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Objetivos OBJETIVO 1: Entender a classificação da cefaleia primária e as manifestações clínicas de cada uma delas OBJETIVO 2: Compreender os sinais e sintomas de alarme da cefaleia primária OBJETIVO 3: Analisar a conduta (quando e como investigar) para diagnóstico e tratamento farmacológico e não farmacológico da cefalia primaria CLASSIFICAÇÃO DA CEFALEIA PRIMÁRIA E MANIFESTAÇÔES CLÍNICAS: A Cefaleia é um problema de saúde muito comum. Anualmente, mais de 18 milhões de americanos comparecem ao consultório médico por causa de cefaleia. A cefaleia pode ser provocada por diversas condições. Algumas delas representam transtornos primários e outras se manifestam secundárias a condições patológicas em que a cefaleia é um sintoma. Os tipos mais comuns de cefaleia primária são: • Tensional • Enxaqueca • Em pontada ou idiopática • Aos esforços • Em salvas CEFALEIA TENSIONAL: • São comuns em todas as faixas etárias • Geralmente de intensidade fraca a moderada • Acomete mais mulheres do que homens • Etiologia: geralmente associadas a estresse (cansaço, exagero de atividade física, especialmente no calor e sob o sol), muscular (posicionamento do pescoço no sono ou no trabalho) ou emocional, surge mais ao final da tarde • Respondem bem a abordagens comportamentais como técnicas de relaxamento • Geralmente tratadas com analgésicos simples (paracetamol, AAS ou AINES • Amitriptilina pode ser usada como profilaxia nas cefaleia tensionais crônicas • Duração de horas ou dias e possui instalação lenta Cefaleias Primárias Manifestações clínicas: • Dor bilateral como uma faixa apertada ou dor em pressão • Por vezes, há hiperestesia e hipertonia da musculatura pericraniana que pode ser percebida com a palpação cuidadosa Neste tipo de cefaleia não há náusea, vomito, fotofobia ou fonofobia ENXAQUECA (CEFALEIA MIGRÂNEA): • Acomete 15% das mulheres (mais comum) e 6% dos homens anualmente • Trata-se de uma síndrome de cefaleia episódica benigna, associada a sintomas de disfunção neurológica em diversa combinações • É a segunda causa mais comum de cefaleia, depois da cefaleia tensional • O início costuma ser na infância, adolescência ou começo da vida adulta, entretanto a primeira crise pode ocorrer em qualquer idade • Frequentemente há história familiar positiva (causas genéticas) • As mulheres podem apresentar maior sensibilidade a crises no período menstrual • Etiologia: As crises podem ser desencadeadas por ofuscamento, luzes brilhantes, sons, estresse, exercício físico, flutuações hormonais, falta de sono, álcool ou outros estímulos químicos, associadas a fatores genéticos. • Duração de 4-72 horas Manifestações clínicas: • A tríade clássica de sintomas é: 1) sintomas premonitórios visuais (estocomas/aura visual ou cintilações, precedem a cefaleia por horas ou até dias. Nesta fase o paciente pode apresentar irritabilidade, com raciocínio e memorização mais lentos, desânimo e avidez por alguns tipos de alimentos), sensoriais ou motores; 2) cefaleia pulsante unilateral que piora com as atividades do dia a dia 3) náuseas e vomito • A maioria dos pacientes não tem aura visual nem outros sintomas premonitórios, mas pode ocorrer com enxaqueca com aura também; Quando os sintomas de aura são múltiplos, eles habitualmente seguem um ao outro em sucessão, começando pelo visual, então sensorial, então afásico; porém o contrário e outras sequências já foram observados • Fotofobia e fonofobia são comuns e pode ocorrer vertigem e também pode haver vômitos ou distúrbio neurológico focal sem cefaleia (equivalentes de enxaqueca) OBS: aura visual é definida como um sintoma neurológico focal visual, sensorial ou motor que pode ocorrer com ou sem cefaleia. Acredita-se que ela ocorra quando a depressão cortical alastrante causa despolarização das membranas neuronais. Ambos os neurônios e a glia podem mediar tanto a constrição quanto a dilatação dos vasos sanguíneos. Subtipos de Cefaleia Migrânea (enxaqueca): Manifestações Clínicas: Sem aura Enxaqueca comum Com aura Enxaqueca oftálmica, hemiparestésica, hemiplégica ou afásica; Com aura do tronco cerebral Enxaqueca com sintomas originados no tronco cerebral, mas nenhuma fraqueza muscular. Hemiplégica (expressiva fraqueza muscular) Enxaqueca com fraqueza muscular Hemiplégica familiar (1,2,3 ou outro) Ao menos um familiar de primeiro ou segundo grau apresentando aura migranosa que inclui fraqueza motora Hemiplégica esporádica Migrânea com aura que inclui fraqueza motora e ausência de familiares de primeiro ou segundo grau que apresentam Retiniana Crises repetidas de distúrbio visual monocular, incluindo cintilações, escotomas ou amaurose, associados a cefaleia do tipo migrânea Crônica Cefaleia que ocorre em 15 ou mais dias/mês por mais que três meses, a qual, em ao menos oito dias/mês, possui as características de cefaleia migranosa. CEFALEIA EM SALVAS OU CEFALEIAS AUTÔNOMAS TRIGEMINAIS: • É uma forma rara de cefaleia primaria e a frequência populacional é de 0,1% • Mais comum no sexo masculino (meia idade) • Etiologia: álcool pode ser uma das causas • Uma característica específica é a periodicidade, costumam ocorrer episódios diários de 1 a 2 crises de dor unilateral com duração curta por 8-10 semanas por ano, geralmente no mesmo horário, em geral seguidos por um intervalo livre de dor com duração média um pouco menor que um ano • A intensidade costuma ser extremamente alta • Os pacientes podem ficar meses sem crises • Nevralgia do trigêmeo: dor ocasionada nos ramos do nervo trigemio (V par) Manifestações clínicas: • Caracterizada por episódios de dor recorrente profunda, unilateral, lancinante retro-orbital • Pode haver lacrimejamento unilateral e congestão nasal e conjuntival • Queixas visuais, náuseas e vômitos são raros • Diferentemente da enxaqueca os pacientes com cefaleia em salva tendem a se movimentar durante as crises Fonte 1: Jameson, J., L. et al. Manual de medicina de Harrison. Disponível em: Minha Biblioteca, (20ª edição). Grupo A, 2021. See More Fonte 2: Porto, Celmo, C. e Arnaldo Lemos Porto. Clínica Médica na Prática Diária. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022 SINAIS DE ALARME DA CEFALEIA PRIMÁRIA: Fonte: Jameson, J., L. et al. Manual de medicina de Harrison. Disponível em: Minha Biblioteca, (20ª edição). Grupo A, 2021. See More CONDUTA PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTOS DAS CEFALEIAS: O diagnóstico do tipo de cefaleia se baseia no tipo de dor, na sua duração e nas características que a acompanham Cinco elementos de anamnese são essenciais para avaliação de cefaleias: 1. a história familiar ajuda a determinar se uma pessoa tem predisposição genética; 2. a história de vida da cefaleia determina se o problema é novo ou evoluiu no curso da vida; 3. a história da crise fornece as características clínicas para sua identificação; 4. a história patológica pregressa e a psiquiátrica determinam se existem condições de comorbidade que possam causar ou piorar a cefaleia; 5. e a história medicamentosa determina se a cefaleia poderia ser causada ou piorada por medicamentos ou drogas ilícitas em uso pelo paciente. A avaliação diagnóstica para cefaleia depende dos achados clínicos. Se a anamnese for típica e o exame neurológico completamente normal, nenhuma avaliação complementar será necessária. As características da anamnese com mais probabilidade de prognosticar uma cefaleia por enxaqueca incluem fotofobia, náuseas e natureza incapacitante. Entretanto, se houver características atípicas da anamnese ou qualquer anormalidade no exame neurológico, recomenda-se a avaliação adicional. Pacientes com cefaleia em salvas e aquelas de causa indeterminada precisam de investigação por imagens para excluir as causas secundárias. • Cefaleia de início agudo: nesses pacientes, a tomografiacomputadorizada é a melhor técnica para avaliar hemorragia aguda como causa. OBS: quando for trigeminal/em salvas pela primeira vez, sempre solicitar exame de imagem RM principalmente. • Cefaleias persistentes ou crônicas: devem ser avaliadas por investigação por imagens de ressonância magnética à procura de lesões de massa, evidência de hipertensão ou hipotensão intracraniana, hemossiderina (hemorragia antiga) e anormalidades congênitas (p. ex., malformação de Chiari). • Em indivíduos com mais de 60 anos com manifestação de cefaleia nova não explicada ou incomum: os índices de velocidade de hemossedimentação (VHS) e/ou de proteína C reativa (CRP) deverão ser medidos para avaliar quadro de arterite de células gigantes • Pacientes com suspeita de hipertensão craniana ou meningite: Se o paciente apresentar rigidez na nuca, análise do líquido cefalorraquidiano (LCR), incluindo pressão de abertura, proteína, glicose, células, cultura e citologia, é indicada a esses pacientes. Tratamento Cefaleia Migrânea (enxaqueca): Tratamento não farmacológico: Evitar situações de estresse como jejum ou distúrbios alimentares, privação de sono, comorbidades relacionadas a cefaleia (alterações posturais, cervicalgias, distúrbios emocionais e psíquicos), abuso de analgésicos ou cafeína. Realização de atividade física leve supervisionada, acupuntura, quiropraxia, hipnose, alimentação saudável, cessação de álcool e tabaco Tratamento farmacológico: Terapias Abortivas para Crises agudas: se forem leves podem, em geral, ser tratados com sucesso com analgésicos de venda livre, como paracetamol (dose sugerida de 650 a 1.000 mg) ou AINEs (ácido acetilsalicílico, 250 a 1.000 mg; ibuprofeno, 1.000 a 1.200 mg; naproxeno, 500 a 825 mg; diclofenaco, 50 mg; ou cetoprofeno, 75 mg); se intesas ou moderadas os pacientes se beneficiarão de terapias específicas para enxaqueca , como triptanas (sumatriptana, zolmitriptana, rizatriptana, almotriptana, naratriptana, frovatriptana e eletriptana), ergotamina (di-hidroergotamina, tartarato de ergotamina) ou isometepteno,7 podendo a combinação de naproxeno mais sumatriptana ser melhor que qualquer um deles isoladamente Obs.1: Não prescrever opioide para o tratamento da crise de enxaqueca, existem medicações mais eficazes que não têm o risco de abuso e dependência. Então o uso de opioides no tratamento da crise de enxaqueca deve ser desencorajado Tratamento preventivo: O tratamento preventivo é recomendado quando as cefaleias interferirem nas atividades em três ou mais dias por mês, se mostrarem intensas ou prolongadas ou a enxaqueca for complicada por eventos, como um infarto cerebral. As opções profiláticas incluem os bloqueadores beta-adrenérgicos, os antagonistas dos canais de cálcio, os AINEs, os antidepressivos tricíclicos, o valproato e o topiramato. Topiramato, valproato, timolol, propranolol, metoprolol, atenolol, nadolol, acebutolol, captopril, lisinopril e candesartana reduzem a frequência da enxaqueca em 50% ou mais, em comparação ao placebo, sem diferenças estatisticamente significativas entre eles Tratamento Cefaleia Tensional: Tratamento não farmacológico: Técnicas de combate ao estresse como fisioterapia, prática de atividades físicas, meditação Orientação de medidas educativas como: sono regular, evitar bebidas alcoólicas, controle de estresse (técnicas de relaxamento, atividade física leve), lazer. Tratamento farmacológico: Prescrição de analgésicos (paracetamol 750-1.000 mg até 6/6 h; https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595159297/epub/OEBPS/Text/chapter370.xhtml?brand=vitalsource&create=true&favre=brett#ref7 • dipirona 500 1.000 mg até 6/6 h) e/ou anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) (ibuprofeno 400- 800 mg até 6/6 h; diclofenaco 50 mg até 8/8 h; • cetoprofeno 50 mg até 6/6 h; • naproxeno sódico 500 mg dose inicial e 250 mg até 6/6h). Associações com cafeína aumentam a eficácia analgésica. A maioria das crises é resolvida com uma dose de analgésico comum, sendo a escolha feita de acordo com a experiência anterior do paciente e a tolerância à droga. Se não há resposta em 1 ou 2 horas com uma medicação, pode-se usar outra. Orientar consulta na Unidade Básica de Saúde (UBS) para seguimento ambulatorial do quadro. O médico da unidade de urgência orienta paciente e familiares quanto à baixa gravidade do quadro e de não haver necessidade de encaminhá-lo a um especialista ou realização de exames complementares. Tratamento Cefaleia em salvas/trigeminal: Tratamento não farmacológico: Após melhora do quadro álgico, o paciente deve ser orientado a evitar fatores desencadeantes (bebidas alcoólicas e substâncias voláteis), até o final do período de crises. O médico da urgência deve encaminhar o paciente para avaliação pelo neurologista em nível secundário, dentro do sistema de referência e contrarreferência Tratamento farmacológico: Administrar oxigênio a 100%, em máscara sem recirculação, com fluxo de 10- 12 l/min durante 20 minutos, ou sumatriptano 6mg por via subcutânea se disponível. Caso o paciente tenha utilizado algum medicamento vasoconstrictor, o sumatriptano deve ser evitado. Analgésicos comuns e opioides são ineficazes e não devem ser utilizados
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