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24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/23 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA AULA 4 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/23 Prof. Bruno Luís Simão CONVERSA INICIAL As bases conceituais de importantes pesquisadores são significativas para o conhecimento acerca do desenvolvimento típico de crianças e adolescentes. Estudos possibilitam entender como os sujeitos respondem a diferentes fatores ambientais e sobretudo compreender como e por que estabelecem vínculos afetivos, desempenham funções, consolidam amizades e adquirem regras morais no percurso de seu desenvolvimento. Especificamente voltados ao trabalho terapêutico para o espectro do autismo, há métodos, programas e técnicas que visam à mudança de comportamento e ao desenvolvimento de relações sociais, cognitivas, de linguagem e de comunicação. Nesta aula, você irá conhecer uma pouco sobre: Jean Piaget e a dimensão construtivista; Os pressupostos da teoria interacionista de Wallon; O pensamento de Vygotsky pautado no materialismo histórico e dialético; A família e o seu contexto histórico; E a família frente ao diagnóstico do TEA. Esperamos que você aprecie e encontre nesta aula uma fonte útil de conhecimentos. Nossa intenção é apresentar um estudo que possa contribuir para você um saber decorrente da presença da psicanálise no fazer educativo junto aos indivíduos com TEA, bem como para a aplicação dos conhecimentos aqui adquiridos, na prática, na compreensão e no trato dos indivíduos com TEA em suas fases de desenvolvimento. TEMA 1 – JEAN PIAGE 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/23 Figura 1 – Jean Piage Crédito: Smile Ilustra. Jean Piaget nasceu em Neuchâtel, na Suíça, em 9 de agosto de 1896, e veio a falecer em 1980 aos 84 anos. É possível de se dizer que ele representa para a construção do estudo da inteligência o mesmo que Freud representa para os estudos da afetividade. Piaget foi um biólogo, psicólogo e epistemólogo e ficou conhecido mundialmente principalmente por causa de seus estudos a respeito do desenvolvimento infantil. Piaget era considerado uma criança prodígio: publicou seu primeiro artigo científico aos 11 anos sobre um pardal albino que observou em um parque de sua cidade natal. Aos 19 anos, licenciou-se em Ciências Naturais, em seguida em filosofia, nutrindo interesse pelas temáticas da filosofia, da religião e da psicologia. Com 22 anos defendeu sua tese de doutorado e com 23 se mudou para a França para estudar, entre outros temas, a psicopatologia. Na França, foi convidado para trabalhar com Binet, criador de um dos mais famosos testes de QI e, durante esse período, começou seus estudos sobre o desenvolvimento cognitivo (Nogueira; Leal, 2015). As primeiras pesquisas relevantes ao tema do desenvolvimento infantil feitas por Piaget abordavam uma temática referente ao pensamento lógico da criança. Essas pesquisas foram as responsáveis por colocar em prática uma metodologia original denominada método clínico. Esse método consistia em conversar com as crianças de maneira livre, mas sobre um tema dirigido, seguindo o pensamento desenvolvido por ela para depois reconduzir para o tema de origem para obter assim justificativas, testar a consistência do pensamento e fazer contrapontos (Dolle, 1978). Piaget realizou seus estudos acerca da inteligência antes de realizar seus estudos sobre a linguagem, pois, segundo ele, a linguagem não se faz presente durante os anos iniciais do desenvolvimento humano, por isso ela não teria como ser parte do desenvolvimento da inteligência. De acordo com Nogueira e Leal (2015), a teoria do psicólogo é conhecida como epistemologia genética: epistemologia proveniente de conhecimento científico, e genética vindo de gênese, ou seja, a 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/23 origem do conhecimento. Desse modo, podemos dizer que a sua teoria tem como foco o sujeito epistêmico, o indivíduo em seu processo de desenvolvimento da inteligência. O estudo da inteligência, realizado por Piaget no plano da psicologia, seria composto por meio da identificação de mecanismos adaptativos (presentes ao longo de todo o desenvolvimento) que buscam a manutenção do equilíbrio entre nós e o meio. Por exemplo, frente a uma situação desafiadora, o equilíbrio seria perdido, fazendo-nos entrar em um estado de desequilíbrio ou desadaptação, o que nos faria ativar mecanismos para voltar ao estado de equilíbrio ou adaptado. Assim, a inteligência é vista por ele como um tipo de adaptação biológica, e o conhecimento pode ser interpretado como uma consequência biológica da adaptação da inteligência à natureza (Ferreira; Tassinari, 2013; Nogueira; Leal, 2015). De acordo com Piaget (1975, p. 16), A inteligência é uma adaptação. Para apreender as suas relações com a vida em geral é necessário determinar quais as relações que existem entre o organismo e o meio ambiente. De facto, a vida é uma criação contínua de formas cada vez mais completas e uma busca progressiva do equilíbrio entre estas formas e o meio. Dizer que a inteligência é um caso particular da adaptação biológica é, pois, supor que é essencialmente uma organização cuja função é estruturar o Universo, como o organismo estrutura o meio imediato. Por mais que Piaget tenha abordado a construção do conhecimento em todas as faixas etárias, da infância até a vida adulta, o psicólogo desenvolveu a maior parte da sua teoria a respeito do desenvolvimento da inteligência infantil. Inicialmente seus estudos basearam-se na observação de crianças que frequentavam uma escola francesa e, em parceria com outros dois psicólogos franceses, elaborou um instrumento para testar o nível de inteligência dessas crianças. Com base no resultado desses testes, concluiu que as crianças possuem uma lógica de funcionamento mental diferente da lógica de um adulto. Propôs-se então a investigar quais seriam os mecanismos que transformariam a lógica infantil em uma lógica adulta (Nogueira; Leal, 2015). Essa investigação foi majoritariamente feita com base em observações e experiência que praticava com seus três filhos. Baseando-se no que ele observava no comportamento de seu filho mais velho, ele elaborava experimentos para aplicar em seus filhos mais novos, adquirindo, dessa forma, um estudo longitudinal que teve como método observações aplicadas sobre o desenvolvimento infantil. Levando em conta essas observações, Piaget teorizou que as crianças 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/23 passam por quatro fases, ou estágios, de desenvolvimento, cada uma delas elas constroem determinadas estruturas cognitivas (Dolle, 1978). As fases propostas foram pensadas por Piaget dentro de uma faixa etária aproximada, ou seja, elas nem sempre correspondem à idade cronológica de uma criança que está passando por um processo de avaliação. Isso acontece, pois cada indivíduo possui características próprias que os diferenciam, por exemplo, fatores biológicos que afetam o consideravelmente o ritmo de desenvolvimento de cada um. Independente disso, porém, Piaget estabelece que, apesar das diferenças de velocidade, todos os indivíduos irão passar por esses estágios ao longo de suas vidas, alguns podendo passar por um estágio de forma mais rápida, ao passo que outros podem permanecer por mais tempo em algum deles (Nogueira; Leal, 2015). As fases piagetianas, como vieram a serem conhecidas, estão descritas a seguir Tabela 1 – Fases piagetianas Nome Faixa etária Descrição Sensório-motor 0-2 anos Período que a criança aprende sobre si e sobre o ambiente no qual está inserida. Pré-operatório ou Simbólico 0-7 anos A criança com base nos conceitos que começou a desenvolver no estágio anterior começa a desenvolver ideias lógicas. Ainda é egocêntrica, ou seja, o mundo é voltado para ela e seus desejos.Acredita que tudo é dotado de vida (animismo). Operatório concreto 7-12 anos As crianças passam a serem capazes de solucionar problemas concretos se utilizando do pensamento, desenvolvimento do raciocínio lógico. Operações formais 12-16 anos Desenvolvimento do raciocínio hipotético-dedutivo. Passa-se a ser capaz de deduzir conclusões de hipóteses e não apenas por meio de uma observação daquilo que é concreto e real. Essas fases do desenvolvimento são relativas ao desenvolvimento do pensamento. No que se refere à linguagem, Piaget considera que primeiro se tem o conhecimento enquanto fala, depois é que se desenvolve a linguagem. Inicialmente ele indicou que as conquistas que a criança vem a realizar nessa área do desenvolvimento são explicadas em função da socialização, contudo, posteriormente, em virtude da descoberta de estruturas de conhecimento pré-verbais, a explicação 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/23 das origens da linguagem deve se iniciar nas caraterísticas egocêntricas dos estágios iniciais do desenvolvimento (Montoya, 2006): A passagem do egocentrismo infantil para a objetividade e para o pensamento lógico encontra-se, segundo esse autor, estreitamente relacionada à linguagem socializada, isto é, à linguagem cujos termos e conceitos são compartilhados por todos os membros do grupo, a qual possui uma estrutura lógica. (Montoya, 2006, p. 121) De acordo com Taille, Oliveira, Dantas (2019), para Piaget, o desenvolvimento da linguagem ao longo dos estágios iniciais do pensamento se daria do seguinte modo: começando pela criança no estágio sensório-motor. Nesse estágio, Piaget considera abusivo falar em real socialização da inteligência. Essa é essencialmente individual, pouco ou nada devendo às trocas sociais. Em compensação, a partir da aquisição da linguagem, inicia-se uma socialização efetiva da inteligência. Contudo, durante a fase pré-operatória, algumas características ainda limitam a possibilidade de a criança estabelecer trocas intelectuais equilibradas. (Taille; Oliveira; Dantas, 2019) As autoras seguem explicando que, a partir do estágio operatório, as trocas intelectuais realizadas pelas crianças começam a alcançar um equilíbrio particular que Piaget passará a chamar de personalidade. Essa socialização para Piaget se faz fundamental para o desenvolvimento da inteligência humana. O psicólogo postula que, desde o nascimento de um ser humano, o desenvolvimento intelectual é obra da sociedade, uma vez que as próprias tendências hereditárias levam a vida em grupo e a imitação como forma de se relacionar com os outros. Os estudos iniciais de Piaget sobre a inteligência se tornaram base para a teoria que veio a ser conhecida como construtivismo, que é uma teoria sobre a origem do conhecimento e que afirma que este é o resultado da construção pessoal de cada um. Piaget considera que a criança passa por estágios para adquirir e construir o conhecimento. Essa teoria considera quatro fatores como sendo essenciais para o desenvolvimento infantil: Figura 2 – Quatro fatores essenciais para o desenvolvimento infantil 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/23 Por mais que a epistemologia genética de Piaget não tivesse como objetivo desenvolver uma teoria sobre a aprendizagem e sim sobre a gênese do conhecimento, ela acabou por estabelecer condições para pensar sobre o processo de ensino-aprendizagem dentro das escolas (Nogueira; Leal, 2015). Ao relacionar o construtivismo com a educação, estabelece-se uma ênfase no papel do aluno no processo de ensino e aprendizagem, visto que, segundo essa teoria, o conhecimento é construído pelo próprio sujeito, contudo se faz necessário ressaltar que a teoria de Piaget não é um método que deve ser seguido, mas um teoria que fornece meios para que proporcionam aos professores uma maior compreensão sobre o desenvolvimento humano, o que os possibilita desenvolver atividades que sejam adequadas para cada estágio desse desenvolvimento (Nogueira; Leal, 2015). TEMA 2 – HENRI PAUL HYACINTHE WALLON Henri Paul Hyacinthe Wallon nasceu em 1879 em Paris e veio a falecer no ano de 1962 aos 83 na mesma cidade. Contemporâneo de Piaget, dedicou-se ao longo de sua vida à política francesa, à filosofia, à medicina e à psicologia. Sua vida foi marcada por uma participação ativa nos principais acontecimentos de sua época. Foi médico de batalhão durante a Primeira Guerra Mundial e se aliou à resistência durante a Segunda Guerra Mundial, filiando-se ao partido comunista logo depois que a Gestapo torturou e executou o filósofo e teórico marxista francês Georges Politzer (Taille; Oliveira; Dantas, 2019; Nogueira; Leal, 2015). 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/23 Figura 3 – Henri Wallon Crédito: Smile Ilustra. Durante sua atuação como médico de batalhão, Wallon se ocupou dos atendimentos àqueles que haviam sofrido ferimentos que ocasionaram algum tipo de lesão cerebral, o que o levou a concluir que toda a atividade mental tem sede em um único órgão: o cérebro. Esse trabalho durante a guerra, em verdade, só fez confirmar aquilo que ele já vinha estudando desde 1909 pela observação de 200 crianças doentes, casos de retardo, epilepsia e anomalias psicomotoras em geral. Esses estudos deram origem a sua tese de doutorado e, posteriormente, o livro L’enfant turbulent, base de sua metodologia: a psicologia condiz com um tratamento histórico, no sentido de considerar os aspectos genéticos da espécie; neurofuncional, multidimensional e comparativo (Taille; Oliveira; Dantas, 2019). Além de ser a base de sua metodologia, foi com base nesse trabalho que Wallon retirou grande parte dos princípios reguladores do processo de desenvolvimento, bem como possibilitou a identificação de diversos estágios que lhe permitiram mais tarde formular a sua própria teoria do desenvolvimento (Nogueira; Leal, 2015). A teoria do desenvolvimento walloniana é formada por três dimensões ou conjuntos: motor, afetivo e cognitivo. Esses conjuntos devem ser analisados para evitar reducionismos teóricos, isto é, fragmentando o indivíduo em cada uma delas. Eles são responsáveis pelos comportamentos e pelo desenvolvimento do sujeito, criando possibilidades e recursos que coexistem com as habilidades já adquiridas e propiciando, assim, a mudança de estágio (Nogueira; Leal, 2015). Antes de se aprofundar nos estágios do desenvolvimento teorizado por Wallon, faz-se necessário caracterizar cada um desses conjuntos: Quadro 1 – Estágios de desenvolvimento, segundo Wallon 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/23 Apesar de o corpo se desenvolver ao longo de toda a vida, na teoria walloniana o conjunto motor aparece com predominante apenas durante o primeiro ano de vida, contudo não se pode pensar que Wallon desconsiderou esse conjunto no restante do desenvolvimento: assim como os outros conjuntos, o conjunto motor continua se desenvolvendo paralelamente, apenas não é o predominante do estágio. Consequentemente, afetividade e cognição se alternam caracterizando cada um dos estágios do desenvolvimento. Nos estágios em que a predominância é da afetividade, o indivíduo tende a voltar- se para dentro de si, ao passo que nos estágios em que a predominância é da cognição, ele se volta para fora, na direção dos outros e do mundo, buscando a construção do conhecimento (Nogueira; Leal, 2015). Na Tabela 2, é possível encontrar cada um dos estágios do desenvolvimento, com sua predominância e a sua descrição: Tabela 2 – Estágios do desenvolvimento e predominâncias walloniana Estágio Faixa etária Predominância do conjunto funcional Descrição Impulsivo emocional 0-1 ano Motor e afetivo Início da construção do eu ocorrendo uma predominância da afetividade. O desenvolvimento está voltado para as questões motoras e emocionais. 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/10/23 Sensório-motor e projetivo 1-3 anos Cognitivo Aumento nas relações sociais. A criança passa a explorar e manipular o ambiente o que a coloca em contato com aspectos intelectuais, porém ainda objetivos. Personalismo 3-6 anos Afetivo Diferenciação do eu-outro e eu-mundo, construção da personalidade e maior consciência corporal. Categorial 6-11 anos Cognitivo Reconhecimento de si em diferentes grupos e situações exercendo diversos papéis (filho, amigo, aluno, etc.). Ciência de que pode obter um conhecimento maior. Puberdade e adolescência 12 anos em diante Afetivo A relação com o adulto é rompida gerando a crise da puberdade. Transformações corporais causam necessidade de se apropriar novamente do corpo. Desejo por maior independência. Wallon acreditava que nós, seres humanos, somos organicamente sociais, isto é, nosso organismo depende de uma intervenção cultural para conseguir se atualizar. Segundo sua teoria, o desenvolvimento humano se dá em dois fatores: o orgânico e o social, ou seja, é por meio da interação do organismo com o meio que o desenvolvimento se torna possível (Nogueira; Leal, 2015). Na teoria walloniana, a inteligência se alterna com o que ele chama de afetividade. Assim, quando nos encontramos em um estágio do desenvolvimento, no qual é a inteligência que domina, estamos vivenciando um período mais voltados para o exterior, para os outros, para as investigações. Já quando estamos em um estágio em que o que impera é o afetivo, estamos em um momento mais voltados para dentro de nós mesmos (Nogueira; Leal, 2015). A dimensão afetiva ocupa um lugar central na teoria psicogenética de Wallon, não só do ponto de vista da construção de sujeito, mas também, do ponto de vista da aquisição do conhecimento. A caracterização dessa dimensão teve uma inspiração na teoria da evolução de Charles Darwin, pois, para Wallon, o seu desenvolvimento é diretamente relacionado com o instinto de sobrevivência da espécie humana e a dependência prolongada que as crianças possuem de seus pais. Desse modo, é possível se concluir que a caracterização do desenvolvimento humano é antagônica, pois ela é biológica e social simultaneamente, realizando um processo de transição do estado orgânico para a cognitiva por meio da mediação social. TEMA 3 – LEV SEMYNOVICH VYGOTSKY 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/23 Lev Semyonovich Vygotsky, contemporâneo de Piaget, nasceu em Orsha, pequena província localizada próxima a Minsk na Bielorrússia, em 5 de novembro de 1896, e sua morte ocorreu em 1934 devido à tuberculose. A formação de Vygotsky teve início com a medicina, curso que ele logo trocou pelo curso de direito, contudo, após a conclusão deste, passou a se dedicar aos estudos de licenciatura e psicologia, tornando-se um psicólogo de renome e isso contribuiu para que ele retornasse seus estudos na faculdade de medicina (Nogueira; Leal, 2015). Figura 4 – Lev Semynovich Vygotsky Crédito: Smile Ilustra. A teoria elaborada por Vygostsky começou a se formar com o início da Revolução Russa em 1917, que, resumidamente, foi um período de conflitos que derrubou a monarquia russa e levou ao poder o Partido Bolchevique, de Vladimir Lênin, um governo forte embasado no socialismo. Esse governo se manteve até o final de 1923. Com o seu encerramento, houve então o embate entre a revolução proletária e a revolução burguesa. Essa luta de classes foi o marco da reconstrução da sociedade russa e o liame da teoria vygotskiana (Nogueira; Leal, 2015). Vygotsky foi um grande estudioso de Marx e, apesar de já existirem outros psicólogos que buscassem unir psicologia e o marxismo, Vygotsky foi o primeiro a conseguir estabelecer relações entre essa teoria e as questões psicológicas concretas. Com base nessa relação é que o psicólogo elaborou uma psicologia orientada pela história e a cultura dos homens, sendo o fundador da psicologia histórico-cultural (Nogueira; Leal, 2015). De acordo com Corrêa (2017, p. 382), A Psicologia Histórico-Cultural, que tem em Vygotsky o seu iniciador e um de seus principais representantes, aborda o desenvolvimento psicológico da criança como fenômeno histórico intimamente ligado às condições objetivas da organização social, sendo fundamentais a 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/23 consideração do lugar ocupado pela criança nas relações sociais e as condições históricas concretas nas quais é desenrolado o seu desenvolvimento. evidencia a subordinação dos processos biológicos ao desenvolvimento cultural. Vygotsky evidencia nessa psicologia a subordinação dos processos biológicos ao desenvolvimento cultural. Seu objetivo era explicar aquilo que diferencia o homem dos outros seres da natureza, encontrar o que faz com que o homem desenvolva, levando-se em conta suas funções mais básicas, por exemplo andar, comer, procriar e o que ele chamou de funções psicológicas superiores: memória, percepção, pensamento e linguagem (Boiko; Zamberlan, 2001). As funções superiores seriam construídas ao longo da história social e na forma como os indivíduos se relacionam com o mundo por meio de símbolos e instrumentos que foram desenvolvidos culturalmente. Por exemplo, nas crianças, as funções superiores se desenvolveriam por meio da interação com seus cuidadores, pois, dessa maneira, as crianças se apoderariam do conhecimento técnico e cultural desenvolvido por eles e pelas gerações anteriores e o utilizariam para aprender a como interagir eficazmente com o seu meio (Taille; Oliveira; Dantas, 2019). Por meio desse pensamento fica claro que Vygotsky não considerava que o cérebro humano era algo estático e imutável, mas sim um órgão com um sistema aberto e detentor de uma plasticidade enorme, em que as estruturas e o funcionamento seriam delineados pela filogênese e pela ontogênese (Taille; Oliveira; Dantas, 2019). Um conceito que se faz fundamental para compreender o pensamento vygostskiano é o conceito de mediação. De maneira sucinta, mediação é um processo de intervenção de um elemento intermediário em uma determinada relação, a qual deixa então de ocorrer de forma direta e passa a ser mediada por algo. Por exemplo, um indivíduo direciona sua mão para juntar cacos de vidros do chão, mas, ao fazê-lo, corta sua mão e sente dor, parando de juntar os cacos. Essa é uma relação direta, mas se, ao juntar os cacos de vidros, uma outra pessoa lhe disser que ele pode acabar cortando a mão, a relação passa a ser mediada pela intervenção dessa pessoa (Oliveira, 1993, p. 27): Vygotsky trabalha, então, com a noção de que a relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas, fundamentalmente, uma relação mediada. As funções psicológicas superiores apresentam uma estrutura tal que entre o homem e o mundo real existem mediadores, ferramentas auxiliares da atividade humana. Os processos mentais superiores são mediados por sistemas simbólicos, sendo o principal e mais básico desses símbolos pontuados por Vygotsky a linguagem, por isso, seu desenvolvimento e sua 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/23 relação com o pensamento têm lugar central nas pesquisas e estudos dele (Oliveira, 1993). De acordo com Oliveira (1993), a linguagem possui duas funções básicas: intercâmbio social e pensamento generalizante. Intercâmbio social: a comunicação com as outras pessoas são permeadas pela linguagem, a necessidade do bebê de se comunicar com seus pais, por exemplo, que gera o impulso necessário para a linguagem começar a se desenvolver; Pensamento generalizante: aqui a linguagem passa a ter função de ordenação da realidade, agrupando tudo que acontece e está presente no ambiente em uma mesma classe conceitual. A linguagem aqui simplifica e generaliza experiências tornando seus significados acessíveis para todos aqueles que também utilizem da mesma linguagem. Com base nesses pressupostos e indo de encontro com sua abordagem genética,Vygotsky passa a se interessar por como os conceitos começam a serem formados. Para realizar essa investigação, ele realizou um experimento de classificação de objetos com crianças. Com base nesse experimento, Vygotsky propôs um percurso genético do desenvolvimento do pensamento conceitual. Na Tabela 3, é possível encontrar os estágios, subestágios e a descrição geral dos estágios desse per percurso genético do desenvolvimento do pensamento conceitual proposto Vygotsky (1989): Tabela 3 – Percurso genético do desenvolvimento do pensamento conceitual ESTÁGIO SUBESTÁGIO DESCRIÇÃO Pensamento sincrético - A criança agrupa os objetos sem que haja nenhum tipo de relação verdadeira. Os objetos são agrupados com base na impressão de que a criança tem dele. Pensamento por complexos · Complexo associativo · Complexo coleção · Complexo em cadeia · Complexo difuso Os objetos passam a serem agrupados com base em características concretas e fatos oriundos da experiência. Esse agrupamento não é formado no plano do pensamento lógico abstrato, carecendo assim de uma unidade lógica e podendo ser de muitos tipos distintos. Pensamento por conceitos · Pseudoconceito A criança passa a agrupar os objetos com base em um único atributo, passando a ser capaz de retirar características isoladas do todo concreto. 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/23 · Conceitos espontâneos · Conceitos científicos Apesar de o percurso genético do desenvolvimento do pensamento conceitual ter sido elaborado em estágios, estes não estabelecem necessariamente uma ordem de acontecimentos. Isto é, o indivíduo que está passando pelo terceiro estágio não necessariamente passou ou concluiu o segundo. Vygotsky descreve esse modelo como sendo duas linhas genéticas que em algum momento se unem, possibilitando o surgimento de conceitos autênticos (Taille; Oliveira; Dantas, 2019). Na Tabela 3, é possível de se perceber que o estágio do pensamento por conceitos é composto por 3 subestágios. Faz-se necessário ressaltar aqui que o subestágio do pseudoconceito não está necessariamente dentro desse estágio, sendo mais uma fase de transição entre o pensamento por complexos e o pensamento por conceitos. Por sua vez, os conceitos espontâneos são aqueles que a criança consegue adquirir com base em suas experiências e em suas relações sociais imediatas. Já os conceitos científicos, para serem adquiridos, necessitam que a criança passe por alguma forma de ensino formal, como a instrução escolar (Taille; Oliveira; Dantas, 2019). Vygotsky, em seus estudos sobre a aquisição dos conceitos científicos, analisou, segundo Nogueira e Leal (2015), três teorias: 1. O aprendizado é um processo externo ao indivíduo e não está relacionado ativamente com o desenvolvimento; 2. O aprendizado é desenvolvimento, sendo cada uma das etapas desse aprendizado corresponde a uma fase de desenvolvimento; 3. Tentativa de vencer os extremos das duas teorias anteriores buscando combiná-las. Com base nessas análises Vygotsky formula uma nova teoria, buscando relacionar aprendizagem e desenvolvimento. Ele inicia então quatro estudos que tinham como objetivo esclarecer quais eram as inter-relações entra algumas áreas específicas do aprendizado escolar: leitura, escrita e gramática, aritmética, ciências naturais e sociais. Com base nesses estudos, Vygotsky conclui que, mesmo que as crianças possuam a mesma idade mental, o nível de desenvolvimento pode ser diferente, o que pode 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/23 ser constatado quando elas tentam resolver problemas semelhantes, porém mais difíceis, e tendo auxílio de alguém mais experiente, normalmente um adulto (Nogueira; Leal, 2015). Essa conclusão deu origem a três novos conceitos na teoria de aquisição do conhecimento científico de Vygotsky (1989): Quadro 2 – Conceitos da teoria da aquisição do conhecimento científico, segundo Vigotsky A análise desses três conceitos para Vygotsky é essencial para indicar qual é o nível de aproveitamento escolar da criança. A formação dos conceitos científicos, portanto, demonstra qual é a relevância social e cultural para o desenvolvimento das funções psíquicas superiores, uma vez que essa funções apenas são edificadas por meio da mediação de um adulto que atue efetivamente na zona de desenvolvimento proximal, possibilitando que a criança aprenda e passe a ser integrante efetivo de seu grupo social (Nogueira; Leal, 2015). Se Piaget é considerado o pai da teoria construtivista, Vygotsky pode ser considerado o precursor de um novo tipo de construtivismo: O socioconstrutivismo é uma teoria que vem se desenvolvendo, com base nos estudos de Vygotsky e seus seguidores, sobre o efeito da interação social, da linguagem e da cultura na origem e na evolução do psiquismo humano. Segundo este referencial, o conhecimento não é uma 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/23 representação da realidade, mas um mapeamento das ações e operações conceituais que provaram ser viáveis na experiência do indivíduo. Portanto, a aprendizagem é um resultado adaptativo que tem natureza social, histórica e cultural. (Boiko; Zamberlan, 2001, p. 51) Há aqueles que defendem que a teoria piagetiana e a teoria vygotskiana do desenvolvimento são opostas entre si, contudo se faz possível indicar vários pontos de congruência entre os autores: Necessidade de compreensão da origem dos processos que estão sendo estudados; Levam em consideração em suas teorias mecanismos filogenéticos e ontogenéticos; Utilizam da metodologia qualitativa em seus estudos (observações e análises teóricas); Ressaltam a importância da interação do indivíduo com o seu meio para o processo de desenvolvimento; Nas duas teorias, o indivíduo é um ser ativo em seu desenvolvimento; Consideram a aquisição da linguagem um marco substancial. Apesar de todos esses pontos de convergência entre os teóricos, a teoria de Vygotsky se evidencia em um aspecto: o educacional. Seu conceito de zona de desenvolvimento proximal é central para a educação, visto que é ele que estabelece de maneira clara a relação entre a genética e o funcionamento psicológico. TEMA 4 – FAMÍLIA E CONTEXTO HISTÓRICO Desde os primórdios, os homens e suas evoluções naturais e históricas se mostraram, acentuadamente, como seres que necessitam viver em comunidade, ou seja, o homem não é só; ele vive na coletividade. Na pré-história, de maneira ainda muito branda, os homens formavam pequenos grupos que passaram a desenvolver hábitos sociais e familiares, determinando a cada integrante suas funções. Avançando cronologicamente, percebemos que muitas conquistas aconteceram, enfatizando funções dos membros familiares e das divisões sociais. Com o passar do tempo, a vida coletiva foi se formando. Um exemplo disso são as casas, que passaram a se apresentar de forma menos isolada, ilustrando uma vida coletiva e a aprendizagem do convívio humano que viria a transformar situações sociais. Uma dessas relevantes transformações foi a descoberta da agricultura, que culminou na formação de pequenas aldeias que, posteriormente, se apresentariam na condição de cidades. 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/23 Tanto família quanto escola tiveram um caminhar histórico e social significativo que, de fato, influenciou a escola e a sociedade que temos no século XXI. Igualmente, muitas situações foram postas e transformadas com os avanços oriundos do progresso do homem e do tempo com base nas condições políticas e nas exigências da sociedade. É relevante, independentemente do contexto histórico entre essas duas significativas esferas, a junção dos campos em prol do desenvolvimento dos sujeitos. Assim, escola e família devem viver em união, buscando o aprimoramento no desenvolvimento da educação dos sujeitos em formação, sejam eles membros do público-alvo da educação especiale inclusiva ou não. É papel da escola complementar a educação de casa, e o inverso também se faz presente. Entretanto, escola e família formam um binômio relevante para as crianças de inclusão e a construção de seu processo de escolarização e formação profissional. 4.1 NASCIMENTO E RELAÇÃO COM O OUTRO NO TEA Muitos estudiosos da psicanálise buscam compreender os primórdios da concepção da estruturação psíquica dos indivíduos, e muito tem início pelos estudos de Freud, para quem isso estava relacionado à prematuridade, ao formato inacabado do bebê ao nascer, à condição primária relacionada à sobrevivência física e psíquica. Assim, podemos entender que o ser humano se apresenta como uma fonte individual e autônoma de desejo, com início em sua concepção, e o seu nascimento simboliza o desejo de assumir a si próprio. Porém, se falarmos da vida do outro, nada podemos afirmar, uma vez que possuímos uma ignorância biológica, o que não nos coloca em um tipo de autismo natural. Nesse sentido, podemos afirmar que o fato de nada sabermos sobre o significado das coisas no mundo a princípio nos coloca em uma posição de grande carência. 4.2 RELAÇÃO MÃE E FILHO Em todas as espécies, podemos perceber a capacidade para viver em ajustamento no ambiente no qual pertence. A chamada família nuclear é considerada uma unidade social básica e, em grande parte dos mamíferos, nesse sentido incluindo o homem, é presente um tipo de cuidado chamado cuidado maternal. 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 18/23 Muito desse comportamento maternal preocupa-se em estreitar a aproximação mãe e filho, e para que a distância seja diminuída, ela o mantém em um estreito contato físico, ou muito próximo do seu campo de visão e audição. Portanto, o que chamamos de apego pode ser considerado como uma busca e a manutenção da proximidade de um ser com outro. Por exemplo, uma criança, quando tem a facilidade de ter uma figura de apego, passa pela vivência de sentimentos de segurança e de tranquilidade. E se porventura sente a possível ameaça de uma perda, pode ser capaz de desenvolver uma profunda tristeza e ansiedade na criança. Ainda seguindo essa ideia, podemos compreender que o desenvolvimento da proximidade depende de alguns sinais, tendo como exemplo o choro e o sorriso, que passam a ser eficazes para a realização do contato, fazendo com que os adultos respondam conforme o sinal emitido. Essa proximidade depende de uma relação entre os comportamentos que a criança produz e as respostas que os adultos apresentam, associando a disponibilidade dos seus sinais. Esse apego também pode ser entendido como um modelo de sistema enraizado (biologicamente) no período da infância do ser humano e que está presente durante os 3 primeiros anos de vida. Se considerarmos circunstâncias normais, podemos afirmar que as crianças apresentam mudanças em seu comportamento logo após a passagem da metade de seu primeiro ano de vida. Quando alcança nove meses, começam os protestos frente à separação (distanciamento) de seus educadores/cuidadores, demonstrando assim a plena capacidade de realizar a discriminação deles para com os outros adultos considerados estranhos a ela. Nesse sentido, quando são motivados na criança os estressores como fome, cansaço e medo, a tendência é que a criança se motive a buscar o conforto, a segurança e a nutrição em suas figuras de apego. Podemos assim dizer que, se há uma resposta materna adequada às questões de necessidade da criança (bebê) logo no início de sua vida, posteriormente ocorrerá a formação de muitos outros vínculos sadios, com menor risco de abandono e tristeza. Geralmente a construção do vínculo estabelecido e fortalecido entre mãe e filho está relacionado ao momento em que é ofertado afeto, carinho, amor, descrito também por Winnicott, quando trata da preocupação materna primária, a capacidade que a mãe tem de se dedicar de forma total aos cuidados do seu bebê de se dedicar a ele em função das necessidades percebidas durante a fase inicial da vida do bebê. 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 19/23 TEMA 5 – DIAGNÓSTICO E POSSÍVEL IMPACTO NA ESTRUTURA FAMILIAR Podemos dizer que a primeira dificuldade com que a família irá se confrontar será a do impacto causado pelo diagnóstico do TEA. Logo após a confirmação de que a criança, seu filho, sofre desta perturbação, toda a família, em especial a mãe, fica em estado de choque. Essa é a fase chamada de negação, que tem como característica a defesa temporária, e que mais tarde vem a ser substituída pela aceitação, mesmo que ainda parcial. Assim, a família passa a ter que conviver com algo que não tem cura. Um dos diferenciais considerados na psicopatologia familiar não é considerado uma consequência direta ou uma inesgotável ocorrência de doenças crônicas na família, mas sim é percebida como sendo um processo de como a família realiza o manejo dos estressores (entre outros aspectos). Existe ainda a ideia de que a adaptação da família será equivalente à ausência de uma patologia. A característica maior estará na forma dada à criança e em como a criança comporta-se diante dos desafios que são inerentes a essa situação e para o entendimento do fenômeno. 5.1 QUESTÕES EMOCIONAIS E FAMÍLIA DO TEA Geralmente a família dos indivíduos com TEA se depara com o desafio de ter que se ajustar (planos e expectativas) quanto ao futuro, quanto às limitações desse transtorno, além de ter que se adaptar à intensa dedicação e prestação de cuidados para com as necessidades de seu filho. Essa situação pode desencadear um estressor potencial nos familiares, por estar composta de características clínicas que afetam as condições mentais, comportamentais e algumas vezes físicas, ampliando assim o nível de dependência dos pais. Logo que a suspeita de que a criança não está desenvolvendo de forma neurotípica (que não apresenta distúrbios significativos em seu desenvolvimento), a família começa então a enfrentar desafios que os diferenciam de outros grupos familiares. Essa desordem pode ser emocionalmente difícil aos pais, principalmente depois que a criança é diagnosticada, além do estresse da rotina de diferentes horários de terapias, fazendo quase que um malabarismo com os compromissos da família e com as responsabilidades do trabalho (além de outras questões). 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 20/23 O TEA pode ser um passeio por uma grande montanha russa das emoções, que está presente antes do diagnóstico e se prolonga para o longo da vida. Segundo alguns estudos, mães de crianças com TEA frequentemente apresentam um nível de tensão mais elevado do que o apresentado pela população em geral. Além de apresentarem um maior nível de estresse, grande parte dos pais de crianças com TEA apresentam (ou já apresentaram) emoções como: Ressentimento da criança e da culpa em relação ao ressentimento; Desespero para a natureza da doença incurável; Frustração que a experiência dos pais que têm, não é o que eles previram; Sentimentos de estar sobrecarregado; Alívio por ter um nome para o seu filho enfrentar desafios; Raiva em seu cônjuge, os médicos, ou a si próprios; Sentimentos de isolamento social; Constrangimento no comportamento em público Culpa que algo que eles fizeram pode ter causado desafios de seus filhos. Nesse sentido, no contexto da família, muitas são as situações em que há uma variação entre os momentos de bem-estar e de crise, e a instabilidade que quando o transtorno está presente. Nesse caso, a família acaba por apresentar o sentimento de impotência em seu papel que seria de socializadora e, assim, se torna incapaz de realizar o que se considera socialmente esperado. Além de ter que conviver com essas dificuldades internas (a cronicidade do transtorno), com os sintomas que causam um certo constrangimento social, com o possível rompimento de vínculos e das atividades da família, ainda precisalidar com as questões sociais externas. Nesse sentido, muitas vezes vizinhos, outros parentes ou amigos podem contribuir de forma negativa, sugerindo e levantando questionamentos relacionados ao tratamento, o que pode causar tensão e gerar um desgaste emocional ainda maior. O TEA também tem um impacto, mesmo que indireto, sobre a saúde física dos familiares. Questões como depressão, ansiedade, exaustão podem levar à baixa imunidade e à privação de sono. Isso pode resultar em dificuldades na concentração, em perda de memória e em muitas outras complicações de saúde. Além dessas questões, existem as relacionadas ao impacto financeiro para as famílias de crianças com TEA. Nem todos os planos de saúde cobrem todas as despesas relacionadas as terapias e ao 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 21/23 tratamento do TEA. Segundo estudos realizados nos estados unidos, publicados na revista Pediatrics, ter um filho com TEA resultou em uma perda (em média) de 14% da renda familiar (total). Geralmente torna-se extremamente difícil para os pais (mãe e pai) continuar trabalhando integralmente. Isso significa uma redução na renda dessa família e, em contrapartida, um aumento das despesas. Outra forma em que muitas vezes a família acaba sendo impactada é o estresse adicional aplicado sobre o casamento dos pais. Segundo estudos publicados no Journal of Family Psychology, muitos pais de crianças com TEA apresentaram 9,7% de probabilidade de divorciar-se. Para Batista e Bosa (2002), o TEA afeta também os irmãos neurotípicos. Essas crianças também enfrentam, na sua grande maioria, as mesmas impressões de que o resto da família, porém eles não podem ter o total apoio dos pais que já se encontram sobrecarregados com as necessidades do filho com TEA. Assim, a rivalidade apresentada entre os irmãos pode se tornar mais intensa na família com a união do desenvolvimento típico dos irmãos dos filhos com TEA. Um exemplo disso é pensar que, se a necessidade da criança com TEA é atenção, isso irá se tornar um problema permanente, como muitas vezes ocorre com o TEA, e os irmãos poderão sentir- se deixados de lado, podendo haver a construção de um ressentimento. Porém isso pode resolvido entre os familiares, desde que estes possam controlar outros fatores de estresse. Muitas vezes a chegada de uma criança com alguma deficiência faz com que o clima da estrutura familiar seja transformado e, assim, cada integrante acaba tendo que modificar seus papéis, pois, até isso acontecer, todos estavam seguros e precisaram se adaptar às novas mudanças. Nesse sentido, algumas famílias passam por um processo longo de diagnóstico, assim como outras acabam tendo que esperar um tempo maior por uma consulta. Ainda outras acreditam que tudo foi tão rápido que acabaram tendo pouco tempo para ponderar as questões e ajustar-se emocionalmente à nova situação. NA PRÁTICA Com base nas contribuições dos teóricos estudados para compreender o desenvolvimento humano em suas diferentes facetas e o que conhecemos sobre os métodos, técnicas e programas, 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 22/23 destaque os pontos positivos e negativos das intervenções terapêuticas para o autismo. FINALIZANDO Nesta aula, abordamos as contribuições teóricas de pesquisadores importantes no campo do desenvolvimento humano: Piaget, Wallon e Vygotsky. Vimos também como é a relação da família frente ao diagnóstico do TEA, e como isso pode impactar na estrutura social e afetiva desta instituição. REFERÊNCIAS BAPTISTA, C. R.; BOSA, C. Autismo e educação: reflexões e propostas de intervenção. Porto Alegre: Artmed, 2002. p. 21-40. BOIKO, V. A. T.; ZAMBERLAN, M. A. T. A perspectiva socioconstrutivista na psicologia e na educação: o brincar na pré-escola. Psicologia em Estudo, v. 6, n. 1, Maringá, 2001. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/pe/v6n1/v6n1a07.pdf>. Acesso em: 26 ago. 2020. CORRÊA, C. R. G. L. A relação entre desenvolvimento humano e aprendizagem: perspectivas teóricas. Psicologia Escolar e Educacional, v. 21, n. 3, São Paulo, 2017. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/pee/v21n3/2175-3539-pee-21-03-379.pdf>. Acesso em: 26 ago. 2020. DOLLE, J. M. ara compreender Jean Piaget:P uma iniciação à psicologia genética piagetiana. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. FERREIRA, R. R.; TASSINARI, R. P. Piaget e a predicação universal. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2013 (Coleção PROPG Digital - UNESP). MONTOYA, D. Pensamento e linguagem: percurso piagetiano de investigação. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 1, 2006. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a14>. Acesso em: 26 ago. 2020. NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Teorias da aprendizagem: um encontro entre os pensamentos filosófico, pedagógico e psicológico. 2. ed. Curitiba: InterSaberes, 2015. 24/03/2023, 21:24 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 23/23 OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1993. PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. Rio de janeiro: Zahar, 1975. TAILLE, Y. L.; OLIVEIRA, M. K.; DANTAS, H. D. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 2019. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
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