados, como imunofluorescência em células fixadas e o teste RIPA (Radio Immuno Precipitation Assay). O Western-Blot utiliza antígenos do HIV, obtidos em cultura de linhagem celular, separados eletroforeticamente em bandas distintas, posteriormente transferidas para membrana de nitrocelulose. A reação ocorre entre os antígenos em contato com os anticorpos, presentes no soro ou no plasma de indivíduos infectados. Padrões específicos de reações podem ser identificados e, embora a definição de testes positivos seja controvertida, a ausência de reações específicas para os diferentes antígenos do HIV confirma a reação negativa. TABELA 5 - ALGUNS ANTÍGENOS UTILIZADOS NA TÉCNICA DE WESTERN- BLOT gp160 Precursor do Envelope Viral (env) gp120 Proteína do Envelope Viral (env) Liga-se ao CD4 p24 Proteína do core viral (gag) p31 Transcriptase Reversa (pol) Padrões de positividade (presença de anticorpos) podem ser definidos no teste confirmatório de Western-Blot, pela visualização de bandas correspondentes às três principais proteínas virais: a proteína do núcleo, p24 ou p31 e duas proteínas 237 AN02FREV001/REV 4.0 do envoltório, gp41 e gp120/gp160. Alternativamente, o Centers for Diseases Control and Prevention (CDC) recomenda que pelo menos uma das duas, p24 ou gp120/gp160, seja identificada. Outras bandas de antígenos do HIV são p17, p31, p51, p55, p66. Padrões definindo casos indeterminados, quando apenas uma das três principais bandas é visualizada no teste de Western-Blot, podem ocorrer, causando dúvidas quanto a real interpretação. Indivíduos infectados, em fase avançada da AIDS, podem não apresentar reatividade para p24, sugerindo resultado indeterminado. Alguns podem apresentar esse padrão por longo período de tempo, sem evidências de infecção por HIV. As interpretações mais corretas e apropriadas para os resultados de testes de ELISA reativos e Western-Blot indeterminados envolvem avaliações clínicas e acompanhamento laboratorial.