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Livro Texto - Unidade III

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114
Unidade III
Unidade III
7 IMUNIDADE, DIAGNÓSTICO E ALTERAÇÕES DA RESPOSTA IMUNE
Linfócitos B produzem anticorpos, que eliminam diretamente diversos tipos de patógenos, geram 
opsonização de patógenos e células alteradas e podem gerar imunização, ou seja, proteção duradoura 
contra determinados patógenos.
Além disso, o conhecimento de sua estrutura possibilitou o desenvolvimento de soros hiperimunes 
usados em emergências, como, por exemplo, após um acidente com animal peçonhento ou venenoso. 
Também possibilitou a produção de reagente, que permite a realização de tipagens sanguíneas, 
impedindo que haja riscos para o paciente em transfusões sanguíneas.
A atuação desses anticorpos depende de sua capacidade de se ligar especificamente a antígenos, 
permitindo a destruição de patógenos e o diagnóstico de doenças.
Apesar disso, caso ocorram alterações no desenvolvimento, no funcionamento ou na diferenciação 
dos linfócitos efetores da resposta imune, ou mesmo na síntese de seus produtos, o indivíduo pode 
desenvolver doenças autoimunes ou reações exacerbadas, que apresentam desde sintomatologia leves 
a alterações fisiológicas graves que podem ser fatais.
7.1 Imunidade e diagnóstico
A resistência a infecções é relacionada à imunidade adaptativa ativa, em que o sistema imune produz 
anticorpos, gerando memória imunológica de tal forma que, caso haja contato posterior, linfócitos de 
memória e anticorpos IgG específicos eliminarão o patógeno rapidamente. Ela pode ser natural, ou seja, 
causada por processos infecciosos, e pode ser artificial, ou seja, induzida por vacinação.
Por outro lado, na imunidade passiva o indivíduo recebe anticorpos prontos a fim de combater certas 
doenças infecciosas ou destruir algumas substâncias nocivas, como toxinas. Como o indivíduo não 
produz os anticorpos, não há desenvolvimento de memória imunológica e, portanto, apresenta ação 
imediata ou pode persistir por apenas algumas semanas ou meses. Ela pode ser natural, ou seja, pode ser 
causada pela transferência de anticorpos durante a gestação ou pela amamentação, assim como pode 
ser artificial, ou seja, realizada pela administração de soros hiperimunes.
7.2 Imunidade ativa
Desde a Antiguidade, alguns povos já tinham conhecimento sobre a resistência a infecções: os gregos 
sabiam que era possível sobreviver a infecções, enquanto os chineses inalavam preparados feitos a partir 
de cascas das lesões cutâneas da varíola, a fim se protegerem contra a doença. 
115
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
Em 1717, Lady Mary Wortley Montagu, uma aristocrata inglesa que vivia em Istambul, solicitou 
ao médico Charles Maitland que usasse a técnica de proteção contra a varíola praticada pelos turcos 
(variolação) em seu filho de 5 anos, que sobreviveu e tornou-se imune à varíola. Ao voltar para a 
Inglaterra, ela solicitou que o mesmo médico aplicasse a variolação em sua filha de 4 anos, provando que 
a técnica funcionava e fazendo com que houvesse permissão para testar a técnica em seis condenados, 
que sobreviveram e, também, ficaram imunes. 
O sucesso do experimento fez com que a variolação fosse realizada em duas netas do rei da Inglaterra, 
o que a popularizou e estimulou a realização de outras tentativas de imunização contra a varíola.
Edward Jenner notou que pessoas que ordenhavam vacas com lesões de mamas causadas por varíola 
bovina, que em latim é denominada vaccinia, apresentavam uma infecção mais leve, que não levava à 
morte e era capaz de protegê-las de infecção por varíola. Assim, no início da década de 1790, Jenner 
desenvolveu a técnica, que veio a ser chamada de vaccination ou vacinação.
Por outro lado, no final do século XIX Louis Pasteur propôs que a imunização pudesse proteger 
contra doenças, caso fossem utilizados patógenos atenuados, ou seja, incapazes de gerar doenças. Isso 
aconteceria pois no processo de atenuação, que ocorreria por técnicas físicas, químicas ou biológicas, 
o microrganismo perderia fatores de virulência, fazendo com que, ao entrar em contato com um novo 
hospedeiro, gerasse sintomas brandos e estimulasse uma resposta protetora do sistema imune.
Pasteur conseguiu testar seu método de imunização com um de seus patógenos atenuados, quando 
foi chamado para tentar tratar uma criança que sobreviveu e se recuperou da mordida de um cão 
raivoso. Na mesma época, outros pesquisadores estavam tentando elucidar o funcionamento dessa 
resposta. Assim, Paul Ehrlich propôs que proteínas presentes na circulação, denominadas anticorpos, 
eram capazes de se ligar aos patógenos, eliminando-os. Essa proposição ficou conhecida como Teoria 
da Imunidade Humoral.
Por outro lado, a Teoria da Imunidade Celular, proposta por Elie Metchnikoff, afirmava que certas 
células brancas eram capazes de fagocitar e digerir partículas estranhas presentes nos tecidos.
Por outro lado, Robert Koch, um conhecido microbiologista rival de Pasteur, também fez 
uma incursão na imunologia ao cultivar a bactéria da tuberculose, Mycobacterium tuberculosis, 
permitindo que, em meados da década de 1890, fosse desenvolvida uma vacina a partir dessas 
bactériasinativadas, que apesar de não ser eficaz, permitiu a realização de pesquisas que culminaram no 
desenvolvimento da vacina utilizada atualmente.
A seguir, ocorreu o isolamento do bacilo causador da difteria por Edwin Klebs e Friedrich Loeffler, 
que também produziram e purificaram a toxina diftérica, permitindo que Emil Behring desenvolvesse a 
imunização passiva com soro hiperimune produzido por cavalos que receberam essa toxina e produziram 
anticorpos, que foram usados para o tratamento de indivíduos expostos. 
Em 1894, von Behring começou a produzir antitoxina diftérica comercialmente, mudando para 
sempre o mundo farmacêutico e ainda permitiu que ele ganhasse o primeiro Prêmio Nobel de Medicina.
116
Unidade III
Depois disso, vários pesquisadores passaram a se dedicar a desenvolver vacinas a fim de imunizar a 
população e impedir a ocorrência de epidemias fatais. No quadro a seguir são apresentadas a principais 
vacinas desenvolvidas a partir do século XX.
Quadro 5
Ano Descoberta
1923 Vacina contra difteria (Corynebacterium diphtheriae)
1926 Vacina contra tosse cumprida (Bordetella pertussis)
1927
Vacina contra tétano (Clostridium tetani)
Vacina contra tuberculose ou Bacille Calmette-Guérin (BCG) 
(Mycobacterium tuberculosis)
1935 Vacina contra febre amarela
1955 Vacina contra poliomielite (Salk – injetável)
1956 Vacina contra poliomielite (Sabin – oral)
1964 Vacina contra sarampo
1967 Vacina contra caxumba
1970 Vacina contra rubéola 
1971 Vacina contra raiva atenuada 
1981
Vacina contra hepatite B
Vacina contra meningococo (Neisseria meningitidis)
1982 Vacina contra pneumococo (Streptococcus pneumoniae)
1988 Vacina contra varicela
1990 Vacina contra Haemophilus Influenzae B
1998 Vacina contra rotavírus
 Saiba mais
Para saber mais sobre a origem, a importância e os novos debates sobre o 
uso de vacinas, acesse: 
BRASIL. Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Vacinas: as origens, a importância 
e os novos debates sobre seu uso. Rio de Janeiro, jul. 2016. Disponível em: https://
www.bio.fiocruz.br/index.php/noticias/1263-vacinas-as-origens-a-importancia-
e-os-novos-debates-sobre-seu-uso?showall=1. Acesso em: 4 mar. 2020.
7.2.1 Imunoprofilaxia
A vacinação visa a resistência a infecções, uma vez que ela gera memória imunológica caracterizada 
pela produção de linfócitos B de memória e de IgG específica contra o microrganismo causador da 
doença, conferindo proteção duradoura, porém ela depende da formulação da vacina e da capacidade 
de resposta do sistema imune. 
117
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
Para serem aprovadas e produzidas para imunoprofilaxia em humanos, é necessário que as vacinas 
apresentem as seguintes características:
•	 eficácia na prevenção ou na redução da gravidade de doenças infecciosas;
•	 proteção duradoura e de longo prazo contra a doença;
•	 imunidade com um número mínimo de doses;
•	 ampla proteção contrainfecções;
•	 efeitos adversos leves ou ausentes;
•	 estabilidade em condições extremas de armazenamento por um período prolongado;
•	 disponibilidade massiva devida à produção em massa;
•	 acessibilidade a populações em risco de doenças infecciosas.
Para garantir a produção de IgG específica, a vacina deve ser composta por antígenos vacinais 
(partículas imunogênicas derivadas do microrganismo causador da doença), estabilizantes, adjuvantes, 
antimicrobianos e conservantes.
Os estabilizantes são utilizados para manter a eficácia da vacina durante o armazenamento, pois 
fatores como variação de temperatura e pH afetam sua estabilidade. Os principais estabilizantes utilizados 
são cloreto de magnésio (MgCl2), sulfato de magnésio, (MgSO4), lactose-sorbitol e sorbitol-gelatina.
Adjuvantes são um grupo altamente heterogêneo de compostos químicos, que melhoram, aceleram 
e prolongam a resposta imune específica a antígenos presentes na vacina, estimulando a produção 
de anticorpos e, portanto, tornando-a mais efetiva. Existem centenas de adjuvantes que apresentam 
variabilidade de mecanismo de ativação do sistema imune e de gravidade de suas reações adversas. 
Além disso, baixíssimas concentrações de antimicrobianos são usadas durante a fase de fabricação 
para evitar a contaminação bacteriana da cultura de células nas quais os vírus são cultivados. 
Normalmente, apenas traços são encontrados nas vacinas; mesmo assim, pessoas alérgicas a 
antimicrobianos devem ser observadas de perto após a vacinação, para que qualquer reação alérgica 
possa ser tratada imediatamente.
Por outro lado, várias substâncias químicas adicionadas às vacinas multidose são utilizadas como 
conservantes para impedir o crescimento de bactérias e fungos. Entre eles, os mais utilizados são 
timerosal e formaldeído.
O timerosal ou tiomersal é um composto contendo etil-mercúrio, usado desde a década de 1930, 
em frascos multidose e de dose única, pois ajuda a reduzir os custos de armazenamento. Devido ao 
etil-mercúrio, periodicamente são realizados estudos para assegurar se há segurança na adição de timerosal 
nas vacinas. Até o momento, não há evidência de toxicidade relacionada à exposição ao timerosal presente 
118
Unidade III
em vacinas, somente foram identificadas a reações adversas leves, como, por exemplo, vermelhidão e 
edema no local da injeção. 
O formaldeído, por sua vez, é utilizado para inativação viral e alteração da estrutura de toxinas 
bacterianas, como as toxinas usadas para fazer vacinas contra difteria e tétano. Apesar disso, durante 
a produção das vacinas ocorre a remoção de praticamente todo o formaldeído, de tal forma que a 
quantidade de formaldeído nas vacinas é baixíssima e incapaz de causar danos a seres humanos.
Podemos classificar as vacinas de acordo com o tipo e o número de antígenos vacinais presentes em 
sua composição em simples monovalente ou polivalente e combinadas. 
Vacinas monovalentes são compostas por uma única cepa de um único antígeno vacinal, enquanto 
vacinas polivalentes apresentam duas ou mais cepas ou sorotipos do mesmo antígeno vacinal. 
Por outro lado, vacinas combinadas são compostas pela combinação de alguns antígenos vacinais, 
a fim de prevenir, simultaneamente, doenças diferentes ou proteger contra várias cepas de agentes 
infecciosos que causam a mesma doença. Elas facilitam a administração em crianças e superam as 
restrições logísticas relacionadas às vacinas simples que necessitam de várias administrações em 
períodos diferentes.
O desenvolvimento da vacina contra o HIV ilustra perfeitamente os diferentes processos existentes 
para a produção de vacinas eficazes, uma vez que desde 1990 já foram testados diversos tipos de 
vacinas contra o HIV, como podemos ver na figura a seguir. 
Peptídeo sintético
Vírus atenuado
Vírus inativado
Subunidade 
recombinante DNA
Vetor bacteriano 
recombinante
Vetor viral 
recombinante
Figura 57 – Representação esquemática dos diferentes tipos de vacinas
119
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
Vacinas com patógenos atenuados
Disponíveis desde a década de 1950, as vacinas vivas são produzidas a partir de bactérias ou vírus 
vivos, que foram enfraquecidos por processos laboratoriais de tal forma que, apesar de se replicarem e 
produzirem uma resposta imune, não são capazes de causar a doença clássica.
Durante o processo de atenuação, o patógeno é enfraquecido por infecções consecutivas em um 
hospedeiro não natural ou ao ser cultivado em um meio desfavorável. Isso faz com o patógeno tenha 
sua patogenicidade diminuída, de tal forma que ao ser inoculado na espécie hospedeira original, ele se 
replique sem causar doença. Os patógenos atenuados estimulam a resposta imune quase da mesma 
forma que o patógeno original estimularia, pois se replicam, gerando estímulo antigênico contínuo e 
ativando a imunidade celular, dando tempo suficiente para a produção de células de memória.
Como essas vacinas contêm organismos vivos, há um grau de imprevisibilidade que suscita algumas 
preocupações a respeito de sua segurança e sua estabilidade. Isso acontece porque raramente patógenos 
atenuados podem se modificar, tornando-se patogênicos e, consequentemente, podem causar doenças 
nos indivíduos vacinados. Além disso, indivíduos imunocomprometidos, como pacientes infectados 
pelo HIV, podem não ser capazes de responder adequadamente aos antígenos atenuados, gerando 
manifestações clínica severas, como pode acontecer caso sejam administrados durante a gravidez. 
Elas, também, apresentam maior chance de erros de imunização, uma vez que algumas são 
liofilizadas e devem ser reconstituídas com o diluente correto antes da administração e muitas requerem 
armazenamento em baixas temperaturas em condições bem controladas, para evitar degradação do 
antígeno vacinal e, consequentemente, falha no programa vacinal.
As vacinas atenuadas usadas são: tuberculose (Bacillus Calmette-Guérin – BCG), poliomielite (vacina 
oral ou Sabin), sarampo, rubéola, caxumba, varicela, rotavírus e febre amarela.
Vacinas com patógenos inativados
São produzidas a partir de vírus e bactérias, que foram mortos por processos físicos (aumento de 
temperatura) ou químicos (desnaturação por formaldeído) e, portanto, não podem causar doenças.
Durante o processo de inativação, apesar de ocorrer a perda de alguns epítopos presentes na estrutura 
do patógeno, há preservação de parte de sua capacidade de estimular o sistema imune; por isso, nem 
sempre as vacinas inativadas são capazes de induzir resposta imune duradoura com a produção de IgG, 
tornando necessária a aplicação de várias doses de reforço para gerar uma resposta imune eficaz.
Apesar disso, elas não apresentam risco de induzir a doença contra a qual são administradas, pois 
não contêm componentes vivos, o que as torna mais estáveis do que as vacinas atenuadas e seguras 
para imunodeprimidos.
As seguintes vacinas inativas são usadas: coqueluche (Bordetella pertussis), poliomielite (vacina 
intramuscular ou Salk), raiva, cólera, gripe e hepatite A.
120
Unidade III
Vacina de toxoides 
São produzidas a partir de toxinas bacterianas responsáveis pelos sintomas de determinadas doenças. 
Para tanto, essas toxinas são purificadas e, posteriormente, alteradas quimicamente, geralmente com 
formaldeído. O processo de alteração da toxina produz um toxoide, que apesar de ser estruturalmente 
semelhante à toxina, não é capaz de alterar funções fisiológicas no indivíduo vacinado e pode ser 
utilizado como um antígeno vacinal. Nesse caso, o antígeno vacinal gera uma resposta imune direcionada 
à toxina, não ao patógeno produtor da toxina.
Devido à sua baixa imunogenicidade, o toxoide é adsorvido em sais de alumínio ou cálcio, que atuam 
como adjuvantes, ampliando a resposta imune, mas, mesmo assim, são necessárias doses de reforço para 
obter proteção duradoura. 
Essas vacinas apresentam algumas características importantes: são seguras porque não podem 
causar a doença que previnem e não há possibilidade de reversãoà virulência; e são estáveis e menos 
suscetíveis a mudanças de temperatura, umidade e luz.
Exemplos: tétano e difteria.
Vacina de polissacarídeo
Algumas bactérias patogênicas apresentam uma cápsula polissacarídica que impede seu 
reconhecimento pelos componentes do sistema imune, especialmente em bebês e crianças pequenas, 
permitindo que essas bactérias causem infecções graves. 
As vacinas com polissacarídeos estimulam uma resposta contra moléculas pequenas e, geralmente, 
não muito imunogênicas, na cápsula do patógeno.
As vacinas polissacarídicas simples são produzidas a partir de polissacarídeos da cápsula bacteriana e, 
portanto, não induzem memória imunológica duradoura devido à sua baixa imunogenicidade, que não as 
torna recomendadas para lactentes e crianças menores de 2 anos, incapazes de gerar uma resposta eficaz.
As vacinas polissacarídicas utilizadas são meningococo (grupos A, C, W135 e Y de Neisseria 
meningitidis) e doença pneumocócica (Streptococcus pneumoniae).
Vacina conjugada
As vacinas conjugadas são feitas usando uma combinação de dois componentes diferentes, ou seja, 
de fragmentos do microrganismo quimicamente ligado a uma proteína transportadora. Assim, elas não 
causam a doença e conseguem gerar imunidade contra infecções futuras. 
As vacinas polissacarídicas conjugadas são produzidas por meio da conjugação de polissacarídeo da 
cápsula com uma proteína carreadora inócua para aumentar sua imunogenicidade, induzindo memória 
duradoura, mesmo em bebês.
As vacinas polissacarídicas utilizadas são Haemophilus influenzae tipo b (Hib) e pneumococos.
121
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
Vacina de subunidades baseadas em proteínas 
São produzidas a partir de uma subunidade de proteína específica do patógeno, ou seja, não contêm 
o patógeno completo e, portanto, não apresentam capacidade de gerar doenças, podendo ser usadas 
por imunocomprometidos e portadores de doenças crônicas. Sua limitação é a necessidade de doses de 
reforço para obter proteção duradoura. 
Isso pode ser feito isolando uma proteína específica do patógeno, como acontece com a vacina 
pertussis acelular, que é composta por toxina pertussis inativada por tratamento químico. 
Outro tipo de vacina de subunidade pode ser produzido por engenharia genética ou tecnologia 
recombinante, que permite produção de vacinas contra agentes infecciosos que não podem ser 
atenuados ou que, ao serem inativados, deixam de ser imunogênicos. Para tanto, o gene que codifica a 
subunidade da proteína da vacina é inserido em um vetor, que é colocado em uma cultura de células, 
fazendo com que a reprodução viral e o metabolismo das células infectadas gerem a produção da 
subunidade, que será purificada e usada como antígeno vacinal. Um exemplo desse é a vacina contra 
hepatite B, composta pelo antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HBsAg) recombinante.
Outra vacina feita usando engenharia genética é a vacina contra o papilomavírus humano (HPV), 
que pode ser bivalente ou tetravelamente, sendo que para cada cepa uma única proteína viral é isolada; 
assim, essa vacina não contém material genético viral e não pode causar doenças, mas gera uma resposta 
imune com produção de anticorpos.
 Saiba mais
O calendário de vacinação corresponde ao conjunto de vacinas consideradas 
de interesse prioritário à saúde pública. Você pode conferi-lo acessando: 
BRASIL. Ministério da Saúde. Calendário Nacional de Vacinação. 
2020. Disponível em: https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/vacinacao/
calendario-vacinacao. Acesso em: 9 mar. 2020.
Novas estratégias no desenvolvimento de vacinas
No mundo todo, novas estratégias estão sendo desenvolvidas para utilizar subunidades de proteínas 
como antígenos vacinais. 
Alguns desses estudos geraram a produção de vacinas que já se encontram em fase inicial de ensaio 
clínico em humanos, como, por exemplo, a vacina contra influenza baseada em nanopartículas ligadas à 
ferritina e a vacina contra a saliva de mosquitos, que oferece proteção simultânea contra várias doenças 
transmitidas por mosquitos (malária, zika, chikungunya e dengue), uma vez que estimula uma resposta 
imune contra a saliva do mosquito. 
122
Unidade III
Outra abordagem envolve a introdução de material genético que codifica antígenos contra os quais 
será gerada a resposta imune. Assim, o indivíduo produziria os antígenos a partir desse material genético, 
gerando a indução de resposta imune ampla a longo prazo. Muitas dessas vacinas estão em processo de 
pesquisa, atualmente, devido à sua excelente estabilidade e relativa facilidade na fabricação de vacinas 
em larga escala. 
Também é possível a utilização de plasmídeos bacterianos, que codificam proteínas de um determinado 
patógeno e permitem o desenvolvimento rápido de vacinas experimentais para tratar de doenças infecciosas 
emergentes ou reemergentes, como foi realizado em 2009, durante a pandemiade influenza H1N1, 
e em 2016, durante a epidemia do vírus Zika.
Apesar da instabilidade do RNA mensageiro (mRNA) e da dificuldade de ocorrer sua incorporação 
pelas células, avanços tecnológicos recentes permitiram que algumas vacinas de mRNA apresentassem 
resultados iniciais encorajadores em camundongos e macacos, como, por exemplo, contra o vírus Zika.
Por outro lado, as vacinas vetoriais recombinantes, baseadas em uma tecnologia desenvolvida na 
década de 1980, utilizam poxvírus atenuados como vetores ou transportadores para introduzir material 
genético nas células. Atualmente, estas vacinas são aprovadas para uso animal como profilaxia contra 
raiva e cinomose; assim como estão sendo desenvolvidas vacinas vetorizadas recombinantes humanas 
contra HIV, vírus Zika e vírus Ebola.
7.3 Imunidade passiva
Enquanto a imunidade ativa se refere à exposição de um indivíduo a um determinado antígeno para 
gerar uma resposta imune adaptativa com produção de anticorpos, a imunidade passiva se refere à 
transferência de anticorpos de um indivíduo para outro. Por esse motivo, ela fornece proteção imediata, 
mas de curta duração (de várias semanas até 3 ou 4 meses).
A imunidade passiva pode ser dividida em imunidade passiva natural e imunidade passiva artificial.
7.3.1 Imunidade passiva natural
A imunidade passiva pode ocorrer naturalmente, quando anticorpos maternos são transferidos para 
o feto através da placenta ou para o bebê, pelo colostro.
Transferência de IgG materna
Durante a gestação, o feto recebe glóbulos brancos e anticorpos IgG maternos e que atravessam a 
placenta. A transferência de IgG acontece devido à existência de um receptor específico, denominado 
receptor neonatal (FcRn), que está presente no sinciciotrofoblasto da placenta e medeia o transporte de 
IgG da circulação materna para a circulação fetal através da placenta.
Após a endocitose, o endossomo se funde à vesícula contendo o FcRn, fazendo com que a IgG 
materna se ligue ao FcRn, impedindo que ela sofra degradação devido ao pH ácido, enquanto é 
123
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
transportada pelo sinciciotrofoblasto para a circulação fetal, onde é liberada pelo FcRn, como pode 
ser visto na figura a seguir.
Circulação materna Circulação fetal
Albumina
FcRn
IgD, IgM, IgE
IgA
pH
A
IgG
Proteína plasmática
Sinciciotrofoblasto
Figura 58 – Representação esquemática do transporte de IgG da circulação materna para a circulação fetal 
A expressão do FcRn aumenta principalmente a partir do terceiro trimestre, fazendo com essa 
transferência ocorra de forma eficiente nos últimos meses da gestação, o que garante proteção ao 
recém-nascido contra todos os patógenos para os quais a mãe apresente imunidade. 
Além disso, a presença de IgG materna favorece o desenvolvimento da imunidade celular em bebês, 
atenuando a estimulação pelos patógenos em lugar de interrompê-la por completo, assim como fornece 
proteção ao recém-nascido, visto que são necessárias algumas semanas após o nascimento para que a 
IgG transferida seja finalmente catabolizada. 
Esse receptor também é expresso por célulasendoteliais e monócitos, que internalizam a IgG 
materna, é protegida da degradação nos lisossomos ácidos pela sua ligação ao FcRn, permitindo que os 
anticorpos maternos protejam os recém-nascidos por até 2 meses após o nascimento. 
Transferência de IgA
Outra forma de imunidade passiva natural é a transferência de anticorpos IgA maternos para o 
recém-nascido através do colostro, que é fornecido durante as primeiras sessões de amamentação e é 
basicamente composto por altas concentrações de IgA, mas também apresenta baixas concentrações de 
IgG, algumas células do sistema imune materno e proteínas. 
A IgA materna é produzida em resposta a antígenos existentes na mucosa intestinal materna, de 
tal forma que, para cada microrganismo presente no trato gastrointestinal materno, ocorre produção 
124
Unidade III
de anticorpos que são secretados no colostro, fornecendo ao recém-nascido proteção inicial contra 
patógenos gastrintestinais.
Isso é possível devido à expressão de receptores específicos para IgA (FcRα) no intestino, que ligam 
a imunoglobulina, permitindo sua absorção pelos enterócitos e sua transferência para a circulação. 
A imunidade conferida pelo colostro depende da vacinação e do estado imunológico maternos, bem 
como da quantidade de colostro ingerido. Além do colostro, o leite materno, embora não apresente 
altas concentrações de IgA, também contém anticorpos que são transferidos para o lactente. 
Essa proteção fornecida pela mãe, no entanto, está presente apenas durante os primeiros meses 
de vida do bebê, sendo que os níveis de anticorpos maternos caem e a proteção diminui por volta dos 
6 meses de idade.
7.3.2 Imunidade passiva artificial
No início do século XX, soros hiperimunes contendo anticorpos heterólogos foram produzidos a 
partir do sangue de animais para tratar infecções específicas, como tétano e difteria.
Somente durante a Segunda Guerra Mundial, após o desenvolvimento do fracionamento de proteínas 
plasmáticas, a imunoglobulina humana, um anticorpo homólogo, tornou-se disponível para imunização 
passiva. Embora isso tenha sido um grande avanço, a infusão intravenosa (IV) do produto causava 
diversas reações adversas graves, inclusive a morte, inviabilizando essa rota de administração.
Somente em 1981 foi licenciada a primeira imunoglobulina intravenosa humana (IgIV), que permitia 
a administração de altas concentrações de IgG com poucas reações adversas, gerando aumento imediato 
na concentração total de IgG no plasma e nos títulos de anticorpos específicos.
Também é possível produzir imunoglobulinas usando DNA recombinante, gerando a produção de 
anticorpos monoclonais humanos (Monoclonal Antibodies – MAbs) que apresentam maior meia-vida e 
menor toxicidade, uma vez que são um único tipo de anticorpo puro produzido contra um determinado 
patógeno, por uma cultura de células obtidas a partir de uma única célula parental. 
Esses anticorpos monoclonais foram desenvolvidos por César Milstein e Georges Köhler, 
a partir da combinação de células do baço de camundongo de curta duração produtoras de 
anticorpos com células tumorais de camundongo de longa duração, que produziram anticorpos 
para o antígeno-alvo. 
Os cientistas estão pesquisando outras novas tecnologias para a produção de anticorpos em 
laboratório, como sistemas recombinantes usando células, vírus, leveduras e sistemas que combinam 
células humanas e células de camundongos ou DNA humano e DNA de camundongos.
A imunização passiva artificial pode ser usada tanto na pré quanto na pós-exposição para tratar um 
indivíduo não vacinado que acaba de ser exposto a um determinado patógeno ou toxina. 
125
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
Além disso, ela é útil quando não existe vacina para um patógeno, quando a vacina não é 100% 
eficaz ou quando ela não é amplamente utilizada. 
Um exemplo clássico seria uma suposta exposição ao vírus da raiva devido a uma mordida de 
cachorro. Nesse caso, o indivíduo mordido recebe uma preparação de anticorpos antirraiva que impede 
a replicação viral e, portanto, o desenvolvimento da doença. Ao contrário da vacinação, a imunização 
passiva fornece proteção imediata, porque o atraso de 7 a 10 dias necessário para montar uma resposta 
adaptativa foi eliminado. 
Outro exemplo importante da utilização da imunização passiva é a proteção a indivíduos 
imunodeficientes ou imunocomprometidos, que não podem ser vacinados.
Atualmente, os soros produzidos com imunoglobulina humana normal (imunoglobulina total) ou 
com globulina hiperimune (específica do organismo) são importantes para a profilaxia das seguintes 
infecções virais: hepatite A, hepatite B, raiva, sarampo e varicela.
Além disso, podem ser usados nas condições expressas no quadro a seguir:
Quadro 6
Tipo Uso
Soro antiofídico e similares Tratamento pós-picada de animais peçonhentos
Soro de Rhogam Evitar a sensibilização de mulheres Rh- por eritrócitos fetais Rh+, gerando problemas em futuras gestações
Imunoglobulina anti-tétano Proteção passiva após acidentes com objetos enferrujados
Imunoglobulina antirrábica (RIG) Tratamento de indivíduos feridos por animais potencialmente raivosos
 Lembrete
Vacinas são usadas para profilaxia e geram imunização, enquanto soros 
podem ser usados para tratamento ou profilaxia e não geram a produção 
de Acs.
7.4 Diagnóstico imunológico
No diagnóstico imunológico são utilizados métodos imunológicos baseados na detecção e na 
quantificação de anticorpos gerados contra um patógeno ou um antígeno não microbiano. Isso é 
possível uma vez que anticorpos podem ser produzidos contra qualquer tipo de macromolécula. 
A maioria desses ensaios depende da formação de grandes imunecomplexos, gerados a partir da 
ligação de um anticorpo a um antígeno específico, que podem ser detectados em solução. Além disso, 
eles empregam anticorpos puros ou antígenos que foram imobilizados em uma fase sólida e que podem 
ser medidos usando uma molécula indicadora. 
126
Unidade III
Sendo assim, o funcionamento desses ensaios depende da interação antígeno-anticorpo, ou seja, 
depende da presença de epítopos conformacionais acessíveis, que permitam a ligação dos anticorpos, 
e da possibilidade de ocorrerem ligações não covalentes e reversíveis fracas, como, por exemplo, forças 
eletrostáticas ou de van der Waals, pontes de hidrogênio e interações hidrofóbicas.
Essa interação também depende da afinidade do anticorpo, ou seja, da força de ligação de um sítio 
combinatório do anticorpo a um epítopo do antígeno. Podemos dizer que a afinidade demonstra a 
facilidade de dissociar ou desfazer um imunocomplexo ou complexo antígeno-anticorpo.
Assim, nem todos os anticorpos se ligam com a mesma força, especificidade e estabilidade. De 
fato, os anticorpos exibem diferentes afinidades, dependendo da complementaridade molecular entre 
o antígeno e as moléculas de anticorpo. Um anticorpo com uma afinidade mais alta por um antígeno 
específico se ligaria mais forte e de maneira estável. Apesar disso, anticorpos multiméricos, como IgM 
pentamérica, são classificados como tendo menor afinidade que os anticorpos monoméricos, mas com 
alta avidez, pois ela pode se ligar a vários antígenos simultaneamente. Assim, IgG apresenta maior 
afinidade pelo antígeno do que o IgM, porém a IgM apresenta maior avidez do que IgG, uma vez que 
apresenta dez sítios de ligação. A avidez é determinada pela afinidade do epítopo do anticorpo, pela 
valência do antígeno e do anticorpo e pelo arranjo estrutural das partes que interagem. 
Um fator importante que pode influenciar a interação antígeno-anticorpo é a reatividade cruzada, 
que acontece quando um anticorpo se liga a epítopos similares localizados em outros antígenos, devido 
à baixa avidez, à baixa especificidade do anticorpo ou a múltiplos antígenos distintos possuindo epítopos 
idênticos ou muito semelhantes. A reatividade cruzada às vezes é desejável, porém in vitro ela pode 
superestimar ou subestimar a concentração de antígeno.
Os ensaios imunológicos são baseadosna alta especificidade que cada imunoglobulina apresenta 
por seu antígeno, mesmo na presença de altos níveis de moléculas contaminantes. 
Essas técnicas podem ser divididas de acordo com o tipo de reagente em técnicas com reagente não 
marcado e técnicas com reagentes marcados.
As técnicas de reagente não marcado são mais antigas, apresentam menor custo, podem ser ou 
não demoradas, apresentam menor sensibilidade e boa especificidade. Essas características permitem 
que elas possam ser usadas para diagnóstico em laboratórios de análises clínicas (LAC). Seus principais 
exemplos são as técnicas de aglutinação e precipitação.
As técnicas de reagente marcado são mais recentes, apresentam maior custo devido à marcação do 
reagente, são mais rápidas, apresentam altíssima sensibilidade e alta especificidade. Essas características 
permitem que elas possam ser usadas para triagem de doadores em bancos de sangue. Seus principais 
exemplos são as técnicas de imunofluorescência (IF), imunocromatografia, radioimunoensaio (RIE), 
imunoperoxidase, ensaio imunoabsorvente ligado à enzima (ELISA – Enzyme Linked Immunosorbent 
Assay), Western Blot (WB), quimioluminescência e Polymerase Chain Reaction (PCR).
127
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
Esses ensaios imunológicos serão abordados posteriormente ao longo do curso e o período em que 
foram desenvolvidos pode ser visto na linha do tempo apresentada a seguir. 
1890 - 1939
Aglutinação 
precipitação
1941
IF
1948
Imunocromatografia
1960
RIE
1966
Imunoperoxidase
1971
ELISA
1979
WB
1983
Quimiluminescência
1993
PCR
Figura 59 – Representação esquemática da linha do tempo do desenvolvimento das principais técnicas 
usadas em imunodiagnóstico. IF: Imunofluorescência, RIE: radioimunoensaio, ELISA: ensaio 
imunoabsorvente ligado à enzima, WB: Western blot, PCR: Polymerase Chain Reaction
 Observação
A maioria das doenças infecciosas é diagnosticada por ensaios 
imunológicos, pois eles permitem a identificação da fase da doença, uma 
vez que detectam IgM (fase aguda) e IgG (fase crônica ou imunização).
8 ALTERAÇÕES DO SISTEMA IMUNE
Alterações no desenvolvimento, na diferenciação e no funcionamento das células efetoras das 
respostas imunes inata e adaptativa causam doenças imunes com sintomas leves, que podem até 
mesmo ser fatais.
8.1 Autoimunidade
As doenças autoimunes são um problema clínico significativo devido à sua natureza crônica e à 
grande variedade de órgãos afetados, o que torna suas manifestações clínicas em alguns casos limitados 
a tecidos específicos e outros sistêmicos ou disseminados. Apesar dessas variações, acredita-se que 
todas as doenças autoimunes passem por fases sequenciais de iniciação, propagação e resolução. 
Geralmente, doenças autoimunes são iniciadas por predisposição genética resultante de 
polimorfismos de múltiplos genes envolvidos na função imune e pela presença de gatilhos ambientais. 
Entre esses gatilhos ambientais, podemos citar infecções virais e bacterianas, que podem contribuir para 
o desenvolvimento de autoimunidade por dois mecanismos diferentes: ativação de APCs ou mimetismo 
molecular, que podem ser observados na figura a seguir.
128
Unidade III
 
CD tecidual 
quiescente Célula T
Célula T
autorreativa
Autoantígeno
Microrganismos
Tecido 
próprio
Autoantígeno
Proteína 
microbiana
Antígeno 
microbiana
Peptídio
Autoproteína
Tecido próprio
CD28B7
A
B
C
Autoantígeno
Expressão de 
coestimuladores nas CDs
Autotolerância
Autoimunidade
Autoimunidade
Ativação das células T
Célula T autorreativa 
que reconhece os 
peptídios microbianos
Autotolerância
Ativação 
da APCs
Mimetismo 
molecular
Microrganismos
Figura 60 – Representação esquemática da atuação de infecções como gatilho de reações autoimunes. (A) A interação entre uma 
APC quiescente ligada a um autoantígeno e um linfócito T gera tolerância periférica por anergia. (B) APC é ativada pela presença 
de um microrganismos e passa a expressar co-estimuladores, que, durante a apresentação de autoantígenos, ativam linfócitos T 
autorreativos. (C) Microrganismos apresentam antígenos semelhantes a autoantígenos, que ativam linfócitos T 
Durante algumas infecções, após a ativação, as APCs – células dendríticas teciduais – passam a 
expressar co-estimuladores e a secretar citocinas, que geram ativação de linfócitos T que não são 
específicos para o patógeno, que perdem a capacidade de tolerância imunológica e passam a reagir contra 
antígenos próprios (letra B da imagem anterior). Além disso, alguns patógenos apresentam mimetismo 
molecular, ou seja, apresentam antígenos semelhantes a antígenos próprios, gerando reações cruzadas 
que levam à autoimunidade (letra C da imagem anterior). 
A manifestação clínica começa durante a fase de propagação, quando ocorre inflamação com dano 
tecidual devido à produção de citocinas e ao desequilíbrio entre a ação de linfócitos T efetores e 
T reguladores, que pode ser causado pela diminuição no número de T regs funcionais ou pela resistência 
das células T efetoras à regulação. 
Devido aos danos teciduais, são gerados novos epítopos antigênicos, há ativação de linfócitos de 
diferentes especificidades, o que gera mais danos teciduais e, consequentemente, o surgimento de novos 
epítopos. Além disso, a ativação linfocitária gera a produção de citocinas e mediadores inflamatórios 
que amplificam a reação, criando um loop inflamatório. 
129
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
Além disso, pode ocorrer a ativação de linfócitos B, que se diferenciam em plasmócitos e passam a 
produzir autoanticorpos específicos para antígenos próprios. A ligação desses autoanticorpos a antígenos 
próprios pode gerar diversas consequências relacionadas à fisiopatogenia de algumas doenças autoimunes.
Os mecanismos pelos quais os autoanticorpos induzem o desenvolvimento dessas doenças diferem 
muito entre as diversas doenças autoimunes existentes, assim como autoanticorpos direcionados contra 
o mesmo antígeno, dependendo do epítopo-alvo, podem ter efeitos diversos, como pode ser visto na 
figura a seguir.
Mimetismo da 
ativação do receptor 
pelo hormônio
Folículo da 
tireoide
Bloqueio da 
transmissão neural
Bloqueio de 
enzimas/coagulação
Plaquetas
Sinalização celular 
alterada/acantólise
Queratinócito
Ativação de neutrófilos Lise celular direta
Eritrócitos
Indução de inflamação Anticorpos
ADAMTS13
TSH
Autoantígeno
Neutrófilo
Macrófago
Basófilo
Complemento
Figura 61 – Representação esquemática dos diferentes mecanismos pelos quais os 
autoanticorpos podem desencadear doenças autoimunes
Ao ligarem-se a receptores presentes na tireoide, autoanticorpos específicos podem simular a ligação 
do hormônio, gerando ativação da tireoide e, consequentemente, hipertireoidismo, como ocorre na 
Doença de Graves.
Também pode ocorrer inibição de bloqueio de transmissão neural por bloqueio de receptor ou por 
alteração das estruturas sinápticas, como acontece quando autoanticorpos se ligam aos receptores 
nicotínicos de acetilcolina (AChRs), presentes em células do tecido muscular na Miastenia gravis. 
130
Unidade III
O bloqueio de enzimas da hemostasia primária por autoanticorpos pode desencadear microtrombose 
descontrolada como, por exemplo, acontece na púrpura trombocitopênica trombótica adquirida.
Enquanto, no pênfigo, autoanticorpos alteram uma via de sinalização celular dos queratinócitos, 
lesa perda de adesão celular, causando o aparecimento de bolhas cutâneas graves.
Por outro lado, autoanticorpos específicos para antígenos expressos por neutrófilos podem levar à 
ativação exacerbada dessas células, resultando em lesão tecidual grave.
Além disso, alguns autoanticorpos podem agir diretamente na célula, gerando lise, como o que 
acontece, por exemplo, na trombocitopenia idiopática autoimune, em que anticorpos antiplaquetários 
destroem as plaquetas, causando hemorragia. 
Assim como podem desencadear inflamações teciduais em muitas doenças autoimunes, como 
acontece na artrite reumatoide,em que autoanticorpos reconhecem proteínas citruladas.
A resolução de respostas autoimunes acontece pela ativação de vias inibitórias intrínsecas e de 
linfócitos T regs, que limitam a resposta efetora e restauram o equilíbrio, fazendo com que os pacientes 
sofram de episódio recidivos e remissivos, devido ao desbalanço entre as respostas efetoras patogênicas 
e regulação.
Além disso, falhas na seleção tímica que permitem a sobrevivência linfócitos T autorreativos, ou seja, 
capazes de reconhecer antígenos e estruturas próprias, também são responsáveis por reações autoimunes.
 Observação
São descritas mais de 80 doenças autoimunes, que podem ser 
classificadas como sistêmicas ou órgão-específicas, dependendo da 
extensão da patologia.
Algumas doenças autoimumes são apresentadas no quadro a seguir.
Quadro 7
Nome Tipo Antígeno-alvo Consequência
Artrite reumatoide Sistêmico Ags articulares, IgG e proteínas citrulinadas Artrite 
Lupus eritematoso 
sistêmico Sistêmico Ácido nucleico
Glomerulonefrite, lesões 
cutâneas e artrite 
Diabetes mellitus tipo 1 Órgão-específico Células beta-pancreáticas Destruição das células beta
Miastenia gravis Órgão-específico Receptor de acetilcolina Paralisia muscular 
Doença de Graves Órgão-específico Receptor de TSH Hipertiroidismo
Tireoidite de Hashimoto Órgão-específico Folículos tireoidianos Hipotireoidismo
131
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
A maioria dos distúrbios autoimunes é mais comum entre mulheres do que em homens, provavelmente 
devido a dois fatores diferentes: microquimerismo fetal e inativação distorcida do cromossomo X.
O microquimerismo fetal é o que acontece a partir do primeiro trimestre de gestação, quando células 
fetais atravessam a placenta e colonizam o corpo materno, podendo se proliferar e persistir por décadas. 
Isso faz com que haja grande semelhança estrutural entre as células maternas e fetais, fazendo com que 
respostas imunes maternas contra antígenos fetais desencadeiem doenças autoimunes. 
Normalmente, ocorre inativação de um dos dois cromossomos X durante o estágio embrionário 
inicial em fêmeas. Apesar disso, a inativação do mesmo cromossomo X em mais de 80% das células 
causa uma alteração denominada “inativação distorcida do cromossomo X”, que gera perda de tolerância 
imunológica a antígenos ligados ao cromossomo X inativado e, portanto, pode induzir autoimunidade.
8.1.1 Artrite reumatoide (AR)
A artrite reumatoide é uma complexa doença inflamatória mais comum em mulheres do que em 
homens, com prevalência de 1% na população, predominantemente observada em idosos, que pode ser 
considerada responsável por diversos problemas socioeconômicos devido aos custos de tratamento e a 
perda e diminuição da produtividade e da qualidade de vida.
Isso acontece porque ela afeta articulações sinoviais, especialmente as pequenas articulações das 
mãos e dos pés, caracterizada pela destruição articular e incapacidade crônica. Suas manifestações 
clínicas incluem artralgia, inchaço, vermelhidão e até limitação da amplitude de movimento. 
A reação inflamatória articular é causada pela ativação de linfócitos Th1 autorreativos, que 
reconhecem antígenos próprios presentes nas articulações, gerando a produção de citocinas, que iniciam 
um processo inflamatório localizado com aumento de permeabilidade vascular e, consequentemente, 
diapedese de neutrófilos e sinovite em pequenas articulações simétricas, como reflexo externo da 
inflamação da membrana sinovial após a ativação imune.
Durante este processo inflamatório (pannus), há intensa proliferação celular de linfócito T, fibroblastos 
sinoviais e macrófagos produtores de TNF-α, IL-1, IL-6 e IL-17, que ativam os osteoclastos, gerando 
destruição óssea. 
Após sua ativação por IL-1β, IL-6, IL-21 e TGF-β, os linfócitos Th17 produzem IL-17, ativando células 
envolvidas no processo inflamatório e induzindo fibroblastos sinoviais a expressarem receptor ativador 
do fator nuclear kappa B ligante (RANKL – Receptor Activator of Nuclear factor Kappa B Ligand), o que 
também ativa os osteoclastos, cuja diferenciação é modulada pela secreção de IFN-γ, IL-4 e antígeno 
associado a linfócitos T citotóxico (CTLA – Cytotoxic T Lymphocyte–associated Antigen)-4, produzidos 
por Th1, Th2 e T reg, respectivamente.
Enquanto a destruição da cartilagem é causada pela presença de duas enzimas produzidas por 
condrócitos, fibroblastos sinoviais e macrófagos sinoviais: a metaloproteinase da matriz (MMP – matrix 
metalloproteinase) e a desintegrina e a metaloproteinase com motivos de trombospondina A 
132
Unidade III
(ADAMTS – A Disintegrin and Metalloproteinase with Thrombospondin motifs). Esse mecanismo pode 
ser visto na figura a seguir.
Osteoblastos
Precursores de 
osteoclastos
Células Th1
Células Th2
T reg
Destruição óssea
Células Th17
Osteoclastos
RANKL
IL-17
TNF-α,
IL-1, IL-6
IL-4
IFN-γ
CTLA-4
TGF-β, IL-1β,
IL-6, IL-21
Células T virgens
Pannus
Células dentríticas 
de macrófagos
Fibroblasto 
sinovial
Macrófagos 
sinoviais
MMP, 
ADAMTS
Condrócitos Destruição da cartilagem
Figura 62 – Fisiopatogenia da artrite reumatoide 
Simultaneamente, ocorre a produção de vários tipos autoanticorpos, incluindo fator reumatoide (FR), 
anticorpos anti-proteínas citrulinadas e anticorpos anti-proteínas carbamiladas.
O FR é um anticorpo IgM alterado, que se liga à porção Fc da IgG, gerando imunecomplexos, que se 
acumulam nas articulações, ativando o sistema complemento, o que aumenta a inflamação articular e 
gera deformação. Ele pode ser utilizado para o diagnóstico da artrite reumatoide, apesar de não ser um 
marcador precoce.
Seu diagnóstico precoce é considerado a principal forma de evitar que haja destruição articular 
e o desenvolvimento de incapacidade funcional. Atualmente, a pesquisa da presença de anticorpos 
antiproteínas citrulinadas é o diagnóstico precoce de AR. Estes anticorpos são produzidos como resultado 
de uma resposta anormal a várias proteínas citrulinadas distribuídas por todo o corpo.
8.1.2 Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES)
Lúpus Eritematoso Sistêmico é uma doença autoimune causada pela presença de linfócitos B 
hiperativos, que perderam a tolerância a autoantígenos e secretam autoanticorpos contra antígenos 
133
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
nucleares, gerando uma reação de hipersensibilidade tipo III, que leva a uma inflamação sistêmica 
crônica com danos em vários órgãos e tecidos. Por esses motivos, seus sinais e sintomas variam muito 
entre os indivíduos afetados e podem envolver muitos órgãos e sistemas, incluindo pele, articulações, 
rins, pulmões, sistema nervoso central e sistema hematopoiético.
Ele apresenta sintomas iniciais inespecíficos, como fadiga, mal-estar, febre, perda de apetite e de peso. 
Além disso, também pode ocorrer artralgia, mialgia e astenia, assim como a erupção cutânea de borboleta 
nas bochechas e no nariz, que se torna mais pronunciada quando exposta à luz solar. 
A produção de autoanticorpos IgM, por linfócitos B ativados, gera a formação de imunecomplexos, 
que ativam uma resposta inflamatória modulada por fatores ambientais, composição genética, dieta, 
estresse e idade, como pode ser visto na figura a seguir.
Genética
Meio ambiente
Dieta
Estresse
Envelhecimento
Modifica
(2) Inflamação
Complexos imunes 
contendo ácido nucleico
Célula B 
autorreativos
Célula B 
autorreativos Célula B 
autorreativos
Célula T 
autorreativos
Auto-Abs
IgM
PC
IgG
PC
IgE
PC
Troca de 
classe de 
Auto-Acs
Baço
PMN
EOS
DC
MΦ
IL-3, M-CSF, 
GM-CSF
(1) Hiperatividade das células B 
Perda de tolerância das células B
(5) Deposição imune complexo 
Lesão e destruição de tecidos
Complexos 
imunes
IL-6, BAFF, IL-1, 
IFN, TNF
APPs
(3) Produção de APP de 
hematopoiese
Fígado
(4) Autoanticorpos patogênicos 
Ativação de efetores mieloides
Rim
Figura 63 – Fisiopatogenia do Lupus Eritematoso Sistêmico
134
Unidade III
Isso acontece pois os imunocomplexos se depositam nos tecidos, ativando a via alternativa do 
complementoe atraindo macrófagos e células dendríticas, que produzem citocinas inflamatórias e 
fazem apresentação destes antígenos a linfócitos T, que se tornam ativados.
Assim, linfócitos Th1 passam a produzir altas concentrações de citocinas pró-inflamatórias, como o 
IFN-γ, que estimula células dendríticas e células mieloides ao produzirem IL-1, IL-6, IL-12, IL-18, TNF-α 
e fator ativador de linfócitos B (B-cell activating fator – BAFF), gerando um ciclo pró-inflamatório. Essas 
citocinas também podem estimular a hematopoiese extramedular no baço, levando à proliferação de 
monócitos, eosinófilos e neutrófilos, assim como podem induzir a produção de proteínas da fase aguda 
(acute-phase proteins – APPs).
Enquanto linfócitos Th2 produzem IL-4 e IL-5 – que induzem a troca de classe de isotipo de anticorpo 
para IgE e IgG – , os linfócitos Th17 estimulam a diferenciação dos linfócitos B em plasmócitos secretores 
de autoanticorpos e hiperativam macrófagos, eosinófilos e neutrófilos, gerando inflamação sistêmica.
Além disso, a deposição desses autoanticorpos IgG em tecidos, como, por exemplo, os glomérulos 
renais, leva à ativação das células efetoras mieloides via receptores Fc e do sistema complemento, 
gerando destruição tecidual localizada.
Esses anticorpos antinucleares estão presentes em mais de 90% dos portadores de LES, principalmente 
os anticorpos anti-DNA de fita dupla (dsDNA) e anti-Sm. Os anticorpos anti-Sm reagem com pequenas 
ribonucleoproteínas nucleares, enquanto os anticorpos anti-DNA se ligam a um determinante de ácido 
nucleico conservado presente no DNA.
A presença de altos títulos de anticorpos anti-DNA é associada ao desenvolvimento de 
glomerulonefrite, uma vez que eles se depositam preferencialmente nos rins ao se ligarem a pedaços 
de DNA aderentes à membrana basal glomerular por meio das histonas ou interagir com antígenos 
glomerulares adicionais, o que inicia uma inflamação localizada e ativa o sistema complemento.
8.1.3 Diabetes mellitus tipo I
O diabetes mellitus tipo I (DM-I) é uma doença autoimune caracterizada pela destruição seletiva 
de células beta-pancreáticas produtoras de insulina, após a infiltração das ilhotas de Langerhans por 
linfócitos T citotóxicos e por autoanticorpos, gerando uma insulite progressiva que apresenta vários 
estágios de desenvolvimento.
A insulite começa com a ativação das células dendríticas, que pode acontecer após a fagocitose 
de antígenos de células beta mortas por apoptose ou por infecções virais; ou pode acontecer devido à 
presença de IFN do tipo I.
Ao serem ativadas, as células dendríticas apresentam esses antígenos para os linfócitos T. 
Os linfócitos Th, ao se tornarem ativados, produzem citocinas que estimulam a atividade fagocítica 
de macrófagos e a diferenciação de linfócitos B autorreativos em plasmócitos secretores de 
anticorpos; enquanto a ativação de CTLs gera a indução por apoptose devido à degranulação com 
liberação perforina e granzimas, bem como a interação Fas-FasL.
135
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
A apoptose gera corpos apoptóticos que são fagocitados pelas APCs, que migram para os linfonodos, 
onde apresentam estes antígenos pancreáticos aos linfócitos Th, gerando um ambiente pró-inflamatório 
que favorece a atuação de linfócitos T efetores sobre a função T reg. 
A ligação desses anticorpos às células beta induz a cascata do complemento, gerando destruição 
das células beta; bem como permite sua ligação aos receptores Fc nos macrófagos, aumentando a 
resposta inflamatória.
Por outro lado, os linfócitos B ativados podem atuar como APCs, amplificando a resposta imune 
contra as células beta, como pode ser visto na figura a seguir.
Célula beta
Célula beta
Necrose e 
apoptose
Autoantígeno
BCR
B-cell
MHC
TCR
Perforinas, FasL, 
TNF, fagocitose
Autoanticorpo
Célula T
Células 
efetoras
FcγR
1
2
Figura 64 – Representação esquemática da fisiopatogenia do diabetes mellitus tipo I
136
Unidade III
Esses fatores geram destruição das células β em larga escala, porém a maioria dos indivíduos 
só é diagnosticada quando apresenta apenas 10% a 30% das células β, o causa que interrupção na 
produção de insulina, gerando a hiperglicemia constante responsável por complicações microvasculares 
com disfunção de múltiplos órgãos, fazendo com que o indivíduo portador possa desenvolver doença 
cerebrovascular, retinopatia, infecções orais recorrentes, doença cardíaca coronariana, neuropatia 
periférica, doença periférica vascular, ulceração em membros inferiores e nefropatia.
Os quatro autoanticorpos relacionados à destruição das células beta no diabetes tipo I são anticorpos 
anti-células da Ilhota (ICA – Islet-Cell Antibodies) produzidos contra proteínas citoplasmáticas de célula 
beta da ilhota pancreática, anticorpos anti-descarboxilase do ácido glutâmico (GAD-65- Glutamic Acid 
Decarboxylase), autoanticorpos anti-insulina (IAA – Insulin Autoantibodies) e IA-2A, anticorpos contra 
a proteína tirosina fosfatase.
8.1.4 Miastenia gravis
A miastenia gravis é mais comum em mulheres na faixa de 20 anos e homens entre 50 e 60 anos de 
idade, que geralmente apresentam inicialmente fraqueza focal, principalmente nos músculos oculares, o 
que resulta em diplopia e ptose. Se a fraqueza é limitada aos músculos oculares, é designada miastenia 
ocular. Caso a miastenia gravis seja generalizada, a fraqueza da cintura escapular é mais acentuada nos 
grupos musculares proximais, enquanto uma crise miastênica é uma exacerbação potencialmente fatal 
causada pela fraqueza dos músculos respiratórios e por dificuldades de deglutição.
Nesse caso, há a produção de três tipos de autoanticorpos, que podem usados para sua classificação: 
Ac anti-receptor de acetilcolina (anti-AchR), Ac anti-receptor tirosina quinase específico do músculo 
(MuSK), Ac antiproteína 4 relacionada ao receptor da lipoproteína de baixa densidade (LRP4).
Os autoanticorpos anti-AchR ligam-se a receptores de acetilcolina na superfície da membrana 
muscular pós-sináptica, bloqueando a ligação deste neurotransmissor, impedindo a contração muscular. 
Além disso, ocorre ativação da cascata do complemento, resultando na formação do complexo de 
ataque à membrana (MAC) e na destruição específica da membrana pós-sináptica, gerando fragmentos 
de membrana contendo AChRs, gerando antígenos alterados que estimulam a resposta inflamatória.
Autoanticorpos ligados ao AChR na membrana muscular pós-sináptica também podem sofrer 
endocitose e, consequentemente, degradação, o que diminui a quantidade de moléculas de AChR na 
membrana pós-sináptica prejudicando, ainda mais, a neurotransmissão. Esses mecanismos podem ser 
vistos na figura a seguir. 
137
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
Nervo
Vesícula sináptica
Autoanticorpos
ACh
AChR
AChE
C1q
Remanescente 
pós-sináptico degradado
Complexo de ataque 
à membrana (MAC)
Ativação da cascata do 
complemento
Músculo
Internalização
Figura 65 – Fisiopatogenia da miastenia gravis
Por outro lado, apesar dos anticorpos anti-MuSK e anti-LRP4 não serem envolvidos diretamente na 
transmissão neuromuscular, somente na maturação da placa terminal, sua produção também leva à fraqueza. 
A maioria dos pacientes anti-MuSK reagentes é composta por mulheres de meia-idade, que podem 
desenvolver apresentações atípicas caracterizadas por fraqueza proeminente nos músculos orofaríngeo, 
facial, pescoço e respiratório, com alto risco de crise miastênica.
8.1.5 Doenças Autoimunes Tireoidianas (DAIT)
As doenças autoimunes tireoidianas apresentam etiologia multifatorial complexa relacionada ao 
desenvolvimento de autoimunidade contra antígenos tireoidianos e contra uma determinada herança 
genética, facilitado pela exposição a fatores ambientais, como infecções, tabagismo, dieta e concentração 
de iodo. Apesar de serem extremamente comuns, estima-se que a prevalência de DAITs subclínica – em 
138
Unidade III
que apesar da presença de anticorpos anti-tireoidianos o indivíduo não apresenta sinais e sintomas 
relacionados adoença – pode ser ainda maior.
A patogenia das DAITs é iniciada quando as células tireoidianas são danificadas, liberando 
autoantígenos, que são apresentados por APCs a linfócitos T, que se tornam ativados e secretam 
citocinas, que iniciam um processo inflamatório localizado e caracterizado por extensa infiltração de 
linfócitos autorreativos T e B para a tireoide. 
Posteriormente, dependendo da subpopulação de linfócitos Th que é ativada, o paciente poderá 
desenvolver Doença de Graves ou Tireoidite de Hashimoto.
Assim, caso haja predominância de linfócitos Th1 ativados, ocorrerá ativação da imunidade celular 
com indução da expressão de Fas por células tireoidianas, permitindo que os CTLs as induzam à apoptose, 
causando a Tireoidite de Hashimoto.
Por outro lado, caso haja predominância de linfócitos Th2 ativados, ocorrerá ativação da imunidade 
humoral com produção de anticorpos anti-receptor de TSH, que podem estimular ou inibir a produção 
dos hormônios tireoidianos, causando Doença de Graves ou Tireoidite Atrófica, respectivamente.
Assim, podemos perceber que dois principais tipos de DAIT são caracterizadas por infiltração linfocítica 
na tireoide e por produção de autoanticorpos tireoidianos, geralmente direcionados aos seguintes antígenos 
tireoidianos: peroxidase tireoidiana, tireoglobulina e receptor de hormônio estimulante da tireoide (TSHR – 
Thyroid Stimulating Hormone Receptor) e funcionam como demonstrado na figura a seguir. 
Tireoidite de Hashimoto
Ajuda AjudaAjuda
Célula B Célula B
CTL
Célula 
TCD4
Célula 
TCD4
Célula 
TCD8
Autorreativo Autorreativo
Plasmócito
Célula da tireoide TSHR
TSI
Necrose/apoptose ApoptoseMorte de 
células 
tireoidianas
Hipotireoidismo
Doença de graves
Célula B 
reativa ao TSH
Sobrevivência das 
células da tireoide
Hipertireoidismo
Figura 66 – Fisiopatogenia das doenças autoimunes tireoidianas 
139
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
Doença de Graves
É mais frequente em mulheres entre 30 e 40 anos, que podem apresentar excitação do sistema 
nervoso central com ansiedade e irritabilidade, tremor das mãos, sudorese, perda de massa, hipertrofia 
tireoidiana (bócio), alterações no ciclo menstrual, libido reduzida, evacuações frequentes, exoftalmia de 
Graves, fadiga, dermopatia de Graves e taquicardia ou arritmia.
Sua patogenia é causada pela produção de anticorpos contra os TSHR, que são expressos 
principalmente na tireoide, mas também em adipócitos, fibroblastos, células ósseas e uma variedade de 
locais adicionais, incluindo o coração. 
Assim, anticorpos anti-TSHR estimulantes mimetizam a presença do TSH, induzindo a proliferação 
de células tireoidianas e, consequentemente, estimulando produção e secreções autônomas de tiroxina 
e triiodotironina causando a doença de Graves caracterizada por hipertireoidismo, mesmo em presença 
de baixas concentrações de TSH. Além de produzirem anticorpos anti-TSHR, os linfócitos B apresentam 
antígenos tireoidianos aos linfócitos T, induzindo a secreção de citocinas pró-inflamatórias, que geram 
alterações inflamatórias crônicas na tireoide, na retro-órbita e na pele.
Tireoidite de Hashimoto
Também conhecida como tireoidite autoimune crônica ou tireoidite linfocítica crônica, ela é mais 
frequente em mulheres entre 30 e 50 anos, que podem apresentar depressão do sistema nervoso central 
com fadiga, lentidão e lapsos de memória, maior sensibilidade ao frio, prisão de ventre, pele seca e 
pálida, edema facial, unhas quebradiças, alopecia, aumento inexplicável de massa, dores musculares 
e articulares com rigidez, fraqueza muscular e menorragia.
Sua patogenia é causada pela destruição progressiva dos folículos tireoidianos por processos imunes, 
que diminui a secreção dos hormônios tireoidianos, gerando hipotireoidismo, mesmo em presença de 
altas concentrações de TSH. 
Essa destruição pode ser causada tanto pela ligação de autoanticorpos a antígenos presentes nas 
membranas foliculares basais, formando imunocomplexos que ativam o complemento, gerando necrose; 
quanto pela apresentação de antígenos tireoidianos a linfócitos T citotóxicos, que induzem as células 
tireoidianas à apoptose. 
8.2 Imunodeficiências
Imunodeficiências são doenças causadas por alterações em componentes do sistema imune, 
que impossibilitam seu funcionamento normal, fazendo com que a resposta imune não aconteça 
ou seja comprometida. 
Nas imunodeficiências primárias, essa alteração é causada por defeitos intrínsecos e hereditários, 
enquanto nas secundárias, a alteração é causada por fatores extrínsecos, fazendo com que elas sejam 
consideradas adquiridas. 
140
Unidade III
Indivíduos imunocomprometidos são aqueles que apresentam qualquer tipo de imunodeficiência e 
que, portanto, são vulneráveis a infecções recorrentes e oportunistas causadas por microrganismos da 
microbiota ou ubíquos e não apresentam imunovigilância contra o câncer, tornando-se incapazes de 
destruir células tumorais. 
8.2.1 Imunodeficiências primárias 
Imunodeficiências primárias (IDPs) são um grupo heterogêneo de distúrbios, geralmente 
determinados geneticamente, em que ocorrem alterações no desenvolvimento ou no funcionamento 
do sistema imunológico. 
Com exceção da deficiência de IgA, as IDPs são doenças raras, que apresentam baixa prevalência 
e apresentação clínica altamente variável, sendo que a maioria dos distúrbios envolve maior 
suscetibilidade a infecções recorrentes geralmente relacionadas a sinusite, otite e pneumonia. Elas 
são classificadas de acordo com o componente do sistema imune que é alterado em distúrbio de 
imunidade inata ou adaptativa.
Os distúrbios da imunidade inata, que podem estar presentes em qualquer faixa etária, atrasam a 
indução da resposta imune e podem piorar o curso da infecção. 
Eles podem ser relacionados tanto a alterações fagocitárias, que levam a infecções bacterianas 
e fúngicas piogênicas graves na pele e no trato respiratório; quanto à deficiência de complemento, 
presente em menos de 1% dos casos, que levam a infecções recorrentes por organismos encapsulados.
A disfunção fagocítica mais comum é a síndrome de Chédiak-Higashi, em que alterações na fusão 
de fagossomos com lisossomos diminui a capacidade de eliminação de patógenos, aumentando o 
risco de infecções bacterianas recorrentes.
Por outro lado, os distúrbios da imunidade adaptativa podem ser causados por imunodeficiência 
celular relacionada a alterações em linfócitos T ou por imunodeficiência humoral relacionada a 
alterações em linfócitos B, sendo importante lembrar que, como a produção de anticorpos por linfócitos B 
é direcionada por citocinas secretadas pelos linfócitos T, a maioria das alterações que acontecem em 
linfócitos T gera distúrbios de imunodeficiência combinados.
As imunodeficiências humorais são mais comuns e relacionadas a um grupo heterogêneo de distúrbios 
caracterizados por uma suscetibilidade aumentada a infecções do trato respiratório, particularmente 
por Haemophilus influenzae, causada por alterações na secreção de anticorpos pelos linfócitos B. 
Assim, agamaglobulinemia de Bruton e imunodeficiência variável são caracterizadas por redução das 
concentrações séricas de IgG, IgA e IgM, com ausência de resposta à imunização e aumento de risco de 
infecções graves; enquanto na deficiência seletiva de IgA, as concentrações de IgG e IgM estão normais, 
diminuindo consideravelmente o risco de infecção.
141
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
Já as imunodeficiências celulares são causadas por distúrbios específicos de linfócitos T que 
geram linfopenia e neutropenia, ou seja, redução drástica no número circulante de linfócitos e 
neutrófilos, respectivamente.
Por outro lado, a principal imunodeficiência combinada severa é a síndrome congênita da 
imunodeficiência ligada ao X, predominante no gênero masculino, em que mutação nos receptores de 
membrana para citocinas impede a maturação dos linfócitos T, que se tornam raros na circulação. Essa 
diminuição drástica leva a infecções recorrentes severas, a partirdos primeiros seis meses de vida, que 
podem levar o indivíduo a óbito ou impedi-lo de ter convívio social, devido ao risco de infecção.
8.2.2 Imunodeficiências secundárias (IDS)
Imunodeficiências secundárias são relacionadas a diversos fatores extrínsecos que inibem ou 
impedem a resposta imune, aumentando o risco de infecções devido ao aumento de suscetibilidade 
ao hospedeiro.
Os principais fatores extrínsecos relacionados a IDS são desnutrição, certos medicamentos, radiação 
ionizante, infecções crônicas por HIV e HTLV e algumas síndromes genéticas multissistêmicas. 
A desnutrição proteica prejudica a produção e altera o funcionamento dos linfócitos T, enquanto 
a deficiência de alguns micronutrientes aumenta a suscetibilidade a infecções porque leva ao 
enfraquecimento da barreira mucosa, facilitando a invasão de um patógeno.
Medicamentos utilizados para o tratamento de condições inflamatórias graves, como, por exemplo, 
doenças autoimunes, doenças alérgicas, rejeição de transplantes e doença do enxerto contra o 
hospedeiro geram supressão imunológica a fim de controlar a resposta inflamatória, ou seja, nesse caso 
a imunodeficiência é um efeito colateral. 
Os glicocorticoides alteraram a transcrição gênica, gerando inibição das células envolvidas da 
resposta inata e adaptativa devido à diminuição da produção de citocinas inflamatórias e à inibição 
da quimiotaxia e da adesão leucocitária, diminuição da atividade fagocítica e anergia linfocitária.
Por outro lado, agentes citotóxicos utilizados para tratamento de neoplasias e preparo para doação 
de medula, como ciclofosfamida e metotrexato, inibem a proliferação de linfócitos T e B, sendo que, 
dependendo da dose utilizada, eles inibem completamente a resposta imune e causam citopenias 
severas, aumentando consideravelmente a suscetibilidade a infecções.
O efeito imunossupressor da radiação ionizante é causado pela inibição da produção de todas as 
linhagens de células sanguíneas pela medula óssea, gerando citopenias severas.
Em relações a infecções, alguns agentes infecciosos ou seus metabólitos podem gerar anergia de 
linfócitos T, como pode ser observado na síndrome do choque tóxico induzida pelo superantígeno 
estafilocócico; enquanto outros podem gerar linfopenia, neutropenia ou pancitopenia, possibilitando a 
infecção por agentes oportunistas. 
142
Unidade III
8.3 Reações de hipersensibilidade
As reações de hipersensibilidade verdadeiras são geradas por respostas imunes descontroladas ou 
exacerbadas a determinados antígenos, que levam a processos inflamatórios com danos teciduais, sendo 
que, segundo Gell e Coombs, elas são classificadas, de acordo com a duração e a etiologia, em quatro grupos 
distintos. Assim, as reações tipo I são reações alérgicas imediatas; as reações tipo II são citotóxicas; as reações 
tipo III são mediadas por imunocomplexos; e as reações tipo IV são mediadas por linfócitos T sensibilizados. 
8.3.1 Reações de hipersensibilidade tipo I 
Também conhecidas como reações anafiláticas, elas podem ser iniciadas por inalação, ingestão, 
injeção de diversos alérgenos. O quadro a seguir apresenta os principais alérgenos relacionados a reações 
de hipersensibilidade tipo I.
Quadro 8
Nome Alérgenos relacionados Consequências 
Alergia alimentar Leite, ovo, trigo, peixes, frutos do mar, castanhas e amendoim
Diarreia, vômito, urticária, edema 
de glote e morte
Asma Ácaros, fungos do mofo, resíduos de barata, saliva de gato e pólen
Permeabilidade vascular, secreção 
de muco, broncoconstrição, 
obstrução respiratória e morte
Choque anafilático ou 
anafilaxia sistêmica
Medicamentos (penicilina e 
derivados), venenos de insetos 
(abelha, vespa, aranha), alimentos 
(crustáceos, amendoim e ovo) e látex
Vasodilatação, edema de glote, 
colapso circulatório e morte
Rinite alérgica Saliva de gato, ácaros, fungos e pólen Congestão nasal, coriza e rinorreia
Urticária aguda Saliva de insetos (picada) Permeabilidade vascular e vasodilatação 
O choque anafilático é causado pela disseminação sistêmica do alérgeno, gerando degranulação 
sistêmica com liberação de altas concentrações de histamina com aumento da permeabilidade vascular, 
contração de musculatura lisa e vasodilatação, que resultam em edema facial, broncoespasmo, colapso 
circulatório e morte. 
No trato gastrintestinal, respostas alérgicas a alimentos geram aumento de movimentos peristálticos 
e de secreções, causando vômito e diarreia.
No trato respiratório, a degranulação pode gerar reações localizadas ou sistêmicas. A rinite alérgica 
é uma reação localizada, que gera edema e aumento da secreção nasal, causando coriza, rinorreia e 
congestão. Enquanto a asma é uma inflamação crônica pulmonar caracterizada por crises, ou seja, 
episódios recorrentes, em que o indivíduo apresenta broncoconstrição e aumento de secreção de muco, 
que causam chiado pulmonar, dispneia, tosse, dificuldade respiratória e risco de morte. 
As reações tipo I são praticamente imediatas, porém acontecem apenas em indivíduos previamente 
sensibilizados, ou seja, que durante a primeira exposição a um determinado antígeno ou alérgeno 
apresentaram uma resposta humoral com ativação de linfócitos B produtores de IgE específica para este 
alérgeno, que gera uma série de ações que podem ser vistas na próxima figura.
143
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
Após a resolução da primeira exposição, uma parte dos linfócitos B ativados se diferenciam em linfócitos B 
de memória, que são imediatamente ativados, caso aconteça uma exposição posterior ao mesmo antígeno. 
Essa ativação gera sua proliferação com expansão clonal, induzindo a produção em massa de IgE. 
A IgE secretada se fixa a receptores Fcε presentes na membrana de mastócitos ou basófilos; assim, 
quando ocorrer ligação cruzada, ou seja, a ligação do alérgeno a uma IgE fixada, começa o influxo de 
íons de cálcio (Ca2+), promovendo degranulação.
A degranulação gera a liberação de diversos mediadores primários que se encontram armazenados 
nos grânulos dos mastócitos. Os principais mediadores primários são as citocinas inflamatórias IL-3, IL-5, 
IL-8, IL-9, TNF-α e GM-CSF, que geram quimiotaxia e ativação de granulócitos. Assim como outras 
substâncias, que causam vasodilatação e aumentam a permeabilidade vascular, permitindo a diapedese 
dos granulócitos, que foram atraídos para o tecido inflamado. 
A ativação dos mastócitos também gera a liberação de fosfolipases, que produzem ácido araquidônico 
a partir de lipídios de membrana, permitindo que haja produção e secreção de mediadores secundários 
denominados recém-formados ou recentemente sintetizados de acordo com a oxigenase ativada. Caso 
a lipo-oxigenase atue, ocorrerá a produção de leucotrienos, enquanto a atuação da ciclo-oxigenase gera 
produção de prostaglandinas e tromboxanos. 
A figura a seguir apresenta o mecanismo e as consequências das reações de hipersensibilidade do tipo I.
Antígeno penetra via 
superfície mucosa
APC
Ca2+
IL-4
IL-10
IL-13
Célula B
Fc∈RI
IgE
Mastócito
Citocinas regulam outras células e mastócitos
Efeitos 
farmacológicos: 
vasos sanguíneos, 
vias respiratórias, 
infiltração celular
Quimiotaxia e 
ativação de células 
inflamatórias
Apresentação do 
antígeno Produção de IgE
Desgranulação do 
mastócito e liberação 
de citocinas
Efeitos clínicos: rinite 
alérgica, asma, eczema, 
anafilaxia
Mediadores 
pré-formados e 
recentemente 
formados
GM-CSF, TNFα, IL-5, ECFIL-4, IL-5, IL-6
TH2
Figura 67 – Representação esquemática do mecanismo e das consequências das reações de hipersensibilidade do tipo I
144
Unidade III
Eosinófilos e neutrófilos que sofreram diapedese estão relacionados com o início da fase 
tardia, que ocorre até 24 horas após o início da reação e pode persistir por vários dias. Isso 
acontece porque, em presença dos mediadores inflamatórios secretados pelos mastócitos, essas 
células são ativadas e geram uma segunda onda, amplificando a resposta inflamatória, gerando 
lesão tissular.
O quadro a seguirapresenta o mecanismo de ação dos principais mediadores inflamatórios envolvidos 
nas reações tipo I. 
Quadro 9
Mediador Tipo Mecanismo de ação
Histamina Pré-formado Aumento de permeabilidade vascular, vasodilatação, broncoconstrição e secreção de muco
Proteases Pré-formado Proteólise
Serotonina Pré-formado Broncoconstrição e aumento de permeabilidade vascular
Fatores quimiotáticos 
eosinofílicos Pré-formado Quimiotaxia de eosinófilos e neutrófilos
Heparina Pré-formado Inibição de coagulação
Leucotrieno B
4 Recém-formado Quimiotaxia de basófilos
Leucotrienos C4 e D4 Recém-formado
Aumento de permeabilidade vascular, secreção de muco, 
broncoconstrição e vasodilatação exacerbados
Prostaglandina D2 Recém-formado Edema e dor
Tromboxano Recém-formado Broncoconstrição e quimiotaxia
Fator de ativação 
plaquetária Recém-formado
Agregação plaquetária e liberação de histamina e serotonina 
– broncoconstrição e vasodilatação
8.3.2 Reações de hipersensibilidade tipo II
Também conhecidas como hipersensibilidade citotóxica, essas reações mediadas por anticorpos IgG 
acontecem em resposta a antígenos presentes na membrana celular ou na matriz extracelular, levando a 
doenças autoimunes. Assim como podem acontecer devido à ligação de anticorpos a antígenos próprios 
modificados pela ligação de partículas exógenas, como fármacos.
Após a ligação dos anticorpos, podem acontecer três mecanismos diferentes: fixação de 
complemento, disfunção celular e citotoxicidade celular mediada por anticorpos, como pode ser visto 
na figura a seguir.
145
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
A. Mediada pelo complemento
C. Anticorpos antirreceptor
B. ADCC
Célula-alvo
Receptor de Fc
Fagocitose pelo 
macrófago
 Opsonização 
Macrófago
Receptor 
de C3b
Acetilcolina
Receptor de acetilcolinaReceptor de Fc
+ Ac
Célula-alvo
Célula NK
Anticorpos 
para o receptor 
de acetilcolina
Placa motora terminal 
na miastenia grave
Apoptose de 
célula T
+ Ac + Complemento Lise 
osmótica
Complexo de 
ataque 
à menbranaC5-9
C3b C3b
Figura 68 – Representação esquemática dos mecanismos de ativação das reações de hipersensibilidade do tipo II 
relacionada a anticorpos. (A) Células-alvo opsonizadas sofrem citólise ou fagocitose. (B) Células-alvo opsonizadas 
 por IgG são destruídas por efeitos citotóxicos de células NK e macrófagos. (C) A ligação de anticorpos a receptores 
celulares geram disfunção celular, causando, por exemplo, interferência na transmissão neuromuscular 
A ligação de anticorpos a antígenos presentes na célula-alvo permite a fixação de componentes do 
sistema complemento ao imunocomplexo gerado, podendo causar citólise osmótica devido à formação 
do complexo de ataque à membrana. Além disso, ela permite a opsonização da célula-alvo, gerando 
fagocitose e destruição por macrófagos. 
Um exemplo importante desse mecanismo é a incompatibilidade sanguínea ABO. O tipo sanguíneo 
é determinado pela presença ou pela ausência de antígenos na membrana da hemácia. Assim, caso seja 
realizada uma transfusão com sangue incompatível, anticorpos presentes na circulação do indivíduo se ligam 
devido ao antígeno presente nas hemácias transfundidas, gerando ativação do sistema completo e hemólise. 
Outro exemplo é a ligação de moléculas de fármacos a plaquetas, que gera uma modificação estrutural 
em antígenos plaquetários, ativando a resposta imune e gerando a produção de anticorpos A ligação 
desses anticorpos a essas plaquetas permite a fixação de complemento, gerando a lise plaquetária, que 
causa a doença conhecida como trombocitopenia induzida por medicamentos. 
146
Unidade III
A disfunção celular acontece quando os anticorpos se ligam a receptores presentes na membrana 
das células-alvo, alterando a função celular. Seu principal exemplo é miastenia grave, em que 
anticorpos antirreceptores de acetilcolina se ligam aos receptores expressos nas placas motoras 
terminais dos músculos esqueléticos, bloqueando a ligação da acetilcolina e, consequentemente, 
gerando fraqueza muscular.
Na citotoxicidade celular mediada por anticorpos, a ligação de anticorpos IgG a antígenos 
presentes na célula-alvo gera imunocomplexo, que pode ser reconhecido por células NK que 
contenham receptores de Fc específicos para IgG. Essa ligação ativa as células NK que degranulam, 
liberando perforinas e granzimas. As perforinas se polimerizam na membrana da célula-alvo, 
formando poros, que permitem a entrada das granzimas, que no citoplasma ativam a apoptose, 
destruindo célula-alvo.
8.3.3 Reações de hipersensibilidade tipo III
São causadas pela deposição de imunocomplexos insolúveis em determinados tecidos, o que gera 
ativação de sistema complemento, iniciando um processo inflamatório com dano tissular, localizado ou 
sistêmico, causado pela secreção de mediadores inflamatórios. 
A principal reação tipo III sistêmica mediada por imunocomplexos é a doença do soro, enquanto 
a principal reação tipo III é a reação de Arthus, que pode ser exemplificada pela doença do pulmão 
de fazendeiro.
Soros hiperimunes heterólogos, produzidos a partir da sensibilização de cavalos com determinados 
antígenos, foram utilizados antes do desenvolvimento dos agentes antimicrobianos para o tratamento 
de infecções e de doenças causadas por toxinas bacterianas. Apesar disso, eles induziam a produção de 
anticorpos que, ao se ligarem aos anticorpos heterólogos do soro, levavam a formação de imunocomplexos, 
gerando febre, artralgia, linfadenopatia, erupção cutânea e glomerulonefrite. 
A doença do pulmão de fazendeiro é uma enfermidade ocupacional em que ocorre inflamação 
alveolar induzida por esporos fúngicos presentes em feno mofado. Assim, indivíduos sensibilizados 
produzem altas concentrações de anticorpos IgG-específicos contra os esporos fúngicos. Em 
exposições subsequentes, a inalação desses esporos gera a formação de imunocomplexos insolúveis 
que se depositam nos alvéolos pulmonares, levando à fixação de complemento, o que inicia um 
processo inflamatório em que há aumento de permeabilidade vasculares e influxo de neutrófilos, 
gerando necrose alveolar.
8.3.4 Reações de hipersensibilidade tipo IV 
Também conhecidas como hipersensibilidade tardia, as reações tipo IV são mediadas por linfócitos T 
e acontecem em indivíduos previamente sensibilizados que apresentam dois estágios: sensibilização e 
desencadeamento, como pode ser visto na figura seguir.
147
MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA
A. Estágio de sensibilização B. Estágio de desencadeamento
Antígeno injetado 
subcutaneamente é 
processado por células 
apresentadoras de 
antígeno locais (células de 
Langerhans da pele etc.)
Vaso sanguíneo
TH1
TH1 e
TH17
Macrófago 
ativado
IFN-γ
MCP-1
TNF-α
TNF-β
TH17
citocinas
TH17
Infiltrado de células 
inflamatórias 
(principalmente 
macrófagos) causa 
acúmulo de plasma e 
dano tecidual local
Desafio antigênico ativa 
as células TH1; citocinas 
recrutam e ativam 
macrófagos e outras 
células inflamatórias
Célula T reconhecem 
o peptídio-MHC nas 
células apresentadoras de 
antígeno e se diferenciam 
em células TH1
Figura 69 – Representação esquemática dos estágios da reação de hipersensibilidade tardia. 
(A) Estágio de sensibilização caracterizado pela apresentação do antígeno pela APC, com 
diferenciação de linfócitos Th1 e Th17. (B) Estágio de desencadeamento caracterizado por 
 ativação dos linfócitos Th1 e Th17 com secreção de citocinas e ativação de macrófagos 
A sensibilização ocorre quando APCs apresentam os antígenos fagocitados a linfócitos T virgens, que 
se diferenciam em linfócitos Th1 e Th17 específicos. 
Após a sensibilização, exposições subsequentes levam ao desencadeamento, onde há ativação 
destes linfócitos Th1 e Th17, que passam a produzir citocinas pró-inflamatórias que realizam 
quimiotaxia e ativação de macrófagos, CTLs, células NK, linfócitos B e neutrófilos. As principais citocinas 
pró-inflamatórias secretadas são IFN-γ que geram ativação de macrófagos, proteína cofator de membrana 
(MCP – Membrane

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