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Autor: Prof. Vinícius Carneiro de Albuquerque Colaborador: Prof. Gabriel Lohner Grof História Integrada Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Professor conteudista: Vinícius Carneiro de Albuquerque Vinícius Carneiro de Albuquerque é historiador, formado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e licenciado pela Faculdade de Educação da mesma universidade. Obteve o título de mestre pelo programa de História Social para o qual apresentou, em 2007, a dissertação Ceará: 1824. A Confederação das Províncias Unidas do Equador contra o Império do Brasil. Seu mestrado foi resultado de diversas discussões historiográficas com as quais teve contato ainda durante a graduação como membro do Programa Especial de Treinamento (PET) sob a tutoria do prof. Dr. István Jancsó, seu orientador depois no mestrado e também professor responsável pela coordenação do Projeto Temático “A fundação do Estado e da Nação Brasileiros, 1750/1850”, grupo de pesquisadores com o qual seu mestrado dialoga constantemente. Suas áreas de interesse são relacionadas à história política e social, principalmente no século XIX, mas também no Brasil e na América Latina, nos séculos XX e XXI. Atualmente é professor do colégio e curso pré‑vestibular Objetivo, instituição na qual atua há mais de dez anos, tendo amplo contato com modernas tecnologias utilizadas na preparação de aulas digitais em diversas plataformas midiáticas. No colégio e curso pré‑vestibular também desenvolveu um vasto trabalho na preparação de material didático para turmas de ensino médio. Vinícius Carneiro de Albuquerque é também professor da Universidade Paulista, na qual trabalha com especial interesse na área de Ensino a Distância voltado para a formação de professores de História. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A345h Albuquerque, Vinicius Carneiro de. História Integrada. / Vinicius Carneiro de Albuquerque. – São Paulo: Editora Sol, 2016. 204 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2‑033/16, ISSN 1517‑9230. 1. História integrada. 2. Interconectividade. 3. Exemplos de usos integrados. CDU 93/99 A‑XIX Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Rose Castilho Juliana Mendes Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Sumário História Integrada APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 AS DIFERENTES MANEIRAS DE SE ENSINAR HISTÓRIA E A HISTÓRIA INTEGRADA ............. 11 1.1 A busca de uma História integrada: nem isolamento, nem superficialidade .............. 15 1.2 História Integrada e o olhar para a Mundialização/Globalização .................................... 19 1.3 Cotidiano e mentalidades em História ........................................................................................ 30 2 HISTÓRIA INTEGRADA ................................................................................................................................... 34 2.1 Usos da História Integrada – Sugestões e exemplos: pensar historicamente interdisciplinaridades ................................................................................................................................. 34 2.2 Olhares integrados de História e a produção recente de conhecimento histórico: histórias do Brasil ........................................................................................................................................ 46 3 INTERCONECTIVIDADE E EXEMPLOS DE USOS INTEGRADOS ........................................................ 48 3.1 O Novo Mundo ...................................................................................................................................... 53 4 MEC E MATERIAL DIDÁTICO NA REDE: SOBRE A ETNICIDADE E AS COLÔNIAS ..................... 58 4.1 O olhar europeu sobre o Novo Mundo: estranhamentos e descobrimentos ............... 65 4.2 A época moderna e as propostas de Braudel ........................................................................... 76 4.3 Atlantização do Império Português .............................................................................................. 91 4.4 Novo mundo: tensões e rupturas .................................................................................................. 96 4.5 Iluminismos ............................................................................................................................................ 97 4.6 Revoluções e crise do Antigo Sistema Colonial .....................................................................103 Unidade II 5 ESTUDOS SOBRE A ÁFRICA........................................................................................................................112 5.1 Olhares sobre a África .......................................................................................................................113 6 BRASIL E ÁFRICA: DISCUSSÕES ACERCA DA DIVERSIDADE ÉTNICO‑CULTURAL E DIREITOS HUMANOS ....................................................................................................................................124 6.1 Direitos Humanos e política: discussões atlânticas e continentais ...............................132 6.2 Desqualificação da África: imperialismo e neocolonialismo ............................................137 7 O EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO (ENEM) ...........................................................................153 7.1 O Enem e as possibilidades do estudo de História Integrada ..........................................153 7.2 O Enem e a questão dos afrodescendentes e indígenas ....................................................157 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 7.3 O Enem e a História: entre o nacional e o mundial .............................................................160 7.4 O Enem e alguns aspectos de sua fundamentação teórico‑metodológica ................166 8 COMPETÊNCIAS EM HISTÓRIA .................................................................................................................169 8.1 Objetos de conhecimento em História ......................................................................................172 7 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 APRESENTAÇÃO A disciplina de História Integrada, cujo livro‑texto agora se apresenta, tem como objetivo primordialoferecer elementos fundamentais para se pensar criticamente as possibilidades de uso dessa forma específica de se trabalhar a História enquanto disciplina escolar. A abordagem de aspectos teóricos relativos às várias concepções de História é um âmbito importante do material que elaboramos. No entanto, não estivemos presos aos sentidos tradicionalistas e lineares com os quais diversos professores, e também alunos, estão mais acostumados em seu cotidiano. Logo de início, o tratamento dado à ideia de História Integrada apresentou a necessidade de se escolher escrever apenas e tão somente um manual repleto de conteúdos “alinhavados” historicamente para se produzir o olhar integrado ou se produzir um material que problematizasse essa concepção. Escolhemos a segunda alternativa por acreditar que, assim, contemplaríamos os itens expostos em nossa ementa da disciplina ao mesmo tempo que poderíamos desenvolver questionamentos mais ricos sobre as maneiras de se estudar História. Considerando que as percepções da realidade histórica muitas vezes são repletas de avanços e retrocessos que sofrem, constantemente, influências de diferentes olhares e também de estereótipos, buscamos, na medida do possível, escapar dos esquemas lineares e permitir que em determinados momentos os assuntos fossem desenvolvidos em certas direções para depois retomarmos mais adiante um pouco desses aspectos. Nos debates presentes da historiografia e nos relatos de experiências de práticas de diversos professores preocupados com as múltiplas formas de pensar a História em sala de aula transparecem as dificuldades do dia a dia. Mas também surgem as novas ideias e as contribuições para se deixar de lado um pesado tradicionalismo preso aos fatos e noções quase “determinadas” como imóveis. Atualmente cresce a necessidade de os professores de História terem a capacidade de olhar em múltiplas direções, considerando em suas explicações não mais universos fechados em si, mas sim em constante comunicação com o entorno mais próximo ou, até mesmo, nem tão próximo assim. Iniciamos nossa discussão trabalhando aspectos relativos às diversas maneiras de explicar as várias Histórias possíveis. Nossa seleção não está pensada em termos de qualificação. Apenas elegemos um modelo de atuação que consideramos adequado ao desenvolvimento de uma consciência de cidadania e de pertencimento a determinados universos identitários que julgamos relevante para os professores de História. Não hierarquizados em termos de melhor ou pior modelo, apenas escolheremos apresentar possibilidades que enriqueça os trabalhos. A tarefa de selecionar conteúdos sob essa perspectiva apresenta um grande risco de se prender aos esquemas conteudistas e, assim, as discussões relativas a direitos, cidadania, consciência política e histórica, noções identitárias, longa duração, permanências e mudanças em História estão presentes neste texto, apenas não de uma maneira óbvia e linear. Alertamos que isso se dá exatamente em razão 8 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 do modelo de História Integrada que não se prende a linearidades e em diversas ocasiões começa a desenvolver alguns pontos que acabam por nos permitir olhar em diversas outras direções. As discussões passaram pela História mais recente, que trata da globalização/mundialização, procurando debater passados coloniais, etnicidades e o nosso desconhecimento – quase generalizado – do mundo africano e de seus aspectos presentes no Brasil. O cotidiano e as mentalidades apareceram em nossos questionamentos e nos levaram a pensar também nos usos interdisciplinares, que, mesmo não sendo o objeto específico desta disciplina, estão presentes nessa abordagem. Os múltiplos olhares sobre a produção de História do Brasil, mas não apenas essa, colocaram‑nos a necessidade de pensar o Novo Mundo e processos coloniais que provocaram integrações. Uma vez que as histórias coloniais não são lineares, longe disso, as rupturas, os estranhamentos estiveram presentes também na tentativa de demonstrar que sempre podem existir projetos alternativos na História. Passamos a nos deter em aspectos da África, a partir de preocupações com o pouco conhecimento de suas influências em nossa realidade – procurando distanciar‑nos dos estereótipos empobrecedores. Os olhares sobre a África tornam mais apurada a compreensão dessas histórias que são atlânticas. Encerramos apresentando alguns questionamentos modernos que envolvem o Enem, suas estruturas, suas problematizações e concepções de trabalho com História que acreditamos poderem contribuir fundamentalmente com a formação crítica dos alunos e com uma melhor capacidade de observar os múltiplos aspectos da realidade em que se encontram. INTRODUÇÃO Ao buscar o apoio da produção acadêmica mais recente sobre os sentidos da História Integrada, deparamo‑nos com a existência de múltiplas concepções de História que, por vezes, são bastante diferentes, noutras até mesmo colaboram umas com as outras. Uma vez que existem várias concepções, qual a razão desta em específico? Acreditamos que a ideia de superar isolamentos territoriais, de monarquias colonizadoras e mesmo de Estados nacionais seja uma alternativa viável de construção de um olhar complexo e questionador do passado histórico, mas que tenha como referencial fundamental o tempo presente. Quando escolhemos aceitar a noção de Pierre Vilar, de que é o presente que coloca as questões ao passado, os sentidos de se estudar História nos parecem mais relevantes. Escapar de superficialidades melhora o entendimento de uma realidade que, no presente, é globalizada. Isso é irreversível? Não. É possível estudar as realidades de diversos povos em diversos lugares sem levar a Globalização em consideração? Também não. Se adotarmos um posicionamento crítico, entenderemos mais facilmente que devemos utilizar muito mais a ideia de Histórias. Os eventos não são isolados, e o que ocorre em determinadas ocasiões com um povo, por exemplo, também acontece com outros povos. Essa ideia também nos parece enriquecer os olhares sobre a História. 9 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 A busca de olhar em que pontos as vivências se conectam nos impõe discutir origem de povos e preconceitos sobre eles que precisam, urgentemente, ser superados. Se consideramos apenas a obrigatoriedade determinada pelo MEC e estudarmos aspectos da História que até recentemente eram quase apenas vistos rapidamente ou se ressaltando o que é pitoresco, agora o olhar precisa mudar. Nossa realidade, para ser compreendida, deve ser vista juntamente com outras histórias, no próprio Brasil e fora dele. Podemos perceber que os estranhamentos existem como estratégias de sua superação. Dessa maneira, ao tratar dos estudos sobre a África, temos como fundamento a existência, na realidade, de diversas Áfricas, inclusive, dos dois lados do Atlântico. As relações dos homens com o meio em que estão, não como determinismos, mas como necessidade de equalização, aparecem bastante em nossos apontamentos. Caminhamos assim para indicar a necessidade de se questionar os usos que se têm dado aos Direitos Humanos e como a diversidade étnico‑cultural é tratada em materiais e na prática de sala de aula. Por fim, quando tratamos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) buscamos entender e registrar aspectos importantes do tratamento das questões que envolvem a História, procurando ir sempre muito mais além da simples apropriação de conteúdos. 11 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 HISTÓRIA INTEGRADA Unidade I Nesta unidade procuramos trabalhar diferentes possibilidades de se utilizar a História em sala de aula, não com as preocupações mais específicas da área da didática, mas sim procurando trazer formas diversas de questionamentos e múltiplas possibilidades de tratar conteúdos e questionamentos relevantes.Passamos então a nos aproximar das realidades coloniais e da noção de múltiplas influências, vendo isso ocorrer tanto na montagem do sistema colonial quanto em sua crise. 1 AS DIFERENTES MANEIRAS DE SE ENSINAR HISTÓRIA E A HISTÓRIA INTEGRADA Nos últimos anos, o estudo de História nos ensinos fundamental e médio tem passado por questionamentos fundamentais, e isso acaba se refletindo nas escolhas dos professores da área. Diferentes estratégias podem ser adotadas, com maior ou menor sucesso, a depender do que se quer alcançar e do que se busca quando determinadas práticas, discussões e conteúdos são mobilizados em detrimento de outros modelos. Existem diversas maneiras de se organizar as aulas, e, muitas vezes, isso está ligado com as concepções do professor em articulação, ou subordinação, às diretrizes traçadas pela instituição à qual se vincula. Em alguns casos, as escolhas de concepções acabam por reforçar modelos que têm como foco decorar informações – aspecto empobrecedor das múltiplas possibilidades da abordagem histórica. As propostas e os temas escolhidos podem ser bastante variados, e os conteúdos geralmente devem obedecer a diversos critérios. Além dos referenciais legais, como a Lei de Diretrizes e Bases e os Parâmetros Curriculares Nacionais, muitas são as maneiras de selecionar conteúdos e abordagens. A interseção dos conteúdos produzidos academicamente e de estudos orientados com características de produção historiográfica, quer em uma especialização, quer em dissertações de mestrado ou teses de doutoramento, é um movimento que certamente enriquece as práticas dos professores em sala de aula. A depender de suas leituras, e mesmo de sua produção acadêmica, um docente pode estar mais inclinado a adotar uma concepção ligada à história econômica ou à história social, por exemplo. As discussões ganharam corpo com a entrada em cena de diversas abordagens e olhares que se preocupam com a vida social em múltiplas dimensões. O cultural, o temporal, o regional, o local, o cotidiano e o mundial têm sido alvo de investigações que enriquecem a produção quase cotidianamente. Podemos mencionar ainda a existência das mais diversas publicações de revistas acadêmicas que ajudam na divulgação desses saberes. Os debates acerca dos conceitos e concepções historiográficos envolvem maneiras de aprendizagem. Se a memória e o tempo são elementos importantes nas discussões, o meio ambiente, a cidadania, 12 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Unidade I as reflexões acerca de interdisciplinaridades, de história comparada, temática e da História integrada perpassam pela produção de material didático de história. O apelo ao estudo de história comparada representa, em certo sentido, um avanço em relação a abordagens mais tradicionalistas. Passou‑se a conectar e comparar realidades que antes pareciam estanques – distantes demais para terem algo em comum – e depois se descobriu que só será possível realmente avançar se os passos forem dados não no sentido de construir histórias nacionalistas, mas sim pensando novas relações. Dessa maneira, a abordagem que compara, conecta e integra nos parece um ganho significativo da historiografia do século XX. Saiba mais Como maneira de se aproximar do significado das diferentes noções de história, aqui apenas referidas, recomendamos consultar: SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2009. Na obra, podem‑se buscar definições para Historiografia, História, Interdisciplinaridade e diversos outros temas essenciais ao conhecimento de história. Tratando da história comparada, de acordo com Secreto (2014, p. 84), ela [...] se apresentou nas primeiras décadas do século XX como a possibilidade de tornar as conclusões históricas mais abrangentes. Em 1928 apareceu um artigo de Marc Bloch na Revue de Synthèse Historique que se converteu em referência para aqueles que refletiram sobre a história comparada (BLOCH, 1963). Bloch propunha estudar paralelamente sociedades vizinhas e contemporâneas, constantemente influenciadas de forma recíproca, sujeitas, pela sua proximidade, às mesmas grandes determinações. Isso formava parte de um programa que ele mesmo começou a realizar a partir do estudo da sociedade feudal. Nancy L. Green, sem deixar de reconhecer o impacto desse artigo, salienta que foi François Simiand o primeiro defensor do método comparativo. Simiand escreveu em 1903 um artigo intitulado “Méthode historique et sciences sociales”, no qual apresentava o método comparativo como o fim de um dos principais males da historiografia, possibilitando a superação dos nacionalismos. Esse método permitiria a pesquisa científica das regularidades e, desta forma, a história deixaria de ser descritiva para ser explicativa. Depois da Primeira Guerra Mundial, e no contexto do primeiro congresso de ciências históricas (1923), Henri Pirenne chamou a atenção para os efeitos negativos do romantismo e do 13 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 HISTÓRIA INTEGRADA nacionalismo do século XIX e insistiu na história comparada como meio de construir sínteses científicas. Mesmo a autora reconhecendo a dificuldade desse método de se espalhar entre os historiadores e de se difundir, já se pode pensar em abordagens complexas que se libertam de conteúdos nacionalistas fechados para sofisticar as análises. [...] o texto de Subrahmanyan apareceu em outro contexto, e a proposta de uma historiografia que buscasse as “conexões” nos processos históricos em espaços e/ou tempos amplos foi bem‑acolhida tanto por uma historiografia em diálogo com a antropologia, como pela história política e a chamada história das “elites”, entre outras. Os impérios foram analisados dessa perspectiva de interseções, de homogeneidade e heterogeneidades. Por outra parte, a história conectada permite manter a dimensão subjetiva, pessoal e individual que a historiografia tem abraçado faz algumas décadas (SUBRAHMANYAN, 2012). Assim, é possível fazer a história de um império tendo como fio condutor um indivíduo, ou um conjunto de administradores, comerciantes etc. Desta forma as histórias conectadas podem transitar entre escalas macro e micro; entre o sincrônico e o diacrônico (SECRETO, 2014, p. 85). Quando tratamos da organização de conteúdos para as aulas, projetos, discussões e mesmo para a seleção com a finalidade de se elaborar materiais de apoio ou didáticos, é importante se ter clareza de que o trabalho é, antes de tudo, pautado por escolhas que nem sempre são tão objetivas quanto gostaríamos que fossem e que possuem influências que podem não estar muito claras. O foco das discussões curriculares precisa considerar que o currículo é muito mais do que um conjunto de conhecimentos e uma determinada composição textual sobre as disciplinas escolares, uma vez que “ele é sempre parte de uma tradição seletiva, resultado da seleção de alguém, da visão de algum grupo acerca do que seja conhecimento legítimo” (APPLE, 1999, p. 59). Nesse sentido, o debate curricular está sempre marcado por tensões, contradições, concessões, conflitos de ordem política, econômica, social, cultural, que influenciam as formas de organização de uma nação (CAIMI, 2009, p. 2). Dessa maneira, as escolhas são incompletas, plenas de tensões e são, como referido, parciais. Consideramos que ter consciência disso apresenta algumas vantagens práticas, uma vez que o professor que trabalha com esse material pode também eleger o que vai trabalhar com mais ênfase. Ainda hoje existem grandes preocupações com os conteúdos, no sentido antigo de um gigantesco acúmulo de dados e informações que, se o docente não tiver cuidado, poderá quase determinar um processo de memorização maçante e bastante improdutivo se o objetivo tiver como uma de suas preocupações a formação crítica e cidadã. Caimi (2009, p. 2), citando Moreira e Silva (1999), afirmaque “a temática do currículo precisa ser analisada no âmbito de sua constituição histórica e social, não podendo permanecer 14 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Unidade I restrita à organização do conhecimento escolar. Desse ponto de vista, afirmam: ‘O currículo é uma área contestada, é uma arena política’”. O professor de História precisa perceber que, em diferentes épocas, os currículos obedeceram a determinados interesses e, assim, precisa questionar‑se a que serve a estratégia por ele elaborada. Em nosso caso, aqui, temos a intenção de auxiliar você na formação da noção de História integrada. Não é uma opção qualquer, mas que [...] busca integrar os acontecimentos/conhecimentos históricos de diferentes sociedades, consubstanciados num mesmo tempo cronológico, demonstrando como responderam às demandas colocadas pelo seu tempo e como operaram as transformações necessárias (CAIMI, 2009, p. 4). A mesma autora, esclarecendo que partiu de uma análise dos PCNs – Área de História, revela que em alguns materiais as abordagens mais recentes “articulam contextos mundial, regional e local, num cenário de globalização das relações sociais, econômicas, políticas e culturais” (CAIMI, 2009, p. 6). Observação Lembramos que a História integrada é uma das opções possíveis e que pode haver a escolha de uma história tradicional (seriada) e/ou ainda da história temática. Devemos admitir que não se trata simplesmente de ir encadeando conteúdos, deixando “ganchos” de um assunto para o outro, de forma a construir uma impressão de continuidade e de articulação lógica. A articulação deve ser no sentido de demonstrar que em cada um dos aspectos escolhidos existem implicações para o conjunto. Um evento, fato/acontecimento ou outra denominação que receba não se desliga ou se isola, mas, antes, relaciona‑se com diversos outros pontos. A História integrada parte de uma concepção processual da história que pressupõe a conjunção de múltiplas temporalidades para compor a explicação histórica, enfatizando simultaneamente aspectos de natureza econômica, política, social, cultural. Diferentemente da história temática (ou por eixos temáticos), a História integrada não abandona a pretensão de abordar toda a história, de todas as sociedades, tempos e lugares. Esse fator pode se constituir num entrave para a superação do conteudismo que marca muitos programas escolares, cuja preferência recai sobre a quantidade de assuntos em detrimento de um trabalho que prime pela construção do pensamento histórico, pelas relações presente‑passado, pela compreensão da realidade social e pelo desenvolvimento da cidadania. Outro aspecto de crítica que ronda a História integrada (e mais ainda a história intercalada) é o risco de tratar a história da América e do Brasil como meros apêndices da história geral, fortalecendo noções eurocêntricas que há muito são denunciadas na historiografia nacional (CAIMI, 2009, p. 7). 15 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 HISTÓRIA INTEGRADA Disso tudo que foi ressaltado no trabalho de Caimi (2009), chama a atenção uma preocupação que julgamos dever estar cada vez mais presente na sala de aula: a noção de que não devemos “tratar a História do Brasil ou da América como meros apêndices da história geral, fortalecendo noções eurocêntricas que há muito são denunciadas na historiografia nacional” (CAIMI, 2009, p. 7). Ao salientar que o professor deve optar por usar a organização da disciplina da maneira para a qual estiver mais bem‑preparado, escolhendo a História integrada se estiver preparado para isso ou mesmo se puder se preparar para isso, Caimi (2009) escapa de uma visão dogmática e determinista de uma organização/modelo melhor que outro, ou um mais moderno, ou, ainda, como o último uso da “moda”. Marcus Vinicius de Morais (2009, p. 201) é enfático ao determinar que “narrar história é, antes de tudo, uma questão de identidade”. O autor ainda enfatiza que o ensino de história é muito relevante, mas que se admitir aspectos de verdade absoluta “terá o poder de sufocar qualquer análise crítica”. Assim, faz o autor a defesa de uma forma de entender a história que nos é muito cara e relevante, pois “a História não é o que, de fato, se viveu, mas sim o que conta sobre o vivido e, principalmente, o modo escolhido para se contar” (MORAIS, 2009, p. 202). Devemos lembrar que, infelizmente, pode haver uma diferença significativa entre utilizar a terminologia de História Integrada e objetivamente esta ser integrada. Para Morais (2009, p. 203), História Integrada, como o próprio nome diz, deveria integrar, completar, totalizar e somar. O Brasil integrado à história da humanidade. Seguimos a argumentação do mesmo autor, que faz uma importante defesa da necessidade de se pensar o que seria mesmo essa História Integrada, para que, posta em prática, possa contribuir com os alunos. Morais (2009) coloca a importância de uma nova História integrada, não apenas como termo, mas, fundamentalmente, como prática. 1.1 A busca de uma História integrada: nem isolamento, nem superficialidade Pensando na prática, aparece a preocupação do sentido desse uso, para além de simples modismos. O que se deseja ao lançar mão desse recurso? O que o professor está propondo para trabalhar em sala com seus alunos e de que maneira isso pode enriquecer problematizações? Em uma terminologia contemporânea, qual seria a meta estabelecida? A História Integrada teria como meta, então, contar uma história do Brasil menos superficial, em que as conexões com os acontecimentos mundiais fossem estabelecidas; história mais rica, cheia de idas e vindas, num processo em que o Brasil não poderia ficar isolado. Narrar as histórias do Brasil e do Mundo juntas seria uma forma de acompanhar a inserção do Brasil num mundo e mercados amplamente globalizados. Uma tentativa de justificar e entender historicamente a participação do Brasil nas teias das relações estabelecidas entre os países. Na era da globalização, o Brasil teria que ser visto como nação complementar de um mundo capitalista ainda maior. A História Integrada tentaria, assim, entender essa incorporação; seria a chance de esclarecer os motivos e as origens do caminho que o Brasil fez e faz para tornar‑se parte integrante de um todo (MORAIS, 2009, p. 205). 16 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Unidade I Salientamos a preocupação com o aspecto do desenvolvimento de noções de complementaridade. Uma parte não faz sentido sem a compreensão de outras. Não por um esquema reducionista e empobrecedor, mas, ao contrário, pelo aumento da densidade do texto escrito ou das discussões, exemplos e documentos levados para a sala de aula, que devem fazer com que um ponto observado remeta, necessariamente, a diversos outros. A riqueza do texto de Morais (2009) se revela aos poucos com os questionamentos do autor, mas também com suas propostas e exemplos. Seguir critérios alheios, estrangeiros, não teriam contribuído em nossa trajetória de produção didática para desenvolver a História Integrada, antes disso, a subordinação se dá no sentido de se respeitar esquemas da história europeia ou da história geral. O autor é provocativo, no melhor sentido do termo, quando nos lembra que “sabemos mais sobre os jacobinos do que sobre os escravos quilombolas. Sabemos mais sobre a Comuna de Paris do que sobre Palmares” (MORAIS, 2009, p. 206). De uma maneira bem geral, a construção do pensamento histórico, em diversos casos, tem contribuído para que se perceba socialmente que o País é não agente de sua história, mas espectador. Com isso, fortalece‑se a ideia de que tensões e contradições internas desempenham um papel secundário na construção da nação. O Brasil torna‑se, assim, apenas o resultado da História Geral, conforme salientou Morais (2009). Figura 1 – Zumbi, líder negro do Quilombo dos Palmares,na concepção do pintor Antônio Parreiras (1869‑1937) 17 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 HISTÓRIA INTEGRADA Figura 2 – Sans‑culotte representado em óleo de Boilly (1761–1845) Ao observar as duas imagens anteriores, procure em sua memória sobre qual das duas você possui mais elementos para discutir e desenvolver aulas. Sobre Zumbi dos Palmares e a resistência negra no Brasil Colonial e, posteriormente, incluindo a abolição e suas consequências, ou sobre a Revolução Francesa, a fase do Terror e os jacobinos? Saiba mais Sobre essa percepção do que conhecemos e do que não conhecemos amplamente, basta olhar a filmografia disponível ao grande público. Sugerimos assistir aos seguintes filmes: GANGA Zumba. Dir. Carlos Diegues. Brasil: Copacabana Filmes, 1963. 100 min. QUILOMBO. Dir. Carlos Diegues. Brasil; França: CDK/Embrafilme, 1984. 119 min. O defeito de origem dessa formação viciada é que não existe crítica ou mesmo possibilidade de sair dessa visão se os seus limites são respeitados. Ao pensar a trajetória do País como errática e gestada fora, sobra pouco para os seus habitantes enquanto agentes. São vítimas e, o que é pior, vítimas passivas e apáticas, uma vez que não lhes cabe a ação, sendo‑lhes retirado até mesmo isso. 18 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Unidade I Circe Bittencourt (2003), citada por Morais (2009, p. 201) indica o resultado provocado por essa maneira de pensar historicamente e socialmente, “um imobilismo político, uma vez que estaríamos todos na rede de um poder maior e diante de um destino inexorável”: o destino de ser dependentes. Chama a atenção que a colonização não se restringe ao material, ao econômico ou ao natural, que é levado para a Europa. Ela conforma o olhar e o pensamento e, assim, produtos de uma construção desigual organizada fora, não seríamos capazes de sermos outra coisa. Ao trabalhar sobre a problemática do ensino de História, Bittencourt (2011) faz apontamentos que são, muitas vezes, muito lúcidos e instigantes, e, mesmo quando simplesmente nos obrigam a rever as posições mais básicas quanto a métodos e conteúdos, são esclarecedores. Buscando apoio em uma bibliografia fundamental – e muito rica –, aponta: A história entendida ao mesmo tempo como “ciência do passado” e “ciência do presente” gera cuidados para o pesquisador e para o professor. Este, ao propor temas para os alunos estudarem, os quais são solucionados com base nos problemas do presente, precisa estar atento para não incorrer em equívocos tidos como “pecados capitais”. A história ensinada por temas cuja problematização se baseie na história do tempo presente pode cometer o pecado de ser anacrônica, ao apresentar uma trajetória que se inicia no presente e depois retoma o tema em outras sociedades do passado de forma superficial, cobrando dos agentes de outrora valores que são contemporâneos nossos. (BITTENCOURT, 2011, p. 154). O alerta proferido é essencial para não julgamos diferentes épocas e sociedades com valores que, no mínimo, não lhes eram pertinentes e mesmo nem estavam presentes em muitos casos. Assim, como exigir democracia em sociedades onde isso nem ao menos se discutia? Ou ainda, quantas interpretações equívocas não aparecem de aplicações de palavras que parecem iguais, mas cujo sentido histórico foi mudando, por exemplo, tratar da escravidão? Talvez uma boa forma de proceder seja tentar ser menos categórico em termos de classificações absolutas e fechadas e buscar propor justamente a compreensão dos diversos sentidos existentes em determinadas palavras. O outro “pecado capital” é desconsiderar, tanto no presente como no passado, o contexto que fundamenta as diferenças e semelhanças, contando com informações insuficientes para que se entendam as permanências e as mudanças das sociedades estudadas e correndo o risco de reforçar a ideia do presente como um momento histórico “evoluído” e a de outros tempos como “atrasados”. O historiador francês René Rémond, em A Introdução da História do Nosso Tempo, escreveu uma frase que pode sintetizar a importância e os problemas da história do tempo presente para historiadores e professores: “É impossível compreender seu tempo para quem ignora todo o passado; ser uma pessoa contemporânea é também ter consciência das heranças, consentidas ou contestadas” (BITTENCOURT, 2011, p. 154). 19 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 HISTÓRIA INTEGRADA Mesmo sendo uma observação para a questão da história do tempo presente ou do presente na história, é um alerta válido para as mais diversas abordagens dos professores. Continuando com a abordagem relativa a métodos e conteúdos e passando para a discussão de História nacional ou mundial, Bittencourt (2011, p. 155) observa que Entre os problemas para a seleção de conteúdos, existe a dúvida sobre privilegiar uma história nacional ou uma história geral ou mundial. Ao longo do ensino de História do Brasil, a História Geral ou “das civilizações” tem sido privilegiada e, na atualidade, a história brasileira tem sido novamente posta em posição secundária, conforme pode ser visto nas tendências de produção didática, voltada para a compreensão do mundo globalizado. Devemos contextualizar a fala da autora para 2011 e discutir que o mesmo é válido para o momento em que vivemos. No entanto, naquela época era válido e embasou suas questões que nos fazem propostas importantes e nos trazem reflexões também muito ricas. 1.2 História Integrada e o olhar para a Mundialização/Globalização Ao problematizar o estudo da História podemos escolher diferentes abordagens, e isso, muitas vezes, está diretamente relacionado com o momento em que vivemos. Se consideramos que as ciências humanas precisam dialogar com as questões colocadas pelo movimento genericamente chamado de Globalização, entenderemos que isso vai aparecer de diferentes maneiras nas falas de diferentes interlocutores. O próprio sentido em que se escolhe olhar para a História e os problemas levantados e debatidos se relacionam com as características das épocas. Na era da mundialização, parece ultrapassado o sentido da História nacional, muitas vezes entendido como responsável pela constituição de uma identidade nacional e ideologicamente comprometida com interesses de determinadas elites dominantes. Se a constituição de um nacionalismo “de direita” fez parte dos objetivos da disciplina, não significa que se possam ignorar os estudos de História do Brasil e deixá‑los em posição subalterna. Com a difusão do culto à globalização, a história nacional pode ser considerada como um conteúdo desnecessário, por ser de cunho conservador e limitador da modernização. O atual estágio do capitalismo associa a modernização e a tecnologia ao mundo da globalização, e tudo o que se refere a nacionalismo corresponde a uma representação de “atraso”. A política de desnacionalização da economia em seus diversos setores, incluindo os considerados como “base da riqueza nacional” – política essa que envolveu, ou ainda envolve, por exemplo, os confrontos em torno da Companhia Vale do Rio Doce ou da Petrobras –, evidencia que o ideário nacionalista pode ser entendido como retrógrado ou ultrapassado ante os projetos do moderno capitalismo globalizado (BITTENCOURT, 2011, p. 156). 20 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Unidade I Saiba mais Para saber mais sobre os aspectos mais gerais e também sobre as características mais marcadas da Globalização neoliberal, recomendamos a leitura, especialmente dos Capítulos 1 e 5, da obra: SANTOS, B. S. (Org.). A Globalização e as Ciências Sociais. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2011. Indicamos ainda a leitura de: GREFE, C. Attac: o que querem os críticos da globalização. São Paulo: Globo, 2005. SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único àconsciência universal. São Paulo: Record, 2006. Além dos textos, vale assistir ao documentário crítico à Globalização que nos apresenta a visão de um dos principais pensadores da realidade brasileira, e mundial, no século XX, Milton Santos: ENCONTRO com Milton Santos ou O mundo global visto do lado de cá. Dir. Silvio Tendler. Brasil: Caliban Produções Cinematográficas, 2002. 89 min. O pensamento crítico pode se desenvolver em diversas matrizes e tradições, e a menção à obra de pensadores como Milton Santos e Boaventura de Sousa Santos busca ressaltar que deve‑se cuidar de perceber as mitificações da Globalização e as várias tentativas de ordenar o pensamento crítico para entender a complexidade do quadro em que as sociedades se encontram desde as décadas finais do século XX e início do XXI. Pode‑se, assim, entender que a realidade da Globalização não diz respeito apenas ao Brasil, pois atinge diversas nações e uma parcela significativa da população mundial, e, dessa forma, isso também não é uma possibilidade de entender a História de maneira integrada? É possível separar radicalmente esses papéis? Não parece viável questionar a História do Brasil ignorando‑se os vizinhos e demais países que partilham caminhos comuns. Lembrete Devemos ressaltar a necessidade de, conforme apontado anteriormente a partir do texto de Morais (2009) e também das referências à obra de Milton Santos, não ser um professor que simplesmente adota estratégias levando em consideração modismos. O pensamento crítico deve ser adotado como uma estratégia de leitura crítica, e, nesse sentido, analisar a Globalização pode ser de grande valia. 21 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 HISTÓRIA INTEGRADA Da observação selecionada por Bittencourt (2011), podemos destacar dois pontos: o primeiro aponta para um culto à globalização, criticando assim modismos acríticos e de muito pouco embasamento, e o segundo aspecto importante é essa globalização no sentido da desnacionalização do capital. Em uma breve citação, como esta, a seguir, já se pode observar um pensamento crítico: As novas necessidades de análise aprofundada de uma história mundial, no entanto, não podem relegar o conhecimento sobre “‘as coisas e as gentes brasileiras” a segundo plano. O desprezo pelo aprofundamento da história nacional pode estar relacionado a uma abordagem contraditória que vincula os nossos problemas todos às explicações exógenas, as quais os veem determinados por situações supranacionais. Nessa mesma linha de raciocínio, o modelo interpretativo da realidade brasileira é igualmente supranacional. A produção didática mais recente, com exceção da correspondente às séries iniciais do nível fundamental, representa uma diminuição acentuada de conteúdos da história nacional. Trata‑se de tendência associada à concepção de História integrada que merece atenção (BITTENCOURT, 2011, p. 156). O desafio seria tratar da história do Brasil sem ser um pobre nacionalismo requentado ou então não ser um entusiasta da globalização de tudo, colocando o mundial como melhor que qualquer outra análise, como algo positivo em si e que não tivesse consequências várias vezes nefastas para milhões de pessoas. A História integrada conta com uma abordagem que representa inovações, entre as quais a introdução do tempo sincrônico, que permite estabelecer novas posturas nas relações entre tempo e espaço e entre a história nacional e a mundial. Entretanto, constata‑se que os conteúdos de História do Brasil são apresentados, na maior parte dessas obras, escassamente. Uma análise de algumas obras didáticas recentes e com grande vendagem, para o ensino fundamental e para o ensino médio, permite, por exemplo, identificar rápida e facilmente a diluição de conteúdos da história do Brasil. Apenas para exemplificar, em um rápido levantamento quantitativo, em um livro didático para o ensino médio, confeccionado segundo o atual modelo de volume único para as três séries, verifica‑se que dos 42 capítulos apresentados, apenas 12 são efetivamente de conteúdos de história do Brasil. O mesmo pode ser observado em coleção para o ensino fundamental, na qual em um total de 168 capítulos organizados para 4 séries, existem apenas 30 relativos à história brasileira (BITTENCOURT, 2003, p. 188 apud BITTENCOURT, 2011, p. 157). A crítica é contundente e bem‑embasada em termos de quantificação. Comparando‑se volumes, a pouca importância dada aos conteúdos de história do Brasil fica evidente. Pode‑se, no entanto, argumentar que existem diferentes abordagens que podem pautar‑se por temas mais relevantes, em vez de discutir quantidades. O que é verdade em determinados pontos de vista, mas, para séries iniciais, essa divisão é bastante significativa. O desafio que é transitar entre esses vários conteúdos, 22 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Unidade I construindo visões integradas, é bastante grande. Por vezes, oscilamos olhando em demasia para o “exterior” e poucas vezes pensamos o nacional em si, esquecendo o entorno imediato e mesmo as questões válidas para situações longínquas, mas que estão de alguma maneira se relacionando com o que ocorre no Brasil. A explicação de Bittencourt (2011) continua no que conserne a não atribuir peso ou culpa à História integrada, mas procurar entender esse movimento de desvalorização da história do Brasil diante de outras discussões. A diminuição dos conteúdos referentes ao Brasil explica‑se não pela sua inserção em uma História integrada, mas pela opção teórica que continua priorizando apenas as explicações estruturais para as situações nacionais ou regionais. A história do Brasil aparece como apêndice da história global, e sua existência deve‑se ao desenvolvimento do capitalismo comercial, a partir da expansão marítima europeia. A macro‑história é a lógica e a chave para a compreensão da nossa condição de país permanentemente periférico do sistema econômico capitalista. As temáticas nacionais deixam de constituir o eixo norteador dos conteúdos, e as explicações históricas são fornecidas externamente. Essa postura já foi predominante nos anos 1960 e 1970 do século passado, momento em que difundiam no ensino de História as explicações fundadas na teoria da dependência, sob o impacto do imperialismo norte‑americano na América Latina. Como afirmam historiadores dedicados a esse período e espaço histórico, o peso do imperialismo impedia que se situasse a dinâmica interna de cada país, as relações entre Estado e sociedade, e valorizava‑se exclusivamente a intervenção de potências hegemônicas na história da sociedade brasileira. As análises centravam‑se em uma visão dualista, baseada em categorias de “desenvolvimento” e “subdesenvolvimento”, as quais não expunham os problemas internos criados pelo poder institucional e a série de manobras e conflitos internos para a manutenção dos privilégios das elites nacionais responsáveis pelas desigualdades sociais, econômicas e culturais (BITTENCOURT, 2011, p. 158). Consideramos o trecho adequado, apesar de sua extensão, uma vez que o problema é apontado e, junto com ele, são dadas uma interpretação e uma problematização à altura. Não apenas a constatação de que determinadas práticas ocorriam, mas também a busca do entendimento das motivações e consequências. Ainda seguindo o tom de alerta, Bittencourt (2011, p. 158) continua: Ao enfatizar‑se a integração constante do Brasil a uma história mundial, sem situar devidamente os problemas nacionais e ampliar o conhecimento da realidade brasileira, pode‑se reforçar a ideia de que os conflitos internos e seus agentes sociais desempenham papel secundário na construção de uma nação. Parece‑nos absolutamente necessário salientar que todos os exemplos que trazemos aqui – quando buscamos abrir os primeiros caminhos para uma visão integrada – estão sempre incompletos, sendo assim propostas em aberto. Não se tratade um manual com abordagens e aulas prontas. Nada mais 23 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 HISTÓRIA INTEGRADA distante de nossa proposta. Trata‑se, antes, de uma série de questionamentos que devem pautar‑se pelas muitas preocupações que envolvem as possibilidades de uso da História integrada. Queremos, antes, estabelecer como, muitas vezes, se trabalha história em sala de aula e como isso pode ser feito sem ser nacionalista ou sem abandonar a história do Brasil ao plano da insignificância ou, pior, do pitoresco. A produção historiográfica sobre o Brasil teve significativo crescimento, a partir dos anos [19]70, com historiadores de várias tendências (...) os quais notadamente têm privilegiado a história social e a cultural e renovado a história política. Essa produção pode ser acompanhada nas variadas publicações de livros e de artigos de revistas, como a Revista Brasileira de História da ANPUH [Associação Nacional de História]. Essa recente produção historiográfica sobre o Brasil favorece, sem dúvida, a renovação dos conteúdos escolares. Favorece a revisão de muitos “nós da história”, como a Independência do Brasil e a abolição dos escravos, além de possibilitar uma ruptura com a lógica da história eurocêntrica (BITTENCOURT, 2011, p. 159). Nossas preocupações iniciais estão justamente aí, na questão de apontar a relevância de revisitar temas antes tidos como canônicos e ainda problematizar determinadas visões que, de tão eurocêntricas, quase apagam o restante da história. A noção de uma visão de história mundial como sendo da civilização deve ser questionada, mas não para se jogar tudo fora. Iniciativas como a de Maurice Crouzet, com sua História Geral das Civilizações (CROUZET, 1995) em 17 volumes, que vão da Antiguidade até a História Contemporânea, do século XX, não devem ser desprezadas, e sim utilizadas para desenvolver uma visão muito mais ampla. Se a aula de história não pode ser um longo desfilar da erudição do professor como mostras de um saber superior, ela não pode deixar de lado a necessidade de se entender movimentos amplos e que estão se desenvolvendo em diversas sociedades ao mesmo tempo. A obra não trata apenas da Europa, apesar de sua ênfase, por vezes. No entanto, é preciso ir além e estudar as realidades atlântica, africana, americana e também oriental. Segundo Bittencourt (2011, p. 160): Não se trata de negar a importância e o legado da Europa para a nossa história; trata‑se, antes, de não omitir outras histórias de nossas heranças americanas e africanas. Torna‑se fundamental, como tem sido pleiteado pelo movimento das comunidades negras, o conhecimento da História da África em seus componentes mais complexos, que envolvem nossas heranças, sempre malcompreendidas, das populações negras. Um dos trabalhos recentes que esclarecem com profundidade as relações intrínsecas entre a história da nossa sociedade e a história das sociedades africana escravizadas é o livro Trato dos Viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul, de Luiz Felipe de Alencastro: “O Brasil colonial tem sido estudado da mesma maneira que a Lua era observada antes dos voos espaciais: do lado que reflete o Sol, do lado de Portugal, da Europa. Incorporar os eventos transcorridos em Angola à narrativa dos eventos brasileiros é como descobrir o lado escondido da Lua, a metade oculta da história do Brasil” (2000, quarta capa). 24 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Unidade I Tarefa simples? Claro que não, mas são inegáveis as possibilidades de enriquecimento contidas nessa proposta. Territórios pertencentes a Portugal. Territórios pertencentes à Espanha. Áreas pertencentes à Espanha. Áreas pertencentes a Portugal. Figura 3 – Mapa com visão eurocêntrica do mundo Figura 4 – Mapa do tráfico atlântico de escravos Observando as duas imagens, percebemos uma centralidade na Europa no primeiro caso e a importância fundamental da dinâmica do Atlântico Sul para a história do Brasil com o tráfico de escravos. Sugerimos 25 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 HISTÓRIA INTEGRADA a observação bastante cuidadosa dos mapas, que não são neutros, e procurar observar pontos de vista, centralidades, implicações ideológicas e discursos presentes nessas imagens para se poder perceber a questão da construção dos olhares no mundo, inclusive com o estabelecimento de hierarquias. Saiba mais Uma pesquisa na página da Associação Nacional de História (ANPUH) em suas diversas publicações e frentes de trabalho pode nos auxiliar a problematizar diversos aspectos anteriormente referidos. Acesse: <http://site.anpuh.org/>. Como fonte e repositório da moderna produção historiográfica, recomendamos a leitura da Revista Brasileira de História (RBH), que pode ser encontrada em: REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA. São Paulo: ANPUH, 1997‑. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0102‑0188&l ng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 28 abr. 2016. Voltando à questão mais específica da Globalização e das formas pelas quais ela pode interferir nas noções de história, trazemos aqui também as discussões relativas à abordagem de uma história regional. As propostas de um ensino de história regional estão relacionadas às políticas econômicas que objetivam fazer frente à hegemonia do imperialismo americano ou constituir uma forma de resistência à globalização. Uma dessas formas de resistência tem sido o desenvolvimento de organizações regionais no âmbito econômico‑político. A União Europeia e o Mercosul são exemplos dessa ação que visa ampliar os mercados nacionais por meio de um processo de integração regional. Em decorrência dessa estratégia surgiram propostas de políticas educacionais para facilitar intercâmbios e desenvolver formas de integração mais sólidas entre os países participantes. No caso do Mercosul, os programas educacionais têm procurado desenvolver uma cooperação científico‑tecnológica, favorecendo o intercâmbio de estudantes e profissionais. [...] é considerado como de importância estratégica o ensino de História e Geografia (BITTENCOURT, 2011, p. 163). No que se refere à maneira de apresentar as interligações das diversas histórias no continente e mesmo fora dele, poderíamos mencionar: Foi por intermédio de uma “esplêndida pequena guerra” – a frase é do secretário de Estado John Hay – que os Estados Unidos deram, em 1898, 26 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Unidade I o primeiro passo na via do imperialismo. Perderam dois mil quatrocentos e quarenta e seis homens na aventura, a maioria vítima de doenças, pois somente duzentos e quarenta e nove foram mortos ou feridos mortalmente em combate. Muito pouco sangrenta, a campanha foi bastante lucrativa, já que permitiu aos Estados Unidos recolher os últimos belos frutos do império espanhol: Cuba, Porto Rico, as Filipinas. No passado, os norte‑americanos ainda não tinham recorrido às armas para ampliar seu território, a não ser ao resolverem “pacificar” as tribos índias e para arrancar ao México as vastas regiões do Oeste: Texas, Novo México, Arizona, Califórnia. Haviam permanecido fiéis à tradição definida pelo discurso de despedida de George Washington, pelas mensagens de Jefferson e pela doutrina de Monroe: os interesses fundamentais do povo norte‑americano não podiam transbordar das suas possessões continentais. A guerra hispano‑americana de 1898, fazendo flutuar a bandeira estrelada sobre os mares, marca o fim, de fato, de um isolacionismo que, apesar disso, sobreviveria ou renasceria de diversas formas, devido às decepções provocadas pela política de intervenção (JULIEN, 1970 apud FARIA; MARQUES; BERUTTI, 1993, p. 22). Em sua atuação no Oriente, os Estados Unidos afirmaram que As Filipinas são nossas para sempre, “território pertencente aos Estados Unidos”, como a Constituiçãoas chama. E exatamente além das Filipinas estão os mercados sem limites da China. Não nos retiraremos de nenhuma delas. Não repudiaremos o dever no arquipélago. Não abandonaremos a nossa oportunidade no Oriente. Não renunciaremos nossa parte na missão de nossa raça, depositária, sob as ordens de Deus, da civilização do universo. E nos movimentaremos para frente em nosso trabalho, não uivando lamentos como escravos esmagados por suas cargas, mas com gratidão por uma tarefa digna de nossa força, e dando graças ao Deus todo‑poderoso, por nos ter marcado como Seu povo escolhido, de hoje em diante, para guiar a regeneração do mundo... A força que governa o Pacífico... é a força que rege o mundo. E, como as Filipinas, aquela força é e sempre será a República Norte‑Americana... Seria melhor abandonar este jardim combinado e Gibraltar o Pacífico e calcular o sangue e o tesouro já gastos como uma perda proveitosa, que aplicar qualquer organização acadêmica ao autogoverno destas crianças. Não são capazes de se governar. Como poderiam ser? Não fazem parte de uma raça que se governe (JULIEN, 1970 apud FARIA; MARQUES; BERUTTI, 1993, p. 222). Dessa forma, reafirmando a intenção da dominação aliada ao olhar preconceituoso de inferioridade do outro, continua: São orientais, malaios, educados por espanhóis, no pior estado destes últimos. Nada sabem do governo político, exceto do que testemunharam 27 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 HISTÓRIA INTEGRADA do governo fraco, corrupto, cruel e caprichoso da Espanha. Qual é a mágica que alguém empregaria para desfazer em suas mentes e caracteres as impressões de governadores criadas pelo desregramento de três séculos? Qual a alquimia que mudará a qualidade oriental de seu sangue e estabelecerá correntes de autogoverno do deslizar norte‑americano através de suas veias malaias? Num piscar de olhos, como serão exaltados à altura dos povos com autogoverno, que nos levaram milhares de anos para atingir, anglo‑saxões que somos?... Sr. Presidente, esta pergunta é mais profunda que qualquer outra de política partidária: até mais profunda que qualquer pergunta de política isolada de nosso país; até mais profunda que qualquer pergunta de poder constitucional. É elementar. É racial. Deus não separou os povos de língua inglesa e teutônica durante milhares de anos apenas para autocontemplação e autoadmiração vã e ociosa. Não! Tornou‑nos senhores e organizadores do mundo, para estabelecer o sistema onde reina o caos. Deu‑nos o espírito do progresso para superar as forças da reação através da terra. Tornou‑nos competentes em administração para que possamos estabelecer o governo entre povos selvagens e senis. Se não fosse por esta força, o mundo retornaria à barbárie e à noite. E de toda a nossa raça, marcou o povo norte‑americano como a nação escolhida para levar, finalmente, a regeneração ao mundo. É esta a missão divina da América do Norte, e assegura‑nos todo lucro, toda glória, toda a felicidade possível ao homem. Somos os depositários do progresso do mundo, os guardiães de sua paz virtuosa. O julgamento do Senhor está sobre nós: “Em algumas coisas vocês foram fiéis; farei com que vocês governem sobre muitas coisas” (FENTO, 1974 apud FARIA; MARQUES; BERUTTI, 1993, p. 222). No entanto, vale lembrar que é possível se apresentar um pensamento que trabalhe a integração não em sentido imperialista exclusivamente, mas de realmente se partilhar trajetórias que contribuam para uma integração regional efetiva. Assim, Bittencourt (2011, p. 163) traz o material a que se refere: A expectativa de uma integração regional está explícita em documentos oficiais dos países pela criação do Setor Educacional do Mercosul: à ideia de mercado comum, que deu início ao Mercosul, nos moldes da União Europeia, agrega‑se a necessidade da construção de um espaço físico, social e culturalmente integrado. E nesse sentido o papel da escola é fundamental. E, dentro da escola, é especialmente por meio do ensino da História e da Geografia que podemos introduzir a formação, tão importante, da consciência cidadã e da consciência de tempo, espaço e fato histórico. Espaço que transcende a esfera do mercado e dos interesses econômicos e que, no contexto do Mercosul, deve ser o lugar em que a sociedade pode interagir em busca de sua identidade. 28 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Unidade I Lembrete A ideia de identidade precisa ser discutida em História para se evitar o frequente apoio em mitos. Para isso outros campos do conhecimento científico podem nos auxiliar, como as ciências sociais e também a antropologia. Percebe‑se uma preocupação em desenvolver noções identitárias mais amplas que apenas a nacional, colocando em contato direto o nacional e o regional em estudos de casos que levem ao pensamento que faça comparações. E ainda, como aponta Bittencourt (2011, p. 164): As propostas de temas de estudos históricos regionais para os países do Mercosul são: • Estudo histórico das diversas etnias. • Fronteiras como espaços de intercâmbio e isolamento. • Passado colonial na perspectiva de estudos comparados. • Estudo dos conflitos entre Estados nacionais numa perspectiva regional. • As ditaduras militares recentes na América Latina e os circuitos do exílio. • A produção cultural numa perspectiva histórica. Estudos históricos no Mercosul Conflitos regionais Produção cultural Etnias Ditaduras cívico‑militares: violências e exílios Fronteiras: intercânbio ou isolamento? Figura 5 29 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 HISTÓRIA INTEGRADA Ainda na senda da escolha dos conteúdos, Bittencourt (2011, p. 166) pontua o aparecimento das discussões sobre a história do cotidiano e, para tanto, lança mão, como exemplo de uma obra (na verdade em 4 volumes) absolutamente emblemática da historiografia que trabalha nesse sentido, A História da Vida Privada no Brasil: Os estudos da história do cotidiano conduziram historiadores franceses, brasileiros e argentinos, entre outros, à elaboração de coletâneas sobre a história da vida privada, tendo, entretanto, o cuidado de não situar os temas da vida cotidiana de forma isolada dos contextos históricos e dos temas tradicionais. Por exemplo, os autores da obra História da Vida Privada no Brasil advertem que a reconstituição de aspectos cotidianos e da vida privada fez‑se no processo histórico de formação brasileira. Não se pretendeu a reconstituição de hábitos, gestos e amores como se estes nada tivessem que ver com a organização mais ampla da sociedade, da economia, do Estado. Saiba mais Recomendamos a leitura da obra: SOUZA, L. M.; NOVAIS, F. A. (Org.). História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. Devem ser observados, em especial, o Capítulo 1 (“Condições de privacidade na colônia”, de Fernando A. Novais) e o Capítulo 8 (“A sedução da liberdade: cotidiano e contestação política no final do século XVIII”, de István Jancsó). A relevância dessa matriz talvez venha justamente dessa proposta, que traz em si a ideia de ampliação de olhares. A história do cotidiano, além da história social, está intimamente ligada à história cultural. Um autor importante que trabalha o cotidiano na circularidade entre cultura popular e cultura erudita é o italiano Carlo Ginzburg, que em seu instigante livro O Queijo e os Vermes recupera a vida de um moleiro italiano perseguido e morto pela Inquisição. Para narrar os episódios da vida do moleiro Menocchio, Ginzburg localiza e apresenta a conjuntura da época da Reforma, do poder da Igreja Católica, e situa as transformações ocasionadas pela invenção da imprensa em parte significativa da sociedade europeia do século XVI (BITTENCOURT, 2011, p. 166). 30 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M árci o - 17 /0 5/ 20 16 Unidade I Devemos salientar que mesmo não sendo nosso foco a discussão exclusiva de aspectos didáticos, de Teoria da História, de Historiografia do Brasil e Geral, é claro que devemos dialogar com essas áreas do conhecimento que são parte do terreno por onde caminha o professor de História. Se os novos olhares – mesmo que muitos anos depois não pareçam tão novos assim – contribuíram para melhores práticas, qual a razão de não se aproximar deles? Nenhuma. Leitura obrigatória Como forma de se aproximar da temática das ditaduras, da exclusão de direitos políticos e também de como a América Latina compartilha determinadas realidades, sugerimos a leitura das seguintes obras: FERREIRA, A. P. L.; MÈRCHER, L. Movimentos internos e caminhos futuros. In: ___. História política comparada da América Latina. Curitiba: Intersaberes, 2015. p. 157‑234. Disponível em: <http://unip.bv3.digitalpages. com.br/users/publications/9788544301999>. Acesso em: 28 abr. 2016. FICO, C. A democracia sob teste. In: ___. História do Brasil contemporâneo: da morte de Vargas aos dias atuais. São Paulo: Contexto, 2015. p. 125‑141. Disponível em: <http://unip.bv3.digitalpages.com.br/ users/publications/9788572449359>. Acesso em: 28 abr. 2016. NAPOLITANO, M. A ditadura entre a memória e a história. In: ___. 1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014. p. 313‑333. Disponível em: <http://unip.bv3.digitalpages.com.br/users/ publications/9788572448260>. Acesso em: 28 abr. 2016. 1.3 Cotidiano e mentalidades em História Ao abordar o uso da história do cotidiano, e também das mentalidades, Bittencourt (2011, p. 167) aponta que: Autores brasileiros [...] dedicaram‑se aos estudos da religiosidade e suas manifestações diversas, como festas e rituais de enterro, as quais foram reconstituídas para demonstrar as articulações entre a cultura europeia e a africana, a constituição de um catolicismo popular e a constante presença do candomblé. Transparecendo, assim, que não se pode construir uma única abordagem que ignore as múltiplas possibilidades tão arduamente desenvolvidas pelos historiadores de diferentes vertentes, mas com algumas preocupações próximas. 31 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 HISTÓRIA INTEGRADA Saiba mais Para ampliar a noção da existência de diferentes sociabilidades na América portuguesa, e enfatizando a necessidade de perceber a importância dos rituais e festas na sociedade de Antigo Regime e no Brasil do século XIX, indicamos a leitura de: REIS, J. J. A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX. São Paulo: Cia. das Letras, 1991. BOSCHI, C. Espaços de sociabilidade na América Portuguesa e historiografia brasileira contemporânea. Varia Hist., Belo Horizonte, v. 22, n. 36, p. 291‑313, jul./dez. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ vh/v22n36/v22n36a04.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2016. JANCSÓ, I.; KANTOR, I. Festa: cultura e sociabilidade na América portuguesa. São Paulo: Hucitec; Edusp; Fapesp; Imprensa Oficial, 2001. 2 v. (Coleção Estante USP – Brasil 500 anos, 3). Bittencourt (2011, p. 167) ainda afirma, citando Heller (1985): Os autores que se ocupam da história do cotidiano, mesmo com posturas diversas em seus fundamentos teóricos, buscam recuperar as relações mais complexas entre os diversos grupos sociais, estabelecendo conexões entre conflitos diários que se inserem em uma forma de política contestatória, e identificar as lutas de resistências a mudanças, o apego a tradições. A importância da história do cotidiano pode ser expressa pela afirmação de Agnes Heller em seu livro O Cotidiano e a História: a Vida Cotidiana é a Vida do Homem Inteiro; ou seja, o homem participa na vida cotidiana com todos os aspectos de sua individualidade, de sua personalidade. Nela, colocam‑se “em funcionamento” todos os sentidos, todas as capacidades intelectuais, suas habilidades manipulativas, seus sentimentos, paixões, ideias, ideologias. [...] Repetimos: a vida cotidiana não é alienada necessariamente, em consequência de sua estrutura, mas apenas em determinadas circunstâncias sociais. Em todas as épocas, existiram personalidades representativas que viveram uma cotidianidade não alienada; e, dado que a estruturação científica da sociedade possibilita o final da alienação, essa possibilidade encontra‑se aberta a qualquer ser humano. Percebemos aqui a ênfase nas múltiplas vivências e possibilidades de discussões históricas e historiográficas. O cotidiano pode oferecer questionamentos que vão muito além dos aspectos de simples observação da realidade mais imediata. E o estudo dessas várias relações pode, em alguma medida, contribuir para a construção de alternativas. 32 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Unidade I É importante manter espaços de diálogos com diversas matrizes historiográficas, permitindo‑se, por vezes, olhar para situações conflituosas, em momentos de grave crise e ruptura, ou simplesmente perceber como as diversas sociedades organizam seus cotidianos. Saiba mais Ainda sobre o tema, indicamos a leitura de: DANTAS, M. D. (Org.). Revoltas, motins, revoluções. São Paulo: Alameda, 2011. Como exemplo de produção historiográfica sobre o cotidiano indicamos a seguinte obra, que faz parte da coleção “A vida cotidiana”, editada pela Companhia das Letras: MAURO, F. O Brasil no tempo de dom Pedro II: 1831‑1889. São Paulo: Cia. Das Letras, 1991. (Coleção A Vida Cotidiana). A aproximação do cotidiano implica o desenvolvimento de questões que não são de fácil abordagem. Para encerrar esse ciclo tratado por Circe Bittencourt (2011) ao discutir Métodos e Conteúdos Escolares, seguimos ainda tributários de seu rico pensamento, que procura, então, questionar a memória e a história local. Ao que parece, isso é quase um desdobramento da observação do cotidiano, do entorno, daquilo que se vive no dia a dia. Dessa forma, é fundamental ter clareza de que em muitos casos são produzidas memórias que se quer apresentar como história, mas que não o são. A memória é, sem dúvida, aspecto relevante na configuração de uma história local tanto para historiadores como para o ensino. O papel do ensino de História na configuração identitária dos alunos é um aspecto relevante para considerar ao proporem‑se estudos de história local. [...] a história local pode simplesmente reproduzir a história do poder local e das classes dominantes, caso se limite a fazer os alunos conhecerem nomes de personagens políticos de outras épocas, destacando a vida e obra de antigos prefeitos e demais autoridades. Para evitar tais riscos, é preciso identificar o enfoque e a abordagem de uma história local que crie vínculos com a memória familiar, do trabalho, da migração, das festas. A questão da memória impõe‑se por ser a base da identidade, e é pela memória que se chega à história local (BITTENCOURT, 2011, p. 169) Devemos salientar que a questão fundamental da memória e da história é objeto de discussões na disciplina de Teoria da História e que aqui fazemos alguns apontamentos para a compreensão das diversas possibilidades. Não estamos, com isso, recusando a importância do estudo da memória – em suas mais variadas manifestações individuais ou coletivas –, mas apenas recordando que a memória e a história são distintas. 33 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 HISTÓRIA INTEGRADA A relação entre história local e memória foi observada com propriedade por Maria Cândida Proença, ao propor essa abordagem para professores portugueses: se o conhecimento histórico é indispensável na construção da identidade, sob o ponto de vista pedagógico‑didático é importante ter em conta o tratamento da memória longa das populações, que nos permite explicar diferentes ritmos de evolução, o estudo da memória coletiva de diferentes grupos de pertença,a pesquisa das memórias locais nos diferentes âmbitos de durações, a reabilitação da memória do trabalho, numa sociedade ocidental que sempre ignorou ou desprezou o trabalho manual, e a memória do tempo curto do acontecimento, que caracteriza o estudo da história do século XX (PROENÇA, 1990, p. 24 apud BITTENCOURT, 2011, p. 169). Podemos afirmar que a preocupação em tentar diferenciar memória e história não pertence a um único grupo de historiadores, a uma “escola”. É um problema contemporâneo daqueles que se dedicam a estudar e lecionar história, trabalhando inevitavelmente com a produção historiográfica. No entanto, aceitamos a repetição de alguns “cânones” historiográficos que muito bem formularam as questões desse tema. Lembramos que podemos considerar a dúvida como o nascimento do pensamento científico e que é via questionamento que se desenvolvem novos patamares de conhecimento. Se o conhecimento histórico‑historiográfico fosse tratado de forma dogmática, sofreria enormes prejuízos em seu desenvolvimento e careceria de seu fundamento crítico. A memória, entretanto, não pode ser confundida com a história, como advertem vários historiadores. As memórias precisavam ser evocadas e recuperadas e merecem ser confrontadas. As dos velhos e de pessoas que ainda estão no setor produtivo ou as de homens e mulheres nem sempre coincidem, mesmo quando se referem ao mesmo acontecimento. No entanto, nenhuma memória, individual ou coletiva, constitui a história. A história “consiste na escolha e construção de um objeto, operação que pode dar‑se a partir de evocações de lembranças” (LE GOFF, 1988 apud BITTENCOURT, 2011, p. 169) e exige, na análise das memórias, um rigor metodológico na crítica e na confrontação com outros registros e testemunhos. De forma resumida, é possível estabelecer as seguintes distinções entre memória e história: Quadro 1 Memória social História Relação coletiva que uma comunidade estabelece com seu passado. Trabalha com a acumulação dessa memória. Funciona pela seleção e eliminação. Reordena o tempo passado, medindo‑o, periodizando‑o e estabelecendo uma crítica sobre sua duração. Realiza omissões. Usa um método para recompor os dados da memória. Corpo vivo do processo de se relacionar com o passado. Confronta as memórias individuais e sociais com outros documentos. Relações com o passado e variações de acordo com idade, sexo, ocupação, origem etc. Situa os testemunhos orais no tempo e no espaço e o “lugar” de onde “falam” Fonte: Bittencourt (2011, p. 170). 34 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Unidade I Percebemos que existem muitas variantes influenciando o processo e que a memória social opera num nível diferente da história. Percebemos, ainda, que não se trata, em nenhuma hipótese, de se desconsiderar a memória social, como se fosse “inferior” ou mais “pobre” em relação à história. Trata‑se, antes, de perceber as diferenças mais significativas e de trabalhar com as ferramentas que o conhecimento historiográfico pode oferecer para a construção de um pensamento crítico que saiba discernir em meio a diferentes situações sociais e situar as diferentes falas sociais. 2 HISTÓRIA INTEGRADA 2.1 Usos da História Integrada – Sugestões e exemplos: pensar historicamente interdisciplinaridades Pensar historicamente deve levar em consideração esses elementos e ainda mais a questão do espaço onde tudo ocorre. Podemos lançar mão dos conhecimentos de várias outras ciências nesse processo de aprofundamento dos usos da história. Assim, é desejável que busquemos sempre aumentar o arcabouço de conhecimentos em diversas áreas de estudos e pesquisas. Os usos da história interdisciplinar, nesse sentido, podem muito bem nos ajudar a superar algumas dificuldades fundamentais. Estudar sociologia, economia, filosofia, antropologia, geografia pode dar elementos que contribuam para nossa capacidade de analisar as questões. Não estamos aqui elencando esta ou aquela ciência como superior ou inferior, mas sim escolhendo algumas que podem contribuir de forma mais direta. Quando nos deparamos com as situações históricas podemos indagar a respeito do meio em que se dão, meio geográfico propriamente dito. [...] o geógrafo Milton Santos apresentou, em várias de suas obras, importante reflexão sobre espaço geográfico, com uma contribuição preciosa sobre o conceito de lugar. Cada lugar tem suas especificidades e precisa ser entendido por meio da série de elementos que o compõem e de suas funções. Milton Santos sustenta, no entanto, que o lugar só pode ser compreendido dialeticamente levando‑se em conta as relações de produção nele estabelecidas e sendo concebido como uma produção histórica. A história, afirma, atribui funções diferentes ao mesmo lugar. O lugar é um conjunto de objetos que têm autonomia de existência pelas coisas que o formam – ruas, edifícios, canalizações, indústrias, empresas, restaurantes, eletrificação, calçamentos –, mas que não têm autonomia de significação, pois todos os dias novas funções substituem as antigas, novas funções se interpõem e se exercem (SANTOS, 1991, p. 52 apud BITTENCOURT, 2011, p. 171). Para acompanhar as falas do geógrafo Milton Santos, que é um dos mais relevantes pensadores da realidade brasileira, mundial e globalizada no século XX, recomendamos sua extensa bibliografia e também diversos documentários e entrevistas que enriquecem o olhar do professor de história com importantes interpretações com matizes de outra natureza. 35 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 HISTÓRIA INTEGRADA Figura 6 – Milton Santos Saiba mais Para entender um pouco mais do pensamento crítico sobre a Globalização, recomendamos a leitura da transcrição da entrevista de Milton Santos no programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido em 31 de março de1997: MILTON Santos. Memória Roda Viva, São Paulo, 31 mar. 1997. Disponível em: <http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/112/entrevistados/milton_ santos_1997.htm>. Acesso em: 29 abr. 2016. Bittencourt (2011, p. 172) faz ainda algumas considerações importantes: Esse autor ressalta que cada lugar é diferente de outro, tem sua singularidade, mas é fração de uma totalidade. Ao analisar o atual processo de globalização, pressupõe as relações de cada lugar com a expansão de multinacionais, com a nova forma de atuação do Estado e com a organização social. Afirma assim que as relações de produção atuam na transformação dos lugares, embora seja preciso averiguar a dinâmica dos usos de cada espaço, como ocorre a ação concreta do capitalismo globalizado nessa fração do espaço total. A história do “lugar” como objeto de estudo ganha, necessariamente, contornos temporais e espaciais. Não se trata, portanto, ao se proporem conteúdos escolares da história local, de entendê‑los apenas na história do presente ou de determinado passado, mas de procurar identificar a dinâmica do lugar, as transformações do lugar, as transformações do espaço, e articular esses processos às relações externas, a outros “lugares”. 36 Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 17 /0 5/ 20 16 Unidade I Bittencourt (2011) passa a tratar de aspectos “práticos” fundamentais em história e se dedica, com bastante afinco, a apresentar os procedimentos metodológicos em práticas interdisciplinares afirmando, inicialmente, que [...] a interdisciplinaridade tem sido objeto de muita discussão entre professores e pesquisadores. Embora ninguém negue sua importância na constituição de um conhecimento escolar não fragmentado que possibilite ao aluno uma compreensão do mundo em sua complexidade e com suas articulações inerentes entre a vida social e a natureza física, biológica, química etc., o desafio é a sua concretização. [...] O rompimento com as formas tradicionais de trabalhar os conteúdos escolares não é uma tarefa fácil. Alguns especialistas do tema da interdisciplinaridade educacional,
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