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PLANEJAMENTO URBANO METROPOLITANO Marília Dorador Guimarães , 2 SUMÁRIO 1 PLANEJAMENTO URBANO – HISTÓRICO .............................................. 3 2 CIDADES ............................................................................................ 12 3 INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO URBANO E LEGISLAÇÃO URBANA ............................................................................................................. 21 4 SÃO PAULO: NOVAS CENTRALIDADES E SEGREGAÇÃO URBANA ....... 30 5 PROJETOS URBANOS EM ÁREAS CENTRAIS ........................................ 40 6 DESENHO URBANO ............................................................................ 49 , 3 1 PLANEJAMENTO URBANO – HISTÓRICO Apresentação Prezados alunos, desejo-lhes boas-vindas à disciplina de Planejamento Urbano Metropolitano. O objetivo desta disciplina é apresentar o contexto histórico do surgimento das cidades e como ocorreu o seu processo de urbanização. Iniciaremos os nossos estudos pelo processo histórico, ou seja, como ocorre o processo de urbanização das cidades, em seguida, analisaremos alguns dos seus elementos estruturantes históricos, como por exemplo a ferrovia e a industrialização. Em seguida, iremos interpretar os conceitos sobre o processo histórico da formação da cidade. 1.1 Planejamento Urbano Planejamento Urbano é um conjunto de normas que regem como deve ser usado o espaço urbano. É o processo de idealização, criação e desenvolvimento de soluções que visam melhorar o planejamento das cidades, e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida das pessoas. Imagine uma cidade sem nenhum tipo de regras estabelecidas pelo poder público, onde se fosse permitido construir de qualquer maneira, sem leis e diretrizes para a ocupação dos terrenos na cidade, sem infraestrutura adequada, sem transporte público, sem lazer etc.? Seria um verdadeiro caos, correto? Pois é, esta é a função do planejamento urbano, tentar trazer respostas aos problemas enfrentados nas cidades. , 4 Fonte: Matchou Via: Shutterstock Figura 1.1 O exercício de planejar as cidades vem de civilizações anteriores à nossa. Um dos objetivos do planejamento urbano, quando foi criado, era responder aos problemas já existentes nas vilas, enfrentados pelo ajuntamento de muitas pessoas em um mesmo local. “A maioria desses assentamentos não previa ruas e era conformada por meio de um denso aglomerado de unidades habitacionais. (...) o acesso às residências se realizava pelas coberturas”. (SCOPEL et al., 2018, p. 55-56) O processo de urbanização ocorreu primeiramente na Europa, com a Revolução Industrial. Mas é um movimento natural que ocorreu no mundo todo. “A sociedade industrial é urbana. A cidade é o seu horizonte. Ela produz as metrópoles, conurbações, cidades industriais, grandes conjuntos habitacionais”. (CHOAY, 2003, p. 1) O urbanismo quer resolver o problema do planejamento da cidade maquinista (Revolução Industrial – 1760 a 1840), que foi colocado bem antes de sua criação partir do século XIX. A urbanização das áreas urbanas ocorre quando há o crescimento populacional em uma determinada área territorial. A revolução industrial é seguida pelo crescimento demográfico das cidades, as áreas urbanas começaram a oferecer muitos empregos para a população com a criação das máquinas à vapor e outras tecnologias. , 5 Nesse contexto, muitos moradores viram uma oportunidade na cidade, fazendo com que aconteça a migração populacional da região, também conhecida como êxodo rural, que quando acelerada, dá início ao processo de urbanização. Fonte: Francesco Scatena Via: Shutterstock Figura 1.2 De acordo com Scopel (2018) “O urbanismo e a arquitetura, apesar de se diferenciarem pela escala em que trabalham, devem ser sempre pensados, elaborados e decididos conjuntamente, para que de fato tenham seus objetivos alcançados” (SCOPEL et al., 2018, p. 15). A urbanização foi um processo que, de fato, influenciou diretamente a arquitetura, não se pode pensar a arquitetura sem compreender sua relação com o meio urbano, bem como, o impacto da arquitetura diante de um centro urbano consolidado ou de uma nova área a ser urbanizada e vice-versa. A arquitetura e o urbanismo andam juntos e se complementam. O urbanismo também influencia a arquitetura diretamente. É ele o responsável por estabelecer quantos pavimentos podem ser construídos em uma edificação, qual a porcentagem de área livre é construída de cada terreno, que tipos de edificações podem ser edificadas em cada área da cidade, entre outros fatores. (SCOPEL et al., 2018, p. 15) É por esse motivo que estudamos a forma de habitar das grandes e pequenas cidades, discutimos os modelos urbanos criados e tentamos compreender os planos urbanísticos das cidades. , 6 Antes de falarmos da urbanização brasileira, vamos entender como ocorreu o processo de urbanização e quais são as suas causas. 1.2 O processo de urbanização da cidade – o surgimento dos primeiros assentamentos urbanos A cidade é uma criação humana. Segundo estudiosos, as cidades são tão antigas quanto a história das civilizações. Os primeiros assentamentos urbanos já existiam 12 mil anos antes de Cristo e surgiram à medida que a humanidade sentiu a necessidade de se fixar em áreas específicas para garantir o desenvolvimento da caça, pesca e colheita. (SCOPEL et al., 2018, p. 49) Os primeiros assentamentos urbanos surgiram a partir de um pequeno núcleo familiar, composto de um número suficiente de pessoas, que pudessem se ajudar na sobrevivência em meio a um ambiente inóspito. O grupo de pessoas precisavam se ajudar nas atividades de coleta de alimentos e caça, bem como, se proteger contra os inimigos. As primeiras moradias que se tem registro datam de 14.000 a.C., através da descoberta da arqueologia e de pesquisa de historiadores. Essas descobertas em forma de cúpula estão localizadas nos planaltos centrais da Rússia, atualmente Ucrânia. As residências eram construídas com ossadas de mamutes, toras de pinheiros (coníferas típicas da região) e paredes revestidas com peles de animais, devido ao frio da região. De acordo com alguns estudiosos, os primeiros aglomerados urbanos permanentes começaram quando grupos deixaram de ser nômades e passaram a se fixar em áreas determinadas para a domesticação de animais e agricultura. Para Scopel et al. (2018), foi nesse período que se iniciou a formação de aldeias, que a princípio eram abertas e depois passaram a ser cercadas. Os primeiros assentamentos foram se desenvolvendo a partir da proximidade aos recursos hídricos, o que era questão primordial para a agricultura, por exemplo os vales do rio Nilo, no Egito e o vale do rio Tigre e Eufrates, no Iraque. Outro fator importante era a escolha do terreno e a sua posição geográfica estratégica, essa deveria ter boas condições para o desenvolvimento dos primeiros assentamentos. , 7 De acordo com Scopel et al. (2018), as antigas civilizações que formaram os primeiros assentamentos urbanos não tinham ferramentas resistentes para trabalhar com pedras, muito menos veículos ou animais de carga que pudessem ajudar no transporte desse material. Entretanto, nossos ancestrais observavam muito a natureza, inclusive foram responsáveis por fazerem observações astronômicas muito importantes, “(...) organizaram uma força de trabalho suficiente para manobrar pedras que chegavam a pesar em torno de cinco toneladas” (SCOPEL et al., 2018, p. 56). Assim ocorreu a formação dos primeiros assentamentos pré-históricos, como um dos maiores exemplos que temos conhecimento através da arqueologia, chamado Stonehenge, localizado na Inglaterra, vide figura abaixo. Fonte: Mr Nai Via: Shutterstock Figura 1.3 – Stonehenge Essas construçõeseram formas de a população demarcar os seus territórios. Com o decorrer dos anos, esses assentamentos foram evoluindo até iniciarem a construção de estruturas megalíticas compostas de grandes pedras, as quais, geralmente, serviam como túmulos comunitários e observatórios astronômicos. (SCOPEL et al., 2018, p. 56) Conforme a evolução do homem e da própria arquitetura, os assentamentos passaram a ter mais “tecnologia” e um pensamento de planejamento urbano em relação a setorização e divisão das áreas, em setores público e privado; inventaram um sistema de drenagem, controlando a água, através de poços e aquedutos. , 8 “Apesar das características em comum, é somente anos depois, mais especificamente nas civilizações gregas, que de fato as cidades sofrem significativas uniformizações”. (SCOPEL et al., 2018, p. 58) A maioria desses assentamentos não previa ruas e era conformada por meio de um denso aglomerado de casas. Com o passar do tempo esses assentamentos foram evoluindo e se organizando de outras maneiras. Iremos estudar a respeito do urbanismo clássico, que foi o período de formação das cidades gregas antigas, as quais apresentavam uma organização simples: entre cidade alta e cidade baixa. As organizações das cidades gregas estão diretamente relacionadas à sua estrutura política. A cidade alta, onde se localizava a Acrópole, se instalaram os templos, como o Parthenon e o Erecteion, e poderiam ter funções: religiosa ou militar (para defesa contra possíveis ataques) e simbólica (posição de destaque em relação às demais áreas da cidade, por ser um local alto, no topo da colina). Fonte: Lambros Kazan Via: Shutterstock Figura 1.4 A cidade baixa, por sua vez, era constituída de casas, a presença de edificações públicas como teatro, estádios e ginásio e a área comercial, eram essenciais para as relações sociais. , 9 Podemos classificar o modelo de crescimento das cidades em dois tipos: o crescimento orgânico, relacionado ao crescimento espontâneo, ausência de regras e sem planejamento algum das construções, e o planejado, que é oposto. Independentemente do tipo de crescimento urbano, alguns elementos morfológicos são utilizados da mesma maneira, como quarteirão, rua, lote, praça etc. São os elementos que utilizamos para estudar a estrutura urbana das cidades. 1.3 O processo de urbanização no Brasil Para começarmos a estudar e compreender o processo de urbanização no Brasil, é importante analisar como as cidades surgiram e sua localização em território nacional. A princípio, as cidades brasileiras se localizavam no litoral, devido a produção de cana de açúcar. A primeira cidade foi São Vicente, no litoral de São Paulo. A partir do século XVII, com a descoberta do ouro, as cidades no interior do Brasil começam a crescer. A partir do século XX, com a produção de café no Estado de São Paulo, no Vale do Paraíba, no Oeste Paulista e no Paraná, surge um crescimento urbano e econômico para essas regiões, especialmente no eixo Rio-São Paulo. Foi nesse período que começaram a surgir os novos centros urbanos, com novas estruturas de mobilidade, como por exemplo, a linha férrea e o porto, em razão de o café ser o principal produto a ser exportado para fora do país. No Brasil, o processo de urbanização ocorre a partir do século XX. O primeiro Plano diretor ocorre na então capital brasileira, Rio de Janeiro, chamado Plano Agache, aprovado em 1932. O Plano Agache tinha um forte viés da arquitetura das belas artes. Outro importante exemplo de urbanismo ocorre em 1933, na época Vargas, a construção da nova capital do estado de Goiás. , 10 Enquanto isso, em São Paulo, em 1932, ocorria o plano de avenidas de Prestes Maia e Ulhôa Cintra. De acordo com Delrio e Siembieda (2013), “As propostas viárias progressistas do Plano de Avenidas influenciaram o planejamento da cidade e diversas obras públicas durante muitos anos”. (DELRIO; SIEMBIEDA, 2013, p. 5) Entretanto, o plano urbanístico mais conhecido é o de Brasília (vide foto das superquadras de Brasília, abaixo), sua inauguração ocorre nos anos 1960, durante o governo Juscelino Kubitscheck. Brasília representou o auge das políticas de desenvolvimento e de otimismo cultural do presidente JK. Em cinco anos, a capital foi erguida a partir do zero, em meio ao planalto central do Brasil. “O direcionamento de Vargas e posteriormente Kubitschek para a industrialização foi determinante na explosão populacional das principais cidades brasileiras nas décadas de 1940 e 1950”. (DELRIO; SIEMBIEDA, 2013, p. 9) Fonte: Sorayarubiag Via: Shutterstock Figura 1.5 – Vista aérea de Brasília – DF As superquadras de Brasília, no Distrito Federal, é uma forma de organização urbanística idealizada pelo arquiteto Lucio Costa. O projeto foi o vencedor de um concurso para a implementação da nova capital brasileira. A forma urbana das superquadras, ou seja, o desenho urbano, foram organizadas e divididas em duas asas, asa sul e asa norte. , 11 O projeto da nova capital foi símbolo de profundas transformações no Brasil, representando a realização dos sonhos de modernização, industrialização e distanciamento do passado agrário do país. Conforme Delrio e Siembieda (2013), Brasília representou a consolidação da arquitetura moderna e a maior tentativa de alcançar uma urbanização mais equilibrada do território nacional. Conclusão Vimos nesse bloco que a cidade é um organismo vivo que apresentam funções, formas e características que se diferenciam e estão de acordo com a estrutura organizacional de sua população, sua cultura e sociedade. Observamos também, que as cidades planejadas são vistas como um sistema integrado, regrado por um Plano diretor. A ausência de uma gestão, de um ordenamento e de um planejamento traz às cidades sérios problemas. REFERÊNCIAS CHOAY, F. O Urbanismo. Utopias e realidades. Uma antologia. São Paulo: Editora Perspectiva, 2003. SCOPEL, V.G.; ALLEGRETTI, C.A.L.; WAGNER, J.; GIORA, T.; MANO, C.M.; HUYER, A. Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo I. Porto Alegre: SAGAH: Grupo A, 2018. DELRIO, V.; SIEMBIEDA, W.J. Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2013. REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES MARICATO, E. Metrópoles desgovernadas. Estudos Avançados [online], v. 25, n. 71, p. 7-22, 2011. Disponível em: <https://bit.ly/3pngWEa>. Acesso em: 23 set. 2021. , 12 2 CIDADES Apresentação Prezados(as) alunos(as), sejam bem-vindos (as) à mais um bloco da disciplina de Planejamento Urbano e Metropolitano. O tema central deste bloco é a cidade. Ele tem como objetivo discutir a respeito dos elementos estruturantes que compõem as grandes cidades, como São Paulo, e falar mais especificamente de suas áreas centrais. As cidades são compostas por diversos elementos que a estruturam, possuem toda uma dinâmica urbana que deve dar suporte à uma população que a ocupa. A diversidade é o que traz a riqueza de mistura e vivências no cenário urbano. De acordo com Leite (2020), “o modelo do século XX, de uma cidade dispersa e monofuncional, em que se depende do carro para tudo, faliu de vez, acabou”. O modelo de cidade que se almeja é uma cidade diversa, pois não faz sentido separarmos a moradia do trabalho e dos demais usos urbanos, educação, saúde, etc. O ideal é que possamos realizar as nossas atividades perto de onde moramos. E para atividades que fogem do usual, que tenhamos um sistema de transporte público eficiente. Leite (2020) ainda complementa: “A cidade tem de ser feita de centralidades multifuncionais, propiciando-se o encontro entre as pessoas e, também, as atividades típicas do dia a dia. Temos de resgatar a qualidade da vida cotidiana”. Veja agora outros assuntos que envolvem a temática da cidade. 2.1 Centro Urbano: elementos estruturantes da cidade Ascaracterísticas dos espaços públicos são essenciais para o bom desempenho do ambiente urbano e consequentemente reflete na qualidade de vida das pessoas. Mas, o que compõem o espaço público? As ruas, as praças, os parques são elementos que compõem esse espaço. Mas só o fato de existirem, faz com que a qualidade de vida para os habitantes daquele lugar esteja garantida? Certamente, não. , 13 A maneira como são desenhados e cuidados (manutenção), essas “salas de estar” ao ar livre, conforme cita Jaime Lerner, em Cidades para pessoas de Jan Gehl (2015), é determinante para a vivacidade do cenário das cidades. Os melhores passeios públicos do mundo não são suficientes para dar vida a um bairro que tenha seu uso exclusivamente residencial. Da mesma maneira que também não impedem a desertificação noturna das áreas centrais das cidades, que mantêm suas áreas centrais dedicadas exclusivamente para uso comercial e de serviços. Em São Paulo, temos esses dois exemplos, a área residencial exclusiva, como os bairros dos jardins; e as áreas dedicadas exclusivamente à ocupação de escritório, localizada na região central. Fonte: Spectral-Design Via: Shutterstock Figura 2.1 – São Paulo – SP Esses dois exemplos que ocorrem na cidade de São Paulo, são casos que não são interessantes do ponto de vista da relação entre diversidade, identidade e coexistência que são citados como os segredos para a segurança e a vida da cidade, conforme diversos autores. Alguns autores explicam o que as pessoas desejam para as suas cidades e o que elas não têm ofertado em relação aos deslocamentos diários, qualidade de vida e trabalho. Veja este trecho de Petersen (2019). , 14 Entretanto, nosso modo de vida social mudou bastante. É pouco provável que todos os futuros moradores consigam trabalhar no bairro e, mesmo que algum deles opte por estruturar sua empresa ali, a maioria de seus funcionários não residirá no local. Isso demandará mais fluxos no sistema viário, tanto nas vias projetadas como nas intermunicipais e estaduais, contribuindo com o aumento do tráfego viário da região e com o consequente aumento da poluição do ar e da temperatura. (PETERSEN, 2019, p. 118) Outra questão pertinente é o sentimento de pertencimento de uma pessoa a determinado lugar, se tratando da cidade, podemos citar o bairro como exemplo. Um bairro com uma diversidade de usos, pela presença de diferentes tipologias, pela menor dependência de automóveis, pela prevalência dos espaços públicos bem distribuídos e bem planejados, permite que as necessidades dos habitantes daquele local sejam atendidas com curtas caminhadas. Não devemos segregar públicos, pois a segregação favorece a formação de ilhas sociais, com grande prejuízo à cidade, conforme afirma Petersen (2019). Devemos favorecer a diversidade de usos, como garantem diversos autores que iremos abordar nesta disciplina. 2.2 Processo de urbanização no Brasil O processo de urbanização no Brasil se iniciou no final do século XIX, com a industrialização no país, porém, a partir de 1930 é que houve a expansão dos centros urbanos com o crescimento e avanço da industrialização, ocorrendo o êxodo rural. Em 1960, o Brasil passou a ter uma população predominantemente urbana, ou seja, que vivia nas cidades. Atualmente cerca de 80% da população total brasileira reside nos centros urbanos, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte etc. As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro possuem a maior densidade populacional vivendo em suas localidades. E muitos problemas são trazidos com esse crescimento populacional. De acordo com Petersen (2019), foi “a partir do século XX que a urbanização acelerada, a distribuição desigual da renda e o crescimento populacional passaram a intensificar o déficit habitacional brasileiro”. (PETERSEN, 2019, p. 61) , 15 A partir desse cenário de desigualdade social, o número de habitações precárias e a elevação dos preços da moradia no mercado formal aumentaram consideravelmente. “Com a ampliação da crise econômica, o fenômeno das invasões vem se fortalecendo ao longo dos anos”. (PETERSEN, 2019, p. 61) São Paulo e Rio de Janeiro foram as cidades que mais sofreram com o processo de crescimento populacional ao longo dos anos. Segundo Sousa (2001 apud PETERSEN, 2019), em São Paulo a industrialização cresceu consideravelmente a partir do início do século XX, devido aos investimentos dos recursos excedentes da economia do café. Promoveu-se uma urbanização acelerada para a capital, diretamente vinculada ao encortiçamento de habitações (hotel-cortiço, casas de cômodos, cortiço improvisado e cortiço-pátio). Legislações foram aprovadas para combater esse tipo de padrão popular de moradia, e vilas operárias passaram a ser construídas junto às indústrias, nas primeiras décadas do século XX. (PETERSEN, 2019, p. 62-63) De acordo com Petersen (2019), o Brasil se urbanizava de maneira diferente em cada cidade. Segundo Maricato (2001, p. 17 apud PETERSEN, 2019, p. 63): As reformas urbanas, realizadas em diversas cidades brasileiras entre o final do século XIX e início do século XX, lançaram as bases de um urbanismo moderno, “à moda” da periferia. Realizavam-se obras de saneamento básico para eliminação das epidemias, ao mesmo tempo em que se promovia o embelezamento paisagístico e eram implantadas bases legais para um mercado imobiliário de corte capitalista. A população excluída desse processo era expulsa para os morros e franjas da cidade”. (PETERSEN, 2019, p. 63) A partir dos anos 1960 até os anos 1980, o crescimento populacional das maiores cidades do Brasil explodiu, o que fez com que os governos começassem a buscar soluções alternativas no sentido de desenvolver programas de urbanização de assentamentos precários em parceria com órgãos internacionais. Muitas iniciativas foram feitas no campo da legislação, outras foram importantes para o amadurecimento das políticas públicas, são elas: • 2001: aprovação do Estatuto das Cidades; • 2003: criação do Ministério das Cidades; , 16 • 2005: aprovação do Sistema e do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social; • 2008: efetivação do Plano Nacional de Habitação. (PETERSEN, 2019, p. 64-65) 2.2.1 Problemas Urbanos no Brasil O crescimento acelerado e desordenado no processo de urbanização, ocorrido no Brasil, trouxe uma série de consequências, e em sua maioria, negativas. Sabemos que a falta de planejamento urbano e de uma política econômica menos concentradora contribui para a ocorrência de diversos problemas sérios como as ocupações irregulares nas principais capitais brasileiras. A falta de uma política habitacional acabou colaborando para o aumento acelerado das favelas no Brasil. Fonte: Renan Martelli da Rosa Via: Shutterstock Figura 2.2 – Favela de Paraisópolis em São Paulo, 2015 , 17 Outro item é a violência urbana, não há oportunidade de emprego suficiente para o grande fluxo populacional que se desloca para as grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro. O número de desempregados é grande, a desigualdade também, gerando um aumento dos roubos, furtos e demais tipos de violência relacionadas às áreas urbanas das cidades. Outro problema preocupante que as grandes cidades enfrentam no quesito ambiental é a Poluição. Devido ao grande número de indústrias, automóveis e de habitantes, o aumento das emissões de gases poluentes, assim como a contaminação dos lençóis freáticos e rios dos principais centros urbanos é enorme. Outro ponto que chamamos atenção é a questão das enchentes, um problema tão comum nas grandes cidades. A causa é a impermeabilização do solo pelo asfaltamento e edificações, associado ao desmatamento e ao lixo industrial e residencial. 2.3 Condicionantes urbanos, sociais e ambientais que caracterizam as transformações sofridas pelos centroshistóricos ao longo do tempo Segundo Wall e Waterman (2012), “Uma cidade é um evento drástico no meio ambiente”. Todo tipo de construção impacta de alguma forma no meio ambiente, na paisagem. Especialmente se tratando de uma cidade. As cidades são organismos, absorvem recursos e emitem resíduos. Quanto maiores e mais complexas, maior também será o seu impacto, maior será sua dependência das áreas circundantes, seu entorno. A sobrevivência da sociedade sempre dependeu da manutenção do equilíbrio entre as variáveis da população, recursos naturais e meio ambiente. As consequências são enormes para o nosso descaso com o meio ambiente e a destruição dos recursos naturais. Nas grandes cidades é muito comum sofrermos com o trânsito caótico, que gera muita poluição do ar que respiramos, com rios poluídos, enchentes, racionamento de água, lixo e muitos outros problemas do nosso cotidiano na vida citadina. http://educacao.globo.com/biologia/assunto/ecologia/poluicao-do-ar.html , 18 É uma controvérsia que as cidades, o maior habitat da humanidade, caracterizem-se como o maior agente destruidor do ecossistema, e a maior ameaça para a sobrevivência da humanidade no planeta. A arquitetura e o urbanismo têm o papel de proporcionar ferramentas cruciais para garantir o futuro das cidades, através do planejamento urbano, criando cidades com ambientes sustentáveis, que utilizam de novas tecnologias, as cidades inteligentes. A cidade é um cenário de trocas econômicas, produção cultural, deslocamentos, ela é o lar de grande parte da humanidade. No mundo inteiro, especialistas de diversas áreas discutem questões relacionadas à contribuição para o desenvolvimento de cidades sustentáveis, trabalhando com uma conscientização ecológica da população, da tecnologia e das comunicações. Tanto nos países desenvolvidos como nos subdesenvolvidos, caso do Brasil, as cidades estão sendo testadas, de sua capacidade até o seu limite. Seja do ponto de vista da explosão demográfica, seu crescimento urbano não consegue acompanhar a demanda que a cidade possui por diversas questões. E assim ocorre os problemas sociais, os quais sabemos e tanto discutimos na área da arquitetura e urbanismo: falta de habitação para as pessoas de baixa renda, um sistema educacional precário, sistema transporte público ineficiente etc. São Paulo possui todas essas características descritas, infelizmente. A região mais populosa de São Paulo é a zona leste, que traz para o centro de São Paulo, por dia, o equivalente a uma população do Uruguai, ou seja, cerca de 3,5 milhões de habitantes são transportados para o destino central da cidade, Sé e República, pois são locais que possuem grande oferta de emprego. Por sua vez, um local que possui pouca ocorrência de construções residenciais. E essa conta não fecha! O centro de São Paulo possui uma intensa atividade comercial, com infraestrutura, educação, saúde, e poderia ser mais bem ocupado. Uma forma disso acontecer, seria o uso misto da localidade. , 19 Transporte público eficiente ou mobilidades de transporte alternativas, por exemplo, a utilização de bicicletas como meio de transporte. Ocorre em diversas cidades do Mundo, sendo um meio de transporte sustentável e eficiente, é necessário a criação de ciclovias apropriadas e seguras para o deslocamento da população. Fonte: OlegRi Via: Shutterstock Figura 2.3 – Exemplo do uso de bicicleta como meio de mobilidade urbana alternativa ao uso do automóvel Conclusão A cidade é um organismo vivo que apresenta funções, formas e características que se diferenciam e estão de acordo com a estrutura organizacional de sua população, sua cultura e sociedade. A ideia nesse bloco foi discutirmos um pouco a respeito dessas questões. , 20 REFERÊNCIAS GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Editora Perspectiva, 2015. LEITE, Carlos. Está falido o modelo das cidades dos automóveis. Entrevistador: Valerio Fabris. Abrasel, 2020. Disponível em: <https://bit.ly/3b1hfM8>. Acesso em: 4 out. 2021. PETERSEN, Rodrigo C. et al. Planejamento urbano e regional: elementos urbanos. São Paulo: Grupo A Educação S.A, 2019. WALL, Ed; WATERMAN, Tim. Desenho Urbano. Porto Alegre: Grupo A, 2012. REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES DELRIO, Vicente; SIEMBIEDA, Willian J. Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2013. FRACALOSSI, Igor. Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes (Parte 2) / Carlos Leite. ArchDaily Brasil, 2012. Disponível em: <https://bit.ly/3DUTKRs>. Acesso em: 4 out. 2021. SABOYA, Renato. Kevin Lynch e a imagem da cidade. Urbanidades, 2008. Disponível em: <https://bit.ly/3G5EgvM>. Acesso em: 19 set. 2021. , 21 3 INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO URBANO E LEGISLAÇÃO URBANA Apresentação Prezados(as) alunos(as), sejam bem-vindos(as) a mais um bloco da disciplina de Planejamento Urbano e Metropolitano. O tema central deste bloco é discutir a respeito de quais medidas são tomadas por parte dos órgãos públicos no que diz respeito aos principais instrumentos de planejamento urbano. Discutir quais são os instrumentos urbanísticos que ajudam a moldar a cidade que queremos. Entender o que é o estatuto da cidade, o plano diretor e comentar a respeito do Plano Diretor estratégico de São Paulo. Começaremos falando da expansão desordenada, o que ocorre com bastante frequência nas grandes cidades brasileiras, e está ligada diretamente às ações do governo para combater o avanço das desigualdades sociais. Um dos instrumentos básicos de política urbana é o plano diretor das cidades, tema que iremos aprofundar a discussão neste bloco, assim como o plano diretor estratégico da cidade São Paulo – PDE. Ambos possibilitam a articulação com outros instrumentos de planejamento. Atualmente o mundo é urbano. No Brasil, 81% da população vive nas áreas urbanas. O território nacional abriga 170 milhões de habitantes. No ano 2000, chegamos ao número de 137.755.550 brasileiros vivendo em áreas urbanas, ou seja, 81% da população brasileira. , 22 Fonte: SAULE JÚNIOR; ROLNIK, 2001. Figura 3.1 – Tabela de Crescimento da população urbana no Brasil Sofremos com várias consequências devido a esse processo acelerado de urbanização das cidades brasileiras. E o pior, não temos uma política pública eficiente para enfrentar problemas como: desigualdade social, marginalização, violência e exclusão social. A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) foi um grande passo, articulada juntamente com os movimentos de reforma urbana e reinvindicações populares, foi a primeira vez em que o tema Cidade foi tratado. 3.1 Instrumentos Urbanísticos: plano e planejamento urbano Cada município brasileiro conta com diversos instrumentos para se planejar. Por exemplo: o plano diretor municipal, que irá definir o destino das diversas áreas do território urbano, considerando as suas especificidades. Por que tantas cidades elaboram o Plano Diretor? Para que serve? O Plano e o planejamento estratégico existem para garantir e direcionar as ações governamentais ao desenvolvimento sustentável das cidades. , 23 Quando o Estatuto da Cidade1 foi criado, definiu que o Plano Diretor é a lei que aplica as regras do Estatuto em cada município, considerando as características de cada um. De acordo com NAZARETH (2018): “com o estatuto, a política de desenvolvimento urbano ganhou um marco regulatório efetivo, definido por um conjunto de normas e instrumentos de intervenção, voltados para regular o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo”. Nazareth complementa: [...] de acordo com o artigo 182, da Constituição Federal, a política urbana é responsabilidade do município e deve garantir as funções sociais da cidade e o desenvolvimento dos cidadãos, estabelece que o planodiretor municipal (PD) é o instrumento básico do ordenamento territorial urbano e deve definir o uso e as características de ocupação de cada porção do território municipal, fazendo com que todos os imóveis cumpram sua função social. (NAZARETH, 2018, p. 218) Com a aprovação do Estatuto da cidade, o país passou a contar com diversos instrumentos urbanísticos capazes de conter a especulação imobiliária e promover a democratização do acesso à cidade. Nazareth (2018) cita os seguintes exemplos: a outorga onerosa do direito de construir, as zonas especiais de interesse social, o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) progressivo no tempo etc. O ideal seria a participação ativa da população com relação ao debate sobre a cidade e a representação das diversas camadas da sociedade civil, como as associações de moradores e de trabalhadores, os movimentos sociais etc. Essa participação seria através de audiências públicas e por meio de mecanismos de fortalecimento da transparência e da democracia, exemplificando: os conselhos municipais de política urbana e ambiental, entre outros. Plano Diretor, é participação de todos! 1 O Estatuto da Cidade é uma lei federal (Lei Federal nº 10.257/2001) que diz como deve ser feita a política urbana em todo o país. Seu objetivo é garantir o Direito à cidade para todos e, para isso, traz algumas regras para se organizar o território do município. É ele que detalha e desenvolve os artigos 182 e 183 do capítulo de política urbana da Constituição Federal. (NAZARETH, 2018) , 24 Fonte: GoodStudio Via: Shutterstock Figura 3.2 Para que o Plano diretor seja elaborado de forma participativa, ele deveria considerar os planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social. O que possibilitaria a integração com as políticas estaduais e federais desenvolvidas no município, com os mesmos objetivos, bem como, com os instrumentos de planejamento orçamentário e os planos de sustentabilidade. Todavia, na prática, ocorre muito diferente das intenções aqui comentadas. O que é o Estatuto da Cidade? O estatuto é um documento de ordem pública e interesse social, que estabelece normas reguladoras do uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como, do equilíbrio ambiental. Portanto, o Estatuto é uma lei federal, a Lei n. 10.257/2001, que diz como deve ser feita a política urbana em todo o país. Seu principal objetivo é garantir o direito à cidade para todos, por isso, traz algumas regras para se organizar o território do município. É o Estatuto que detalha os artigos 182 e 183 do capítulo de política urbana da Constituição Federal (BRASIL, 1988). De acordo com Oliveira (2001), a inclusão dos artigos 182 e 183, compondo o capítulo da Política Urbana, foi uma vitória da ativa participação de entidades civis e de movimentos sociais em defesa do direito à cidade, à habitação, ao acesso à melhores serviços públicos e, por decorrência, a oportunidades de vida urbana digna para todos. (OLIVEIRA, 2001, p. 3) , 25 O Estatuto da Cidade determina o que é o conteúdo mínimo de um Plano Diretor; e o Conselho Nacional das Cidades2 faz recomendações mais detalhadas sobre o conteúdo mínimo. O Estatuto da Cidade diz que o plano deve ter objetivos e estratégias e estabelecer instrumentos para o cumprimento desses. O Estatuto da Cidade instrumentaliza o município para garantir o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana. O Estatuto da Cidade reúne importantes instrumentos urbanísticos, tributários e jurídicos que podem garantir efetividade ao Plano Diretor, responsável pelo estabelecimento da política urbana na esfera municipal e pelo pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, como preconiza o artigo 182, conforme Oliveira (2001). Apesar de ser uma lei recente, o Estatuto da cidade veio para modificar e trazer novos instrumentos no cenário urbano. Certamente, a lei sozinha não fara muita coisa, porém, é com a nova legislação que o município tem a oportunidade de cumprir os seus deveres e incluir os indivíduos da sociedade na participação e implementação da política urbana. Sendo assim, o objetivo do Estatuto da Cidade é estabelecer a gestão democrática, garantindo a participação da população urbana em todas as decisões de interesse público. 3.2 Plano Diretor A Constituição Federal brasileira (BRASIL, 1988) determina que o instrumento básico da política de desenvolvimento, expansão e de planejamento urbano é o Plano Diretor. 2 O conselho Nacional das Cidades ou ConCIdades é um Conselho Federal eleito nas Conferências das Cidades, criado no ano de 2004, composto por representantes de diferentes entidades de movimentos populares, trabalhadores, prefeituras, governos estadual e federal, ONG’s, empresários, entidades acadêmicas e profissionais da área. Tem o objetivo de implementar e de formular a política nacional de desenvolvimento urbano, bem como, acompanhar e avaliar a sua execução. (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL, 2020) , 26 De acordo com o site da Prefeitura de São Paulo, o Plano Diretor é uma lei municipal que deve ser elaborada com a participação de toda a sociedade. Ele organiza o crescimento e o funcionamento do município, planejando a cidade que almejamos. (PLANO DIRETOR SP, 2021) É o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade será aplicado em cada município brasileiro, que possui acima de 20 mil habitantes e faça parte de uma região metropolitana, sendo ela uma área urbana e também rural. De acordo com o Estatuto da Cidade, que é considerado o principal marco legal do desenvolvimento das cidades, o Plano Diretor deve ser aprovado por lei municipal e se constitui em instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana. Como parte de todo o processo de planejamento municipal, o Plano Diretor deverá estar integrado ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias e ao orçamento anual dos municípios. Fonte: https://bit.ly/3G6YANh Figura 3.3 – Linha do tempo do Plano Diretor de São Paulo , 27 Fonte: https://bit.ly/3G6YANh Figura 3.4 – Novo Plano Diretor de São Paulo 3.3 Plano Diretor estratégico de São Paulo – PDE De acordo com o site da Prefeitura Municipal de São Paulo (GESTÃO URBANA SP, 2020): O Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo é elaborado com a participação da sociedade, o PDE direciona as ações dos produtores do espaço urbano, públicos ou privados, para que o desenvolvimento da cidade seja feito de forma planejada e atenda às necessidades coletivas de toda a população, visando garantir uma cidade mais moderna, equilibrada, inclusiva, ambientalmente responsável, produtiva e, sobretudo, com qualidade de vida. (GESTÃO URBANA SP, 2020) Fonte: ESB Professional Via: Shutterstock Figura 3.5 – Parque Ibirapuera em São Paulo – SP , 28 O Plano Diretor é uma lei municipal que tem como objetivo, orientar o crescimento e o desenvolvimento de todo o município, ele define os instrumentos de planejamento urbano para reorganizar os espaços da cidade, garantindo a melhoria da qualidade de vida da população. O Plano Diretor do município de São Paulo está em vigor desde 2014, tem como principal diretriz aproximar o emprego e a moradia. Atualmente o PDE está passando por revisão, incluindo audiências públicas, para a participação de toda a população. Ele terá validade até 2029. Fonte: 1 plus 1 trip Via: Shutterstock Figura 3.6 – Vista aérea de São Paulo A cada dez anos, os Planos diretores dos municípios devem ser revisados. Fonte: Celso Diniz Via: Shutterstock Figura 3.7 – Ponte Octávio Frias de Oliveira , 29 Conclusão Ao longo deste bloco, tivemos a oportunidade de discutir a respeitode alguns dos instrumentos mais importantes que regem as leis sobre o crescimento da cidade. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Art. 182 e 183. Disponível em: <https://bit.ly/3mSKdDw>. Acesso em: 13 out. 2021. GESTÃO URBANA SP. Plano Diretor Estratégico. Gestão Urbana SP, 2020. Disponível em: <https://bit.ly/3B5gKLD>. Acesso em: 13 out. 2021. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL. Conselho das cidades (ConCidades). Gov.br, 2020. Disponível em: <https://bit.ly/3naIWYF>. Acesso em: 4 out. 2021. NAZARETH, Paula Alexandra. Planos diretores e instrumentos de gestão urbana e ambiental no Estado do Rio de Janeiro. Revista do Serviço Público, Brasília, jan./mar. 2018. Disponível em: <https://bit.ly/3vtRaz3>. Acesso em: 28 set. 2021. OLIVEIRA, Isabel Cristina Eiras de. Estatuto da cidade para compreender... Rio de Janeiro: IBAM/DUMA, 2001. Disponível em: <https://bit.ly/3n6JSNO>. Acesso em: 4 out. 2021. SAULE JÚNIOR, Nelson; ROLNIK, Raquel. Estatuto da cidade: guia para implementação pelos municípios e cidadãos. São Paulo: Instituto Pólis, 2020. Disponível em: <https://bit.ly/3ndrQJJ>. Acesso em: 13 out. 2021. REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES DELRIO. Vicente; SIEMBIEDA, Willian J. Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil. Grupo GEN, 2013. , 30 4 SÃO PAULO: NOVAS CENTRALIDADES E SEGREGAÇÃO URBANA Apresentação Prezados (as) alunos (as), sejam bem-vindos (as) à mais um bloco da disciplina de Planejamento Urbano e Metropolitano. A proposta deste bloco é discutir a respeito da qualidade do espaço público em São Paulo. Na primeira parte do bloco trataremos do crescimento urbano da cidade de São Paulo, seu espraiamento e crescimento sem controle, o que gera um impacto ambiental e social muito grande. Na segunda e terceira parte do Bloco, teremos a oportunidade de apresentar um instrumento urbanístico previsto no Plano Diretor do Município de São Paulo, aprovado em 2014, que permite que instituições privadas manifestem interesse em realizar intervenções em áreas degradadas, abandonadas ou sem uso. Traremos como estudo de caso o PIU Vila Leopoldina - Villa Lobos, em São Paulo. 4.1 Espaço Urbano: o crescimento da mancha urbana de São Paulo Uns dos grandes problemas do Brasil e do mundo é a desigualdade social, o que faz com que a dificuldade de acesso à cidade e à moradia social sejam temas muito discutidos quando tratamos de cidades e metrópoles. O centro metropolitano de São Paulo se expandiu ao longo do século XX e cresce continuamente, partindo desse crescimento, as franjas periféricas junto aos mananciais de abastecimento e às áreas de preservação permanente criam tensão, especialmente na periferia como um embate com a natureza. Essas franjas periféricas, distantes do centro de São Paulo e precárias na questão de infraestrutura urbana, são desvalorizadas no mercado imobiliário, onde os conflitos se manifestam entre a preservação do meio ambiente e a demanda por moradia da população mais carente. , 31 Sem alternativa habitacional oferecida pelo Estado, as pessoas se assentam de modo precário, constroem ocupações irregulares, muitas vezes junto aos mananciais, o que traz consequências drásticas e prejuízo ambiental. Fonte: https://bit.ly/3nc1SGG Figura 4.1 – Ocupação irregular em área de preservação ambiental, várzea do rio Tiete, São Paulo Fonte: https://bit.ly/3B5cf3H Figura 4.2 – Ocupação irregular em área de preservação, Serra da Cantareira, São Paulo https://bit.ly/3B5cf3H , 32 Todavia, o centro de São Paulo, dotado de infraestrutura urbana, como rede de esgoto, água, equipamentos públicos como escolas, postos de saúde, hospitais, bibliotecas etc., ainda valorizado e com grande oferta de emprego, tem seu território praticamente todo edificado, porém, obsoleto para certos usos. Muitos prédios antigos, sem manutenção e em situação instável, poderiam ser usados para habitação. De acordo com Martins (2011), é nesse contexto que se dá o confronto entre a propriedade fechada e sem uso aguardando valorização, a possibilidade de moradia de baixo custo, e os projetos de renovação que expulsam a população local de renda mais baixa do centro de São Paulo. A promoção do repovoamento de áreas centrais que já dispõem de condições privilegiadas de infraestrutura e localização e que passaram por processo de perda de população nas últimas décadas, tem sido discutida de forma recorrente como uma importante alternativa à expansão periférica. No caso da cidade de São Paulo, diferentes tipos de iniciativas e incentivos foram propostos e parcialmente postos em prática desde a década de 1990, sem, no entanto, conseguirem promover nem repovoamento, nem reabilitação urbana da região. (MARTINS, 2011) Um dos problemas é a falta de habitação de interesse social (HIS), por isso as ocupações precárias ocorrem com frequência em São Paulo e demais locais. Mas, sem dúvida, a questão central da falta de HIS é um problema político, fundiário e econômico. Um exemplo, para se comprar um prédio no centro é muito difícil, pois os preços são jogados lá no alto, exorbitantes, mas são os preços estabelecidos pelos peritos judiciais para qualquer desapropriação. De acordo com Whitaker (2015), o mercado infla os preços fundiários no centro, com a desculpa de que lá há infraestrutura (que não foi ele, mas o Estado quem fez), e cobra preços exorbitantes por edifícios abandonados e há anos sem uso. A lei da oferta e da demanda parece não valer para a terra nas regiões centrais, complementa. O Estatuto da Cidade, tema que estudamos no Bloco 3, criou instrumentos como o IPTU Progressivo (tecnicamente chamado de “Parcelamento, edificação e utilização compulsórios - PEUC”), para combater o chamado “mau uso” da função social da propriedade urbana. , 33 Uma das possíveis soluções entre centro e periferia seria um desenho e uma forma urbana capazes de promover ganhos socioambientais, propondo soluções urbanísticas ambientalmente sustentáveis. Nas áreas centrais, devemos buscar por projetos urbanos que promovam o adensamento com qualidade ambiental de edificações e de espaços públicos. Por exemplo, os projetos de intervenção urbana – PIU, que são estudos técnicos a promover o ordenamento e a reestruturação urbana em áreas subutilizadas e com potencial de transformação, na cidade de São Paulo. O PIU é elaborado pelo poder público e originado a partir de premissas do Plano Diretor Estratégico – PDE. O PIU tem por finalidade sistematizar e criar mecanismos urbanísticos que melhor aproveitem a terra e a infraestrutura urbana, aumentando as densidades demográficas e construtivas, além de permitir o desenvolvimento de novas atividades econômicas, criação de empregos, produção de habitação de interesse social e equipamentos públicos para a população, conforme o site gestão urbana da prefeitura municipal de São Paulo. O propósito é contribuir positivamente para planos de intervenção governamentais, que promovam a qualificação urbana em áreas precárias, por meio da implantação de Habitação de Interesse Social, com uso misto de funções. Os projetos de intervenções urbanas que promovem uma requalificação do local, são uma tendência mundial, que ocorreu e ocorre em diversos países, como: Londres, Berlim, Barcelona, França (Paris Rive Gauche), Brasil (Rio de Janeiro), Argentina (Buenos Aires, Puerto Madero), entre outros lugares. 4.2 Projeto de Intervenção Urbana PIU – São Paulo Segundo Jacobs (2014, p. 5): “As cidades são um imenso laboratório de tentativa e erro, fracasso e sucesso, em termos de construção e desenho urbano. É nesse laboratório que o planejamento urbano deveria aprender, elaborar e testar suas teorias”. , 34 Os Projetos de Intervenção Urbana são instrumentos de controle do poder público sobre a transformaçãodo espaço urbano. As áreas destinadas ao PIU são áreas que compõem a rede de estruturação e transformação urbana de acordo com o Plano Diretor de São Paulo. Por exemplo, quarteirões com áreas vazias ou subutilizadas, como estacionamentos de veículos e áreas deterioradas especialmente no centro de São Paulo. É elaborado o projeto de intervenção urbana, por meio da São Paulo Urbanismo (a antiga Emurb), que definirá o perímetro exato de intervenção e também estabelecerá as características da intervenção. Para realizar tal processo, é obrigatório que haja um estudo e levantamento da área e que a proposta se adeque ao zoneamento existente. Em locais de grande deterioração, especialmente na região central de São Paulo, onde existem quarteirões inteiros abandonados, a prefeitura poderá realizar um PIU prevendo a recuperação da área, reestabelecendo novos usos, trazendo a diversidade social (vitalidade urbana, um dos princípios urbanísticos de cidades em que houve áreas recuperadas por esse mesmo processo) e inclusive promover a habitação social. Quando tratamos da diversidade social, queremos dizer que se deve prever a criação de edifícios de usos mistos, comércios, serviços, habitação de renda média e alta, por exemplo. SAIBA MAIS: Sobre o PIU – Projeto de Intervenção Urbana Gestão Urbana SP: <https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/estruturacao- territorial/piu/>. https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/estruturacao-territorial/piu/ https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/estruturacao-territorial/piu/ , 35 4.3 PIU Vila Leopoldina - Villa Lobos O município de São Paulo é divido em vários distritos, cada um deles tem uma subprefeitura responsável. O projeto de intervenção urbanística que traremos como estudo se localiza no distrito da Vila Leopoldina, junto à CEAGESP, maior entreposto de alimentos de São Paulo. Também se localiza próxima à Ponte do Jaguaré e ao Parque Villa Lobos. O projeto que iremos estudar tem aproximadamente 300.000 m² (conforme mapa abaixo) e grande potencial de transformação, pois no local existe uma enorme concentração de áreas passiveis de desenvolvimento em grandes glebas, que pertencem a um conjunto reduzido de proprietários privados. Fonte: https://bit.ly/3lZVB1q Figura 4.3 – Mapa de intervenção PIU Vila Leopoldina, Villa Lobos , 36 A prefeitura de São Paulo afirma que o projeto busca apresentar grandes ganhos à sociedade e solucionar as graves questões de precariedade habitacional de três comunidades situadas no perímetro do PIU: Da Linha, Do Nove e Cingapura Madeirite. Segundo a prefeitura: A desejável realocação das famílias precariamente alojadas nessas áreas, inadequadas para a ocupação, será potencialmente facilitada pela disponibilidade de diversas Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) no entorno do perímetro proposto, como definido pelo Plano Diretor. (Gestão Urbana – Projeto de Intervenção Urbana Vila Leopoldina – Villa Lobos) Foram pensados eixos estruturantes nos quarteirões que ligam as avenidas, permitindo a permeabilidade espacial de pedestres, conforme imagem abaixo (projeto urbanístico referencial e diretrizes gerais para o projeto). Fonte: https://bit.ly/3B1H3ma Figura 4.4 – Recorte da área. Mapa de intervenção PIU Vila Leopoldina, Villa Lobos, com as diretrizes https://bit.ly/3B1H3ma , 37 Fonte: https://bit.ly/3B1H3ma Figura 4.5 – Mapa de intervenção PIU Vila Leopoldina, Villa Lobos Fonte: https://bit.ly/3aWvIsX Figura 4.6 – Perímetro PIU https://bit.ly/3aWvIsX , 38 Conclusão Ao longo desse bloco, tivemos a oportunidade de discutir a respeito de alguns instrumentos urbanísticos que estão previsto no plano diretor do município de São Paulo: o projeto de intervenção urbana – PIU em áreas que estão sem algum uso, “paradas”. Segundo Marcos (2016), Jane Jacobs diz que antes de mudar uma cidade ou intervir nela é preciso conhecer a fundo e entender quais questões devem ser acertadas, para isso é preciso ir às ruas, falar com as pessoas. Os projetos de intervenção urbana vêm para trazer esta vitalidade urbana e qualidade de vida. A autora diz que devemos voltar a olhar o espaço público como o coração da vida moderna, seu projeto, seu uso, sua gestão e novas funções. Repensar a rua, a praça, o parque, a arborização e a paisagem urbana, aquela que nos permita humanizar o espaço público e experimentar o encontro, o intercâmbio e a diferença. SAIBA MAIS: Sobre o Projeto de Intervenção Urbana – PIU Vila Leopoldina, Villa Lobos • Projeto de Intervenção Urbana Vila Leopoldina – Villa Lobos: <https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wp- content/uploads/2018/04/OF_ATL_040_19___PIU_Vila_Leopoldina___Villa_ Lobos.pdf >. • http://piuvilaleopoldina.com.br https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2018/04/OF_ATL_040_19___PIU_Vila_Leopoldina___Villa_Lobos.pdf https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2018/04/OF_ATL_040_19___PIU_Vila_Leopoldina___Villa_Lobos.pdf https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2018/04/OF_ATL_040_19___PIU_Vila_Leopoldina___Villa_Lobos.pdf , 39 REFERÊNCIAS GESTÃO URBANA SP. Projeto de Intervenção Urbana Vila Leopoldina – Villa Lobos. Gestão Urbana SP. Disponível em: <https://bit.ly/30BU2yg>. Acesso em: 14 out. 2021. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2014. MARCOS, Martín. Jane Jacobs e a humanização da cidade. ArchDaily Brasil, 2016. Disponível em: <https://bit.ly/3aXhgRu>. Acesso em: 14 out. 2021. MARTINS, Maria L. Refinetti. São Paulo, centro e periferia: a retórica ambiental e os limites da política urbana. Estudos Avançados [online], v. 25, n. 71, p. 59-72, 2011. Disponível em: <https://bit.ly/3C0jsne>. Acesso em: 5 out. 2021. WHITAKER, João Sette. Projetos de Intervenção Urbana (PIU): São Paulo inovando na intervenção pública sobre o espaço urbano. Cidades para Quem, 2015. Disponível em: <https://bit.ly/3aTHCUo>. Acesso em: 5 out. 2021. PIU VILA LEOPOLDINA. O projeto: Proposta Urbanística. PIU Vila Leopoldina. Disponível em: <https://bit.ly/3G2GR9U>. Acesso em: 10 out. 2021. REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES DELRIO, Vicente; SIEMBIEDA, Willian J. Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil. Grupo GEN, 2013. , 40 5 PROJETOS URBANOS EM ÁREAS CENTRAIS Apresentação Prezados (as) alunos (as), sejam bem-vindos (as) a mais um bloco da disciplina de Planejamento Urbano e Metropolitano. A proposta deste bloco é discutir a respeito de como se deu a evolução dos projetos urbanos em áreas centrais. Veremos os movimentos de reforma urbana na Europa, no século XIX, pós revolução industrial e as experiências urbanas no Brasil, especialmente nas principais capitais, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador etc. Nos últimos blocos tivemos a oportunidade de discutir a respeito dos instrumentos da política urbana e quais suas finalidades, falamos sobre o estatuto da cidade, suas finalidades e objetivos que almejados para a cidade que queremos. Falamos sobre o Plano Diretor e Plano estratégico de São Paulo – PDE, e um instrumento urbanístico, o Projeto de intervenção urbana – PIU. O objetivo da maioria dos instrumentos urbanísticos mencionados é a princípio a “re-costura” do tecido urbano. 5.1 Contextualização: movimentos de reforma urbana na Europa A ideia de reconstrução das cidades europeias por volta dos anos 1920 e 1930 foi um desafio, os arquitetos discutiam a forma de adaptação da cidade europeia medieval e barroca à industrial, adequá-la a novas demandas, modernizando-a. Esses ideais modernizadores eram difundidos pelos arquitetos Bruno Taut, Walter Gropius, Le Corbusier e Ernest May, para eles, a arquitetura e a organização urbana deveriamdeixar de ser um reflexo da sociedade para se tornarem instrumentos de reconstrução. , 41 As ideias eram difundidas nos CIAMs, Congresso Internacional de Arquitetura Moderna. O primeiro CIAM ocorreu em 1930, em Bruxelas, onde o tema principal era a habitação. Já em 1933, no 4° CIAM, em 1933, o tema discutido eram as questões urbanas. O que ocorria na Europa nesse momento, quais eram os principais problemas urbanos? A explosão das cidades, como o inchaço do meio urbano, devido as migrações campo- cidade no ambiente urbano, foi uma questão. As grandes cidades na Europa, ao mesmo tempo em que eram industrializadas, atraíam e recebiam um grande contingente populacional, e cresciam de forma desproporcional às suas condições de uso. (RIBEIRO; PONTUAL, 2009). De acordo com Santos et al. (2019, p. 75): A Revolução Industrial do século XIX teve um forte impacto nas cidades e no modo de habitá-las. Na arquitetura, notam-se mudanças em relação aos procedimentos construtivos e técnicos, assim como em relação às exigências arquitetônicas, enquanto, na cidade, vemos o aumento dos problemas urbanos e transformações da paisagem. Muitos arquitetos se viram responsáveis por tentar sanar as questões urbanas, que vinha num crescente, e propor ideias a serem discutidas e implementadas. Entretanto, as preocupações urbanas já vinham acontecendo desde 1867, quando Ildelfonso Cerda, engenheiro espanhol, escreveu uma analogia entre a cidade e o corpo humano no livro Teoria General de la Urbanización (1859). Era um pensamento sanitarista da época, muito utilizado pelos urbanistas. Um modelo de reforma urbana que se tornou emblemática e ressoou por toda Europa guiando diversas escalas e também realizadas em várias cidades no mundo, inclusive no Brasil, ocorreu em Paris, entre os anos de 1853 e 1869, idealizada pelo Barão Haussmann, prefeito da cidade no momento. , 42 Paris havia ultrapassado a marca de 1 milhão de habitantes e a reforma constituiu em obras viárias de alargamento das ruas, abertura de novas ruas dentro de bairros antigos, reconstrução de edifícios atendendo a requisitos mínimos de higiene e padrão estético, a renovação das instalações de infraestrutura, muito antigas obsoletas, rede viária, rede de esgotos, abastecimento de água e iluminação. Fonte: Burakyalcin Via: Shutterstock Figura 5.1 – Vista aérea de Paris. Com o plano de Reforma urbana idealizada por Haussmann em 1853 houve a criação de novas ruas em bairros antigos, alargamento de avenidas, como a Champs Elysees. Fonte: GiulianeBruno Via: Shutterstock Figura 5.2 – Vista da Paris atual. Padrão estético dos edifícios idealizado por Haussmann , 43 5.2 Contextualização: projetos de reformas urbanas no Brasil – Experiências nacionais No Brasil, especialmente nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, houve propostas de reforma urbana. Tal fato ocorreu entre os anos de 1895 e 1930. Foram projetos de melhoramento no sentido de obras de infraestrutura e saneamento. Geralmente, obras pontuais, localizadas em algumas partes da cidade, como as obras dos canais de Santos (vide planta abaixo), pelo engenheiro sanitarista Saturnino de Brito, áreas portuárias e áreas centrais. Fonte: https://www.novomilenio.inf.br/santos/mapa27g.htm Figura 5.3 – Planta do cais de Santos, São Paulo, 1910 Ocorreu uma série de planos urbanos em escala maior, no período das décadas de 1930 e 1950, que tinham por objeto o conjunto da área urbana, com propostas de “articulação entre os bairros, o centro e a extensão das cidades por meio de sistemas de vias e de transportes”. (RIBEIRO; PONTUAL, 2009) https://www.novomilenio.inf.br/santos/mapa27g.htm , 44 A partir da década de 1950 até o ano de 1964, os planos para as cidades passaram a situá-las dentro de uma região. Nesse período, profissionais de diversas formações, novos termos, dados estatísticos sociais e econômicos, surgiram para tratar do “urbano”, palavra que ganhou lugar no meio técnico quando designa a cidade. (RIBEIRO; PONTUAL, 2009) Os ideais de reconstrução da sociedade por meio da arquitetura chegam no Brasil, por volta de 1950, com a passagem do Padre Lebret. As ideias de Lebret já circulavam entre os urbanistas brasileiros, colocavam o planejamento urbano como instrumento fundamental para promover o desenvolvimento social das cidades. 5.3 Experiências internacionais – herança urbana A cidade industrial se desenvolveu com os avanços tecnológicos, as máquinas, a ferrovia, a invenção da eletricidade e do gás, entre outros, o que abriu caminho para mudanças técnicas e estéticas, no século XIX. Partindo disso, ocorreu uma forte migração do campo para a cidade e consequente aumento da população urbana. O grande aumento demográfico, exigiu soluções no espaço urbano em termos de habitações, novos equipamentos e serviços urbanos. Através de princípios higienistas, como estudamos no subitem acima, e de embelezamento das grandes capitais, as reformas urbanas buscaram solucionar esses problemas instalados nas cidades. “Com a Revolução Industrial surgem os progressos técnicos, os novos materiais e a industrialização da construção, assim como, as novas maneiras de pensar, construir e reformar as cidades”. (SANTOS et al., 2019, p. 77) Para Santos et al. (2019), a cidade do século XIX se modela às novas infraestruturas viárias e de transporte, enquanto o traçado viário passa a constituir o princípio gerador da trama urbana. As ruas antigas, antes geralmente estreitas e irregulares, dão lugar a novas ruas, largas e regulares, passando pelos bairros novos e antigos. As novas ruas atuam como articulações entre a cidade e seus distintos bairros. (SANTOS et al., 2019, p.78) , 45 Com as novas invenções, volta-se a pensar a cidade em função da máquina, da circulação e dos transportes (ALONSO PEREIRA, 2010 apud SANTOS et al., 2019). Como exemplos do urbanismo com caráter científico, racional e progressista, consequência da Revolução Industrial, temos: • Cidade linear: modelo de cidade concebido pelo urbanista espanhol Arturo Soria y Mata, no final do século XIX, construído como um bairro experimental em Madrid, na Espanha, entre 1894 e a década de 1920, formado a partir de um eixo central; • Cidade motorizada (Hénard): Eugène Hénard foi um urbanista francês dedicado ao desenvolvimento da cidade de Paris. Entre suas ideias destaca-se a de “perímetro de radiação”; para ela seria necessária uma via circular que recolhesse as circulações radiais, amenizando o trânsito em sentido centro- periferia; • Cidade industrial (Tony Garnier): proposta pelo arquiteto francês Tony Garnier, no início do século XX, com ênfase na setorização do espaço urbano. • Cidade nova (Sant’Elia): Antonio Sant'Elia propôs desenhos de grande impacto para a Città Nuova (Cidade Nova), com ênfase nos princípios futuristas. Seu modelo de cidade, desenhado por volta de 1912, exaltava arranha-céus, passarelas e vias suspensas para veículos. 1. As Reformas Urbanas Plano de Paris - Haussman Uma das mais conhecidas reformas urbanas ocorridas foi a de Paris. Paris se tornou um modelo arquitetônico e urbano de dimensão internacional, idealizada pelo Plano de Haussmann. , 46 Para Santos et al. (2019), o plano de Haussman previa a remodelação da cidade unida ao seu crescimento, através do traçado urbano e novos equipamentos. “O novo sistema viário indicava grandes bulevares e articulação das vias, tanto aproveitando as existentes como criando outras, ora em zonas de expansão, ora rompendo o tecido histórico”. (SANTOS et al., 2019, p. 79) Plano de Barcelona - Cerdà O Plano de Cerdà, elaborado em 1859, na cidade de Barcelona, é um exemplo paradigmático, em vista de suas previsões para o futuro crescimento da cidade e da modelagem da Teoria Geral da Urbanizaçãodo autor, o engenheiro urbanista Ildefonso Cerdà. “O engenheiro propôs uma organização policêntrica com bairros diferentes que gozam de autonomia entre si e com a Barcelona histórica” (SANTOS et al., 2019, p. 81) Plano – traçado em malha (tabuleiro de xadrez) Sistema Hipodinâmico3 Esquematismos, malha urbana. Um traçado a partir de uma malha ortogonal, semelhante à um tabuleiro de xadrez, com extrema regularidade para resolver o aumento demográfico. São exemplos desse modelo urbano cidades como Buenos Aires, Chicago e Nova York. 2. No Brasil – Reformas urbanas Rio de Janeiro O movimento de ação reformadora no plano urbano, citados acima, que se difundiu pelas cidades europeias, teve seu impacto também na América do Sul. No Brasil, as reformas urbanas começaram a ser discutidas desde o último quartel do século XIX e foram postergadas até o século seguinte. 3 Sistema hipodinâmico: plano urbanístico utilizado pelos gregos, no qual a cidade era traçada com ruas paralelas e perpendiculares a uma grande avenida. (SANTOS et al., 2019, p. 83) , 47 No Rio de Janeiro, a reforma de Pereira Passos, de acordo com Santos et al. (2019, p. 85): A reforma carioca — em termos de sua arquitetura e equipamentos urbanos, arranjo viário e urbanístico — buscou referências na capital e na cultura francesa de modo geral, sem almejar uma cópia da reforma urbana de Haussmann, como alerta Azevedo (2008) em sua pesquisa. Na concepção urbanística, Pereira Passos primou pelo resgate da dimensão de totalidade da cidade e de seu caráter orgânico, que é ameaçado frente ao crescimento acelerado das urbes modernas do século XIX. Salvador Foram realizadas diversas intervenções na cidade de Salvador. Sendo as primeiras, realizadas na parte baixa da cidade com o objetivo de ampliar sua área, reformar o porto, melhorar sua circulação e salubridade. Em relação à rede viária existente, foi melhorada a ligação entre a parte alta e a parte baixa da cidade, e implantada uma ferrovia. Na malha urbana - caracterizada por ruas estreias e sinuosas, herança colonial - foram abertas ruas largas, onde as vias principais eram pavimentadas. Nelas foram incluídos serviços de água, de esgotamento, iluminação e transporte público. (SANTOS et al., 2019, p. 88) Herança Haussmaniana Os melhoramentos no espaço urbano se deram com a execução de redes de iluminação, esgoto, transporte público, abertura de vias, construção de parques e edifícios públicos baseados em princípios higienistas. De acordo com Santos et al. (2019, p. 91), as reformas foram guiadas por três princípios básicos: 1. Circulação acessível e confortável dentro da cidade; 2. Eliminação da insalubridade nos bairros densos; 3. Revalorização e reenquadramento dos monumentos, unindo-os através de eixos viários , 48 Herança de Cerdà Cerdà foi responsável por introduzir o conceito de urbanização, com o intuito de instaurar uma nova ciência dos estudos das cidades, de onde se derivou mais tarde a disciplina Urbanismo, como hoje a conhecemos, conforme Santos et al. (2019). Conclusão Ao longo deste bloco, tivemos a oportunidade de discutir a respeito dos planos urbanos internacionais, citamos alguns casos, como Paris, Nova York e Barcelona. Muitos autores reconhecem Paris como uma referência para as diversas reformulações de cidades pelo mundo, entre elas algumas brasileiras, como o Rio de Janeiro e Salvador. REFERÊNCIAS SANTOS, Jana Cândida Castro dos; SOUZA, Dulce América de; BARBOSA, Laura Jane L. História da arquitetura e urbanismo V (Idade Contemporânea). Porto Alegre: SAGAH, 2019. RIBEIRO, Cecilia; PONTUAL, Virgínia. A reforma urbana nos primeiros anos da década de 1960. Arquitextos, São Paulo, ano 10, n. 109.07, Vitruvius, jun. 2009. Disponível em: <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.109/50>. Acesso em: 29 out. 2021. , 49 6 DESENHO URBANO Apresentação Prezados (as) alunos (as), sejam bem-vindos (as) à mais um bloco da disciplina de Planejamento Urbano e Metropolitano. A proposta deste bloco é discutir a respeito da conceituação do que é desenho urbano e discutir como ocorreu no Brasil. Falaremos ainda, sobre a diversidade urbana, e, por fim, apresentar e discutir a respeito dos espaços públicos amigáveis, ou seja, projetos urbanos que trazem qualidade aos espaços públicos, melhorando a qualidade de vida das pessoas, a interação social, a questão da segurança pública, entre outros fatores. 6.1 Desenho Urbano – Cidades Planejadas “As cidades são o maior artefato já criado pelo homem. Sempre foram objetos de desejos, desafios, oportunidades e sonhos”. (LEITE, 2012, p. 11) Neste bloco, iremos discutir a respeito de um instrumento urbanístico essencial no planejamento das cidades, estamos falando do bem-estar e segurança de toda a população. Falar sobre desenho urbano é isso, abordar uma série de processos e estudos. Mas afinal, o que é desenho urbano? Podemos conceituar o termo desenho urbano, como um campo de conhecimento multidisciplinar que aborda as áreas de urbanismo, arquitetura e paisagismo, ou seja, o tratamento dos espaços livres das cidades. , 50 O desenho urbano está relacionado ao planejamento urbano e consiste em algumas atividades básicas, como: análise visual da área urbana, percepção do meio ambiente, identificação do comportamento ambiental, composição da morfologia urbana etc. Buscando a harmonia entre o espaço construído e as interações humanas. O desenho urbano, de acordo com vários autores, pode ser considerado um instrumento urbanístico essencial para a realização de um plano urbano. Fonte: Aluna1 Via: Shutterstock Figura 6.1 – Ilustração de uma cidade Na visão de DelRio e Siembieda (2013, p. 1): O desenho urbano contemporâneo brasileiro aceita o modernismo como um dos possíveis modelos para entender e atuar sobre a cidade, mas adota ainda outros modelos igualmente válidos. (...) O desenho urbano contemporâneo brasileiro vem se recriando e permite a coexistência de lógicas territoriais múltiplas, na busca por modos diversos de responder a demandas sociais e problemas urbanos. O desenho urbano entra para ajudar a organizar todos os elementos que compõem a cidade, oferecendo segurança, praticidade e bem-estar aos habitantes do local. Diante desse contexto, nos últimos anos, grandes cidades ao redor do mundo estão mudando seu desenho urbano com o objetivo de organizar a mobilidade urbana, o trânsito, melhorar os passeios públicos etc. Iremos apresentar exemplos de intervenções urbanas (desenho urbano) em algumas cidades: , 51 Na cidade de Buenos Aires, foram criadas rotatórias a fim de melhorar o tráfego de veículos, nas ruas da capital Argentina. Fonte: https://bit.ly/2ZSkljg Figura 6.2 – Desenho urbano: inclusão de rotatória em Buenos Aires Na Rua Joel Carlos Borges, próxima da estação de trem Berrini, em São Paulo, havia calçadas muito estreitas, o que prejudicava a locomoção dos usuários do trem, colocando em risco a segurança dos mesmos. Para solucionar o problema, a rua recebeu duas faixas verdes laterais (conforme a figura 6.3). Fonte: https://bit.ly/2ZSkljg Figura 6.3 – Desenho urbano: Rua Joel Carlos Borges (São Paulo) https://bit.ly/2ZSkljg https://bit.ly/2ZSkljg , 52 Quem irá projetar o espaço viário deve se atentar para soluções mais seguras, que promovam um uso eficiente do espaço público, e priorizar a infraestrutura da mobilidade ativa e do transporte coletivo, conforme Manual. Fonte: https://bit.ly/3qaDZ5g Figura 6.4 – Exemplo de Via compartilhada. Disponível em Manual de Desenho Urbano e Obras Viárias. Fonte: https://bit.ly/3qaDZ5g Figura 6.5 – Exemplo de Via arterial com ciclo faixa ilha central, acessibilidade. SAIBA MAIS: SobreManual de Desenho Urbano e Obras Viárias – Prefeitura Municipal de São Paulo: https://manualurbano.prefeitura.sp.gov.br/ https://manualurbano.prefeitura.sp.gov.br/manual/3-parametros-de-desenho-viario/3-1-principios-de-projeto-para-o-espaco-viario%20acesso%20em%2027/10/2021 https://manualurbano.prefeitura.sp.gov.br/manual/3-parametros-de-desenho-viario/3-1-principios-de-projeto-para-o-espaco-viario%20acesso%20em%2027/10/2021 https://manualurbano.prefeitura.sp.gov.br/ , 53 6.2 Diversidade urbana As grandes cidades, como discutimos, possuem diversos problemas. Um deles é o abandono das áreas centrais metropolitanas. Esse tipo de descaso, abandono do centro das cidades, gera uma degradação urbana de espaços imensa, com potencial tão evidente de desenvolvimento. Essas áreas são dotadas de infraestrutura e memória urbana, devido à edifícios históricos e a própria história do local. Para Leite (2012), autor de Cidades Sustentáveis: Desenvolvimento Sustentável num Planeta Urbano, as consequências desse chamado espraiamento urbano são dramáticas em termos de total insustentabilidade ambiental, social, econômica e urbana (ocorre, invariavelmente, em áreas de proteção ambiental). As áreas industriais obsoletas se tornam alvo dos grandes projetos urbanos, principalmente nas metrópoles dos países desenvolvidos, ora como concentradoras de estratégias de intervenção no espaço, ora degradado e subutilizado. (LEITE, 2012, p. 19) Essas áreas são conhecidas como vazios urbanos ou, também, chamados clusters urbanos criativos. Os antigos espaços urbanos centrais estão perdendo suas funções produtivas, sendo territórios abandonados, com vazios urbanos. Esse é um problema que vem ocorrendo nas últimas décadas, muito comum nas grandes metrópoles mundiais. Entretanto, algumas medidas de parcerias público-privadas, pautam estratégias de ocupação produtiva nessas áreas centrais ou cluster urbanos, como define Leite (2012). Alguns projetos foram implementados em diversas cidades do mundo, por exemplo: Montreal, Atelier Angus, São Francisco - Mission Bay e Barcelona - 22@ (antigo bairro industrial de Poblenou). Esses são os casos de grande relevância, em meio a dezenas , 54 de novos territórios implantados em áreas centrais deterioradas, em cidades dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia. Para Leite (2012), esses clusters urbanos pautam a sua estratégia central produtiva em serviços avançados, parte da chamada nova economia. Por meio de parcerias público- privadas, tais territórios têm conseguido rápido sucesso nos processos de regeneração urbana e reestruturação produtiva. (LEITE, 2012) Em todos os territórios citados acima, ocorreu a regeneração urbana e a reestruturação produtiva de áreas metropolitanas deterioradas, de localização central, dotadas de centralidade, memória urbana e infraestrutura preciosa. São quatro territórios que buscam a reinvenção da metrópole, a construção da cidade dentro da cidade, a otimização das estruturas existentes, para gerar uma cidade compacta. Há sempre o papel protagonista das infraestruturas urbanas no redesenvolvimento urbano: a oportunidade estratégica das estruturas de transporte e das pré-existências edificadas, reciclarem o território. (LEITE, 2012) Esses exemplos são interessantes, pois foram casos de sucesso na requalificação do território, trazendo a dinâmica e a diversidade para tais locais. Mas, afinal, o que é a diversidade urbana? A diversidade urbana ocorre quando existe uma combinação equilibrada de atividades em um determinado bairro, por exemplo: a mistura de residências, locais de trabalho, comércio e serviços. Isso auxilia e reduz significativamente parte das viagens cotidianas de seus moradores, podendo os deslocamentos permanecerem curtos, caminháveis ou utilizando meios de transportes sustentáveis, como a bicicleta. Para Moura (2018), os usos diversos, com horários de pico diferentes ao longo do dia, contribuem para manutenção de ruas movimentadas e seguras por mais tempo, estimulando a atividade de pedestres e ciclistas e promovendo um ambiente humano, animado, onde as pessoas desejam viver. Isso também contribui para o equilíbrio da demanda do transporte coletivo, resultando em uma operação mais eficiente e , 55 sustentável por períodos mais longos do dia. Pessoas de todas as faixas etárias, gêneros e renda podem interagir com segurança em locais públicos. (MOURA, 2018) 6.3 Espaços públicos amigáveis Agora, iremos discutir a respeito de espaços públicos que foram planejados e tornaram as experiências mais amigáveis, no sentido de contribuir para a qualidade de vida das pessoas e de sua relação com o espaço público. De acordo com a ONU, existe um estudo que prevê que até 2050, 70% da população mundial habitará as zonas urbanas, ou seja, haverá um crescimento significativo nas cidades. Atualmente, 55% da população mundial vive em áreas urbanas, em 2050 esse número aumentará e por isso, a importância de prever um planejamento urbano adequado. Este crescimento coincide com um período em que muitos países estão implementando processos de políticas descentralizadas. Isso estaria resultando num aumento das responsabilidades de governos locais”. (NAÇÕES UNIDAS, 2019) Já existem diversas cidades planejadas no mundo, e, infelizmente, muitas não planejadas também. Cidades não planejadas são aquelas que possuem um crescimento espontâneo, sem uma organização com relação à salubridade, infraestrutura, mobilidade urbana, acessibilidade, ou seja, elas se tornam insustentáveis, cidades repletas de problemas graves, gerando uma qualidade de vida ruim aos seus habitantes. Um planejamento requer um esforço de diversas camadas e setores da sociedade, a começar pelos órgãos públicos responsáveis, o envolvimento da população, os profissionais responsáveis da área de arquitetura e urbanismo. Para se ter uma cidade planejada, o processo é lento, as cidades que são planejadas, levaram anos para um bom planejamento. , 56 Para Leite (2012), o desenvolvimento urbano sustentável, impõe o desafio de refazer a cidade existente, reinventando-a de modo inteligente e inclusivo. (LEITE, 2012, p. 16) As cidades planejadas só trazem pontos positivos às pessoas, garantindo segurança e bem-estar. Alguns exemplos de cidades planejadas no mundo: Washington, nos Estados Unidos; Camberra, na Austrália; Nova deli, na Índia; La Plata na Argentina; Dubai, cidade nos Emirados Árabes Unidos. Cidades Planejadas no Brasil Existem algumas cidades planejadas no Brasil, são elas: Brasília – DF; Belo Horizonte – MG; Goiânia – GO; Palmas – TO; Aracaju – SE; e Teresina – PI. Entretanto, a cidade mais famosa é Brasília, projeto de Lucio Costa, arquitetura de Oscar Niemeyer e paisagismo de Roberto Burle Marx. Conforme DelRio e Siembieda (2013), a promoção da inclusão social é o foco da terceira corrente identificada no desenho urbano contemporâneo brasileiro (DELRIO; SIEMBIEDA, 2013 p. 177). É muito importante a criação de cidades socialmente mais inclusivas, a diversidade de preços de moradia, por exemplo, aumenta a possibilidade de trabalhadores de diferentes perfis socioeconômicos morarem mais próximo aos seus trabalhos, o que contribui para minimizar os problemas de mobilidade do transporte público. Sendo assim, os resultados dos projetos em São Paulo demonstram a importância de um desenho urbano que possa gerar espaços públicos significativos e busque uma nova articulação do território, através do uso de espaços vazios como oportunidades para novas conexões físicas e sociais. (DEL RIO; SIEMBIEDA, 2013) Para que projetos urbanos possam se tornar uma realidade nas cidades brasileiras, o marco regulatório que orienta a política urbana em nível municipal são os planos diretores e outras regulações relacionadas ao zoneamento urbano, o parcelamento
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