Buscar

Livro Geovane Scherer v2final3

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 358 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 358 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 358 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Giovane Antonio Scherer
(Organizador)
JUVENICÍDIO, TERRITÓRIO 
E POLÍTICAS PÚBLICAS 
RASTROS DE SANGUE NA CIDADE DE PORTO ALEGRE
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 1Livro Geovane Scherer v2final2.indd 1 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
Copyright © Editora CirKula LTDA, 2022. 
1° edição - 2022
Revisão, Normatização e Edição: Mauro Meirelles
Diagramação e Projeto Gráfico: Mauro Meirelles
Capa: Luciana Hoppe
Impressão: Gráfica da UFRGS
Tiragem: 1000 exemplares pra distribuição on-line
 
Todos os direitos reservados à Editora CirKula LTDA. A reprodução não autorizada desta 
publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais (Lei 9.610/98).
Editora CirKula
Av. Osvaldo Aranha, 522 - Bomfim 
Porto Alegre - RS - CEP: 90035-190 
e-mail: editora@cirkula.com.br
Loja Virtual: www.livrariacirkula.com.br
Este livro foi submetido à revisão por pares, conforme exigem 
as regras do Qualis Livros da Capes.
O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Esta-
do do Rio Grande do Sul - FAPERGS / This study was financed in part by the Fundação 
de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul - FAPERGS.
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 2Livro Geovane Scherer v2final2.indd 2 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
2022
Giovane Antonio Scherer
(Organizador)
JUVENICÍDIO, TERRITÓRIO 
E POLÍTICAS PÚBLICAS 
RASTROS DE SANGUE NA CIDADE DE PORTO ALEGRE
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 3Livro Geovane Scherer v2final2.indd 3 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 4Livro Geovane Scherer v2final2.indd 4 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
Esse livro é dedicado para cada jovem assassinado pela 
dinâmica do juvenicídio nas periferias brasileiras. A 
presente produção, que reflete sobre o rastro de san-
gue deixado pela dinâmica dos homicídios, fala de 
morte para que se possa desnaturalizar a barbárie e 
lutar pela vida!
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 5Livro Geovane Scherer v2final2.indd 5 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 6Livro Geovane Scherer v2final2.indd 6 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
CONSELHO EDITORIAL
César Alessandro Sagrillo Figueiredo
José Rogério Lopes
Jussara Reis Prá
Mauro Meirelles
CONSELHO CIENTÍFICO
Alejandro Frigerio (Argentina) - Doutor em Antropologia pela Universidade 
da Califórnia, Pesquisador do CONICET e Professor da Universidade Católica 
Argentina.
André Luiz da Silva (Brasil) - Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP e 
professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Humano da 
UNITAU.
Antonio David Cattani (Brasil) - Doutor pela Universidade de Paris I, Pós-
-Doutor pela Ecole de Hautes Etudes en Sciences Sociales e Professor Titular 
da UFRGS.
Arnaud Sales (Canadá) - Doutor d’État pela Universidade de Paris VII e Pro-
fessor Titular do Departamento de Sociologia da Universidade de Montreal. 
Daniel Gustavo Mocelin (Brasil) - Doutor em Sociologia e Professor Adjunto 
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Dominique Maingueneau (França) - Doutor em Linguística e Professor na 
Universidade de Paris IV Paris-Sorbonne.
Estela Maris Giordani (Brasil) - Doutora em Educação e pesquisadora da An-
tonio Meneghetti Faculdade (AMF).
Giovane Antonio Scherer (Brasil) - Doutor em Serviço Social pela Pontifícia 
Universidade Católica do Rio Grande do Sul e professor no Instituto de Psico-
logia da Universi-dade Federal do Rio Grande do Sul.
Hilario Wynarczyk (Argentina) - Doutor em Sociologia e Professor Titular da 
Universidade Nacional de San Martín (UNSAM).
Jaqueline Moll (Brasil) - Doutora em Educação, Professora Titular da UFRGS, 
do PPG em Educação em Ciências da UFRGS e do PPG em Educação da URI.
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 7Livro Geovane Scherer v2final2.indd 7 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
José Rogério Lopes (Brasil) - Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Uni-
versidade Católica de São Paulo.
Ileizi Luciana Fiorelli Silva (Brasil) - Doutora em Sociologia pela FFLCH- 
USP e professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Leandro Raizer (Brasil) - Doutor em Sociologia (UFRGS) e Professor da Fa-
culdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Luís Fernando Santos Corrêa da Silva (Brasil) - Doutor em Sociologia 
(UFRGS) e Professor do PPG Interdisciplinar Ciências Humanas da 
Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).
Lygia Costa (Brasil) - Pós-doutora pelo IPPUR/UFRJ e professora da Esco-
la Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio 
Vargas (FGV).
Maria Regina Momesso (Brasil) - Doutora em Letras e Linguística e Professora 
da Universidade do Estado de São Paulo (UNESP).
Marie Jane Soares Carvalho (Brasil) - Doutora em Educação, Pós-Doutora 
pela UNED/Madrid e Professora Associada da UFRGS.
Maurílio Castro de Mattos (Brasil) - Doutor em Serviço Social pela Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo e Professor Associado da Universidade do 
Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Mauro Meirelles (Brasil) - Doutor em Antropologia Social e Pesquisador do 
Laboratório Virtual e Interativo de Ciências Sociais (UFRGS).
Stefania Capone (França) - Doutora em Etnologia pela Universidade de Paris 
X- Nanterre e Professora da Universidade de Paris X-Nanterre.
Tatiana Reidel (Brasil) - Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universida-
de Católica do Rio Grande do Sul e Professora Associada do Departamento de 
Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Thiago Ingrassia Pereira (Brasil) - Doutor em Educação, Professor do PPG em 
Educação da UFFS e do PPG Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFFS.
Wrana Panizzi (Brasil) - Doutora em Urbanisme et Amenagement pela Uni-
versite de Paris XII, em Science Sociale pela Université Paris 1 e Professora 
Titular da UFRGS. 
Zilá Bernd (Brasil) - Doutora em Letras e Professora do Programa de Pós-
-Graduação em Memória Social e Bens Culturais da Universidade LaSalle 
(Unilasalle).
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 8Livro Geovane Scherer v2final2.indd 8 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
Sumário
13
15
23
29
33
53
79
107
Agradecimentos
Prefácio
[Do encontro com José Manuel Valenzuela Arce]
José Manuel Valenzuela Arce
ApreSentAção
Karla Aveline de Oliveira
Um convite à leitura
Ilana Paiva, Gabriel Miranda
notAS introdutóriAS: o Juvenicídio pArA Além dAS “SombrAS”
Giovane Antonio Scherer
Seguindo oS rAStroS de SAngue: AS mArcAS do Juvenicídio nA 
reAlidAde brASileirA e SeuS rebAtimentoS no rio grAnde do 
Sul e nA cidAde de porto Alegre
Giovane Antonio Scherer, Laís Silva Staats 
A (difícil) conSolidAção dA proteção SociAl Juvenil: 
políticAS públicAS de/pArA/com AS JuventudeS 
nA reAlidAde contemporâneA
Maurício da Silva César, Maurício Perondi, 
Monique Fernandes Silveira, Paula de Fátima Moura dos Santos
produção doS territórioS violentAdoS: A tríAde perverSA 
entre gentrificAção, fAvelizAção e Juvenicídio noS 
territórioS com mAioreS índiceS de mortAlidAde Juvenil nA 
cidAde de porto Alegre
Ana Patricia Barbosa, Nicole Kunze Rigon, 
Laura Barcelos de Valls, Giovane Antonio Scherer
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 9Livro Geovane Scherer v2final2.indd 9 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 10Livro Geovane Scherer v2final2.indd 10 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
137
171
205
235
267
301
331
349
A (des)protecão juvenil nos territórios com maiores 
índices de mortalidade em Porto Alegre
Maurício Perondi, Oriana Holsbach Hadler,
Ivana Oliveira Giovanaz, Mariana Porto Ruwer de Azambuja
trAçoS de vidA e morte: percorrendo oS rAStroS JuveniS 
nAS políticAS públicAS
Alex da Silva Vidal, Bruna Rossi Koerich,
Renata Maieron Turcato
“não tem recurSoS prA Juventude”: precArizAção, 
frAgmentAção e AuSênciA de políticAS públicAS
Gisele Ribeiro Seimetz, Cristina BettioBragagnolo
tráfico de drogAS e precArizAção exiStenciAl dAS JuventudeS:Juvenicídio nAS periferiAS do cApitAl
Vanelise de Paula Aloraldo, Cíntia Florence Nunes
criminAlizAção dA pobrezA e Juvenicídio: A violênciA do 
eStAdo penAl em umA conJunturA de (deS)proteção SociAl
Giovane Antonio Scherer 
rAciSmo eStruturAl como pilAr do Juvenícidio: AS fAceS de 
genocídio dA Juventude negrA
Giovane Antonio Scherer, David Petar da Conceição Mantalof
frente de enfrentAmento à mortAlidAde Juvenil: 
SociedAde civil, políticAS públicAS e reSpoStAS coletivAS
David Petar da Conceição Mantalof, Maria Fernanda Landim,
Joice Lopes da Silva, Maurício Perondi 
Sobre oS AutoreS e AS AutorAS
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 11Livro Geovane Scherer v2final2.indd 11 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 12Livro Geovane Scherer v2final2.indd 12 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
13 
AgrAdecimentoS
A construção do presente livro se constitui como produto de um 
resultado coletivo que contou com a participação de um grande número 
de sujeitos e instituições que contribuíram para que essa pesquisa pudes-
se ocorrer. Agradecemos a Fundação de Amparo a Pesquisa no Rio Gran-
de do Sul – FAPERGS, pelo recurso aplicado na investigação por meio 
do Edital ARD 2019. O presente recurso foi essencial para a construção 
da investigação e a produção deste livro. 
À equipe da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre/RS 
que trabalha na produção dos dados do Sistema de Informação de Mor-
talidade – SIM, em especial Simone Lerner e Patrícia Conzatti Vieira. 
Agradecemos aos profissionais Marta Nileni Alves Gomes, Eliane 
Teresinha Mombach, Adriana Possas Mesenburg, Artur Prati Neto e Ivo-
nize Nascimento Albino da Fundação de Atendimento Socioeducativo 
do Rio Grande do Sul (FASE-RS); Maria Fernanda Landim, David Pe-
tar da Conceição Mantalof e Mariana Ruwer Azambuja da Fundação 
de Assistência Social e Cidadania de Porto Alegre (FASC); Joice Eliane 
Lopes da Silva, da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre 
(SMED); Cristiane Gobbato, da Secretaria Estadual de Educação (SE-
DUC-RS); Salete Basso de Lima Alminhana e Ana Cristina Medeiros de 
Lima, do Conselho Tutelar de Porto Alegre. 
Nossa profunda gratidão a todas as equipes: do Centro da Ju-
ventude – CJ do bairro Restinga em Porto Alegre/RS, em especial ao 
Pablo Geovani dos Santos (Coordenador Centro Juventude Restinga) 
e Patrícia Lane Reis (Diretora Técnica Amurt-Amurtel). A equipe do 
Centro da Juventude – CJ da Lomba do Pinheiro em Porto Alegre/
RS, em especial para Everton Silveira (Diretor Pedagógico), Frei Lu-
ciano Elias Bruxel (Diretor Geral) e Paula de Fátima Moura dos San-
tos (Coordenadora Geral Centro da Juventude/Lomba do Pinheiro). À 
equipe do Centro Cultural Marli Medeiros, instituição que desenvolve 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 13Livro Geovane Scherer v2final2.indd 13 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
14 
o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – Projovem no território 
da Região Norte de Porto Alegre, em especial André Luís dos Santos 
Teixeira (Coordenador Técnico). 
 Agradecemos, também, a todos que contribuíram de forma di-
reta ou indireta com a investigação. Em especial aos autores dos capítu-
los que traduziram, por meio de sistematizações científicas, a luta pela 
vida das juventudes. Por fim, em especial, queremos agradecer a todos 
os participantes da pesquisa, que puderam contribuir com suas percep-
ções e histórias de vida para que a presente pesquisa pudesse ocorrer. 
Agradecemos, sobretudo, aos jovens, familiares de jovens e trabalhado-
res das políticas públicas pelos relatos orais. Suas vozes foram e são fun-
damentais nessa construção. Em tempos de sufocamentos e mordaças, 
tais vozes são gritos necessários para esperançar diante da barbárie! 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 14Livro Geovane Scherer v2final2.indd 14 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
15 
prefácio
do encontro com 
JoSé mAnuel vAlenzuelA Arce
José Manuel Valenzuela Arce é mexicano, do norte do México, da 
fronteira com os EUA. Dediquei boa parte de sua vida ao trabalho de or-
ganização de comunidades e de trabalhadores. Foi operário desde muito 
pequeno, desde os seus 16 anos, em uma grande empresa de cervejaria, 
da linha de produção, e depois se dedicou muito tempo ao trabalho de 
organização de operários e de comunidades. Seu ingresso no mundo aca-
dêmico foi muito acidental, por acidente, pois como ele mesmo diz: De 
fato, comecei a trabalhar e escrever meus primeiros dois livros antes de 
entrar na Universidade. 
Seu primeiro livro sobre jovens se chama A la brava ése!: cholos, 
punks, chavos banda, o qual, foi escrito com quinto grau preparatório, e 
depois, logo em seguida, como ele mesmo coloca, se entregou ao mito 
acadêmico – a sua mitopráxis – uma vez que, havia sido tirado da fábrica 
de onde trabalhava e fazia trabalho político. E, assim, a partir dos anos 
de 1980, começou a trabalhar com movimentos juvenis, sobretudo com 
jovens dos bairros precarizados. 
Era o grande movimento dos Cholos. Jovens descriminalizados 
que vinham do fenômeno do Pachuco dos anos de 1940 e 1950, pois 
havia uma série de medidas nesse momento que buscavam não somente 
criminalizar, senão, justificar o assassinato de muitos destes jovens. No 
caso de Cholismo que foi massivo no Norte Mexicano e no Sul dos EUA, 
a intenção era legitimar ataques racistas, baseando-se no suposto comba-
te contra os Cholos que representavam a encarnação de um mal pré-cri-
minalizado. Estes cenários eram brutais. Este tipo de cenário de crimi-
nalização era muito forte e através de sua midiatização busca-se justificar 
medidas e mecanismos punitivos contra os jovens. Foi tendo por base 
esse pano de fundo que, Valenzuela Arce, começou a fazer seu trabalho 
com jovens dos bairros populares no Norte Mexicano e depois no resto 
do país, os chamados CHAVOS BANDA, e, posteriormente, ampliando 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 15Livro Geovane Scherer v2final2.indd 15 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
16 
para outros contextos, como é o caso do Rio de Janeiro quando, este, de 
ocupou de estudar as favelas e o Movimento Funk. 
No início de 2010, passou a se ocupar mais com o tema de femini-
cídio que, nesse momento, era muito visível em função do caso da cidade 
de Juárez por o que envolvia “As Mortas de Juárez”, ou seja, uma série 
de mulheres desaparecidas e assassinadas. Nesse momento, o conceito de 
“Mortas de Juárez” era uma palavra que convocava a condolência, que 
convocava o agravo, a dor ou a tristeza, mas que não implicava em um 
ato homicida e tão pouco implicava em responsáveis. E, então, a partir 
do que foi um conceito da literatura estadunidense no século 19, “Fe-
micide” de Diana Russell, este, vai adquirindo novos contornos e a ser 
usado para designar os casos que envolviam o assassinato sistemático de 
mulheres. Nasce aí o conceito de feminicídio. 
Mauro Meirelles: E ideia de juvenicídio, vem de onde, como construíste 
o conceito?
Valenzuela Arce: Trabalhar com o tema feminicídio na cidade de Juárez 
neste período, era colocar acento e dar destaque que o feminicídio im-
plicava em ato homicida e, em considerar, ao ator do homicídio como 
alguém quer não deveria ser objeto de condolência. Tal movimento 
implicava, portanto, na possibilidade de se construir uma ação política 
em torno de um evento de ordem social que neste caso teria que ver 
com a violência de gênero. Como primeira abordagem, poderíamos di-
zer que a partir desta perspectiva de feminicídio, eu trabalhei desde en-
tão com uma perspectiva de feminicídio como ato limite, ato misógino 
ao limite que arrebata a vida das mulheres. Então, o que me parece que 
é central, mais que o ato homicida são os processos de precarização da 
vida que possibilita que certas pessoas, com certas características, sejam 
assassinadas. Era preciso focar na violência e, com isso, constatei que a 
principal causa de morte de jovens na América Latina são as violências 
onde, o assassinato prematuro,sujo e sistemático de jovens, me pos-
sibilitou ampliar os horizontes e aquilo que já estava trabalhando em 
relação as mulheres, mas agora, me ocupando dos jovens, de processos 
de juvenicídio. 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 16Livro Geovane Scherer v2final2.indd 16 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
17 
Maurício Perondi: Mas então, onde estaria o ponto de partida de tal 
abordagem e modo de pensar o juvenicídio?
Valenzuela Arce: Acredito que a ordem patriarcal é o ponto de partida 
indispensável para entender o feminicídio. A articulação da ordem pa-
triarcal com a ordem capitalista, essa é a segunda grande ordem que nos 
permite compreender como estamos vivendo e a terceira, obviamente, 
passa pelo Colonial. São elementos que se trabalham de forma muito 
apropriada no livro que vocês estão por publicar. Este livro que realiza-
ram: Juvenicídio, território e políticas públicas no rosto de sangue na cidade 
de Porto Alegre, porque me parece que esta tese se coloca de maneira mui-
to clara e que não somente os coloca como elementos de uma plataforma 
heurística-interpretativa, mas que, também é um trabalho organizado a 
partir de uma vinculação muito importante entre a informação socio-
lógica, o trabalho etnográfico, as histórias de vida e o que são os regis-
tros, os informes oficiais e institucionais que permitem, definitivamente, 
construir uma interpretação muito digna para entender estes processos 
de precarização da vida dos jovens no Brasil e quais são os elementos que 
os definem, que lhes caracterizam. Dito isto, para mim, dentro do que 
foi o desenvolvimento de conceito de juvenicídio, resultava em colocar 
uma grande importância nisto, na articulação dos elementos que pos-
sibilitam o assassinato de jovens, como ocorre no caso do feminicídio. 
Então, definitivamente, o conceito de juvenicídio surge a partir deste 
trabalho realizado em 2012, intitulado “Sed de Mal”, o qual, buscou 
explorar e refletir sobre essa realidade de vulnerabilidade, de desamparo, 
de assassinato e mortes sistemáticas de jovens. 
Acredito que um dos grandes acertos do livro que vocês estão pro-
pondo é que ele coloca de maneira muito evidente, por um lado, o que 
são os elementos de ordem sócio-histórico e cultural econômico que de-
finem as trajetórias de vida e as obliterações das trajetórias de vida dos jo-
vens no Brasil. E, por outro lado, a regionalização que é muito pertinen-
te, no caso de Porto Alegre, pois, vocês estão realizando e tecendo enlaces 
entre a dimensão nacional e a dimensão regional. Em terceiro lugar colo-
ca, destaco a condição de proxêmica que me parece fundamental a partir 
de um pouco do que vocês utilizam, não tão forte, mas basicamente na 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 17Livro Geovane Scherer v2final2.indd 17 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
18 
abordagem da nova chamada sociologia francesa, ou seja, da compreen-
são de espaço vivido, de espaço concebido e de espaço representado; mas 
também, como efetivamente a construção social do espaço, do território, 
do espaço habitado por esses jovens é uma expressão das relações sociais 
que os constituem. Isso me parece uma parte muito importante do traba-
lho de vocês que vão desenvolvendo, porque efetivamente não é mais um 
tema da criminalização de certos grupos juvenis, senão, como um con-
junto os âmbitos (bi)proxêmicos em que eles habitam que implicam em 
formas de relações sociais precarizadas e estigmatizadas que os colocam 
em condição de vulnerabilidade e em situação de desamparo. 
Também colocam o que seria a vulnerabilidade específica que 
fazem os jovens desde esta condição de juvenicídio onde há ordena-
mentos racializados. Por isso, me parece muito importante o questio-
namento que vocês fazem a esta ilusão da democracia a partir de uma 
suposta, digamos, igualdade desatenta das diferenças a partir da descri-
ção racializada, como tem sido e questionado no caso de outros países 
latino-americanos, o mito de miscigenação, como se tudo de repente 
entrasse nessa ordem. Também é interessante o modo como vocês abor-
dam a questão de gênero e condição LGBTQIA+ como um elemento 
muito importante para compreender esse processo de articulação que 
para mim seria central.
Assim, o que posso dizer é que estamos frente a processos amplos 
de juvenicídio que só podemos entender através destas lógicas articu-
ladas quando se conjugam repertórios sociais identitários precarizados 
que são os que permitem e possibilitam esta morte suja, precoce, siste-
mática, persistente de jovens em nossos países. Isso é o que eu poderia 
dizer de entrada.
Mauro Meirelles: Manuel, gostaria de perguntar duas questões. Uma 
é pensar, do ponto de vista de Achille Mbembe, da necropolítica. Nós 
podemos dizer que a morte se mostra de modo geracional. Primeiro se 
matam as mães e, depois, os filhos destas que habitam sobre o território. 
E, como diria Goffman, é como se as crianças nascessem com uma marca 
corporal, porque nasceu sobre esse território, então, será morto. E que 
hoje, pelo ponto de vista política, da política e da polícia, se vê como algo 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 18Livro Geovane Scherer v2final2.indd 18 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
19 
natural, que determinado território seja território de morte. É possível 
dizer que desde esse ponto de vista o juvenicídio é uma forma de con-
trole – de um estética da existência, como diria Foucault – e, portanto, o 
viver desses jovens é uma forma de resistência e nesta direção poderíamos 
pensar também que mais adiante aqueles jovens que resistem, ou seja, 
não morrem, seriam aqueles que no campo da política, educação, se tor-
naram os defensores dos mortos, com vista a se garantir uma mudança 
futura em que a morte dos jovens e das mulheres não seja vista de uma 
forma banal e, sim, como problema sociológico. Nesse ponto, gostaria de 
pensar em relação a esse movimento, ao mesmo tempo que eles morrem, 
aqueles que vivem, pensam sobre isto, não? 
José Manuel Valenzuela Arce: O conceito de estigma que trabalha Er-
ving Goffman, de fato, no primeiro momento tem como objetivo criar 
certas marcas com as quais se significava certos corpos com penalizações, 
os tornando corpos proscritos que vão além do raspar a cabeça no caso 
dos presos no presídio, de formas de identificação, estamos aqui falando 
de marcas culturais que geram identidades desacreditadas. Diante disso, 
tem-se que estes jovens afro, primeiro pela cor de pele e, depois, pela 
mera condição de pobreza, são criminalizados sem que necessariamente 
cometam nenhum tipo de delito, de fato, como coloca Mauro. Então, 
como coloca Achille Mbembe, de fato, o que temos é que estas formas, 
estas perspectivas estigmatizantes operam na construção do que seria a 
significação dos corpos prescindíveis. São construções culturais baseadas 
em preconceito, esta ideia antecipada, esta pré-noção, esta construção 
baseada na ignorância, quando muitas vezes essas pessoas não conhecem 
a esses outros e essas outras, mas tem já um posicionamento sobre eles. 
E, portanto, estamos frente a estereótipos. 
Já o racismo tem a ver com formas de relações estruturadas, ins-
tituídas e estimuladas a partir da qual um grupo social, as quais, tem a 
capacidade de produzir e reproduzir uma condição de desigualdade e de 
subalternização de outro grupo social. O racismo não é só uma perspec-
tiva, é uma forma de organização social que através sua reprodução e do 
uso de narrativas de miscigenação cultural serve unicamente para ocultar 
essa forma de dominação e subalternização de uma classe sobre a outra. 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 19Livro Geovane Scherer v2final2.indd 19 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
20 
No livro de vocês, isso é muito bem trabalhando quando vocês 
demonstram que ainda persistem na sociedade brasileira muitas formas 
inerciais de desigualdade social construídas a partir de um processo de 
racialização da pobreza e da cor da pele que servem apenas para fortale-
cer acondição prescindível de certos setores sociais e fortalecer esta ideia 
que as vidas destes jovens efetivamente não importam, pois eles, se pode 
matar que não acontece absolutamente nada. E mudar isso, passa efeti-
vamente por se pensar as próprias políticas de Estado em relação a esses 
grupos sociais tidos como prescindíveis, de grupos sociais tidos como 
precários, de grupos sociais marcados vulnerabilidade social e por sua cor 
da pele. Assim, quando observamos os testemunhos, as histórias de vida, 
as narrativas que vocês recuperam neste importante trabalho e aproveito 
e abro um parêntese para dizer que considero que Juvenicídio, território 
e políticas públicas. Rastros de sangue na cidade de Porto Alegre é uma obra 
fundamental para a compreensão não somente do que são os processos 
de precarização da vida e da morte que ocorrem em Porto Alegre e no 
Brasil, senão uma obra fundamental para compreender grande parte do 
que seriam estes traços de sangue e fogo, esses traços de sangue e lodo, 
traços esses que definem a precarização da vida e o assassinato sistemático 
de jovens na América Latina. 
Portanto, o que quero destacar aqui antes de encerrarmos é que 
essa obra tem um tramado teórico conceitual muito bem elaborado, 
muito claro e pertinente com as apostas metodológicas, as abordagens 
metodológicas desde as quais se constroem este conhecimento dialógico, 
não é uma obra extrativista, é um trabalho bem pensado, trabalhado, no 
qual se faz e se pensa a realidade a partir do acompanhamento dos atores 
sociais com os quais trabalham. 
E, de fato, a potência dessa obra reside na sua reflexividade e no 
fato de romper com as ferramentas utilizadas tradicionalmente pela aca-
demia. Está é uma obra pensada desde as lógicas de horizontalidade onde 
se busca com isso se romper as formas heteronômicas de pensamento e si-
tua-se numa perspectivas de construção de pensamento, de reflexão com 
as/os jovens dos bairros precarizados no Brasil, das/os jovens favelados, 
e as experiências que deles emanam, suas narrativas, seus testemunhos, 
mas também os testemunhos de suas famílias, daqueles com os quais 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 20Livro Geovane Scherer v2final2.indd 20 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
21 
eles vivem. Portanto, eu lhes diria que este trabalho se deve recomendar 
de maneira muito ampla para uma leitura não somente para os leitores 
acadêmicos, não somente para os pesquisadores do tema juventude, mas 
também para aqueles que trabalham no campo dos estudos sobre a cida-
de, sobre os bairros e os territórios, nos temas da proxêmica social, mas 
também para quem trabalha o tema da Educação, algo vocês discorrem. 
Uma vez que, em muitos casos, a Educação tem servido como um dispo-
sitivo da produção e reprodução da desigualdade social, como também 
nos demonstram que os presídios, estas máquinas punitivas de que nos 
fala Foucault efetivamente também funcionam como um maquinário, 
mas o que fazem, é, apenas, reproduzir o que seria uma interminável ca-
deia de criminalização das pessoas pobres e com corpos racializados que 
passam por esses espaços do presídio, porque, efetivamente, o presídio e 
o estigma de presídio nunca terminam.
Maurício Perondi: Muito obrigada, professor Valenzuela, pelas suas pa-
lavras acerca da produção do livro. Sabes que para nós, é uma inspiração, 
tanto pelo conceito na investigação, o livro Juvenicídio, que tenho aqui 
é uma inspiração para nós. E penso também que nós temos, assim como 
em quase toda a América Latina, um problema muito grande que é gera-
do por toda esta complexidade...
José Manuel Valenzuela Arce: Obrigada, Maurício. Assim, espero que 
assim como o meu livro inspirou vocês, o de vocês, inspire outros. Uma 
boa leitura a todos.
José Manuel Valenzuela Arce
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 21Livro Geovane Scherer v2final2.indd 21 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 22Livro Geovane Scherer v2final2.indd 22 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
23 
ApreSentAção
 
 Karla Aveline de Oliveira1
 
Pensar Porto Alegre reparando, com acuidade, nos rastros de san-
gue que escoaram/escoam em seus territórios desde sua fundação – e lá 
se vão 250 anos – pode ter como pano de fundo áudio amplamente di-
vulgado através do WhatsApp, no mês de março do corrente ano, dando 
conta do início de mais uma violenta guerra dos coletivos criminais que 
exploram o narcotráfico na capital gaúcha. O recado que nos informa 
do início de outra intensa disputa por domínio territorial, disseminada 
em mais de 17 bairros, vilas e comunidades porto-alegrenses, com insta-
lação de toque de recolher, deslocamentos forçados, atentados, despejos 
de corpos dilacerados em cemitérios clandestinos ou no “Rio Guaíba”, 
cancelamento de atividades comunitárias, entre outras violências, fina-
liza com a ameaça de que, enquanto determinada facção não tomar o 
território dominado pela outra, a guerra persistirá. 
Ainda sob o impacto dessa comunicação, recebi a notícia, em um 
dos processos que estão sob minha jurisdição, da entrada de mais de um 
adolescente, ferido com arma de fogo, em um hospital da cidade. É desse 
sangue ainda morno, denso, que escorre sem cessar, escondido de modo 
proposital por e para alguns, e alardeado, nas redes sociais para outros, 
que a presente pesquisa vai se debruçar, pensando como o juvenicídio – 
esse processo que implica em condições precarizadas e persistentes que 
têm custado a vida de centenas de milhares de jovens, tem relação com a 
ausência/insuficiência de políticas públicas nas comunidades.
Segundo Renato Dornelles e Tatiana Sager, produtores do pre-
miado documentário Central e escritores do livro Paz nas Prisões Guer-
1 Juíza da 3º Vara da Infância e Juventude de Porto Alegre. Especialista e Mestre em 
Derechos Humanos, Interculturalidad Desarrollo - Universidad Pablo de Olavide, Se-
villa, España.
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 23Livro Geovane Scherer v2final2.indd 23 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
24 
ras na Ruas (Porto Alegre, Falange Produções, p. 50, 2021), em 2016, 
as quadrilhas e facções haviam se expandido por Porto Alegre e demais 
cidades da região metropolitana, a ponto de estarem presentes em pelo 
menos 38 bairros, de um total de 81, incluídos os mais populosos, 
afetando, assim, direta ou indiretamente, cerca de 900 mil pessoas, ou 
seja, 64% dos moradores da capital sofriam e/ou sofrem as consequên-
cias dessa situação.
A inexistência de políticas públicas intersetoriais e eficazes, em um 
horizonte de crescimento do número de mortes da juventude negra e 
periferizada (tanto que já se denuncia o genocídio da juventude negra 
desde, pelo menos, 1978) e de encarceramento juvenil por envolvimento 
de adolescentes com o narcotráfico, merece ser pensada criticamente. 
Nesse contexto de precarização de vidas, as desigualdades raciais 
nos falam de encarceramento e morte de pessoas não brancas e passam 
a fazer sentido quando se pensa no projeto colonial do Século XVI que 
se estende ao presente momento – ano de 2022. Diversos indicadores 
sociais demonstram que há um lugar específico designado à população 
negra na sociedade brasileira, qual seja, sem emprego ou subocupada, 
com alto índice de analfabetismo, sem ocupar cargos de poder ou de 
saber, presa ou morta: desumanizada, hierarquizada, empobrecida e sob 
intenso controle social. Cabe aqui a pergunta: qual o papel dos brancos 
e brancas nesse cenário? Antes e agora?
Apesar da superação do conceito da superioridade racial desde o 
ponto de vista biológico, ou seja, mesmo tendo em conta que a ciên-
cia demonstrou, à saciedade, que raça não existe e que são irracionais 
as crenças baseadas na superioridade e inferioridade raciais dos grupos 
humanos, a raça continua sendo o elemento chave no processo de hierar-
quização entre as pessoas, sobretudo desde a escravidão.
Assim, impõe-se visibilizar que, quanto ao recorte racial, no âmbi-
to sul-rio-grandense,levando-se em conta os dados compilados no Plano 
Decenal do RS, entre os anos de 2002 e 2016, 53% dos adolescentes 
que cumpriram medida socioeducativa eram brancos; 16% pretos e 18% 
pardos. Contudo, adolescentes brancos representam 76% da população 
gaúcha, ao passo que pretos correspondem a 6,2% e pardos a 17,3%, de 
modo que os pretos, seguidos dos pardos, proporcionalmente, são os que 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 24Livro Geovane Scherer v2final2.indd 24 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
25 
mais ingressam no sistema socioeducativo. Também os dados do Atlas 
da Violência 2019 e do Mapa do Encarceramento Juvenil, evidenciam 
importante paralelo entre as mortes e o encarceramento de dezenas de 
milhares de jovens negros com a atividade desenvolvida pelas organiza-
ções criminosas que exploram o narcotráfico. 
Os valores produzidos e reproduzidos mediante o uso da violên-
cia, aliados à produção de consensos a respeito da “raça negra” forjaram 
e mantêm um mundo onde se naturalizou a existência de raça como 
elemento central de controle social, como, por exemplo, observa-se do 
fenômeno do superencarceramento no Brasil ou nos Estados Unidos da 
América resultado da construção da figura do homem negro como in-
dolente, violento e perigoso, construção que se dá através da estética 
racista, da literatura racista, dos cientistas racistas e de todo esse processo 
histórico de violência desumanizadora. 
Por tudo, impõe-se afastar-se da leitura particular e parcial da rea-
lidade que não leva em conta o racismo institucional, o racismo estru-
tural e o quanto a construção social da raça negra têm implicação no 
encarceramento e morte da juventude negra. Como se extrai, todas as 
vidas, brancas e negras, estão imbricadas em um mesmo processo já que 
presente uma relação assimétrica de poder em que o grupo racial domi-
nante – o branco – permanece usufruindo, historicamente, de vantagens 
e privilégios materiais e imateriais às custas do sofrimento, da exclusão, 
da opressão e da violência produzida contra o povo negro. 
Nesse sentido, parece importante perquirir como o Direito Penal 
(e juvenil), próprio de um estado policialesco, absolutamente violento e 
violador de direitos, sustentando como bandeira a chamada “Guerra às 
Drogas”, construiu o traficante de drogas como inimigo número um da 
sociedade, seja ele criança, adolescente ou jovem e como as instituições 
que compõem o sistema de justiça predominantemente branco (Polícia, 
Ministério Público e Poder Judiciário) produzem e reproduzem subjeti-
vidades que simplificam de modo radical situações complexas e passam 
a entender que a criminalização e o encarceramento poderão erradicar as 
drogas do planeta, tal qual a estratégia de repressão com foco na redução 
da oferta de drogas ilícitas, combate à produção e comercialização, elabo-
rada por Richard Nixon, em 1971, então Presidente dos Estados Unidos. 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 25Livro Geovane Scherer v2final2.indd 25 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
26 
E nessa simplificação, matar e encarcerar a juventude empobrecida, 
em sua maioria negra, que vive em um contexto de violação de direitos em 
face da insuficiência das políticas públicas nos territórios, como a presente 
pesquisa sobejamente demonstrou, apresenta-se desejável ou razoável. 
O laudo de necropsia, a que chamo as pesquisas que ora são apresen-
tadas, atentando-me à linha de investigação desse espesso rastro de sangue 
que mancha indelevelmente a consciência de todos e todas, revela a inefi-
ciência/insuficiência das políticas públicas em Porto Alegre e escancara as 
consequências nefastas que ceifam vidas e ferem de morte um projeto de 
nação que já se pretendeu emancipadora, democrática, igualitária, justa, 
como se vê do idílico preâmbulo da Constituição Federal de 1988.
Nessa linha de raciocínio, permito-me responder em face do pri-
meiro quesito do laudo de necropsia – “se houve morte?”, SIM, centenas, 
talvez milhares; ao segundo quesito – “qual a causa da morte” e ao ter-
ceiro quesito – “qual instrumento ou meio que produziu esta morte?”, 
menciono, procurando desvendar outras realidades dessa Porto não tão 
Alegre, documento produzido e apresentado aos/a candidatos/a ao car-
go de Prefeito/a em 2020, pelo Conselho Gestor do Serviço de Medidas 
em Meio Aberto de Porto Alegre intitulado “Pacto pela Socioeducação”, o 
qual, ao se referir às políticas públicas que os adolescentes em cumprimen-
to de medida socioeducativa em meio aberto necessitam acessar, retrata as 
deficiências da rede (PACTO PELA SOCIOEDUCAÇÃO, 2020)2.
O estudo lembra que a dificuldade de acesso ao trabalho e renda 
e a falta de investimentos em políticas públicas de proteção social impacta 
diretamente a população periferizada, em especial, jovens, mulheres e 
população negra, ressaltando que os jovens estão alijados do trabalho em 
maior proporção, a indicar a necessidade de que esforços e recursos se-
jam empreendidos para garantir a inserção dos adolescentes e jovens nas 
diversas políticas públicas necessárias para a construção dos seus projetos 
de vida e exercício da cidadania. 
O Conselho Gestor, na Carta, sustenta a necessidade de fortaleci-
mento da política pública de assistência social prevenindo, assim, situações 
de risco social; da política pública de educação, garantindo aos jovens a esco-
2 Disponível em: https://www.tjrs.jus.br/static/2020/11/PACTO-PELA-SOCIOE-
DUCAC%CC%A7A%CC%83O-1.pdf
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 26Livro Geovane Scherer v2final2.indd 26 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
27 
larização, com foco específico na evasão escolar e com vistas à diminuição 
da distorção idade/série (nos CREAS de POA percebeu-se que 74% dos 
jovens ali atendidos encontram-se com distorção idade/série); da política 
de saúde, em especial na política de Saúde Mental, em razão da falta de 
perspectiva dos adolescentes e jovens das comunidades empobrecidas e pe-
riferizadas, circunstância que agrava o risco de suicídio, de depressão e de 
abusivo uso de álcool e substâncias psicoativas, da política de qualificação 
e inserção profissional, ainda mais quando todas as estatísticas demonstram 
que adolescentes em situação de vulnerabilidade social (em sua maioria 
do sexo masculino, negros e moradores da periferia) são os que, em maior 
número, restam cooptados pelas organizações criminosas que exploram o 
narcotráfico para trabalhar em uma das piores formas de trabalho infantil, 
segundo Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil (Lista TIP) e Con-
venção 182 da OIT; da política de cultura, lazer e esporte, propiciando o 
acesso a programações culturais, teatro, literatura, dança, música, artes, 
com construção de espaço que oportunize vivência de diferentes atividades 
culturais e artísticas que favoreçam à qualificação artística.
Especificadamente, quanto à intersecção entre tráfico de drogas e 
adolescências, analisada sob o amplo prisma que o conceito de juveni-
cídio proporciona, verifica-se como a juventude brasileira, sem acesso a 
outros meios de sobrevivência e sujeita às políticas públicas ineficientes/
inexistentes, serve de força de trabalho para grandes organizações crimi-
nosas e encontra remuneração, encarceramento e morte nessa atividade 
considerada uma das piores formas de trabalho infantil! 
É absolutamente premente que se discuta sobre tal prática que 
produz morte e encarceramento da juventude racializada, periferizada 
e empobrecida desse país, ainda mais quando cabe às instituições que 
formam o sistema de justiça,  enfrentar juridicamente,  alijando-se dos 
seus preconceitos, visões distorcidas e discriminatórias de mundo, o fato 
incontestável de que a prática do tráfico de drogas, consistente na explo-
ração por parte das organizações criminosas, do trabalho de crianças e 
adolescentes desassistidos pelo Estado, constitui-se em trabalho infantil. 
Aliás, de ressaltar que o Brasil, ao assinar a Agenda 2030 (Objetivos de 
Desenvolvimento Sustentável), aprovadapelas Nações Unidas em 2015, 
comprometeu-se em erradicar todas as formas de trabalho infantil até 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 27Livro Geovane Scherer v2final2.indd 27 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
28 
2025 (Objetivo 8.7), contudo, segue a juventude racializada, empobre-
cida e periferizada sendo duplamente penalizada, em desacordo com o 
regramento legal, tudo a refletir valores e práticas de um passado recente 
e nada glorioso, regido pelo antigo Código de Menores, pois, mantém-se 
a visão punitivista e olvidam-se das medidas protetivas e das políticas 
públicas de Assistência Social. 
Por fim, seguindo a linha de raciocínio do laudo de necropsia que 
investiga o juvenicídio em Porto Alegre, através da licença metafórica 
que o título do presente livro me convocou, em relação ao quarto que-
sito – “se foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia 
ou tortura, ou por meio insidioso ou cruel (resposta específica): sim, a 
resposta é sim. Centenas, milhares de mortes provocadas por ASFIXIA; 
provocadas pelo neoliberalismo, pelo racismo estrutural, pelo racismo 
institucional, pelo machismo, entre outras tantas causas amplamente dis-
secadas nas pesquisas aqui produzidas, cujo substrato ora apresento aos e 
às atentos/as leitores/as.
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 28Livro Geovane Scherer v2final2.indd 28 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
29 
um convite à leiturA 
Caros/as leitores/as,
O livro “Juvenicídio, Território e Políticas Públicas: rastros de san-
gue na cidade de Porto Alegre”, organizado pelo Dr. Giovane Antonio 
Scherer, constitui-se como uma obra imprescindível para o debate sobre 
juventude(s) e violência. Ao longo dos dez capítulos que compõem o pre-
sente trabalho, é possível encontrar um conjunto de textos que se destacam 
tanto por um elevado rigor teórico-conceitual quanto pelo trato de temas 
que apresentam profunda relevância social no contexto brasileiro, marca-
do pelo aprofundamento das condições que conduzem largos setores da 
juventude a processos de mortificação simbólica, social e biológica.
Assim, utilizando como eixo central os dados referentes à letalida-
de juvenil em Porto Alegre nos últimos dez anos, os capítulos da presente 
obra nos fornecem um qualificado diagnóstico acerca das determinações 
que se encontram involucradas com o juvenicídio na referida capital. 
Todavia, o esforço empreendido em perceber de que maneira o universal 
e o singular se relacionam fazem desta obra uma produção não apenas 
local e contemporânea, mas com importantes subsídios para auxiliar na 
compreensão de distintos cenários – no Brasil e além – e em diferentes 
tempos históricos. 
Dentre os inúmeros predicados que podem ser atribuídos ao pre-
sente livro, destaca-se o esforço realizado para retirar o juvenicídio das 
sombras, isto é, colocá-lo em uma posição central nos debates públicos e 
acadêmicos acerca da distribuição desigual da violência. Tal empreendi-
mento implicou tanto colocar em evidência esse perverso processo social 
– por vezes invisibilizado – quanto expor a maneira como ele se encontra 
atrelado às contradições do capitalismo brasileiro. 
Desse modo, seguindo os rastros de sangue deixados na cidade 
de Porto Alegre, o livro destaca o processo de precarização das políticas 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 29Livro Geovane Scherer v2final2.indd 29 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
30 
sociais endereçadas à juventude, bem como a consequente intensificação 
dos aparatos penais de controle penal do refugo da sociedade de mer-
cado e das expressões da assim chamada “questão social”. Conforme é 
demonstrado no decorrer da obra, a juventude pauperizada se constitui 
como principal agente social alvo desse processo, que tem o seu itinerário 
marcado por uma relação de iminência com a morte, seja pelas precárias 
condições de vida, pela militarização da questão social ou pelo racismo, 
que impõe a jovens não brancos uma condição contínua de risco. 
Dessa maneira, retirando o juvenicídio das sombras, vê-se como o 
modo de produção capitalista, o avanço do neoliberalismo, a consolida-
ção dos mecanismos de gestão penal da pobreza, a política proibicionista 
de drogas, a política urbana da segregação e o racismo são mediações 
que se relacionam com os rastros de sangue da juventude pobre e negra, 
seja em Porto Alegre, seja em outras cidades brasileiras ou até mesmo 
em becos e vielas da América Latina que permanecem encobertos pelas 
sombras da indiferença.
Juvenicídio tem sido o termo que diversos especialistas têm utili-
zado para compreender e denunciar o assassinato sistemático de jovens. 
Trata-se de uma plataforma acadêmica, ética e política para assinalar o 
que está ocorrendo com mortes prematuras de jovens no Brasil e em 
toda a América Latina. Importa aqui estudar e desvelar os contextos que 
possibilitam que atos homicidas contra jovens ocorram e que sigam se 
reproduzindo, sem o devido direito à reparação, memória e justiça. 
Como dissemos, o que está no centro desses fenômenos são os 
marcos de precarização da vida, nas suas mais diversas formas: desigual-
dade estrutural, pobreza e racismo estrutural, precarização no acesso à 
justiça e às políticas sociais. Além disso, ressalta-se a precarização simbó-
lica, tendo em vista que os jovens que mais morrem de “morte matada” 
são profundamente criminalizados, convertidos em extermináveis, matá-
veis, não sujeitos. 
A origem do conceito está inspirada nas discussões sobre os Fe-
minicídios na Ciudad Juárez e suas derivações na América Latina, bem 
como no assassinato dos 43 estudantes de Ayotzinapa no México. Na 
discussão sobre o juvenicídio, reconhece-se, também, a importância de 
colocar no centro do debate o assassinato sistemático e persistente de jo-
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 30Livro Geovane Scherer v2final2.indd 30 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
31 
vens, buscando desnudar as raízes profundas dessa violência, imbricadas 
com anos de precarização de vida a qual são submetidos os jovens latino-
-americanos. Jovens que vivem no fogo cruzado da violência, vítimas de 
atores do próprio estado, da violência policial e da paralegalidade – como 
as milícias e os mercados ilegais de drogas. 
Em uma sociabilidade que afirma direitos humanos, mas que os 
torna irrealizáveis, uma máquina necrocapitalista de triturar gente, que 
impede que as pessoas se realizem como sujeitos e sujeitas, o presenteís-
mo intenso captura os jovens nessas redes de morte. Há expropriação 
completa da esperança, não há o que pensar – ou pesar – sobre o futuro, 
e a banalização morte, a brevidade da vida, já fazem parte do seu reper-
tório cotidiano.
Superar o juvenicídio e construir políticas para o seu enfrenta-
mento pressupõem ter à disposição um diagnóstico sobre as causas da 
produção da morte dos adolescentes e jovens, sobretudo daqueles que 
compõem os setores mais pauperizados da classe trabalhadora. Eviden-
te que, sem qualquer ilusão herdada do positivismo, sabe-se que o co-
nhecimento sobre o real deve estar endereçado não à contemplação do 
mundo, mas à sua transformação, em um movimento que a teoria e 
prática possam atuar de maneira articulada, constituindo, assim, uma 
filosofia da práxis. 
O livro que agora o(a) leitor(a) tem em mãos nos fornece esse 
diagnóstico e sugere caminhos de ação. Que possamos, então, utilizá-lo 
como como um potente instrumento para fomentar políticas públicas e 
ações atreladas a processos de resistência e enfrentamento às diferentes 
estratégias que o capitalismo se apropria, evoca e ressignifica dia após dia 
para exercer o seu poder de matar. 
Nesse sentido, há que se chamar a atenção para as redes de vida e os 
movimentos sociais que, na contra mola que resiste, também capturam 
as juventudes. Nos últimos anos, em toda a América Latina, assistimos à 
reação de resistência protagonizada por jovens, por diversos movimentos 
juvenis que denunciam as tramas do colonialismo, do racismo e do sexis-mo, estruturantes da sociabilidade capitalista. A contraofensiva às políti-
cas de morte pode ser vista nas mobilizações para uma nova constituinte 
no Chile e no regresso do MAS na Bolívia. Na Colômbia, no corrente 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 31Livro Geovane Scherer v2final2.indd 31 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
32 
ano, a esquerda ganha as eleições pela primeira vez no país, após anos de 
conflitos políticos violentos. No Brasil, por sua vez, diversos jovens têm 
saído às ruas contra o governo Bolsonaro e seu projeto ultraconservador.
Desejamos que façam um excelente proveito dessa obra que é im-
prescindível para os estudos sobre juventudes!
Ilana Paiva 
Gabriel Miranda
Natal (RN), julho de 2022.
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 32Livro Geovane Scherer v2final2.indd 32 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
33 
notAS introdutóriAS: 
o Juvenicídio pArA Além dAS “SombrAS”
O tema da mortalidade juvenil se constitui como um fenômeno que 
vem ganhando visibilidade em diversos meios, porém, muitas vezes, esse 
debate é realizado de forma fragmentada, reproduzindo discursos que se 
calcam em uma perspectiva neoconversadora e criminalizatória dos seg-
mentos sociais que mais vivenciam tais processos. Nesse sentido, analisar 
o tema dos homicídios de jovens para além das “sombras”, significa com-
preender esse fenômeno para superar os inúmeros estigmas que são asso-
ciados a esse tema, na perspectiva de apreender criticamente os complexos 
processos que envolvem a mortalidade juvenil provocada por homicídios. 
O termo juvenicídio surge como uma importante categoria ana-
lítica dessa realidade, sendo cunhado pelo pesquisador mexicano José 
Manuel Valenzuela para designar o fenômeno da mortalidade juvenil por 
meio dos homicídios. Para Valenzuela (2015) o juvenicídio se constitui 
de diversos fatores que incluem a precarização, pobreza, desigualdade e 
a estigmatização, tendo como eixo central a estratificação social baseada 
em relações de subalternização. Nesse sentido, o juvenicídio inicia com 
a precarização da vida dos jovens, a ampliação da sua vulnerabilidade e a 
diminuição das opções disponíveis para que possam desenvolver seus pro-
jetos de vida (VALENZUELA, 2015). Conforme Rocha (2020) o termo 
juvenicídio vem do latim juvene [pessoa jovem] + excidium [destruição], 
se relacionando a forma destrutiva de tratar a juventude enquanto um fe-
nômeno social que compõe a constituição das relações sociais brasileiras 
historicamente. É importante destacar que o juvenicídio se constitui na 
interrupção de vidas jovens, de forma violenta por meio dos homicídios, 
provocados, especialmente, pela condição de precarização existencial ge-
rada pela violência estrutural que impossibilita a construção de projetos 
de vida e futuro (SCHERER, 2018). 
A análise presente nas linhas que se seguem dá viabilidade para o 
fenômeno do juvenicídio como uma expressão da questão social, enquan-
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 33Livro Geovane Scherer v2final2.indd 33 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
34 
to resultado trágico das violações de direitos que vem atingindo grande 
parte a juventude brasileira. Desta forma, evidencia-se a necessidade de 
relacionar o tema do juvenicídio com políticas públicas, uma vez que, 
como será debatido nos capítulos que seguem, a falta de proteção social 
se constitui como um dos elementos propulsores da mortalidade juvenil. 
Tal dado já é demonstrado em diversos estudos, dentre eles destaca-se 
a Nota Técnica Indicadores Multidimensionais de Educação e Homi-
cídios nos Territórios Focalizados pelo Pacto Nacional pela Redução de 
Homicídios (IPEA, 2016), onde demonstra-se que para cada 1% a mais 
de jovens entre 15 e 17 anos nas escolas, há uma diminuição de 2% na 
taxa de assassinatos. A análise dos territórios que concentram os maiores 
índices de mortalidade juvenil é reveladora para compreender a dinâmica 
dos processos sociais que se estabelecem de forma geográfica, típicas da 
divisão capitalista do espaço, nos termos de Harvey (2005). 
O presente livro, ao abordar a tríade juvenicídio, território e política 
pública, busca uma análise densa dos diversos aspectos que se relacionam 
a mortalidade juvenil por homicídios, compreendendo esse fenômeno 
como pluridimensional, que se configura a partir de relações sociais e de 
sociabilidade que tem a desigualdade social como eixo central. Eviden-
temente, tal análise não pode ser realizada descolada dos processos his-
tóricos que o constituem de modo que o juvenicídio no Brasil pode ser 
compreendido como um constructo social fundado na processualidade 
histórica da sociedade brasileira.
Do ponto de vista histórico tem-se que o capitalismo brasileiro 
se consolidou por meio de um processo constitutivo que guarda mar-
cas profundas ligadas ao seu passado colonial, enquanto uma colônia de 
exploração, reabsorvendo e redefinindo as desigualdades presentes nas 
relações raciais do passado escravista por meio do advento do trabalho 
“livre” e de novas condições sócio-históricas (FERNANDES, 2008). O 
desenvolvimento do capitalismo no Brasil se deu mantendo os “elemen-
tos arcaicos” (FERNANDES, 2008), consolidando reformas na perspec-
tiva que tornassem inalteradas a dinâmica da desigualdade social histó-
rica e mantendo a dependência com países de capitalismo central. As 
mudanças para a implantação do capitalismo brasileiro foram feitas “pelo 
alto”, com pouca participação popular em suas decisões (IAMAMOTO, 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 34Livro Geovane Scherer v2final2.indd 34 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
35 
2007). Nos termos de Gramsci (2005), vivenciou-se no Brasil uma “re-
volução passiva”, onde a hegemonia se adianta em qualquer movimento 
contra-hegemônico, desenvolvendo reformas na perspectiva de garantir 
a manutenção do poder. 
Em uma síntese dialética entre o arcaico e o novo, o Brasil constrói 
a sua história mantendo intacta a dinâmica da desigualdade social, sendo 
que a lógica genocida do passado se reapresenta no presente com novas 
roupagens, mas mantém a perspectiva da reificação da vida humana para 
as classes subalternas. Com o desenvolvimento das forças produtivas na 
realidade brasileira, que mantém intocável os privilégios de uma burguesia 
submissa aos desígnios do capital internacional, reforça-se a prerrogativa 
dos atributos das coisas em detrimento das relações sociais que as qualifi-
cam (IAMAMOTO, 2007). Reifica-se a vida humana quando esta é trans-
formada em um objeto, sem utilidade, descartado na lógica da produção 
mercantil de valores na dinâmica do capital em seu atual momento históri-
co. Tal lógica é fruto das relações sociais pautadas a partir dos interesses do 
capital, as quais, possuem particularidades diversas em países de desenvol-
vimento capitalista dependente e periférico, como é caso do Brasil.
Evidentemente, a lógica da descartabilidade da vida humana na 
atual sociedade brasileira atinge diversos segmentos sociais, porém, di-
versos dados de pesquisa demonstram que as juventudes se constituem 
como os segmentos sociais que vivenciam mais intensamente tais pro-
cessos. Como refere o Atlas da Violência 2021, no Brasil a violência é a 
principal causa de morte dos jovens. No ano de 2019, de cada 100 jovens 
entre 15 e 19 anos que morreram no país, 39 foram vítimas da violência 
letal; sendo que entre aqueles que possuíam de 20 a 24, foram 38 vítimas 
de homicídios a cada 100 óbitos e, entre aqueles de 25 a 29 anos, foram 
31 (CERQUEIRA et Al., 2021). O mesmo estudo demonstra que dos 
45.503 homicídios ocorridos no Brasil em 2019, 51,3% vitimaram jo-
vens entre 15 e 29 anos, isso é 23.327 jovens tiveram suas vidas ceifadas 
prematuramente, em uma média de 64 jovens assassinados por dia no 
país. Os números de guerra demonstram a barbárie que as juventudes, 
especialmente aquelas que possuem morada nos territórios periféricos, 
vivenciam em seu cotidiano; sendo essa realidade, na maioria das vezes, 
invisibilizadade inúmeras formas. 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 35Livro Geovane Scherer v2final2.indd 35 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
36 
A compreensão de juventude que norteia a presente discussão, não 
desconsidera, mas visa superar a simples análise etária do segmento ju-
venil. Conforme a Lei n. 12.852, de 5 de agosto de 2013, que institui 
o Estatuto da Juventude, são consideradas jovens as pessoas com idade 
entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade. Mais do que “pa-
râmetros etários”, fundamentais no que se referem às políticas públicas, 
as juventudes se constituem em uma construção social, tecida ao longo 
do tempo, que se relaciona a inúmeros elementos que se condensam 
na concepção de “juventude”. Importante considerar que as juventudes 
se constituem, como expressão da diversidade humana que encontra na 
própria relação social, pactuada e construída por cada sociedade, as for-
mas e possibilidades de convivência e de crescimento humano, que as 
viabilizam ou as reprimem (CALIARI, 2021). 
Savage (2007) destaca que a visibilidade da categoria juventude foi 
produto de um processo histórico, resultado de diversas transformações 
que a sociedade vivenciou, culminando nas concepções sobre juventudes 
que foram desenvolvidas ao longo do século XX. A construção social da 
visibilidade da categoria juventude começa a ser instituída na segunda me-
tade desse século, especialmente no pós-guerra, no bojo do desenvolvi-
mento e das transformações do modo de produção capitalista, e se inicia o 
processo de construção social da juventude, tendo como elemento central 
as mudanças ocorridas no mundo do trabalho (SCHERER, 2017).
Ao abordar o conceito de juventude, é importante salientar a premis-
sa da diversidade, já bastante consolidada nos estudos acerca da temática, 
como os de Dayrell (2003) e Sposito (2009), com a defesa de um olhar 
para as similaridades encontradas nessa parcela da população e que não 
encubram especificidades de classe, gênero e raça/etnia. Isso significa des-
tacar a necessidade de compreender as cadeias de mediações presentes nas 
relações sociais tecidas no atual contexto histórico, considerando a cen-
tralidade do debate de luta de classes na análise dos fenômenos ligados a 
juventude, mas sem desconsiderar as diversas manifestações juvenis no que 
diz respeito a raça/etnia, gênero, diversidade sexual, bem como diversos 
elementos que caracterizam esse segmento social (SCHERER, 2020). 
No que se refere ao juvenicídio, evidencia-se a necessidade de se 
explorar as íntimas mediações desse fenômeno com o racismo estrutural, 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 36Livro Geovane Scherer v2final2.indd 36 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
37 
enquanto um dos principais pilares de sustentação do juvenícidio na rea-
lidade brasileira. Como serão evidenciados no livro, os jovens negros vi-
venciam com maior intensidade a dinâmica da violência homicida, sen-
do que o genocídio da juventude negra é categoria recorrente em grande 
parte dos estudos sobre o tema. Tais estudos também demonstram a di-
nâmica da descartabilidade da vida humana, que se sustenta no racismo 
estrutural e encontra seu amparo e fundamento no neoconservadorismo 
neoliberal. Neste sentido, Correia (2020) aponta que à questão social no 
Brasil, expressa, de forma inegável, determinações do racismo estrutural 
que fundamentam as relações sociais e sustentam a desigualdade socior-
racial. Diante desta realidade, mostra-se fundamental analisar como essa 
dinâmica homicida se particulariza em diversos lugares do Brasil, a fim 
de compreender com maior densidade as particularidades da dinâmica 
homicida em um país com extensões continentais. 
A presente obra, portanto, se constitui como resultado de uma in-
vestigação que teve como o objetivo analisar o modo como vem se cons-
tituindo a relação entre os altos índices de mortalidade juvenil e o acesso 
das juventudes às políticas públicas no Rio Grande do Sul, a fim de sub-
sidiar ações no âmbito da proteção social para esse segmento. Observa-se 
que no estado do Rio Grande do Sul houve aumento na quantidade de 
jovens assassinados, apontando o crescimento de 58% referente no in-
tervalo de 10 anos, entre 2006 e 2016. Nesse sentido, aponta-se que em 
2006 a taxa de homicídios do Estado estava em 18% e que em 2016 sobe 
para 28,6%, quantitativo esse que em números absolutos refere-se a 1983 
ocorrências para um total de 3225 homicídios (IPEA/FBSP, 2018). Sendo 
assim, o presente estudo procura problematizar a realidade das juventudes 
para além dos números anunciados cotidianamente pelos atuais meios de 
comunicação, buscado problematizar alguns fatores que incidem nesse 
quadro de violações de direitos humanos. Além de levantar quantitati-
vamente os dados acerca da realidade de Porto Alegre/RS, enquanto a 
cidade escolhida como amostra para esse estudo. No que se refere às mor-
tes por homicídios das juventudes, busca-se analisar a sua trajetória no 
âmbito das políticas públicas, bem como, valorizar a análise da realidade 
da violência homicida pelos jovens e familiares que a vivenciam nos terri-
tórios com os maiores índices de mortalidade juvenil na cidade.
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 37Livro Geovane Scherer v2final2.indd 37 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
38 
O estudo que dá origem ao presente livro tem o intuito de con-
tribuir para a qualificação de políticas públicas que possam materializar 
o papel de uma proteção social efetiva para as juventudes, na busca pela 
garantia do maior de todos os direitos: o direito à vida! A cidade de 
Porto Alegre foi escolhida para a realização desse estudo por ser a capital 
do Estado e por ter um dos mais altos índices de mortalidade juvenil do 
Rio Grande do Sul. Desta forma, apesar desse recorte, a presente pesqui-
sa visa contribuir com o debate acerca da mortalidade juvenil em todo 
o Rio Grande do Sul, bem como, para o debate sobre o juvenicídio na 
realidade brasileira, uma vez que, apesar de particularidades locais, obser-
vam-se tendências comuns nos estudos acerca do tema. 
O livro que o leitor tem em mãos é fruto de um movimento co-
letivo, escrito por diversas mãos, por meio de um esforço conjunto de 
pessoas que buscaram, ao longo de três anos, investigar o fenômeno do 
juvenícidio por meio de um cuidadoso e complexo processo de pesquisa. 
A investigação foi desenvolvida a partir de uma articulação entre o Gru-
po de Estudos em Juventudes e Políticas Públicas – GEJUP, vinculado ao 
Programa de Pós-graduação em Política Social e Serviço Social da Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e a Frente de Enfren-
tamento Mortalidade Juvenil em Porto Alegre – FEMJUV; unindo esforços 
entre universidade e movimentos sociais, na perspectiva da construção 
de um saber com o intuito de incidir na garantia à vida das juventudes. 
O GEJUP/UFRGS se constitui como um dos espaços de produção de 
conhecimento dedicado à discussão e produção científica acerca de di-
versos debates relacionados às juventudes, em especial, no que tange a 
análise das expressões da questão social que esse segmento social vivencia 
e as políticas públicas voltadas para esse público. Tendo como perspectiva 
de análise o método dialético-crítico, o referido grupo de pesquisa busca 
compreender em profundidade os fenômenos vivenciados por essas ju-
ventudes e como, esses jovens, são impactados pela lógica de produção 
e reprodução do capital, em especial, a partir dos avanços neoliberais e 
neoconservadores que trazem consigo rebatimentos particulares para esse 
segmento social, não só no Brasil, mas em toda América Latina. 
A Frente de Enfrentamento à Mortalidade Juvenil em Porto Alegre/
RS – FEMJUV configura-se como uma rede de profissionais vinculados 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 38Livro Geovane Scherer v2final2.indd 38 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
39 
às políticas públicas ligadas a Assistência Social, a Saúde, ao Atendimento 
Sociojurídico, a PrevidênciaSocial e a Educação, bem como ao trabalho 
desenvolvido junto aos movimentos sociais, aos grupos juvenis, a outros 
grupos de pesquisa, dentre outros. Nesse sentido, constitui-se enquanto 
um espaço de articulação entre a sociedade civil e o poder público para 
pensar de maneira coletiva, propostas que possam realizar o enfrentamen-
to à mortalidade juvenil no município de Porto Alegre, desde agosto de 
2016. A presente Frente tem por objetivo dar visibilidade à mortalidade 
de jovens na cidade de Porto Alegre, bem como propor ações que consi-
gam fazer o enfrentamento a essa realidade. Os participantes da frente re-
latam diversas formas de violação de direitos que as juventudes vivenciam 
em seu cotidiano, bem como, um intenso processo de mortalidade juvenil 
que, muitas vezes, passam despercebidos diante da opinião pública.
Desse modo, um dos eixos centrais de atuação da Frente de Enfren-
tamento à Mortalidade Juvenil em Porto Alegre é justamente voltar-se à 
visibilidade destes jovens não como sujeitos perigosos, mas sim como 
sujeitos de direitos que vêm sendo atingidos brutalmente pela violência 
estrutural. Para, além disso, tem também por objetivo pensar de maneira 
coletiva propostas que possam realizar o enfrentamento à mortalidade 
juvenil no município a partir de seminários, conferências, espaços de for-
mação e qualificação profissional, pesquisas, produção de conhecimento, 
sugestões às políticas públicas de juventude, entre outros.
A proposta da investigação nasce por meio do diálogo coletivo en-
tre GEJUP e FEMJUV, na construção de um projeto de pesquisa que 
pudesse trazer respostas na perspectiva de subsidiar políticas públicas de 
enfrentamento a mortalidade juvenil. A investigação foi possível de ser 
realizada por meio do financiamento público mobilizado por meio do 
edital ARD/2019 da Fundação de Amparo à Pesquisa no Rio Grande do 
Sul – FAPERGS que possibilitou os aportes1 para a execução do estudo, 
bem como para que o presente livro pudesse chegar às mãos do público 
de forma gratuita. 
1 Importante ressaltar que a presente investigação também contou com os aportes da 
Bolsa Produtividade em Pesquisa (PQ) do Conselho Nacional de Desenvolvimento 
Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI) por meio da concessão voltada para o coorde-
nador do estudo Prof. Dr. Giovane Antonio Scherer. 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 39Livro Geovane Scherer v2final2.indd 39 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
40 
A pesquisa que dá origem ao presente livro foi constituída por 
meio de três etapas, buscando responder aos objetivos específicos elenca-
dos para o presente estudo, através de uma investigação de enfoque misto, 
que considera dados quantitativos e qualitativos ao longo do estudo. O 
enfoque misto, para Prates (2012) mostra-se como apropriado para co-
nhecer e subsidiar políticas públicas que contemplem contingentes po-
pulacionais mais amplos, tendo mostrado vigor e qualidade científica. 
A primeira etapa do presente estudo buscou aprofundar o tema, 
bem como encaminhar o presente projeto para a avaliação junto à Co-
missão Científica – COMPESQ do Instituto de Psicologia da Universi-
dade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, na perspectiva de garantir 
a cientificidade da investigação. Nessa etapa, também o estudo obteve 
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Psicologia 
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS e do Comitê 
de Ética em Pesquisa da Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de 
Porto Alegre. Ressalta-se que a investigação, ao longo de todas as suas 
etapas e divulgação de seus resultados observou com atenção as orienta-
ções e normativas éticas em vigência no país, com especial destaque para 
a Resolução n. 510/2016 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa 
– CONEP. Portanto, a ética na pesquisa se constituiu em elemento trans-
versal em todo o desenvolvimento do estudo, estando sempre pautado na 
observância de todos os direitos dos participantes da pesquisa. 
Nessa etapa da investigação, com as aprovações éticas necessárias 
para o andamento do estudo, buscou realizar uma análise dos dados de 
mortalidade juvenil no Brasil e no Rio Grande do Sul. Para a sua realiza-
ção foram incluídos intencionalmente na investigação dados públicos e já 
publicados por institutos de pesquisa como: Instituto de Pesquisa Econô-
mica Aplicada – IPEA, Fórum Brasileiro de Segurança Pública e demais 
dados públicos acerca dos monitoramentos acerca da violência letal em 
território nacional. Na perspectiva de compreender com maior profun-
didade acerca das particularidades da dinâmica do juvenicídio na cidade 
de Porto Alegre/RS foi realizada análise documental dos dados brutos do 
Sistema de Informação de Mortalidade – SIM. A pesquisa documental se 
constitui no levantamento e análise de dados advindos de documentos de 
fontes primárias, isto é, todos os materiais ainda não elaborados, escritos 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 40Livro Geovane Scherer v2final2.indd 40 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
41 
ou não, que pode servir como fonte de informação para a pesquisa cien-
tífica (MARCONI e LAKATOS, 2001). O Sistema de Informação Sobre 
Mortalidade – SIM desenvolvido pelo Ministério da Saúde, em 1975, 
é produto da unificação de mais de quarenta modelos de instrumentos 
utilizados, ao longo dos anos, para coletar dados sobre mortalidade no 
país. Possui variáveis que permitem, a partir da causa mortis atestada pelo 
médico, construir indicadores e processar análises epidemiológicas que 
contribuam para a eficiência da gestão em saúde (BRASIL, 2017). 
No âmbito desse sistema, após a aprovação ética, foi realizada 
análise dos dados específicos de mortalidade juvenil, dos jovens de 12 
até 29 anos, vitimizados na cidade de Porto Alegre nos anos de 2015 a 
2019. Buscou-se realizar diversos cruzamentos de dados, com o instituto 
de perceber com mais profundidade como vem se constituindo o fenô-
meno da mortalidade juvenil (perfil dos jovens mortos, territórios onde 
ocorreram as mortalidades, principais causas, entre outros). A opção pela 
análise de adolescentes a partir dos 12 anos de idade se constitui em uma 
demanda dos participantes da Frente de Enfrentamento a Mortalidade 
Juvenil, uma vez que a experiência profissional de muito membros indi-
cava a observância que a dinâmica do juvenicídio vem atingindo cada vez 
mais cedo as trajetórias de vida, também, na adolescência. 
A partir dos dados tabulados pelo Sistema de Informação de Mor-
talidade – SIM, foi possível construir uma Cartografia da mortalidade 
juvenil em Porto Alegre, levantando dados sobre a situação dos territó-
rios mais particularmente afetados pela mortalidade juvenil. Como lócus 
dessa prática cartográfica, foram selecionados os três bairros da cidade 
com os maiores índices de mortalidade juvenil. Desta forma, buscou-se 
mapear os territórios com maiores incidências de mortalidade, a fim de 
construir um mapa das dinâmicas homicidas e de compreender como 
vem se constituindo o acesso às políticas públicas nos territórios de maior 
incidência de mortes de adolescentes e jovens. Nesse sentido, a cartogra-
fia é compreendida como valiosa ferramenta de investigação, exatamente 
por abarcar a complexidade que envolve se investigar o coletivo de forças 
em cada situação, sendo mais do que procedimentos metodológicos deli-
mitados, mas um modo de conceber a pesquisa e o encontro do pesquisa-
dor com seu campo (ROMAGNOLI, 2009). A prática cartográfica é uti-
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 41Livro Geovane Scherer v2final2.indd 41 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
42 
lizada no âmbito desta pesquisa como forma de apreender os territórios 
onde ocorreram os homicídios de jovens, compreendendo a dinâmica 
territorial como espaço vivo onde são tecidas as relações sociais. 
Para que fosse possível a prática cartográfica, além da análise dos 
dados de mortalidade juvenil, o estudo buscou coletar dados históricos 
da construção dos territórios, informaçõesgeográficas, dados acerca de 
políticas públicas disponíveis nas localidades e sua forma de acesso, bem 
como, contou com contribuições de relatos orais de moradores. A pri-
meira etapa da pesquisa, nesse sentido, buscou identificar o perfil, a dinâ-
mica da mortalidade e a constituição dos territórios onde ocorrem as si-
tuações de mortalidade, tendo como referência a cidade de Porto Alegre. 
A segunda etapa da pesquisa buscou analisar as trajetórias de jovens 
vítimas de homicídios na cidade de Porto Alegre no âmbito das políticas 
públicas de Assistência Social, Educação e Socioeducação (no que se refe-
re ao cumprimento de medida socioeducativa), por meio de uma análise 
documental nos registros de tais políticas. Para a realização dessa etapa 
foram selecionados, de forma aleatória, seis jovens vítimas de homicídios 
no ano de 2018 nas três regiões mais afetadas pela mortalidade juvenil 
na cidade de Porto Alegre (somando 18 jovens). Tais informações foram 
coletadas por meio dos dados fornecidos pela Secretaria de Saúde e pre-
sente nos bancos de dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade 
– SIM. Com base nos dados pessoais das 18 jovens assassinados, foi rea-
lizada a análise documental nos registros das políticas públicas no âmbito 
dos serviços da rede de Assistência Social, Educação, Conselho Tutelar 
e Socioeducação; objetivando levantar informações acerca das trajetórias 
desses jovens no âmbito dessas políticas públicas, com o intuito de anali-
sar os acessos e as lacunas no âmbito da proteção social juvenil. 
Foram analisados prontuários e demais documentos dos jovens e 
de seus familiares junto a Fundação de Assistência Social e Cidadania 
de Porto Alegre, Secretaria Municipal de Educação, Secretaria Estadual 
de Educação, Conselho Tutelar e Fundação de Atendimento Socioedu-
cativo do Rio Grande do Sul – FASE, a fim de perceber como se deu o 
atendimento, ou o não atendimento, desses jovens no âmbito das políti-
cas públicas, bem como identificar elementos de suas trajetórias de vida. 
Importante considerar que todas as instituições autorizaram o acesso aos 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 42Livro Geovane Scherer v2final2.indd 42 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
43 
seus registros, tendo atentado para as questões éticas no que diz respeito 
ao sigilo dos dados manipulados pela equipe de pesquisa. No âmbito 
desta investigação, todos os nomes e informações pessoais que possam 
identificar os jovens ou seus familiares foram substituídos por nomes 
fictícios, buscando atender as normativas da ética em pesquisa e demais 
legislações em vigor. 
Na terceira e última etapa da investigação foi planejado a realização 
de grupos focais com jovens e familiares moradores dos territórios com 
maior concentração de índices de mortalidade juvenil na cidade de Porto 
Alegre, porém houve a necessidade de alteração na metodologia do estu-
do, devido à necessidade de distanciamento social em razão da pandemia 
de COVID-19. Importante considerar que o presente estudo foi desen-
volvido durante essa pandemia, o que colocou inúmeros desafios para a 
equipe de pesquisa, não somente nessa etapa, mas em todo o desenvol-
vimento do estudo, tornando mais complexa a sua execução. O estudo 
teve inicio no final de 2019, sendo desenvolvido no momento em que 
os índices de contaminação estavam mais elevados; o que demandou a 
prorrogação do cronograma da investigação. A pandemia de COVID-19 
impactou as juventudes de inúmeras formas, além do impacto em sua 
saúde física, o vírus aprofundou questões relacionadas à histórica desi-
gualdade social vivenciada por esse segmento social. 
No que se refere à coleta de dados da investigação, sua principal al-
teração metodológica se deu na forma da coleta de dados dos relatos orais 
da juventude e de seus familiares na perspectiva da compreensão desses 
sujeitos acerca da realidade do juvenicídio nos territórios. Os grupos focais 
previstos não foram efetivados, sendo realizadas entrevistas semiestruturadas 
on-line com jovens e familiares nos territórios com maior índice de morta-
lidade juvenil na cidade de Porto Alegre, bem como com os profissionais 
da rede assistencial das três regiões com maiores incidência nos índices de 
mortalidade juvenil, visando analisar a sua percepção a respeito da violên-
cia letal. A entrevista semiestruturada pode congregar perguntas abertas e 
fechadas, abrindo possibilidades ao sujeito entrevistado para que pense e 
fale sobre o tema em questão sem que o mesmo fique preso somente à per-
gunta formulada pelo pesquisador, além de ser um procedimento utilizado 
para construir informações sobre determinado objeto (MINAYO, 2002). 
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 43Livro Geovane Scherer v2final2.indd 43 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
44 
A fim de tornar exequível a realização da entrevista on-line com mo-
radores dos territórios com maiores índices de mortalidade juvenil, reali-
zou-se articulações com instituições da rede socioassistencial que estavam 
realizando atendendo presencialmente aos moradores das localidades. Tal 
articulação mostrou-se necessária diante das dificuldades de conectividade 
que grande parte da população vivencia, o que inviabilizaria qualquer tipo 
de coleta on-line, devido à falta de acesso a equipamentos e a internet. 
Foram convidados para participar do estudo, somente, usuários desses ser-
viços que estavam em atendimento presencial, isso é: nenhum participante 
será deslocado do seu local de moradia para participar do estudo, sendo 
convidado para participar da pesquisa após o atendimento no serviço. 
Nesse sentido, as instituições parceiras participaram de reuniões 
com a equipe de investigação, onde foram explicitados os objetivos do 
estudo, cuidados éticos e planejamento para a coleta de dados, assinando 
um termo de autorização institucional para a realização da pesquisa. Res-
salta-se que o objetivo da investigação não era a análise do serviço, mas 
sim, as vivências da população com relação ao território e sua experiência 
com relação ao tema do juvenicídio. As instituições se comprometeram 
a participar do estudo, convidando os usuários dos serviços para parti-
ciparem da pesquisa após o atendimento realizado, sendo que se o par-
ticipante se interessasse em participar da pesquisa ele era encaminhado 
para uma sala com um computador com conexão de internet, onde se 
encontrava virtualmente com um membro da equipe de pesquisa. As 
instituições se comprometeram a reservar uma sala que tivesse condições 
de manter o sigilo na investigação, sem nenhuma outra pessoa presente 
no recinto e com condições mínimas de isolamento acústico. Todos os 
trabalhadores e usuários tomaram todos os cuidados sanitários necessá-
rios para evitar a contaminação em um contexto pandêmico. 
Diante desse contexto, ao longo do estudo, foram entrevistadas vin-
te e três (23) participantes que contribuíram com seus relatos orais para 
uma compreensão mais aprofundada acerca da realidade do juvenicídio 
na cidade de Porto Alegre. Compuseram esse grupo nove (9) trabalhado-
res de políticas públicas que atuam nos territórios com maiores índices e 
mortalidade juvenil na cidade de Porto Alegre; três (3) responsáveis por 
jovens que residem em cada um dos territórios investigados e dez (10) jo-
Livro Geovane Scherer v2final2.indd 44Livro Geovane Scherer v2final2.indd 44 22/11/2022 14:5022/11/2022 14:50
45 
vens com idades entre 14 e 24 anos moradores dos territórios com maio-
res índices de mortalidade juvenil. Ao longo do presente livro as juventu-
des participantes das entrevistas serão identificadas por um nome fictício, 
sendo escolhido2 pelos participantes do estudo no momento da entrevis-
ta. Os demais participantes serão identificados pelos termos “familiar” ou 
“profissional”, seguindo do número de identificação da entrevista. 
A presente investigação utilizou a Análise de Conteúdo para inter-
pretar os dados coletados. Esta técnica visa obter, por procedimentos

Continue navegando